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1 
 
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AULA 01 – TEORIA DO DIREITO CIVIL I - O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO (CC/02) – 2020.2 
I. CONCEITO E SISTEMATIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL. 
 Etimologicamente, Direito Civil vem do latim cives (cidadão) e se dirige a regulamentação das 
relações sociais travadas entre as pessoas desde o nascimento (e mesmo antes dele) até a morte (e, 
inclusive, depois dela). Enfim, regulamenta as pessoas e os bens, bem como as relações pessoais e 
patrimoniais entre particulares (Farias e Rosenvald, 2013, p.59). 
 Segundo Farias e Rosenvald (2013, p.60), o Direito Civil está dividido em dois diferentes campos: 
1. Parte Geral (art. 1º ao art. 232): 
 Refere-se aos elementos fundamentais da relação jurídica civil, traçando normas pertinentes às 
pessoas (naturais ou jurídicas), suas relações para com os bens e, finalmente, os fatos jurídicos 
consubstancionados por elas. Tal conteúdo é de suma importância uma vez conter conceitos básicos, 
elementares, que serão utilizados na parte especial. 
2. Parte Especial (art. 233 ao art. 2.046): 
 Diz respeito as relações privadas em concreto. Divide-se em três setores: 
2.1. Circulação de riquezas: direito das obrigações, direito contratual e a responsabilidade civil; 
2.2. As titularidades: direitos reais; 
2.3. As relações de afeto: direito de família e direito das sucessões. 
II. CONCEITO DE CÓDIGO: 
É a modalidade aperfeiçoada de organização de um ramo jurídico à luz de princípios e valores 
convergentes, que se entrelaçam, formando um todo orgânico e sistemático (Paulo Nader, 2010) 
a) Método dedutivo: normativo 
b) Método indutivo: interpretativo. 
Características: durabilidade; organicidade; homogeneidade; perfectíveis; 
III. A FORMULAÇÃO DO CC/02. 
 O Direito Civil brasileiro foi regido durante todo período colonial pelas Ordenações Filipinas. Essa 
codificação portuguesa, que entrou em vigência durante o reinado de Felipe II, 1603, permaneceu mesmo 
durante a independência do Brasil, uma vez que a Constituição do Império a recepcionou. Somente em 
1915 é que foi aprovado o projeto do Código Civil do jurista Clóvis Beviláqua, sendo o mesmo promulgado 
em 1916. 
 O CC/16 foi editado sob forte influência dos comandos do Estado Liberal, o que por si influenciou 
o seu positivismo extremo – atendo-se unicamente a lei – e a sua aplicabilidade individualista, tutelando 
de forma absoluta a propriedade privada e a liberdade contratual. Por isso o CC/16 forjou um sistema 
fechado, que não admitia o ingresso de valores sociológicos e filosóficos capazes de oxigenar o 
ordenamento jurídico. 
 Diversamente do CC/16 tem-se o CC/02. Este predomina o social sobre o individual, além de aplicar 
outros institutos normativos de caráter bem mais genérico do que as regras, tais como as cláusulas gerais 
e os princípios. 
 Não obstante estas inovações, Farias e Rosenvald (2013, p.47) realizam críticas ao Códex1 vigente, 
dentre estas citam-se: 
 O lapso temporal da sua elaboração, que teve início em 1967 com a formação da comissão de juristas 
a qual somente em 1972 apresentou o anteprojeto, procurando preservar o quanto possível as 
disposições do CC/16. Em 1984 foi publicado o Projeto de Lei nº 634-B/75. No entanto, com o advento 
da CF/88 teve que ser atualizado recebendo inúmeras emendas, com o fito de adaptar-se a nova ordem 
constitucional. Enfim, em 11 de janeiro de 2002 foi publicado no Diário Oficial da União a Lei nº 10.406 
– o CC Brasileiro – com a vacatio legis de um ano (art. 2.044 CC); 
Para alguns doutrinadores o CC/02 já nasceu velho, e descompromissado com o seu tempo, 
desconhece algumas relações jurídicas e problemas mais atuais do homem, tais como: o livro do Direito 
das Famílias desconhece o DNA e suas importantes influencias na determinação da filiação, a 
 
