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MICRORGANISMOS INDICADORES – uso e interpretações INTRODUÇÃO A qualidade de um alimento, segundo KRAMER & TWIGG (1970), é o conjunto de características das diferentes unidades individuais de um produto que determina o seu grau de aceitabilidade (EIROA, 1977). Embora se utilize geralmente o termo “qualidade” no singular para se referir a determinado alimento, é preciso levar em conta que essa qualidade é resultante de uma soma de certo número de atributos, alguns deles positivos e desejáveis, outros negativos, indesejáveis e, às vezes até perigosos. Dentre esses atributos alguns são óbvios ao consumidor, tais como a cor, o odor, a textura, o sabor: são geralmente, as qualidades pelas quais o comprador julga se comprará ou não determinado alimento. Existem porém, outros atributos não tão óbvios, como valor nutricional, presença de aditivos químicos, resíduos de pesticidas, traços de metais, microrganismos, toxinas, que constituem geralmente objeto de legislações e regulamentos e aos quais o comprador não tem acesso com facilidade (GOMEZ RUIZ, 1973). Dentro dos atributos indesejáveis, pode-se estabelecer certa escala de prioridade quanto aos riscos que apresentam ao consumidor, da seguinte maneira: • Riscos microbiológicos; • Riscos de uma nutrição deficiente; • Riscos pela presença de tóxicos ambientais • Riscos ocasionados por tóxicos naturais (compostos tóxicos naturalmente presentes em plantas e animais); • Riscos provocados por resíduos de pesticidas; • Riscos devidos a aditivos químicos. TRUSWELL e cols. (1978) consideram que o risco de um indivíduo adquirir uma enfermidade de origem microbiana através de um alimento e 1.000 vezes maior do que por poluentes ambientais, como metais pesados, por exemplo, e 100.000 vezes maior do que por pesticidas. Isto demonstra que a qualidade microbiológica de um alimento, portanto, é o atributo mais importante, devendo ser controlada adequadamente por duas razões fundamentais: • Para prevenir as toxinfecções de origem alimentar; • Para retardar ou inibir a contaminação e a multiplicação microbiana, causadora da deterioração dos produtos, melhorando-os, assim, quanto à qualidade e conservação. O controle de qualidade microbiológica dos alimentos surgiu, inicialmente, como uma necessidade para prevenir e controlar surtos de toxinfecções produzidos pela ingestão de alimentos contaminados com patógenos. Nos últimos anos, uma série de fatores têm contribuído ao aumento das doenças de origem alimentar, como: • produção de alimentos em grande escala; • transporte dos alimentos a grandes distâncias do seu lugar de fabricação; • uso crescente de alimentos instantâneos, semipreparados, em pó e congelados; • manutenção incorreta dos alimentos em estabelecimentos comerciais; • colocação dos produtos por períodos prolongados a temperaturas ideais ao desenvolvimento de patógenos; • novas práticas de cria e abate; • fabricação de alimentos mediante processos tecnológicos novos e uso de embalagens em tipos de recipientes, às vezes, insuficientemente avaliados quanto aos riscos que apresentam. Segundo dados encontrados na literatura, desde aproximadamente 1880 é conhecida a contaminação dos alimentos por microrganismos produtores de enfermidades (JAY, 1973; APHA, 1992). A partir dessa época, já são relatados casos de doenças transmitidas por alimentos, entre elas as toxinfecções alimentares. - Antes do desenvolvimento dos métodos de pasteurização era freqüente a transmissão através do leite de enfermidades como brucelose, escarlatina, febre tifóide, difteria e outras. - Antes da obrigatoriedade da inspeção dos animais de açougue também era freqüente a transmissão através da carne, de enfermidades dos animais transmissíveis ao homem como a brucelose, tuberculose, etc. - A contaminação dos alimentos durante a elaboração, quer seja por manipuladores, por equipamentos e etc., constitui a outra fonte de transmissão de enfermidades, sendo, atualmente, uma