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escolas filosoficas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
ILEEL – INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA
DA CULTURA GRECO-LATINA
Prof. Maria Ivonete
Aluna: Thaynara Chieregato
Epicurismo
Dentre os diversos filósofos epicuristas cujo nome chegou até nós, o de maior importância é o próprio Epicuro (gr. Ἐπίκουρος), fundador da escola. Epicuro nasceu em Samos por volta de -341, de pais atenienses. Ensinou em Mitilene e em Lâmpsaco, tendo se transferido para Atenas em -307 ou -306. Lá adquiriu a ampla casa com jardim que iria sediar sua escola, logo conhecida por “Jardim de Epicuro”. Nela, mestres e discípulos viviam comunitariamente em tranquila reclusão. Segundo Diógenes Laércio, Epicuro escreveu cerca de trezentas obras sem citar outros autores, isto é, registrando somente suas próprias idéias. Chegaram até nós apenas três cartas, duas coleções de máximas e citações fragmentárias. O Romano Lucrécio, felizmente, preservou em seu De Rerum Natura informações importantes a respeito da doutrina epicurista. Epicuro morreu em -270, em Atenas, por causa de cálculos renais, e legou seus bens à escola.
A doutrina epicurista se baseia na concepção da aquisição do saber e da limitação dos desejos físicos, instáveis por natureza, cujos são instrumentos essenciais para se libertar dos sofrimentos. A finalidade da vida é a busca da felicidade, obtida ao se atingir a ataraxia (gr. ἀταραξία), a “ausência de distúrbios”, a tranquilidade da alma. Para tanto, é necessário se livrar de todas as ansiedades, inclusive o medo dos deuses e o medo da morte.
Influenciado pelos atomistas, para quem o mundo era constituído de átomos e de vazios, Epicuro também explicava o mundo físico assim, em termos inteiramente naturais. Mas para ele a natureza não era, de modo algum, rígida; nada era imutável e determinado. Movimentos espontâneos e aleatórios dos átomos em seu trajeto normal, por exemplo, dariam ensejo ao livre arbítrio. De tudo o que existe emanam átomos que, ao se chocar com o corpo humano, tornam a realidade inteiramente apreensível pelos sentidos e produzem as ideias.
Epicuro acreditava na existência dos deuses, mas relegava-os a planos isolados e à parte, os intermúndios, e rejeitava terminantemente a intervenção divina em assuntos humanos. “Os deuses”, concluiu ele, “têm coisas mais importantes a fazer”.
Cinismo
O Cinismo foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. A palavra “Cínico” tem sua origem do grego, “kynicos”, que significa “canino”. Os cínicos eram chamados de cães pelo fato de que Antístenes transmitia seus ensinamentos no ginásio e templo de Cinosargo (Cynosarges em grego) um local fora dos domínios de Atenas, que fora construído para os “nothoi”, que eram pessoas que não possuíam cidadania ateniense. “Cynosarges” pode ser traduzido como “cão branco”, “alimento de cão” ou até mesmo “cão rápido”. Além destes fatores etimológicos, o comportamento dos cínicos era semelhante ao de um cachorro, uma vez que estes filósofos rejeitavam as convenções sociais e procuravam viver da maneira mais espontânea possível, tal como o fazem os cães. Portanto, tal como estes animais, os seguidores desta corrente filosófica viviam sem puder: dormiam nas ruas, urinavam, defecavam e até mantinham relações sexuais publicamente. Todos esses hábitos possuíam origem nos princípios éticos do Cinismo, que serão melhor explorados abaixo. 
Os cínicos se propunham a viver de acordo com suas próprias naturezas, afastando-se assim do mundo externo que possuía alguns aspectos que lhes eram dispensáveis. Seguindo este princípio ético, buscavam desapegar-se das convenções sociais. Despreocupavam-se com reverências etiquetas, fama, acúmulo de dinheiro e honra, considerando que estes tais elementos eram vistos como um obstáculo para a vida virtuosa, sendo inúteis para felicidade do homem. Conforme Botelho: “O único valor estável na vida humana é a virtude individual”.
   “O sábio deve tornar-se indiferente às dádivas e aos flagelos da existência, encontrando satisfação dentro da própria mente”. (2015, p. 124). Dessa forma, acreditando que aquilo que existia fora do homem era considerado algo supérfluo, dever-se-ia buscar a autossuficiência, ou seja, a satisfação de si próprio, que era um dos aspectos éticos essenciais que condicionavam o comportamento do cínico. Esta autodeterminação foi chamada de “autarquia”, e ela representava a independência individual, sendo um princípio essencial ao Cinismo, pelo qual um indivíduo poderia ter seus próprios valores. 
Estoicismo
O estoicismo foi criado em Atenas por Zenão de Cítio, em meados 30 A.C. Porém, a filosofia estoica foi mais difundida por Epiteto, Cato, Sêneca e Marco Aurélio. A filosofia estoica transmite que a virtude (leia-se sabedoria) é a felicidade e julgamentos baseados nos comportamentos, ao invés de palavras. Além disso, transmite que não podemos controlar e depender de eventos externos, devemos contar com nós mesmos e a forma como respondemos aos eventos apenas. A sua raiz é uma maneira simples, porém difícil, de se viver.
