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Caso concreto aula 5 Prática simulada I

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
MÁRIO, brasileiro, solteiro, profissão, portador da carteira de identidade nº, expedida pelo , inscrita no CPF/MF sob nº, residente e domiciliado à rua , n°, bairro, Cidade, Estado, por seu advogado, com endereço profissional na rua, n°, bairro, Cidade, Estado, para fins do artigo 39, I do Código de Processo Civil, vem a este juízo, pelo procedimento comum propor
AÇÃO DECLARATÓRIA DE GÊNERO
Pelas razões de fato e direito que passa a expor
DA GRATUIDADE 
		Inicialmente, afirma nos termos da Lei nº 1.060/50 com as alterações da Lei 7.510/86, ser pessoa juridicamente pobre, sem condição de arcar com as custas judiciais e honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento ou de sua família, motivo pelo qual faz jus a gratuidade de justiça e à assistência gratuita integral.
DO SEGREDO DE JUSTIÇA
	Em nome da intimidade do AUTOR, pleitea-se o segredo de justiça com base no Artigo 189 incisos I e III do Novo Código de Processo Civil, em razão de interesse público ou social e da existência de dados protegidos pelo Direito Constitucional à intimidade. 
DOS FATOS 
	O AUTOR nasceu geneticamente sob o sexo masculino. o AUTOR tem 40 anos, porém desde seus 16 anos de idade não se sentia confortável com sua natureza biológica, o que o levou nos últimos anos a realizar várias cirurgias plásticas e estéticas de caráter tipicamente feminino.
	O Autor sentia-se muito discriminado pela sociedade, acreditando ter nascido em um corpo que não correspondia ao gênero por ele exteriorizado, social, espiritual, emocional e sexual.
	O AUTOR há alguns meses realizou a cirurgia de transgenitalização e após a cirurgia requereu junto ao Registro Civil de Pessoas Naturais a respectiva alteração , no entanto , o pedido lhe fora negado pelo cartório.
DOS FUNDAMENTOS
		O direito do AUTOR encontra-se amparado pelo direito da personalidade e da Dignidade da pessoas humana, princípios fundamentais e norteadores da Constituição Federal descrito no artigo primeiro inciso terceiro corroborado pelo inciso terceiro e décimo do artigo quinto, onde a Carta Magna preceitua que ninguém será submetido a tratamento degradante e que são direitos invioláveis da pessoa humana, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
	Neste sentido a Constituição coloca a dignidade do ser humano como um dos fundamentos da República, o que possibilita o livre desdobramento da personalidade, “garantindo ao transexual o direito à cidadania e a posição de sujeito de direitos no seio da sociedade”.
	Ainda nessa direção, a Ilustre doutrinadora Maria Berenice Dias assim enfatiza:
“A regra maior da Constituição Pátria é o respeito à dignidade humana verdadeira pedra de toque de todo o sistema jurídico nacional. Este valor implica adotar os princípios da igualdade e isonomia da potencialidade transformadora na configuração de todas as relações jurídicas, sendo que qualquer discriminação baseada na orientação sexual é um desrespeito à dignidade da pessoa humana e infringe regra expressa da Constituição Federal que garante a inviolabilidade da intimidade e da vida privada” (DIAS, 2001, P.71-72)
	
