Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
34 Ansiolíticos Maria Arnélia Barala da Silveira INTRODUÇÃO Os ansiolíticos são fármacos utilizados no combate aos sintomas causados pela ansiedade. Essa disfunção do sistema nervoso central é mal característico do atual século. Parece, em sua grande parte, ser causada pelo próprio homem. No afã de construir estrutura social que lhe parece adequada, ele não percebe que o está destruin<fo física e mentalmente. A Associação Americana de Psiquiatria conceitua ansiedade como tensão, apreensão, desconforto, que se origina de perigo interno ou externo iminente, podendo ser resposta a estresse ou a estímulo ambiental. Muitas vezes ocorre sem causa aparente. A ansiedade dentro de certos limites é considerada normal, e o indi- víduo não requer nenhum tipo de tratamento. Quando o quadro tende a se prolongar ou aprofundar, interferindo com o desempenho normal do indivíduo, torna-se necessária a sua avaliação clínica e, eventualmente, a instituição de algum tipo de tratamento. Muitas vezes, a ansiedade está associada a certos tipos de patologias, como hipertensão, asma, hiper- tireoidismo ou câncer, podendo causar desconforto grave ao paciente. Nesses quadros, o tratamento constitui grande alívio para o doente. Atualmente, os transtornos mentais situam-se, em prevalência, no mesmo nível das doenças cardiovasculares, incluindo a hipertensão. Desses transtornos, a ansiedade é o problema mais frequente encon- trado em atendimento médico primário e na população de modo geral. A incidência é maior na população ativa, atingida em sua vida pessoal e profissional. Entretanto, torna-se cada vez mais comum a observação de casos de ansiedade em pediatria e as causas mais frequentes estão associadas ao ritmo de vida a elas imposto, bem como a problemas de ordem familiar, mormente os relacionados a separação dos pais. Muitas vezes. não identificando o problema, o paciente não procura ajuda espe- cializada. podendo agravar o quadro clínico. Na realidade, o termo ansiedade engloba uma série de quadros clínicos diversos, que apresentam prognósticos diferentes e terapêutica específica. Destarte, antes da instituição de qualquer tipo de tratamento, é importante que seja feita a identificação cuidadosa dos principais grupos de sintomas que o paciente apresenta. para o estabelecimento do diag- nóstico. Em alguns casos, é mais importante o tratamento psicológico que o farmacoterápico. A Associação Americana de Psiquiatria reformulou os quadros clínicos da ansiedade da seguinte maneira: • reação de ajustamento com humor ansioso; • transtorno de pânico; • transtorno de pânico com agorafobia; • agorafobia sem ataques de pânico; • fobia social; • fobias específicas; • transtorno obsessivo compulsivo; • transtorno de ansiedade generalizado; • transtorno de estresse pós-traumático. A reação de ajustamento com humor ansioso refere-se à sintoma- tologia apresentada diante de evento vital estressante. Normalmente o quadro clínico é breve e, em geral, não requer tratamento. O transtorno de pânico é ataque súbito, incontrolável e inexplicável de medo, sensação de terror, normalmente acompanhado de manifesta- ções autonômicas intensas (dispneia, palpitação, vertigem, sudorese das extremidades, sensação de asfixia, desconforto precordial). O transtorno de pânico com agorafobia refere-se ao pânico acom- panhado da esquiva de situações sociais diversas. A agorafobia sem ataque de pânico normalmente está associada a outras patologias, e é sintoma secundário. A fobia social, de maneira geral, caracteriza-se pela esquiva de situação que exponha o paciente ao público, limitando, assim, sua vida social. Fobias específicas são aquelas em que o estímulo fóbico é circunscrito a certas situações. Caracterizam-se pelo medo irracional a certas atividades ou objetos. O medo é demasiadamente desproporcional às ameaças reais. O transtorno obsessivo compulsivo caracteriza-se pelo pensamento ou imagens consideradas sem sentido ou repugnantes e rituais ansiosos (compulsões}, em que determinadas ações são realizadas de maneira repetitiva, sem nenhuma finalidade (p.ex., lavar as mãos ou pentear os cabelos com frequência, arrancar cabelos). O transtomo de ansiedade generalizado apresenta sintomas seme- lhantes aos da reação de ajustamento. É porém crônico e profundo. O transtorno de estresse pôs-traumático é quadro ansioso crônico ligado a evento estressante extremo, violento ocorrido com o paciente (p.ex., tortura, estupro). Nessa classificação, muitos especialistas recomendam a inclusão dos estados mistos depressivos ansiosos, em que há associação da~ duas disfunções mentais. A superposição de sintomas depressivos e ansiosos dificulta o diagnóstico dessa comorbidade, que chega a atingir até 70% dos pacientes com disfunção mental. . Grande parte dos estados ansiosos, principalmente aqueles passa- geiros, não necessita de tratamento. O próprio paciente tende a se resta- belecer, passado o fato que deu origem ao quadro. Outras vezes, porém, quando a sintomatologia se torna prolongada, profunda, afetando a vida normal do indivíduo, torna-se necessária a instituição