das mais importantes no desenvolvimento de surtos de toxinfecções, especialmente com determinados alimentos. O ideal, para assegurar a qualidade microbiológica de um alimento, seria a análise completa de todas suas unidades, no sentido de demonstrar a ausência de microrganismos patogênicos e baixo nível de deteriorantes. Em geral, não é possível examinar cada produto (por isso se faz amostragem) ou alimento e, muito menos, investigar a presença dos patogênicos mais importantes (a pesquisa desses implica em diferentes problemas), o que traz uma série de dificuldades. Fatores que dificultam a pesquisa de patogênicos (MARTINEZ-MANZANARES e cols., 1991): 1. Alto custo dos materiais e equipamentos utilizados nas técnicas de isolamento; 2. Técnicas muito sofisticadas → demoradas; 3. Quais patogênicos pesquisar ?; 4. Seria demorada a emissão de laudos → alimento não pode esperar. Na prática utiliza-se da pesquisa de microrganismos indicadores e somente alguns patogênicos ou, quando ocorre um surto, dos prováveis agentes envolvidos. Os microrganismos indicadores foram inicialmente utilizados com o propósito de determinar o grau de contaminação fecal de águas naturais e, só mais recentemente, na análise de alimentos (MARTINEZ-MANZANARES e cols., 1991) Atualmente, os microrganismos indicadores são utilizados tanto na avaliação das condições higiênico-sanitárias da produção de determinado tipo de alimento, realizado em nível industrial por serviços de controle de qualidade, como na avaliação de sua microbiologia como um todo, no sentido de comparar com padrões oficiais, realizado por órgãos oficiais. Microrganismos indicadores são microrganismos ou grupos cuja identificação qualitativa e quantitativa pode proporcionar informações sobre as condições higiênico- sanitárias do produto em análise. Através da utilização desses microrganismos existe a possibilidade da verificação da qualidade do alimento, como foi produzido e qual a perspectiva de sua vida comercial. Segundo SANTIAGO (1972) o objetivo da determinação de alguns grupos de indicadores, em particular no leite, não é o de determinar quantos microrganismos de um determinado tipo existe em uma amostra, mas identificar o produtor que está fazendo um trabalho inferior com as ferramentas de que dispõe. Com a utilização dos indicadores: - se analisa o alimento com vistas a risco → se verifica o aspecto sanitário; - se verifica as condições da produção do alimento → aspecto higiênico → controle de qualidade. Os INDICADORES são considerados ainda como determinados microrganismos ou grupos de microrganismos, através dos quais pode-se determinar: - qualidade da matéria prima; - condições de trabalho das etapas tecnológicas; - potencial de risco, dependendo do grupo utilizado e do momento de sua determinação dentro do fluxograma de produção de determinado tipo de alimento. Como características os indicadores devem: � Ser de fácil determinação através de processos rápidos e seguros; � Ser determinados através de processos não muito caros; � Apresentar resultados reprodutíveis; � Apresentar resistência igual ou maior que a dos patogênicos mais importantes no alimento em estudo. PRINCIPAIS GRUPOS DE INDICADORES 1. Microrganismos heterotróficos aeróbios ou facultativos, psicrotróficos, mesófilos e termófilos viáveis. (muito usados para verificar aspectos higiênicos) 2. Bactérias anaeróbias. 3. Indicadores de contaminação fecal (aspectos sanitários) 3.1 Coliformes totais: pode conter mais de 20 espécies 3.2 Coliformes fecais: predominantemente E. coli 3.3 Escherichia coli 3.4 Família Enterobacteriaceae: importante como indicadores da contaminação de ovos por salmonelas. 3.5 Enterococos(indicambasicamente contaminação fecal de origem animal). 3.6 Clostridium perfringens: utilizado como indicador de contaminação fecal em água. 4. Outros indicadores: Streptococcus salivarum; S. aureus; Bactérias mesófilas produtoras de esporos; clostrídios sulfito redutores; bolores e leveduras; microrganismos halófilos, proteolíticos, lipolíticos e osmofílicos. O grupo a ser escolhido dependerá da característica do alimento. