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DIREITO-CIVIL-CONSTITUCIONAL

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1 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL ........................................................... 4 
2.1 A importância do direito civil constitucional .......................................... 5 
3 DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO .............................................. 7 
3.1 Código Civil 1916 x Código Civil 2002.................................................. 9 
3.2 Dicotomia entre o Direito Público e o Direito Privado ......................... 13 
3.3 O Código Civil e o texto constitucional ............................................... 15 
4 O HOMEM COMO FIM DO DIREITO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA 
PESSOA HUMANA ................................................................................................... 19 
5 O PROCESSO DE CODIFICAÇÃO BRASILEIRO .................................... 21 
5.1 O Código Civil de 2002....................................................................... 23 
6 CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL ..................................... 25 
6.1 A responsabilidade civil como mecanismo de proteção dos interesses 
da pessoa humana ................................................................................................ 29 
7 ESTADO DE DIREITO E DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................... 32 
7.1 Conceito de direitos fundamentais ..................................................... 33 
7.2 A dupla dimensão dos direitos fundamentais ..................................... 34 
7.3 Os direitos fundamentais na Constituição de 1988 ............................ 35 
8 DIREITO CIVIL E EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............. 36 
8.1 A eficácia horizontal e aplicabilidade dos direitos fundamentais ........ 37 
8.2 Aplicações da constitucionalização na responsabilidade civil ............ 39 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 41 
 
 
 
3 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
4 
2 DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 
Para se entender o fenômeno da constitucionalização do Direito Civil, 
necessário se faz uma análise perspectiva histórica. 
No mundo romano-germânico o Direito Civil ocupou status destacado como 
norma direcionada ao indivíduo como singularidade. Sendo considerado, assim, a um 
só tempo, tão afastado da constituição política, ao mesmo tempo em que era 
caracterizado como a constituição do homem comum, principalmente após o processo 
de codificação originário do liberalismo iluminista. 
Naquele momento, denominado como era das codificações, o Direito Privado 
ocupava papel central no ordenamento jurídico. Sendo a esfera de atuação do Direito 
Público, nesse sentido, muito restrito, sobretudo porque à doutrina liberal compelia 
uma atuação omissiva do Estado, que objetivava, assim, somente assegurar a 
igualdade formal. 
O processo de constitucionalismo do Estado Liberal teve início justamente com 
a eclosão da Revolução Francesa, harmonizado com os ideais libertários e de 
codificação, bem como, de afirmação do individualismo jurídico. 
Este contexto histórico revelou uma nova face ao Direito Privado, uma vez que 
os Códigos, antes absolutos, passaram a ser relativizados, perdendo sua importância, 
com a introdução nesses institutos da imposição de cumprimento de sua função 
social. A partir da evolução dessa concepção, reconhece-se a existência de múltiplas 
relações jurídicas, essas com suas especificidades, assim, por exemplo, as 
verificadas entre os fornecedores e consumidores, locadores e locatários, 
empregadores e empregado. A partir dessa constatação, vicejam os chamados 
microssistemas, com sua missão de dar proteção aos hipossuficientes, presentes 
nessas situações específicas. 
Em contrapartida, enquanto os Códigos perdiam importância, as Constituições, 
com o advento do Estado Social, passam a exercer papel de suma importância na 
concretização dos direitos fundamentais por intermédio do Estado, consagrando 
valores, direitos e garantias fundamentais. 
 
 
5 
2.1 A importância do direito civil constitucional 
O direito civil constitucional surge como um meio de constitucionalização do 
direito privado, que usa os princípios constitucionais para tratar as relações privadas, 
fazendo com que os valores e preceitos consagrados na Constituição Federal 
reafirmem a sintonia com as regras que regem as relações entre particulares. 
Primordialmente, deve-se expor o conceito de direito civil. Ao pesquisar sua 
definição, temos como resultado: 
Direito civil é um ramo do Direito que trata do conjunto de normas reguladoras 
dos direitos e obrigações de ordem privada concernente às pessoas, aos 
seus direitos e obrigações, aos bens e às suas relações, enquanto membros 
da sociedade. De forma geral, o Direito Civil abrange o conjunto de normas 
previstas pelo código civil. No Brasil, o atual Código Civil, em vigor desde 11 
de janeiro de 2003, contém 2.046 artigos. Estabelece, em sua parte geral, do 
direito das pessoas, dos bens e dos fatos jurídicos. Na parte especial, trata 
do direito das obrigações, do direito das empresas, do direito das coisas, do 
direito da família e do direito da sucessão (Palladino, 2018, apud Oliveira, 
2019, p. 01). 
Torna-se nítido, partindo deste conceito, que o direito civil trata das relações 
entre particulares, de ordem privada e às pessoas como membros da sociedade. 
Já o conceito de Direito Constitucional se dá por: 
Ramo do direito responsável por analisar e controlar as leis fundamentais que 
regem o Estado. O seu objeto de estudo é a forma de governo e a regulação 
dos poderes públicos, tanto na sua relação com os cidadãos como entre os 
seus vários órgãos (Marcelo Arthur, 2015 apud Oliveira, 2019, p. 01). 
Neste sentido, o poder político tem a capacidade de coerção para obrigar a 
cumprir os seus mandatos imperativos através da violência legítima, sempre que este 
uso seja necessário. 
O direito constitucional, que pertence ao direito público, é sustentado na 
Constituição, que é um texto jurídico-político que fundamenta o ordenamento do poder 
político. A Constituição é a norma suprema de um país, pelo que prevalece sobre 
qualquer outra normativa ou lei. 
Explica José Afonso da Silva: 
A constituição é algo que tem, como forma, um complexo de normas (escritas 
ou costumeiras); como conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações 
sociais (econômicas, políticas religiosas, etc.); como fim, a realização dos 
valores que apontam para o existir da comunidade; e; finalmente, como causa 
criadora e recriadora, o poder que emana do povo (José Afonso da Silva, 
2018, apud Oliveira, 2019, p. 01). 
 
6 
Com este conceito, torna-se nítido o caráter público do direito constitucional, 
uma vez que é um ramo do direito público, regendo a sociedade em si, bem como, o 
próprio Poder Público. 
Sendo assim, como nasceu a necessidade deunir dois ramos tão diferentes de 
forma a se complementarem? 
O direito civil, como já exposto, tinha como escopo regulamentar a vida privada 
sob uma visão patrimonialista. Com a Constituição Federal 1988, foi alterado esse 
conceito, estendendo-o para poder também regular o homem dentro da sociedade. 
O professor Pedro Lenza bem explica que: 
Essa situação, qual seja, a superação da rígida dicotomia entre o público e o 
privado, fica mais evidente diante da tendência de descodificação do direito 
civil, evoluindo da concentração das relações privadas na codificação civil 
para o surgimento de vários microssistemas, como o Código de Defesa do 
Consumidor, a Lei de Locações, a Lei de Direito Autoral, o Estatuto da 
Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Lei de Alimentos, a Lei do 
Divórcio etc. Todos esses microssistemas encontram o seu fundamento na 
Constituição Federal, norma de validade de todo o sistema, passando o 
direito civil por um processo de despatrimonialização (Pedro Lenza, 2019, 
apud Oliveira, 2019, p. 01). 
O direito civil constitucional, visa tornar o direito civil "menos privado", de uma 
forma a abranger assuntos mais gerais, e tornar mais seguro esse direito, de forma 
que os particulares sejam amparados pela Lei Maior. 
Por meio da Constituição Federal de 1988, deixou-se de ter o cunho de pensar 
o direito por ramos, passando a uma visão generalizada, interligando as áreas do 
direito. O direito constitucional passou a tratar não apenas da organização do Estado, 
mas sim, apresentar princípios que não só norteiam o restante da legislação, mas que 
também existe uma relação de supremacia, fazendo com que todos os outros ramos 
tenham que obedecer a Lei Maior, não sendo diferente para o Direito Civil. 
Desta forma, a relação dos particulares, em suas inúmeras possibilidades, 
sofreu influência da legislação constitucional, orientando-se sempre pelo princípio da 
supremacia da norma constitucional, bem como, princípios comumente utilizados, 
quais sejam: da dignidade da pessoa humana, personalidade, os valores sociais do 
trabalho e da livre iniciativa, honra, imagem, religião, entre tantos outros, que fizeram 
essa fusão, extremamente benéfica, entre o direito privado e o direito constitucional. 
 
