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A Essência do Pensamento Econômico e Social de Thorstein Veblen 
Seu Ponto Arquimediano 
Murillo Cruz1 
 
 
´Thorstein Veblen was arguably the most original and penetrating economist and social 
critic that the United States has produced.´ (in Rick Tilman, ´Thorstein Veblen and His 
Critics 1891 – 1963´, 1992) … 
“… the American economist Thorstein Veblen … [is] one of the most remarkable political 
writers not only in America but in the entire world. … It seems a great pity that this great 
man is not sufficiently appreciated in his own country.” (Albert Einstein, in Seckler, D., 
´Thorstein Veblen and the Institutionalists´, 1975) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(versão mista 03-08)
 
1 Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil) – IE-UFRJ 
(murillo8.cruz@gmail.com). Este Ensaio foi especialmente escrito para a celebração do 150o. 
aniversário de nascimento de Thorstein Bunde Veblen (1857-1929), promovida pela AFEE 
(Association for Evolutionary Economics) e pela EAEPE (European Association for Evolutionary 
Political Economy), em 2007. (Versão em inglês: tradução de Lucia Maria A. Abelheira). 
 2
 
Introdução (3) 
 
Primeira Parte - Compreendendo a Estática do ´esquema geral´ de Veblen 
em Culturas Pecuniárias 
 
 .Fins Ostensivos (mecânicos); e Fins Aproximados (pecuniários) (5) 
 .Culturas Pecuniárias (5) 
 .Culturas Pecuniárias e as Classes Dominantes (6) 
 .A ´Contenção Consciente da Eficiência´ da economia por parte dos 
 Homens de Negócio (9) 
 
Segunda Parte - Compreendendo a Dinâmica do ´esquema geral´ de Veblen 
 
.Os Três Planos Teóricos de Veblen (12) 
. Considerações Adicionais sobre o Vestuário como Expressão das 
 Culturas Pecuniárias e a ´moderna´ Teoria das Marcas Comerciais, 
 Branding, etc. (25) 
. A Pioneira Contribuição de Veblen para uma moderna Teoria das 
 Marcas, Brand-Names, etc. (28) 
 
Terceira Parte - O Esquema de Veblen na Organização da Produção 
O Moderno Sistema Industrial 
 
 . Capital nominal e Capital Efetivo (33) 
 . A ´Capacidade de Rendimento´ e o Goodwill (35) 
 . Conclusões Finais (42) 
 
Epílogo (45) 
 
Bibliografia e Leituras Selecionadas de Referência sobre Veblen (47) 
 
Apêndice 
 
Anexos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3
Introdução 
“Give me where to stand and I will move the earth” 
Archimedes c.250 BC 
 
Em certa ocasião, um aluno de Veblen perguntou-lhe: "como ele poderia se 
lembrar de tantas coisas, e com tamanha precisão, e Veblen respondeu que ele 
possuía em sua mente uma visão geral do ser humano, na qual cada fato, além de 
se encaixar perfeitamente, passa também a fazer parte deste “esquema 
geral”. (Dorfman, 1934, p. 248) 
 
O que o parágrafo acima informa e sugere, e que será objeto deste Ensaio, é que 
Veblen possuía, em sua privilegiada mente, uma espécie de ponto arquimediano 
(teórico), e que, confessadamente, fez uso deste ´esquema geral´ em toda a sua 
imensa e significativa obra. De acordo com registros biográficos, é possível que 
este “esquema” tenha sido transmitido ou semeado na mente de Veblen, a partir 
das constantes conversas que empreendeu, quando jovem, com seu pai (Thomas 
Anderson Veblen). 
 
Thorstein comentou com Henry Waldgrave Stuart, um de seus alunos na Universidade de 
Chicago, que as idéias básicas de ´A Teoria da Classe Ociosa´ vieram dos tempos de sua 
infância, de suas frequentes conversas com seu pai, que era um profundo pensador. 
(Jorgensen 1999, 10) 
 
Este ponto arquimediano de Veblen, uma espécie de código genético de sua obra, 
ou seja, um princípio presente em todas as células de sua obra, permitia-lhe 
cobrir, com extrema coerência, um arco impressionante de situações, objetos, 
processos e comportamentos. 
 
Neste sentido, Max Lerner, entre outros, em 1948, ao comentar sobre a vida e a 
obra de Veblen, percebeu a ´facilidade´ com que Veblen cobria um conjunto 
imenso de fenômenos, desde os mais simples aos mais complexos; e percebeu, 
igualmente, a ´estabilidade´ teórica de Veblen. Aliás, esta é uma das 
características distintivas da obra de Veblen, ou seja, desde os primeiros escritos 
em economia e sociologia (1892), até os últimos artigos (1925-27), a obra de 
Veblen é de uma coerência e regularidade não muito comum no campo da teoria 
social 
 
… O que tanto contribuiu para a formação de uma espécie de lenda em torno de 
Veblen? Havia a sua imensa erudição, o seu domínio de inúmeras línguas [registros 
biográficos e pessoais informam que Veblen dominava c. 26 linguas – MC], os seus 
profundos conhecimentos das sagas islandesas (e nórdicas em geral), seus amplos 
conhecimentos de literatura, arqueologia, e história racial – bem como de artefatos 
diversos ou mensurações de crâneos; havia a sua incrível precisão e habilidade em 
discorrer, por um lado, sobre pequeníssimos detalhes de várias culturas, e por outro 
lado, sobre grandes abstrações; a facilidade com que movia-se na História, desde os 
tempos Neolíticos até os últimos relatórios industriais de Comitês do Congresso 
Americano. Veblen era, como já se disse. “o último homem a saber de tudo” … 
… 
 4
É certo, porém, que Veblen deparou-se com uma falange de opositores ... Veblen 
tornou-se um pensador solitário, escrevendo em um meio profundamente hostil. Tão 
agudamente sentiu Veblen a necessidade de construir um aríete para derrubar os 
muros de sua oposição, que ele tornou-se, cada vez mais, repetitivo e ´longinquo´, e 
tentava, a todo momento, expor ´tudo´ de uma só vez. (Lerner, 1958 [1948], 8 e 31) 
 
Em função de sua memória prodigiosa; da facilidade com que dominava inúmeras 
línguas; da rapidez com que resolvia operações matemáticas ´de cabeça´, e do 
uso sinedóquico freqüente que fazia das palavras (mesclando significados e 
conotações ao mesmo tempo), Veblen possuia um evidente traço de genialidade; 
reconhecido até por seus opositores. Tais características mentais especiais devem 
ter sido herdadas, com muita probabilidade, de sua mãe, Kari Thorsteinsdatter 
Bunde Veblen, que possuia, reconhecidamente, uma memória e uma velocidade 
de raciocínio fora do comum. 
 
Este Ensaio busca demonstrar o ´esquema geral´ que Veblen possuía em sua 
mente, esquema este que lhe permitia cobrir um arco tão amplo de temas, fatos, e 
fenômenos; ou seja, como indicou Lerner, “a facilidade com que movia-se na 
História, desde os tempos Neolíticos até os últimos relatórios industriais de 
Comitês do Congresso Americano.” E poderíamos completar: a facilidade e a 
segurança com que Veblen projetava e explicava o comportamento de toda uma 
civilização, a partir da ´simples´ análise da composição e forma de uma colher; de 
um animal; de uma cor; ou de uma peça de vestuário. 
 
 
 
 Casa da Fazenda da FamíliaVeblen Bolsa de Valores de N.Yorque 1873 
 (hoje restaurada);Nerstrand; Minnesota 
 
 
 
 
----xxx---- 
 
 
 
 
 
 
 
 5
Primeira Parte 
 
Compreendendo a Estática do ´esquema geral´ de Veblen 
em Culturas Pecuniárias 
 
A Norma do Desperdício Conspícuo e a Reputação Pecuniária 
 
 
 
O Modelo da Colher de Prata Cinzelada a Mão 
 
 
Fins Ostensivos (mecânicos); e Fins Aproximados (pecuniários) – Apesar do 
imenso e variado conjunto de temas que Veblen abordou em suas reflexões, toda 
a sua obra é uma busca sistemática de explicação da cultura pecuniária e da 
economia de nossa época; e baseia-se em uma particular e sofisticada utilização 
da dicotomia da moderna teoria social, entre categorias objetivas da função(a 
função manifesta (proposital), primordial, ostensiva, objetiva e mecânica das 
coisas (A.1), e categorias subjetivas da motivação (a motivação latente, colateral, 
secundária, cerimonial e aproximada das coisas (B.1). 
 
A introdução do conceito de ´função latente´ no campo da pesquisa social, leva-nos a 
conclusão de que a vida social não é tão simples como parece à primeira vista ... 
 
O paradoxo de Veblen é que as pessoas compram bens dispendiosos e caros não 
porque são superiores ou melhores, mas porque são ´caros´ ... pois é a equação 
latente (alto preço = marca de elevado status social) que ele reitera em sua análise 
funcional, mais do que a equação manifesta (alto preço = excelência do produto) 
(Merton 1968, 123-124) 
 
 
Culturas Pecuniárias – Em linguagem sociológica, e de acordo com a particular 
concepção de ´motivação latente´ de Veblen, culturas pecuniárias são aquelas 
configurações institucionais, sociais, e econômicas-materiais onde prevalecem as 
motivações latentes, cerimoniais e secundárias das coisas (proximate ends), 
sobre as funções manifestas, objetivas e primordiais das mesmas (ostensible 
ends). Nesta interpretação, as motivações latentes encontram-se deformadas por 
 6
uma norma do desperdício conspícuo, decorrente da emulação predatória entre os 
indivíduos. 
 
Veblen realça que a motivação latente principal dos comportamentos das culturas 
pecuniárias é o ganho extra (ou a manutenção) de reputação e do ´bom nome´ 
que um indivíduo obtém, por exemplo, pelo uso e a exposição conspícua de 
objetos (tidos como seu) que contenham doses significativas de elementos 
prestigiados na comunidade; isto é, no caso, objetos que contenham um forte 
conjunto quantitativo de desperdício material, pois este ´desperdício´ indica e é 
prova da habilidade e da capacidade do usuário em gastar ou pagar (visando 
superar seus competidores). 
 
