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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO	TC 001.378/2008-0
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GRUPO I – CLASSE I – Plenário
TC 001.378/2008-0 [Apensos: TC 019.105/2011-8, TC 014.362/2014-7, TC 014.363/2014-3]
Natureza(s): Recurso de Revisão (Tomada de Contas Especial).
Órgão/Entidade: Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário.
Responsáveis: Gilberto Sidnei Maggioni (207.873.328-87); Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto - SP (56.024.581/0001-56); Welson Gasparini (074.342.198-15).
Interessado: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (05.526.783/0001-65).
Representação legal: Brasil do Pinhal Pereira Salomão (21348/OAB-SP) e outros, representando Gilberto Sidnei Maggioni.
Sumário: Tomada de Contas Especial. Contas irregulares. Débito e Multa. Recurso de Reconsideração. Negativa de provimento. Recurso de Revisão. Conhecimento. Ausência de erro na fixação do débito imputado. Ausência de prescrição intercorrente. Ausência de contradição. Ratificação da responsabilidade do recorrente. Negativa de provimento.
RELATÓRIO
Transcrevo a seguir a instrução de peça 81, elaborada no âmbito da Secretaria de Recursos (Serur) pelo Auditor Federal de Controle Externo Emerson Cabral de Brito, cujas conclusões contaram com a anuência do corpo diretivo daquela unidade técnica (peças 83-84), bem como do Ministério Público junto ao TCU, representado pelo Procurador Júlio Marcelo de Oliveira (peça 5):
“1. Trata-se de recurso de revisão interposto por Gilberto Sidnei Maggioni (peça 69, 79 e 80) contra o Acórdão 7347/2010-1ª Câmara (peça 4, p. 32-33) – corrigida, por erro material, pelo Acórdão 8029/2013-1ª Câmara (peça 45).
1.1.	A deliberação recorrida apresenta o seguinte teor: 
9.1. acatar as alegações de defesa e excluir do rol de responsáveis o Sr. Welson Gasparini e o município de Ribeirão Preto/SP;
9.2. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Gilberto Sidnei Maggioni;
9.3. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “a” e “c”, 19, caput, e 23, da Lei nº 8.443/1992, julgar irregulares as contas do Sr. Gilberto Sidnei Maggioni, e condená-lo ao pagamento das quantias a seguir indicadas, [abatidas da importância de R$ 62.956,56 (sessenta e dois mil, novecentos e cinquenta e seis reais e cinquenta e seis centavos), na data de 19/08/2005 – incluído pelo Acórdão 8029/2013-1ª Câmara], com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Fundo Nacional de Assistência Social – FNAS, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir das datas a seguir especificadas, até a do recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:
Datas de Referência
Valores (R$)
3/4/2003
32.780,00
3/4/2003
57.120,00
29/4/2003
57.120,00
6/8/2003
44.300,00
6/8/2003
49.880,00
6/8/2003
43.000,00
29/8/2003
42.240,00
13/10/2003
42.600,00
12/12/2003
42.600,00
12/12/2003
40.760,00
2/1/2004
41.360,00
19/2/2004
39.600,00
9.3. com fundamento no art. 57 da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 267 do Regimento Interno, aplicar ao Sr. Gilberto Sidnei Maggioni a multa no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea "a" do Regimento Interno) o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.5. autorizar a cobrança judicial da dívida, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, caso não atendida a notificação;
9.6. com fundamento no art. 16, § 3º, da Lei nº 8.443/1992, dar ciência deste Acórdão, acompanhado do Relatório e Voto que o fundamentam, à Procuradoria da República no Estado de São Paulo.
FUNDAMENTOS DA DECISÃO
2.	Trata-se de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em face da omissão inicial no dever de prestar contas relativas aos recursos transferidos pela União Federal ao município de Ribeirão Preto/SP, por intermédio do Fundo Nacional de Assistência Social – FNAS, para a execução de serviços assistenciais de ação continuada do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - Peti, no período de 1º/1/2003 a 31/12/2003.
2.1.	Nas Portarias nº 27/MAPS/SEAS, de 31/1/2003, e nº 4/MAPS, de 27/2/2003, foi previsto o repasse de R$ 79.200,00 mensais para a concessão de bolsas (total anual de R$ 950.400,00) e R$ 19.800,00 para a ampliação da jornada das unidades escolares (R$ 237.600,00 no ano), além das contrapartidas municipais mensais de R$ 15.840,00 e R$ 3.960,00 (fls. 4 e 7). O valor total efetivamente repassado foi de R$ 794.880,00 (R$ 557.700,00 para as bolsas e R$ 237.180,00 para a ampliação da jornada).
2.2.	Citado, o ora recorrente manteve-se silente. 
2.3.	Com base na documentação encaminhada pelo prefeito sucessor, concluiu-se que não estava comprovado nos autos o efetivo repasse aos beneficiários dos recursos, no valor de R$ 533.360,00, destinados para a concessão de bolsas, os quais foram transferidos indevidamente para o Banco Banespa, hoje Santander. Considerou-se regulares apenas as despesas para as quais foi demonstrada a existência de vínculo com os valores transferidos, no montante de R$ 294.580,81. 
2.4.	O ora recorrente foi novamente citado e teve suas alegações de defesa rejeitadas, uma vez que a administração dos recursos questionados ocorrera integralmente na sua gestão e que não foram disponibilizados comprovantes do efetivo repasse às famílias beneficiárias dos recursos transferidos ao Banespa. 
2.5.	Com esse fundamento foi prolatado o Acórdão 7347/2010-1ª Câmara, ora recorrido. 
2.6.	Contra essa decisão, o ora recorrente interpôs recurso de reconsideração, ao qual foi negado provimento por meio do Acórdão 8029/2013-1ª Câmara.
ADMISSIBILIDADE
3.	O exame preliminar de admissibilidade à peça 74 – acolhido pelo Relator ad quem em despacho à peça 77 – concluíram por conhecer do recurso, sem atribuição de efeito suspensivo. 