	Importa salientar que a cirurgia de transgenitalização já é uma realidade, inclusive com a aprovação do Conselho Federal de Medicina. Uma vez realizada a cirurgia, a mudança do sexo e do prenome no Registro Civil são consequências lógicas.
	 Sob este fundamento, muitos julgados já foram prolatados:
	O STJ em recurso especial, REsp 737993 MG 2005/0048606-4, tem posição favorável a situação semelhante ao caso em tela, como segue:
REGISTRO PÚBLICO. MUDANÇA DE SEXO. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME NA VIA DO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SUMULA N. 211/STJ. REGISTRO CIVIL. ALTERAÇÃO DO PRENOME E DO SEXO. DECISÃO JUDICIAL. AVERBAÇÃO. LIVRO CARTORÁRIO.
1. Refoge da competência outorgada ao Superior Tribunal de Justiça apreciar, em sede de recurso especial, a interpretação de normas e princípios de natureza constitucional.
2. Aplica-se o óbice previsto na Súmula n. 211/STJ quando a questão suscitada no recurso especial, não obstante a oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pela Corte a quo.
3. O acesso à via excepcional, nos casos em que o Tribunal a quo, a despeito da oposição de embargos de declaração, não regulariza a omissão apontada, depende da veiculação, nas razões do recurso especial, de ofensa ao art. 535do CPC.
4. A interpretação conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei n. 6.015/73 confere amparo legal para que transexual operado obtenha autorização judicial para a alteração de seu prenome, substituindo-o por apelido público e notório pelo qual é conhecido no meio em que vive.
5. Não entender juridicamente possível o pedido formulado na exordial significa postergar o exercício do direito à identidade pessoal e subtrair do indivíduo a prerrogativa de adequar o registro do sexo à sua nova condição física, impedindo, assim, a sua integração na sociedade.
6. No livro cartorário, deve ficar averbado, à margem do registro de prenome e de sexo, que as modificações procedidas decorreram de decisão judicial.
7. Recurso especial conhecido em parte e provido.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe provimento nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr. Ministro Relator.
	É inegável a constatação de que a sexualidade humana não se restringe ao aspecto biológico, mas sim da interação entre este, o psíquico e o comportamental.
	Estas mudanças surgem como consequência lógica do procedimento cirúrgico. Se alterado o sexo biológico, não faz sentido que o sexo civil continue o mesmo. Por outro lado, a mudança do sexo civil implica na alteração do prenome.
	O STJ também consolidou entendimento jurisprudencial sobre o assunto e emitiu a seguinte nota:
De acordo com o ministro da 4ª Turma do STJ, Luis Felipe Salomão, se o indivíduo já fez a cirurgia e se o registro está em desconformidade com o mundo fenomênico, não há motivos para constar da certidão. Isso porque seria uma execração ainda maior para ele ter que mostrar uma certidão em que consta um nome que não corresponde ao do seu sexo. “Fica lá apenas no registro (do cartório), preserva terceiros e ele segue a vida dele pela opção que ele fez”, afirmou o ministro.
Para a ministra Nancy Andrighi, quando se iniciou a obrigatoriedade do registro civil, a distinção entre os dois sexos era feita baseada na conformação da genitália. Hoje, com o desenvolvimento científico e tecnológico, existem vários outros elementos identificadores do sexo, razão pela qual a definição de gênero não pode mais ser limitada somente ao sexo aparente.
“Todo um conjunto de fatores, tanto psicológicos quanto biológicos,culturais e familiares, devem ser considerados. A título exemplificativo, podem ser apontados, para a caracterização sexual, os critérios cromossomial, gonadal, cromatínico, da genitália interna, psíquico ou comportamental, médico-legal, e jurídico”, explicou a ministra.
Segundo Nancy, se o Estado consente com a possibilidade de fazer cirurgia de transgenitalização, deve também prover os meios necessários para que o indivíduo tenha uma vida digna e, por conseguinte, seja identificado jurídica e civilmente tal como se apresenta perante a sociedade.
DO PEDIDO 
Diante do exposto, requer, conforme abaixo:
1- que seja deferido o pedido de Gratuidade de Justiça pleiteada no preâmbulo desta exordial; 
2- da procedência do pedido de Segredo de Justiça, conforme embasado na Inicial ; 
3- A oitiva do Ilustríssimo Ministério Público;
4- a procedência do referido pedido de Declaração de Gênero, conforme instruída na presente ação ; 
5- a consequente alteração do pré nome do AUTOR no registro de pessoas civis.
DAS PROVAS
		Protesta pela produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos artigos 332 e seguintes do CPC, em especial documental superveniente, testemunhal, pericial e depoimento pessoal do réu.
DO VALOR DA CAUSA
		Atribuí-se à causa o valor de R$ 788,00 (setecentos e oitenta e oito reais)
	Pede deferimento.
Local e data.
ADVOGADO
OAB/RJ

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