de tratamento, 330 FARMACOLOGIA que poderá ser baseadp em terapêutica comportamental, em terapêutica medicamentosa ou na associação de ambas. A ansiedade, qualquer que seja o fator desencadeante, apresenta como agente etiológico o desequilíbrio entre mediadores estimulantes e depressores centrais. Entretanto, não se conhecem ainda todos os fatores envolvidos, bem como estruturas e mecanismos de ação ao nível de receptores, existindo apenas indicações 'quanto a determinados tipos compreendidos. Os estudos nesse setor são muito intensos. Destarte, os fármacos disponíveis no arsenal terapêutico não são curativos, e sim meramente paliativos, atenuando o quadro de desequi- líbrio do paciente. CLASSIFICAÇÃO DOS FÁRMACOS Os fármacos disponíveis no arsenal terapêutico contra a ansiedade podem ser classificados em: • benzodiazepínicos; • GABA e derivados; • agonistas parciais do receptor 5HTA; • barbitúricos; • diversos. Benzodiazepínicos O primeiro elemento da série, o clordiazepóxido, foi produto inespe- rado de síntese planejada por Sternbach, em 1961. Testes preliminares '7yR, N 2 ' B 3 R, 4 N ,R, R, Fig. 34.1 Fórmula geral dos benzodiazepínicos. em animais mostraram efeitos miorrelaxantes e calmantes, em doses baixas. Esses resultados incentivaram estudos clínicos feitos em volun- tários humanos para comprovar os efeitos tranquilizantes. Mais de 2.000 derivados benzodiazepínicos foram sintetizados. Os comercializados no Brasil estão arrolados no Quadro 34.1. Nesse quadro não se incluem as associações. Porém, diversas especialidades farmacêuticas que os contêm em associações com outros fármacos são comercializadas. A rigor, essas associações são consideradas irra- cionais. Quadro 34.1 Benzodiazepínicos comercializados no Brasil, excluindo-se as associações Nome Nome Genérico Comercial Rl R2 R3 R7 R2' Alprazolam Frontal Anel triazólico -H -C! -H fundido > Bromazepam Bromazepam -H =O -H -Br Brozepax Deptran Lexotan Nervium Neurilan Novazepam Somalium Clobazam Frisium -cH3 =O -H -cl -H Clonazepam Rivotril -H =O -H -N02 -cl Clorazepato Tranxilene -H =0 -co o -cl -H Clordiazepóxido Psicosedin -H -NHCH3 -H -cl -H Cloxazolam Clozal -H =O -H -cl -cl Anel tetraidro-oxazólico Elum fundido em 4 e 5 Olcadil Diazepam Ansilive --cH3 =O -H --cl -H Calmociteno Com paz Diazepam Dienpax Kiatrium Letansil Noan Somaplus Vali um Flunitrazepam Rohypnol -H =O -H -N02 -F Flurazepam Dalmadorm --cH2CH2N(C2H5)2 =O -H --cl -F Lorazepam Calmogenol -H =O -QH --cl --cl Lorax Lorium Max-Pax Mesmerim Midazolam Dormonid Anel imidazólico -H --cl -Ffundido Nitrazepam Nitrapan -H =O -H -N02 -H Nitrazepam Nitrazepol Sonebon O estudo da relação estrutura-atividade iniciou-se em 1982 pelo próprio Sternbach. A partir daí, numerosos estudos foram efetuados nessa área. O termo benzodiazepínico é usado em função da presença do anel A fundido ao anel 8. O substituinte 5-aril (anel C) aumenta muito a potência, podendo ser substituído por anel de cinco membros fundido às posições 3 e 4, formando derivado antramicínico. O anel A pode ser substituído por sistema heteroaromático, como o tieno (caso do brotizolam). As propriedades dos substituintes das posi- ções I e 3 podem variar bastante, incluindo grupos imidazólicos e triazólicosfundidos em I e 2. Grupos aceptores de elétrons na posição 7 realçam a atividade. Grupos doadores de elétrons, grupos substituintes volumosos nessa posição e substituições variadas nas demais posições do anel A reduzem a atividade. Grupos aceptores de elétrons nas posições 2' ou 4' do anel C aumentam a atividade e, em outras posições, a diminuem. A substituição na posição 5 do anel 8 por carbonila e na posição 4 por grupo metílico dá origem a fármaco antagonista, o flumazenil. Em 1992, o triazolam (Halcion, Onirium) teve sua comercialização proibida no Brasil, pelo Ministério da Saúde, por causar graves efeitos nocivos à saúde. O mesmo fenômeno ocorreu na maioria dos países europeus e nos Estados Unidos da América do Norte. Pela sua alta eficácia e relativa segurança, os benzodiazepínicos ainda são considerados os principais ansiolíticos, muito embora outros fármacos tenham sido recentemente introduzidos na terapêutica, com essa finalidade. Os protótipos dessa classe são o diazepam e o clordiazepóxido. Seus efeitos resultam de ações sobre o sistema nervoso central. Os efeitos principais, além da diminuição da ansiedade, incluem sedação, hipnose, relaxamento muscular e propriedades anticonvulsivantes (clonazepam, clorazepato e diazepam são usados clinicamente com esse objetivo). O alprazolam causa, em alguns casos, efeitos antide- pressivos. Alguns efeitos por eles produzidos podem advir de ações periféricas:. vasodilatação coronariana que surge após a administração intravenosa de certos benzodiazepínicos e bloqueio neuromuscular após doses elevadas. Quanto ao uso clínico, são considerados fármacos de primeira escolha no tratamento da ansiedade. Além disso, podem ser úteis como miorre- laxantes, anticonvulsivantes, pré-anestésicos e anestésicos propriamente ditos. A escolha dos diferentes benzodiazepínicos disponíveis deve ser feita após o diagnóstico da disfunção, bem como