MÉRITO
4.	Constitui objeto do recurso examinar as seguintes questões: 
	a) se não foi aplicado juros e correção monetária ao abatimento do débito reconhecido no acórdão (item 5);
	b) se houve erro na fixação do termo a quo a partir do qual incidirá juros e correção da condenação (item 6);
	c) se houve ocorrência da prescrição intercorrente (item 7);
	d) se houve responsabilidade do prefeito sucessor (item 8);
	e) se há contradição em não se considerar a conta bancária no Banco Santander-Banespa como específica e ao mesmo tempo exigir-se o extrato bancário da conta para comprovação das despesas, sendo que o recorrente, na qualidade de ex-gestor municipal, não tem mais acesso ao extrato bancário da conta (item 9);
	f) se procede a alegação de que houve apenas atraso na prestação de contas, para o que o recorrente não contribuiu (item 10);
	g) se acórdão judicial reconhecendo a prescrição criminal possui repercussão no presente processo (item 11).
5. 	Não aplicação de juros e correção monetária ao abatimento do débito imputado
5.1. 	O recorrente alega que, ao contrário do que acontece com o valor do débito imputado, ao valor do abatimento não foram aplicados juros e correção monetária, 
	a) houve grave equívoco na fixação dos valores aos quais o ora recorrente foi condenado ao pagamento/devolução, considerando que não houve o correto cálculo do valor de abatimento em relação ao valor total da condenação em virtude da comprovada e regular utilização para os objetivos do convênio firmado, causando, portanto, grave prejuízo ao recorrente e ensejando enriquecimento ilícito por parte do Poder Público, o que se pretende demonstrar neste recurso; (peça 69, p. 3)
	b) o acórdão ora guerreado determinou a devolução do valor total do convênio por parte do recorrente atualizados em juros e correção monetária, o que aumentou sobremaneirao valor inicial a ser devolvido; (peça 69, p. 3)
	c) o mesmo critério não foi utilizado em relação ao valor do abatimento a ser considerado na conta final; (peça 69, p. 3)
	d) desde o momento da aplicação dos valores repassados a título de convênio, decorreram-se mais de dez anos, de modo que o valor de R$ 62.956,56, aplicado no dia de hoje, certamente teria aumentado consideravelmente em relação à data base considerada no acórdão; (peça 69, p. 4)
	e) este Tribunal, ao determinar o abatimento deste valor ao valor da devolução, deixou de considerar tal fato e, em especial, deixou de fixar critérios para se atualizar o referido valor para quando se considerar os cálculos de final liquidação; (peça 69, p. 4)
	f) tal equívoco ou omissão em não se considerar o passar do tempo em relação ao valor nominal a ser abatido da condenação total, traz visível prejuízo ao recorrente, considerando que a dívida à qual foi condenado praticamente dobrou desde então, ao passo que, o abatimento pela regular aplicação dos valores repassados, não se alterou, não seguiu o desenrolar do tempo; (peça 69, p. 4)
	g) tal panorama traz gravíssima situação de insegurança jurídica ao cidadão, hipossuficiente em relação ao Estado, podendo leva-lo à total quebra, em prejuízo de si e de sua família; (peça 69, p. 4)
	h) assim, mister sejam reavaliados os cálculos apurados em acórdão, uma vez que estes erroneamente se omitiram em relação à atualização do valor a título de abatimento do montante geral ao qual foi condenado o ora recorrente. (peça 69, p. 4-5)
	Análise
5.2.	A alegação decorre de equívoco por parte do recorrente, ao supor que abatimento de R$ 62.956,56 mencionado no item 9.3 do acórdão recorrido seria aplicado sobre o valor atualizado do débito na data atual, quando ele é abatido do saldo devedor existente na data de ocorrência da devolução dos recursos, isto é, 19/8/2005. 
5.3.	A ausência de prejuízo ao Recorrente fica claro quando se compara o valor inicialmente imputado a ele na citação, sem abatimento e atualizado até 23/3/2010: R$ 1.338.678,83 (cf. peça 4, p. 6); e o valor atualizado em 19/11/2013, com o abatimento: R$ 1.822.867,23. Um acréscimo mínimo, em relação ao valor total do débito e ao período de três anos decorrido entre uma atualização e outra. 
5.4.	Ante o exposto, deve-se rejeitar a alegação. 
6. 	Erro de cálculo – Errônea fixação do termo a quo para a contagem dos juros e multa da condenação
6.1. 	O recorrente alega erro na fixação do termo a quo a partir do qual incidirá juros e correção da condenação. Nesse sentido, aduz que: 
	a) foi fixado erroneamente o termo a quo para o início da contagem dos juros e correção do valor a ser devolvido, causando prejuízo ilícito ao recorrente; (peça 69, p. 3)
	b) os juros de mora constituem-se em uma taxa percentual aplicada sobre o atraso no cumprimento de uma obrigação — financeira ou acessória; (peça 69, p. 5)
	c) no caso vertente, o recorrente teria supostamente deixado de apresentar regular prestação de contas referente ao Convênio e, de acordo com a própria legislação que regulamenta os Convênios na Administração Pública Federal, a prestação de contas deveria ser apresentada até o dia 1/3/2004; (peça 69, p. 6)
	d) o artigo 397 do Código Civil, que coloca em mora o devedor no momento do inadimplemento de obrigação, legal ou pactuada, somente a partir de 1/3/2004 o recorrente estaria supostamente em mora; (peça 69, p. 6)
	e) este foi o mesmo raciocínio inicial do Ministério Público atuante junto a este Tribunal de Contas da União, atuando como fiscal da lei, ao considerar a aplicação dos juros de mora tão somente a partir de 1/3/2004; (peça 69, p. 6)
	f) se o pretenso descumprimento e, consequentemente, a mora na obrigação do ora recorrente teria ocorrido em 1/3/2004, é no mínimo gravemente prejudicial à situação do recorrente - até mesmo para não se considerar totalmente ilegal - a fixação do termo a quo dos juros moratórios, vinculado à data do repasse dos valores à municipalidade de Ribeirão Preto; (peça 69, p. 6)
	g) é nesse sentido o entendimento proferido pelos Tribunais Regionais Federais (TRF-4, Apelação Cível 281856); (peça 69, p. 6-7)
	h) da maneira como foi redigido o acórdão e calculados tais juros de mora, o recorrente será gravemente prejudicado, posto que errôneos os critérios para aferição de tais cálculos. (peça 69, p. 7)
	Análise
6.2.	Essencialmente, o Recorrente pretende que o termo a quo para incidência de juros e correção monetária seja 1/3/2004, data prevista para a prestação de contas; e não as datas em que os recursos foram disponibilizados, como consta no acórdão recorrido. 
