Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Os fascismos (Francisco Carlos Teixeira da Silva) Silva, Francisco Carlos Teixeira da. “Os fascismos” in Reis Filho, Daniel Aarão et. Allii. O Século XX – O Tempo das crises. Revoluções, fascismos e guerras. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000, p.109-164. • Conceito de fascismoS: “conjunto de movimentos e regimes de extema direita que dominou um grande número de países europeus desde o início dos anos 20 até 1945.” (p. 112) • Fascismo é um conceito genérico usado de modelo ideal para casos específicos como o nazismo, hitlerismo, etc. (p. 112) • Base ideológica: nacionalismo e autoritarismo. • O autor critica a visão historiográfica que considerao fascismo um fenômeno meramente histórico, como se tivesse sua influência encerrada com o fim da guerra em 1945. (p. 113) • PROFE: O fascismo não é apenas um efeito da 1ªGM, mas é um fenômeno de ordem sociológica, emergindo em épocas de crise, principalmente econômica. • A historiografia pós-guerra centrada apenas na experiência alemã: forma de punição extra à Alemanha, culpabilizando-a (BY: EUA). • Outro interesse estratégico da historiografia estadounidense: classificar o nazismo como um regime de esquerda, ao destacar prioritariamente as apropriações do comunismo realizados pelo nazismo. o O que é facilmente desmentido ao se ler o Mein Kampf, de Hitler, que explicita que utilizaria sim estratégias comunistas, mas como forma de se apossar delas para outro objetivos, dentre eles combater o comunismo. • Após a guerra , vários setores políticos se remontaram a partir da continuidade e dominância fascista paa os novos regimes democratizados, e não a partir de uma ruptura e desnazificação, o que contribuiu para o neofascismo (termo usado pelo autor). (p. 115) • A demonização da história alemã (p. 117) o Ex: Daniel Goldhagen, que tratou o holocausto como um fenômeno alemão e o próprio fascismo como uma possibilidade histórica já encerrada com a democratização imposta pela ocupação ocidental. • Conceito de fascismo (Wolfgang Schieder) o “Se reconhece como fascistas movimentos nacionalistas extremistas de estrutura hierarquica e autoritária e de ideologia antiliberal, antidemocrática e antisocialista que fundaram ou intentaram fundar, após a Primeira Guerra Mundial, regimes estatais autoritários. Neste último sentido, o fascismo constitui um dos fenômenos centrais e mais característicos do entreguerras.” (SCHIEDER,1972, p. 97) o + especifidades, mas que não o faz descaracterizar do fascismo (p. 118) • Teoria do totalitarismo: o By fascismo italiano ft Mussolini o Intenção de elevar o Estado à posição de realidade última da Nação. o “[...] espiritual ou materialmente não existiria qualquer atividade humana fora do Estado, neste sentido o fascismo é totalitário.” (MUSSOLINI, B., 1935, p. 7) o O autor não apoia o conceito de totalitarismo, pois para ele apenas existe uma PRETENSÃO TOTALITÁRIA. • O professor acha interessante a comparação entre autoritarismo (obediência + mata-se quem incomoda) e totalitarismo (obediência e adesão + mata-se quem não veste a ideologia). • Elementos comuns entre autores sobre o fascismo (p. 120) o Aparelho político (partido, Estado, forças armadas, política secreta, etc.). o Liderança e condução inconteste do grande líder. o Ausência de análise da participação das massas populares/ visão dessa como passivas, manipuláveis. o O autor discorda desse último, pois para a instalação de um regime de pretensão totalitária é necessária a participação e apoio da população. • Pontos usados como coerência da teoria: o Fascismo: capitalismo, política dita científica, racismo, aniquilação da dita raça judia. o Socialismo: ausência da propriedade privada, irracionalismo, aniquilação da burguesia, poder ao proletariado. o O ponto em comum é a “mobilização das massas – de forma instrumental – contra um inimigo comum, objetivado.” (p. 120) • Funcionalismo X Intencionalismo o Funcionalismo: “ênfase recaindo no exercício coerente da vontade do líder como a essência da dominação.” (p. 120) o Intencionalismo: “papel da massa, em especial dos trabalhadores.” (p. 120) – O QUE NORMALMENTE É NEGLIGENCIADO • Ressurgência do fascismo/neofascismo o Anos 90. o Na Alemanha: processo de reunificação alemã pós Guerra Fria + onda de nacionalismo xenofóbico. o A historiografia “insistia, quase que numa posição defensiva, no caráter