O imediato e óbvio índice de força pecuniária é a habilidade visível para gastar, para 
consumir improdutivamente; e os homens muito cedo aprenderam a por em evidência 
suas habilidades para gastar através da demonstração e exposição de bens ´caros´ 
que não proporcionam qualquer retorno para seus possuidores, seja em conforto, ou 
em ganhos (objetivos). ... 
 
Não é que os usuários ou os compradores destes bens ´caros ´ e fúteis desejem o 
desperdício. Eles desejam manifestar suas habilidades para pagar. O que é visado 
não é o desperdício ´de facto´, mas a aparência do desperdício. (Veblen 1998 [1894], 
68 -70; Ed. S.Bowman). 
 
Do ponto de vista econômico stricto sensu, culturas pecuniárias são aquelas onde 
a motivação aquisitiva e comercial (pecuniária), e a utilidade subjetiva das coisas 
para finalidades individuais de emulação, prevalecem sobre o elemento produtivo 
e industrial, e sobre a serventia objetiva, funcional e geral das coisas. Em outras 
palavras, são culturas onde as finanças (business), o ´valor comercial´ da 
entidade, e a propriedade comercial e industrial, prevalecem sobre a produção de 
serventia (industry), sobre o ´valor funcional´, e sobre a propriedade dos itens 
tangíveis e corporais. Em última instância, onde a rentabilidade comercial das 
corporações, ou das companhias, (business enterprises) prevalecem sobre a 
lucratividade industrial do empreendimento. 
 
Culturas Pecuniárias e as Classes Dominantes - A deflexão, a deformação, e a 
perversão dos fins ostensivos das coisas e da plenitude da vida, que configuram 
as culturas pecuniárias, são estimuladas, disseminadas, e mantidas por uma 
classe ociosa dominante (aquisitiva e mercantil), que, por basear-se na instituição 
da propriedade privada, e na acumulação e exposição conspícua de riquezas 
(para demonstrar capacidade pecuniária, isto é, habilidade de pagar), impõe seus 
hábitos, seus valores, e seus comportamentos para todas as demais classes 
sociais da comunidade. 
 
A base sobre a qual a boa reputação em qualquer comunidade industrial altamente 
organizada repousa, em última instância, é a força pecuniária; e os meios de 
demonstrar força pecuniária, e mercê disso, obter ou conservar o bom nome, são o 
ócio conspícuo e um consumo conspícuo de bens. 
 
 7
Nas modernas comunidades civilizadas, as linhas de demarcação entre as classes 
sociais se tornaram vagas e transitórias, e, onde quer que isso ocorra, a norma da 
boa reputação imposta pela classe superior estende a sua influência coercitiva, com 
ligeiros entraves, por toda a estrutura social, até atingir as camadas mais baixas. O 
resultado é os membros de cada camada aceitarem como ideal de decência o 
esquema de vida em voga na camada mais alta logo acima dela, ou dirigirem as suas 
energias a fim de viverem segundo aquele ideal. ... 
 
Nenhuma classe social, nem mesmo a mais abjetamente pobre, abre mão da 
totalidade do consumo conspícuo costumeiro. (Veblen 1957 [1899], 70) 
 
 
 
 
 
 
 
 “Os ricos são diferentes de nós.” (F.Fitzgerald Scott); ... “É verdade, ... eles têm mais 
dinheiro.” (Ernst Hemingway) (in Diggins 1978, vii) 
 
 
Assim, a classe ociosa dominante impõe, no plano visível do consumo de bens e 
produtos, um padrão pecuniário de reputação e decência, i.e., um padrão calcado 
no que Veblen designou por ´norma do desperdício conspícuo´. 
 
Para o homem ocioso, o consumo conspícuo de bens valiosos é um instrumento de 
respeitabilidade. ... 
 
Por ser o consumo dos bens de maior excelência prova da riqueza, ele se torna 
honorífico; e reciprocamente, a incapacidade de consumir na devida quantidade e 
qualidade se torna uma marca de inferioridade e de demérito. (Veblen 1957 [1899], 
64) 
 
Do anterior exame acerca do crescimento do ócio e do consumo conspícuos, parece 
que a utilidade de ambos, para fins de boa reputação, repousa no elemento de 
desperdício, a ambos comum. Num caso, o desperdício é de tempo e esforço; no 
outro, de bens. Ambos são métodos de demonstrar a posse da riqueza, ..(Veblen 
1957 [1899], 71) 
 
 8
 
... Para ser reputável é necessário ser desperdiçador (perdulário). Nenhum mérito se 
lhe acrescentaria mediante o consumo das simples coisas necessárias à vida, ... 
…(Veblen 1957 [1899], 77) 
 
 
Logo, se designarmos cap^ por ´valor comercial´, o 
 
cap^ de um indivíduo = f (quantidade de bens valiosos que porta, carrega, 
comanda ou possui; e não a quantidade ou a qualidade dos serviços prestados 
pelos mesmos itens que porta, carrega ou possui) 
 
E é interessante observar que esta norma pecuniária de reputação e decência 
(´Para ser reputável é necessário ser desperdiçador (perdulário)´), por ser um 
hábito de pensamento (generalizado), i.e., uma instituição, infecciona e contamina 
todas as demais opiniões, pontos de vista, e instituições da comunidade; inclusive 
as concepções do gosto (do feio e do belo), do simpático e do antipático, do certo 
e do errado. 
 
Veblen demonstrou em sua obra, exaustivamente, a contaminação e os efeitos da 
decência pecuniária sobre as demais instituições e configurações materiais; em 
especial, dedicou atenção à influência e à contaminação desta norma do 
desperdício conspícuo sobre o gosto e a beleza, deixando-nos, neste aspecto, 
como legado, uma teoria estética das mais criativas, e inconfundível. 
 
... Achamos belas as coisas, assim como úteis, proporcionalmente a seu preço caro. . 
(Veblen 1957 [1899], 119-120) 
 
O capítulo VI (Pecuniary Canons of Taste) de The Theory of the Leisure Class 
(1899) contém uma das passagens mais paradigmáticas acerca da maestria com 
que Veblen explicava fenômenos sociais, econômicos, e estéticos, de grande 
complexidade, através de objetos relativamente ´simples´ e desprovidos de 
energia explicativa. 
 
… As exigências da decência pecuniária [e reputação] influenciaram, ... o sentido 
[popular] da beleza e da utilidade dos artigos de uso ou de beleza. [Os bens]... são 
vistos como prestativos ou de serventia quase na mesma proporção em que 
contenham grandes quantidades de desperdício e sejam mal adaptados a seus usos 
ostensivos ... 
 
A utilidade dos artigos valorizados pela sua beleza depende estreitamente da sua 
dispendiosidade. Uma ilustração comum bastará para mostrar essa dependência. 
Uma colher de prata cinzelada a mão, de valor comercial de uns dez ou vinte dólares, 
não é ordinariamente mais útil – no primeiro sentido da palavra (...) do que uma colher 
de um material mais básico (ou vil), como o alumínio, feita a máquina, cujo valor não 
passa de dez ou doze centavos. O primeiro dos dois utensílios é com efeito um objeto 
comumente menos efetivo do que o último para o seu fim ostensivo. ... vendo a 
matéria por esse prisma, ... um dos usos principais, senão o principal, da colher mais 
cara não é levado em consideração; a colher cinzelada a mão lisonjeia-nos o gosto e 
 9
o sentido da beleza, ao passo que aquela feita a máquina e em vil metal, não tem 
outro ofício além de uma bruta eficiência ... 
 
... A satisfação superior que deriva do uso e da contemplação de produtos caros e 
considerados belos é, comumente ... uma satisfação do nosso sentido do seu preço 
elevado que se mascara sob o nome de ´beleza´. ... O requisito do desperdício 
conspícuo não está em geral presente, conscientemente, em nossas regras de gosto, 
mas encontra-se ... presente como uma norma a constranger seletivamente ... o 
nosso senso do que deve ser legitimamente aprovado como belo e o que não deve. ... 
 
É neste ponto, onde o belo e o honorífico se mesclam e se confundem, que a 
discriminação entre o que seja de serventia e o que seja perdulário é mais difícil em 
qualquer caso concreto. (Veblen 1957 [1899], 94, 95, 96) 
 
 
Portanto, e conforme veremos com mais detalhes adiante, todos os produtos e 
objetos, nas culturas pecuniárias, possuem uma configuração simbólica 
semelhante à exposta no Diagrama 1 (abaixo): o conjunto de elementos de 
serventia e funcionalidade (A Æ a) encontra-se encoberto e subordinado pelo 
conjunto (significativo, dominante e expansivo) de elementos de desperdício 
conspícuo (Bp Æ b); e quanto mais itens preciosos no objeto, maior reputação, 
maior valor comercial, e maior beleza institucional. 
 
 
 
 Arts and Crafts 
 
 
 
A “Contenção Consciente da Eficiência” da economia por parte dos Homens 
de Negócio (the conscientious withholding of efficiency) - Além da 
institucionalização de um padrão de reputação pecuniária, isto é, deformado e 
desviado dos fins ostensivos e funcionais das coisas e da vida, as classes 
dominantes, complementar e derivadamente, sabotam, de forma sistemática, a 
eficiência industrial e tecnológica do sistema. Assim, a eficiência industrial, nestas 
culturas, na medida em que situa-se subordinada (overlaid) aos interesses 
financeiros e da emulação pecuniária, apresenta-se, sempre, como uma 
´eficiência interrompida, deformada, ou bizarra´. 
 
 10
Apesar do significativo crescimento industrial, tecnológico e econômico dos 
Estados Unidos, entre c. 1860 e 1920, Veblen foi um dos poucos (importantes) 
intelectuais, principalmente no campo da sociologia e da teoria social, a perceber 
esta “conscientious withholding of efficiency” (sabotagem) da economia por parte 
dos Homens de Negócio (the captain of finance), e da classe ociosa como um 
todo. 
 
