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A transição nutricional no contexto

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16
Resumo
A transição nutricional refere-se a
modificações no perfil nutricional da
população, caracterizada pela redução
da prevalência de desnutrição e au-
mento da prevalência da obesidade.
Em meio a essa mudança no perfil
nutricional, destaca-se como causa e
conseqüência a transição epidemioló-
gica, marcada por um modelo polari-
zado de transição que se caracteriza
pela coexistência de doenças infecci-
osas e não transmissíveis. A transição
nutricional é descrita neste artigo ba-
seando-se em três inquéritos nacionais
de base populacional realizados em
1974/1975, 1989 e 1996, avaliando-se
a prevalência de desnutrição e obesi-
dade segundo sexo, idade e macrorre-
gião brasileira, bem como suas
possíveis causas e conseqüências.
Palavras-chave
Transição epidemiológica, transição
nutricional, obesidade, desnutrição.
A transição nutricional no contexto
da transição demográfica e
epidemiológica
M.Sc. Ronaldo Coimbra de Oliveira1
1 Nutricionista da
Secretaria Estadual de
Saúde de Minas Gerais.
The nutritional transition in the
context of the demographic and
epidemiologic transition
Abstract
The nutritional transition is about the
changes in the population nutritional
profile, characterized by the reduction
of the undernourishment prevalence and
increasing of the obesity prevalence.
Around this change in the nutritional pro-
file, the epidemiologic transition stands
out as cause and consequence, marked
by a polarized transition model that is
characterized by the coexistence of in-
fectious and non-transmissible diseases.
The nutritional transition is described in
this article based in three national inqui-
ries of population base accomplished in
1974/1975, 1989 and 1996, evaluating the
prevalence of undernourishment and
obesity according to sex, age and Brazi-
lian macro region, as well as its possi-
ble causes and consequences.
Key-Words
Epidemiologic transition, nutritional
transition, obesity, undernourishment.
REV. MIN. SAÚDE PÚB., A.3 , N.5 , P.16-23 – JUL./DEZ.2004
17
Introdução
 O Brasil e diversos países da
América Latina experimentaram, nos
últimos vinte anos, uma rápida tran-
sição demográfica, epidemiológica e
nutricional. As características e os es-
tágios de desenvolvimento da transi-
ção diferem entre os vários países
da América Latina, com alguns em
estágios avançados e outros, não. No
entanto, um ponto chama a atenção:
o marcante aumento na prevalência
de obesidade nos diversos subgru-
pos populacionais para quase todos
os países latino-americanos (KAC; VE-
LÁSQUEZ-MELANDEZ, 2003).
Pretende-se, com este artigo,
avaliar o perfil nutricional da popu-
lação brasileira nas três últimas déca-
das, baseando-se nos inquéritos
nutricionais realizados em 1974/1975,
1986, 1996.
Desenvolvimento
O processo de transição demo-
gráfica foi descrito pela primeira vez
por volta da década de quarenta, refe-
rindo-se aos efeitos que as mudanças
nos níveis de fecundidade, natalidade
e mortalidade provocam no ritmo de
crescimento populacional e na estru-
tura por idade e sexo (VERMELHO; MON-
TEIRO, 2003).
 A teoria da transição demográfi-
ca postula que os países tendem a per-
correr, progressivamente, quatro estágios
na sua dinâmica populacional. O pri-
meiro estágio é caracterizado por um
equilíbrio populacional decorrente das
altas de natalidade e mortalidade, prin-
cipalmente infantil. No estágio seguinte,
ocorre a explosão demográfica deri-
vada da redução da taxa de mortalida-
de infantil e a conservação da alta taxa
de fecundidade. No terceiro estágio, a
redução acelerada das taxas de fecun-
didade e baixas taxas de mortalidade
levam ao fenômeno do envelhecimen-
to da população, processo no qual o
Brasil se encontra (SCHKNOLKIK, 1996).
O quarto e último estágio da transi-
ção demográfica, conhecido como fase
moderna da transição, caracteriza-se
por baixas taxas de fecundidade e mor-
talidade, que proporcionam um equi-
líbrio populacional (PEREIRA, 1995).
Concomitantemente à transição
demográfica, ocorrem mudanças nos
padrões de morbimortalidade de uma
comunidade, o que se convencionou
chamar de transição epidemiológica.
Frederiksen (1969) considerou impor-
tante conhecer os padrões de morbi-
mortalidade das sociedades para o
entendimento da transição demográ-
fica, porém foi Omran (1971) um dos
primeiros autores a definir o termo
transição epidemiológica como um
processo de modificação nos padrões
de morbimortalidade, que ocorreria em
estágios sucessivos e seguindo a tra-
jetória de um padrão tradicional para
um padrão moderno. Omran (1996)
propõe quatro estágios de evolução
da transição epidemiológica e um
quinto em potencial:
• Período das pragas e da fome;
• Período do desaparecimento
das pandemias;
• Período das doenças degene-
rativas e provocadas pelo homem;
• Período do declínio da mor-
talidade por doenças cardiovascula-
res, modificações no estilo de vida,
doenças emergentes e ressurgimento
de doenças;
• Período de longevidade para-
doxal, emergência de doenças enig-
máticas e capacitação tecnológica
para a sobrevivência do inapto.