1 Código. 
2 
 
2 
 
pluralidade de modelos familiares, os avanços da biotecnologia – fertilização in vitro, inseminação 
artificial, células tronco – relações estáveis entre pessoas do mesmo sexo, as consequências jurídicas 
da utilização da internet – contratações, responsabilidade civil – dentre outras. Já para outros 
doutrinadores, o CC/02 não é velho, pois é capaz de adaptar-se as realidades sociais uma vez que as 
cláusulas gerais e os princípios permitem a aplicação da norma civil em conformidade com os fatos 
atuais. 
 Responsabilidade objetiva; Reparação do dano moral (art. 927, CC); Anulação do negócio jurídico 
(art. 178, CC); Boa-fé objetiva na execução quanto na conclusão do contrato; Cláusulas gerais – 
jurisdição de equidade. 
IV. BASES PRINCIPIOLÓGICAS: 
CC/16 CC/02 
Sociedade com traços coloniais, monárquicos e 
paternalistas. Valoriza o ter. 
Valoriza o ser 
Agraria e rural Direito da Personalidade 
Família monogâmica e casamentária Família democrática e plural 
Poderes quase ilimitados. Função social da propriedade 
Liberdade de contratar. Inclusão do Direito de Empresa 
V. O CC/02 E OS SEUS PARADIGMAS: 
 Visando desvincular-se do caráter individualista do CC anterior e interiorizar os direitos e as 
garantias fundamentais nas relações privadas, o CC/02 adotou três paradigmas de inspiração 
constitucional, são eles (Farias e Rosenvald, 2013, p.50-58): 
a) SOCIALIDADE: 
 Nos dois últimos séculos – XIX e metade do XX – houve forte influência dos ideais liberais, 
contribuindo para a constituição de um direito positivista e individualista, donde o direito subjetivo – poder 
de agir do indivíduo, concedido e tutelado pelo ordenamento jurídico, a fim de que possa satisfazer um 
interesse próprio, exigindo para tal um determinado comportamento de outra pessoa – compreendia 
unicamente a satisfação de um interesse individual, uma vez que se defendia que, a soma de todos os 
bens individuais consagraria o bem comum da sociedade (Farias e Rosenvald, 2013, p. 50). 
 Assim, ocupava-se o Direito Civil, forjado no paradigma do individualismo e do absolutismo da 
vontade, com a preservação patrimonial dos sujeitos de direito: o proprietário, o contratante, o marido e 
o testador. Todavia após a 2ª Guerra Mundial, difundiu-se a tese de que o direito subjetivo deveria 
necessariamente corresponder uma função social, ou seja, o ordenamento jurídico concede a alguém 
um direito subjetivo para que satisfaça um interesse próprio, mas com a condição de que a satisfação 
individual não lese as expectativas legítimas da coletividade que lhe rodeia (Farias e Rosenvald, 2013, 
p.50- 51). 
 Existem, então, limites ao exercício de direitos subjetivos e eles serão dados pela sociedade. A 
partir do momento em que se instale a harmonia entre a autonomia privada da pessoa e o princípio da 
solidariedade social haverá uma desejável conciliação entre a liberdade e uma igualdade material (Farias 
e Rosenvald, 2013, p.51). 
 Dessa forma pode-se afirmar que o homem, enquanto um ser eminentemente social, não deve 
cumprir os seus fins isoladamente, mas sim socialmente. Logo todo o poder de agir concedido a uma 
pessoa deve realizar uma finalidade social; caso contrário, a atividade individual falecerá de legitimidade 
e o intuito do titular do direito será recusado pelo ordenamento jurídico. Daí o predomínio do social sobre 
o individual. Ex: a função social do contrato, art. 421 do CC e da função social da propriedade, art.1.228 
do CC, combinado com o art.5º incisos XII e XXIII da CF/88. 
 Vale ressaltar que a funcionalidade da propriedade importa em dar-lhe uma determinada finalidade, 
que na propriedade rural significa ser produtiva e na urbana atender as exigências fundamentais de 
ordenação da cidade expressa no plano diretor. Esta função social da propriedade inserida no diploma 
civilista é fruto da Constitucionalização do Direito Civil. 
Predomínio do social sobre o individual: 
3 
 