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO E SIGNIFICADO DOS INDICADORES DE USO CORRENTE. 1. Preparo da amostra: diluições (Apresentado no capítulo de amostragem) 2. Quantificação de microrganismos heterotróficos, psicrotróficos, mesófilos e termófilos viáveis, através do método da contagem padrão em placas. Meio utilizado: Ágar padrão para contagem (PCA) Técnica “pour plate”, em duplicata, das diluições que mais se adequarão, de forma a se ter no final da incubação placas com números entre 25 e 250 colônias. Temperatura e tempo de incubação: psicrotróficos: 7oC / 10 dias mesófilos: 35-37oC / 24 a 48 horas. Para produtos lácteos a temperatura deve ser de 32oC. termófilos: 55oC / 48 horas. Contar placas que apresentem entre 25 e 250 colônias Possibilidade quanto ao número de colônias em placas (Utilizando contador de Quebec): a. Número de col. entre 25 e 250 (duplicata) a.1 Mesma diluição – Calcular a média das contagens das duas placas e multiplicar pelo inverso da diluição inoculada. Resultado em UFC/g ou mL. a.2 Diluições diferentes – Contar cada placa individualmente, multiplicar os resultados pelo inverso da diluição de cada placa utilizada e calcular a média para a obtenção do resultado final. b. Todas as placas com mais de 250 colônias b.1 Com número ≤ 10 col./ cm2 – Contar 12 quadrados de 1cm2 cada (quadriculado na superfície de vidro do aparelho) sendo 6 quadrados consecutivos na horizontal e 6 na vertical, tirar a média e multiplicar o resultado por 65 (65 cm2 = área total da placa). O resultado final é obtido após a multiplicação pelo inverso da diluição da placa utilizada. b.2 Com número > 10 col./ cm2. Contar as colônias em 4 quadrados, tirar a média e multiplicar o resultado por 65. O resultado final é obtido conforme item b.1. c. Todas as placas com menos de 25 colônias Contar a placa de menor diluição. d. Nenhuma placa entre 25 e 250 colônias Registrar o número mais próximo de 250. e. Todas as placas sem colônias Considerar a menor diluição f. Placas com colônias invasoras (crescimento difuso) Contar as colônias em uma parte da placa quando: f.1 Bem distribuídas em áreas livres de invasão; f.2 A área coberta por invasoras não exceda metade da placa; obs. Se a área inibida exceder a ¼ da área total, expressar o resultado como inibidores do crescimento. Interpretação: Contagem alta de mesófilos 1. Matéria prima contaminada; 2. Condições inadequadas de higiene durante a produção; 3. Condições de tempo e temperatura inadequadas durante o processamento; 4. Ação conjunta dessas circunstancias. Números altos de bactérias mesófilas indicam que houve possibilidade de multiplicação, inclusive de patogênicos. A medida que aumenta o número de microrganismos se incrementa a possibilidade de existir microrganismos patogênicos e a presença de produtos tóxicos, resultantes do metabolismo microbiano. Assim sendo, os mesófilos são indicadores também voltados aos aspectos sanitários do produto. A quantificação de microrganismos psicrotróficos tem valor na avaliação dos aspectos higiênicos da produção de determinado alimento, tendo em vista que são, na sua maioria, microrganismos deteriorantes. Quanto maior o número de microrganismos maior é o risco de decomposição (FEHLHABER & JANETSCHKE, 1992). Populações entre 106 e 108/grama ou mililitro indicam alteração evidente. Assim, a avaliação da população microbiano de determinado alimento pode dar idéia da forma higiênico-sanitária da elaboração deste produto, bem como da perspectiva de seu futuro em termos de “vida de prateleira” (TOMPKIN, 1983). Limitações da contagem de mesófilos 1. Alimentos tratados pelo calor, frio ou dessecados, onde ela subestima a população ativa antes do processo; 2. Alimentos refrigerados → mais indicado psicrotróficos; 3. Alimentos fermentados ou maturados, como salame, queijos, etc. → sem significado pela impossibilidade de se diferenciar os possíveis deteriorantes ou patogênicos, daqueles fermentadores. 