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Determinação da Pena e Seletivização

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DAS ​ ​CLASSES ​ ​SOCIAIS​ ​A​ ​DETERMINAÇÃO​ ​DA​ ​PENA:​ ​UMA​ ​ANÁLISE​ ​DE 
SELETIVIZAÇÃO 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho, além de relembrar a evolução, ainda que de forma sucinta, do 
direito penal e sua funções incluindo a pena, busca compreender o passo a passo da aplicação 
da pena pelos magistrados. Mais precisamente, o objetivo pautou-se em apresentar as 
principais análises teóricas sobre tema da dosimetria da pena, entendimentos da doutrina e da 
jurisprudência. 
Embora os Tribunais Superiores já tenham firmado entendimento sobre a 
determinação da pena, o presente trabalho busca para além do estudo teórico do tema, 
apresentar caso concreto da aplicação da pena, no objetivo de exemplificar os atuais 
posicionamentos dos julgadores de primeiro grau em contrapondo com decisão proferida pela 
segunda instância, Supremo Tribunal de Justiça. É essencial compreender o pensamento do 
julgador na medida que ele é aplicador do Direito, da Justiça, e para além examinar, resistir 
frente aos retrocessos nos direitos e garantias já conquistados, hora esquecido por algumas 
cortes. 
Assim, buscou-se estudar como se dá a determinação da pena no Brasil, partindo do 
pressuposto que é necessário seguir uma linha teórica e histórica do entendimento à respeito 
do tema, o trabalho tem como início, de uma maneira breve, o estudo a cerca do histórico da 
pena, levando em consideração os recortes necessários à realidade brasileira, dando suporte 
crítico e buscando identificar os diversos pensamentos e doutrinas construídos ao longo do 
tempo sobre a determinação da pena. Em seguida, com esse aporte, passamos a explorar quais 
são as funções e finalidade/s da pena, para a posteriormente, não menos importante, verificar 
a aplicação da pena no Brasil, o qual é ponto central e mais importante de nosso trabalho, a 
análise​ ​de​ ​caso​ ​do​ ​tema ​ ​central. 
O que precisamos compreender é o significado da pena na sociedade, como se deu sua 
 
 
construção, qual a sua finalidade e sua função, porque foi criada, quem são os aplicadores de 
pena historicamente na sociedade, essa construção no trabalho será passada de maneira breve, 
ao passo de apenas instigar o leitor a questionar estes por menores. Para seguidamente 
compreender​ ​como​ ​se​ ​dá​ ​a​ ​determinação​ ​da​ ​pena​ ​nos​ ​dias​ ​de​ ​hoje. 
Por fim, serão apresentadas as conclusões e observações acerca do tema do presente 
estudo, visando à reflexão a respeito da pena e seu critério de aplicação nas diversas realidade 
brasileiras. 
Desde os primórdios, quando o ser humano começou a viver em sociedade tornou-se 
necessária a elaboração de regras para resolver questões sobre as condutas permitidas e 
proibidas naquele meio social. As normas que começariam a nascer, para surtir efeito, vieram 
acompanhadas de castigos àqueles que não as cumprissem. A priori, as penas não possuíam a 
idéia de proporcionalidade e buscava-se a vingança pelo mal que o delinquente causou à 
sociedade. Com a evolução da sociedade a pena se transforma. É vista, então, como uma 
aliada do Estado para a punição dos transgressores, para coibir a prática de crimes e 
restabelecer​ ​a​ ​ordem. 
Antes de tudo, o delito não é uma qualidade de uma conduta, mas sim o resultado de 
uma definição por meio das instâncias de controle social. E essa definição recai de modo 
desigual nos estratos sociais. Ainda que as infrações jurídico criminais tenham a pretensão 
abstrata de ser “ubíquas” (ou seja, de ocorrer em todas as classes sociais), a possibilidade de 
escapar​ ​a​ ​uma​ ​definição​ ​jurídico-penal​ ​cresce​ ​à​ ​medida​ ​que​ ​se​ ​sobe​ ​na​ ​hierarquia​ ​social. 
Nesse sentido Bauman denuncia que o Estado encarcera realmente os pobres em 1
razão também de não serem consumidores a gerar interesse para o mercado. Essa 
criminalização se dá pelo policiamento que se dedica especificamente a tal classe social, 
vigiando-a, disciplinando-a, servindo as agências de controle social como veículos de 
exclusão para manter os miseráveis fora da sociedade na medida em que são consumidores 
falhos​ ​numa​ ​sociedade​ ​de​ ​capitalista. 
Roberto de Aguiar , do mesmo modo, distinguindo o poder formal do poder real, 
esclarece que o direito tem a pretensão declarada de fazer crer que a sanção garante a eficácia 
da norma do poder formal, porém ela, na verdade, garante é a sobrevivência dos que elaboram 
as próprias normas. Não é o Estado que garante por meio da pena a eficácia da norma, é a 
1 ​BAUMAN, Zygmunt. ​Vida a crédito: conversas com Citladi Rovirosa-Madrazo​. Tradução de Alexandre 
Werneck.​ ​Rio​ ​de​ ​Janeiro:​ ​Zahar,​ ​2010. 
1 
 
pena que por meio de sua violência garante a manutenção do Estado manipulado segundo os 
interesses​ ​de​ ​determinados​ ​grupos​ ​que​ ​dominam​ ​o​ ​poder​ ​real . 2
 
