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Dependência

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Dependência 
Art. 45.  É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único.  Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.
Conceito de dependência
A dependência prevista no art. 45 da lei de Drogas pode ser definida como a intoxicação crônica por uso repetido de drogas, que determina doença mental supressora da capacidade de entendimento e de determinação no momento do fato criminoso.
Viciado e dependente
O vicio e a dependência são figuras distintas, devem ser avaliadas no momento de se aferir a imputabilidade do agente. O vicio se caracteriza pela mera compulsão no uso do entorpecente, sem qualquer consequência na liberdade do agente. O vicio não retira deste a consciência da ilicitude do crime, mantendo preservada a capacidade de entender e de querer. 
Já a dependência integra o conceito de doença mental, de modo que retira totalmente a responsabilidade do agente, subvertendo-lhe a consciência e a vontade, bem como a capacidade e autodeterminação.
“O fato constatado de que o agente é dependente do uso de maconha não conduz necessariamente à conclusão de que o acusado deve ser isento de pena e sujeito a tratamento médico-ambulatorial.”
“Só a dependência que afasta a capacidade intelectiva e volitiva do agente gera a inimputabilidade e submete o doente a medida de segurança (TJRS – RJTJRS, 177/54)
Medida de Segurança
É uma espécie de sanção penal imposta pelo Estado aos inimputáveis, visando a prevenção do delito, com a finalidade de evitar que o criminoso que apresente periculosidade volte a delinquir. 
A medida de segurança detentiva consiste em internação em hospital de custodia e tratamento psiquiátrico, ou em estabelecimento semelhante.
A medida de segurança restritiva consiste em tratamento ambulatorial.
O paragrafo único do art. 45 da lei, entretanto, dispõe que o juiz, quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto no artigo, as condições referidas no caput, poderá determinar, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.
Reconhecendo, portanto, a inimputabilidade pela dependência toxicológica, deverá (e não poderá) o juiz impor medida de segurança ao agente.
Incidente de dependência toxicológica 
O juiz poderá determinar a realização de avaliação para atestar dependência de drogas, conforme disposto no art. 56 §2o, assim o interrogatório realiza-se na audiência de instrução e julgamento, antes da inquirição das testemunhas, previsto no art. 57, estabelecendo que a avaliação para atestar dependência de drogas já deve ter sido feita.
Logo, o réu deverá alegar eventual dependência toxicológica na defesa preliminar, decidindo o juiz sobre a realização da avaliação ao receber a denuncia. Após, o réu será submetido a exame de dependência toxicológica, que se processará nos moldes do disposto nos artigos 149 a 154 do Código de Processo Penal.
Semi-imputabilidade
Art. 46.  As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Este estabelece a redução de pena ao agente semi-imputavel, assim considerado aquele que, ao tempo da ação ou missão, em razão da dependência, ou sob o efeito de droga, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo do esse entendimento.
Não se aplicam as normas referentes às medidas de segurança ao semi-imputavel, que deverá receber pena reduzida, devendo ser ele encaminhado a tratamento por força do disposto no art. 47 da lei de drogas:
Art. 47.  Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com competência específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.
Dessa forma, na sistemática da lei de Drogas, o semi-imputavel recebera pena reduzida e tratamento, que se realizará durante o cumprimento da pena. Não se aplica, neste passo, o sistema previsto no art. 98 do Código Penal.
Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Inimputabilidade
A inimputabilidade é aferida através de um exame toxicológico, a fim de determinar qual o tipo de droga utilizada, a frequência e o grau de dependência. Em segundo plano deve ser realizado um exame psiquiátrico, para aferir as condições mentais do réu, determinando, se possível, seu estado de consciência ao tempo do crime.
Segundo ROCHA (1988, p. 199):
A lei sobre drogas dispõe sobre a realização de um exame médico, para verificar se a pessoa envolvida em processo de psicotóxicos e farmacodependente. Esse exame pode ser determinado pelo juiz, de ofício ou a pedido da defesa, devendo ser realizado por peritos oficiais, ou, na sua falta, por médicos nomeados, no prazo de trinta dias (art. 23, § 1º).
Entendem alguns autores que essa perícia médica é para constatar se o réu é inimputável ou semi-imputável, em razão da dependência à droga, isto é, se ele tem capacidade de entendimento e de autodeterminação. Todavia, esse exame é apenas para verificar se a pessoa é ou não dependente. E a constatação de dependência à droga não significa necessariamente o reconhecimento da inimputabilidade, total ou restrita.
Entende o autor que a prova do uso constante de entorpecentes não implica necessariamente no reconhecimento da inimputabilidade, o que se afigura correto, já que as particularidades são verificadas em cada caso.
Mas se houver dúvidas sobre a sua integridade mental, o juiz deverá ordenar, de ofício ou a requerimento do promotor, do advogado de defesa ou do curador, seja ele submetido a exame médico-legal psiquiátrico, instaurando-se o incidente de insanidade, que será processado em auto apartado. 
Não é apenas a mera alegação do usuário que o tornará inimputável, ou sua condição de viciado, mas sim sua total incapacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta e de determinar-se de acordo com esse sentido (ANDREUCCI, 2011, p. 278).
Bibliografia
Legislação Penal Especial – Ricardo Antonio Andreucci, 9ª Edição 2012

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