3. Coliformes totais, fecais e Escherichia coli. Dentre os indicadores, os coliformes são os mais utilizados quando se visa aspectos sanitários e isso se deve a algumas características necessárias a indicadores e que eles atendem com facilidade. Em 1887, Escherich descreveu um microrganismo ubiqüitário, isolado de fezes humanas (Bacillus coli), que atualmente recebe o nome de Escherichia coli e que, em 1892, foi proposta por Shardinger de ser utilizada como indicadora de contaminação fecal por ser mais facilmente isolada que a Salmonella (APHA, 1992). Mais tarde esse microrganismo foi englobado em um grupo denominado coliformes. O grupo caracterizado como coliformes totais, compreende bactérias na forma de bastonetes Gram negativos, não esporogênicos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, capazes de fermentar a lactose com produção de gás, em 24 a 48 horas a 35oC. Assim, segundo a definição, o grupo pode incluir cerca de 20 espécies, dentro as quais encontram-se tanto bactérias originárias do trato gastrintestinal do homem e outros animais de sangue quente, como também diversos gêneros e espécies de bactérias não entéricas, como Serratia e Aeromonas, por exemplo. Por essa razão, sua enumeração em água e alimentos é menos representativa, como indicação de contaminação fecal, do que a enumeração de coliformes fecais ou E. coli (APHA, 1992). Os grupo dos coliformes fecais recebe a mesma definição dos totais, porém, restringindo-se aos membros capazes de fermentar a lactose com produção de gás em 24 horas a 44,5±0,2 ou 45,5oC±0,2 (termotolerantes). Esta definição objetivou, em princípio, selecionar apenas os coliformes originários do trato gastrintestinal. Atualmente sabe-se, entretanto, que o grupo dos coliformes fecais inclui pelo menos três gêneros, Escherichia, Enterobacter (cloacae) e Klebsiella (pneumoniae), dos quais os dois últimos podem incluir cepas de origem não fecal. Por esse motivo a presença de coliformes fecais em alimentos é menos representativa, como indicação de contaminação fecal, do que a enumeração direta de E. coli, porém, muito mais significativa do que a presença de coliformes totais, dada a alta incidência de E. coli dentro do grupo fecal (APHA, 1992; SILVA e cols., 1997). Dentre as bactérias de “habitat” reconhecidamente fecal, dentro do grupo dos coliformes fecais, E. coli é a mais conhecida e a mais facilmente diferenciada dos membros não fecais. Todos os demais membros do grupo têm uma associação duvidosa com a contaminação fecal e E. coli, embora também possa ser introduzida nos alimentos a partir de fontes não fecais, é o melhor indicador de contaminação fecal conhecido até o momento (SILVA e cols., 1997). E.coli → tem seu habitat no intestino do homem e animais. Enterobacter → além do trato intestinal pode estar no solo, água e plantas. Características que fazem dos coliformes fecais e, em particular da E. coli, bons indicadores: � Especificidade: as bactérias selecionadas só devem ser encontradas no meio intestinal, particularmente a E. coli; � Estão presentes em grandes quantidades nas fezes, de tal forma que podem ser detectados em altas diluições; � São resistentes às condições ambientais extra-intestinais; � Mesmo em pequenas quantidades são detectados de forma fácil e completa.- Coliformes totais: indicam mais como o alimento foi preparado, indicam condições de higiene, não indicam risco. Isto tendo em vista que este grupo engloba várias espécies e, entre elas, o Enterobacter e o Citrobacter que podem se desenvolver no ambiente, particularmente na água. - Coliformes fecais: indicam contaminação por fezes, têm conotação de risco. Este grupo compreende basicamente a E. coli, que tem como habitat natural o trato intestinal e que pouco sobrevive a condições ambientais. “A presença de grande número desses microrganismos na água ou alimentos indica a possibilidade da existência de agentes patogênicos eliminados pelas fezes”. A ausência desses microrganismos (intestinais) no exame de alimentos indicará boas condições de higiene porém não de inocuidade. A inocuidade dos alimentos só pode ser garantida após investigação dos microrganismos patogênicos. Grande parte dos alimentos é controlada por padrões microbiológicos referentes a coliformes. 