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Hermenêutica Jurídica

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Hermenêutica Jurídica
Conceito: é a ciência que se preocupa em compreender as relações envolvendo o sujeito e o objeto, podendo ser outro sujeito, um texto, ou qualquer forma de expressão linguística. Tem por objetivo, encontrar soluções para os problemas que surgem a partir de buscas de significados para os objetos em geral. A busca passa pelos elementos de compreensão dos quais fazem parte da cognição do sujeito.
Origem: Do grego Hermeneuein, significando apenas uma forma de revelação de sentidos ou explicações das coisas. Baseado no deus grego Hermes, este mensageiro do Olimpo em relação aos mortais. Não tinha conteúdo científico que hoje apresenta. Era mais um ambiente descritivo do que propriamente interpretativo.
Histórico: Na antiguidade, os pensadores tratavam a hermenêutica apenas como uma forma de revelação, tanto na Grécia como ainda em Roma, muito embora dentro desta civilização o seu objetivo fosse eminentemente jurídico, servindo como prudentia dos julgadores.
Na Idade Média, a hermenêutica era relacionada apenas com caráter religioso, servindo de fonte de inspiração apenas teológica, situação em que todas as interpretações eram voltadas para Deus, ou representavam a vontade Divina. Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino foram as maiores referências. Tudo aquilo que fosse interpretado fora do alcance religioso era considerado profano. 
Na Idade Moderna, a partir da mudança de paradigma passando o homem a ser o centro referencial, adotando-se o subjetivismo filosófico, a hermenêutica foi tratada como uma ferramenta de interpretação das ações humanas, porém, sem qualquer caráter científico. Há, todavia, uma ideia de racionalismo cognitivo. Busca-se uma nova metodologia para as ciências utilizadas pelo homem. Há um afastamento da interpretação meramente teológica.
Idade Contemporânea, nesse período com o desenvolvimento da sociedade e fortalecimento dos Estados, e partir das grandes revoluções sociais (EUA e França), a hermenêutica passou a ser um objeto de estudo cientifico, penetrando no pensamento humano de forma filosófica, com grande expansão nos vários seguimentos das dimensões cognoscíveis. Há uma amplitude de horizontes e que nasce a partir de do momento em que os pensadores apontam para sua cientificização.
Grandes Pensadores: Filósofos que, ao longo dos tempos, se debruçaram sobre a arte de bem interpretar, transformando a hermenêutica numa ciência filosófica atual. Contribuíram para o estudo necessário da arte da interpretação nas diversas áreas de conhecimento alcançadas pelo homem. O pensamento científico toma conta dos discursos hermenêuticos. 
- Friedrich Schleiermacher: A hermenêutica passa a ser um mecanismo de ciência e não apenas de esclarecimento. Esclareceu, a priori, as condições da compreensão. Reconstruir o pensamento de outrem.Ultrapassar os limites da interpretação religiosa.
- Wilhelm Dilthey: Há distinção entre as ciências naturais e as humanas. Naquela, a explicação; nesta, a compreensão. Se ganha força humanística, libertando o cientificismo de herança positivista. A historicidade é um elemento interior do homem. Há auto interpretação da vida. Existem experimentos próprios do homem para o mundo. Universalização do conhecimento.
- Martin Heidegger: A experiência hermenêutica passa a ser fenomenológica. A existência humana é necessária para a interação com o mundo interpretativo. Expressão essencial: Dasein (o ser-aí ou o ser-no-mundo). Compreensão é poder de captar as possibilidades que cada um tem de ser. Alcança-se um conhecimento universal mais do que simplesmente resumir uma sentença teórico-enunciativa. 
- Hans Georg Gadamer: A compreensão existe a partir dos nossos pré-conceitos, sendo uma realidade histórica do nosso ser. As experiências vividas constroem patamares de validade. Há fusão dos horizontes do pensamento humano. O discurso interpretativo baseia-se na compreensão a partir de uma vertente histórica, dialética e linguística. Há um convite para a interpretação de nós mesmos. Há uma especificidade em cada um, mas na própria significação histórica que assumimos. 
 Paul Ricoeur: A hermenêutica deve trabalhar com a alteridade, ou seja, o sujeito vê no outro a sua identidade e vice-versa. Há uma participação real e efetiva da troca de experiências. A compreensão é compreender-se no próprio texto ou no próprio discurso. O mundo do sujeito torna-se referencial de valor. A função do hermeneuta é construir uma ponte para o conhecimento. Para o autor, a hermenêutica é a arte do movimento em si mesma. 
Francisco Cardoso de Oliveira: O intérprete que participa da estrutura circular da compreensão não se reconhece, desde logo, sujeito portador de uma racionalidade que não está situada no mundo e na estrutura mesma do compreender. Ele é ser que integra a totalidade do mundo da compreensão e que, portanto, já antecipa uma pré-compreensão que se lhe permite inserir, pela interpretação, na situação particular do compreender.