 
ANÁLISE ​ ​DO​ ​HISTÓRICO​ ​DA​ ​PENA 
 
 
As leis que instituem e determinam o que é permitido e o que é proibido no convívio 
social não é uma realidade recente, primeiramente não existiam e foram surgindo aos poucos, 
com o convívio do homem em sociedade. De acordo com os ensinamentos de Boschi , com a 3
formação de grupos de pessoas, os indivíduos começaram a criar regras para as situações 
cotidianas. 
Não havia, no entanto, nessa época, uma idéia de direito e conseqüentemente de pena. 
Nas primeiras tribos, a crença do povo se voltava para o sobrenatural e acreditavam que 
existiam​ ​condutas​ ​proibidas,​ ​consideradas​ ​pecados. 
Entretanto, o sacrifício de um terceiro para amenizar a ira dos deuses em prol da tribo 
não levava em consideração a pessoalidade da pena. Por isso, com o passar do tempo, outra 
espécie de pena instituída para punir os delitos praticados foi a expulsão daquele que infringiu 
acordos do convívio social. Posteriormente, a pena se transformou em uma vingança da 
sociedade contra o delinquente. Com a Lei de Talião, o conhecido brocardo “olho por olho, 
dente por dente”, demonstra que existia uma noção da aplicação de proporcionalidade na 
punição​ ​dos​ ​criminosos. 
O Estado, então, passou a se preocupar com a aplicação das penas conforme 
regulamentação própria. Com a aliança Estado-Igreja, a pena ganha uma face obscura. Nesse 
sentido, temos as condições das sanções penais da época descritas na visão de Boschi, 
Directorium​ ​Inquisitorum​ ​e​ ​Malleus ​ ​Maleficarum . 4
2 ​"À primeira vista a sanção pode ser encarada como um instrumento para tornar eficaz a aplicação das normas 
de um poder formal, por isso é que se diz que a sanção garante a eficácia da norma. Mas a sanção não garante 
somente a eficácia da norma, ela garante a sobrevivência do grupo que elabora as normas. Não é o Estado que 
garante, por via da sanção, a eficácia da norma, é a sanção que garante, por via de sua violência, a sobrevivência 
do Estado enquanto expressão do grupo ou grupos detentores dopoder real". (AGUIAR, Roberto A. R. de. 
Direito,​ ​poder​ ​e​ ​opressão​.​ ​3.ed.​ ​São​ ​Paulo:​ ​Alfa-Ômega,​ ​1990.​ ​p.61). 
3 ​BOSCHI, José Antonio Paganella. ​Das penas e seus critérios de aplicação. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado,​ ​2000,​ ​pp.​ ​87-99. 
4 ​“​Os inquisidores, amparados em duas grandes codificações eclesiásticas – Directorium Inquisitorum e Malleus 
Maleficarum -, desencadearam as mais implacáveis perseguições, ensopando, com acusações absurdas e 
2 
 
Percebe-se, assim, que o corpo do condenado sofria a pena e comumente, havia 
espetáculos públicos, nos quais os delinquentes eram condenados à forca, à fogueira, à 
decapitação. Segundo Dotti é exatamente nos séculos XVII e XVIII a mostra desses castigos 5
cruéis, torturas e inquisições e o aviltante espetáculo público, ao passo que a partir do início 
do século XIX o cárcere tornou-se a principal forma de punição. O mesmo relato é feito por 
Michel​ ​Foucault​ ​ . 6
Nessa fase, a pena servia a poucos que estavam no poder para gerir seus interesses em 
detrimento dos menos favorecidos. Posteriormente, a pena foi vista como ferramenta estatal 
para a punição dos transgressores, para coibir a prática de crimes e atingir a paz social. 
Disseminou-se, então, que melhor que as penas corporais seriam a aplicação de penas como 
as privativas de liberdade ou as restritivas de direitos, proibindo-se as penas cruéis e visando a 
ressocialização do condenado, baseando-se sempre no princípio da dignidade da pessoa 
humana. Dessa forma, ocorreu no Brasil uma evolução gradativa que levou ao direito penal 
existente ​ ​hoje. 
Tendo por base este último aspecto, diz-se que o direito penal funciona como 
instrumento de dominação nas mãos do Estado, a quem compete manter a ordem social, no 
mais das vezes assegurada imperceptivelmente por legislações meramente simbólicas, que 
funcionam apenas diante dos marginalizados, criminalizando-os, e desta forma levando uma 
falsa​ ​sensação​ ​de​ ​tranquilidade​ ​aos​ ​setores​ ​sociais​ ​hegemônicos ​ ​ . 7
 
 
SOBRE​ ​A​ ​FINALIDADE ​ ​DA​ ​PENA 
 
 
O renomado doutrinador BITENCOURT interliga a pena ao Estado Democrático de 
Direito ​ ​da​ ​seguinte​ ​forma: 
 
condenações obtidas mediante confissões extorquidas, o solo de muitas regiões do planeta com o sangue de 
muitos inocentes”. BOSHI, José Antonio Paganella. ​Das penas e seus critérios de aplicação​. Porto Alegre: 
Livraria​ ​do​ ​Advogado,​ ​200,​ ​p.92. 
5​ ​DOTTI,​ ​René​ ​Ariel.​ ​​Bases​ ​alternativas​ ​para​ ​o​ ​sistema​ ​de​ ​penas​.​ ​São​ ​Paulo:​ ​Ed.​ ​RT,​ ​1998,​ ​p.​ ​43. 
6 ​FOUCAULT, Michel. ​Vigiar e punir: nascimento da prisão​.trad. de Raquel Ramalhete. 35. ed. Petrópolis, 
RJ:​ ​Vozes,​ ​2008,​ ​pp.195-198. 
7 ZAFFARONI, Eugenio Raúl.​Manual de direito penal brasileiro: parte geral​. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Ed.​ ​RT,​ ​2004,​ ​p.76-78. 
3 
 
“Pena e Estado são conceitos intimamente relacionados entre si. O desenvolvimento 
do Estado está intimamente ligado ao da pena. Para uma melhor compreensão de 
sanção penal, deve-se analisá-la levando-se em consideração o modelo 
socioeconômico e a forma de Estado em que se desenvolve esse sistema 
sancionador. Convém registrar que uma concepção de Estado corresponde uma 
pena, e a esta uma de culpabilidade. Destaque-se a utilização que o Estado faz do 
Direito Penal, isto é, da pena, para facilitar e regulamentar a convivência dos 
homens em sociedade. Apesar de existirem outras formas de controle social – 
algumas mais sutis e difíceis de limitar que o próprio Direito Penal-, O Estado 
utiliza a pena para proteger de eventuais lesões determinados bens jurídicos, assim 
considerados, em uma organização socioeconômica específica. Estado, pena e 
culpabilidade formam conceitos dinâmicos inter-relacionados. Com efeito, é 
evidente a relação entre uma teoria determinada de Estado com uma teoria da pena, 
e entre a função e finalidade desta com o conceito dogmático de culpabilidade 
adotado. Assim como evoluiu a forma de Estado, o Direito Penal também evoluiu, 
não só no plano geral, como também em cada um dos seus conceitos fundamentais. 
A função do direito penal depende da função que se atribui à pena e à medida de 
segurança, como meios mais característicos de intervenção do Direito Penal. (...) Se 
a pena já não é esse “mal de que falam os defensores das teorias retribucionistas, 
mas, ao contrário, uma grave e imprescindível necessidade social, os postulados que 
fundamentam este conceito submergem em mais profunda crise que tem 
antecedentes no período do Iluminismo. Ainda que se reconheçam fins preventivos 
– gerais ou específicos- para a doutrina tradicional, a pena é concebida como um 
mal que deve ser imposto ao autos de um delito para que expie sua culpa. Isso não é 
outra coisa que a retributiva da pena. Todavia, no decurso histórico do Direito Penal, 
da pena e do Estado, observam-se notórias rupturas, entre as quais se encontra a 
transição das concepções retributivas da pena às orientações preventivas, além de 
algumas outras mais modernas, como as da prevenção geral positiva, limitadora ou 
fundamentadora..​ ​"​ ​​ ​(​ ​BITENCOURT,​ ​2010,​ ​p.83-84) 
 