3.1 Determinação de coliformes totais, fecais e de Escherichia coli pelo método do número mais provável (NMP) (APHA, 1992) Teste de tubos múltiplos Semeia-se diluições em 3 ou mais séries de 3 ou 5 tubos. Teste presuntivo: tubos com caldo lauril sulfato triptose. Incubação por 24 a 48 horas/35 - 37oC. Dos tubos com crescimento e gás semeia-se para o teste confirmativo: Coliformes totais - Caldo lactosado bile verde brilhante - 37oC /24 a 48 horas. Coliformes fecais - Caldo EC 44,5oC ± 0,2 / 24 horas ou 45,5oC ± 0,2 / 24 a 48 horas Após a incubação levar o número de tubos positivos para uma tabela de NMP (Hoskins), partindo da maior diluição que tenha 3 tubos positivos. É importante que haja pelo menos um tubo negativo dentre as diluições escolhidas. (Tabela em anexo) Para o NMP de Escherichia coli semeia-se dos tubos de caldo EC com resultado positivo, ágar EMB e a partir de colônias características (negras com brilho metálico ou rosadas de centro escuro) realiza-se, para cada um dos tubos, as provas do IMViC (indol, VM, VP e citrato). A Escherichia coli apresenta as características: indol: + ou -, VM: +, VP: - e Citrato: - O NMP de E. coli é obtido levando-se à tabela o número de tubos de caldo EC positivos, que deram resultado característico para E. coli através das provas do IMViC. 4. Quantificação de Staphylococcus sp. e de S. aureus através da contagem em placas Nesta determinação as diluições em estudo são colocadas na superfície do ágar (Ágar seletivo para Staphylococcus segundo Baird-Parker), na quantidade de 0,1 a 0,2 ml e espalhadas com uma alça de Drigalsky ou bastão em forma de “L”. Após incubação a 35-37oC/24-48 horas, conta-se as colônias negras, com e sem halo de transparência, separadamente, nas placas que apresentem entre 20 e 200 colônias. Para a confirmação, toma-se entre 3 e 5 colônias de cada tipo e semeia-se em ágar nutriente inclinado e, após incubação, realiza-se esfregaços corados pelo método de Gram para a verificação de morfologia. O total de colônias contadas corresponde à população de Staphylococcus sp. O total correspondente à espécie S. aureus pode ser obtido submetendo-se às provas da catalase, coagulase, termonuclease, Voges-Proskauer e utilização do manitol em anaerobiose, as colônias características previamente isoladas em ágar nutriente (KLOOS & SCHLEIFER, 1986). A partir do número de colônias que deram resultados característicos para o S. aureus nessas provas, proporcionalmente ao número contado, chega-se ao número de bactérias/grama ou mililitro. Provas que diferenciam o Staphylococcus aureus de outros coagulase positivos: Prova S.aureus S. intermedius S. hyicus S. delphini Coagulase + + + + VP + - - - Ac. do manitol anaerobiose aerobiose + + - 11 a 89% + - + - - Ac. da maltose + 90% + - + Ac. da trealose + + + - Termonuclease + + + - A contagem de S. aureus em alimentos pode ser feita com dois objetivos diferentes, um relacionado à Saúde Pública, para confirmar o envolvimento em surtos de intoxicação alimentar, e outro relacionado com o controle de qualidade higiênico-sanitária dos processos de produção de alimento ou atendimento de padrões oficiais. Nesses casos o Staphylococcus aureus serve como indicador de condições higiênicas de processamento, de superfícies e, em particular, da participação do homem como fonte de contaminação, tendo em vista que este microrganismo tem como seu habitat natural, entre outros locais, as mãos, fossas nasais e boca do ser humano. De maneira geral, alimentos envolvidos em surtos apresentam uma grande população de S. aureus, não exigindo métodos particularmente sensíveis, enquanto na enumeração como indicador, o número de células geralmente é reduzido, exigindo métodos mais sensíveis, principalmente se o S. aureus não representa a espécie predominante no alimento. O ágar de Baird-Parker se presta de forma adequada a esse fim. É importante ressaltar que alimentos submetidos a tratamento térmico após um período de manutenção em condições que permitam o crescimento podem não apresentar células viáveis de S. aureus, destruídas pelo calor, e ainda assim conter toxinas estafilocócicas, altamente resistentes ao calor. 