após a avaliação das condições físicas do paciente. Com o uso crônico aparece a tolerância em relação tanto aos efeitos adversos quanto aos terapêuticos. No caso do diazepam, com relação à tolerância diante dos efeitos terapêuticos, ela aparece após cerca de 22 semanas. EFEITOS ADVERSOS. PRECAUÇÕES. TOLERÂNCIA. TOXICIDADE O efeito adverso mais comum, ao ser alcançada a concentração plasmática adequada, é a se®ção, que varia conforme o paciente, a idade e condições gerais, comandadàs por fatores farmacodinâmicos e farmacocinéticos. Ocorrem também lassidão, incoordenação motora, diminuição da velocidade de raciocínio, ataxia, redução das funções físicas e mentais, confusão, disartria, secura da boca e gosto amargo. A atividade mental é menos afetada que a física. Pode ocorrer aumento de peso corporal, pelo aumento do apetite. Daí serem consideradas irracionais as associações medicamentosas empregadas para o emagre- cimento que os contêm em sua formulação com a finalidade de redu- zirem os eteitos dos estimulantes anfetamínicos empregados nessas formulações. A interação com álcool deve ser levada em consideração, podendo ser extremamente grave. Outros efeitos mais raros são: fraqueza, cefaleia, visão turva, náuseas e vômitos, desconforto epigástrico e diarreia. Podem ainda aparecer dores nas articulações e no tórax. O nitrazepam e o flurazepam podem ocasionar insônia na primeira semana de uso. Ocasionalmente, o flurazepam pode causar ansiedade, irritabilidade, taquicardia e sudorese. Podem ocorrer euforia e aluci- nações. Alguns pacientes podem apresentar comportamentos bizarros, hosti I idade e agressividade. Paranoia, depressão e tendência ao suicídio ANSIOLÍTICOS 331 são eventos mais raros. Esses efeitos foram a causa da retirada do comércio de fármacos como o triazolam. Não se deve esquecer que alguns benzodiazepínicos atravessam a barreira placentária. Assim, recém-nascidos de mães dependentes do fármaco podem desenvolver crises de abstinência. Mães que neces- sitem utilizar o fármaco duyante período de amamentação devem ter seus filhos observados qUanto a possíveis efeitos relacionados ao fármaco. Os pacientes epilépticos que utilizam benzodiazepínicos devem ser avaliados de maneira rigorosa e contínua, mormente se empregarem outros depressores ao mesmo tempo. Apesar de todos os efeitos apontados, os benzodiazepínicos ainda são considerados fármacos com boa margem de segurança. Mesmo em doses maciças, raramente são fatais, a menos que sejam administrados com outros depressores do SNC. Embora não causem problemas circu- latórios ou respiratórios profundos ainda que em doses tóxicas, doses terapêuticas podem comprometer a respiração de pacientes com doença respiratória obstrutiva. O flumazenil é o fármaco empregado como anta- gonista eficaz no tratamento de intoxicações especificamente causadas pelos benzodiazepínicos. FARMACOCINÉTICA · O uso desses fármacos está intimamente relacionado com a sua farmacocinética e com as suas propriedades físico-químicas. São fármacos lipofílicos, e essa característica pode ser alterada em até 50 vezes, dependendo da polaridade e eletronegatividadc dos grupos químicos substituintes. Em sua maioria, os benzodiazepínicos são completamente absor- . vidos sem antes sofrer biotransformação. Excetua-se o clorazepato, que é descarboxilado no suco gástrico em nordazepam, para depois ser absorvido. O diazepam é rapidamente absorvido, atingindo o pico máximo em I hora nos adultos e 15 a 30 minutos em crianças. Já o clonazepam e o oxazepam apresentam absorção bastante lenta após a administração oral, levando várias horas para atingir seu pico de concentração plasmática. O alprazolam, o clordiazepóxido e o lorazepam possuem velocidades intermediárias de absorção. A injeção intramuscular de henzodiazepínicos tem absorção impre- visível, excetuando-se o lorazepam. A biotransformação dos principais benzodiazepínicos encontra- se esquematizada na Fig. 34.2. Ocorre no fígado, através de enzimas microssômicas. O conhecimento da biotransformação e da natureza dos metabólitos gerados é de fundamental importância em seu uso. Assim, o flurazepam, que tem meia-vida plasmática de 2-3 horas, dá origem ao metabólito N-desalquilflurazepam, que possui meia-vida de mais de 50 horas. Os benzodiazepínicos, em sua maioria, bem como os seus meta- bólitos, possuem alta afinidade de ligação a proteínas (85-90%). Esse fator limita a utilização da diálise em casos de intoxicação. O volume aparente de distribuição, em média, situa-se entre I a 3 L/kg de peso corporal. Aparentemente, os benzodiazepínicos não induzem de maneira significativa a síntese de enzimas microssômicas hepáticas. Desse modo, a administração prolongada, de maneira geral, não acelera a biotransformação de outras substâncias. Por outro lado, a cimetidina e os anticoncepcionais orais inibem a N-desalquilação e a 3-hidroxilação dos benzodiazepínicos. O etano!, a isoniazida e a fenitoína também o fazem, mas de maneira menos eficaz. Esses efeitos diminuem em pacientes idosos e naqueles que sofrem de doença hepática crônica. O hábito de fumar diminui a eficácia dos benzodiazepínicos admi- nistradospor via oral. O uso do álcool prejudica a biotransformação principalmente do diazepam e do clordiazepóxido. A administração de outros depressores do SNC potencializa a ação dos bcnzodiaze- pínicos. Quando houver necessidade do uso <:Oncomitante, deve-se ajustar a dose. São fármacos relativamente seguros desde que a dose terapêutica seja muito menor daquela considerada tóxica. Porém, quando ocorrer intoxicação, seu tratamento é feito com a utilização do flumazenil, anta- gonista específico de benzodiazepínicos. 