 
Embora as palavras acima expostas indiquem que a pena não é mais definida como no 
passado, nem deriva das justificativas passadas, e trata na atualidade de uma necessidade 
social, a maioria dos doutrinadores tem apostado na pena em uma concepção geral, numa 
forma de punição do Estado, exercendo seu poder em face do indivíduo, atribuindo-lhe um 
juízo de valor negativo, através de um procedimento adequado, chegando-se à um castigo 
através da pena, que pode ser de várias formas, tanto com privar-lhe a liberdade como 
mandar-lhe​ ​fazer​ ​algo​ ​à​ ​sociedade. 
O ser humano entregou parcelas de sua liberdade ao estado para poder ter mais 
segurança​ ​ao​ ​utilizar​ ​o​ ​restante​ ​de​ ​sua​ ​liberdade,​ ​fazendo​ ​surgir​ ​o​ ​direito​ ​de​ ​punir​ ​do​ ​Estado. 
Conforme​ ​explica​ ​Beccaria​ ​: 
 
“Fatigados de só viver em meio a temores e de encontrar inimigos em toda parte, 
cansados de uma liberdade cuja incerteza de conservá-la a torna inútil, sacrificaram 
uma parte dela para usufruir do restante com mais segurança. A soma destas partes 
de liberdade, assim sacrificadas ao bem geral, constitui a soberania na nação; e 
aquele que foi encarregado pelas leis como depositário dessas liberdades e dos 
trabalhos da administração foi proclamado o soberano do povo”. ( BECCARIA, 
200,p.19​ ​) 
4 
 
 
Numa análise mais detalhada, tem-se a pena agregada a vários outros aspectos. A 
repressão a um delito começa quando se analisa se realmente o fato constitui crime, isso se dá 
pelo estudo dos tipos penais descritos nas normas e que qualificam a determinada conduta 
humana como crime. Portanto, a teoria atual utilizada é a unitária, ou seja, busca conciliar a 
retribuição com fins de prevenção, sendo a pena é uma forma de retribuição a um delitopraticado, prevenindo, assim, novos delitos. Resumindo temos ainda a idéia de retribuição e 
prevenção. 
 
 
APLICAÇÃO​ ​DA​ ​PENA 
 
 
1. Sistema​ ​Trifásico 
 
Em relação à determinação da pena, existem dois sistemas: sistema bifásico e sistema 
trifásico. 
A primeira corrente – sistema bifásico – era preconizada por Roberto Lyra e defendia 
que a fixação da pena deveria ocorrer em duas etapas. Na primeira fase, o juiz analisaria as 
circunstâncias judiciais e legais; na segunda, incidiriam as causas de aumento e de diminuição 
da​ ​pena. 
Por sua vez, a segunda corrente era defendida por Nelson Hungria e estabelecia que 
“[...] o juiz deve fixar a pena-base, atendendo aos critérios estatuídos no art. 59 do Código 
Penal; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as 
causas​ ​de​ ​aumento​ ​e​ ​de​ ​diminuição ​ ​da​ ​pena” . 8
A segunda corrente possuía muitos adeptos, sendo que, ao ser realizada a reforma da 
Parte Geral do Código Penal em 1984, restou expressa a consignação por sua adoção quando 
da aplicação da pena, devendo ser observado pelo julgador o critério trifásico, segundo se 
observa​ ​no​ ​artigo​ ​68​ ​do​ ​Código​ ​Penal. 
Acerca​ ​do​ ​tema,​ ​Nucci​ ​​ ​preconiza: 
 
8 ​ ​​BONFIM,​ ​Edilson​ ​Mougenot.​ ​​Curso​ ​de​ ​processo​ ​penal.​​ ​2009,p.​ ​465. 
5 
 
“A despeito disso, como já ressaltado, prevaleceu o critério proposto por 
HUNGRIA, aliás, o mais detalhado para as partes conhecerem exatamente o 
pensamento do juiz no momento de aplicar a pena. Havendo a separação em três 
fases distintas, com a necessária fundamentação para cada uma delas, torna-se mais 
clara​ ​a​ ​fixação​ ​da​ ​sanção​ ​penal”.​ ​(NUCCI,​ ​2014,​ ​p.151) 
 
 
Destaca, no mesmo sentido, Silva (2003, p. 238) que “[...] não pode o juiz em única 
operação fixar a pena. Há necessidade de que observe o critério trifásico, com fundamentação 
da pena em cada uma das etapas, demonstrando justificadamente o porquê da fixação daquele 
quantum em cada uma das operações”. Alerta o citado doutrinador que a inobservância do 
sistema trifásico gera a nulidade da sentença, segundo entendimento da jurisprudência 
brasileira. 
Assim, em cada uma das etapas é necessária a fundamentação do quantum utilizado, 
bem ​ ​como​ ​a​ ​“obediência”​ ​rigorosa​ ​da​ ​sequência​ ​determinada​ ​pela​ ​lei. 
 