7 
3 DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO 
 
Fonte: s3-sa-east-1.amazonaws.com 
A “Constituição não é um simples ideário. Não é apenas uma expressão de 
anseios, de aspirações, de propósitos. É a transformação de um ideário, é a conversão 
de anseios e aspirações em regras impositivas. Em comandos”. (Bandeira de Mello, 
2009, apud Sabrinni Pereira, 2010, p. 06). 
Deve, portanto, a Constituição Federal ser compreendida não como um Código, 
mas como uma Carta Política, que expressa os valores a serem perseguidos, os 
princípios supremos norteadores da vida em sociedade e que regulam essa vida para 
alcance de uma convivência harmônica. 
Somente com o advento da Constituição Federal de 1988 é que se observou 
no Brasil, a inserção de princípios fundamentais no texto constitucional, dentre eles, o 
da dignidade da pessoa humana. 
Como o constitucionalismo no Brasil sofreu influências das Constituições 
alemã, portuguesa e espanhola, observa-se a tendência à proteção dos direitos 
humanos e da dignidade humana. 
Sendo assim, o Direito Constitucional deixa de ser apenas um ramo político do 
sistema jurídico que tratava apenas de ações e institutos político-estatais, e passa a 
ser seu principal referencial de justiça devido ao compromisso com a proteção do ser 
 
8 
humano e de seus valores coletivos, enfim garantidor dos direitos fundamentais de 
todos os cidadãos. 
A Constituição de 1988 retrata uma opção legislativa concordatária, em favor 
de um Estado social destinado a incidir, no que concerne às relações jurídicas 
privadas, sobre um Direito Civil repleto de leis especiais, chamadas de estatutos, que 
disciplinam exaustivamente inteiras matérias extraídas da incidência do Código Civil. 
O moderno Direito Constitucional é construído com base na ideia de normas 
propositadamente abertas, sem a pretensão de abarcar tipicamente todas as 
hipóteses fáticas previsíveis, uma vez que é da Constituição que se exige perenidade, 
ductilidade para fazer face às mudanças sociais e políticas em cada sociedade. 
Destarte, a fragmentação dos conceitos é acompanhada de técnica legislativa 
que se utiliza de cláusulas gerais, exatamente para garantir maior flexibilidade ao 
intérprete, para que este diante do fato jurídico concreto possa mesmo em situações 
jurídicas novas e desconhecidas fazer prevalecer os valores do ordenamento. 
Para tanto, foram fixadas normas gerais em cada capítulo da Constituição 
Federal de 1988, e ainda nos artigos 1º a 4º estão dispostos preceitos constitucionais 
da ordem jurídica, fundamentos e princípios da República. 
São normas jurídicas das quais decorre o dever do Estado, insculpido no artigo 
3º, inciso III da CF, em relação à justiça distributiva, a erradicação da pobreza e a 
diminuição das desigualdades sociais e regionais. E ainda nos termos do artigo 1º, 
inciso III da Constituição Federal está inscrito o objetivo central da República, qual 
seja, a efetivação de uma sociedade em que se privilegie o trabalho, a cidadania e a 
dignidade humana. 
Assim, os princípios dispostos na Constituição devem sobrepor-se, na atividade 
de interpretação e aplicação das leis, a toda e qualquer norma infraconstitucional, 
consideradas, portanto, como normas jurídicas com precedência sobre o Código Civil, 
posto que a Constituição é hierarquicamente superior a todas as demais leis da 
República. 
Deve, pois, condicionar, vincular diretamente todas as relações jurídicas, sejam 
elas públicas ou privadas. Daí a necessidade de se moldar as normas legais e 
principalmente contratuais aos valores expressos nos princípios constitucionais, que 
não são princípios gerais de direito, mas normas jurídicas diretamente aplicadas às 
relações privadas. 
 
9 
3.1 Código Civil 1916 x Código Civil 2002 
De forma geral, pode-se afirmar que o estudo do Direito e da Filosofia do Direito 
europeu explica o direito privado brasileiro, como fenômeno jurídico cultural, uma vez 
que o direito civil brasileiro é legítima expressão do direito privado europeu moderno. 
Por isso, importante uma análise comparativa e histórica dos fatos. 
O nascimento do moderno direito privado coincide com a fundação do studium 
civile em Bolonha e na França e vai até a formação dos Estados modernos nacionais. 
No Brasil, o primeiro Código Civil posterior a égide da legislação portuguesa 
embora promulgado em 1916 entrou em vigor em 1917. 
 
 
Fonte: www.meuelevador.com 
Porém, pelo fato de ter sido elaborado nos teores e exigências do século XIX e 
promulgado em outra época já apresentava um descompasso e desatualização, 
senão em todos, na maior parte de seus segmentos. 
O Código Civil de 1916 tinha como valor fundamental o indivíduo, fruto do 
contexto histórico e social vivido a época, cuja característica marcante era a crença 
no individualismo como verdadeiro dogma. 
O direito privado regulava, sobretudo, a atuação dos sujeitos de direito. Era, 
portanto, considerado a Constituição do direito privado, por significar a garantia legal 
mais elevada quanto à disciplina das relações patrimoniais. 
 
10 
Como o Direito Público não interferia na esfera privada, o Código Civil assumia 
o papel de estatuto único das relações privadas, portanto, garantia ao sujeito de direito 
a estabilidade de regras quase imutáveis nas relações econômicas, o que 
proporcionava grande estabilidade e conforto. 
Já na metade do século XX se observa um descompasso entre o Código Civil 
e os anseios da sociedade, ocasionado pela crise econômica. 
A reforma se via cada vez mais necessária, e a primeira tentativa de realizá-la 
data de 1975, ano em que foi concluído o trabalho de uma comissão de juristas 
presidida porMiguel Reale. 
Com o advento da Lei 10.406, de 10.01.2002, o Brasil experimenta a novidade 
de um Código Civil mais moderno e que fosse capaz de ordenar a sociedade atual 
com mais eficácia. 
O novo Código Civil de 2002 privilegia as cláusulas gerais, o que demonstra 
que a técnica legislativa utilizada vem da Constituição, a qual se caracteriza pelos 
modelos jurídicos abertos. 
A utilização de cláusulas gerais é um fenômeno recente que se opõe a 
codificação precisa e fechada característica dos negócios privados. 
Como ponto positivo da utilização das cláusulas gerais se pode citar a 
possibilidade de mutações frente à inexistência de um sistema fechado, ou seja, 
dotadas de grande abertura semântica, não pretendem dar respostas precisas a todos 
os problemas da realidade. 
As cláusulas gerais podem ser preenchidas por fenômenos da vida social, 
econômica e cultural de um povo, por isso sua característica de significação variável, 
que permite uma constante atualização do Código sempre que houver necessidade, 
evitando um envelhecimento que na sociedade globalizada e pós-moderna se dá cada 
vez mais rápido. 
Por fim, elas viabilizam um intercâmbio entre a Constituição, o Código e as leis 
especiais, propiciando o desenvolvimento de um direito privado harmônico e 
compreensível. 
Representam as cláusulas gerais uma oportunidade de inserção dos princípios 
constitucionais no ordenamento privado, o que mostra que a dicotomia público-privado 
de outrora não se aplica mais a sociedade moderna, visto que há uma publicização 
dos institutos privados, uma observância da tutela pela Constituição Federal de 
matérias antes reservadas apenas ao âmbito dos estatutos privados. 
 
11 
Por outro lado, ao mesmo tempo em que o Código Civil perdeu espaço para a 
tutela exclusiva e autônoma dos interesses privados de uma sociedade massificada, 
cujas relações jurídicas por serem complexas passaram a requerer a ingerência de 
legislações específicas e de microssistemas, fazendo com que o Código fosse 
somente mais uma lei, com caráter residual, presencia-se de outro lado, a ausência 
de leis para regular as relações privadas que vão surgindo rapidamente nessa 
sociedade globalizada. Daí surge então, a necessidade de ter-se uma 
“ressistematização” do Código Civil de modo que este tenha condições de contar com 
um conjunto de cláusulas gerais que regularão de maneira genérica as relações 
sociais segundo valores circunscritos nas normas fundamentais, que passarão a 
permear o texto codificado como um conjunto de valores de ordem superior, 
inafastáveis, portanto, e só assim será possível dar-se uma solução justa para aqueles 
casos em que ainda não há um microssistema ou uma lei específica para regulá-lo. 
Nesse sentido destaca Tepedino: 
Nos dias de hoje, a necessidade de se dar efetividade plena as cláusulas 
gerais faz-se tanto mais urgente na medida em que se afigura praticamente 
impossível ao direito regular o conjunto de situações negociais que floresce 
na vida contemporânea, cujos avanços tecnológicos surpreendem até 
mesmo o legislador mais frenético e obcecado pela atualidade. [...] A difusão 
das cláusulas gerais coincide, curiosamente, com a já mencionada 
multiplicação e decomposição dos institutos. Ou seja, mais e mais se focaliza 
cada um dos tipos contratuais em detrimento da teoria geral do negócio 
jurídico, ao mesmo tempo em que o legislador se vale de cláusulas gerais, 
sem a pretensão de ser exaustivo, na regulamentação dos institutos. A 
fragmentação dos conceitos, portanto, é acompanhada de técnica legislativa 
que se utiliza de cláusulas gerais, exatamente para que o intérprete tenha 
maior flexibilidade no sentido de, diante do fato jurídico concreto, fazer 
prevalecer os valores do ordenamento em todas as situações novas que, 
desconhecidas do legislador, surgem e se reproduzem como realidade 
mutante na sociedade tecnológica de massa. (Gustavo Tepedino, 1999, apud 
Sabrinni Pereira, 2010, p. 10) 
Em contrapartida, as cláusulas gerais podem ser responsáveis por gerar 
incerteza, uma vez que permitem livre interpretação sem limites pré-determinados, o 
que pode ocasionar a diminuição do grau de certeza de um código. Devem ser 
utilizadas com cautela e prudência para que não causem prejuízos. 
Por isso, um código não pode ser todo ele baseado em cláusulas gerais. 
No entanto, o Direito Civil moderno não se funda em uma só lei codificada, mas 
admite coexistir com outros sistemas, denominados de microssistemas, dentre os 
quais podem ser citados: o microssistema jurídico de Direito Ambiental, de Defesa do 
 