Com a singular exceção de Veblen, os mais relevantes e contemporâneos intelectuais 
que desenvolveram a Sociologia norte americana [William Sumner, Charles Cooley, 
Lester Ward, Edward Ross, George Mead, et. al.].... tendiam mais a celebrar do que 
criticar o progresso do capitalismo americano. (Edgell 2001, 7) … 
 
Veblen argumentava que (o capitalismo moderno) era um sisterma inerentemente 
desperdiçador e perdulário (na medida em que “em nenhum momento esteve livre dos 
desarranjos e das crises instigados e perpetrados pelos Homens de Negócio), e que 
buscava como fim último um aumento da propriedade, e não a serventia industrial; e 
que o seu era exatamente o oposto da sociedade corrente.” [Veblen 1904, Edgell 
2001, 8, 9) 
 
Para Veblen, o capitalismo era um sistema social cujo objetivo era “legalizar o 
confisco”; ... “tendo confiscado para seus interesses privados os recursos naturais, os 
´proprietários ausentes´ tramam e conspiram para decidir ´o que o mercado suporta´ 
em termos de preços de venda, para seus benefícios, às custas dos produtores e dos 
consumidores.” ... (mas) “o domínio absoluto da empresa de negócios é 
necessariamente um domínio transitório, na medida em que ela é incompatível com o 
desenvolvimento ótimo e pleno das artes industriais sobre o qual a sobrevivência da 
comunidade depende, em última instância.” (Veblen 1904, 400) 
 
“Este é um tema e um ponto que Veblen jamais perdeu de vista em toda a sua vida.” 
(Edgell 2001, 9). 
 
 
Sobre esta “conscientious withholding of efficiency” da economia por parte dos 
Homens de Negócio, e da classe ociosa como um todo, em 1944, R.L. Duffus, que 
viveu durante um período com Veblen em Cedro Cottage – Califórnia -, registrou 
uma das mais interessantes e sugestivas passagens de Veblen: 
 
 
Veblen contava uma história conhecida … de um fazendeiro que tinha um buraco com 
muita lama em frente à casa. Durante muito tempo ele, com pena dos viajantes que 
atolavam freqüentemente neste buraco, usava seu gado para retirá-los. De tanto 
praticar esta ´ajuda´, o fazendeiro começou a achar justo a cobrança de uma pequena 
taxa, por seus ´serviços ´, i.e., para retirar os atolados do buraco. Não demorou muito 
para ele abandonar seu trabalho de fazendeiro e especializar-se em retirar os 
atolados do buraco. Logo veio uma estação de seca, e o buraco (enlameado) secou, 
levando suas receitas para baixo. Após refletir sobre esta nova situação, ele bolou um 
plano: ao escurecer, ele buscava água em riachos próximos, e enlameava o buraco 
novamente, mantendo, assim, o ´buraco´ em condições ´comerciais ativas´ de 
continuar gerando renda. 
 
 11
Veblen estava convencido de que grande parte dos ´negócios modernos´ era, muito 
simplesmente, manter ´buracos enlameados´ com a finalidade de cobrar dos demais 
para retirá-los dos mesmos. 
 
Este era, sem dúvida, o tema central do seu segundo livro The Theory of Business 
Enterprise (1904). Os gangsteres e mafiosos de Chicago e de outras cidades, que 
geravam “proteção” para “vendê-la” aos demais, teriam fornecido a Veblen outra boa 
ilustração dos negócios modernos. (Duffus 1944, 64) 
 
 
---XXX--- 
 
 
 
 
 12
 
Segunda Parte 
 
Compreendendo a Dinâmica do ´esquema geral´ de Veblen 
O Ponto de Vista Evolucionário 
 
 
 
 
 
Os Três Planos Teóricos de Veblen - Dissemos acima que a obra de Veblen é 
uma sofisticação da dicotomia entre categorias objetivas da função, e categorias 
subjetivas da motivação, porque, de fato, o ´esquema geral´ de Veblen é bem 
mais complexo e profundo. Somente no terceiro Plano de compreensão deste 
esquema (o Plano material, concreto, ou formal), isto é, o mais direto, conforme 
veremos a seguir, é que a dicotomia “Função Manifesta versus Motivação Latente” 
encontra-se em evidência. 
 
O sofisticado esquema teórico de Veblen constrói-se, em minha compreensão, 
sobre 3 (três) Planos de complexidades. 
 
Primeiro Plano – Plano primordial, ´energético´, espiritual - psicológico. Trata-se 
da complexidade de 1ª. ordem, decorrente do ´ponto de vista´ evolucionário, 
espiritual e psicológico original; 
 
Segundo Plano – Plano intermediário, peri-energético. Trata-se da complexidade 
de 2ª. Ordem (intermediária), que vincula o primeiro Plano (primordial), ao terceiro 
(material, concreto, formal). Este segundo Plano – o do comportamento, do 
pensamento, e das emoções, significa, conceitualmente,o adensamento e a 
condensação (inclusive a ´manifestação´) das múltiplas forças do 1º. Plano 
(primordial). As forças do 1º. Plano congregam-se, agora, em uma síntese de 2 
vetores chaves (A e Bp) (não únicos, mas chaves para a compreensão de 
qualquer quadro sócio-econômico), vetores estes que irão moldar, então, em 
última instância, todas as expressões, objetos, e manifestações da cultura. 
 
Compreender o ponto arquimediano de Veblen significa, basicamente, 
compreender as origens e as conseqüências advindas deste segundo Plano. (E é 
por esta razão que muitos autores especialistas na obra de Veblen identificam 
´inúmeras´ dicotomias – ou, melhor, ´dois´ conjuntos de forças divergentes – ao 
 13
longo de toda a sua obra, e.g., ´industry´ versus ´business´; ´the engineers and the 
price system´; ´industrial and pecuniary employments´; ´the vested interest and the 
common man´; ´aspecto ostensivo (objetivo ou mecânico) das coisas, versus 
aspectos cerimoniais (ostentatórios, subjetivos, ou imputados) das mesmas; etc., 
(É da maior relavância, entretanto, compreender que estas inúmeras dicotomias 
constantes da obra e do ´esquema´ de Veblen precisam ser ´vistas´ de forma 
sinedóquica, e não taxonômica). 
 
Terceiro Plano – Plano material-corporal, concreto, formal - dos objetos, produtos, 
expressões, e manifestações concretas perceptíveis, inclusive as organizações. 
Trata-se da complexidade de 3ª. ordem (maior solidez). Este terceiro Plano pode 
ser compreendido como o patamar final de concretização da dicotomia das forças 
do segundo Plano. 
 
 
O Diagrama 2 abaixo representa, simbolicamente, estes 3 Planos ou Etapas 
 
 DIAGRAMA 2 
 
 
Primeiro Plano – primordial, espiritual, psicológico 
 
Para Veblen existem, inicialmente, três condições incontornáveis, irrevogáveis 
inevitáveis e primordiais, da condição e/ou natureza humana: 
 
.(i) primeira condição irrevogável: o Homem é uma espécie ativa, dotada de 
hábitos e propensões, e inteligente. 
 
For mankind (as for other higher animals), the life of species is conditioned by the 
complement of instinctive proclivities and tropismatic aptitudes with which the species 
is typically endowed … These are the prime movers in human behaviour, as in the 
bahaviour of all those animals that show self-direction or discretion. (Veblen 1914, 1) 
 
…The physiological apparatus engaged in the functioning of any given instinct enters 
in part, though in varying measure, into the working of some or any other instinct. 
(Veblen 1914, 12) 
 
 14
Like other animals, man is an agent that acts in response to stimuli afforded by the 
environment in which he lives. Like other species, he is a creature of habit and 
propensity. But in a higher degree than other species, man mentally digests the 
content of the habits under whose guidance he acts, and appreciates the trend of 
these habits and propensities. He is in an eminent sense an intelligent agent. (Veblen 
1934 [1898], 80) 
 
Neste ensaio, esta múltipla condição irrevogável será designada pela letra W. (ver 
Diagrama 3, página 19 adiante) 
 
.(ii) a segunda condição irrevogável é a propensão humana à eficiência bruta, 
objetiva e ostensiva (trabalho efetivo), que Veblen irá designar por Instinct of 
Workmanship, e que, neste ensaio, será designado por (A), ou, alternativamente, 
por IW; (instinto de trabalho eficaz) 
 
Por necessidade seletiva a espécie humana encontra-se dotada com uma propensão 
para agir com propósito. Em outras palavras, o Homem é possuidor de um senso 
discriminatório de finalidade, razão pela qual toda a futilidade da vida, ou de suas 
ações, lhe causa um desgosto. Este é um traço genérico e ubíquo da natureza 
humana. ... 
 
As pessoas esperam que os seus vizinhos desenvolvam suas vidas para algum 
propósito, e gostam de pensar que suas próprias vidas possuem alguma serventia. 
Todo indivíduo possui este senso quase estético de mérito econômico ou industrial, e 
desta forma o que ele identifica como futilidade econômica ou ineficiência lhe é 
desagradável. Em sua expressão positiva trata-se de um impulso ou de um instinto 
para o artesanato; e, negativamente, pode ser interpretado como a expressão de um 
desgosto ou repugnância por todo trabalho mal feito, e pelo desperdício. O senso 
comum compartilhado por quase todo ser humano de mérito e demérito no que se 
refere à bem sucedida provisão material da vida humana, ou ao impedimento da 
mesma, sanciona e aprova o ato economicamente eficiente e reprova a futilidade 
econômica. É desnecessário demonstrar de forma mais detalhada quão próxima é a 
relação entre esta norma de mérito econômico e a norma de conduta ética, por um 
lado, e a norma de gosto estético, por outro. … (Veblen 1934 [1898], 80, 81-82) 
 
... the generality of instinctive dispositions prompt simply to the direct and 
unambiguous attainment of their specific ends, … (the agent goes as direct as may be 
to the end sought) …; whereas under the impulse of workmanship the agent´s interest 
and endevour are taken up with the contriving of ways and means to the end sought. 
 