Hermenêutica Jurídica: Parte da ciência jurídica que tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos que devem ser utilizados para que a interpretação se realize de modo que seu escopo seja alcançado da melhor maneira.
VALORES: estender o sentido da norma às novas relações.
REGRAS SOCIAIS: conferir a aplicabilidade da norma jurídica.
COMPREENSÃO: dar o alcance do preceito normativo que corresponda às respectivas necessidades.
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E RE-CONSTRUÇÃO: garantir a intersubjetividade.
Objetivos: 
Interpretar as normas garantindo a sua aplicabilidade.
Constatar a existência de eventuais lacunas, apresentando os critérios para o seu preenchimento.
Solucionar a hipótese de antinomias jurídicas (conflito aparente de normas).
* Lei especial derroga lei geral
Classificação Doutrinária: 
Quanto ao agente: público e privado.
- Púbico: Autêntico (do próprio legislador, com uma norma interpretando o outro), judicial (pelo judiciário, sendo método jurídico de interpretação), administrativa (pelos membros do Executivo, sendo regulamentar por atos, ou casuística, diante do caso concreto).
- Privado: Ligado ao direito científico, através de tratados, comentários, pareceres e etc, visando a persuasão. 
Quanto à natureza: gramatical, lógica, histórica e sistemática.
- Gramatical: significado literal da linguagem.
-Lógica: Sentindo formal das orações e locuções.
- História: Mediante a análise do conteúdo de origem.
- Sistemática: O comportamento do conjunto normativo.
Quanto à extensão: declarativa, extensiva e restritiva.
- Extensiva: O alcance da norma é maior do que a expressamente prevista no texto. Exemplo: CC, art. 1.337.
- Declarativa: A harmonia exata entre o texto e o seu alcance. Exemplo: CC, art. 102.
- Restritiva: aquela que limita o campo de atuação. Exemplo: CTN, art. 111.
Nova Filosofia Jurídica:
Pluralismo
Intersubjetividade
Experiência histórica
Fenômeno Jurídico: entendido através da linguagem. 
O que é interpretar¿ 
É a necessidade de discussão sobre o sentido das normas jurídicas. Superação do pensamento clássico: in claris cessat interpretatio. A interpretação do direito é constitutiva e não simplesmente declaratória. Parte de uma compreensão dos textos normativos e dos fatos passa-se pela produção das normas que devem ser ponderadas para a solução do caso e findadas com a escolha de uma determinada solução para ele, consignada na norma da decisão. 
Hermenêutica: 
Não se pode interpretar sem o uso da ciência da hermenêutica, pois interpretação é apenas sistematização, enquanto que hermenêutica é a ciência filosófica. O ato de interpretar é útil à medida que concentra em si uma tensão constante entre a axiologia do sujeito-da-interpretação e a ideologia social vigente. Do grego hermenêutica é derivado do Deus Hermes, este que é mensageiros dos homens. 
Para Carlos Maximiliano a hermenêutica é a teoria cientifica da arte de interpretar.
Para Paulo Dourado de Gusmão é a parte da ciência do direito que trata da interpretação e aplicação do direito. 
Sendoassim, é necessário relevar o sentindo das normas e palavras, fixar o seu alcance, delimitando o seu campo de incidência, conhecendo os fatos sociais, e entender a norma jurídica como gênero. 
Portanto, o direito consiste na realização de uma prática que envolve o método hermenêutico de compreensão e a técnica argumentativa. É a realidade viva a partir das constantes mudanças dos relacionamentos sociais. O interprete deve ser um observador dos fatos em direção às nomas.
Conflito Interpretativo:
Vontade do Legislador
Vontade da Norma
Adequação de Valores
- Legislador: Sua teoria sempre será subjetivista, portanto,uma doutrina subjetiva, um saber dogmático, pois a vontade dele é absoluta e sem modificações, sua interpretação é EX TUNC em seu aspecto genérico. O legislador terá como adoção uma teoria subjetivista, espelha a vontade popular por força do mandato representativo. A adoção apenas da MENS LEGIS poderia levar a um subjetivismo indesejado. O poder da interpretação estaria somente nas mãos do intérprete, se valesse a vontade da lei.
- Norma: Tem seu sentindo próprio, dogma como arbitrário social, independe do sentindo dado pelo legislador e sua interpretação é EX NUNC. Há a adoção de uma teoria objetiva, não se prendendo no legislado e sim na lei objetiva. Não existe o legislador como vontade própria, pois este, modernamente é um conjunto de pessoas e opiniões ás vezes contraditório. O destinatário deve confiar na palavra da norma, pois a vontade do legislador pode criar uma insegurança. O poder de decidir deve ser do intérprete e não do legislador, para garantir o ESTADO DE DIREITO. 