A ideia de enxergar os nossos obstáculos e torná-los uma oportunidade, pois devemos aceitar o que não podemos controlar e focar no que podemos modificar realmente. O filósofo moderno Nassim Nicholas Taleb define um estoico como alguém que, “transforma o medo em prudência, dor em transformação, erros em iniciativas e desejos em atitudes.
O estoicismo tem alguns ensinamentos centrais. É focado em nos lembrar quão improvável e imprevisível o mundo pode ser. Como a nossa vida é frágil e curta. Como ser congruente, forte e controlar a si. E por último, que a raiz de nossas tristezas e insatisfações se derivam da nossa dependência impulsiva dos sentidos, ao invés do pensamento lógico.
Maniqueísmo
Denomina-se maniqueísmo a doutrina religiosa pregada por Maniqueu - também chamado Mani ou Manes - na Pérsia, no século III da era cristã. Sua principal característica é a concepção dualista do mundo como fusão de espírito e matéria, que representam respectivamente o bem e o mal. Maniqueu se acreditava o último de uma longa sucessão de profetas, que começara com Adão e incluía Buda, Zoroastro e Jesus, e portador de uma mensagem universal destinada a substituir todas as religiões. Para garantir a unidade de sua doutrina, registrou-a por escrito e deu-lhe forma canônica. Pretendia fundar uma religião ecumênica e universal, que integrasse as verdades parciais de todas as revelações anteriores, especialmente as do zoroastrismo, budismo e cristianismo.
O maniqueísmo é fundamentalmente um tipo de gnosticismo, filosofia dualista segundo a qual a salvação depende do conhecimento (gnose) da verdade espiritual. Como todas as formas de gnosticismo, ensina que a vida terrena é dolorosa e radicalmente perversa. A iluminação interior, ou gnose, revela que a alma, a qual participa da natureza de Deus, desceu ao mundo maligno da matéria e deve ser salva pelo espírito e pela inteligência.
O conhecimento salvador da verdadeira natureza e do destino da humanidade, de Deus e do universo é expresso no maniqueísmo por uma mitologia segundo a qual a alma, enredada pela matéria maligna, se liberta pelo espírito. O mito se desdobra em três estágios: o passado, quando estavam radicalmente separadas as duas substâncias, que são espírito e matéria, bem e mal, luz e trevas; um período intermediário (que corresponde ao presente) no qual as duas substâncias se misturam; e um período futuro no qual a dualidade original se restabeleceria. Na morte, a alma do homem que houvesse superado a matéria iria para o paraíso, e a do que continuasse ligado à matéria pelos pecados da carne seria condenada a renascer em novos corpos.
A ética maniqueísta justifica a gradação hierárquica da comunidade religiosa, uma vez que varia o grau de compreensão da verdade entre os homens, fato inerente à fase de interpenetração entre luz e trevas. Distinguiam-se os eleitos, ou perfeitos, que levavam vida ascética em conformidade com os mais estritos princípios da doutrina. Os demais fiéis, chamados ouvintes, contribuíamcom trabalho e doações. Por rejeitar tudo o que era material, o maniqueísmo não admitia nenhum tipo de rito nem símbolos materiais externos. Os elementos essenciais do culto eram o conhecimento, o jejum, a oração, a confissão, os hinos espirituais e a esmola.
Por sua própria concepção da luta entre o bem e o mal e sua vocação universalista, o maniqueísmo dedicou-se a intensa atividade missionária. Como religião organizada, expandiu-se rapidamente pelo Império Romano. Do Egito, disseminou-se pelo norte da África, onde atraiu um jovem pagão que mais tarde, convertido ao cristianismo, seria doutor da igreja cristã e inimigo ferrenho da doutrina maniqueísta: santo Agostinho. No início do século IV, já havia chegado a Roma.
Enquanto Maniqueu foi vivo, o maniqueísmo se expandiu para as províncias ocidentais do império persa. Na Pérsia, apesar da intensa perseguição, a comunidade maniqueísta se manteve coesa até a repressão dos muçulmanos, no século X, que levou à transferência da sede do culto para Samarcanda. Missionários maniqueístas chegaram no fim do século VII à China, onde foram reconhecidos oficialmente até o século IX. Depois foram perseguidos, mas persistiram comunidades de adeptos no país até o século XIV. No Turquestão oriental, o maniqueísmo foi reconhecido como religião oficial durante o reino Uighur -- séculos VIII e IX -- e perdurou até a invasão dos mongóis, no século XIII.