6.3. 	Inicialmente, ressalte-se que, ao contrário do alegado, o MPTCU não defendeu que o termo a quo para incidência de juros e correção monetária deveria ser 1/3/2004. A manifestação do Parque foi no seguinte sentido (peça 4, p. 28):
No que se refere à data de origem do débito, o Ministério Público propôs, em sua intervenção anterior no feito, a adoção do dia 16.2.2004, data relativa ao último repasse, por entender que não se poderia precisar a exata correspondência entre as despesas glosadas e os respectivos repasses, feito em parcelas mensais. Com este raciocínio, pretendeu o Ministério Público evitar uma possível cobrança indevida a título de atualização monetária, multa e juros (fl. 422, v.4). 
Nesta feita, a Secex/SP propõe a condenação do Sr. Gilberto com base na data aproximada de repasse de cada parcela do débito de R$ 533.360, 00, conforme quadro à fl. 490, v. 2, transcrito no item 1 supra (ordens bancárias: fls. 22/9, v.p., extratos: fs. 122/54, v.p.).
Como as parcelas propostas estão contidas, em termos de valor e data, no oficio citatório encaminhado ao responsável (fls. 429/30, v.2), mostra-se adequada a proposição da Secex/SP.
6.4.	Ainda sobre esse ponto, tem-se que “o primeiro dia em que começa a correr o prazo (dies a quo) para a atualização de débito apurado em convênio é a data em que ocorreu o crédito dos valores transferidos nas contas específicas (...)” (Acórdão 4415/2010-2ª Câmara) e que, “como o primeiro dia em que começa a correr o prazo (dies a quo) para o início de atualização das parcelas de débito, devem ser adotadas, nos casos em que se detém tal informação, as datas de crédito das ordens bancárias na conta da prefeitura”. (Acórdão 1081/2010-2ª Câmara)
6.5.	Com efeito, a partir do instante em que os recursos são disponibilizados, nasce para o gestor a obrigação de bem geri-los, de modo que, não comprovada a boa e regular gestão dos recursos, nada mais natural que a atualização do débito se dê a partir da disponibilização dos recursos. 
6.6.	Ante o exposto, deve-se rejeitar a alegação.
7. 	Prescrição intercorrente
7.1. 	O recorrente alega ocorrência de prescrição intercorrente, aduzindo nesse sentido que:
	a) o decurso do prazo de três anos que caracteriza a prescrição intercorrente, causa de nulidade absoluta do processo administrativo sancionador; (peça 69, p. 9)
	b) meros despachos não são atos capazes de conferir efetivo andamento à marcha processual; (peça 69, p. 9)
	c) a mera circulação dos autos administrativos entre os diversos setores do Tribunal de Contas da União, igualmente, não tem o condão de afastar a prescrição intercorrente, que se mostra imperativa quando houver paralisação da marcha processual por tempo superior ao prazo prescricional; (peça 69, p. 9)
	d) no caso vertente, entre os dias 12/11/2010 e 14/11/2013, o procedimento ficou tramitando sem qualquer decisão efetiva por parte deste Tribunal, não podendo se caracterizar efetivo andamento da citada Tomada de Contas Especial; (peça 69, p. 9)
	e) mesmo após tal data, ocorreram alguns despachos de mero expediente, insignificantes para elidir a ocorrência da prescrição intercorrente; (peça 69, p. 9)
	f) a lei que rege o processo administrativo federal estabelece importante disposição a ser observada, pois, caso contrário, não haveria limite temporal para a duração do trâmite administrativo; (peça 69, p. 9)
	g) sem a devida limitaçãotemporal, ou seja, sem a observância dos três anos sem andamento relevante ou sem decisões que impulsionem o feito, o mandamento constitucional que estabelece uma duração razoável do processo, seja ele administrativo ou judicial, não teria efeito algum; (peça 69, p. 10)
	h) a presente Tomada de Contas Especial não teve uma duração razoável; (peça 69, p. 10)
	i) assim, deve-se reconhece a prescrição intercorrente, causa de nulidade absoluta da presente Tomada de Contas Especial, determinando-se, via de consequência, a anulação do débito dela oriundo. (peça 69, p. 10)
	Análise
7.2.	A jurisprudência deste Tribunal se orienta no sentido de que “os processos de controle externo não se sujeitam à prescrição intercorrente do art. 1º, § 1º, da Lei 9.873/99” (Acórdão 7146/2015 - Primeira Câmara) e de que “não se aplica a prescrição intercorrente estabelecida na Lei 9.783/1999 à atividade de controle exercida pelo TCU, uma vez que não enquadrada como exercício do poder de polícia do Estado” (Acórdão 5533/2014 - Segunda Câmara). 