2. Conceito 
 
Previamente ao momento da aplicação da pena deve-se ressaltar o entendimento sobre 
a individualização da pena, que é a base da aplicação da pena. O que é pois individualizar a 
pena? “individualizar a pena, pois, é a função do juiz consistente em escolher, depois de 9
analisar os elementos que dizem respeito ao fato, ao agente e à vítima, a pena que seja 
necessária​ ​e​ ​suficiente​ ​para​ ​reprovação​ ​e​ ​prevenção​ ​do​ ​crime”. 
A individualização da pena é aplicada a cada indivíduo de forma diferenciada, pois 
com isso busca-se o justo punimento ao sujeito criminoso, levando em conta, fatos subjetivos, 
inerentes a cada um, assim não tornando o Direito uma matéria exata, fixa, estática puramente 
positivada, é o momento onde o juiz pode fazer realmente justiça e não tão somente aplicar o 
Direito. 
Logo,refere-se ao exato momento em que o juiz deverá aplicar a lei ao caso concreto e 
não só fazer valer o Direito, u​ma vez que a lei penal entra em vigor e o agente infringe essa 
lei, o mesmo deverá responder por sua conduta. Se o fato praticado é típico, ilícito e culpável, 
o​ ​julgador​ ​individualizará​ ​a​ ​pena​ ​correspondente. 
Segundo Nucci, a aplicação da pena “trata-se de um processo de discricionariedade 
juridicamente vinculada, por meio do qual o juiz, visando à suficiência para reprovação do 
9 ​ ​​FERREIRA,​ ​Gilberto.​ ​​Aplicação​ ​da​ ​Pena.​ ​​​ ​2004,​ ​p.​ ​50. 
6 
 
delito praticado e prevenção de novas infrações penais, estabelece a pena cabível, dentro dos 
patamares​ ​determinados​ ​previamente​ ​pela​ ​lei”​ ​ . 10
Assim, para Kuehne a determinação da pena é o “momento em que se realiza, em 
concreto, a força do direito, impondo-se a sanção jurídica que depende da culpabilidade do 
agente, é o poder discricionário, não arbitrário, do juiz, adstrito a aplicação da pena justa, com 
necessária​ ​motivação​ ​e​ ​fundamentação”​ ​ . 11
Para Santos, a aplicação da pena criminal “ é ato judicial de determinação das 
consequências jurídicas do fato punível, compreendendo a escolha da pena aplicável, a 
quantificação​ ​da ​ ​pena​ ​escolhida​ ​e​ ​a​ ​decisão ​ ​sobre​ ​regime​ ​inicial​ ​de​ ​execução” ​ ​. 12
Assim, para outros autores, dos vários já destacados, Nucci, Ferreira, Bochi, Rocha e 
Santos, ainda que as formulações que tenham sobre a aplicação da pena seja um pouco 
diversas, determinar a medida da pena não consubstancia senão proceder o juízo quantitativo 
da​ ​culpabilidade​ ​ . 13
 
 
3. Orientações​ ​para​ ​determinação 
 
 
O Código Penal estabelece de uma maneira bem metódica as etapas e os critérios que 
o juiz deve seguir para aplicação da pena. Conforme art.68, a fixação da pena compreende 
três fases: na primeira, analisam-se as circunstâncias judiciais, previstas no caput, com 
estabelecimento da pena base. Na segunda, são consideradas as circunstâncias legais, as 
atenuantes e agravantes. Na terceira, são apreciadas as causas especiais de aumento ou 
diminuição. 
Para Carvalho, de maneira didática descreve que a aplicação da pena poderá ser 
“composta por quatro operações necessaŕias e sucessivas: a) Primeira etapa, eleição da pena 
cabível entre as cominadas ( pena privativa de liberdade, pena multa ou pena restritiva de 
direitos); b) Segunda etapa, determinação da quantidade da pena aplicável ( tempo); c) 
Terceira etapa, fixação do regime inicial de cumprimento de pena ( qualidade da pena); d) 
10​ ​NUCCI,​ ​Guilherme​ ​de​ ​Souza.​ ​​Manual​ ​de​ ​Direito​ ​Penal.​ ​​2014,​ ​p.378. 
11 ​ ​​KUEHNE,​ ​Maurício.​ ​​Teoria​ ​e​ ​prática​ ​da​ ​aplicação​ ​da​ ​pena.​ ​​1995,​ ​p.​ ​27. 
12​ ​SANTOS,​ ​Juarez​ ​Cirino​ ​dos.​ ​​Teoria​ ​da​ ​Pena:​ ​fundamentos​ ​políticos​ ​e​ ​aplicação​ ​judicial​.​ ​2005,​ ​p.104. 
13 ​ ​​SANTOS,​ ​Juarez​ ​Cirino​ ​dos.​ ​Op.​ ​cit.,​ ​p.​ ​105. 
7 
 
Quarta​ ​etapa,​ ​avaliação​ ​da​ ​possibilidade​ ​de​ ​aplicação​ ​dos​ ​substitutivos​ ​penais”​ ​ 14
Todavia, o procedimento de aplicação da pena, em realidade, exige o percurso de pelo 
menos oito etapas. Dependendo das circunstâncias, as etapas poderão ficar reduzidas a seis ( 
quando não for concedido o sursis e não ocorrer qualquer das hipóteses do art.92), a cinco ( 
quando não correr substituições, não for concedido sursis e não ocorrer qualquer hipóteses do 
art.92), a três ( quando na espécie concorrerem apenas circunstâncias judiciais, não fi cabível 
a substituição por pena restritiva de direito ou o sursis, e não ocorrer qualquer das causas do 
art.92)​ ​ou​ ​mesmo ​ ​a​ ​duas​ ​(​ ​quando​ ​optar​ ​pela​ ​pena​ ​de​ ​multa​ ​e​ ​não​​haja​ ​causas​ ​modificadoras). 
Eis​ ​as​ ​etapas​ ​: 
1ª ​ ​-​ ​escolha​ ​da​ ​pena​ ​a​ ​ser​ ​aplicada​ ​(​ ​art.59,​ ​I); 
2ª - análise das circunstâncias judiciais para estabelecer a pena-base ( art.59 -caput e art.68, 
primeira​ ​parte); 
3ª - análise das circunstâncias legais ( agravantes e atenuantes - arts.68, segunda parte; 61,62 e 
65); 
4ª ​ ​-​ ​análise ​ ​das​ ​causas​ ​especiais​ ​de​ ​aumento​ ​ou ​ ​diminuição​ ​da​ ​pena​ ​(art.68,​ ​terceira​ ​parte); 
5ª ​ ​-​ ​estabelecimento ​ ​do​ ​regime​ ​inicial​ ​do​ ​cumprimento​ ​da​ ​pena​ ​(​ ​art.59,III,​ ​e​ ​33); 
6ª ​ ​-​ ​realização​ ​das​ ​substituições​ ​cabíveis​ ​(arts.59,​ ​IV;43;44;​ ​e​ ​60,​ ​§2º); 
7ª ​ ​-​ ​concessão​ ​da​ ​suspensão​ ​condicional​ ​da​ ​pena​ ​(art.77); 
8ª ​ ​-​ ​fundamentação​ ​dos​ ​efeitos​ ​da​ ​condenação​ ​referidos​ ​no​ ​art.92. 
Nesse trabalho iremos abordar até a quarta etapa elencada acima, que corresponde 
desde a escolha da pena a ser aplicada, bem como análise das circunstâncias judiciais para 
estabelecer a pena-base, seguindo com circunstâncias legais, as atenuantes e agravantes, e por 
fim​ ​com ​ ​as​ ​causas​ ​de​ ​aumento​ ​e​ ​diminuição​ ​da​ ​pena,​ ​e​ ​calculo ​ ​final. 
 