Resultado:
Ambas são válidas
Argumento de consenso
Encontrar solução mais adequada, razoável
Só subjetiva favorece o autoritarismo
Só objetiva favorece o anarquismo
Conclusão: 
O ordenamento jurídico, por si só, não garante o fim do Direito, qual seja, a justiça. Natureza e a realidade não são numeras fórmulas. Hermenêutica jurídica é a função essencial do Direito e o intérprete é a argumentação, ponderação e racionalidade.
Escolas Hermenêuticas: 
Objetivo: disputa teórica entre as diversas maneiras propostas de se interpretar o Direito. 
Orientações expostas pelos juristas, quanto ao uso e importância atribuída ás diversas espécies de interpretação. Dar maior ou menor interpretação ao corpo jurídico. Formar juízo de valor a partir da compreensão da norma.
Evoluções do pensamento – Escolas Hermenêuticas: 
Foram pensadas como o passar do tempo como formas de expressar o direito em si, alterando-se de acordo com a evolução social humana. Somente após a promulgação dos Códigos de Napoleão, principalmente o Código Civil (1804), que a interpretação ganhou releva a ponto de ser objeto de reflexão e permitindo a criação de teorias. Antes do sex XIX havia apenas a preocupação interpretativa de modo acidental, ou seja, sem o caráter cientifico. 
Escola dos Glossadores:
Escola da Bolonha (Sex VI a VIII), a sua base era a interpretação gramatical do CORPUS JURIS CIVILLIS de Justiniano. Ocorria por meio de glossas que eram anotações marginais ou interlineares acrescentadas aos textos estudados. Nenhuma produção cientifica, mas apenas literalidade a sociedade medieval. 
Escola dos Comentaristas: 
Conhecida por pós-glossadores (Sex VIII a XV), sua base era na tentativa de adaptar o direito romano ás novas relações econômicas e sociais da sociedade feudal. Acrescentavam apreciações próprias adotando o método lógico da dialética e com aplicação prática. Recorreram a outras fontes, sendo os costumes locais, direito estatutários e o direito canônico. 
Escola Humanística do Direito:
Século XVI a XVIII, ocorreu na França, Alemanha e Itália. Foi a depuração dos textos romanos. Havia na época riqueza histórica e qualidade sociológica. Havia a sistematização do direito, e com isso buscava os conceitos do Direito. Admitia um relativismo, o que empobreceu sua atuação, pois não se acompanhava a autoridade do direito.
Escolas Contemporâneas: 
A partir do Sec XIX, as escolas são vistas em três grandes grupos: Estrito legalismo ou dogmático, de reação ao estrito legalismo, interpretação mais livre, sendo:
- Escola Exegese: Formada na França no inicio do Sec XIX. Era baseada no dogmatismo legal em que havia a supervalorização do código e sua autossuficiência, encerrando todo o direito. A lei era tida como única fonte. A subordinação a vontade do legislador, aplicando de acordo com a vontade original, não podendo substituir-se. Era considerado Estado como único autor de direito, se todo o direito encontrava-se na lei e no código e era ele quem elaborava, então não se poderia ter outra origem. 
- Escola de Viena: Pensador da época: Hans Kelsen. Movimento positivista ou normativista. Conceito: jurídicos puramente formais. Era baseado na dinstinção o direito dos fenômenos naturais (ser e dever ser). Distinguir e libertar o direito da sociologia e filosofia. Formalismo puro e lógico, e seu objetivo era vincular o direito ao Estado. 
Escola Histórico Evolutiva: 
Surgiu no final do Sec XIX, em resposta a escola exegese, sendo fundador Savingy. Eles defendiam que o verdadeiro direito reside nos usos e costumes da tradição popular. Lei como realidade histórica com progresso e desprendimento de origem. Interpretação atualizadora, transportando o pensamento da época para o presente. Interpretação não criadora: o intérprete apenas atualiza, mas não cria o direito. 
Escola Teológica:
Desenvolvido por Ihering a partir de sua obra o fim do direito. Interpretação inspirada menos na lógica e mais no caráter finalístico do direito. O fim e o motivo criam o direito. Garantia das condições da vida social. Fim social, não é uma intervenção, mas uma realidade objetiva. Direito é visto como vivência e luta. Jurisprudência dos interesses.
Escola da livre pesquisa cientifica do direito: 
Autor François Gény. A Lei é insuficiente para cobrir todos os fatos sociais. A intenção da lei seria o motivo do seu aparecimento, não podendo deformá-la. Diante das lacunas, devemos recorrer a outras fontes (doutrina, jurisprudência, costumes). Atividade do intérprete de acordo com regras e princípios gerais da ordem jurídica. Autoriza o juiz age praeter legem. 
Escola do Direito Livre:
O domínio imperativo da lei é muito restrito. As visões do legislador são parte mínima do mundo jurídico.

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