7.3.	Assim, deve-se rejeitar a alegação. 
8. 	Responsabilidade do prefeito sucessor – aplicabilidade da Súmula-TCU n. 230
8.1. 	O recorrente alega que no caso vertente seria aplicável a Súmula-TCU n. 230, aduzindo para tanto que: 
	a) não obstante a jurisprudência deste Tribunal entenda que a responsabilidade solidária somente ocorre para o prefeito sucessor caso o prazo para término de prestação de contas finalize em seu mandato, o caso ora debatido é considerado sui generis, razão pela qual acredita-se na aplicabilidade da mencionada súmula; (peça 69, p. 11)
	b) embora o prazo para prestação de contas tenha finalizado na gestão do ora recorrente, a suposta omissão ocorreu até meados da gestão do prefeito posterior, tendo sido este notificado algumas vezes para efetuar a prestação de contas; (peça 69, p. 11)
	c) se houve notificação para apresentação da prestação de contas e este quedou-se inerte, houve visível omissão e, consequentemente corresponsabilidade; (peça 69, p. 11)
	d) o prefeito sucessor teria a obrigação de, uma vez recebida a notificação, prestar as contas que supostamente até aquele momento não haviam sido prestadas; (peça 69, p. 11)
	e) se o prefeito sucessor recebeu a notificação e não o fez, não demonstrou preocupação e boa-fé com a coisa pública e, como tal, deveria também ser responsabilizado, como corresponsável necessário; (peça 69, p. 11)
	f) transporta-se para o presente procedimento o espírito exarado pelo Código de Processo Civil, no que tange à imprescindibilidade, para a regularidade de procedimento, ainda que na seara não judicial, de que todos os corresponsáveis necessários - no processo civil nominados de litisconsortes passivos necessários - sejam regularmente responsabilizados; (peça 69, p. 11)
	g) a não sujeição destes à regular responsabilização provoca visível desrespeito a princípios essenciais do ordenamento jurídico pátrio, a citar, especialmente, o princípio da isonomia e do devido processo legal. (peça 69, p. 11)
	h) o desrespeito a tais princípios é causa ensejadora de nulidade absoluta do processo, de caráter insanável, o que leva por terra todo o decidido nos autos da Tomada de Contas Especial;
	i) a revisão dos autos neste aspecto se faz fundamental, sob pena de posterior declaração de nulidade de todo o procedimento de Tomada de Contas, pelo Poder Judiciário.
	Análise
8.2.	Nesse ponto, o intuito do recorrente parece ser tão somente estender a responsabilidade ao prefeito sucessor, sem nada aduzir em seu próprio favor ou no intuito de afastar sua responsabilidade, limitando-se a atribuir responsabilidade solidária prefeito sucessor, embora reconheça que o prazo final para a prestação de contas ocorreu dentro do seu próprio mandato. 
8.3.	Sobre este ponto, o Relator a quo assim se manifestou (peça 44, p. 1):
9. Muito embora fosse de esperar uma postura mais solícita do seu sucessor no atendimento às notificações expedidas pelo órgão concedente, não se vislumbraram vícios de conduta que justificassem a sua manutenção na relação processual, valendo lembrar que, mesmo com atraso, foi pelas mãos desse gestor que a prestação de contas dos valores do programa foi juntada ao processo. 
10. Também não vejo que tenha faltado equidade na decisão contestada. Quem estava à frente da administração municipal à época do vencimento do prazo para apresentação da prestação de contas era o recorrente, não o prefeito sucessor, que tampouco participou da gestão das quantias impugnadas. Nesse contexto, os critérios de justiça aplicados pareceram-me condizentes com a situação concreta de cada gestor, ponderando-se devidamente aspectos fáticos e jurídicos na avaliação das condutas e das responsabilidades de cada um.
8.4.	Com efeito, da própria manifestação do Recorrente é possível perceber que o caso não se subsume ao disposto na Súmula-TCU n. 230, baseando-se a alegação no simples fato de o prefeito sucessor haver sido notificado para prestar contas. A alegação tampouco possui fundamento fático, legal ou jurisprudencial, não havendo, portanto, o perigo de declaração de nulidade do feito. 
8.5.	Assim, considerando que o caso vertente não se subsume à Súmula-TCU n. 230 e que a alegação não possui fundamento legal, deve-se rejeitá-la. 
9. 	Contradição – conta no Banco Santander como conta específica – impossibilidade de apresentar extratos bancários
9.1. 	O recorrente alega contradição ao não se considerar a conta no Banco Santander como conta específica e ao mesmo tempo requerer os extratos para comprovação das despesas, sendo que, na condição de ex-gestor municipal, não tem mais acessos aos extratos da conta. Nesse sentido, aduz que: 
	a) primeiro, o acórdão entende que não houve o regular cumprimento do objeto do convênio, uma vez que a movimentação financeira não teria sido realizada conforme a legislação determina, em “conta bancária específica”, porque havia sido transferida a quantia repassada pelo Convênio do Banco do Brasil para o Banco Banespa Santander; (peça 69, p. 12)
	b) em seguida, o mesmo acórdão afirma que o argumento de que o recorrente não teria tido acesso aos extratos bancários da citada conta do Santander-Banespa para prestação de contas a fim de demonstrar a regularidade da aplicação dos valores repassados pelo Convênio não seria verdadeiro, uma vez que, segundo o relator do acórdão, é obrigatório ao banco oficial fornecer os documentos e extratos necessários para prestação de contas de Convênio; (peça 69, p. 12)
	c) há aqui uma contradição, pois no mesmo acórdão não se aceita a conta do banco Santander-Banespa para fins de ser a conta específica determinada pela legislação, mas ao mesmo tempo diz que, em se tratando de prestação de contas de Convênio, o banco deverá prestar as informações da conta específica para permitir tal prestação; (peça 69, p. 12)