12 
Consumidor, de Direito falimentar, do Estatuto do Idoso, da Criança e do Adolescente 
entre tantos outros. 
Alguns autores denominam esse fenômeno de descodificação do Direito 
Privado, causada pelo surgimento de leis especiais, aparecimento de falhas na 
estrutura hierárquica das normas, antinomias e incoerências. 
Mas há que refletir sobre a existência de uma possível desconexão entre todos 
estes sistemas, pois há o risco de cada um crescer e se desenvolver com grande 
autonomia. 
O Código Civil perde seu papel de Constituição do Direito Privado, e os textos 
constitucionais começam a definir princípios relacionados a temas antes reservados 
exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade: a função social da 
propriedade, os limites da atividade econômica, a organização da família, matérias 
típicas do Direito Privado, passam a integrar uma nova ordem pública constitucional. 
Observa-se nesse momento uma preocupação em se garantir a estabilidade 
das normas. 
Notável também que o próprio Direito Civil desloca sua preocupação central, 
que já não se volta tanto para o indivíduo, senão para as atividades por ele 
desenvolvidas e os riscos dela decorrentes. 
Portanto, o objetivo central do Código Civil deixa de ser o sujeito de direito e 
passa a ser as atividades desenvolvidas pelo sujeito, seus riscos, sua importância 
para a sociedade, a forma de utilização dos bens disponíveis para assegurar 
resultados sociais pretendidos pelo Estado. 
A tipificação taxativa dá lugar a cláusulas gerais e abertas, com uma linguagem 
menos jurídica e mais setorial, revelando um novo papel assumido pelo legislador, 
segundo Bobbio “função promocional do direito”, no qual se observa normas que 
oferecem vantagens individuais para alcançar certos comportamentos almejados pelo 
legislador (Norberto Bobbio, 1992 apud Sabrinni Pereira, 2010, p. 10). 
Portanto, trata-se de um legislador que oferece a normatização para 
determinados grupos específicos, o que mostra a perda de uma unidade sistêmica 
que antes se apresentava estável e duradoura, exigidas pelas transformações 
econômico-sociais vividas. 
Em outras palavras o Código Civil deixa de ser o único e central sistema e 
passam a existir estatutos, os denominados microssistemas do direito privado. 
 
13 
Porém, diante da realidade constitucional e da tentativa de se definir princípios 
e valores específicos às relações privadas, é imprescindível uma releitura do Direito 
Civil à luz da Constituição, buscando-se uma unidade sistemática, uma vez que a 
Constituição tem também o papel de interferir nas relações de direito privado. 
Dessa forma, os princípios gerais, fundamentais do ordenamento e as garantias 
individuais estariam assegurados. 
A existência de um Código permitiu o traçado de princípios gerais e instituições, 
os quais se aplicam as relações privadas em geral, o que permitiu a aplicação de 
instituições e técnicas. 
3.2 Dicotomia entre o Direito Público e o Direito Privado 
 
Fonte: www.femad.com.br 
O Direito Privado tem suas origens descritas no jusprivatismo, o Direito Público 
é elaborado a partir do racionalismo jurídico. 
As situações jurídicas privadas se pautam pela igualdade, liberdade, enquanto 
as situações jurídicas públicas têm embasamento em princípios, tais como da 
autoridade e da competência, o sujeito podeagir livremente no âmbito de situações 
particulares, desde que não haja proibição expressa pela lei. 
O direito privado impõe regramentos e limites para a defesa da pessoa contra 
as investidas do Estado. 
 
14 
Por outro lado, quando se trata de atos ou negócios que se inserem no contexto 
público, deve ser respeitada a realização somente daquilo que esteja previamente 
autorizado. 
As normas do Direito Privado têm a sua aplicação deixada a iniciativa individual, 
destinam-se a tutela dos interesses particulares, e não aos da coletividade, são 
dispositivas, pois permitem ao particular dispor como lhe aprouver, só se aplicando na 
falta de expressa vontade contrária dos interesses privados. 
Porém, não se pode crer em um dualismo sistemático que faça parecer o Direito 
Público como ordenamento do bem comum e o Direito Privado como a ordem jurídica 
de utilidade privada. 
Não se trata de valores contraditórios, tampouco antagônicos. 
O Direito Público respeita a estrutura do poder, de onde emana a ordem 
necessária para construção e manutenção do sistema jurídico, já o Direito Privado se 
volta para o homem, elemento essencial desse sistema. 
Ele, Direito Privado, começa a se interessar pelas consequências públicas das 
ações privadas, seu impacto sobre os demais indivíduos e sobre os bens públicos, e 
por isso confere status jurídico a bens que antes eram irrelevantes. 
Como ressalta Larroumet (2004, p. 45): 
O critério de distinção entre o Direito Público e o Direito Privado não é assim 
tão claro, pois se pode considerar que no próprio Direito Privado há regras 
que emanam do Direito Público, há uma publicização do Direito Privado, ou, 
uma intervenção conjunta de regras do Direito Público e do Direito Privado 
em relação ao sujeito em particular (Larroumet, 2004, apud Sabrinni Pereira, 
2010, p. 12) 
O sistema adotado pelo Direito Civil no Brasil segue o chamado sistema de 
Savigny, também conhecido por sistematização germânica, havendo uma parte geral 
que possui elementos comuns as outras partes, e outra especial. 
Desse sistema decorre a divisão do Código Civil brasileiro em uma parte geral 
com três elementos, pessoas, bens e relações, e uma parte especial com quatro livros, 
família, sucessões, obrigações - contratos e coisas. 
Portanto, resta claro que a dicotomia entre o Direito Privado e o Direito Público 
tão evidenciada alhures, perde toda a força se analisada a estrutura socioeconômica 
atual. 
Pelo contrário, nota-se que as Constituições cada vez mais tratam de assuntos 
até então tidos como de competência das leis privadas, mostrando a interdependência 
 
15 
entre os diversos ramos do Direito, que não podem mais ser vistos de maneira 
estanque e isolada. 
3.3 O Código Civil e o texto constitucional 
A necessidade de compatibilizar o Código Civil e a legislação especial ao texto 
constitucional é veemente em todas as épocas para que se possa ter um ordenamento 
jurídico uniforme e que atenda as demandas sociais de forma justa e solidária. 
 
 
Fonte: blog.maxieduca.com.br 
Esse novo enfoque do Direito Privado se justificou em razão dos anseios de 
uma sociedade massificada, cujas relações complexas requereram mudanças no 
ordenamento jurídico para que este pudesse acompanhar o seu desenvolvimento, 
sendo certo que se no âmbito das relações privadas a sociedade atual, globalizada, 
tende naturalmente a exclusão de muitos, haja vista a alta competitividade que nela 
se impõem, terá o Direito Civil neste aspecto, como direito dos cidadãos, a função de 
garantir a primazia da dignidade da pessoa humana para que se torne possível a 
construção de uma sociedade livre, justa e solidária. 
Os princípios fundamentais refletem em princípios gerais de Direito Privado 
quando informam seus elementos e privilegiam a realidade fundamental do fenômeno 
jurídico, uma vez que o homem é sujeito e não objeto de direito. 
 
16 
Partindo dessa afirmação pode-se inferir que a Constituição, que representa o 
conjunto de aspirações de um povo e por isso capaz de modificar o ordenamento 
jurídico de uma sociedade, exerce influência, tanto direta como indireta, sobre o 
Direito Privado. 
O estudo em conjunto dos princípios e regras constitucionais referentes ao 
Direito Privado constitui o chamado Direito Civil Constitucional. 
Nesse sentido afirma Giovanni Nanni (2001, p. 162): 
Nessa trilha é concebido o direito civil constitucional, em que é atribuída a 
tarefa de harmonizar-se o direito civil aos princípios constitucionais ou à 
Constituição como um todo orgânico. A norma constitucional passa a ser 
parte integrante do sistema civil, não apenas como regra hermenêutica, mas 
como norma vinculante de comportamento, incidindo sobre as relações 
privadas e tutelando seus valores fundamentais, especialmente a pessoa 
humana (Giovanni Nanni, 2001, apud Sabrinni Pereira, 2010, p. 13). 
O surgimento do chamado Direito Civil Constitucional pode ser atribuído a 
alguns fatores tais como: a relevância do caráter normativo da Constituição e da 
presença na mesma de matérias cujo conteúdo é de atribuição do Direito Civil. 
Devido a este caráter normativo da Constituição, pode-se observar sua 
incidência sobre todo o ordenamento jurídico, inclusive no Direito Civil. 
Daí, pode-se observar que as Constituições modernas incrementam e 
expandem seus conteúdos jurídicos de modo geral e universal, incidindo tanto no 
âmbito do Direito Público quanto do Direito Privado. 
Essa incidência gera consequências para o Direito Civil, pois este perde seu 
caráter quase exclusivo e os princípios e regras constitucionais referentes ao Direito 
Privado criam o chamado Direito Civil Constitucional. 
Outro fator que propiciou o surgimento do Direito Civil Constitucional foi o 
desenvolvimento dos direitos humanos e individuais, os quais passaram a constar das 
Constituições, deixando estas de ter somente caráter programático e estrutural de 
organização do Estado, passando a conter direitos e garantias antes somente 
legislados pelo Direito Privado. Fenômeno este que ocorreu no pós Segunda Guerra 
Mundial, em razão do desenvolvimento dos direitos humanos e individuais no cenário 
mundial. 
Nesse sentido destaca Piovesan (2003, p. 357): 
Vale dizer, no âmbito do Direito Internacional começa a ser delineado o 
sistema normativo internacional de proteção dos direitos humanos. É como 
se se projetasse a vertente de um constitucionalismo global, vocacionando a 
 