… The instinct of workmanship … occupies the interest with practical expedients, 
ways and means, devices, creative work and technological mastery of facts. … [it] 
brought the life of mankind from the brute to the human plane, and in all the latter 
grouth of culture it has never ceased to pervade the works of man. (Veblen 1937 
[1914], 32, 33) (ver anexo ´Notas Técnicas acerca do Conceito de Instinct of 
Workmanship em Veblen´, Revista OIKOS, Ano VI, n.8, 2007) 
 
.(iii) a terceira condição incontornável – e que será aqui designada por ´P´ é a 
condição de sociabilidade humana, e o corolário ´habit of complacency´. O 
Homem é um animal social, tribal-comunitário, pacífico em sua essência, e frágil. 
 15
 
 
Como outras espécies, o (Homem … age) guiado por propensões que lhe foram 
impostas pelo processo de seleção ao qual deve a espécie humana sua diferenciação 
de outras espécies. O homem é um animal social; e o processo seletivo pelo qual o 
homem adquiriu este aspecto espiritual de animal social foi responsável também por 
tornar o homem um animal substancialmente pacífico. É possível que se observem 
hoje na espécie humana um afastamento significativo desta ancestral tendência 
pacífica, mas mesmo atualmente os traços de uma tendência pacífica nos hábitos 
diuturnos de pensamento e sentimento são claros suficientemente ... A julgar pela sua 
estrutura desarmada e frágil ... é justo classificar a espécie humana juntamente com 
aqueles animais que devem sua sobrevivência à aptidão de evitar conflitos e embates 
diretos com seus competidores, ...”O Homem é a mais fraca e indefesa das criaturas 
vivas”, ... Sem ferramentas, o Homem é um animal completamente inofensivo, como 
são os outros animais ... Até que tivesse criado ferramentas – ou seja, durante a 
maior parte de sua história evolutiva - o homem não pôde desempenhar o papel de 
agente de destruição ... Por força das circunstâncias,.. a disposição humana era 
principalmente pacífica e recolhida... Os hábitos da vida humana eram ainda 
predominantemente de caráter pacífico e industrial, não hábitos conflitivos e 
destrutivos. ... A atividade industrial há de se ter desenvolvido bem antes de ser 
possível para um grupo de homens viver às custas de outro; e durante a prolongada 
evolução da indústria antes deste ponto, era o objetivo de eficiência industrial que 
consistentemente guiava os esforços dos seres humanos, por natureza seres 
cooperativos e sociais, tanto por imposição de suas características físicas e mentais, 
quanto por suas inclinações espirituais. ... 
 
Efeito do processo seletivo e de condicionamento, o homem arcaico era 
necessariamente membro de um grupo, e durante este estágio inicial, quando a 
eficiência industrial não era ainda considerável, grupo nenhumpoderia ter sobrevivido 
a não ser com base num senso de solidariedade forte o bastante para que atitudes 
individualistas (self-interest) ficassem em segundo plano. (Veblen 1934 [1898], 85-87) 
 
Esta terceira condição incontornável, do Homem ser um animal social comunitário 
´P´, mormente a característica de imitação-repetição que irá orientá-lo no 
processo de integração social (ver adiante), possui conseqüências 
importantíssimas para a compreensão deste 1º. Plano do esquema teórico de 
Veblen, e da deformação que o instinct of workmanship (A) irá sofrer (bem como 
de toda a cultura), a partir de uma deformação e desvio no processo de emulação: 
de uma emulação funcional-ostensiva (natural) (Bf), para uma emulação invejosa, 
egoística, pecuniária (Bp). 
 
Quatro características especiais da psicologia individual, mutuamente 
interferentes, atuam nesta condição incontornável de sociabilidade humana, e que 
possuem influência na teoria de Veblen: 
 
.(i) a busca do indivíduo por aceitação no grupo, i.e., a busca de aceitação pelo 
´outro´; e como corolário, o sentimento de conforto que a estima obtida por esta 
aceitação fornece ao indivíduo; 
 
 16
.(ii) a condição de criticar e ser criticado/censurado, tendo como referência os 
hábitos implantados (as instituições) e/ou um eixo considerado de eficiência ou 
normalidade de como fazer as coisas, existente na comunidade. Esta condição 
cristaliza uma espécie de vigilância conservadora dos indivíduos sobre os hábitos 
existentes; uma espécie de neofobia; (fobia pelo novo) 
 
.(iii) a dedicação e a cooperação que o indivíduo oferece ao grupo, que Veblen, 
possivelmente reproduzindo as lições de McDougall, irá designar por ´parental 
bent´. Para Veblen, the parental bent é uma força tão poderosa quanto o instinct 
of workmanship. 
 
Chief among those instinctive disposition that conduce directly to the material well-
being of the race, and therefore to its biological success, is perhaps the instinctive bias 
here spopken of as the sense of workmanship. The only other instinctive factor of 
human nature that could with any likelihood dispute this primacy would be the parental 
bent. Indeed, the two have much in common … Doubtless this parental bent … greatly 
reinforces that sentimental approval of economy and efficiency for the common good 
and disapproval of wasteful and useless living that prevails so generally. (Veblen 1937 
[1914], 25) 
 
.(iv) a permanente atividade de imitação do ´outro´, e a correspondente 
comparação natural entre os indivíduos dos padrões de eficiência e de 
normalidade institucional como um todo. 
 
Esta quarta característica acima, ou seja, a imitação de padrões, a repetição, e a 
comparação habitual, sistemática, entre os indivíduos em todos os aspectos, e 
principalmente, do ponto de vista econômico, a comparação of one person with 
another in point of efficiency, é absolutamente importante para compreendermos a 
complexidade e a dinâmica do esquema teórico de Veblen. Senão vejamos. 
 
O instinct of workmanship atua ubiqua e permanentemente em todos os indivíduos 
e independente do quadro institucional. No processo dinâmico de imitação, o que 
é equivalente a dizer repetição (pois imitação é repetição ou reprodução dos atos 
ou processos a serem imitados), a ação do instinct of workmanship (A) sobre cada 
´movimento´, isto é, sobre o instante da imitação-repetição, gera um sentimento e 
um comportamento que se designa propriamente por emulação (B) (sentimento 
´competitivo´ que nos incita a igualar ou superar outrem, ou o objetivo desejado). 
 
Esta emulação (B) – sentimento natural e inevitável, [em função da fórmula 
irrevogável da atuação do instinct of workmanship sobre a imitação-repetição (IW 
+ Imitação)] – poderá manifestar-se, entretanto, de duas formas: 
 
(i) Poderá ser uma emulação funcional ou impessoal (Bf), isto é, uma emulação 
que busca o aperfeiçoamento sucessivo do objeto ou do processo a ser 
melhorado, de forma objetiva, impessoal, opaca, sem intenções invejosas ou 
egoísticas. (De fato, é através deste tipo de emulação (emulação funcional – Bf), 
 17
de uma certa forma saudável e desejável, que ocorre o progresso espiritual e 
material, sem distorções, da humanidade. 
 
.(ii) Mas a emulação (B), principalmente no que tange às comparações em 
eficiência das questões materiais e econômicas, i.e., ´in point of efficiency´, 
dependendo das circunstâncias, pode derivar para uma emulação inter-subjetiva, 
hostil e invejosa (Bp) , i.e., uma competição hostil ininterrupta entre os indivíduos, 
e não propriamente focada no objetivo ostensivo (objeto da comparação), 
emulação esta que Veblen irá designar por ´emulação pecuniária´. 
 
Under the canon of conduct imposed by the instinct of workmanship, … [Man] 
contemplates his own conduct and that of his neighbors, and passes a judgment of 
complacency or of dispraise. The degree of effectiveness with which he lives up to the 
accepted standard of efficiency in great measure determines his contentment with 
himself and his situation. A wide or persistent discrepancy in this respect is a source of 
abounding spiritual discomfort. … 
 
Under the guidance of this taste for good work, men are compared with one another 
and with the accepted ideals of efficiency, and are rated and graded by the common 
sense of their fellows according to a conventional scheme of merit and demerit. The 
imputation of efficiency necessarily proceeds on evidence of efficiency. The visible 
achievement of one man is, therefore, compared with that of another, and the award of 
esteem comes habitually to rest on an invidious comparison of persons instead of on 
the immediate bearing of the given line of conduct upon the approved end of action. 
The ground of esteem in this way shifts from a direct appreciation of the expediency of 
conduct to a comparison of the abilities of different agents. Instead of a valuation of 
serviceability, there is a gauging of capability on the ground of visible success. 
And what comes to be compared in an invidious comparison of this kind between 
agents is the force which the agent is able to put forth, rather than the serviceability of 
the agent's conduct. So soon, therefore, and in so far, as the esteem awarded to 
serviceability passes into an invidious esteem of one agent as compared with another, 
the end sought in action will tend to change from naive expediency to the 
manifestation of capacity or force. It becomes the proximate end of effort to put forth 
evidence of power, rather than to achieve an impersonal end for its own sake, simply 
as an item of human use. So that, while in its more immediate expression the norm of 
economic taste stands out as an impulse to workmanship or a taste for serviceability 
and a distaste for futility, under given circumstances of associated life it comes in 
some degree to take on the character of an emulative demonstration of force. (Veblen 
1934 [1898], 89, 91) 
 
A emulação sexual natural da espécie humana, como de muitas outras, pode 
contribuir colateralmente para a emulação pecuniária aqui em apreço. 
 
… Still, there was some emulation between individuals, even in the most indigent and 
most peaceable groups. … it seems probable that the proclivity to emulation must 
have been present also in the earlier days in sufficient force to assert itself to the 
extent to which the exigencies of the earlier life of the group would permit. But this 
emulation could not run in the direction of an individual, acquisition or accumulation of 
goods, or of a life consistently given to raids and tumults. It would be emulation such 
 18
as is found among the peaceable gregarious animals generally; that is to say, it was 
primarily and chiefly sexual emulation … (Veblen 1934 [1898], 89) 
 
Esta emulação pecuniária (competição entre os indivíduos, cuja réguada vitória é 
a quantidade de força dispendida, e não a qualidade ou o valor funcional para a 
plenitude da vida alcançada e/ou aumentada), deflexiona, deforma, diverte, e 
perverte os fins últimos da vida; e obstaculiza, encobre, subjuga e deforma, 
igualmente, o instinct of workmanship. Nestas condições, o instinct of 
workmanship (que jamais deixa de atuar) manifesta-se como um instinct of 
sportsmanship (IS) ou ´salesmanship´, uma espécie de bizarro do instinct of 
workmanship. Veblen observa, adicionalmente, em um genial desenvolvimento do 
raciocínio acima, que, como o instinct of workmanship atua permanente e 
irrevogavelmente, sempre haverá de manifestar-se um simulacro de 
funcionalidade e eficiência nas coisas e nos quadros culturais e econômicos 
pecuniários. Mesmo nas culturas mais predadoras!. 
 