3 
 
Função social da propriedade: 
Propriedade rural – produtiva (art. 186, CF); 
Propriedade urbana – ordenação da cidadeexpressa no plano diretor (art. 182, § 2º, CF); 
Direito de propriedade (art. 1.228, CC) 
Propriedade pública dos bens (art. 98, CC); 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do 
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. 
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e 
sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, 
a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada 
a poluição do ar e das águas. 
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam 
animados pela intenção de prejudicar outrem. 
CONTRATO DE ADESÃO: “aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente 
ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa 
discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo". 
Atuação do princípio da função social do contrato para reequilibrar os polos da avença 
b) ETICIDADE: 
Valores técnicos aos valores éticos; 
Delimitadora do comportamento humano a realidade estrutura dos fatos e atos pelo cidadão; 
Normas genéricas ou cláusulas gerais; 
Eficácia e efetividade aos princípios constitucionais e relações jurídicas de direito privado. 
EFICÁCIA: fazer a coisa certa; 
EFICIÊNCIA: fazer certo a coisa; 
EFETIVIDADE: fazer a coisa que tem que ser feita 
 A eticidade penetrou no CC/02 através das cláusulas gerais, transformando o ordenamento privado 
em um sistema aberto, capaz de captar o universo axiológico da sociedade vigente. 
 A regra, que é uma espécie de norma jurídica, geralmente é composta por uma HIPÓTESE (a parte 
da norma que diz quando ela incidirá) E UM CONSEQÜENTE NORMATIVO (o que acontecerá quando 
a norma incidir). Por exemplo, matar alguém (hipótese). Consequente normativo: 6 a 20 anos de prisão. 
O ideal é que a hipótese seja bem clara e o consequente normativo seja definido, como descreve o art. 
121 do Código Penal2. Porém, no sistema jurídico aberto, o legislador não tem como prevê todas as 
hipóteses jurídicas relevantes. Assim criou-se as cláusulas gerais. Estas são espécie de texto normativo 
que não traçam pontualmente, especificamente a hipótese e nem tão pouco o consequente normativo; 
estes, são, pois, abertos e indeterminados. Essa abertura da cláusula geral, permite que da sua 
interpretação, possam se extrair tanto regras como princípios jurídicos. 
 Segundo Farias e Rosenvald (2013, p.55), cláusulas gerais são normas intencionalmente editadas 
de forma aberta pelo legislador. Possuem conteúdo vago e impreciso, com multiplicidade semântica, a 
ser preenchido pelo juiz na solução de determinado caso concreto. A amplitude das cláusulas gerais 
permite que os valores sedimentados na sociedade possam penetrar no Direito Privado, de forma que o 
ordenamento jurídico mantenha a sua eficácia social e possa solucionar problemas inexistentes ao tempo 
da edição do CC. 
 É importante ressaltar ainda o seguinte conceito de cláusulas gerais: 
Cuida-se de normas que não prescrevem certa conduta, mas, simplesmente, definem valores e 
parâmetros hermenêuticos. Servem assim como ponto de referência interpretativo e oferecem ao 
intérprete os critérios axiológicos e os limites para aplicação das demais disposições normativas 
(Gustavo Tepedino, apud Farias e Rosenvald, 2013, p.55). 
 