17 
proteger direitos fundamentais e limitar o poder do Estado, mediante a criação 
de um aparato internacional de proteção de direitos. Note-se que estes eram 
exatamente os lemas do movimento do constitucionalismo instaurado no final 
do século XVIII, que fizeram nascer as primeiras Constituições escritas: 
limitar o poder do Estado e preservar direitos (Piovesan, 2003, apud Sabrinni 
Pereira, 2010, p. 14). 
Tal fenômeno provocou uma modificação na visão do Código Civil, surgindo a 
chamada publicização ou socialização do direito particular, que passa a ter maior 
influência no Direito Público. 
Para conceituar o Direito Civil Constitucional, mister se faz uma análise da 
Constituição como norma jurídica de eficácia direta e imediata, como norma suprema 
fundamental e fundamentadora, enfim norma superior. 
Além disso, deve-se analisar o conteúdo material, próprio e residual do Direito 
Civil, uma vez que a norma constitucional possui função primordial nas 
transformações do Direito Civil. 
Uma conceituação do Direito Civil Constitucional exige um exame dos 
conteúdos civilistas frente à supremacia e relevância constitucional, uma vez que as 
normas constitucionais em matéria civil não são concebidas como algo isolado e 
autônomo, mas como infraestrutura do Direito Civil. 
O Direito Civil Constitucional aparece como resultado de uma releitura do 
Código Civil e das normas em geral à luz dos princípios constitucionais, aos quais se 
reserva um espaço superior, sendoainda fruto da superação da contraposição entre 
as normas jurídicas contidas nos códigos e os princípios presentes na Constituição. 
Ele não representa um novo ramo do Direito, pois não é matéria distinta do 
Direito Civil. 
Sua delimitação formal é proveniente de uma integração constitucional dentro 
do Direito Civil, sendo que seu objetivo é constituir a infraestrutura do Direito Civil, 
bem como seu ponto de partida e referência. 
Os princípios que dirigem a vida comunitária e harmônica nas relações privadas 
não se encontram somente no Código Civil, uma vez que a Constituição afeta matérias 
e instituições civis importantes, chegando às vezes a modificar o Código Civil em 
relação a algumas matérias, por isso não há inconvenientes em se admitir a incidência 
da Constituição no Direito Privado. 
 
18 
Destacando o papel dos princípios fundamentais que elevam a figura humana 
e que tomam a justiça como requisito fundamental de valoração jurídica também no 
Direito Privado afirma Nery (2002, p. 113) que: 
Os princípios fundamentais, como já disse, refletem-se em princípios gerais 
de Direito privado quando informam seus elementos e privilegiam a realidade 
fundamental do fenômeno jurídico, que é a consideração de que o homem é 
sujeito de direito e, nunca, objeto de direito. Esse reconhecimento 
principiológico se alicerça em valor fundamental para o exercício de qualquer 
elaboração jurídica; está no cerne daquilo que a Ciência do Direito 
experimentou de mais especial; está naquilo que o conhecimento jusfilosófico 
buscou com mais entusiasmo e vitalidade: é a mais importante consideração 
jusfilosófica do conhecimento cientifico do Direito. É o fundamento axiológico 
do Direito; é a razão de ser da proteção fundamental do valor da pessoa, e, 
por conseguinte, da humanidade do ser e da responsabilidade que cada 
homem tem pelo outro. Por isso se diz que a Justiça como valor é o núcleo 
central da axiologia jurídica, e a marca desse valor fundamental de Justiça é 
o homem, princípio e razão do Direito (Nery, 2002 apud Sabrinni Pereira, 
2010, p. 15). 
Enfim, a missão do Direito Civil Constitucional é harmonizar o Direito Civil aos 
princípios constitucionais ou à Constituição como um todo orgânico, fazendo com que 
a norma constitucional seja integrante do sistema civil, compreendendo o papel de 
norma de comportamento que tutela e incide sobre as relações privadas e seus 
valores fundamentais. 
O respeito pela vida humana é o ponto central de todas as preocupações 
jurídicas, uma vez que esse valor inspira um princípio fundamental, que é o da 
dignidade do ser humano, princípio este que por ser intrínseco a ideia de sujeito, torna-
se um princípio de Direito Privado. 
Procurando delinear os contornos sobre o que consiste a dignidade da pessoa 
humana assevera Sarlet (2001, p. 60): 
Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca 
e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e 
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste 
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a 
pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, 
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida 
saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e 
corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão 
com os demais seres humanos (Sarlet, 2001, apud Sabrinni Pereira, 2010, p. 
16). 
Dessa forma, pode-se concluir que o princípio da dignidade da pessoa humana 
inspira a cláusula geral de que os contratos devem atender sua função social. 
 
19 
Tepedino observa que a inserção da função social como um princípio 
constitucional, entre os direitos e garantias fundamentais, tem o escopo de elevá-lo 
ao patamar de regra fundamental, “apta a instrumentalizar o tecido constitucional e, 
por via de consequência, todas as normas infraconstitucionais, criando um parâmetro 
interpretativo do ordenamento jurídico” (Tepedino, 2004, apud Sabrinni Pereira, 2010, 
p. 16). 
Pode-se afirmar em linhas gerais que o Código é substituído pela 
constitucionalização do Direito Civil, e o ordenamento codificado pelo sistema de 
normas fundamentais. (Lorenzetti, 1998, apud Sabrinni Pereira, 2010, p. 16) 
O fenômeno da constitucionalização dos princípios fundamentais do Direito 
Privado, no sentido da sua recuperação pelo texto constitucional, o qual se torna o 
estatuto central da sociedade civil e política, evidencia a consequente perda da 
centralidade do Código Civil. 
Em outras palavras seria uma personalização do Direito Civil, quando se 
analisa sob o aspecto da dignidade da pessoa humana, como princípio fundamental 
constitucional, ou chamados direitos da personalidade que constituem o núcleo das 
Constituições dos sistemas jurídicos contemporâneos. 
A Constituição oferece uma base suficiente para interpretar e orientar o 
tratamento das previsões gerais contidas no Código Civil, previsões estas que 
deverão ser observadas quando da aplicação dos institutos privados, ou seja, é 
necessária uma leitura do Código Civil e de seus dispositivos legais conforme os 
princípios norteadores expressos e implícitos na Constituição Federal. 
4 O HOMEM COMO FIM DO DIREITO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA 
PESSOA HUMANA 
A máxima de Hermogeniano “hominum causa omne ius constitutum est”, 
oriunda do Direito Romano, ainda continua valendo. Significa que todo o direito é 
constituído à causa do homem, o que simboliza que a pessoa é o centro das atenções 
jurídicas, ou seja, o ser humano é o destinatário final de toda norma. “O direito é 
pensado e aplicado para os homens” (Oliveira, 2015 apud Lima, et al, 2016, p. 03). 
A pessoa é o conceito central do Direito, sendo que 
 
20 
As pessoas são criadoras e destinatárias das normas jurídicas. Criadoras na 
medida que em que são pessoas que estabelecem as normas de convivência, 
e destinatárias, visto que as normas criadas pelas pessoas visam exatamente 
ordenar a conduta das pessoas, restringindo, de certa maneira, sua liberdade 
(Oliveira, 2015 apud Lima, et al, 2016, p. 03). 
Isto posto, é possível afirmar que as pessoas são o componente fundamental 
do Direito que, por sua vez, tem o propósito de “reconhecer a dignidade da pessoa 
prestando a mais completa e incondicional tutela” (Oliveira, 2015, apud Lima, et al, 
2016, p. 03). 
Neste contexto, a Constituição Federal, em seu art. 1º, inciso III coloca a 
dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República Federativa do 
Brasil, o que confirma o valor da pessoa humana como fundamento da ordem jurídica. 
O conceito de dignidade da pessoa humana é deveras complexo e vem sendo 
desenvolvido ao longo dos anos de acordo com uma diversidade de valores presentes 
nas sociedades. Sarlet conceitua a dignidade da pessoa humana a partir de uma 
perspectiva jurídica: 
Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva 
de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração 
por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um 
complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto 
contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham 
a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, 
além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos 
destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres 
humanos (Sarlet, 2007, apud Lima, et al, 2016, p. 04). 
Neste sentido, é possível verificar que a Constituição de 1988 não instituiu o 
princípio da dignidade da pessoa humana, pois este já vinha de uma construção 
histórica. No entanto, a Magna Carta consagrou sua importância, atribuindo-lhe “valor 
supremo de alicerce da ordem jurídica democrática”. O princípio da dignidade da 
pessoa humana é um “princípio unificador dos direitos fundamentais” ou em outras 
palavras,os direitos fundamentais são a concretização deste princípio (Oliveira, 2015 
apud Lima, et al, 2016, p. 04). 
 
21 
5 O PROCESSO DE CODIFICAÇÃO BRASILEIRO 
 
Fonte: www.aureliorezende.adv.br 
É importante esclarecer que o Código Civil não se confunde com o Direito Civil 
em si, sendo que este último é muito mais abrangente. De acordo com Paulo Lôbo, o 
Código Civil, “apesar do nome, não é um código de direito civil, mas sim um código 
das principais relações de direito privado”, sendo que o Direito Civil é o alicerce do 
Direito Privado, isto é, é o Direito Privado por excelência, e rege todas as relações 
jurídicas dos indivíduos desde o seu nascimento até a sua morte (Lôbo, 2015, apud 
Lima, et al, 2016, p. 06). 
Código é, por definição, um conjunto de normas sobre determinado ramo do 
Direito ordenadas de forma orgânica e sistemática. Como os códigos tratam de 
matérias vastas, é necessário que haja uma vinculação de significação entre todas as 
suas partes. 
A organicidade dos códigos pode ser comparada ao funcionamento do corpo 
humano, no qual existem órgãos responsáveis por fazer o todo funcionar: os órgãos 
funcionam em harmonia entre si. O mesmo acontece nos códigos, cujas partes se 
complementam para a compreensão da totalidade do texto. Neste sentido, a 
codificação é uma tendência que visa a facilitar a compreensão total do assunto 
abordado, organizando, unificando e sistematizando a matéria. 
 