 
4. Fases​ ​de​ ​aplicação 
 
I​ ​-​ ​Primeira ​ ​etapa:​ ​A​ ​escolha​ ​da​ ​pena 
 
A primeira atividade do juiz no procedimento para determinação da pena será a de 
escolher qual pena, dentre as cominadas, que implicará no caso concreto. É o que determina o 
14 ​ ​​CARVALHO,​ ​Salo​ ​de.​ ​​Penas​ ​e​ ​Medidas​ ​de​ ​Segurança​ ​no​ ​Direito​ ​Penal​ ​Brasileiro.​​ ​2013,​ ​p.​ ​313. 
8 
 
art.59, I. Para a escolha não há um critério específico, senão aquele genérico da reprovação e 
suficiência. Escolhida a espécie de pena, determinada a ​qualidade ​da pena, passará o juiz a 
estabelecer a ​quantidade ​da pena, ingressando na segunda etapa a fim de encontrar a 
pena-base. 
 
 
II​ ​-​ ​Segunda​ ​etapa:​ ​A​ ​definição​ ​da​ ​pena-base 
 
A determinação da pena-base começa com a fixação do ponto de partida, mas a 
questão interessante é saber qual é esse ponto e de que ponto de partida deve partir o Juiz para 
fixar​ ​a​ ​pena-base​ ​já​ ​que​ ​a ​ ​própria​ ​lei​ ​não​ ​fez​ ​nenhuma​ ​menção​ ​do​ ​que​ ​seria​ ​esse​ ​fato. 
Nélson Hungria sustentava que a fixação da pena deveria partir de um “termo 15
médio”, que seria calculado entre o máximo e o mínimo cominados abstratamente pelo 
legislador. Contudo as diversas teóricas entre mínimo e máximo, a conclusão é que o ponto de 
partida​ ​para​ ​fixação​ ​da​ ​pena-base​ ​deve​ ​ser​ ​o​ ​​mínimo​ ​legal​ ​​da​ ​pena​ ​cominada. 
Em relação às circunstâncias judiciais, são assim chamadas porque o seu 
reconhecimento depende do arbítrio do juiz, segundo Santos “as circunstâncias judiciais que 16
se refere os art.59, CP, são de objeto exclusivo do juiz e compreende elementos pertencentes 
ao agente ( culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade e motivos), ao fato ( 
circunstâncias e consequências do crime) e à vítima ( comportamento da vítima), como se 
demonstra”. 
 
a) Elementos​ ​do​ ​agente 
- Culpabilidade: refere-se a culpabilidade do autor na ação, no tipo de injusto, pois sem culpa 
não ​ ​pode​ ​haver​ ​pena. 
- Antecedentes: são os acontecimentos anteriores ao fato, relevantes como indicadores de 
aspectos​ ​positivos​ ​ou​ ​negativos​ ​da​ ​vida​ ​do​ ​autor​ ​e​ ​capaz​ ​de​ ​influenciar​ ​a​ ​aplicação​ ​da​ ​pena. 
- Conduta Social: é o conjunto de comportamento relevantes e/ou significativos da vida do 
autor, sendo ele analisados desde de criança, ainda quando era aluno, como filho, como 
marido,​ ​como​ ​empregado,​ ​etc,​ ​em​ ​sua​ ​vida​ ​social. 
15 ​ ​​Ver​ ​“Aplicação​ ​da​ ​Pena”,​ ​​in​​ ​​RF​,​ ​vol.90,​ ​p.525. 
16​ ​SANTOS,​​ ​​Juarez​ ​Cirino​ ​dos.​ ​​Teoria​ ​da​ ​Pena​ ​-​ ​Fundamentos​ ​políticos​ ​e​ ​Aplicação​ ​judicial.​ ​​2005,​ ​p.108. 
9 
 
- Personalidade: diz respeito a individualidade do sujeito, sua índole, sua maneira de agir e 
sentir, à sua maneira de ser. É um conjunto de condições fundamentais, quer de inteligência, 
de sensibilidade e de vontade, quer mesmo fisiológicas que identificam um indivíduo de 
outro. 
-Motivos: no sentido móbil do crime, é fato ultimo que desencadeia a ação criminosa. Diz 
respeito​ ​aos​ ​aspectos​ ​dinâmicos​ ​de​ ​pulsões​ ​instintuais ​ ​do​ ​​id​. 
 
b) Elementos​ ​do​ ​fato 
- Circunstâncias: são todos os dados que se encontram em redor da figura típica e que servem 
para atenuar ou agravar a pena. Podemos ter circunstâncias judiciais, legais, causas especiais 
de aumento ou de diminuição e as qualificadoras. Aqui importa, por exemplo, o lugar onde o 
crime ocorreu, o modo de execução do fato, as relações do autor com a vítima etc, que podem 
influir​ ​na​ ​pena-base,​ ​são​ ​dessas​ ​circunstâncias​ ​que​ ​nos​ ​referimos. 
- Consequências: as consequências do fato vão designar outros resultados de natureza pessoal, 
afetiva, moral, social, econômica ou política produzidos pelo crime, dotados de significação 
para o juízo de reprovação, mas inconfundíveis com o resultado do próprio tipo de crime: o 
sofrimento​ ​material ​ ​ou​ ​moral ​ ​sofrido,​ ​exemplo. 
 
c) Comportamento​ ​da​ ​vítima 
Aqui limita-se em contribuições efetivas da vítima para a realização do crime, 
mediante provocação, estímulo, negligência, facilitação, etc. A contribuição da vítima pode 
ser nenhuma, no caso de vítimas inocentes; pode ser parcial, no caso de vítimas ingênuas ou 
de vítimas descuidadas; pode ser equivalentes à contribuição do autor, no caso de 
provocações;​ ​e​ ​total​ ​ou ​ ​absoluta​ ​no ​ ​caso​ ​de​ ​situação​ ​justificante​ ​de​ ​legítima​ ​defesa. 
 