332 FARMACOLOGIA clordiazepóxido --'----.... (6-20 h) desmetilclordiazepóxido (6-20 h) demoxepam (> 20h) clorazepato ,< 6 h) diazepam (> 20 h) ! >-----------------•~ nordazepam (> 20 h) oxazepam (6-20h) G L I c u R o N I D A ç à o llurazepam (< 6 h) N-OH-etilllurazepam (< 6 h) N-desalquilderivado ---1~~ 3-0H-derivado (> 20 h) (6-20 h) alprazolam (6-20 h) alla-hidroxialprazolam (< 6 h) midazolam (< 6 h) alfa-hidroximidazolam (< 6h) oxazepam (6-20 h) loffizepam ----------------------------------------~ (6-20 h) Fig. 34.2 Esquema de biotransformação de alguns benzodiazepínicos. MECANISMO DE AÇÃO Grande parte das ações dos benzodiazepínicos, ou talvez todas, parece resultar da sua capacidade de potencializar a ação inibidora neuronal que é mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA). Essa afirmação é verificada por provas comportamentais e eletrofisiológicas. O efeito dos benzodiazepínicos quase desaparece quando há a adminis- tração prévia de um antagonista (como a bicuculina) ou de um inibidor da biossíntese do GABA (como a tiossemicarbazida). Estima-se que 30% a 40% de todas as sinapses centrais de mamí- feros sejam mediadas pelo GABA. Ele está presente em todas as áreas centrais, mormente na substância negra, glóbulo pálido e hipotálamo. GABA Neurônio Eletor Sinapse GABAérgica. O cr passa pelo canal na direção indica- da pelo gradiente de concentração e potencial de membrana. A liberação do GABA é inativada pela recaptação da termina- ção ou pela modulina. (In: Costa E. The Benzodiazepines: from molecular biology to clinicai practice. Raven, New York, 1983 p. 93-116.) Seu conteúdo em outros órgãos é praticamente nulo. O GABA é formado pela descarboxilação do ácido glutâmico e pela descarboxilase glutâmica piridoxal dependente de fosfato. É armazenado em vesículas e delas liberado pela despolarização da membrana, e para isso é indispensável a presença de íons de ca++. A ação inibidora do GABA é feita mediante sua interação com o respectivo receptor. Foram identificados dois tipos (A e B). Outro tipo está sob estudo, bem como subtipos diferentes de cada receptor. Os dois tipos isolados não foram completamente elucidados, estando certa- mente associados ao canal iônico seletivo para cloreto na membrana. O complexo formado entre o GABA e o seu receptor (GABA-R) abre local da picrotoxima canal de Cl- [ pirazolpiridinas barbitúricos purinas fatores endógenos canal deCI fechado -....--- bicuculina muscimol GABA FORA nicotinamida convulsivantes fatores endógenos o! H2 rlbenzodiazeplnicos triazolpiridazinas inosina, cafelna \\\I I 11/- Alta afinidade Modelo do oomplexo receptor GABA-benzodiazeplnico-canal de Cl-. (Skolnlck, P. & Paul, S.M. Annu. Rep. Med. Chem., 16:21,1981.) Fig. 34.3 Liberação do GABA e interações com o receptor. o canal de cloreto, aumentando sua condução intracelular e afetando a membrana do neurônio, despolarizando-a. A ação do GABA pode ser inibida por dois tipos de substâncias: os convulsivantes, que bloqueiam o receptor (bicuculina), e os que bloqueiam o canal de cloreto (picroto- xima). São os seus antagonistas. Existem outras substâncias que inibem a biossíntese (hidrazidas) ou que inibem a sua liberação das vesículas (toxina tetânica). Verificou-se que os benzodiazepínicos intensificam a ação inibitória do GABA e quase são inativos na depleção do mediador. A Fig. 34.3 mostra a possível interação entre o GABA, agentes ativos e o receptor. A alta potência e a afinidade dos benzodiazepínicos, aliadas às rela- ções estrutura-atividade biológicas, indicam que possuem receptores específicos para produzirem seu efeito, sendo óbvio que esses estão intimamente relacionados com os neurônios produtores de GABA. Para comprovar esses dados experimentalmente, foram feitos estudos radiográficos com derivados benzodiazepínicos convenientemente marcados, em diversas concentrações, verificando-se vários parâmetros, como local de ligação, afinidade e potência de diversos derivados e sua relação com a estrutura química e concentração. Foram obtidas isotermas de concentração, verificando-se que, após atingir concentração crítica (específica para cada fármaco), a ligação não mais ocorre. A afin.idade é expressa pela constante de dissociação, estando intimamente relacio- nada com a estrutura do benzodiazepínico. Acredita-se que o mecanismo pelo qual os benzodiazepínicos atuam está aliado ao aumento da afinidade do GABA por seu receptor. l)ma das hipóteses mais aceitas é a que os receptores do GABA são mantidos em estado de baixa afinidade pela ação de um peptídio endógeno modu- lador (GABAmodulina). Os benzodiazepínicos