22 
A codificação, segundo Paulo Lôbo, teve papel de destaque no 
desmoronamento do velho regime, que se ancorava na autoridade e status social. O 
Direito da época exigia “normas certas, claras e precisas para a segurança dos 
negócios e para a definição das conquistas liberais” conseguidas com a Revolução, 
em especial a defesa da propriedade individual, o que resultou na codificação civil 
moderna (Lôbo, 2015, apud Lima, et al, 2016, p. 07). 
Ainda segundo o autor, “a codificação teve por pressuposto o sujeito de direitos 
adquiridos abstraído de suas reais condições de poder, enquanto o constitucionalismo 
liberal partiu exatamente da vontade de limitar os reais detentores do poder político” 
(Lôbo, 2015 apud Lima, et al, 2016, p. 07). 
Neste contexto, as codificações liberais atuam como transformação 
revolucionária contra a tradição, sendo que outras civilizações fora da Europa 
adotaram os códigos modernos europeus para se transformarem em nações mais 
modernas. 
Na esfera do direito privado, a codificação correspondeu ao que foi a 
constituição política e declaração de direitos no direito público. Neste sentido, a 
codificação rejeita o direito natural que serviu de legitimação para o seu surgimento e 
de substituição do direito tradicional. 
O processo de codificação no Brasil foi um longo período que teve início com a 
independência em 1822 e se encerrou algum tempo depois da proclamação da 
República. Neste período, o Brasil não foi absolutamente independente de Portugal, 
pois não havia uma legislação própria durante o Império, quando vigoravam as 
“Ordenações Filipinas’’. Estas ordenações foram influenciadas pelo direito romano, 
pelo direito canônico e pelos costumes dos povos germânicos que invadiram a 
península ibérica. 
Somente com a Constituição Imperial de 1824 o Brasil passou a ter uma 
legislação própria. Esta constituição previa a criação de um Código Civil e um Código 
Criminal. O Código Criminal foi editado em 1830 e o Código Processual Criminal, em 
1850. O Código Civil só foi editado quase um século depois. 
Em 1858, Augusto Teixeira de Freitas realizou a Consolidação das Leis Civis 
como uma tentativa de agrupar as leis civis num complexo que seria responsável por 
preencher a lacuna do Código Civil. O jurista foi contratado pelo governo imperial para 
elaborar um projeto de Código Civil, cujo esboço não foi aprovado. Até o fim do 
império, em 1889, o Brasil ainda não tinha um Código Civil. 
 
23 
Em 1969, Clóvis Bevilácqua foi contratado, juntamente com outros juristas, para 
elaborar o Código Civil Brasileiro e, após um longo período de tramitação e emendas 
do Congresso, o projeto foi aprovado em 1915 e finalmente sancionado e promulgado 
em 1916. O Código possuía características patrimonialistas e individualistas, que 
eram resultantes da autonomia da vontade e da liberdade de ação provenientes dos 
movimentos sociais da época. 
Com a Constituição de 1934, o Código de Bevilácqua tornou-se ineficiente 
diante das demandas sociais, sendo necessário editar uma grande quantidade de leis 
esparsas para suprir suas deficiências. Após algumas tentativas frustradas, uma 
comissão liderada por Miguel Reale conseguiu elaborar um projeto que foi enviado ao 
Congresso em 1975 e aprovado com alterações somente mais de duas décadas 
depois. O Código Civil de 2002, conhecido como o Código Reale, está em vigor até 
os dias atuais. 
5.1 O Código Civil de 2002 
O Código de 2002 rompe com as características liberais e individualistas e se 
aproxima mais do lado social com três princípios marcantes: eticidade, operabilidade 
e socialidade. 
O princípio da eticidade consiste na busca de compatibilização dos valores 
técnicos conquistados na vigência do Código anterior com a participação de valores 
éticos no ordenamento jurídico, buscando a moralidade. Traz à tona a proteção da 
pessoa enquanto ser de emanação ética. 
O princípio da socialidade busca preservar o sentido de coletividade, muitas 
vezes em detrimento de interesses individuais, observando a função social do Direito 
Civil. A socialidade instrumentaliza o Código à diretriz constitucional da solidariedade 
social, posta como um dos objetivos fundamentais da República. 
Já o princípio da operabilidade diz respeito à concessão de maiores poderes 
hermenêuticos ao magistrado, verificando, no caso concreto, as efetivas 
necessidades a exigir a tutela jurisdicional, transformando o código num sistema mais 
durável. Nessa linha, o código civil privilegiou a normatização por meio de cláusulas 
gerais, que devem ser preenchidas no caso concreto. 
 
24 
Tendo em vista a característica unificadora dos códigos, faz-se necessária a 
atualização periódica da legislação codificada para que ela represente a realidade do 
momento histórico. E isso não é diferente com o código de 2002. 
 
 
Fonte: portaleducacao.vteximg.com.br 
Assim, tendo como base o princípio da sociabilidade, é imperativo que o 
ordenamento jurídico seja sempre atualizado e condizente com os anseios da 
sociedade, e uma maneira mais fácil e ágil de se modificar as legislações codificadas 
é por meio da elaboração de leis esparsas, geralmente utilizadas para regular pontos 
isolados previstos no Código. Algumas leis esparsas são tão amplas que chegam a 
esgotar a matéria e, por esta razão, podem ser consideradas como microssistemas, 
também conhecidos por microcódigos ou por estatutos. 
No Brasil existem diversos microssistemas, como o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (Lei nº 8.069/90), o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), 
o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03), o Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/03), entre 
outras leis. Por este motivo alguns autores acreditam que o Brasil passa, atualmente, 
por um processo de descodificação. 
A grande quantidade de leis esparsas existentes no Brasil pode levar à 
percepção de que há uma tendência à descodificação. Entretanto, essa não é a 
realidade brasileira, pois, mesmo com a emergência dos microssistemas, o Código 
Civil ainda possui lugar de destaque entre as fontes de Direito Civil, apesar de não 
ocupar mais o posto de amálgama do Direito Civil, como veremos adiante. 
 
25 
6 CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL 
Com as constituições de 1934 em diante, incorporou-se ao texto constitucional, 
além da organização política e dos direitos individuais, a organização social e 
econômica, que reflete diretamente nas relações privadas. 
As Constituições que surgiram após a SegundaGuerra Mundial passaram a 
tratar de temas até então tratados apenas pela legislação civil, com o objetivo de 
realizar verdadeiras transformações na sociedade. Neste momento os direitos 
fundamentais e sociais começaram a ganhar espaço nas constituições de diversas 
nações. 
Neste contexto, os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana 
passam a ser analisados sob um novo prisma, sendo que a Constituição de 1988 foi 
a que mais pretendeu regular e controlar os poderes privados, na perseguição da 
justiça material, por meio do estabelecimento dos direitos fundamentais. 
Este fenômeno, chamado de constitucionalização do direito civil, resultou na 
constitucionalização do núcleo essencial das relações privadas e surge de uma 
demanda da sociedade indispensável para a consolidação do Estado Democrático e 
Social de Direito e para a promoção da justiça social e da solidariedade, que passou 
a ser incompatível com o modelo liberal anterior de distanciamento jurídico dos 
interesses privados e de valorização dos indivíduos. 
Os fundamentos da organização social e econômica passam a ser também os 
fundamentos jurídicos das relações privadas: personalidade, família, contratos, 
responsabilidade civil, propriedades e sucessões. 
De acordo com Gustavo Tepedino, a constitucionalização do Direito Civil tem 
mudado a concepção do Direito Civil, e a ideia de que o Código Civil representa a 
Constituição do Direito Privado encontra-se ultrapassada (Gustavo Tepedino, 2008, 
apud Lima, et al, 2016, p. 11). Todo o ordenamento jurídico deve ser interpretado à 
luz da Constituição Federal, que possui supremacia sobre todas as demais normas. 
Por conseguinte, é possível afirmar que é a Constituição, e não mais o Código Civil, 
que dá unidade ao sistema jurídico brasileiro. 
Juarez Freitas afirma que a interpretação de qualquer norma deve ser feita de 
maneira sistemática, sendo que “interpretar uma norma é interpretar o sistema inteiro”, 
isto é, a interpretação qualquer norma configura na aplicação do Direito como um todo, 
seja direta ou indiretamente (Juarez Freitas, 2010, apud Lima, et al, 2016, p. 11). 
 