O caráter linear e unidirecional
sugerido pelos estágios da transição
epidemiológica pode ter sido observa-
do em países desenvolvidos no deno-
minado modelo clássico de transição.
Para a maioria dos países da América
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Latina, inclusive o Brasil, observa-se
um modelo tardio e polarizado de tran-
sição, no qual há uma superposição
das doenças ditas do atraso sobre as
doenças da modernidade (FRENK et al.,
1991), pois, apesar de decréscimo glo-
bal das taxas de mortalidade e da di-
minuição da mortalidade proporcional
por doenças infecciosas e parasitárias,
a mortalidade decorrente dessa causa
ainda permanece elevada no Brasil, exi-
gindo atenção por parte dos setores
competentes (PAES, 1999).
O Brasil tem experimentado, nas
últimas décadas, importantes transfor-
mações no seu padrão de morbimor-
talidade, relacionadas, principalmente,
às seguintes condições:
• A redução da mortalidade pre-
coce, especialmente aquela ligada a
doenças infecciosas e parasitárias;
• O aumento da expectativa de
vida ao nascer, com o conseqüente in-
cremento da população idosa;
• O processo acelerado de ur-
banização e de mudanças sociocultu-
rais que respondem, em grande parte,
pelo aumento dos acidentes e das vio-
lências (MINAIO, 2002; SILVA JR; GOMES,
2003).
No modelo polarizado de transi-
ção epidemiológica brasileiro configura-
se o modelo análogo de transição
nutricional, no qual a coexistência de
obesidade e subnutrição passa ser um
fato marcante observado na sociedade,
principalmente, nas três últimas décadas.
O conceito de transição nutrici-
onal refere-se a mudanças seculares
nos padrões de nutrição, dadas as mo-
dificações da ingestão alimentar, como
conseqüência de transformações eco-
nômicas, sociais, demográficas e sani-
tárias (OPAS, 2000). A inversão nos
termos de ocupação do espaço físico,
quando passamos a ser um país fun-
damentalmente urbano; a melhoria das
condições de saúde, decorrente, em
parte, da importação de tecnologia
médica e da melhoria das condições
de saneamento básico; e maior parti-
cipação dos trabalhadores no setor ter-
ciário da economia são exemplos,
dentre outros, de transformações que
interferem diretamente na geração de
renda, estilos de vida e, especialmen-
te, no perfil nutricional da população
(BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).
Escoda (2002) aborda a situação
nutricional no Brasil nas três últimas
décadas, relatando que, até a década
de 1970, o quadro nutricional esteve
fortemente marcado por surtos epidê-
micos de fome, que estavam geográfi-
ca e socialmente localizados, com altos
índices de prevalência das formas gra-
ves e severas de desnutrição energéti-
ca protéica(DEP). Diferentemente da
década de 1970, na de 1980 a situação
nutricional passou a ser caracterizada
por uma deficiência global de nutrien-
tes, distribuindo-se de forma generali-
zada por todo o país. Na década de
1990, além da manutenção do grave
problema da DEP, especialmente em
algumas regiões como o Nordeste e o
Norte, observou-se o acréscimo da obe-
sidade, diabetes e dislipidemias (SA-
WAYA, 1997; ESCODA, 2002).
Escoda (2002) reconhece impor-
tância na redução da prevalência de to-
das as formas de desnutrição ocorridas
nas três últimas décadas e afirma que
essa queda decorre, em parte, da espe-
cificidade dos indicadores utilizados para
a avaliação da situação nutricional da
população infantil, que prioriza os ca-
sos graves em detrimento das formas
mais crônicas de desnutrição.
É importante relatar que somen-
te a partir de 1975 dispõe-se, no Bra-
sil, de inquéritos representativos da
situação nutricional do País e de suas
diferentes macrorregiões, apesar dos
vários estudos de acompanhamento do
estado nutricional realizado em diver-
sas regiões, estados e municípios. Em
âmbito nacional, três estudos são
É importante
relatar que somen-
te a partir de
1975
dispõe-se, no Bra-
sil, de inquéritos
representativos
da situação
nutricional do País
e de suas
diferentes
macrorregiões,
apesar dos vários
estudos de acom-
panhamento do
estado nutricional
realizado
em diversas
regiões, estados e
municípios.