DIAGRAM 3 
 
 
Do exposto acima, surge uma conclusão de enormes conseqüências para a 
análise econômica e a dinâmica das culturas pecuniárias: os quadros deformados 
e bizarros destas culturas, incorporadores de significativos desperdícios e 
futilidades (para a emulação e a competição individual) incomodam 
psicologicamente os indivíduos, dada a repugnância inata que o desperdício 
provoca diante da atuação ubiqua do instinct of workmanship. Ocorrem então 
mudanças paradoxais ininterruptas: tanto para aumentar o desperdício, i.e., para 
elevar a competição entre os indivíduos, como para diminuí-lo, em função da 
repugnância essencial que o desperdício e a futilidade provocam. Em outras 
palavras, o instinct of workmanship atua ubiquamente tentando colocar os objetos 
e os processos grotescos e anti-econômicos em um eixo de eficiência; mas, 
como os valores competitivos e emulativos permanecem e predominam, novos ou 
 19
persistentes elementos de desperdício e futilidades incorporam-se aos novos 
objetos e processos, e assim sucessivamente. (ver Figura 7, página 27) 
 
E o instinct of workmanship deformado, atuando sobre o próprio desperdício, i.e., 
dando eficiência (deformada – quantitativa) à própria competição, tende a elevar 
mais ainda o desperdício e, paradoxalmente, a nossa própria repugnância 
(consciente ou inconsciente) pelo objeto ´inovado´, numa sucessão de quadros 
grotescos e de ineficiências econômicas (inclusive estéticas) que jamais são 
interrompidos. 
 
O instinct of workmanship pode ser igualmente obstaculizado ou deflexionado em 
função de um fenômeno bastante curioso de auto-contaminação da nossa 
constituição psicológica (quiçá fisiológica): o ´hábito´, inato à natureza humana, 
força a repetição, sem variação, dos atos, processos e comportamentos 
institucionalizados, pois ´fazemos melhor o que fazemos habitualmente´. E esta 
eficiência que o hábito propicia atende, portanto aos requisitos (igualmente inatos) 
do próprio instinct of workmanship. Assim, a repetição não inovadora (habitual), 
i.e., obstaculizando o instinct of workmanship e as ´novas possibilidades´, pode 
acabar sendo de alguma serventia, ao menos por algum tempo. Isto é o que 
Veblen designou por ´self-contamination of the instinct of workmanship ´. Pois … 
 
[´faço melhor mudando, mas também faço melhor repetindo, ao menos durante 
um tempo´ – MC] 
 
 
Segundo Plano – intermediário; peri-energético; condensação e adensamento 
das forças do primeiro plano (ver Diagrama 4). As forças deste 2º. plano 
manifestam-se como comportamentos, pensamentos e emoções, e possuem 
´poder organizador´ para o terceiro Plano. 
 
As forças e as energias do primeiro Plano de organização das culturas 
pecuniárias, de grandes complexidades e muitas vezes paradoxais ou 
contraditórias, (mas certamente múltiplas e mutuamente interferentes), vistas 
acima, adensam-se, condensam-se, e direcionam-se para um segundo e 
importante plano de ordenamento social. Este segundo plano, ainda basicamente 
incorpóreo, mais perceptível vis-à-vis o primeiro plano, é composto basicamente 
por dois afluentes ou vetores: 
 
.(i) primeiro afluente - uma propensão à eficiência bruta, objetiva, manifesta, real, 
ostensiva, proveniente e co-extensiva do instinct of workmanship primordial (A); e 
 
.(ii) segundo afluente - uma proclividade para a emulação pecuniária, Bp, 
dominante. (ver Diagrama 4 abaixo) 
 
 20
 
 
Este segundo plano do esquema teórico de Veblen é uma espécie de molde 
(fôrma) dicotômico incorpóreo, para todas as manifestações, expressões, e 
objetivações da cultura pecuniária. Este molde dicotômico incorpóreo é, de fato, o 
ponto arquimediano de Veblen, pois é esta potência dicotômica, (as condensações 
das forças do primeiro Plano em dois afluentes divergentes, mas ambos presentes 
e atuantes), que irá orientar e conformar todas as expressões sociais do cotidiano 
econômico e cultural. 
 
Terceiro Plano – Plano material, corporal, formal, ou substancial; os objetos, 
produtos, expressões, configurações, organizações e manifestações concretas. 
 
Os objetos, os produtos, as expressões, as manifestações concretas das culturas 
pecuniárias são, assim, organizadas, moldadas e corporificadas pelas forças e 
vetores, propensões e sentimentos dos outros dois planos de impulsos e 
motivações vistos anteriormente, principalmente pela dicotomia das forças e 
motivações condensadas no segundo Plano (intermediário, A e Bp). E neste 
sentido, pela própria natureza da materialidade de suas manifestações, contém as 
características da estática do ´esquema geral´ de Veblen, vistas na 1ª. Parte deste 
ensaio.. 
 
... Os bens são produzidos e consumidos visando a um desenvolvimento mais pleno 
da vida humana; e sua utilidade consiste, em primeiro lugar, em sua eficácia para 
conseguir esse fim. Primeiramente é esse fim a plenitude da vida do indivíduo 
encarada em termos absolutos. Mas a inclinação humana para a emulação se 
apossou do consumo de bens como instrumento de comparações invejosas, e em 
conseqüência revestiu os bens consumíveis com uma utilidade secundária; a prova 
da relativa habilidade para pagar. Esse uso indireto e secundário de bens de consumo 
empresta um caráter honorífico ao dito consumo, e, hoje em dia, também aos bens 
que melhor servem a esse fim emulativo de consumo. O consumo de bens 
dispendiosos é meritório, e são honoríficos os bens que possuem um apreciável 
elemento de custo em excesso daquilo que confere serventia à sua finalidade 
mecânica ostensiva. Os indícios de custos e dispêndios supérfluos nos bens são, 
portanto, índices de valia, de mérito ou de virtude, de grande eficiência para a 
finalidade indireta, invejosa, propiciada pelo seu consumo; e inversamente, os bens 
humilham, e são por isso pouco atraentes, se demonstram uma adaptação demasiado 
estrita ao fim mecânico buscado e não incluem uma margem de dispêndio onde se 
 21
basear uma complacente comparação emuladora. Essa utilidade indireta empresta 
muito de seu valor às “melhores” classes de bens. A fim de apelar ao senso educado 
de utilidade, um artigo deve possuir uma quantidade módica dessa utilidade indireta. 
(Veblen 1957 [1899], 111) 
 
Apesar de serem moldados sintética e essencialmente pelos dois afluentes do 
segundo plano teórico de organização vistos acima, analiticamente, todos os 
produtos e objetos das culturas pecuniárias são compostos por: 3 (três) elementos 
tangíveis; e 4 (quatro) forças incorpóreas. 
 
 
 
 
 
Os três elementos tangíveis serão aqui designados por B#, ´a´ e ´b´; e as quatro 
forças incorpóreas serão designadas por ´A´, Bp; A.1 e Bp.1. (ver Diagrama 5 
acima) 
 
As explicações e as definições destas forças e elementos serão apresentadas, 
abaixo, utilizando-se diretamente um primeiro exemplo: um automóvel. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 22
Exemplo n. 1: B# = um automóvel – O Novo ´vestuário´ (mecânico) do homem 
civilizado moderno 
 
 
 B# A#B# = configuração material total do objeto; no caso, o automóvel em sua totalidade 
material. Em geral, nas configurações dos produtos e dos objetos das culturas 
pecuniárias, prodominam, claramente, os elementos emulativos, comerciais e 
pecuniários; por esta razão designo-os por B#. Se o predomínio formal e 
arquitetônico do objeto for funcional – como veio ocorrendo durante todo o século 
XX, por razões que escapam o escopo deste artigo, o objeto manifesta-se 
concretamente como A#, pois, conforme veremos adiante, apesar da 
funcionalidade formal, e mesmo substancial crescente de quase todos os produtos 
e objetos industriais do último século (XX), os sistemas de marcas e branding (em 
geral) continuam mantendo as intenções e os valores emulativos pecuniários. 
 
Para usarmos o mesmo exemplo deste item, um automóvel, o “the new volks 
beetle” (ver Figura A# acima) manifesta-se mais como A# do que como B# , isto 
é, possui uma configuração de eficiência dinâmica auto-motiva e mesmo mecânica 
enorme, embora continue a ser um objeto essencialmente pecuniário, isto é, a sua 
função primordial, manifesta (locomoção) provavelmente encontra-se deflexionada 
e subordinada à sua motivação latente, que é servir de objeto de ostentação. 
 
a = conjunto de elementos materiais concretos do automóvel que lhe permite 
operar a sua função manifesta, ostensiva e objetiva; são os elementos de 
serventia bruta material (brute material serviceability), ou seja a operação 
funcional do automóvel para movimentar pessoas, animais ou cargas (os pneus, 
os motores, as correias, etc.). 
 
b = conjunto de elementos materiais concretos do automóvel que indica reputação 
e status ao usuário ou ao proprietário. Tal conjunto de elementos fúteis e 
normalmente de desperdício conspícuo (material) explica-se pela norma do 
desperdício conspícuo e da reputação pecuniária, vistos anteriormente. São 
elementos de ´utility´ para o processo de emulação, competição, e obtenção de 
status (e não de prestação de serviços ou de crua e cândida ´serviceability´´) 
 23
 
A.1 = função manifesta do automóvel, isto é, o transporte. (o serviço, impessoal, a 
ser prestado); 
 
Bp.1 = motivação latente do automóvel, isto é, ostentar status e/ou demonstrar 
habilidade ou capacidade de pagar (a utilidade, privada, a ser usufruída); 
 
A = group-regarding-sentiments, ou (e.g.), o instinct of workmanship; (instintos e 
forças) provenientes dos planos espirituais, motivacionais e psicológicos que 
buscaram, objetivamente, ao longo da História e da evolução, facilitar a 
movimentação e o transporte dos Homens ou cargas (ou a adaptação ao meio; ou 
o ´sucesso biológico´); São estas forças instintivas que organizam os elementos 
A.1 e ´a´ do objeto; (nos planos mais ´concretos´) 
 
Bp = self-regarding-sentiments, ou (e.g.) a propensão à emulação predatória 
(dominante em culturas pecuniárias); São estas energias (deformadas de uma 
vital motivação de perpetuação, valorização e self esteem do indivíduo) que 
organizam os elementos B.1 e ´b´ dos objetos. 
 