	d) a legislação atinente aos Convênios estabelece que a obrigação de prestação de informações e fornecimento de extratos ocorre em relação à conta criada especificadamente para movimentação do convênio; (peça 69, p. 13)
	e) de duas, uma: ou a conta corrente deve ser considerada como específica - e, desta maneira, correta para a finalidade pretendida - ou a instituição financeira não teria obrigação de fornecer ao ora recorrente os extratos e informações sobre a movimentação bancária - considerando que este já não era mais o Chefe do Poder Executivo - perfazendo tal fato, portanto, em caso fortuito, alheio e superior à capacidade do recorrente, o que torna justificativa absoluta e eficaz para não ter conseguido, quando da defesa da presente Tomada de Contas Especiais, apresentar a justificativa dos realizados; (peça 69, p. 13)
	f) as duas hipóteses, conjuntamente, são impossíveis de coexistirem; (peça 69, p. 13)
	g) a legislação que regulamenta os Convênios é específica de que se deve manter a movimentação em conta bancária específica, não descendo a minúcias quanto à entidade bancária ou, se esta conta bancária somente poderia ser a conta originária naqual se depositou os valores; (peça 69, p. 13)
	h) ao contrário, o que se nota é que a exigência de conta bancária específica deve vir coadunada com a regra da economicidade para a Administração Pública, bem como com a regra da melhor valia para o órgão público; (peça 69, p. 13)
	i) a concentração de todos os trabalhos financeiros da municipalidade em contas correntes do Banco Santander-Banespa centralizaria os trabalhos da municipalidade, causando-lhe maior economia e vantagens; (peça 69, p. 13)
	j) a conta corrente do Banco Santander Banespa é conta corrente exclusiva, aberta e utilizada tão somente para movimentar as finanças referentes ao Convênio; (peça 69, p. 14)
	k) em virtude do decurso do tempo (o mandato do ora recorrente terminou em 2004 e a citação para defesa foi recebida anos depois) já era impossível ao recorrente obter vista aos documentos que comprovavam a regular movimentação financeira na conta exclusiva, então destinada ao Convênio; (peça 69, p. 14)
	l) é impossível, decorridos vários anos desde a saída do recorrente da chefia do Poder Executivo, que este tenha acesso a conta corrente e outros documentos protegidos por sigilo bancário e fiscal em nome da Municipalidade. (peça 69, p. 14)
	Análise
9.2.	Não há a alegada contradição. A conta específica do convênio é a conta do Banco do Brasil para a qual foram transferidos os recursos. O fato de ser solicitada a movimentação da conta bancária do Banco Santander-Banespa para a qual os recursos foram posteriormente transferidos não transforma essa última em conta específica do convênio.
9.3.	A irregularidade está bem especificada no relatório que acompanha a decisão recorrida (peça 43, p. 2):
- apesar de algumas totalizações inscritas nas relações de famílias que teriam sido beneficiadas no programa coincidirem com saques realizados, no respectivo mês, não constam nos extratos da conta específica mantida no Banco do Brasil, individualmente, as quantias para cada família beneficiada, indicando que os pagamentos, se ocorreram, não foram oriundos dessa conta; 
- segundo o responsável, era o Banco Santander “quem efetivamente efetuava os pagamentos aos beneficiários da referida bolsa (Peti)”, mas não há nos autos extratos da conta-corrente mantida nesse banco (c/c 652470) que possam comprovar os supostos pagamentos, a partir dela, aos beneficiários das bolsas do programa, o que impede a verificação da autenticidade das despesas feitas com os repasses do ministério; 
- os depósitos efetuados em conta de outro banco configuram descumprimento patente do art. 5º da Portaria 27/2003, que obrigava a manutenção dos recursos em conta específica, podendo ser movimentados somente mediante cheque nominativo ao credor ou ordem bancária;
- ficou, portanto, sem explicação a destinação de R$ 533.360,00, depositados na conta-corrente 652470, do Banespa, valor oriundo da conta única do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, de Ribeirão Preto, declarado na prestação de contas como utilizado para pagamento de bolsas do programa;
9.4.	Tem-se, portanto, que os recursos foram transferidos da conta específica, mantida no Banco do Brasil, para conta bancária do município, mantida no Banco Santander-Banespa. Tendo o ora recorrente alegado que os pagamentos às famílias beneficiárias se faziam desde esta segunda conta, tal alegação não pode ser comprovada, ante a ausência de extratos bancários, redundando no débito imputado ao ora recorrente. Como o recorrente somente requereu acesso ao extrato bancário da conta quando já não era gestor municipal, foi-lhe negado tal acesso. 
9.5.	 Ora, diante desse contexto, reafirme-se o consignado pelo Relator a quo aduziu (peça 44, p. 1): 
11. Foi na gestão do ora recorrente que, sem motivação aparente, recursos da conta específica do programa foram sacados e depositados em outra conta, sob o risco de não se conseguir comprovar a aplicação das importâncias movimentadas. Não pode agora o responsável simplesmente alegar impossibilidade de acesso às operações feitas na conta destinatária das transferências.
9.6.	Com efeito, a tentativa de obtenção de extratos bancários da conta bancária mantida no Banco Santander-Banespa objetivava comprovar a regular aplicação dos recursos. Se não foi possível obter tais extratos, isso se deveu ao fato de o ora recorrente haver anteriormente transferido irregularmente os recursos para tal conta, não podendo ele agora alegar sua atuação irregular em benefício próprio.