histórico, quer dizer, único e não retomável, do fenômeno fascista.” (p. 121) o “A ciência políica liberal consideram qualquer hipótese de ressurgência do neofascismo como uma invenção de esquerda (TREVOR-HOPE, 1974, p. 51)” (p. 121) • “O ressurgimento do fascismo como fenômeno de massa hoje não pode ser explicado à luz dos fenômenos que pretenciosamente explicariam o fascismo nos anos 20 e 30 (a derrota alemã e Versalhes, a frustração política italiana em 1919 ou a crise de 1929). Podemos, mesmo, duvidar se tais eventos históricos efetivamente explicaram o fascismo histórico... Assim, a ressurgência do fascismo nos obriga a lançar mão de um novo arsenal teórico e de novos metódos que possam explicar as duas marés fascistas (anos 20/30 e anos 90) ocorridas em nosso século e, mesmo, unificar a teoria explicativa do fascismo, pensando-o em termos mais fenomenológicos, enquanto modelo de reação, organização e participação de amplas camadas das massas populares nas modernas sociedades industriais ou em transição à industrialização, e muito menos como fenômeno específico da história alemã ou italiana dos anos 20. [...] poderíamos dizer que a anatomia do neofascismo ajudaria enormemente a explicar o fascismo histórico.” (SILVA, 2000, p. 121-122) • O autor busca um modelo de análise do fascismo, o que segundo o professor, parte de Max Weber e o tipo ideal. o Cria-se um modelo e, a partir dele, se analisa o fenômeno e suas particularidades. • No geral, o fascismo é: antiliberal, antidemocrata, antisocialista, historicista, nacionalista (o que, segundo Ernst Nolte, pode ser denominado como o minimum fascista. (p. 125)) • Na obra também são considerados movimentos fascistas que não foram bem sucedidos, pois “Muitas vezes, [...] movimentos fascistas que não chegaram ao poder apresentam um perfil fascista bem mais desenhado do que regimes estabelecidos. Regimes fascistas, nas maioria das vezes, chegaram ao poder através de pactos e alianças com outras forças conservadoras, sendo obrigados a abrir mão de parte do seu ideário inicial.” (p. 125) • Fascismo: movimento de caráter metapolítico (p.127) o “O fascismo surge como uma forma de ação total, envolvente e explicativa de toda a vida, incorporando a morte e a irrazão [...], propondo uma identidade não-idêntica ao mundo moderno, resistindo à transcendência no mundo moderno, sendo assim uma forma de proteção perante o desconhecido, a transcendência teórica liberal ou mítica, ou a transcendência prática, proposta pelo marxismo.” (p. 127) • Das características: 1) O antiliberalismo e antiparlamentarismo fascista (p. 127) • Acusa as formas liberais de organização de originarem a crise contemporânea • Duas dimensões antiliberais: o Falência do sistema liberal; o Caráter geneticamente desagregador do liberalismo; • A Revolução Francesa é apontada como origem do mal • Afirma o esgotamento da democracia e do liberalismo no último século, principalmente pelo “[...]esvaziamento do seu conteúdo ideológico[...]” (discurso de Salazar) e, • Coloca o Regime fascista como “sucessor e herdeiro de um sistema que não mais possui condições de manter a coesão nacional.”(p. 128). • Diz que as necessidades dos novos tempos exigiam “um Estado forte, dominador, que impediria o conflito social no plano interno e fortaleceria o país no plano externo [...]”. (p. 129) • Para a ideologia fascista, o liberalismo e a destruição da sociedade de privilégios (estamental e hierárquica), “gerou a perda de identidade, noção de ordem e hierarquia.” (p. 130), assim como destruiu o vínculo do homem com o sobrenatural, com o místico e com a promessa de imortalidade. • Culpa a Revolução Francesa pela emancipação dos judeus e por sua inserção na vida pública. • O princípio da representação era considerado nocivo e manipulador, pois os partidos políticos agrupariam interesses de classe, e portanto não nacionais, defendendo interesses particulares de grupos e não da nação. • Por esse motivo a democracia romperia a unidade do povo, semeando a discórdia ao dividí-lo em partidos políticos. 