 
III​ ​-​ ​Terceira​ ​etapa:​ ​Circunstâncias​ ​legais 
 
Até o momento analisamos as circunstâncias judiciais que tem por objetivo estabelecer 
a pena de maneira necessária e suficiente para prevenção e reprovação do crime (art.59, parte 
final, CP). a conclusão dessa primeira parte se encerra com a determinação da pena definitiva 
aplicável, e depende da operacionalização das fases seguintes, obrigatoriamente influentes na 
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mensuração da pena: a segunda fase, representada pela identificação das circunstâncias 
agravantes e atenuantes genéricas e a terceira fase, representada pela identificação das causas 
especiais​ ​de ​ ​diminuição​ ​ou​ ​de​ ​aumento​ ​da​ ​pena. 
As circunstâncias agravantes e atenuantes, conhecidas como circunstâncias legais, são 
genéricas porque aplicáveis a todos os fatos puníveis, e são obrigatórias porque devem 
agravar ou atenuar a pena. São essas circunstâncias que irão atribuir valor da pena seja ela por 
quantidades​ ​de​ ​agravação​ ​ou​ ​de​ ​atenuação​ ​da​ ​pena-base. 
 
a) Circunstâncias​ ​agravantes 
Previstas​ ​no ​ ​art.61, ​ ​CP. 
- Reincidência: significa prática de novo crime depois do trânsito em julgado de sentença 
criminal condenatória anterior, e é demonstrada por certidão de trânsito em julgado da 
condenação anterior e se extingue pelo decurso do prazo de 5 anos entre o cumprimentoou 
extinção da pena do crime anterior e o novo crime. A agravamento da pena com base na 
reincidência, considerando alguns pressupostos para determinar o quantum da agravação: a 
execução da pena anterior, o espaço de tempo entre o crime anterior e o novo crime, a relação 
de​ ​gravidade​ ​entre​ ​os​ ​crimes​ ​etc. 
- Motivo fútil ou torpe: motivos insignificantes, de natureza irrelevantes para explicar o fato 
criminoso. 
- Facilitar ou assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime: 
prática​ ​de​ ​um​ ​delito​ ​​ ​com​ ​a​ ​finalidade​ ​de​ ​assegurar​ ​ou​ ​facilitar​ ​a​ ​execução​ ​de​ ​outro​ ​crime. 
- Traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte ou impossibilite a defesa da 
vítima 
- Emprego de veneno, fogo, explosivos, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que 
possa ​ ​resultar​ ​perigo​ ​comum:​ ​são​ ​os​ ​meios​ ​escolhidos​ ​pelo​ ​autor​ ​para​ ​realizar​ ​o​ ​fato​ ​punível. 
-​ ​Vitimização​ ​de​ ​ascendente,​ ​descendente,​ ​irmão​ ​ou​ ​cônjuge 
- Abuso de autoridade ou prevalecimento de relações domésticas, de coabitação ou de 
hospitalidade 
- Crime cometido com abuso de poder ou de violação de dever inerente a cargo, ofício, 
ministério ou profissão: abuso de poder aqui refere-se ao excessos praticados por autoridades 
públicas​ ​ou​ ​funcionários​ ​no​ ​exercício​ ​ou​ ​em​ ​razão​ ​de​ ​suas​ ​profissão. 
-​ ​Crime​ ​cometido ​ ​contra​ ​criança,​ ​maior​ ​de​ ​60​ ​anos,​ ​​ ​enfermo​ ​ou​ ​de​ ​mulher​ ​grávida 
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-​ ​Vítima ​ ​sob​ ​imediata​ ​proteção​ ​da​ ​autoridade 
- Ocasião de calamidade pública ( incêndio, naufrágio, inundação, etc) ou de desgraças 
particulares​ ​da​ ​vítima 
- Embriaguez preordenada: a embriaguez proposital ou intencional para realizar crime doloso 
determinado. 
 
b) Circunstâncias​ ​atenuantes 
-​ ​Menoridade​ ​e​ ​senilidade 
-​ ​Desconhecimento​ ​da​ ​lei.​ ​Erro​ ​de ​ ​tipo​ ​e​ ​erro​ ​de​ ​proibição 
-​ ​Arrependimento​ ​do​ ​agente ​ ​ou​ ​reparação​ ​do​ ​dano 
- Coação resistível, cumprimento de ordem de autoridade superior ou violenta emoção 
provocada​ ​por​ ​ao​ ​injusto​ ​da​ ​vítima 
-​ ​Confissão​ ​espontânea​ ​de​ ​autoria​ ​de​ ​crime​ ​perante​ ​autoridade 
-​ ​Influência​ ​de​ ​multidão​ ​em​ ​tumulto​ ​não​ ​provocado 
 
Concurso - ​ocorrendo num mesmo caso circunstâncias agravantes e atenuantes deve o juiz 
optar por aquelas de caráter subjetivo e que dizem respeito aos motivos determinantes do 
crime,​ ​à ​ ​personalidade​ ​do ​ ​agente​ ​e​ ​à​ ​reincidência.​ ​É​ ​​ ​o​ ​que​ ​diz​ ​o​ ​art.67. 
 