poderiam agir inibindo o efeito dessa modu- lina, deslocando-a do seu local receptor. Outro mecanismo proposto afirma que o fármaco atua alostericamente, preparando o receptor para a interação com o GABA. É o mais aceito. Outra teoria propõe que os benzodiazepínicos atuariam no plano das terminações nervosas, acar- retando maior liberação do GABA. Da macromolécula que contém o receptor foram isoladas diversas frações: fração receptora benzodiazepínica, correspondendo a 50.900 D; a do GABA, de 54.800 D; e o canal de cloreto, de 137.000 D. Para que haja interação, entretanto, esses receptores devem estar integrados em um polímero de 500.000 D. (D = dálton, unidade utilizada para expressar peso molecular.) A heterogeneidade do receptor de GABA é fato patente. Esse detalhe está sendo bastante estudado, pois dele poderão resultar conhecimentos que permitem planejar fármacos ansiolíticos mais específicos. Admite-se que as diversas atividades apresentadas pelos benzodiazepínicos sejam resultantes da interação de subtipos diferentes de receptores com o mesmo fármaco e de maneiras diferentes. Outros autores tentam demons- trar que essas atividades diferenciadas originam-se não da presença de diferentes receptores ou subtipos, mas sim de único receptor interagindo com o fármaco de maneira diferente (é notório o fato de que a molécula do benzodiazepínico pode apresentar conformações diferentes energe- ticamente semelhantes). Os ligantes para o receptor benzodiazepínico podem ser agonistas, antagonistas ou agonistas inversos. Propõe-se que essas atividades espe- cíficas se devam a modelo único de receptor: os receptores induzem eficácia positiva ou negativa, respondendo diferentemente à sua ocupação, dependendo da natureza estrutural do ligante. Assim, resul- tará espectro contínuo de atividade que vai desde agonista total até agonista inverso total. USOS TERAPÊUTICOS Os benzodiazepínicos são considerados fármacos de primeira escolha no tratamento das ansiedades, bem como hipnóticos e sedativos. São relativamente seguros em relação aos outros fármacos disponíveis e mais eficazes. A escolha dos diferentes benzodiazepínicos deve ser feita após o diagnóstico da disfunção, bem como após a avaliação das condições físicas e da idade do paciente. Além disso, podem ser úteis como mior- relaxantes, anticonvulsivantes, pré-anestésicos e anestésicos propria- mente ditos. ANSIOLÍTICOS 333 Durante seu emprego, o paciente deve ser alertado quanto aos efeitos colaterais, queincluem principalmentesedação e incoordenação motora. Esses efeitos, dependendo da sensibilidade do paciente, podem alterar sua capacidade de operar equipamentos perigosos ou dirigir veículos. Esses efeitos vão diminuindo à medida que se prolonga o tratamento. O efeito ansiolítico também diminui, mas em taxa bem menor. Assim, verifica-se tolerância ao diazepam após 22 semanas. Ultimamente, devido à alta eficácia e segurança dos benzodiazepí- nicos como ansiolíticos, vem aumentando o número de casos relacio- nados a uso abusivo, com sua consequente dependência e os problemas relacionados. ABUSO E DEPENDÊNCIA São numerosos os casos de abuso e dependência correlacionados ao uso tanto terapêutico quanto irracional. A dependência pode aparecer tanto com o uso em doses terapêuticas, por tempo prolongado, quanto por doses mais elevadas. Os sintomas relacionados à abstinência incluem: ansiedade, agitação, irritabilidade, insônia, cefaleia, tremores, tontura, anorexia, náusea, vômitos, diarreia, fraqueza, fotofobia, despersonalização e depressão. Esses sintomas podem surgir até 1 semana após a retirada do medi- camento. Dependem da meia-vida, da conversão em metabólitos ativos e das respectivas meias-vidas. Muitas vezes, a retirada de fármacos com meia-vida longa não acar- reta o aparecimento dos sintomas de abstinência. Em outras, com a utilização de fármacos com tempo de ação curto, chega-se a observar sintomas de ansiedade entre as doses. Nesses casos, existe a tendência a se aumentar a dose, porquanto surge a dificuldade de se interromper a medicação. Não ficou ainda esclarecido se, nesses casos, os sintomas estão relacionados à tolerância ou à abstinência. O alprazolam e o lora- zepam são os que mais apresentam esse quadro clínico. Alguns médicos sugerem a substituição por fármacos de ação prolongada, em que cada miligrama deles pode ser substituída por um de clonazepam. ANTAGONISTA BENZODIAZEPÍNICO O primeiro elemento dessa classe resultou da pesquisa de substân- cias com alta afinidade pelo receptor benzodiazepínico. O intuito inicial era isolar e caracterizar tal entidade. Esse derivado, mais tarde deno- minado flumazenil (introduzido no Brasil com o nome de Lanexat), mostrou possuir propriedades antagonistas bastante acentuadas. Tem tropismo central, mostrando suave atividade anticonvulsivante, não induz a sonolência nem a relaxamento muscular. Não causa efeitos adversos graves quando usado em doses terapêuticas. Por outro lado, apresenta a propriedade de bloquear, drasticamente, os efeitos dos benzodiaze- pínicos, mas não dos demais depressores do sistema nervoso central (barbitúricos, carbamatos, etano!, GABAmiméticos, opioides). Por