Em resumo, podemos compactar as forças e os elementos acima, e afirmar que 
todos os objetos, em culturas pecuniárias, possuem: 
 
.(i) uma família de forças, propensões, instintos e elementos econômicos e 
industriais; elementos de serventia e eficiência brutas, funcionais para a plenitude 
da vida do indivíduo e do grupo; serviços a serem prestados; possuem uma ´utility 
in the first instance´. 
[ A ----> (A.1 e a) ] 
 
.(ii) uma família de energias, proclividades, inclinações e elementos comerciais, de 
utilidade circunscrita para o processo de emulação pecuniária, obtenção, elevação 
ou manutenção de reputação, status e apreciação individual; ´indirect or 
secondary use´; uma ´secondary utility´, que é precisamente a demonstração da 
capacidade de pagar. (ability to pay). 
 
[ Bp ----> (B.1 e b) ] 
 
 
 
 24
 
 
 
 
 
Exemplo n. 2: B# = Um Vestido de Baile 
 
B# 
 
 
B# = o vestido em si (na sua totalidade); 
 
a = elementos materiais concretos do vestido que fornecem funcionalidade, para a 
sua função manifesta (proteção e/ou conforto no vestir-se); 
 
b = elementos materiais concretos do vestido que visam demonstrar ´força 
pecuniária´, isto é, capacidade de pagar; 
 
A.1 = função manifesta do vestido de baile (o serviço a ser prestado; certamente 
bem reduzido) (ver ´a´ acima); 
 
Bp.1 = motivação latente do vestido de baile (utilidade a ser usufruída; certamente 
a quase totalidade do ´apparel´) (ver ´b´ acima); 
 
A = conjunto das forças tecnológicas históricas que moldaram a confecção e a 
tecelagem para a serventia humana; 
 25
 
Bp = conjunto de energias históricas (e de estoque de desperdícios e/ou 
futilidades atenciosamente elaborados e apreciados, que moldaram a confecção e 
a tecelagem para utilidade no processo emulativo e de elevação da reputação do 
usuário; hoje diríamos ... ´the Fashion Industry´; 
 
In human apparel the element of dress is readily distinguishable from that of clothing. 
The two functions - of dress and of clothing the person - are to a great extent 
subserved by the same material goods, although the extent to which the same 
material serves both purposes will appear very much slighter on second thought than it 
does at first glance. (Veblen 1998 [1894], 65 Ed. S.Bowman) 
 
Considerações Adicionais sobre o Vestuário como Expressão das Culturas 
Pecuniárias e a ´moderna´ Teoria das Marcas Comerciais, Branding, etc. 
 
Assim como muitos outros antropólogos, psicólogos, e teóricos sociais da época, 
Veblen estudou minuciosamente o vestuário, e a indumentária como um todo. Por 
exemplo, o capítulo VII (Dress as an Expression of the Pecuniary Culture) de seu 
mais famoso livro (The Theory of the Leisure Class - 1899), reproduz, e amplia, as 
reflexões de seu importante artigo de 1894 (The Economic Theory of Woman´s 
Dress). 
 
Porém, não foi curiosidade aleatória de Veblen a escolha do vestuário como objeto 
de atenção para a teoria econômica. O vestuário, como ele mesmo indica, sendo 
uma ´linguagem não verbal´, coloca em evidência, prima facie, as simbólicas ou 
reais condições pecuniárias do indivíduo. 
 
 
... Outros modos de por em evidência a nossa situação pecuniária servem a seus fins 
com eficácia, e há muitos em voga, sempre e por toda a parte; mas o dispêndio com o 
vestuário leva vantagem sobre a maioria, pois o nosso traje está sempre em evidência 
e proporciona logo à primeira vista uma indicação da nossa situação pecuniária a 
todos quantos nos observam. (Veblen 1957 [1899],118-119; Ed. S.Bowman) 
 
 
Nestes trabalhos, Veblen apresenta, entre outras questões, três princípios que 
orientam o trajar-se adornadamente (dress formally), princípios estes coerentes 
com a sua norma do desperdício conspícuo e da reputação pecuniária: (i) 
conspicuous expensiveness (‘apparel must afford evidence of the ability of the 
wearer’s economic group to pay for things that are in themselves of no use to any 
one concerned’); (ii) ineptitude (”dress should not only be expensive, but it should 
also make plain to all observers that the wearer is not engaged in any kind of 
productive labor.” (Veblen 1957 [1899], 120); e (iii) novelty (“o vestuário não 
apenas deve ser conspicuamente dispendioso e incômodo; deve, ao mesmo 
tempo, estar na moda. …” (Veblen 1957 [1899], 122). 
 
 26
Tanto nos objetos como um todo, como no vestuário em particular, ´We find things 
beautiful, as well as serviceable, somewhat in proportion as they are costly´; ou, 
visto de outro ângulo, ´in order to be reputable it must be wasteful´. 
 
O que é importante ressaltar é que Veblen apresenta, em sociologia e em 
economia, a primeira teoria (coerente) acerca das mudanças das modas e dos 
estilos no vestir-se; e tal teoria é de suma importância para explicar nãoapenas a 
efemeridade essencial das modas e dos estilos, mas também todas as mudanças 
(inclusive tecnológicas) do sistema capitalista industrial moderno. (explicação esta 
válida, inclusive, para muitas ´mudanças´ das demais etapas da cultura predatória) 
 
Toda mudança de estilo, da moda, e dos demais aparatos do vestuário, encontra-
se sob a vigilância e a orientação inevitável da norma do desperdício conspícuo e 
da reputação pecuniária. Assim, a busca de novidades sucessivas (como corolário 
da conspicuous expensiveness das culturas pecuniárias, isto é, a depreciação 
cerimonial acelerada das modas e das peças do vestuário, (para demonstrar 
capacidade de pagar), atrelada à instintiva propensão à eficiência (ou instinct of 
workmanship) que acompanha o Homem incessantemente, conduz a moda, os 
estilos, e as configurações em geral, para a sua essencial efemeridade. Isto 
porque os estilos e a moda, apesar de serem empurrados para um eixo de 
eficiência (ver Diagrama 7 abaixo), não permanecem ´jamais´ neste eixo, uma vez 
que a reputação pecuniária, condição essencial de apreciação social do indivíduo 
no grupo – continua prevalecendo e policiando qualquer desvio na direção de uma 
cândida funcionalidade; e logo então o novo estilo irá domiciliar-se em uma 
configuração que só aparentemente mostra-se como funcional, prática ou objetiva. 
 
O Diagrama 7, abaixo, mostra esta dinâmica cíclica paradoxal das sucessões dos 
estilos e das modas, em torno de um eixo de funcionalidade (absoluta) ´jamais 
alcançado´. 
 
 
 
 
 27
Além do processo cíclico das sucessões de estilos e modas, é interessante notar 
que, durante a vigência, aceitação, e disseminação de um certo ´estilo´ (que é a 
própria moda), o processo competitivo entre os indivíduos para a ostentação 
crescente dos caracteres que definem e compõem o estilo, leva a moda a 
manifestar-se cada vez mais como uma coleção de extravagâncias e barrocos; e o 
estilo, então, dado o grotesco explícito de suas manifestações, degenera e 
começa a desaparecer. 
 
Um dos princípios da moda parece ser o de que, uma vez aceito o exagero, ele se 
torna cada vez maior. (Laver, 1969-1982, 179) 
 
Para um motivo criador, capaz de servir como motivo de invenção e inovação no 
campo da moda, pode-se afirmar, de modo geral, que cada inovação sucessiva no 
setor da moda constitui um esforço para alcançar alguma forma de exibição mais 
aceitável ao nosso sentido de forma, cor ou eficiência – mais aceitável do que aquela 
que ela desloca.; ... mas como cada inovação está sujeita à ação seletiva da norma 
do desperdício conspícuo, o âmbito no qual essa inovação se pode efetuar é algo 
restrito. A inovação não só tem de ser mais bela, ou, talvez, menos freqüentemente 
chocante do que a inovação substituída (i.e., anterior), mas precisa igualmente ficar à 
altura do padrão perdulário e de dispêndio aceitável. 
 
Pareceria à primeira vista que o resultado de semelhante luta implacável para atingir o 
belo em questão de vestuário deveria ser uma aproximação gradual da perfeição 
artística. ... ou a forma humana. 
 
O padrão de respeitabilidade pecuniária requer uma demonstração de dispêndio 
supérfluo; mas todo desperdício repugna ao gosto inato. Já se indicou aqui a lei 
psicológica de que todos os homens ... e mulheres, detestam a futilidade, seja no 
esforço ou nos gastos ... Mas o princípio de desperdício conspícuo requer gastos 
evidentemente fúteis; e o dispêndio perdulário conspícuo resultante no vestuário é, 
portanto, intrinsecamente feio. Daí que, em todas as inovações de vestuário, cada 
detalhe acrescentado ou alterado se esforce por evitar uma imediata condenação, 
mediante a exibição de algum propósito ostensivo, ao mesmo tempo que a exigência 
do desperdício conspícuo impede que a finalidade dessas inovações se torne outra 
coisa que não um certo pretexto transparente. 
 