9.7.	Ante o exposto, deve-se rejeitar a alegação.
10. Impossibilidade de prestar de contas
10.1. 	O recorrente alega que houve tão somente atraso na prestação de contas, irregularidade para a qual não teria contribuído. Nesse sentido, aduz que: 
	a) o que houve foi tão somente o atraso na prestação de contas do respectivo convênio, o que ocorreu sem qualquer culpa ou atribuição de responsabilidade ao recorrente, uma vez que a municipalidade de Ribeirão Preto detinha à época equipe responsável, sem ingerência da chefia do Poder Executivo, uma vez que eram todos os servidores concursados e estavam ali desde antes da assunção do mandato-tampão por parte do recorrente; (peça 69, p. 14)
	b) não há que se falar, portanto, em culpa in vigilando ou in eligendo por parte do recorrente, já que este não tinha ingerência sobre as nomeações da equipe responsável pela análise e prestação de contas dos Convênios, tampouco detinha conhecimento suficiente para a análise dos termos apresentados a título de prestação de contas, visto que, como detentor de mandato político, inexistia obrigação de conhecimentos técnicos sobre a questão; (peça 69, p. 15)
	c) o ora recorrente não foi responsabilizado em quaisquer outras searas, desde a seara da improbidade administrativa, cível ou criminal; (peça 69, p. 15)
	d) ao contrário, ficou cristalino que inocorreu em má-fé, e, também, que não se demonstrou a existência de prejuízo, tampouco da não aplicação das verbas repassadas; (peça 69, p. 15)
	f) demonstrou-se tão somente a ausência de condições materiais para apresentar a correta prestação das contas, quando citado para tal, bem como a impossibilidade de contar com os recursos humanos adequados para apresentação da citada comprovação de regularidade. (peça 69, p. 15)
	Análise
10.2.	Conforme anotado no voto condutor da decisão, “o recorrente tenta também eximir-se da responsabilidade pela prestação de contas, transferindo-a para os servidores públicos da Prefeitura, quando, conforme previsto nos instrumentos que regulam os repasses em comento, é ele quem responde pela regular aplicação de tais valores e tinha o dever de deles prestar contas” (peça 44, p. 1).
10.3. 	Com efeito, a tomada de contas especial foi inicialmente instaurada devido à omissão no dever de prestar contas, uma vez que o prazo de prestação de contas expirou em 1/3/2004 e a primeira tentativa de prestação de contas foi feita em novembro de 2005, a qual não foi aceita, sendo a documentação fora devolvida pelo ministério, por não ter sido apresentada na forma devida e por conter informações de vários exercícios (peça 1, p. 107). 
10.4. 	O recorrente, na condição de prefeito municipal no período de 2003 a 2004, era o responsável pela gestão dos recursos e estava no cargo na data em que deveria apresentar a prestação de contas (1/3/2004). Na condição de Prefeito, tinha a obrigação de acompanhar, controlar e fiscalizar a execução dos atos de seus subordinados. Não o fazendo, atrai para si a culpa in vigilando. 
10.5.	A delegação de competência não implica a delegação de responsabilidade, cabendo ao recorrente a fiscalização dos atos de seus subordinados, pois o gestor não pode isentar-se da responsabilidade pelo exercício do trabalho de seus subordinados. 
10.6.	Não há nos autos documentos que comprovem a adoção de medidas cabíveis, inclusive judiciais, contra os servidores que, segundo o recorrente, não cumpriram o dever funcional da juntada de documentação probatória da aplicação correta dos recursos. 
10.7.	Ante o exposto, deve-se rejeitar a alegação.
11.Acórdão judicial reconhecendo “a prescrição da pretensão punitiva estatal em relação aos delitos do artigo 1º, incisos IV e VII do Decreto-Lei n. 201/67”
11.1. 	O recorrente alega 
	a) a ação penal foi instaurada para verificação da correta prestação de contas que também é analisada na presente Tomada de Contas Especial, decorrente da aplicação de verbas transferidas pela União para a execução de serviços assistenciais de ação continuada do Programa de Erradicação o Trabalho Infantil – PETI - Bolsa e jornada Ampliada; (peça 79, p. 2)
	b) reconheceu-se no acórdão a prescrição da pretensão punitiva estatal do delito do artigo 1º, inciso IV, do Decreto-Lei 201/67, declarando-se extinta a punibilidade e conferindo interpretação extensiva do artigo 110, § 1º, segunda figura, do Código Penal, reconheceu a prescrição na modalidade retroativa, declarando extinta a punibilidade do delito do artigo 1º, inciso VII, do mesmo diploma legal; (peça 79, p. 2)
	c) requer sejam considerados os documentos ora juntados na decisão final do presente recurso de revisão, julgando-se o citado recurso como provido, excluindo-se, portanto, qualquer responsabilidade pessoal do peticionante, com a devida quitação do responsável. (peça 79, p. 2)
	Análise
11.2.	Sobre este ponto, tem-se que “não obsta a atuação do TCU o trâmite no âmbito do Poder Judiciário de ação penal ou civil versando sobre o mesmo assunto e tendo por objeto idênticas responsabilidades, dado o princípio da independência das instâncias” (Acórdão 10042/2015-2ª Câmara). Ademais, “o juízo administrativo só se vincula ao penal quando neste último é afirmada, categoricamente, a inexistência do fato ou que o acusado não foi o autor do ilícito” (Acórdão 30/2016 - Plenário). Assim, uma vez que a decisão foi pelo reconhecimento da prescrição, não vincula o juízo deste Tribunal. 
11.3.	Além disso, tem-se que, embora o objeto seja o mesmo, o juízo promovido pelo Poder Judiciário difere totalmente daquele promovido por este Tribunal. Naquele, avaliou-se a possibilidade de aplicação das sanções previstas no artigo 1º, incisos IV e VII, do Decreto-Lei 201/1967, enquanto neste processo avalia-se a necessidade de recomposição do erário e o responsável por tal recomposição. Nesse sentido, a prescrição reconhecida no processo judicial de modo algum socorre o recorrente no presente processo. 
11.4.	Com efeito, no tocante ao débito, este Tribunal decidiu “deixar assente no âmbito desta Corte que o art. 37 da Constituição Federal conduz ao entendimento de que as ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis” (Acórdão 2709/2008-Plenário). Este entendimento foi consolidado na Súmula-TCU n. 282, segundo a qual “as ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis”.
11.5.	Com relação à multa, tem-se que a corrente majoritária deste Tribunal é pela aplicação do prazo prescricional de dez anos previsto no Código Civil. Como as irregularidades ocorreram em 2003/2004, a pretensão somente estaria prescrita em 2013. Com a citação do recorrente em 23/7/2009 (cf. peça 2, p. 233-234 e 235), interrompeu-se o prazo prescricional (cf. artigo 219, caput, do Código de Processo Civil), reiniciando nova contagem, que somente se encerraria em 23/7/2019. Como a aplicação da multa ocorreu em 9/11/2010 (data do acórdão – peça 32-33), conclui-se que não se operou a prescrição da pretensão punitiva.