IV​ ​-​ ​Quarta​ ​etapa:​ ​Causas​ ​especiais​ ​de​ ​aumento​ ​ou​ ​de​ ​diminuição ​ ​da​ ​pena 
 
Nessa fase se esgota o itinerário do método Nelson Hungria, incorporado ao Código 
Penal​ ​pela​ ​Reforma​ ​de​ ​1984.​ ​A​ ​pena​ ​estabelecida​ ​nessa​ ​fase​ ​será​ ​a​ ​definitiva. 
Escolhida a pena a ser aplicada (1ª etapa), estabelecida a pena-base através da análise 
das circunstâncias judiciais (2ª etapa), agravada ou diminuída se houver incidentes 
circunstâncias atenuantes ou agravantes (3ª etapa), passa o juiz na quarta etapa a apreciar as 
causas de aumento ou diminuição da pena por ventura existentes. A causas especiais de 
aumento ou de diminuição de pena estão presentes tanto na parte geral do código penal como 
na​ ​parte​ ​especial,​ ​além​ ​de​ ​legislações​ ​extravagantes​ ​especiais. 
Assim, exemplo, a tentativa é punida com pena relativa ao crime consumado, 
diminuída de um a dois terços ( art.14, parágrafo único). No concurso formal, a pena é 
aumentada de um sexto até a metade (art.70). O homicídio cometido por motivo de relevante 
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valor social ou moral tem a pena reduzida de um sexto a um terço (art.121,§1º ). No crime de 
omissão de socorro, a pena é aumentada de metade, se de omissão resultar lesão corporal de 
natureza​ ​grave,​ ​e ​ ​triplicada,​ ​se​ ​resulta​ ​a​ ​morte​ ​(art.135,​ ​parágrafo​ ​único). 
 
- Determinação​ ​do ​ ​​Quantum​ ​​do​ ​aumento​ ​ou​ ​diminuição 
É de se ressaltar que quando o aumento ou a diminuição é variável ( de um a dois 
terços, ou de um terço a metade), a determinação do ​quantum de aumento ou diminuição não 
é feita de acordo com os critérios do art.59, mas sim do art.42 aplicável sempre que o juiz 
tenha​ ​de​ ​usar​ ​sua​ ​faculdade​ ​de​ ​arbítrio. 
Por isso devemos analisar que o fato da pena-base ter sido fixada no mínimo legal não 
acarreta, necessariamente, a fixação do aumento em seu nível mínimo e vice-versa, como 
ensina ​ ​Roberto​ ​Lyra: 
“ A escolha de uma quantidade concreta entre o mínimo e o máximo é deixada ao 
juiz, não só nos casos em que ele deva determinar desde de logo a pena, mas, 
também, nos casos em que deva fixar pena-base sujeita a aumento ou diminuição. 
Nada obsta a fixação da base mínima nos casos em que deva proceder a aumento e 
da base máxima nos casos em que deva proceder a diminuição. Pela mesma razão o 
juiz não é obrigado a aplicar o aumento mínimo quando ao mínimo se atendeu na 
pena-base, nem aplicar o aumento máximo, se atendeu ao máximo.” ( LYRA, 1942, 
p.172) 
 
- Forma ​ ​de​ ​Cálculo 
O percentual de aumento ou diminuição é aplicado sobre o resultado da pena que vem 
sendo construído nas outras fases. O critério utilizado é o cumulado, ou seja, o aumento ou a 
diminuição​ ​incidirá​ ​sobre​ ​o​ ​resultado​ ​da​ ​operação​ ​anterior,​ ​e​ ​não​ ​sobre​ ​a​ ​pena-base. 
 
- Concurso ​ ​de​ ​causas​ ​de​ ​aumento​ ​ou​ ​diminuição 
É somente sobre as causas de aumento ou somente sobre causas de diminuição, não é 
entre​ ​uma​ ​ou​ ​outra​ ​que​ ​o​ ​art.68​ ​se​ ​refere. 
 
 
ANÁLISE ​ ​EM​ ​CASO​ ​CONCRETO​ ​SOBRE ​ ​A ​ ​DETERMINAÇÃO​ ​DA ​ ​PENA 
 
A partir de todo estudo teórico e básico obtido neste trabalho, calcou-se necessidade 
de exemplificar, em um caso concreto e jurídico, a importância das fases e requisitos da 
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determinação da pena, de maneira que, conhecer e reconhecer é um processo que necessita 
constante atividade. Como já colocado aqui neste trabalho, a dosimetria é o ato de maior 
importância ​ ​ao​ ​aplicar​ ​o​ ​Direito. 
O caso trata-se de Recurso Habeas Corpus nº 24.725 - DF (2008/0234970-0) - STJ, 
interposto por HERLIDRIANO SEVERINO DA SILVA, contra acórdão da Primeira Turma 
Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ementado nos seguintes 
termos: 
 
"HABEAS CORPUS. ROUBO DUPLAMENTE QUALIFICADO. 
SENTENÇA COM TRÂNSITO EM JULGADO. ALEGAÇÃO DE 
EXCESSO NA DOSAGEM DA PENA. DENEGAÇÃO DA ORDEM. Não 
há evidência de dosagem manifestamente ilegal, porque, 
fundamentadamente observados pelo magistrado, ao fixar a pena, os artigos 
59 e 68 do Código Penal. O crime praticado foi um roubo à mão armada e 
em concurso de pessoas em agência do Banco do Brasil, subtraído dinheiro 
deste além de um revólver de vigilante bancário. Foi razoável a fixação da 
pena-base em cinco anos de reclusão, em face de, ​registrando o paciente 
antecedentes criminais,embora sem condenações transitadas em 
julgado, isso denotar conduta social desabonadora e personalidade 
tendente à prática de delitos​, conforme justificado na sentença. Aliás, 
como consta da sentença, admitiu o paciente em juízo: “... o interrogando e 
demais acusados praticaram outros roubos a estabelecimento bancário nesta 
capital, cerca de meia dúzia, no total; que todos foram praticados pelo 
mesmo grupo ...” Foi beneficiado o paciente com a atenuante da confissão e 
com a delação premiada, restando definitiva sua pena em ​4 (quatro) anos e 
6 (seis) meses de reclusão ( primeira instância foram 5 anos em regime 
fechado,​ ​e​ ​no​ ​TJ​ ​4​ ​anos​ ​e​ ​6​ ​meses​ ​como​ ​mostra). 
 