Fichamento: Texto 04 A Tradição da Narrativa
Robert Scholes e Robert Kellogg
In: A Natureza da Narrativa
▪ O principal foco do texto é na natureza da narrativa e na tradição da narrativa no ocidente por inteiro, vendo o romance como apenas uma de uma série de possibilidades de narrativa;
▪ “Geralmente, a crítica teórica desta espécie baseia-se na prática de certos autores, cujas obras se transformam em clássicos no pior sentido da palavra: modelos de desempenho literário aprovados e adequados. Esta espécie de redução da literatura do passado a uns poucos modelos clássicos resulta na construção de uma tradição literária artificial” (Pág. 1);
▪ Narrativa > toda obra literária que possui 2 características: presença de estória, e de um contador de estória;
▪ “...’romance’ podia ser em prosa ou em verso, mas achava que uma epopeia precisava ser poética. Estava também disposta a considerar epopeia um termo de louvor, de modo que um ‘romance poético’ da melhor qualidade...” (Pág. 4);
▪ “O conceito de literatura narrativa centralizado no romance é feliz por duas importantes razões. Primeiro, porque nos aparta da literatura narrativa do passado e da cultura do passado. E segundo, porque nos separa da literatura do futuro e mesmo da vanguarda de nossos próprios dias.” (Pág. 5);
▪ “...o romance apresenta apenas dois séculos na tradição contínua da narrativa no hemisfério ocidental, que pode ser traçada até cinco mil anos atrás.” (Pág. 5);
▪ “A finalidade deste estudo consiste em examinar certas linhas de continuidade nesta tradição de cinco mil anos, analisando algumas das variedades da literatura narrativa, discernindo padrões no desenvolvimento histórico de formas narrativas e examinando elementos contínuos ou recorrentes na arte narrativa.” (Pág. 5)
▪ Associação do poema épico como evolução das formas à evolução biológica.
▪ “O poema épico está tão morto quanto o dinossauro.” (Pág. 6)
▪ EPOPEIA = MITO + HISTÓRIA + FICÇÃO: “Emerge de uma tradição oral, conservando muitas das características da narrativa oral por algum tempo. Frequentemente assume a forma da narrativa heroica, poética, a que chamamos epopeia. Há, por detrás da epopeia, toda uma variedade de formas narrativas, tais como o mito sacro, a lenda quase histórica e a ficção folclórica, que se uniram numa narrativa tradicional...” (Pág. 7)
▪ Na narrativa tradicional temos o enredo (articulação do esqueleto da narrativa). Aristóteles considerava um mito um enredo, gerado pela técnica da imitação;
▪ Esse envolvimento das narrativas com o impulso mítico sofreu um certo afastamento;
▪ “... a literatura narrativa tende a desenvolver-se em dois sentidos antitéticos. Uma perfeita compreensão do crescimento de dois grandes ramos da narrativa, que surgem à medida que o impulso tradicional vai perdendo a força, é essencial à verdadeira avaliação da evolução das formas narrativas.” (Pág. 8)
▪ Os dois sentidos antitéticos da narrativa são empíricos e ficcionais;
▪ “A narrativa empírica substitui a fidelidade ao mythos pela fidelidade à realidade.” (Pág. 8)
▪ A narrativa empírica pode ser dividida em dois componentes principais, o histórico e o mimético, sendo o histórico aquele relacionado à verdade do fato e ao verdadeiro passado, e não a uma versão tradicional do passado, e a narrativa mimética seria uma antítese da mítica no sentido de tender para a ausência do enredo;
▪ “O ramo ficcional da narrativa substitui a fidelidade ao mythos pela fidelidade ao ideal.”
(Pág. 8)
▪ A narrativa empírica almeja um outro tipo de verdade e a ficcional almeja a beleza e a bondade;
▪ “A subdivisão didática da ficção pode ser chamada fábula, uma forma regida por um impulso intelectual e moral, assim como o ‘romance’ é regido pelo estético.” (Pág. 9)
▪ Uma nova síntese de narrativa veio advinda da literatura narrativa pós-renascentista. Essa nova síntese pode ser identificada facilmente em escritores como Cervantes, cuja grande obra é uma tentativa de reconciliar poderosos impulsos empíricos e ficcionais. Temos ai então, o marco do nascimento do romance como forma literária;
▪ “A mimese (inclinada a formas breves como os ‘caracteres’ e a ‘fatia de vida’) e a história (que pode tornar-se demasiado cientifica, deixando de ser literatura) combinam-se no romance com o ‘romance’ e a fábula, assim como a lenda primitiva, o folclore e o mito sacro se combinavam originalmente na epopeia...” (Pág. 10)
▪ “... o romance participa da natureza geral da narrativa. Situando entre o locutor ou cantador direto do lirismo e a apresentação direta da ação no drama; entre fidelidade à realidade e ao ideal; ela é capaz de maiores extremos do que outras formas de arte literária, mas paga o preço desta capacidade em sua possibilidade de imperfeição.” (Pág. 10)
▪ “...a literatura narrativa oferece oportunidades para um cauteloso sucesso ou um retumbante fracasso. Historicamente, tem sido a mais variada e mutável das disciplinas literárias, o que significa haver sido a mais viva de todas. Não obstante todas as suas imperfeições, ela tem sido – da epopeia ao romance – a forma mais popular e influente da literatura...” (Pág. 10)

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