11.6.	Ante o exposto, tem-se que o acórdão judicial reconhecendo a prescrição no âmbito criminal não tem repercussão no presente processo administrativo, onde não se operou a prescrição. 
CONCLUSÃO
12. Da análise, conclui-se que:
	a) ao contrário do suposto pelo Recorrente, o crédito não é abatido do valor atualizado do débito na data atual, mas do saldo devedor na data da ocorrência da devolução dos recursos, no caso, 19/8/2005 (item 5);
	b) não procede a alegação de erro na fixação do termo a quo a partir do qual incidirá juros e correção da condenação, que deve ser a data em que os recursos ficaram disponíveis ao gestor (item 6);
	c) os processos de controle externo não se sujeitam à prescrição intercorrente do art. 1º, § 1º, da Lei 9.873/99 (item 7); 
	d) o caso não se subsume ao disposto na Súmula-TCU n. 230, não havendo fundamento fático, legal ou jurisprudencial para responsabilizar o prefeito sucessor (item 8);
	e) não há a alegada contradição, porquanto a apresentação dos extratos bancários objetivada comprovar a alegação do recorrente de que os pagamentos foram feitos com recursos oriundos da conta bancária mantida no Banco Santander-Banespa, não podendo o recorrente alegar ausência de acesso à conta, quando os recursos foram irregularmente transferidos por ele para tal conta (item 9);
	f) a obrigação de prestar contas era do ora recorrente, não lhe cabendo alegar que não contribuiu para a ausência de prestação de contas (item 10); 
	g) acórdão judicial reconhecendo a prescrição no âmbito criminal não tem repercussão no presente processo administrativo, uma vez que o juízo administrativo só se vincula ao penal quando neste último é afirmada, categoricamente, a inexistência do fato ou que o acusado não foi o autor do ilícito (item 11).
12.1. 	Ante essas conclusões, deve-se negar provimento ao recurso. 
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
13. Ante o exposto, submete-se o assunto à consideração superior, propondo-se, com fundamento nos artigos 32, inciso I, e 33 da Lei 8.443/1992:
	a) conhecer do recurso e, no mérito, negar-lhe provimento;
	b) dar ciência da decisão ao recorrente e demais interessados.”
É o Relatório.
VOTO
Cuidam os autos de Recurso de Revisão interposto por Gilberto Sidnei Maggioni (peça 69, 79 e 80) contra o Acórdão 7347/2010-1ª Câmara (peça 4, p. 32-33) – corrigida, por erro material, pelo Acórdão 8029/2013-1ª Câmara (peça 45), que apresentou o seguinte teor:
9.1. acatar as alegações de defesa e excluir do rol de responsáveis o Sr. Welson Gasparini e o município de Ribeirão Preto/SP;
9.2. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Gilberto Sidnei Maggioni;
9.3. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “a” e “c”, 19, caput, e 23, da Lei nº 8.443/1992, julgar irregulares as contas do Sr. Gilberto Sidnei Maggioni, e condená-lo ao pagamento das quantias a seguir indicadas, [abatidas da importância de R$ 62.956,56 (sessenta e dois mil, novecentos e cinquenta e seis reais e cinquenta e seis centavos), na data de 19/08/2005 – incluído pelo Acórdão 8029/2013-1ª Câmara], com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Fundo Nacional de Assistência Social – FNAS, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir das datas a seguir especificadas, até a do recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:
Datas de Referência
Valores (R$)
3/4/2003
32.780,00
3/4/2003
57.120,00
29/4/2003
57.120,00
6/8/2003
44.300,00
6/8/2003
49.880,00
6/8/2003
43.000,00
29/8/2003
42.240,00
13/10/2003
42.600,00
12/12/2003
42.600,00
12/12/2003
40.760,00
2/1/2004
41.360,00
19/2/2004
39.600,00
9.3. com fundamento no art. 57 da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 267 do Regimento Interno, aplicar ao Sr. Gilberto Sidnei Maggioni a multa no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea "a" do Regimento Interno) o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.5. autorizar a cobrança judicial da dívida, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, caso não atendida a notificação;
9.6. com fundamento no art. 16, § 3º, da Lei nº 8.443/1992, dar ciênciadeste Acórdão, acompanhado do Relatório e Voto que o fundamentam, à Procuradoria da República no Estado de São Paulo.
	Preliminarmente, cabe ratificar o conhecimento do recurso realizado pelo então Relator (peça 77) por estarem preenchidos os requisitos de admissibilidade previstos nos artigos 32, inciso III, e 35, inciso III, da Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União e no art. 288 do Regimento Interno.
	No mérito, concordo com as conclusões presentes nos pareceres uniformes da Secretaria de Recursos (Serur) (peças 81-83), aquiescidas pelo MPTCU (peça 84), incorporando-as às minhas razões de decidir, sem prejuízo dos comentários que farei a seguir.
	Em síntese, o recorrente argumenta que (i) não houve aplicação de juros e correção monetária ao abatimento do débito imputado; (ii) a fixação do termo a quo para a contagem dos juros e multa da condenação foi estabelecida de forma incorreta; (iii) ocorreu prescrição intercorrente; (iv) não foi reconhecida a corresponsabilidade do prefeito sucessor – aplicabilidade da Súmula-TCU n. 230; (v) existiu contradição na decisão recorrida – conta no Banco Santander como conta específica – impossibilidade de apresentar extratos bancários; e (vi) era impossível para ele prestar contas.
	O argumento de que não houve aplicação de juros e correção monetária ao abatimento do débito imputado não merece ser acolhido, tendo em vista que o próprio acórdão recorrido indicou, em seu item 9.3, 19/8/2005 como data da ocorrência do abatimento de R$ 62.956,56, em conformidade com o decidido no Acórdão 8029/2013-1ª Câmara.