2) O Estado orgânico e a liderança carismática (p. 132) • Estado artificial x Estado orgânico ( DE ACORDO COM OS FASCISTAS) o Estado artificial: liberal democrático burguês – é imposto pois causa a divisão do povo, e por isso não devia existir – cidades (deturpadas pelo liberalismo) o Estado verdadeiro: fascista – união do povo e da nação – natural, já que parte do bem comum – campo • Orgânico, pois assim como o corpo humano precisa trabalhar em conjunto para funcionar (COORPORATIVISMO) • Para o Estado orgânico, o líder é essencial, assim como o cérebro. • TEORICAMENTE, no Estado orgânico não haveria mais lutas e contradições entre as forças da nação, pois este seria um fator de COASÃO NACIONAL. • A divisão de poderes (judiciário, legislativo e executivo) é descartado, tendo a fonte de todo o direito no líder, que garantiria o bem-estar da comunidade popular. • Daí vem o PRINCÍPIO DA LIDERANÇA, onde o topo da hierarquia seria do líder ou chefe nacional (ex: Füher e Duce), devendo as patentes menores sempre obedecer seus superiores. • O Füher era uma posição de poder ilimitada e absolutamente irresponsável (não regrada por qualquer dispositivo legal ou burocrático – Estado ou Partido – e as forças armadas). • O Estado fascista NÃO É UM MONOLITISMO (personificação do totalitário) como se faz parecer, visto que a divisão extrema de fontes de poder causava um afrouxamento das mesmas, onde os direitos e garantias do cidadão eram sobrepujados por uma ação múltipla e desorganizada do Estado. o Nessa ideia, Estado fascista seria perfeito, racional e funcional, onde o líder o organizaria por meio dos instrumentos do Estado (DISCURSO); • O que ocorre de fato é uma POLICRACIA, “com fontes autônomas de poder, com objetivos muitas vezes conflitantes, reunidos em torno de uma doutrina que serve de argamassa, gravitando em torno de uma personalidade autoritária e carismática, o líder nacional.” (p 135) o A divisão do poder por meio dos órgãos do Estado fez com que as orgens e ações acabassem em caos, já que cada órgão possuia um objetivo conflitante com o do outro (REALIDADE); • “[...] o Estado fascista é expansivo, desconhece as fronteiras do Estado de direito liberal, avassalando as instituições, intervindo e regendo o domínio público e privado, inclusive a economia e a família.” (p. 138), daí sua pretensão totalitária. 3) Comunidade do povo e a sociedade corporativa: o fascismo enquanto revolução (p. 138) • “A principal resposta fascista à crise de identidade atribuída à imposição dos princípios liberais foi a proposição do Estado coorporativo.” (p. 139) • Modo de propor formas eficientes de resistir à crise e a insegurança geral, e a face metapolítica do fascismo • Controle da esfera pública e privada “(política de casamentos puros, controle sexual, incentivo e punição em relação ao número de filhos, cultos cívicos públicos, perseguições religiosas, etc.)” (p. 139) • Por sua pretenção totalitária, o fascismo “implica a subordinação e o sucumbir da sociedade civil aos objetivos identificados como nacionais pelo Estado. Assim, é ele que organiza, normatiza e dirige a sociedade, com total desprezo por qualquer esfera exclusiva do privado.” (p. 140) • TRADIÇÃO: propõe recuperar a unidade nacional e a integridade do homem a partir de instituições, rituais e cerimônias que reestabeleçam os corpos sociais do Antigo Regime, se contrapondo à sociedade industrial moderna liberal (p. 140) • Entretanto, por reconhecer o fim do Antigo Regime, é proposto a Revolução Fascista, não reestabelecendo a Tradição, e sim o estabelecimento de uma nova teia social. • “[O fascismo é] revolucionário porque é antidogmático e antidemagógico, fortemente inovador e carece de preconceitos. Nós nos colocamos em defesa da guerra revolucionária acima de tudo e de todos.” (Il Popolo d’Itália, 1919) – p. 141 • “O fascismo se propunha um estado que se presentaria como a corporação do trabalho, supraclassista e acima dos mesquinhos interesses privados e de suas representações partidárias.” (p. 142) • O fascismo se propunha como uma TERCEIRA VIA, negando o marxismo e o liberalismo (p. 142) • A apropriação de um layout socialista partiu da necessidade de incorporar o movimento operário e sindical, o que é explicado peo próprio Hitler em seu livro Mein Kampf como Truques na luta pelos eleitores. (p. 143) • “O fascismo se oferece como uma possibilidade de restauração de identidades perdidas.” (p. 142), onde a raça, a história e o espírito da nação seriam o cimento na construção da nova comunidade. • Os sindicatos foram substituídos pelas coorporações, onde a Frente Alemã do Trabalho regulava as relações entre operários e empregadores (p. 144) • Não havia uma relação direta trabalhador/patrão, e sim patrão/partido • Assim se criava