REV. MIN. SAÚDE PÚB., A.3 , N.5 , P.16-23 – JUL./DEZ.2004
19
utilizados por diversos autores para
descrever a evolução da transição nu-
tricional (BARRETO; CARMO, 1995; ESCO-
DA, 2002; BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).
1. ENDEF (1974/75) — Estudo Naci-
onal de Despesas Familiares, reali-
zado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística — IBGE, no
qual foram avaliados todos os mem-
bros dos 55.000 domicílios selecio-
nados para o estudo. O consumo
médio per capta diário de alimen-
tos, estimado pela pesagem direta de
alimentos consumidos e as medidas
antropométricas, questionadas pela
inadequação do equipamento utili-
zado, foram alguns dados obtidos
desse inquérito.
2. PNSN — Pesquisa Nacional sobre
Saúde e Nutrição, realizada no ano
de 1989 pelo Instituo Nacional de Ali-
mentação e Nutrição — INAN / MS,
na qual foram avaliados todos os
membros de 14000 domicílios seleci-
onados (Ministério da Saúde, 1990).
3. PNDS — Pesquisa Nacional sobre
Demografia e Saúde, promovida pela
Sociedade de Bem-Estar Familiar —
BEFAM — no Brasil, em 1986, com uma
sub-amostra da PNAD — Pesquisa Na-
cional por Amostragem de Domicílio,
Tabela 1 – Prevalência de agravos nutricionais em crianças brasileiras menores de cinco
anos de idade nos anos de 1974/75, 1989 e 1996
Fonte: Adaptado de MONTEIRO; MONDINI; 1997.
Nota: 1 Índice peso / idade
 2 Índice peso / altura
Tabela 2 – Evolução do retardo estatural de menores de cinco anos, no Brasil, por grandes
regiões e estratos urbanos e rurais (1974/75, 1989, 1996)
Fonte: Adaptado de BATISTA FILHO; RISSIN, 2003.
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na qual avaliaram-se apenas crianças
menores de 5 anos e suas respectivas
mães (Ministério da saúde, 1996).
Em relação às crianças menores
de 5 anos, destacam-se a estabilidade
de baixas proporções de crianças com
sobrepeso e a enorme queda da des-
nutrição ao longo dos três inquéritos
estudados, como observados na Tabe-
la 1 (MONTEIRO,1999).
Entretanto, ainda que essa redu-
ção tenha ocorrido em todo o país, não
ocorreu de maneira uniforme, confor-
me atesta Batista Filho e Rissin (2003).
Segundo esses autores, tomando como
referência o déficit estatural, que repre-
senta o efeito cumulativo do estresse
nutricional sobre o crescimento esque-
lético, observa-se na Tabela 2, que en-
tre 1975 e 1989, a diminuição da
prevalência do retardo de estatura foi
mais rápida no meio urbano da região
Centro-Sul (englobando o Sudeste, o Sul
e o Centro-Oeste), com um declínio de
20,5% para 7,5%, enquanto no Norte a
redução foi de 39,0% para 23% e, no
Nordeste, de 48,0% para 23,8%.
Analisando os estudos nacionais
de 1974/1975 e 1989, Monteiro (2000)
afirmou que, no período estudado, a
obesidade elevou-se em todas os ní-
veis de renda, mas o aumento foi mai-
or entre os indivíduos que pertenciam
a famílias de menor renda per capita,
ou seja, à pobreza, e, a partir de 1989,
deixou de ser um fator de proteção
para a obesidade. O autor apontou,
também, a diminuição da desnutrição
em todos os níveis de renda familiar
estudados, com o virtual desapareci-
mento da mesma entre os adultos de
renda mais alta. Apesar da redução da
desnutrição no país, estudos continu-
am apontando para altas prevalências,
especialmente em regiões mais pobres
(TONIAL, 2002).
Monteiro (1999), analisando os
dados do inquérito realizado nas regi-
ões Sudeste e Nordeste em 1996/1997,
pelo Instituto Brasileiro de Geoestatís-
tica (IBGE), denominado Pesquisa dos
Padrões de Vida (PPV), revela que os
homens continuaram a apresentar au-
mento de prevalência da obesidade nas
duas regiões — cerca de 4,7% e 8,0%,
nas regiões Nordeste e Sudeste, res-
pectivamente, ao passo que entre as
mulheres, a obesidade aumentou de
forma expressiva no Nordeste e dimi-
nui ligeiramente no Sudeste — cerca
de 12,3% e 12,4% nas regiões Nordeste
e Sudeste.
É evidente que as diferenciações
geográficas expressam diferenciações
sociais na distribuição da obesidade. Em
princípio, existiria maior prevalência de
sobrepeso/obesidade nas regiões mais
ricas, sendo essa condição o fator dis-
criminante dos cenários epidemiológi-
cos entre o Nordeste e o Sudeste do
Brasil. Assim, nessa perspectiva, no en-
tanto, já se desenha outra tendência: o
aumento da ocorrência da obesidade
nos extratos de renda mais baixa, no
período de 1989 a 1996, enquanto o
comportamento ascendente do proble-
ma começa a se interromper entre as
mulheres adultas de renda mais eleva-
da (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).