5. Quantificação de clostrídios sulfito redutores e de Clostridium perfringens através da contagem em placas (APHA, 1992) Os clostrídios sulfito redutores e junto a eles o Clostridium perfringens são comuns em diferentes tipos de alimentos, particularmente em carnes frescas, aves, alimentos desidratados, vegetais e ingredientes de uma forma geral. Isto faz com que a simples presença desses microrganismos seja praticamente inevitável. Em casos de surtos de intoxicação alimentar a demonstração de centenas, milhares ou mais microrganismos por grama no alimento suspeito é um suporte ao diagnóstico, quando acompanhado de evidências clínicas e epidemiológicas. A confirmação deve ser realizada através da enumeração de esporos de Clostridium perfringens nas fezes dos pacientes acometidos. Como indicadores os clostrídios sulfito redutores se prestam a demonstrar a possível presença de outros patógenos, de origem intestinal ou não, inclusive do Clostridium botulinum. O Clostridium perfringens é também utilizado como indicador de contaminação fecal em água, principalmente em águas tratadas como a água clorada. O fato de ser esporulado permite a sua sobrevivência ao tratamento. Há vários meios de cultura disponíveis para a enumeração de clostrídios sulfito redutores e Clostridium perfringens em alimentos, como o ágar sangue neomicina, o ágar sangue cicloserina, o ágar sulfito polimixina sulfadiazina (SPS) e o ágar triptose sulfito cicloserina (TSC), entre outros, sendo que este último pode ser usado com ou sem gema de ovo. A seletividade destes meios é resultante da incorporação da um ou mais antibióticos, para inibir diversos anaeróbios e anaeróbios facultativos e, salvo no caso dos meios com sangue, a característica diferencial comum a todos os demais é a presença de ferro e sulfito. Dentre esses meios os mais utilizados na enumeração de clostrídios em alimentos são o SPS e o TSC. Os clostrídios reduzem sulfito a sulfeto, que reage com o ferro e precipita na forma de sulfeto de ferro, produzindo colônias negras. 5.1 Contagem ppdita. As diluições eleitas são semeadas, pela técnica de “pour plate”, em placas de Petri, utilizando-se o Ágar sulfito polimixina sulfadiazina (SPS), fundido e resfriado a ± 45oC, em dupla camada. Após incubação a 46oC/18 a 24 horas (SILVA e cols., 1997) ou 35 a 37oC/24 horas (APHA, 1992), em anaerobiose, conta-se as colônias negras nas placas que contenham entre 20 e 200 colônias. Para a confirmação das colônias típicas declostrídios sulfito redutores deve-se selecionar várias colônias e transferir para tubos contendo caldo infusão cérebro coração, previamente desaerados. Para desaeração do meio, submeter os tubos à fervura em banho por 15 minutos, com as tampas afrouxadas, e resfriar imediatamente em banho de gelo. Incubar os tubos inoculados a 35oC/24 horas, preparar um esfregaço da cultura para coloração de Gram e utilizar o caldo remanescente para teste de catalase. Teste de catalase – adicionar ao tubo de BHI, 1,0 ml de peróxido de hidrogênio a 3% e observar se ocorre borbulhamento imediato (teste positivo) ou não (negativo). Os clostrídios sulfito redutores são bastonetes Gram positivos e catalase negativos. Para efeito de resultado considerar como confirmadas todas as culturas de bastonetes Gram positivos catalase negativos. Calcular o número de UFC/grama ou mililitro em função do número de colônias típicas, diluição inoculada e