2 Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
4 
 
4 
 
 Dessa forma se o ordenamento jurídico comporta cláusulas gerais, é facultado ao juiz adaptar o 
direito às mudanças sociais, no momento de concretização destes textos legais. Tal conclusão só vem a 
confirmar a máxima de que o direito acompanha os fatos da vida. 
 Como exemplos de cláusulas gerais no CC têm-se: artigos 11, 113, 187, 421, 422, 884, 927, 1.228 
e 1.511. Estas visam imprimir eficácia e efetividade ao princípio da dignidade da pessoa humana, bem 
como aos demais princípios constitucionais, à cidadania, à personalidade, à confiança, à probidade, à 
lealdade, à boa-fé e a honestidade nas relações jurídicas de direito privado. 
 É importante observar que as cláusulas gerais coadunam com a aplicação da Teoria Tridimensional 
do Direito, de Miguel Reale, uma vez permear uma dialética entre a norma, fato e valor. A norma será o 
fato valorado pelo magistrado em consonância aos princípios constitucionais (Farias e Rosenvald, 2013, 
p.56). 
 Assim, para o arquiteto do CC/02 – Miguel Reale – o fundamento da eticidade do CC/02 encontra-
se nas cláusulas gerais, haja vista possibilitarem a flexibilização do sistema jurídico e ajustá-lo as rápidas 
mutações sociais, a fim de que a norma não fique desatualizada e contrária a realidade. 
OBS: cláusulas gerais são diferentes de conceitos jurídicos indeterminados. Estes são palavras ou 
expressões vagas/imprecisas contidas em uma norma jurídica, de modo que a dúvida se encontra no 
significado das mesmas. Um grande exemplo de conceito jurídico indeterminado está no parágrafo único 
do art. 927 do CC, que trata da "atividade de risco". Já as cláusulas gerais a indeterminação refere-se 
ao conteúdo da norma, pois o mesmo é vago e impreciso a ser preenchido pelo juiz na solução de 
determinado caso concreto. 
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA: é a valorização da ética e dos seus atributos, da lealdade, da 
honestidade, da lisura (art. 422, CC) 
Boa-fé objetiva como a imposição da lealdade no cumprimento dos deveres contratuais (Enunciado 26 
JDC/CJF). 
 Exteriorização do ato do sujeito 
Art. 113, CC: interpretação dos negócios jurídicos 
Boa-fé e os usos e costumes (auxiliar) do lugar da interpretação 
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ SUBJETIVA (art. 112, CC: "declarações de vontade se atenderá mais à intenção 
das partes do que ao sentido literal da linguagem"). 
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ (ex.: na hipótese de fixação de aluguel manifestamente excessivo, arbitrado 
pelo locador e a ser pago pelo locatário que, findo o prazo de locação, deixar de restituir a coisa, podendo 
o juiz, a seu critério, reduzi-lo). 
c) OPERACIONALIDADE OU CONCRETUDE: 
 Diversas soluções normativas foram tomadas no sentido de possibilitar formas mais rápidas de 
solucionar pretensões, bem como meios que evitem a eternização de incertezas e conflitos. Exemplo 
disso foram as distinções mais claras entre prescrição e decadência e os casos em que são aplicadas; 
estabeleceu diferença objetiva entre associação e sociedade, servindo a primeira para indicar as 
entidades de fins não-econômicos e a última para designar as de objetivos econômicos. 
4. A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL: 
 Anteriormente à Constituição de 1988, não se cogitava a abordagem dessa temática, haja vista que 
a Constituição se restringia a um documento que estabelecia unicamente a organização política e 
administrativa do Estado, relegando-se para o CC a tarefa de disciplinar as relações privadas. 
 Foi neste contexto, de “ANORMATIZAÇÃO DA CONSTUIÇÃO”, que se erigiu o CC de 1916, o qual 
inspirado nos ideais do liberalismo, protegia os direitos e as liberdades do indivíduo frente às ingerências 
estatais. Relegava-se, pois, a norma constitucional, que no máximo era utilizada na última instância após 
ausência de norma específica e frustrada tentativa interpretativa. Ocorria-se assim, uma subversão 
hermenêutica (Farias e Rosenvald, 2013, p.64). 
 Destarte com o advento da CF/88 esse cenário mudou. A nova Carta Constitucional além de ser 
um documento político, passou a ser dotada de força normativa suprema, cujo teor irradiou-se por todo 
5 
 