Segundo Najas (1994), os resul-
tados encontrados na PNSN revelam
um novo direcionamento da relação
entre obesidade e níveis de renda e es-
colaridade. O maior desenvolvimento
de algumas regiões tornam essa rela-
ção negativa pelo acesso à informação
e a produtos mais diversificados no
mercado.
Entre os aspectos explicitados
por Recine e Radaelli para justificar as
altas prevalências de obesidade no país
estão:
• estrutura demográfica: as pes-
soas concentram-se mais nas cidades,
onde gastam menos energia e têm
acesso a variados tipos de alimentos,
principalmente industrializados;
Os padrões
nutricionais
sofrem alterações
a cada século,
resultando em
mudanças na
dieta dos
indivíduos.
REV. MIN. SAÚDE PÚB., A.3 , N.5 , P.16-23 – JUL./DEZ.2004
21
• redução do tamanho da famí-
lia: aumento da disponibilidade de ali-
mento na família;
• dieta desequilibrada: predomí-
nio de alimentos muito calóricos e de
fácil acesso (cereais, óleo e açúcar) à
população mais carente.
Os padrões nutricionais sofrem
alterações a cada século, resultando em
mudanças na dieta dos indivíduos. O
século XX foi marcado por uma dieta
rica em gorduras (principalmente as
de origem animal), açúcar e alimentos
refinados e reduzida em carboidratos
complexos e fibras. O predomínio des-
sa dieta tem contribuído, juntamente
com declínio progressivo da atividade
física, para o aumento da obesidade.
Apesar de os dados sobre o pa-
drão alimentar da população do país
serem escassas e irregulares, as infor-
mações disponíveis mostram que, nos
últimos 20 anos, o brasileiro passou a
consumir mais alimentos de origem
animal e menos grãos e cereais (MONDI-
NE; MONTEIRO, 1994). Em algumas regi-
ões, o consumo de gordura está acima
da recomendaçãomáxima de 30% das
calorias totais (INAN, 1997) e a propor-
ção de adultos obesos aumentou em
mais de 50% desde a realização, no iní-
cio da década de 1970, do Estudo Naci-
onal de Despesa Familiar (MONDINI;
MONTEIRO, 1994; MONTEIRO; MONDINI, 2000).
Em estudo realizado, no qual fo-
ram avaliadas as mudanças na com-
posição e adequação nutricional da
dieta familiar nas áreas metropolitanas
do Brasil, no período de 1988 a 1996,
Monteiro et al. (2000) concluíram que
permanece a tendência ascendente da
participação relativa dos lipídios na di-
eta do Norte e do Nordeste, bem como
o aumento no consumo de ácidos gra-
xos saturados em todas as áreas me-
tropolitanas do país. O autor também
revelou a redução do consumo de car-
boidratos complexos, a estagnação ou
a redução de consumo de legumino-
sas, verduras, legumes e frutas e o au-
mento no consumo de açúcares, que
são traços marcantes e negativos da
evolução do padrão alimentar no perí-
odo avaliado, ou seja, de 1988 a 1996.
Nesse mesmo trabalho, o autor reve-
lou mudanças registradas apenas na
região Centro-Sul do país, que poderi-
am indicar a adesão da população a
dietas mais saudáveis, como o declí-
nio no consumo de ovos e o recuo
discreto da elevada proporção de ca-
lorias lipídicas.
Considerações finais
Diante do aumento da prevalên-
cia da obesidade nos estratos de renda
e escolaridade mais inferiores, a redu-
ção da desnutrição nos bolsões de mi-
séria, aliada a patologias decorrentes
da evolução social, como o câncer e
as doenças cardiovasculares, nos re-
mete à complexidade da situação epi-
demiológica nutricional pela qual passa
o Brasil, exigindo da agenda do setor
de saúde os sentidos e a práxis da
integralidade, da eqüidade e da uni-
versalidade na assistência médica, além
de sinalizar a importância de estudos
que acompanhem a evolução nutricio-
nal das populações, subsidiando os for-
muladores e executores de políticas
públicas na criação ou ajuste de inter-
venções condizentes com a dinâmica
dos processos nutricionais.
Apesar de os
dados sobre o
padrão alimentar da
população do país
serem escassas
e irregulares,
as informações
disponíveis mostram
que, nos
últimos vinte anos,
o brasileiro passou a
consumir mais
alimentos de origem
animal e menos
grãos e cereais.
REV. MIN. SAÚDE PÚB., A.3 , N.5 , P.16-23 – JUL./DEZ.2004
22
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