porcentagem de colônias confirmadas. (Cuidado pois pode haver crescimento e produção de toxina pelo C. botulinum). Para se chegar a Clostridium perfringens deve-se selecionar de 5 a 10 colônias e repicar em ágar nutriente inclinado e, após incubação em anaerobiose, realizar esfregaços corados pelo método de Gram. Constatada a presença de bastonetes grandes e G+, realizar as provas da motilidade e redução do nitrato a nitrito (ágar nitrato motilidade). O C. perfringens é positivo para as duas provas. Provas adicionais podem ser realizadas como da fermentação da lactose e hidrólise da gelatina (também positivo nos dois testes). O resultado final é obtido em função também do número de colônias típicas, diluição inoculada e porcentagem de colônias confirmadas. 6. Quantificação de bolores e leveduras pela contagem em placas Os bolores e leveduras se constituem em um grande e diversificado grupo de microrganismos que compreende milhares de espécies. Esses microrganismos são facilmente encontrados no solo e no ar e dado ao fato de sua natureza heterotrófica e sua capacidade de adaptação a diferentes condições ambientais, podem ser encontrados como contaminantes e com ativa capacidade de desenvolvimento em diferentes tipos de alimentos, principalmente naqueles processados sob condições inadequadas de higiene (principalmente de equipamentos). Esses microrganismos podem determinar graus variáveis de decomposição de alimentos. Dado ao fato de serem microrganismos pouco exigentes em termos de pH, aw e outros fatores, invasão e crescimento podem ocorrer em qualquer tipo de alimento se as condições ambientais assim o permitir. A contagem de bolores e leveduras é realizada após a preparação das diferentes diluições decimais, através da técnica de semeadura em superfície, de 0,1 ml, em ágar adicionado de antibiótico ou acidificado (APHA, 1992). Para esse fim pode ser usado o PCA adicionado de cloranfenicol (100 µg/ml), o ágar batata dextrosado acidificado a pH 3,5 e o ágar extrato de malte também acidificado (sol. a 10% de ácido tartárico ou láctico). A vantagem da utilização do cloranfenicol é a possibilidade do mesmo ser autoclavado juntamente com o meio de cultura dado a sua termoresistência. A incubação deve ser realizada entre 22 e 25oC/5 dias com as placas em pé e contadas aquelas que apresentam entre 15 e 150 colônias. Na predominância de bolores deve ser contada a placa que mais se aproxima de 15 colônias e, na predominância de leveduras, a que se aproxima de 150. A incubação pode ser realizada também em temperatura ambiente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como exemplo da utilização de indicadores, na avaliação da qualidade microbiológica de alimentos e na prevenção de surtos ou casos de enfermidades bacterianas veiculadas por alimentos, muitos países e organizações internacionais estabeleceram critérios microbiológicos baseados, na sua maioria, na determinação de microrganismos indicadores. Assim, no Brasil, o Ministério da Saúde, através da Resolução RDC no 12 de 02 de janeiro de 2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, estabelece: Anexo II Conclusão e interpretação dos resultados das análises microbiológicas de alimentos destinados ao consumo humano I - Interpretação dos resultados: Para interpretação dos resultados, compara-se os valores encontrados nas análises realizadas com os valores estabelecidos no Anexo I. De acordo com a comparação temos: Ia - Produtos em condições sanitárias satisfatórias: São aqueles cujos resultados analíticos estão abaixo ou igual aos estabelecidos para amostra indicativa ou amostra representativa. Ib - Produtos em condições sanitárias insatisfatórias: Ib1 – São aqueles cujos resultados analíticos estão acima dos limites estabelecidos para amostra indicativa ou amostra representativa, conforme especificado no Anexo I da Resolução n.12 Ib2 – São aqueles cujos resultados analíticos demonstram a presença ou a quantificação de outros microrganismos patogênicos