26 
Freitas desenvolve dez preceitos que devem ser seguidos para a interpretação 
sistemática e dinâmica da constituição, e entre eles, para os fins deste estudo, 
destacam-se o primeiro – “numa adequada interpretação tópica-sistemática da 
Constituição os princípios fundamentais são a base e o ápice do sistema” – e o 
segundo preceitos – “as melhores interpretações são aquelas que sacrificam o mínimo 
para preservar o máximo de direitos fundamentais” (Juarez Freitas, 2010, apud Lima, 
et al, 2016, p. 12). 
Tais preceitos, segundo o autor, também devem ser utilizados na interpretação 
sistêmica do Código Civil, uma vez que o Direito Privado e o Direito Público, mesmo 
que repletos de diferenças, devem ser interpretados sempre em consonância com a 
Constituição para a garantia da concretização das regras e princípios constitucionais. 
A vista disso, a Constituição Federal de 1988 incorporou ao seu texto partes 
consideradas essenciais de Direito Civil, reunindo os fundamentos básicos de direitos 
da personalidade, direito das famílias, direito dos contratos, responsabilidade civil, 
direito das propriedades e direito das sucessões. 
Estes institutos do direito privado foram “funcionalizados à realização dos 
valores constitucionais, em especial da dignidade da pessoa humana, não mais 
havendo setores imunes a tal incidência axiológica” (Gustavo Tepedino, 2008, apud 
Lima, et al, 2016, p. 12). E estes valores, extraídos da sociedade configuram todo o 
ordenamento jurídico. 
Assim, no decorrer destes anos que já se passaram desde a promulgação da 
Constituição da República, uma verdadeira reviravolta ocorreu no âmbito do direito 
civil. Na atualidade, poucos civilistas negam eficácia normativa ao texto constitucional 
ou deixam de reconhecer seu impacto sobre a regulação das relações privadas. 
Estudos de teoria geral do direito acerca da aplicação dos princípios constitucionais e 
da metodologia de sua ponderação foram determinantes para afastar definitivamente 
a cristalizada concepção da Constituição como mera carta política, endereçada 
exclusivamente ao legislador. 
Neste contexto, dito pós-positivista, o respeito das normas inferiores à 
Constituição não é examinado apenas sob o ponto de vista formal, a partir do 
procedimento de sua criação, mas com base em sua correspondência substancial aos 
valores que, incorporados ao texto constitucional, passam a conformar todo o sistema 
jurídico. Valores que adquirem positividade na medida em que consagrados 
normativamente sob a forma de princípios. Assim, a solução normativa aos problemas 
 
27 
concretos não se pauta mais pela subsunção do fato à regra específica, mas exige do 
intérprete um procedimento de avaliação condizente com os diversos princípios 
jurídicos envolvidos. (Pietro Perlingieri, 2004, apud Maria Celina Bodin de Moraes, 
2006, p. 02) 
Mesmo a consagração da dignidade da pessoa humana como fundamento da 
República no art. 1º, III, da CF, dispositivo inicialmente observado com ceticismo, hoje 
é reconhecidamente uma conquista determinante e transformação subversiva de toda 
a ordem jurídica privada. De fato, a escolha do constituinte ao elevá-la ao topo do 
ordenamento alterou radicalmente a estrutura tradicional do direito civil na medida em 
que determinou o predomínio necessário das situações jurídicas existenciais sobre as 
relações patrimoniais. 
 
 
Fonte: gurudacidade.com.br 
Claramente, o efeito desta alteração na interpretação-aplicação dos institutos 
civilísticos tem sido notável e, deve-se mesmo afirmar, ainda não está completamente 
realizada. As influências do contexto histórico burguês e liberal em que o direito civil 
era concebido, como a regulação mínima necessária para garantir o livre jogo dos 
negócios, voltado unicamente para a proteção do patrimônio, fundado exclusivamente 
na tutela da propriedade e da autonomia privada de cunho econômico e que erigia o 
Código Civil como centro do sistema, vão, porém, se dissipando paulatinamente. 
 
28 
A proliferação da legislação esparsa sob a forma de estatutos especializados, 
por vezes tidos como “microssistemas legislativos”, tornou insustentável afirmar a 
centralidade do Código diante deste verdadeiro polissistema, que encontra, agora, na 
Constituição sua unidade sistemática e axiológica. 
A suposta segurança oferecida pela estrutura milenar do direito civil clássico, 
que justificaria seu predomínio sobre a instável normativa constitucional, revela-se 
como apenas mais um mito elaborado para a manutenção de status quo individualista 
e patrimonialista. Já o imprescindível reconhecimento da relatividade e historicidade 
dos institutos jurídicos demonstra que sob a sua aparente continuidade terminológica 
se ocultam radicais transformações semânticas (António M. Hespanha, 1998, apud 
Maria Celina Bodin de Moraes, 2006, p. 03). Em especial, a afirmação da democracia 
como fundamento de legitimidade de todo o ordenamento justifica a prevalência da 
Constituição, elaborada pela soberana assembleia nacional constituinte, com intensa 
participação popular, sobre a atividade regular do legislador, representante ordinário 
do povo. Em atendimento à função promocional do Direito, o princípio da democracia 
impõe a máxima eficácia ao texto constitucional, expressão mais sincera das 
profundas aspirações de transformação social. 
Por conta disso, a funcionalização dos institutos clássicos do direito civil às 
finalidades superiores consagradas na Constituição, tal como se observa, por 
exemplo, na instrumentalização da família ao livre desenvolvimento de seus membros 
e na subordinação da tutela do contrato e da propriedade à realização da função 
(rectius, justiça) social, tornou-se uma consequência necessária do respeito 
obrigatório à hierarquia das fontes.Evidentemente, o mesmo ocorre na seara da 
responsabilidade civil. 
A análise da jurisprudência destas duas décadas, especialmente no âmbito do 
direito privado, serve a desfazer – com as exceções normais – o justificado receio de 
que a aplicação direta das normas constitucionais, especialmente por meio de 
cláusulas gerais carentes de preenchimento valorativo, viesse a ocasionar 
arbitrariedades, violando a esfera de autonomia individual por meio de um perigoso 
salto sobre o legislador ordinário. Daí também a importância fundamental da 
motivação das decisões – anteriormente acentuada –, revelando os princípios 
jurídicos envolvidos e as ponderações realizadas pelo magistrado ao julgar o caso 
concreto, de modo a permitir o debate em bases racionais e a determinação de 
critérios capazes de nortear novas decisões de maneira isonômica. 
 
29 
No entanto, as conquistas até aqui obtidas não diminuem a extensão do desafio 
que temos diante de nós. Diversos obstáculos persistem e novos problemas se põem 
à metodologia civil-constitucional no século XXI. O principal deles foi a promulgação 
da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – o novo Código Civil. Alguns civilistas, 
animados com a suposta novidade, vieram a afirmar o ocaso do direito civil-
constitucional diante do novo diploma, que já teria nascido “constitucionalizado” em 
virtude de sua promulgação posterior à Constituição (Gustavo Tepedino, 2006, apud 
Maria Celina Bodin de Moraes, 2006, p. 04). 
Post hoc ergo propter hoc1. Tal falácia pode ser desfeita já a partir da análise 
dos diversos anacronismos e deficiências que o texto, elaborado na década de 1970, 
traz em seu corpo, consagrando, em numerosos dispositivos, entendimentos que se 
opõem ao movimento de personalização que se vinha operando em doutrina e 
jurisprudência. Neste momento, portanto, e talvez mais firmemente do que antes, será 
preciso persistir no esforço de conferir aos institutos civilísticos a interpretação 
condizente com a tábua axiológica prevista na Constituição. 
6.1 A responsabilidade civil como mecanismo de proteção dos interesses da 
pessoa humana 
Na definição de Ulrich Beck, vivemos atualmente em sociedades de risco 
(Ulrich Beck, 1992 apud Maria Celina Bodin de Moraes, 2006, p. 04). O sentido da 
expressão, porém, não se vincula diretamente às crescentes hipóteses de risco – 
entendidas estas como o aumento real do número de acidentes – mas às sociedades 
que se organizam para fazer frente ao incremento daquelas hipóteses, introduzidas 
principalmente pelos avanços tecnológicos e pela intensa interferência humana no 
meio ambiente. Trata-se de sociedades preocupadas com o seu futuro, com a 
sobrevivência das gerações futuras, e que necessitam desenvolver instrumentos 
aptos a garanti-lo. 
No entanto, assinala Stefano Rodotà, a angústia em relação ao futuro não 
acarreta uma recusa ao futuro: “ao lado da percepção, sempre mais clara, dos riscos 
do progresso tecnológico, existe a consciência da impossibilidade de parar tal 
 
1 A expressão significa: “Depois disso, então por causa disso” e configura uma frequente falácia 
lógica também denominada “correlação coincidente” ou “falsa causa”. Em virtude dela se assume que 
porque um evento ocorreu depois de outro, então o primeiro deve ser causa do segundo 
 
30 
progresso, mesmo se este não se apresenta mais com estimativas apenas positivas”. 
(Stefano Rodotà, 2006 apud Maria Celina Bodin de Moraes, 2006, p. 05) 
O sentimento de angústia aprofunda-se diante do descompasso existente entre 
a velocidade do progresso tecnológico e a lentidão com a qual amadurece a 
capacidade de organizar, social e juridicamente, os processos que acompanham esse 
progresso. A todo momento, de fato, percebe-se a obsolescência das soluções 
jurídicas para fazer frente a um novo dado técnico ou a uma nova situação conflituosa. 
 
 
Fonte: blog.uceff.edu.br 
A conceituação como sociedades de risco é, na realidade, consequência do fim 
da fase de fé cega no progresso da humanidade, confiança que havia definido a 
sociedade ocidental do séc. XIX como a de um “mundo de segurança” e delineado a 
legislação que o regulava mediante um sistema fechado e pretensamente completo 
que continha todas as respostas normativas. 
No decorrer do séc. XX, porém, a segurança foi sendo irreversivelmente 
corroída. Como reflexo do novo panorama, pleno de incertezas, o legislador começa 
a utilizar-se de uma diversa linguagem normativa, passando a adotar cláusulas gerais 
e conceitos jurídicos indeterminados, que, ao abrirem amplo espaço ao intérprete, 
acabam por acentuar a sensação de indeterminação e de insegurança perante o 
Direito. 
 