5 
 
ordenamento jurídico, sujeitando as demais normas infraconstitucionais aos seus ditames, 
principalmente aos direitos fundamentais nela contidos. 
 É dessa formaque a fonte primária do Direito Civil – e de todo o ordenamento jurídico – passa a 
ser a Constituição Federal, que com os seus princípios e regras, confere uma nova feição à ciência 
civilista. Surge assim, como corolário da supremacia e da força normativa da Constituição, o fenômeno 
da Constitucionalização do Direito Civil, pelo qual se passou a sujeitar as normas e os institutos do direito 
civil às regras e aos princípios constitucionais – a dignidade da pessoa humana (art.1º, III), a 
solidariedade social (art.3º,III) e a igualdade substancial (arts 3º e 5º) – modificando, se preciso, seus 
contornos e suas consequências para que estejam antenados com a perspectiva constitucional (Farias 
e Rosenvald, 2013, p.67). 
 O CC perde, assim, definitivamente, o seu papel de Constituição do direito privado. Os textos 
constitucionais, paulatinamente passaram a trazer no seu bojo regras e princípios de direito civil – a 
função social da propriedade, os limites da atividade econômica, a organização da família – e a valorizar 
a pessoa colocando-a acima do patrimônio. Passou-se a buscar a justiça social ou distributiva e, aos 
poucos, a liberdade foi sendo limitada, com a finalidade de se alcançar uma igualdade substancial. 
 Logo, a Constitucionalização do Direito Civil, consiste na interpretação e na aplicabilidade das 
normas de Direito Civil em conformidade com as regras e com os princípios constitucionais, bem como, 
a inserção e a regulamentação de institutos civilistas no corpo da Constituição, anteriormente 
monopolizados pelo CC. 
 Se faz mister citar as palavras de Farias e Rosenvald sobre a temática abordada: 
“Em linha de coerência com o que se afirma, é de se perceber que os problemas atuais que 
permeiam a civilística reclamam solução a partir dos princípios constitucionais e da valorização 
existencial da pessoa humana. A possibilidade de mudança do registro civil do transexual, a união 
homoafetiva, a clonagem de seres humanos, a permissão para experimentos científicos em corpos 
humanos... exigem interpretação afinada com o toque da dignidade humana e da igualdade substancial. 
Do contrário, haverá verdadeiro espancamento da regra constitucional, subvertendo o sistema” (Farias 
e Rosenvald, 2013, p.68). 
 Enfim, a redefinição das normas e dos institutos civilistas aos moldes constitucionais, proporcionou 
a oxigenação do Direito Civil, impedindo a sua morte por asfixia positivista e exegética. 
 Por derradeiro, atente-se para a impossibilidade de confundir Constitucionalização do Direito Civil 
com Publicização do Direito Civil. O primeiro, conforme se afirmou, consiste na interpretação e na 
aplicabilidade das normas de Direito Civil em conformidade com as regras e com os princípios 
constitucionais, bem como, a inserção e a regulamentação de institutos civilistas no corpo da 
Constituição, anteriormente monopolizados pelo CC. Já a Publicização do Direito Civil, resulta na 
interferência do Estado nas relações privadas, com o escopo de nivelar a posição das partes, evitando 
que a superioridade econômica de uma delas prejudique à outra, conferindo dessa forma certa dose de 
caráter público a uma relação jurídica, originalmente, estritamente privada (Farias e Rosenvald, 2013, 
p.70). Ex: O Código de Defesa do Consumidor (CDC). 
III. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL: 
Ao tutelar diversos institutos nitidamente civilistas, como a família, a propriedade, o contrato, 
dentre outros, o legislador constituinte redimensionou a norma privada, fixando os parâmetros 
fundamentais interpretativos. Em outras palavras, salientam Cristiano Chaves de Farias e Nelson 
Rosenvald, “ao reunificar o sistema jurídico em seu eixo fundamental (vértice axiológico), estabelecendo 
como princípios norteadores da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana (art. 1º, 
III), a solidariedade social (art. 3º) e a igualdade substancial (arts. 3º e 5º), além da erradicação da 
pobreza e redução das desigualdades sociais, promovendo o bem de todos (art. 3º, III e IV), a CRFF/88 
realizou uma interpenetração do direito público e do direito privado, redefinindo os seus espaços, até 
então estanques e isolados. Tanto o direito público quanto o privado devem obediência aos princípios 
fundamentais constitucionais, que deixam de ser neutros, visando ressaltar a prevalência do bem-estar 
da pessoa humana” 
6 
 