ou toxinas que representem risco à saúde do consumidor. II - Conclusão IIa – “Produto ou lote (se amostra indicativa ou representativa, respectivamente) de acordo com os padrões legais vigentes” para as situações enquadradas no item Ia. IIb – “Produto ou lote (se amostra indicativa ou representativa, respectivamente) impróprio para o consumo humano por apresentar...” (citar o resultado(s) analítico(s) e o(s) parâmetro(s) não atendido(s) para as situações enquadradas no item Ib1. IIc – “Produto ou lote (se amostra indicativa ou representativa, respectivamente) impróprio para o consumo humano por apresentar...” (microrganismos patogênicos ou toxina que representa perigo severo à saúde do consumidor). A análise preventiva com o objetivo de impedir a ocorrência de transtornos na saúde pelo consumo de alimentos, realizada através da determinação, na grande maioria dos estabelecimentos, de microrganismos indicadores, tem sido considerada de pouca eficiência, não somente pela problemática da amostragem ao acaso, mas também pela duração das investigações laboratoriais. Estas últimas são justificadas somente para aqueles alimentos que podem chegar ao consumidor depois de contar com o resultado da análise. Por isso, em muitas ocasiões, é mais eficaz controlar de maneira contínua a higiene da elaboração. Este tipo de processo é conhecido como controle de pontos críticos (FEHLHABER & JANETSCHKE, 1992). Pontos críticos são considerados como todos os pontos do processo tecnológico em pode ocorrer um aumento da carga microbiana por contaminação ou por multiplicação da microbiota presente, ou aqueles pontos que são decisivos na eliminação ou na criação de uma estabilidade microbiológica. Entre eles se encontram as higienizações corretas de equipamentos e dependências, a comprovação de que as aplicações de calor são corretas, o controle do pH, das concentrações de NaCl e das temperaturas de armazenagem. Os pontos críticos de controle são estabelecidos a partir de uma análise de risco da totalidade do processo de produção. Com a colocação deste conceito (ARPCC) em prática pode garantir-se uma higiene mais perfeita dos alimentos do que aquela conseguida somente a partir da análise do produto terminado (FEHLHABER & JANETSCHKE, 1992). 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION Committee on microbiological methods for foods. Compendium of methods for the microbiological examination of foods. Washington: American Public Health Association, 1992. 701p. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RDC no 12, de 2 de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_01rdc.htm EIROA, M.N.U. O controle da qualidade microbiológica de alimentos. Boletim do Instituto de Tecnologia deAlimentos, Campinas, v.49, p.1-32, 1977. FEHLHABER, K., JANETSCHKE, P. Higiene veterinaria de los alimentos. Zaragoza: Acríbia. 1992. 669p. GOMEZ RUIZ, J. Control microbiológico en la industria de alimentos. In: Curso sobre técnicas microbiológicas no exame de alimentos, Campinas, 1973. Campinas, Instituto de Tecnologia de Alimentos. JAY, J.M. Microbiologia moderna de los alimentos. Zaragoza: Acríbia, 1973. 319p. KLOOS, W.E., SCHELEIFER, K.H. Bergey’s manual of systematic bacteriology. 9ed. V.2 Baltimore: Williams & Wilkins, 1986. p.1013-1036. KRAMER, A., TWIGG, B. Quality control for the food industry. 3.ed. Westport: Conn.,A.V.I., 1970. V.1. MARTINEZ-MANZANARES, E., MORIÑIGO, M.A., CORNAX, R., EGEA, F., BORREGO, J.J. Relationship between classical indicators and several pathogenic microorganisms involved in shellfish-borne deseases. Journal of Food Pretection, v.54, n.9, p.711-717, 1991. MUNDT, J.O. Enterococci. In: Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology”. 9ed. Baltimore: Williams and Wilkins, 1986. 1063p. SANTIAGO, O. Controle microbiológico de qualidade. Revista do Instituto de Lacticínios Candido Tostes, nov/dez, p.26-29, 1972. SCHLEIFER, K.H., KILPPER-BÄLZ, R. 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