31 
Adverte-se então a necessidade de individuar os princípios jurídicos que devem 
direcionar cada interpretação-aplicação do direito, de referi-los continuamente para 
enfrentar tendências de mais longo prazo, e de adotá-los para o preenchimento, em 
cada caso, das cláusulas gerais e dos conceitos indeterminados, os quais funcionam 
assim como instrumentos de incidência dos princípios e valores constitucionais nas 
relações intersubjetivas. 
Não é tarefa simples. A dificuldade na identificação dos princípios envolvidos 
não provém, contudo, somente do fato de que se trata de regular uma demanda em 
transformação. Decorre ainda da necessidade de se levar em consideração uma 
multiplicidade de exigências, de interesses e de necessidades com frequência 
conflitantes entre si. A única constante a ser seguida encontra-se na prevalência da 
tutela da pessoa humana, princípio previsto no art. 1º, III, da Constituição Federal, 
considerada a sua dignidade como o valor precípuo do ordenamento, configurando-
se como “a própria finalidade-função do Direito”. 
O princípio da proteção da pessoa humana, determinado constitucionalmente, 
gerou no sistema particular da responsabilidade civil, a sistemática extensão da tutela 
da pessoa da vítima, em detrimento do objetivo anterior de punição do responsável. 
Tal extensão, neste âmbito, desdobrou-se em dois efeitos principais: de um lado, no 
expressivo aumento das hipóteses de dano ressarcível; de outro, na perda de 
importância da função moralizadora, outrora tida como um dos aspectos nucleares do 
instituto. 
Quanto ao aumento das hipóteses de ressarcimento, sabe-se que a 
responsabilidade civil é um dos instrumentos jurídicos mais flexíveis, dotado de 
extrema simplicidade, estando apto a oferecer a primeira forma de tutela a interesses 
novos, considerados merecedores de tutela tão logo sua presença seja identificada 
pela consciência social, e que de outra maneira ficariam desprotegidos, porque ainda 
não suficientemente amadurecidos para receberem atenção e, portanto, 
regulamentação própria por parte do legislador ordinário. (Stefano Rodotà, 2002 apud 
Maria Celina Bodin de Moraes, 2006, p. 06) 
Também por esta razão se diz que o direito da responsabilidade civil é antes 
de tudo jurisprudencial. Os magistrados, com efeito, são os primeiros a sentirem as 
mudanças sociais e, bem antes de se poder colocar em movimento qualquer alteração 
legislativa, estão aptos a atribuir-lhes, através de suas decisões, respostas 
normativas. 
 
32 
Mas isto somente ocorre porque o mecanismo da responsabilidade civil é 
composto, em sua maioria, por cláusulas gerais e por conceitos vagos e 
indeterminados, carecendo de preenchimento pelo juiz a partir do exame do caso 
concreto. Como a incidência dos princípios e valores constitucionais se faz, em via 
mediata, justamente desta maneira, através do preenchimento valorativo destes 
conceitos, vê-se que a constitucionalização da responsabilidade civil pode se dar 
naturalmente. 
Já a canônica finalidade de moralização da responsabilidade civil parece ter 
sido substituída com vantagens pela concepção que vislumbra no instituto a presença, 
e a consequente realização, de um devergeral de solidariedade, também hoje previsto 
constitucionalmente (CF, art. 3º, I), que se encontra na base do aforismo multissecular 
do neminem laedere, isto é, da obrigação de comportar-se de modo a não lesar os 
interesses de outrem. Trata-se aqui de tomar consciência de importante atualização 
de fundamento, fruto daquela historicidade, imprescindível à ciência jurídica, que se 
permite atribuir novo conteúdo a conceitos radicados. 
7 ESTADO DE DIREITO E DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
Fonte: s3.static.brasilescola.uol.com.br 
 
33 
Com o advento do Estado Social tem início um movimento em benefício da 
concessão de direitos para a sociedade e, consequentemente, um avanço do princípio 
democrático. 
Assim, o Estado Democrático de Direito surge com a função de garantir as 
liberdades dos indivíduos por meio do estabelecimento de proteção jurídica dos 
direitos humanos e garantias fundamentais. Isso significa que o Estado passa a ser 
submetido aos desígnios da lei, a qual fixa “direitos e garantias fundamentais para a 
proteção do indivíduo contra eventuais arbitrariedades estatais” (Dantas, 2014, apud 
Lima, et al, 2016, p. 13). 
Dessa maneira, o Estado deixa de ser responsável somente por garantir a 
liberdade e da autonomia dos indivíduos perante ele próprio para atuar como executor 
das políticas públicas que garantam a proteção dessas garantias fundamentais, 
interferindo mais ativamente na vida privada das pessoas. 
Surge, então, uma nova espécie de direitos: os direitos fundamentais. Segundo 
Paulo Gustavo Gonet Branco, os direitos fundamentais assumem posição de 
destaque a partir do momento em que há a inversão do mecanismo de relação entre 
Estado e indivíduo, sendo que este último, antes de ter deveres perante o Estado, é 
primeiramente portador de direitos que devem ser garantidos por ele (Branco, 2014, 
apud Lima, et al, 2016, p. 13). 
O Estado Liberal foi marcado pela constante interferência nos direitos 
fundamentais dos indivíduos. Portanto, as mudanças decorrentes das crises sociais e 
econômicas transformaram os direitos fundamentais, inicialmente concebidos para o 
exercício frente ao Estado, isto é, entre os indivíduos e o Estado, que passaram a 
abarcar, também, as relações interprivadas. E isso implicou na investigação sobre a 
eficácia dos direitos fundamentais sobre estas relações. 
7.1 Conceito de direitos fundamentais 
Não há consenso na doutrina quanto ao conceito de direitos fundamentais, 
sendo que as discussões já se iniciam quanto à sua terminologia. Alguns autores 
utilizam nomes diferentes para tratar do assunto como garantias fundamentais, 
direitos humanos fundamentais, liberdades públicas, direitos dos cidadãos, direitos da 
pessoa humana, etc., causando uma grande confusão quanto ao significado destes 
termos. Dessa forma, é mister esclarecer aqui, algumas diferenças. 
 
34 
De acordo com Ingo Sarlet, direitos humanos são direitos protegidos no plano 
internacional, nas convenções e declarações internacionais de direitos, são direitos 
universais de qualquer humano que fazem parte de um sistema supranacional de 
proteção de direitos e independem de proteção pelo ordenamento jurídico interno de 
um Estado (Sarlet, 2012, apud Lima, et al, 2016, p. 13). 
Também de acordo com o autor, liberdades públicas é um termo usado pelos 
franceses que se refere a certos direitos de liberdade (liberdade de expressão, de 
religião, entre outros) que são protegidas em face do Estado. 
Os Direitos Fundamentais, ainda de conforme o entendimento do autor, são 
aqueles reconhecidos no âmbito interno do ordenamento jurídico e positivados nas 
constituições de cada Estado, sendo protegidos por sistemas estatais de jurisdição 
constitucional, como o controle de constitucionalidade. Já as garantias fundamentais 
são os institutos jurídicos de proteção dos direitos fundamentais, tais como garantias 
constitucionais do processo e garantias processuais dos direitos como a ampla defesa 
e o contraditório, o devido processo legal e as ações constitucionais. 
Dessa forma, considera-se mais adequada a utilização do termo direitos 
fundamentais, uma vez que a Constituição de 1988 também usa essa terminologia. 
Neste contexto, segundo João Trindade, os direitos fundamentais são aqueles 
“considerados básicos para qualquer ser humano, independentemente de condições 
pessoais específicas. São direitos que compõem um núcleo intangível de direitos dos 
seres humanos submetidos a uma determinada ordem jurídica” (João Trindade, 2016 
apud Lima, et al, 2016, p. 15). 
7.2 A dupla dimensão dos direitos fundamentais 
Os direitos fundamentais possuem caráter duplo, isto é, têm dupla dimensão: 
são tantos direitos subjetivos, de defesa contra os poderes do Estado, quanto 
objetivos, determinando limites e maneira de agir do Estado para com os indivíduos. 
Ao mesmo tempo em que constituem direitos subjetivos dos indivíduos em face do 
Estado, compõem uma ordem objetiva de valores, um sistema axiológico que 
influencia todo o ordenamento jurídico. 
A dimensão subjetiva diz respeito à própria noção que se tem de direitos, sob 
a perspectiva individual de direitos. Esta dimensão deve ser analisada do ponto de 
vista da posição jurídico-subjetiva dos indivíduos em face do Estado, que se 
 
35 
consubstancia na faculdade de se exigir uma ação (direito positivo) ou uma abstenção 
(direito negativo) por parte do Estado. 
Já a dimensão objetiva diz respeito a valores ou princípios que orientam toda a 
produção normativa do Estado, funcionando como diretriz para a realização 
constitucional. Esta dimensão permite explicar outros efeitos produzidos pelas normas 
de direitos fundamentais, como sua eficácia irradiante e sua eficácia nas relações 
privadas, que serão abordados em seguida. 
7.3 Os direitos fundamentais na Constituição de 1988 
 
Fonte: direitosbrasil.com 
O texto da Constituição de 1988 recepcionou os princípios e institutos do direito 
privado tais como propriedade, família, contratos, entre outros. 
Assim, o Direito Civil deixou de ser um sistema fechado, no qual a constituição 
não interferia, conforme a compreensão de Tepedino (Gustavo Tepedino, 2008, apud 
Lima, et al, 2016, p. 16). 
O texto da Carta Magna dedica um título para tratar dos direitos e garantias 
fundamentais. O Título II divide estes direitos em XX capítulos: direitos e deveres 
individuas e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos e 
partidos políticos, ao passo que, doutrinariamente, estes direitos são divididos em 
quatro categorias: direitos fundamentais de primeira, segunda, terceira e quarta 
 