6 
 
Sob essa perspectiva, tem-se anunciado o surgimento de uma nova disciplina ou ramo 
metodológico denominado direito civil-constitucional, que estuda o direito privado à luz das regras 
constitucionais. Como já mencionado no item 4.1, retro, é digno de nota o fenômeno que se vem 
desenvolvendo atualmente da acentuada interferência do direito público em relações jurídicas até agora 
disciplinadas no CC, como as contratuais e as concernentes ao direito de família e ao direito de 
propriedade, reguladas na Constituição Federal de 1988, a ponto de se afirmar hoje que a unidade do 
sistema deve ser buscada, deslocando para a tábua axiológica da Carta da República o ponto de 
referência antes localizado no CC. 
O direito civil-constitucional está baseado em uma visão unitária do sistema. Ambos os ramos 
não são interpretados isoladamente, mas dentro de um todo, mediante uma interação simbiótica entre 
eles. Ensina Paulo Lôbo que “deve o jurista interpretar o CC segundo a CF e não a CF segundo o CC, 
como ocorria com frequência (e ainda ocorre)”. Com efeito, a fonte primária do direito civil — e de todo o 
ordenamento jurídico — é a Constituição da República, que, com os seus princípios e as suas normas, 
confere uma nova feição à ciência civilista. O CC é, logo após a incidência constitucional, o diploma legal 
básico na regência do direito civil. Ao seu lado, e sem relação de subordinação ou dependência, figuram 
inúmeras leis esparsas, que disciplinam questões específicas, como, v. g., a lei das locações, a lei de 
direitos autorais, a lei de arbitragem etc. 
A expressão direito civil-constitucional apenas realça a necessária releitura do CC e das leis 
especiais à luz da Constituição, redefinindo as categorias jurídicas civilistas a partir dos fundamentos 
principiológicos constitucionais, da nova tábua axiológica fundada na dignidade da pessoa humana (art. 
1º, III), na solidariedade social (art. 3º, III) e na igualdade substancial (arts. 3º e 5º). 
IV. EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: 
Tem-se observado um crescimento da teoria da eficácia horizontal (ou irradiante) dos direitos 
fundamentais, ou seja, da teoria da aplicação direta dos direitos fundamentais às relações privadas, 
especialmente em face de atividades privadas que tenham certo “caráter público”, por exemplo, 
matrículas em escolas, clubes associativos, relações de trabalho etc. 
O entendimento é que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação 
imediata (eficácia horizontal imediata). Certamente essa eficácia horizontal ou irradiante traz uma nova 
visão da matéria, uma vez que as normas de proteção da pessoa, previstas na Constituição Federal, 
sempre foram tidas como dirigidas ao legislador e ao Estado (normas programáticas). Essa concepção 
não mais prevalece, pois, a eficácia horizontal torna mais evidente e concreta a proteção da dignidade 
da pessoa humana e de outros valores constitucionais 
Na atividade judicante, poderá o magistrado, com efeito, deparar-se com inevitável colisão de 
direitos fundamentais, quais sejam, por exemplo, o princípio da autonomia da vontade privada e da livre-
iniciativa, de um lado (arts. 1º, IV, e 170º, caput), e o da dignidade da pessoa humana e da máxima 
efetividade dos direitos fundamentais (art. 1º, III), de outro. Diante dessa “colisão”, indispensável será a 
“ponderação de interesses” à luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização. Não 
sendo possível a harmonização, o Judiciário terá de avaliar qual dos interesses deverá prevalecer. 
Caso emblemático registra a jurisprudênciado STF, em que foi mantida decisão do TJ/RJ que 
reintegrara associado excluído do quadro de sociedade civil, ao entendimento de que houve ofensa às 
garantias constitucionais do devido processo legal e do contraditório, bem como ao seu direito de defesa 
em virtude de não ter tido a oportunidade de refutar o ato que resultara na sua punição. Entendeu-se ser, 
na espécie, hipótese de aplicação direta dos direitos fundamentais às relações privadas (RE 201.819-
RJ, rel. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 11-10-2005.). No bojo do acórdão consta a afirmação do 
relator, Min. Gilmar Mendes, de que “um meio de irradiação dos direitos fundamentais para as relações 
privadas seriam as cláusulas gerais (Generalklausel) que serviriam de ‘porta de entrada’ (Einbruchstelle) 
dos direitos fundamentais no âmbito do Direito Privado”. Neste caso, tratar-se-ia da denominada eficácia 
horizontal mediata, em virtude de as cláusulas gerais funcionarem como uma espécie de ponte 
infraconstitucional para as normas constitucionais. 
7 
 