isso, pode ser empregado como agente diagnóstico diferencial em caso de intoxicação em que não se conhece a natureza do agente intoxicante. O flumazenil reverte, de maneira eficiente, mediante doses pequenas, intoxicações graves causadas por benzodiazepínicos. RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE Comparando-se a estrutura do diazepam (agonista) com a do fluma- zenil (antagonista), observa-se que as conformações dos anéis A e B são bastante semelhantes. Diferem pela presença de um grupo carbonila em C5 no flumazenil, o que altera levemente a conformação do anel B em relação ao diazepam. Ambos se superpõem quase que perfeitamente na porção I ,4-benzodiazepínica, havendo apenas diferença na porção ("r{_ ·-!J \ ,}0íy· o Flumazenil Fig. 34.4 Estrutura do flumazenil. 334 FARMACOLOGIA imidazólica em N I e c2 do flumazenil e na fenila em Cs do diazepam. A falta dessa última, presente em todos os benzodiazepínicos ansiolí- ticos, pode explicar a atividade antagonista. Embora esse anel esteja relacionado ao reconhecimento e à atividade intrínseca do ligante pelo receptor, sua ausência não afeta a afinidade pelo receptor. A estrutura etil-imidazol-3-carboxilato presente no flumazenil é importante para a afinidade com o receptor. Derivados que não a contêm são praticamente inativos, mesmo mantendo-se a função carbonila na posição 2. Existe ampla faixa de tolerância quanto ao tamanho desse grupo alquílico, mas a eficácia de antagonistas e agonistaSinversos é sensível à hidrofobicidade. Outra observação importante diz respeito à distância entre o anel A do diazepam e a carbonila em C2 e a mesma distância entre a anel A do flumazenil e o grupo carbonílico presente na substituição em C2• Essa distância parece definir o caráter agonista ou antagonista: nos agonistas, é de 4,91 Â, enquanto, nos antagonistas, é de 7,30 A. Recentemente, foram isolados e identificados princípios ativos natu- rais presentes no maracujá (reconhecidamente calmante), com estrutura não benzodiazepínica, mas que atuam no mesmo receptor, exercendo ação calmante semelhante à dos benzodiazepínicos. Por outro lado, foram descritos compostos não benzodiazepínicos que se ligam fortemente ao receptor, apresentando propriedades agonistas inversas. São derivados de betacarbolinas, que se assemelham estrutu- ralmente aos princípios ativos presentes no maracujá mas cuja ação é oposta: tais compostos despertaram grande interesse tanto no estudo do receptor quanto no desenvolvimento de novos fármacos. Alguns têm atividade intrínseca convulsivante ou de potencialização dos efeitos convulsivantes de fármacos que apresentam tal atividade. São bloque- ados pelo flumazenil. Isso comprova que realmente atuam sob o mesmo receptor, mas com ações diametralmente opostas. Apesar de vários estudos a respeito, não se chegou a provar a exis- tência de "benzodiazepínicos endógenos". PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS O flumazenil é indicado na anestesiologia, no encerramento da anestesia geral promovida por benzodiazepínico. Neutraliza efeitos dos benzodiazepínicos em processos diagnósticos, terapêuticos e na superdose. É empregado no diagnóstico diferencial no coma neurológico por ingestão medicamentosa. Tem suave atividade anticonvulsivante. É rapidamente absorvido pela via oral. Atinge pico plasmático de 225 ± 113 J.Lg/L, 20 a 90 minutos após a administração. É rapidamente metabo- lizado no fígado. Quando se deseja ação rápida, usa-se a via intravenosa. Dose de I O a 20 J.Lg/L reverte, de maneira eficaz, os efeitos produzidos pelos benzodiazepínicos. A meia-vida de eliminação é de 49-58 minutos. Liga-se na taxa de 40% às proteínas plasmáticas. É considerado fármaco seguro. Entretanto, sua administração deve ser cuidadosa. O despertar rápido em pacientes com doenças cardior- respiratórias pode ser perigoso. Poderá haver incidência de ansiedade e agitação. Em pacientes dependentes de benzodiazepínicos pode causar síndrome de abstinência. Os efeitos adversos mais comuns incluem: vômito, náusea, lacrimejamento e desconforto geral. GABA e derivados Após o reconhecimento de que o ácido gama-aminobutírico ou ácido 4-aminobutanoico (GABA) é um dos mediadores centrais mais impor- tantes relacionados ao efeito depressor e ao mecanismo de ação dos benzodiazepínicos, alguns países o introduziram na terapêutica como ansiolítico. Entretanto, devido à sua baixa Jipofilicidade e portanto difi- ~COOH H2N culdade em atravessar a barreira hematoencefálica, diversos derivados foram obtidos, especialmente através de latenciação e modificação mole- cular. Alguns indicam outras possíveis atividades como acelerador do metabolismo cerebral, tomando-o útil no tratamento de crianças cujo aprendizado é difícil. Parece atuar como auxiliar nas sequelas oriundas de acidentes vasculares cerebrais e arteriosclerose. No Brasil, além do próprio GABA (GamibetaJ®, Gammar®), também é comercializada a vigabatrina, que é o ácido gamavinil-gamabutírico ou ácido 4-amino-5- hexanoico (SabriJ®), forma obtida de modificação molecular do GABA, mediante introdução de dupla ligação. Entretanto, a