 Até mesmo em seus vôos mais livres, raramente a moda se furta à simulação de 
alguma utilidade ostensiva. A utilidade ostensiva dos pormenores elegantes do 
vestuário é, entretanto um fingimento tão transparente e sua futilidade substancial em 
breve nos chama tão cruamente a atenção, que logo ele se nos afigura intolerável e, 
em conseqüência, buscamos refúgio em um novo estilo. Mas o novo estilo tem 
igualmente de se conformar com a exigência do desperdício e da futilidade bem 
conceituados. Essa, porém, se torna em breve tão odiosa como a do seu antecessor; 
e o único remédio que a lei do desperdício nos permite é procurar alívio em uma nova 
criação igualmente fútil e igualmente insustentável. Daí a feiúra essencial e a 
incessante mudança da moda em questões de vestuário. (Veblen 1957 [1899}, 122-
124) 
 
 
 
 28
 
 
 
 
 
 
A Pioneira Contribuição de Veblen para uma Moderna Teoria das Marcas, 
Brand-Names, etc. – Além de uma criativa e mesmo genial teoria da mudança 
tecnológica e dos produtos, Veblen forneceu as bases para uma complexa teoria 
das modernas marcas de comércio, indústria, e demais signos distintivos cobertos 
pela propriedade industrial. A propósito, embora não seja objeto explícito deste 
artigo, é importante ressaltar que o papel da propriedade industrial (principalmente 
das marcas e patentes) na teoria de Veblen é essencial; e, curiosamente, a 
expressão ´propriedade industrial´, sintetiza as duas forças divergentes de seu 
´esquema´ teórico. Ou, como visto acima, 
 
[Veblen] argued that [modern capitalism] was inherently wasteful and his ideal was the 
exact opposite of the current society in which “the ulterior end sought is an increase of 
ownership, not industrial serviceability. (Edgell 2001, 8) 
 
Veblen percebeu que a exposição conspícua de elementos materiais (´b´) para a 
emulação estava sofrendo uma transformação importante em sua época (e no 
século XX); e de fato nos próprios estilos de vestuário, da moda, e nos demais 
produtos industriais e de consumo. Supunha Veblen que o instinct of 
workmanship, esta irrevogável força para a eficiência econômica bruta, estaria 
forçando uma economicidade e funcionalidade ´formal´, e mesmo substancial, nos 
objetos e processos, e que tal tendência faria com que os índices e indicadores de 
ostentação iriam ou poderiam domiciliar-se em outros ´lugares´ ou em outras 
expressões e práticas sociais (além da exposição habitual de enormes cabedais 
de desperdícios materiais). Estes ´novos´ índices ou indicadores, em linguagem 
simples e direta, podemos concluir, são as marcas de comércio e indústria, e 
demais signos que estariam indicando o good.will do objeto portado. E, por 
contaminação, elevando o good.will ou a reputação do usuário, e.g., de uma peça 
de vestuário. 
 
 29
A reputação (ou good.will) que o desperdício material (quantitativo) oferecia ao 
usuário, pela exposição conspícua da sua capacidade de comandar importantes 
quantidades de ´recursos econômicos´ materiais, logo dispendiosos, (isto é, seu 
capital [cabedal] tangível) concentrar-se-á, doravante, em um ´pequeno´ e sutil, 
quase incorpóreo, índice de força pecuniária: a marca de comércio ou brand 
name. Entretanto, este pequeníssimo índice de força comercial pode significar um 
imenso capital intangível, tanto para o indivíduo, como para as empresas 
comerciais, desde que concentre um estoque e uma potência pecuniária 
significativos. 
 
O importante para Veblen sempre foi explicar que o indivíduo, em culturas 
pecuniárias, necessita demonstrar, prioritariamente, força ou habilidade de pagar 
(e, adicionalmente, indicar que suas atividades associam-se ao processo 
´aquisitivo – pecuniário – comercial´, e não ao processo ´produtivo ou econômico´ 
stricto sensu). Se esta indicação provém do ócio conspícuo, do consumo 
conspícuo de bens, da exposição de dispêndio conspícuo de elementos materiais 
que porta ou carrega consigo, ou de um índice ou marca absolutamente sutilde 
indicação daquela habilidade (desde que acompanhada de inerente prestígio 
pecuniário), a função latente deste comportamento ou exposição estaria operando 
em plenitude, i.e., a elevação de status e a comercialização do bom nome, sem a 
necessidade de excessos grotescos evidentes. 
 
 Veblen sempre deixou claro que os indivíduos buscam não o desperdício em si, 
mas o índice que este desperdício opera na sociedade. 
 
It is not that the wearers or the buyers of these wasteful goods desire the waste. They 
desire to make manifest their ability to pay. (Veblen 1998 [1894], 70) 
 
E é exatamente isto o que as modernas marcas de comércio e indústria ´fazem´: 
indicam – não prioritariamente a funcionalidade do objeto ou processo, que é 
secundário, e nem mesmo a ´origem´ dos mesmos – mas sim a capacidade 
pecuniária do portador. É o prestígio e o good.will colados na ´Marca´ ´cara´ 
(dispendiosa) que é buscado pelo usuário-consumidor, i.e., o que o consumidor 
busca é transferir o good.will da marca/produto para si, e desfrutar, por 
contaminação e infecção, deste good.will, ostentando-o para os demais indivíduos 
do grupo. 
 
O Figura abaixo abaixo indica, então, esta novíssima e importantíssima função 
das marcas nas culturas pecuniárias. Notar, como visto acima, que o ´antigo´ 
aparato de desperdícios, de excessos materiais dos artigos de vestuário (e de 
inúmeros outros produtos) concentram-se (urbanizam-se), ´agora´, na marca 
(moderna). 
 
 
 
 
 
 30
 
 
 
 
 
Nos últimos cem anos, tem havido uma tendência perceptível, ... de abandonar os 
métodos de dispêndio e o uso de símbolos de ociosidade que seriam desagradáveis – 
símbolos que, em seu tempo, teriam servido para algum fim, mas cuja continuação 
nas classes mais altas da sociedade atual seria um trabalho supérfluo; ... 
 
Esses indices e outros, que se lhe assemelham na audácia com que apontam aos 
observadores a inutilidade habitual das pessoas que os adotam, foram substituídos 
por muitos outros, por métodos mais delicados ao exprimir um fato idêntico; métodos 
que não são menos evidentes ao olhar experimentado daquele círculo seleto cujo 
bom conceito é principalmente desejado. O método primitivo e mais cru da 
propaganda se manteve firme todo o tempo em que o público, ao qual o empresário 
ou exibidor tinha de apelar, compreendia vastas parcelas da comunidade não 
adestradas em captar as delicadas variações nas provas de riqueza e ócio. O método 
de propaganda sofre um requintamento sempre que uma classe rica e 
suficientemente vasta evolui – classe essa que goza de lazeres para adquirir perícia 
na interpretação dos indícios mais sutis de dispêndio. O vestuário “berrante” torna-se 
ofensivo a pessoa de gosto, evidência que ele é proveniente do desejo indevido de 
atingir e impressionar as sensibilidades deseducadas do vulgo. Para o indivíduo bem 
educado, o que importa é a estima honorífica que lhe é concedida pelo gosto 
cultivado dos membros de sua própria classe superior. Uma vez que a classe rica 
tanto se ampliou, ou que o contato do individuo da classe ociosa com os membros de 
sua própria classe se tornou tão vasto, de modo a constituir uma ambiência humana 
suficiente para as finalidades honoríficas, nasce uma tendência a excluir dela os 
elementos mais baixos da população, até mesmo na mera qualidade de espectadores 
cujo aplauso ou censura deveriam ser buscados. O resultado de tudo isso é um 
refinamento de métodos, uma utilização de dispositivos mais sutis, e uma 
espiritualização do esquema simbólico do vestuário. À medida em que a comunidade 
avança em cultura e riqueza, a ´habilidade para pagar´ é posta em evidência por 
meios que requerem progressivamente uma melhor discriminação do observador. 
Essa melhor discriminação entre os veículos de propaganda é com efeito um 
elemento da cultura pecuniária mais alta. (Veblen 1957 [1899], 130-131) 
 
 
 31
Assim, e como veremos com mais detalhes adiante, uma parte dos investimentos 
prioritários das empresas modernas ocorre em marketing, propaganda, ou 
qualquer outro artifício de exposição conspícua da imagem da empresa (até os 
mais sórditos, e.g. as campanhas de marketing da ´Red Bull´), i.e. nestas “fábricas 
organizadas de convencimento” (organized fabrication of popular convictions). O 
objetivo sistemático da estratégia empresarial moderna, portanto, como veremos 
no próximo item, é a elevação do goodwill como um todo (um dos itens mais 
importantes, senão o mais importante, de seu capital intangível), mais do que 
qualquer esforço de investimento na inovação tecnológica funcional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
!
 A B C D 
 
 
 
 
 
 32
 
Terceira Parte 
 
 O Esquema de Veblen na Organização da Produção 
O Moderno Sistema Industrial 
(O Capitalismo Corporativo Financeiro) 
 
 ...´mantendo ´buracos enlameados´ com a finalidade de 
cobrar dos demais para retirá-los dos mesmos.` 
 
 
Veblen foi o primeiro economista a fornecer uma teoria consistente sobre o 
funcionamento do moderno capitalismo financeiro (o moderno sistema industrial, 
como designou). Seu segundo livro, The Theory of Business Enterprise (TBE), de 
1904, é um dos livros mais importantes de economia do século XX, e, juntamente 
com os dois artigos On the Nature of Capital (I e II), 1908, e seu último livro 
Absentee Ownership. The Case of América, de 1923, formam o conjunto essencial 
de reflexão de Veblen sobre o funcionamento das modernas corporações e o 
papel hegemônico destas nos destinos da civilização contemporânea. 
 
O objetivo deste item, entretanto, não é apresentar a imensa riqueza dos detalhes 
e conclusões contidos em TBE, mas unicamente demonstrar que toda a teoria de 
Veblen acerca das modernas empresas (business enterprises) segue, fielmente, 
seu ´esquema geral´ dicotômico. 
 