7 
 
Outros precedentes da mesma Corte, entendendo razoável a aplicação dos direitos 
fundamentais às relações privadas, podem ser mencionados: RE 160.222-8 — entendeu-se como 
“constrangimento ilegal” a revista em fábrica de lingerie; RE 158.215-4 — entendeu-se como violado o 
princípio do devido processo legal e ampla defesa na hipótese de exclusão de associado de cooperativa, 
sem direito à defesa; RE 161.243-6 — discriminação de empregado brasileiro em relação ao francês na 
empresa “Air France”, mesmo realizando atividades idênticas. Determinação de observância do princípio 
da isonomia. 
V. DESCODIFICAÇÃO OU CENTRALIZAÇÃO: 
 A descodificação, ao invés de reunir em um só corpo todas as normas que regulam os mais 
diversos campos da sociedade, organiza diversos “microssistemas” a fim de atender aos anseios sociais, 
normatizando especificamente determinados assuntos, e.g., o Estatuto da(s) Família(s). O CC/02 
permanece como o centro de normatização social, e os “microssistemas” disciplinam questões 
específicas. 
 CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO 
Aplicação dos mandamentos constitucionais no 
direito privado. 
Processo de intervenção estatal no 
Direito Privado 
1. CONSTITUIÇÃO NO DIREITO DE FAMÍLIA: União Estável reconhecida; Maioridade Civil aos 18 anos; 
Regime de bens alterável por acordo entre os cônjuges; Exames de DNA podem comprovar a 
paternidade e a recusa implica em reconhecimento da filiação; filhos nascidos fora do casamento não há 
mais distinção entre filhos; Guarda dos filhos em caso de separação, pode ficar com o pai ou a mãe; 
Testamento não mais precisa ser feito à mão pelo testador; o cônjuge passa a ser herdeiro necessário; 
Reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar (STF - 2011) e obrigatoriedade dos 
Cartórios de realizar casamentos homoafetivos (Resolução do CNJ - 2013); Lei dos alimentos gravídicos 
(Lei nº 11.804/2008); Guarda compartilhada (Lei nº 11.698/2008); Paternidade socioafetiva.

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