indicação dessesé no tratamento das epilepsias. Outros derivados diferentes estão dispo- níveis em diversos países. Antagonistas da serotonina (receptor HT1A) São considerados ansiolíticos de segunda geração. O primeiro membro dessa classe introduzido no mercado brasileiro foi a buspi- rona ou S-[ 4-[ 4-(2-pirimidinil)-l-piperazinil]butil]-azaspiro[4,5]decano- 7,9-diona. Foi sintetizada em 1972 por Wuet e colaboradores. Sua ação ansio- lítica foi observada por Goldberg e Finnerty em 1979. Foi introduzida no Brasil em I 989 e hoje é comercializada com os nomes Ansienon, Ansitec, Buspanil e Buspar. Devido ao grande interesse despertado por essa nova classe de fármacos, outros derivados foram obtidos. Na estrutura da buspirona distinguem-se dois pontos importantes para a atividade: a imida azaspirodecanodiona e o grupo arilpiperazí- nico. Observa-se que a atividade máxima é exercida quando a porção imídica é unida ao anel arílico por quatro átomos de carbono. O anel relaciona-se com o bloqueio alfa-adrenérgico. Essa atividade pode ser alterada pela presença de certos substituintes. Desse modo, o grupo 3-ciano (repelente de elétrons) diminui a atividade e o grupo 3-metóxi (doador de elétrons) aumenta a atividade. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS A buspirona apresenta propriedades ansiolíticas comparáveis às do diazepam. Em doses terapêuticas, não causa sedação e nem relaxa- mento muscular. Outrossim, não exerce atividade anticonvulsivante nem hipnóticossedativa. Parece não dispor de potencial de abuso e nem leva à dependência física e psíquica. Não altera os reflexos, não sofrendo interação significativa com o álcool. Não possui antídoto específico. Em casos de intoxicação, cujos sintomas são náusea, vômito, tontura, sonolência, miose e distúrbios gástricos, são procedimentos recomendados a lavagem gástrica e o trata- mento sintomático. · FARMACOCINÉTICA Quando administrada pela via oral, a absorção da buspirona é rápida e completa. Por via intravenosa, atinge rapidamente o cérebro. O pico máximo é atingido 60-90 minutos após a administração. Cerca de 95% estão ligados às proteínas plasmáticas. Seu volume de distribuição é de 5,3 Ukg. Sua meia-vida é de 2,1-2,7 horas. Em 24 horas, de29%a63% da d_ose são excretados pela urina e 18% a 38% pelas fezes. E biotransformada através da hidroxilação e ruptura da cadeia pirimi- dilpiperazínica, originando a 5-hidroxibuspirona e glicuronídio (inativos) e a I -(2-pirimidinil)-piperazina, que possui 20% da atividade da buspi- rona. Os principais efeitos adversos apresentados são sonolência, tontura (em nível mais baixo daquele apresentado pelos benzodiazepínicos), cefaleia, náusea e fadiga. Nervosismo, obnubilação, diarreia, secura da boca e taquicardia são eventos mais raros. Em doses elevadas, pode causar disforia. COOH NH2 Fig. 34.5 Estruturas do GABA e da vigabatrina. o Buspirona Fig. 34.6 Estrutura da buspirona. A administração concomitante aos inibidores da MAO acarreta aumento da pressão arterial. Pode deslocar digoxina ligada às proteínas plasmáticas. Os ansiolíticos de classe das azapironas (buspirona) atuam em outro sistema de mediadores. É o sistema serotoninérgico, que reconheci- damente interfere no processo de ansiedade. São classificados como agonistas parciais potentes do receptor 5 HT1A. Estudos in vitro demons- traram que esses compostos são agonistas totais nos receptores pré- sinápticos e agonistas parciais nos receptores pós-sinápticos. O número de receptores pré-sinápticos é grande, ao contrário do que ocorre com os pós-sinápticos. O mesmo agonista, atuando no mesmo receptor em célula específica, pode mostrar atividade intrínseca diferente, depen- dendo da concentração do receptor. A resposta da interação também varia de acordo com o segundo mensageiro envolvido, por exemplo, adenilil ciclase o~ fosfolipase C. O efeito sobre os receptores pré-sinápticos, por reduztrem temporariamente as concentrações de serotonina, apre- senta resultados ansiolíticos. Entretanto, com administração crônica, pode ocorrer a dessensibilização. Outrossim, efeito parcial agonista pós- sináptico pode reduzir os efeitos pós-sinápticos da própria serotonina. Todavia, não existem ainda resultados conclusivos que levem ao perfeito entendimento dessas interações e de suas consequências. O tempo relativamente grande que a buspirona leva para atingir seu efeito (alguns dias ou semanas) é compatível com o sistema de mediador acoplado a segundos mensageiros, que, por ser sistema em cascata de eventos, leva mais tempo para apresentar efeito do que o sistema em que o fármaco atua diretamente sobre o receptor. Outros fármacos, pertencentes a outra classes terapêuticas, podem ser empregados como auxiliares. Entre os anti-histamínicos, a hidro- xizina foi a mais indicada. Estudos posteriores indicaram que ela não era propriamente ansiolítica, já que na dose recomendada para essa finalidade produzia sedação acentuada. É empregada como medicação pré-anestésica, pois, além da propriedade sedativa, também é antiemé- tica e anticolinérgica. Barbitúricos São depressores não seletivos do SNC. Há algumas décadas, eram