O Paciente foi condenado a uma pena de 04 anos e 06 meses de reclusão, em regime 
fechado, pela prática do crime disposto no art. 157, § 2.°, incisos I e II, do Código Penal. O 
recorrente, no caso recorreu a decisão, contra a fixação da pena imposta, alegando que o Juízo 
prolator da sentença condenatória exasperou indevidamente a pena-base. Sustenta, em suma, 
que a consideração dos maus antecedentes para majorar a pena-base constitui 
constrangimento​ ​ilegal,​ ​uma​ ​vez​ ​que​ ​inexiste​ ​sentença​ ​condenatória​ ​transitada​ ​em​ ​julgado. 
14 
 
O STJ relatou no seguinte sentido que a principal tarefa do julgador, o julgador deve, 
ao individualizar a pena, examinar com acuidade os elementos que dizem respeito ao fato, 
obedecidos e sopesados todos os critérios estabelecidos no art. 59, do Código Penal, para 
aplicar, de forma justa e fundamentada, a reprimenda que seja, proporcionalmente, necessária 
e​ ​suficiente​ ​para​ ​reprovação​ ​do​ ​crime. 
Não pode o magistrado sentenciante majorar a pena-base fundando-se, tão-somente, 
em referências vagas, genéricas, desprovidas de fundamentação objetiva para justificar a 
exasperação, a personalidade do criminoso não pode ser valorada negativamente se não 
existirem,​ ​nos​ ​autos,​ ​elementos​ ​suficientes​ ​para​ ​sua​ ​efetiva​ ​e​ ​segura​ ​aferição​ ​pelo​ ​julgador. 
Especialmente, quando considerar desfavoráveis as circunstâncias judiciais, deve o 
magistrado declinar, motivadamente, as suas razões, pois a inobservância dessa regra ofende o 
preceito ​ ​contido​ ​no​ ​art.​ ​93,​ ​inciso​ ​IX,​ ​da​ ​Constituição​ ​Federal. 
Os Inquéritos policiais ou ações penais em andamento não podem ser levados em 
consideração para fixação da pena-base, em respeito ao princípio constitucional do estado 
presumido de inocência. Observou-se a justificada a fixação de regime prisional mais 
gravoso, diante da existência de circunstância judicial desfavoráveis ao réu, tanto que 
estabelecida​ ​a​ ​pena-base​ ​acima​ ​do​ ​mínimo​ ​legal. 
Ao final a decisão do STJ em relação a dosimetria finald a pena foi de “guardada a 
proporcionalidade, deve ser reduzida a pena-base do Recorrente para 4 (quatro) anos e 6 (seis) 
meses de reclusão. Mantida a redução de 1/3 (um terço) pela aplicação da causa de 
diminuição de pena prevista no art. 14 da Lei n.º 9.807/99, resta fixada a pena em 3 (três) anos 
de reclusão. Mantido, ainda, o aumento de 1/3 (um terço) pela aplicação das majorantes 
relativas ao emprego de arma e concurso de agentes, torno definitiva a reprimenda do ora 
Recorrente em ​4 (quatro) anos de reclusão​. Por fim, dispõe o artigo 33, § 2.º, alínea c, do 
Código Penal, que ​"o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 
(quatro) anos, poderá, desde o princípio, cumpri-la em ​regime aberto ​". Na hipótese, contudo, 
diante da existência de circunstância judicial desfavorável ao réu, deve ser fixado como 
regime​ ​inicial​ ​de​ ​cumprimento ​ ​de​ ​pena​ ​o​ ​semiaberto”. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
15 
 
 
Um dos temas mais complexos do Direito Penal é, sem dúvida, a aplicação da pena. 
Estabelecer critérios minimamente objetivos, que atendam aos pressupostos da 
individualização ​ ​da​ ​pena​ ​no​ ​caso​ ​concreto​ ​é​ ​tarefa​ ​que​ ​suscita​ ​diversas​ ​dúvidas. 
Apesar de já estarem positivados na lei os critérios a serem “seguidos” na dosimetria, 
não há consenso entre doutrinadores sobre a correta utilização desses institutos. Isso se dá por 
duas razões principais: a) o elevado grau de abstração de determinados conceitos e; b) o 
estabelecimento de critérios relacionados ao modo de viver do delinquente, o que, parte da 
doutrina entende não se compatibilizar com o Estado Democrático de Direito, sendo, ao 
contrário,​ ​manifestação​ ​do​ ​direito ​ ​penal​ ​do​ ​autor​ ​e​ ​não​ ​do​ ​fato. 
A análise realizada, tanto teoricamente, abordando para conhecimento do leitor como 
se dá a determinação da pena, como no caso concreto, evidencia a necessidade de alteração da 
legislação penal. A melhor definição dos critérios de aplicação da pena e a eliminação de 
circunstância incompatíveis com o atual estágio constitucional brasileiro (conduta social e 
personalidade) são medidas urgentes e imprescindíveis para a evolução do sistema penal, 
garantindo-se​ ​aos​ ​acusados​ ​um​ ​tratamento​ ​igualitário​ ​e​ ​livre​ ​de​ ​discriminações​ ​diversas. 
Além disso, um sistema de regras bem definidas diminui a insegurança jurídica e 
concede maior uniformidade aos entendimentos jurisprudenciais, reduzindo a quantidade de 
decisões​ ​reformadas​ ​pelos​ ​órgãos​ ​superiores. 
Por fim, é importante ressaltar que o estabelecimento de regras verdadeiramente 
garantistas contribuirá para a efetividade do princípio da isonomia. Isso porque, como se sabe, 
os tribunais superiores, notadamente o STF, através da interpretação constitucional, têm 
aplicado diversos postulados garantistas, ainda que a despeito da norma infraconstitucional. 
Entretanto, nem sempre essas orientações são seguidas pelos juízos locais, gerando uma 
enorme discrepância entre aqueles que têm possuem condições (financeiras) de submeterem 
seus​ ​casos​ ​às​ ​últimas​ ​instâncias​ ​e​ ​aqueloutros​ ​que​ ​não​ ​possuem. 
Ainda que o discurso jurídico se revista de “igualdade na lei” comportando todas as 
classes, sabemos que a possibilidade de escapar a uma definição jurídico-penal, seja ela de 
criminoso,​ ​sem​ ​terra,​ ​bandido,​ ​​ ​cresce​ ​à​ ​medida​ ​que​ ​se​ ​sobe​ ​na​ ​hierarquia​ ​social​ ​capitalista. 
 
 
 
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