36 
geração, divisão esta que tem origem no lema da revolução francesa: liberdade, 
igualdade e fraternidade. 
Os direitos fundamentais de primeira geração marcam a passagem do Estado 
autoritário para o Estado de Direito e com foco no respeito às liberdades individuais. 
Tais direitos representam as liberdades públicas dos indivíduos, como os direitos 
políticos, direitos civis e políticos. 
Os direitos fundamentais de segunda geração são marcados pela oposição às 
péssimas situações e condições de trabalho encontrados no período após a primeira 
guerra. São os direitos sociais, culturais, econômicos e coletivos, que têm relação com 
o Princípio da Igualdade, pois buscam manter a igualdade de direitos entre os 
cidadãos por meio de normas constitucionais. 
Já os direitos fundamentais de terceira geração vão além dos interesses do 
indivíduo, beneficiando a sociedade como um todo, trazendo à tona a ideia de 
fraternidade. 
Os direitos de quarta geração surgiram um pouco mais tarde, sob a influência 
da globalização política e social. Estes direitos incluem a democracia, o direito à 
informação, à autodeterminação dos povos e ao pluralismo. São direitos que garantem 
uma participação social e política mais ativa ao cidadão, legitimando a democracia. 
8 DIREITO CIVIL E EFICÁCIA DOSDIREITOS FUNDAMENTAIS 
Como já mencionado anteriormente, os direitos fundamentais possuem eficácia 
irradiante. Esta se traduz na supremacia das normas constitucionais referentes aos 
direitos fundamentais e na irradiação desses direitos para todo o ordenamento 
jurídico. Sarmento afirma que 
A eficácia irradiante enseja a ‘humanização’ da ordem jurídica, ao exigir que 
todas as suas normas sejam, no momento de aplicação, reexaminadas pelo 
aplicador do direito com novas lentes, que terão as cores da dignidade 
humana, da igualdade substantiva e da justiça social, impressas no tecido 
constitucional (Sarmento, 2010, apud Lima, et al, 2016, p. 16). 
Os direitos fundamentais, como princípios ou valores da ordem jurídica, 
conformam e limitam todos os âmbitos do ordenamento jurídico, inclusive o direito 
privado. Nas relações privadas, a eficácia dos direitos fundamentais decorre de sua 
 
37 
dimensão objetiva, produzindo duas espécies de efeitos: vertical, entre indivíduo e 
Estado, e horizontal, entre indivíduos. 
A eficácia vertical, como o próprio nome diz, baseia-se na relação vertical entre 
Estado e particular. O Estado, em papel preponderante, deve garantir certos direitos 
aos indivíduos para equilibrar as desigualdades nos polos da relação. Este tipo de 
eficácia se relaciona com os direitos fundamentais de primeira geração, que limitam a 
ação do Estado face às liberdades individuais. Esta relação não se discute, uma vez 
que o Estado é vinculado aos direitos fundamentais e os particulares podem exigir sua 
proteção. 
Já a eficácia horizontal, também chamada de eficácia privada ou externa, surge 
como um contraponto à ideia da eficácia vertical, estabelecendo que existem 
desigualdades nas relações privadas e que os direitos fundamentais também 
precisam ser protegidos neste tipo de relação. 
 
Fonte: www.estacioarapiraca.com.br 
8.1 A eficácia horizontal e aplicabilidade dos direitos fundamentais 
Conforme ensina Hesse, “a liberdade humana pode resultar ameaçada não só 
pelo Estado, mas também no âmbito de relações jurídicas privadas”. Dessa forma, é 
possível constatar que os direitos subjetivos resultantes dos mandamentos dos 
direitos fundamentais aumentaram a quantidade de sujeitos passivos que podem 
exigir tais direitos (Konrad Hesse, 2003, apud Lima, et al, 2016, p. 18). 
 
38 
É indiscutível o papel de respeitar as liberdades individuais de cada um, além 
do dever de prestar serviços que garantam a proteção aos direitos fundamentais. No 
entanto, a obrigação de obediência a estes direitos não escapa ao Estado, que passa 
a ter uma nova atribuição: a de criar mecanismos que observem os direitos 
fundamentais também nas relações entre os indivíduos, em situação de igualdade, 
sem preponderância de um sobre o outro. 
No entanto, a aplicabilidade dos direitos fundamentais nas relações privadas 
provoca, muitas vezes, colisão entre direitos fundamentais das pessoas envolvidas na 
relação, que devem ser resolvidos levando-se em conta critérios de solução diversos 
em cada caso. Este fato traz à tona o seguinte questionamento: a aplicação dos 
direitos fundamentais nas relações privadas restringe a manifestação de vontade do 
particular? 
Tendo em vista que todas as normas do ordenamento jurídico brasileiro devem 
ser aplicadas em consonância com as normas constitucionais, tal questionamento se 
faz pertinente, já que existe uma grande quantidade de direitos a serem tutelados a 
diferentes sujeitos e a jurisdição não pode se esquivar de resolver os conflitos 
apresentados. 
Em primeiro lugar, é necessário identificar a aplicabilidade dos direitos 
fundamentais relativamente ao bem da vida discutido no caso concreto, verificando se 
há direitos colidentes. Se a colisão não puder ser evitada, verifica-se, então, a 
possibilidade de aplicação de um direito em detrimento do outro sem que a ordem 
constitucional seja prejudicada. 
Para tanto, análise destes direitos deve ser feita sob a perspectiva da 
razoabilidade e da proporcionalidade, dando prioridade, entre as diversas soluções 
possíveis, àquela que satisfaça ao princípio fundamental da dignidade da pessoa 
humana. 
Sem dúvida não há uma receita exata para a análise dos casos em que há a 
colisão de direitos fundamentais nas relações privadas, devendo cada caso ser 
avaliado em sua concretude e especificidades. Todavia, é necessário compreender 
que, para se alcançar uma solução nestes casos, a manutenção da autonomia da 
vontade jamais deve sobrepujar a dignidade da pessoa humana. Ao contrário, a 
solução justa destes conflitos deve, obrigatoriamente, conciliar a proteção dos direitos 
fundamentais e a manutenção da autonomia privada, conforme defende João Alberto 
Facó Junior (Facó Junior, 2016, apud Lima, et al, 2016, p. 19). 
 
39 
8.2 Aplicações da constitucionalização na responsabilidade civil 
 
Fonte: www.editoraforum.com.br 
As profundas transformações ocorridas na responsabilidade civil, ramo do 
direito civil que apresenta atualmente grandes desafios aos juristas, devem ser 
enfrentadas a partir da perspectiva da aplicação direta e imediata das normas 
constitucionais. De fato, somente a perspectiva constitucionalizada é capaz de 
oferecer respostas às complexas indagações presentes no direito dos danos 
contemporâneo. 
De maneira geral, a inspiração constitucional fez com que princípios 
normalmente alheios ao surgimento da obrigação de indenizar fossem incorporados 
ao definir o regime de reparação civil. Se a responsabilidade civil tradicional se 
baseava exclusivamente na tutela do direito de propriedade e dos demais direitos 
subjetivos patrimoniais, hoje a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social, e 
a justiça distributiva influenciam profundamente toda a sistemática do dever de 
ressarcir. 
A constitucionalização do direito dos danos impôs, como se viu, a releitura da 
própria função primordial da responsabilidade civil. O foco que tradicionalmente recaía 
sobre a pessoa do causador do dano, que por seu ato reprovável deveria ser punido, 
deslocou-se no sentido da tutela especial garantida à vítima do dano injusto, que 
merece ser reparada. A punição do agente pelo dano causado, preocupação 
 
40 
pertinente ao direito penal, perde a importância no âmbito cível para a reparação da 
vítima pelos danos sofridos. 
O impacto desta mudança de perspectiva pode ser percebido em dois 
problemas que têm atraído a atenção da doutrina e provocado acesas controvérsias 
na jurisprudência: o da conceituação do dano moral, já referido, e o do conteúdo da 
cláusula geral de responsabilidade objetiva, prevista ex novo pelo Código de 2002. 
 
 
41 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ARONNE, Ricardo. Direito Civil - Constitucional e Teoria do Caos. Porto Alegre: 
Livraria Do Advogado, 2006. 
LIMA, Carolina Silva; SOUSA, Luana Pereira. A constitucionalização do direito civil 
como garantia de eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. Caderno 
Virtual, v. 1, n. 36, 2016. 
MORAES, Maria Celina Bodin. A constitucionalização do direito civil e seus efeitos 
sobre a responsabilidade civil. Revista Direito, Estado e Sociedade, n. 29, 2006. 
MORAES, Maria Celina Bodin de; KONDER, Carlos Nelson. Dilemas de direito civil-
constitucional: casos e decisões. Rio de Janeiro: Renovar, 2012. 
PEREIRA, Fernanda Sabrinni. Direito civil constitucional: a norma constitucional como 
componente do sistema civil. Horizonte Científico, v. 4, n. 2, 2010. 
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: Introdução ao direito civil 
constitucional, trad. MC de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. 
SCHREIBER, Anderson; KONDER, Carlos Nelson (Ed.). Direito civil constitucional. 
São Paulo: Atlas, 2016. 
TEPEDINO, Gustavo. Problemas de direito civil-constitucional. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2000. 
TEPEDINO, Gustavo; FACHIN, Luiz Edson; LÔBO, Paulo Luiz Neto (Ed.). Direito civil 
constitucional: a ressignificação

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