As grandes empresas produtivas modernas (as corporações, ou limited liability 
companies) possuem uma estrutura dicotômica em todos os seus principais 
aspectos. O aspecto industrial e produtivo ostensivo das mesmas encontra-se 
subordinado aos interesses comerciais e pecuniários dos Homens de Negócio 
Ausentes – os grandes e médios acionistas, que compõem, com outros 
estamentos ociosos da sociedade, uma kept class divertida, cuja atividade 
precípua é a acumulação de propriedades e não a produção de itens de serventia. 
Ou seja, os elementos funcionais e ostensivos das key enterprises modernas 
encontram-se subordinados (overlaid) aos elementos comerciais e às forças 
pecuniárias. Isto faz com que uma corporação moderna seja, essencialmente, 
uma business enterprise ou going concern, isto é, uma instituição onde os 
interesses financeiros são preponderantes. 
 
Uma típica corporação moderna possui a configuração (organizacional, jurídica, 
acionária, valorativa e produtiva) descrita no diagrama 8 a seguir, e a semalhança 
deste diagrama com o diagrama 1 (ver página 9) não é casual. 
 
 33
 
 
 
Capital nominal e Capital Efetivo - O capital de uma moderna corporação é um 
fundo de valores monetários, e compõe-se de 2 partes: (1) o capital nominal, ou 
patrimonial (cap), de interesse provisório para os objetivos últimos da corporação; 
e (2) o capital efetivo, ou business capital (cap^), que é o valor total que as ações 
da corporação atinge nas Bolsas de Valores ou nos mercados de capitais; também 
designado por ´market cap´. 
 
.(1) O valor do capital patrimonial ou nominal de uma corporação (cap) é um valor 
relativamente fácil de identificação e possui relativa estabilidade, pois vincula-se, 
majoritariamente, ao cabedal tangível das mesmas, e, de jure são os valores 
lançados nos balanços contábeis (patrimoniais). Porém, certos itens intangíveispodem ser contabilizados (conferidos ao balanço) por serem itens proprietários 
exclusivos, (isto é, exeqüíveis e penhoráveis). 
 
.(2) Por outro lado, o valor comercial das corporações (cap^), business capital, é 
um valor essencialmente instável, volátil, especulativo, fortemente vinculado aos 
ativos intangíveis das mesmas, principalmente ao goodwill, como veremos 
adiante. 
 
O capital de uma determinada corporação é ..., de jure uma magnitude estabelecida 
no passado por uma escritura de organização da companhia, ou pela emissão de 
títulos da companhia nos termos de sua escritura ... 
 
Porém, essa capitalização de jure é apenas nominal, e são raros os casos, se é que 
existem, em que o capital efetivo da companhia coincide com o seu capital de jure. 
Este seria o caso em que os títulos que representam o capital da companhia fossem 
cotados ao par na Bolsa. A efetiva capitalização de qualquer companhia moderna, 
quer dizer, a capitalização efetiva para efeitos comerciais correntes em contraposição 
aos requisitos formais do contrato de organização, é fornecido pelas cotações dos 
títulos da companhia, ou por qualquer avaliação similar, porém menos oficial no caso 
em que o capital da companhia não seja cotado na Bolsa. A capitalização efetiva 
(comercial) em contraste com a capitalização de jure, não é fixada, permanente e 
inflexivelmente, por uma escritura de incorporação ou de emissão de títulos. É fixada 
apenas provisoriamente, por uma constante reavaliação das propriedades da 
companhia, tangíveis e intangíveis, sobre a base de sua ´capacidade de rendimento´ 
(the earning capacity). (Veblen 1958 [1904], 70) 
 34
 
Este capital efetivo (business capital) cap^ é função de 3 variáveis: 
 
 (1) (ea^) = a rentabilidade (lucro) total projetada do empreendimento (do going 
concern), isto é, a earning capacity of the going concern; e que significa, de fato, a 
capacidade putativa (suposed, reputed) da corporação de gerar lucros como um 
todo. Esta ea^ encontra-se apenas indiretamente relacionada à lucratividade 
industrial e operacional da empresa, podendo mesmo variar inversamente à 
lucratividade operacional, como e.g. no caso, de alguns anos atrás, da empresa 
Amazon.com, que manteve sucessivos ´prejuízos´ operacionais, mas ´excelente´ 
rentabilidade pecuniária e valor financeiro ou comercial; 
 
O valor de qualquer bloco de capital gira em torno de sua rentabilidade; ... e não de 
seu custo original ou de sua eficiência mecânica. É só de maneira mais remota, e por 
intermédio da capacidade de rendimento, que estes últimos fatores mencionados 
afetam de maneira sensível o valor do capital. Esta capacidade de rendimento do 
capital depende, por sua vez, não tanto da eficiência mecânica dos itens adquiridos e 
vendidos no mercado do capital, como da “tensão” do mercado por mercadorias. ... a 
questão da capacidade de rendimento do capital se relaciona primacialmente com sua 
eficácia para fins de ´vendibilidade´, e só secundariamente com sua eficácia no 
tocante aos seus préstimos materiais. Porém a rentabilidade que, por esse meio, 
fornece base para a cotação do capital negociável (ou para a capitalização em Bolsa 
dos títulos negociados) não é constituída pela sua rentabilidade passada ou atual, 
mas, antes, pela sua suposta e futura rentabilidade; de maneira que as oscilações do 
capital na Bolsa – a variável capitalização dos títulos em Bolsa – gira em torno de 
futuros acontecimentos imaginados. 
 
Todo capital lançado no mercado é por esse meio sujeito a intermináveis processos 
de valorização e revalorização – isto é, de capitalização e recapitalização – baseados 
em sua presumível capacidade de rendimento, por onde ele assume mais ou menos 
um caráter de intangibilidade. Porém os mais indefiníveis e intangíveis itens desse 
capital negociável são, ... os itens constituídos pelo “goodwill” capitalizado, já que 
estes representam ativos intangíveis desde o princípio até o fim. É sobre esse fator, o 
“goodwill” do capital, que incide de maneira mais imediata, a variação da presumível 
capacidade de rendimento, e este elemento apresenta as mais amplas e livres 
oscilações do mercado. As variações, no ativo capitalizado, do “goodwill” negociável 
são relativamente grandes e inconstantes, como o demonstram as oscilações das 
cotações das ações ordinárias. (Veblen 1958 [1904], 76) 
 
(2) (i) = a taxa de juros básica mínima da economia; e 
 
(3) (j) = um elemento especulativo fortemente presente. Assim, 
 
cap^ = f [ ea^, (i), (j) ] 
 
 
e calcula-se cap^ como: 
 
cap^ = ea^ / (i) 
 35
 
Por exemplo: se a taxa de juros mínima da economia for 0,05, e a rentabilidade 
projetada de uma corporação ea^ for $ 100.00, o valor pecuniário desta empresa 
cap^, isto é, o capital efetivo (business capital) da corporação, naquele ´instante´, 
no mercado, alcança, ficticiamente, o valor de $ 2.000,00 = [100,00/0,05]. 
Simplificadamente, isto equivale a dizer que o valor total das ações desta 
corporação ´alcança´, neste instante, o montante de $ 2.000,00 (pois 100,00 é a 
´renda´ obtida (ou os ´juros´ obtidos) pela aplicação de um capital (fictício) à taxa 
de 0,05. 
 
Qualquer variação (real ou imaginária, ou manipulada) em ea^, em (i), ou nos 
ânimos dos jogadores, modifica, instantaneamente, o valor do capital efetivo da 
empresa cap^. Por exemplo, se ea^ agora projeta uma rentabilidade de $ 200,00, 
à mesma taxa de juros (i) de 0,05, o capital comercial da corporação cap^ eleva-se 
(i.e., dobra) para $ 4.000,00 = [200,00/0,05]; sem que tenha havido qualquer 
alteração, a princípio, nas operações industriais ostensivas da empresa. 
 
Ainda, se ea^ = $ 100,00, mas a taxa de juros (i) cai para 0,025, o valor pecuniário 
da empresa cap^ alcança os mesmos $ 4.000,00 
 
A conclusão importante dos exemplos numéricos acima (os de maior simplicidade 
possível, e com algumas lacunas) é que as corporações modernas são avaliadas 
unicamente como unidades pecuniárias (aliás, assim como os ´indivíduos´), e 
quaisquer variações na taxa de juros (i), ou nas expectativas de rentabilidade ea^ 
(expectativas estas que incluem manipulações, contra-informações, e outros 
expedientes táticos profissionais dos captain of finance e demais players), 
modificam os valores pecuniários e/ou comerciais das corporações, sem qualquer 
indicação de variação, por exemplo, na serventia ou na eficiência industrial das 
mesmas; e, complementarmente, sem qualquer variação no capital (nominal) 
patrimonial (cap). Aliás, ´todas as coisas´ em culturas pecuniárias, são, então, 
apreciadas por suas perdas e/ou ganhos numéricos (quantitativos), e não 
avaliadas objetivamente pela serventia (bruta, impessoal) à vida ou ao bem estar 
econômico. 
 
 
A Capacidade de Rendimentos e o goodwill - O lucro projetado ea^ das 
corporações, por sua vez, é função, basicamente, das assimetrias empresariais 
obtidas ou comandadas, isto é, em essência, o goodwill lato sensu da empresa 
(GW). Em outras palavras, ea^ é função do ´grau de monopólio´ que a corporação 
possui e/ou exerce sobre o mercado, representado por propriedades e/ou posses 
de vantagens competitivas ou posições privilegiadas; sendo que os ´direitos 
exclusivos´ (totais ou parciais) ao mercado (a propriedade industrial e/ou 
comercial) são poderosas vantagens competitivas (e.g., concessões públicas, 
marcas, patentes, copyrights, etc.). Simbolicamente: 
 
ea^ = g [ vantagens diferenciais obtidas (exclusivas ou não) = intangible assets] 
 
 36
Em última instância: 
 
ea^ = g ( goodwill ), ou 
 
ea^ = g (GW) 
 
 
Nessa capitalização da rentabilidade, o núcleo da capitalização não consiste no custo 
da instalação, porém no ´goodwill´ do estabelecimento ... Goodwill é um termo 
bastante extensivo e, ultimamente, adquiriu significado mais amplo do que outrora ... 
Vários itens ... são geralmente incluídos sob o título

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