uma nova forma de regulação econômica, a AUTARQUIA, objetivando a reorganização da economia num sistema anticrise, aonde a intervenção econômica garantiria o mercado interno, o abastecimento e o escoamento da produção (p. 144 – 145) • A autodenominação NACIONAL-SOCIALISMO: o Os fascistas defendiam “uma comunidade solidária, harmônica, sem conflitos, fundada em um REGIME DOS PRODUTORES” (p. 145), sendo assim o verdadeiro socialismo, não vinculado ao bolchevismo e ao marxismo. o É daí que surge a frente anticapitalista do fascismo, que esperava por uma Segunda Revolução onde se eliminariam os exploradores capitalistas. Esses foram eliminados pela Gestapo na Noite das Longas Facas, e foram presos na Itália. o OU SEJA, os que tomaram e permaneceram no poder NÃO ERAM ANTICAPITALISTAS. o Após a conquista do Estado, o fascismo revolucionário devia ser eliminado, tendo sido usado apenas para destruir o Estado liberal (p. 146) o Os fascistas se viam socialistas porque viam “no socialismo, quer dizer, na interdependência vital de todos os membros da comunidade, [...] a única possibilidade de manter nosso patrimônio étnico e, por conseguinte, de reconquistar nossa liberdade e renovar o Estado Alemão.” (GOEBBELS, 1928) o OU SEJA, PRA ELES SOCIALISMO = COORPORATIVISMO o “É exatamente por se definir enquanto um regime de produtores, nacional e defensor do bem-estar coletivo, que o fascismo se define como socialista.” (p. 147) o “O coorporativismo seria a base do socialismo nacional, ou do nacional-socialismo” (p. 148) 4) A destruição do Eu e a negação do outro (p. 148) • A partir do estabelecimento do que é nacional, tudo o que não se encaixa nesse padrão deve ser eliminado, pois impossibilita a COESÃO NACIONAL e a homogeneidade (p. 149) • Os judeus e ciganos se destacavam como antinacionais por serem povos universais,cosmopolitas e de línguas distintas, não possuindo assim homogeneidade nem entre os seus. • “No fascismo não há espaço para o outro, mesmo o outro hierarquizado e subordinado, tampouco para sua educação e conversão num homem novo, como o comprova o extermínio de judeus e gays.” (p. 149) • O autor critíca as tentativas de buscar nos judeus a ração de serem as maiores vítimas do holocausto, pois dessa forma se estabelece a culpa nas vítimas e não nos algozes. • “O Holocausto, bem como outros genocídios, deve ser filiado a uma concepção de mundo que nega qualquer possibilidade de um contratipo ao seu tipo padrão, e não à história específica de um povo.” (p. 150 – 151) • O que os judeus, ciganos e gays tinham em comum é que “são grupos constituídos por uma cultura marcada por laços de solidariedade [...], de auto- identidade e ajuda. A família judaica, a nação cigana e o grupo de amigos gays são, em suma, exemplos famosos de possibilidades arrebatadas de ENFRENTAR DESAFIOS EM NOME DO AMOR.” (p. 151) • A característica base dos algozes foi e é a FRIEZA do indivíduo pelo outro (incapacidade de amar) • Tal frieza era ensinada desde cedo por meio da educação escolar e familiar autoritárias. • O estado fascista se ergueria com base no “espírito de camaradagem e de sacrifício, o sentimento de ser peça, parte substituível, de uma imensa engrenagem voltada para um fim maior.” (p. 155) • Associação masculina, hierarquizada pelo princípio do mando e voltada para valores como a força, lealdade, honra, temperança e desprendimento com sua própria vida. • Idealização do corpo esportivo, militar, distinguindo-se do burguês acomodado. • O super-homem nazista/fascista • Às mulheres cabia gerar mais filhos para o Império • As relações homossexuais eram reprimidas por não servir ao proposito de perpetuação e expansão da raça ariana, sendo consideradas luxúria. CONCLUSÃO: O tipo ideal fascista • Pontos do fascismo: antiliberalismo, antimarxismo, organicismo social, liderança carismática e negação da diferença. • Caráter metapolítico do fascismo, mobilizado para a incorporação da nação, numa concepção de mundo único, excludente e terrorista. • Importância da educação autoritária, baseada no ódio ao diferente e na frieza. • Estado orgânico. • Líder único, que irá transmitir a ideologia ideal para a sociedade por meio de órgãos do Estado perfeitos, racionais e funcionais. • Movimento moderno (que não tem uma visão focada no passado, diferente dos conservadores e reacionários), ou seja, revolucionário. (p. 138) • Objetivo fascista: COESÃO NACIONAL
Compartilhar