fármacos amplamente utilizados como hipnóticos, sedativos e também como ansiolíticos e anticonvulsi- vantes. Sua administração causa graves problemas. Apresentam facilidade em desenvolver tolerância, dependência física e graves sintomas de abstinência. Quando empregados de forma inadequada, podem ser fatais, através de falência respiratória e cardiovascular. Muitos suicídios e homicídios foram cometidos com seu uso. Potentes indutores de enzimas hepáticas, como o cltocromo P450, causam interferências acentuadas na ação de outros fátmacos, gerando, muitas vezes, graves problemas. Podem precipitar ataques agudos de porfiria em indivíduos sensíveis. Atualmente, no Brasil, não são encontradas especialidades farma- cêuticas que os contenham com a finalidade unicamente ansiolítica pois estão disponíveis medicamentos mais seguros e eficazes. Suas prin~ cipais indicações na atualidade são como anestésicos gerais e como anticonvulsivantes. Existe no comércio uma especialidade contendo pentobarbital (Hypnol®) utilizada como hipnótico. Mesmo assim, os ANSIOLÍTICOS 335 especialistas tendem, na medida do possível, a substituí-los por outros fármacos mais seguros. Diversos Há 25 anos, estudos controlados comprovaram a eficácia dos beta- bloqueadores como ansiolíticos. Em algumas situações específicas, alguns, como o propranolol, podem reduzir os sintomas autonômicos associados a fobias específicas, pelo bloqueio periférico dos sintomas beta-adrenérgicos mediados. Podem ser considerados auxiliares no trata- mento de alguns tipos de ansiedade e em estresse agudo. Não causam depen?ência. Porém, o efeito betabloqueador pode produzir uma série de efettos adversos que devem ser criteriosamente avaliados. Estão também disponíveis no comércio nacional especialidades que contêm princípios ativos naturais com a finalidade ansiolítica, obtidos da melissa, kava-kava e, principalmente, do maracujá. No caso domara- cujá, foram isolados e identificados princípios ativos que, apesar de não apresentarem estrutura semelhante à dos benzodiazepínicos, atuam no mesmo receptor, exercendo efeito calmante. Além disso, também são empregados, em determinados casos, outros depressores do sistema nervoso central, como a sulpirida e o pimeti- xeno. A amitriptilina, agente tricíclico antidepressivo, pode também ser utilizada nos casos mistos ansiosos depressivos. Muito embora os valepotriatos - princípios ativos isolados de Valeriana wallichii, que consiste na mistura de diidrovaltrato (80% ), valtrato ( 15%) e acevaltrato (5%) - tenham indicação no tratamento de insônia, exercendo efeitos e~tabilizantes sobre os centros vegetativo e emocional,o valtrato, espe- ctalmente, pode ser utilizado como ansiolítico. Vários outros fármacos que atuam no SNC foram empregados como ansiolíticos no Brasil. Entretanto, hoje são considerados obso- letos, embora alguns ainda continuem a ser comercializados em outros países e possam ser úteis em casos refratários ao tratamento com a medicação recomendada. Entre eles pode-se citar a classe dos carba- matos de propanodiol, cujo protótipo é o meprobamato. Ainda podem ser citados fármacos não barbitúricos, mas com ação semelhante, como a ~lormezanona. A não utilização desses fármacos na moderna psiquia- tna deve-se ao fato de causarem graves efeitos adversos e intoxicações quando utilizados como ansiolíticos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS I. AMA. Drug Evaluations, Departamento f Drugs, American Medicai Asso- ciation, ! 991. 2. BARNARD, E.A. et ai. lnternational Union of Pharmacology. XV. Subtypes of gamma-aminobutiric acid receptors. Classification on the Basis of Subunit Structure and Receptor Function. Pharmacol. Rev., 50(2), 291-333, 1998. 3. BERNIK, M.A., SOARES, M.B., SOARES, C.N. Benzodiazepines: panems of use, tolerance and dependence. Arq. Neuropsiquiatr., 48:131, 7, 1990. 4. BIGGIO, G., COSTA, E. (eds.) GABAergic Transmission and Anxiety. Raven, New York, 1986. S. BLOOM, F. E., KUPFER, D.J. (eds.) Psychoneuropharmacology. 11refourth generation of progress. Raven, New York, 1995. 6. BOUCHARD, L.P., LLORCA, P.M., WOLF, M.A. Current hypotheses of central mechanism of action of benzodiazepines. Can. J. Psychiatry, 36:660-6, 1991. 7. BOWERY, N.G. Actions and Interactions ofGABA and Benzodiazepines. Raven, New York, 1984. 8. BRAESTRUP, C., NIELSEN, E.B. Future directions in anx.iety research. Psychopharmacol. Ser., 5P: 180-6, 1988. 9. BR_EIE~. A. & PAUL, S.M. The GABA/benzodiazepine receptor: impli- catlons for the molecular basis of anx.iety. J. Psychiatr. Res., 24:91-104 IW~ ' 10. BROEKKAMP, C.L., BERENDSEN, H.H., JENCK, F., VAN DELFF, A.M. Animal models for anx.iety and response to serotoninergic drugs. Psycho- pathol., 22(Supp1.):2-12, 1989. 11. BUSTO, V. Benzodiazepines. Biomed. Pharmacother., 41(4): 197, 1987. 12. CACCIA, S., CONTI, 1., VI GANO, C., GARATIINI, S. 1-(2-pyrimidinyl)- piperazine as active metabolite of buspirone in a man and rat. Phannacol., 33:46-51, 1986. 13. CODDING, P. W., MEIER, A.K.S. Molecular structure o f Ro-15-1788 and a model for the binding of benzodiazepine. Moi. Pharmacol., 28:178-84 1985. '
Compartilhar