	Também não merece ser provida a alegação de erro na fixação do termo a quo para a contagem dos juros de mora e atualização monetária. As conclusões da unidade técnica aplicam-se corretamente tanto à atualização monetária do débito quanto aos juros incidentes, conforme estabelecido no art. 210 do Regimento Interno do TCU, vez que o termo inicial em se tratando de convênio é a data do crédito do repasse, de forma a preservar o valor real da moeda a partir do momento em que nasce a obrigação do gestor do convenente bem gerir os recursos na forma da lei e dos regulamentos aplicáveis (Acórdão 4612/2010-Segunda Câmara; Acórdão 3508/2010-Primeira Câmara).
	 Em relação à prescrição intercorrente, não merecem reparos as conclusões da unidade técnica no sentido de que “A jurisprudência deste Tribunal se orienta no sentido de ‘que os processos de controle externo não se sujeitam à prescrição intercorrente do art. 1º, § 1º, da Lei 9.873/99’ (Acórdão 7146/2015 - Primeira Câmara) e de que ‘não se aplica a prescrição intercorrente estabelecida na Lei 9.783/1999 à atividade de controle exercida pelo TCU, uma vez que não enquadrada como exercício do poder de polícia do Estado’ (Acórdão 5533/2014 - Segunda Câmara)”.
	Também não assiste razão ao recorrente quando tenta inserir o prefeito sucessor como corresponsável do débito imputado. É cediço que a Súmula 230 do TCU só deve ser aplicada quando, apesar de os recursos terem sido transferidos e aplicados na gestão do prefeito antecessor, o prazo para apresentação da prestação de contas tenha se encerrado na gestão do sucessor (Acórdão 503/2016-Segunda Câmara). No caso em comento, a própria peça recursal reconhece que o prazo final para prestação de contas do convênio ocorreu na gestão do recorrente. No mais, conforme consignado no relatório precedente, a “primeira tentativa de prestação de contas foi feita em novembro de 2005”, ou seja, após o fim do mandato do recorrente.
	Os quinto e sexto argumentos que tratam da impossibilidade de prestar contas também não devem ser acolhidos. Ora, a transferência dos recursos para conta bancária no Banco Santander-Banespa, ao invés de geri-los na conta específica do convênio como determina a lei e é de se esperar de um gestor prudente, foi objeto de decisão do próprio recorrente que, assumindo os riscos da utilização de conta paralela, não pode agora ser beneficiado pela dificuldade de acessar os extratos dessa conta, especialmente, quando não consegue comprovar a regular aplicação dos recursos transferidos por outros meios. Ademais, como bem assinalado pela Serur “Na condição de Prefeito, tinha a obrigação de acompanhar, controlar e fiscalizar a execução dos atos de seus subordinados. Não o fazendo, atrai para si a culpa in vigilando.”, não podendo, portanto, isentar-se da responsabilidade pelo exercício do trabalho de seus subordinados.
	O derradeiro argumento de que há acórdão judicial reconhecendo “a prescrição da pretensão punitiva estatal em relação aos delitos do artigo 1º, incisos IV e VII do Decreto-Lei n. 201/67” também não merece guarita, tendo em vista que a independência das instâncias só deixa de prevalecer quando há decisão proferida em ação de natureza criminal que declara a inexistência de fato ou nega a sua autoria, não se aproveitando, por conseguinte, a sentença criminal que reconhece a prescrição para efeitos penais. Outrossim, o débito é imprescritível nos termos da Súmula-TCU n. 282, segundo a qual “as ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis” e a pretensão punitiva do TCU subordina-se ao prazo geral de prescrição indicado no art. 205 da Lei 10.406/2002 (Código Civil), dez anos, interrompendo-se pela citação, motivos pelos quais não ocorreu prescrição neste processo
Ante o exposto, não procedem as alegações do recorrente, razão pela qual voto por que este Tribunal adote a minuta de Acórdão que trago à apreciação deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 3 de maio de 2017.
AROLDO CEDRAZ 
Relator
ACÓRDÃO Nº 851/2017 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 001.378/2008-0. 
1.1. Apensos: 019.105/2011-8; 014.362/2014-7; 014.363/2014-3
2. Grupo I – Classe de Assunto: I Recurso de revisão(Tomada de Contas Especial) 
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Interessado: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (05.526.783/0001-65)
3.2. Responsáveis: Gilberto Sidnei Maggioni (207.873.328-87); Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto - SP (56.024.581/0001-56); Welson Gasparini (074.342.198-15)
3.3. Recorrente: Gilberto Sidnei Maggioni (207.873.328-87).
4. Órgão/Entidade: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate À Fome (então Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário).
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (Serur); Secretaria de Controle Externo no Estado de São Paulo (Secex-SP).
8. Representação legal:
8.1. Brasil do Pinhal Pereira Salomão (21348/OAB-SP) e outros, representando Gilberto Sidnei Maggioni. 
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revisão interposto por Gilberto Sidnei Maggioni contra o Acórdão 7347/2010-1ª Câmara – corrigido, por erro material, pelo Acórdão 8029/2013-1ª Câmara (peça 45),
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em: 
9.1. conhecer do recurso de revisão interposto por Gilberto Sidnei Maggioni e, no mérito, negar-lhe provimento; 
9.2. dar conhecimento deste acórdão, bem como do relatório e voto que o fundamentam, ao recorrente e aos demais interessados.
10. Ata n° 15/2017 – Plenário.
11. Data da Sessão: 3/5/2017 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0851-15/17-P.
13. Especificação do quorum: 
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes, Aroldo Cedraz (Relator), José Múcio Monteiro, Bruno Dantas e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos convocados: Augusto Sherman Cavalcanti e Marcos Bemquerer Costa.
13.3. Ministro-Substituto presente: André Luís de Carvalho.
(Assinado Eletronicamente)
RAIMUNDO CARREIRO
(Assinado Eletronicamente)
AROLDO CEDRAZ
Presidente
Relator
Fui presente:(Assinado Eletronicamente)
PAULO SOARES BUGARIN
Procurador-Geral

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