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DEMOCRACIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS: UMA NOVA PERSPECTIVA FRENTE À SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO

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DEMOCRACIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS: UMA NOVA PERSPECTIVA 
FRENTE À SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO 
 
DEMOCRACY AND FUNDAMENTAL RIGHTS: A NEW LOOK ON THE 
SUPREMACY OF PUBLIC INTEREST OVER PRIVATE 
 
GT 2 – ESTADO E SOCIEDADE 
 
Rodrigo Ribeiro
*
 
Resumo 
 
Considerando a controvertida história do direito administrativo, de seu surgimento até o 
período hodierno, verifica-se que, no conflito de interesses entre Administração Pública e 
administrado, a presença a priori o princípio da supremacia do interesse público sobre o 
privado apresenta-se incompatível com a ordem democrática e os direitos fundamentais, por 
não considerar margem de ponderação proporcional dentro do contexto constitucional. 
 
Palavras-chave: Supremacia. Democrática. Ponderação. Direitos Fundamentais. 
 
 
Abstract 
 
Considering the controversial history of administrative law, from its inception to the present-
day period, it appears that the conflict of interest between the public administration and the 
citizen, the presence a priori of the principle of supremacy of public interest over private is 
incompatible with democratic and fundamental rights ordered by not considering any 
proportional weighting margin within the constitutional condition. 
 
Key-words: Supremacy. Democratic. Weighting. Fundamental rights. 
 
 
Introdução 
 
A princípio, ensinam os livros que tem o Direito Administrativo por finalidade 
primordial a satisfação dos interesses da coletividade, ou seja, o bem comum. Tendo em vista 
assegurar tal objetivo, a história narra, romanticamente, como se deu o seu surgimento, e a 
doutrina tradicional se encarrega de justificar os meios que a Administração utiliza para 
satisfazer tais interesses. Assim sendo, é no princípio da supremacia do interesse público 
sobre o interesse particular que a Administração encontra amparo. 
Vencidos os tempos do Antigo Regime – onde o Estado prevalecia sobre seus 
administrados através de seu poder de império e assim absoluto em suas ações – e construídas 
paulatinamente as dimensões nas quais o Direito sofreu profundas alterações e grandes 
avanços, emerge o Estado Democrático de Direito, no qual o Estado, agora, sobretudo, é 
garantidor dos direitos fundamentais e tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. 
Dessa forma, o presente trabalho traz à baila o então decantado princípio da 
supremacia do interesse público sobre o interesse particular, a fim de apresentar outro ponto 
de vista, que controverte certos acontecimentos históricos e paradigmas que ganharam espaço 
no Direito Administrativo e que servem até hoje, mesmo com o florescer constitucional e 
 
* Graduando no Curso de Graduação em Direito das Faculdades Integradas do Vale do Ivaí – UNIVALE, 
ehoribeiroivp@hotmail.com. 
democrático, como instrumentos norteadores para a realização de atos e resoluções de 
conflitos por parte da Administração Pública. 
O presente estudo se propõe então a apresentar, a partir de revisão de literatura, uma 
nova perspectiva para o Direito Administrativo, em face do princípio da supremacia do 
interesse público sobre o privado, levando em consideração os aspectos consagrados pela 
Constituição Federal no tocante à democracia e aos direitos fundamentais, haja vista a 
conflitante relação deste princípio com as disposições agora consagradas num Estado 
democrático de direto, exigindo assim um instrumento ponderativo, pautado na 
proporcionalidade para resolução das situações conflitantes entre o Poder Público e o 
particular. 
 
Exame do descompasso entre a supremacia do interesse público sobre os interesses 
particulares e o Estado democrático de direito. 
 
O direito administrativo encontra-se em crise. É possível evidenciar que sua origem 
liberal e garantidora, na qual o poder se submete à lei e aos interesses individuais, não é como 
a história nos revela, de forma que sua construção teórica não advém do Estado de direito e 
tampouco da separação dos poderes (BINENBOJM, 2008, p. 2). Dessa maneira, a conhecida 
Loi de 28 do Pluviose, que representara a superação em face do Antigo Regime, o qual não se 
pautava pelo direito, mas sim ao alvedrio do soberano e que passou então a subordiná-lo ao 
Poder Legislativo, figura-se como um mito. Do mesmo modo, no que tange à separação dos 
poderes, a romântica ideia de que o Parlamento, como representante da vontade do povo, 
ficaria a cargo da elaboração de normas que vinculem as ações do Executivo e concede ao 
particular fazer tudo que a lei não o proíba, é falsa, representando uma forma de perpetuação 
das práticas do Antigo Regime (BINENBOJM, 2014, p. 10). 
Assim sendo, certifica-se que as premissas teóricas da dogmática administrativa 
estão enraizadas não nas conquistas liberais e democráticas, mas, ao revés, na preservação do 
Estado autoritário e absoluto, de modo que o direito administrativo serviu para consagrar, com 
o viés de outrora, a mesma lógica de poder (BINENBOJM, 2008, p. 2). Outrossim, o instituto 
da verticalidade, antigo dogma absolutista nas relações entre súditos e soberanos, agora sobre 
as vestes da supremacia do interesse público sobre os interesses individuais, é uma evidente 
forma de ruptura da isonomia (BINENBOJM, 2014, p. 14). 
Neste contexto histórico e diante das transformações provenientes do Estado 
democrático de direito e sua origem liberal, surgem questionamentos que merecem relevo e 
como destaque está em xeque o então exaltado princípio da supremacia do interesse público 
sobre o interesse particular (BINENBOJM, 2014, p. 12). Destarte, convém trazer à tona o 
conceito basilar da supremacia do interesse público sobre o privado, sendo este compreendido 
como um dos pilares do direito administrativo descrito por Mello (2014, p. 70) como “a 
superioridade do interesse da coletividade, firmando a prevalência dele sobre o particular, 
como condição, até mesmo, da sobrevivência e asseguramento deste último”. Nessa esteira, o 
autor ainda afirma que o referido princípio garante a verticalidade nas relações entre a 
Administração e o particular, de sorte que o Pode Público ostenta autoridade, sendo esta 
indispensável para o gerenciamento de seus interesses, quando estão em desacordo com os 
dos particulares, o fazendo por meio de atos unilaterais e inclusive em relações já 
estabelecidas (MELLO, 2014, p. 71). 
Neste diapasão, ao se falar em interesse público, cuida-se, a princípio, da ideia de 
que se trata do interesse do conjunto social, ou seja, resulta da composição dos interesses que 
os indivíduos possuem por serem membros da sociedade (MELLO, 2014, p. 62). Como se 
nota, trata-se de uma concepção unitária de interesse público que engloba não apenas o 
aspecto individual, como também o coletivo, visando ao bem comum e, por tal razão, 
proclama a supremacia a priori – sem qualquer tipo de ponderação no caso in concreto – 
como justificativa das prerrogativas da Administração nas suas relações com os interesses dos 
particulares (BINENBOJM, 2008, p. 9). 
Nessa perspectiva, Binenbojm (2008) assegura que a concepção da presença de um 
interesse público em detrimento dos interesses pessoais dos também integrantes de uma 
mesma sociedade dissona com a necessidade constitucional deflagrada pela democracia e 
pelos direitos fundamentais presentes num Estado democrático de direito. Desse modo, a ideia 
de interesse público será compreendida pelo produto da ponderação, ou seja, o resultado da 
simbiose entre norma e fato, indicando assim a prevalência do interesse geral ou individual, 
sempre sob a égide da Constituição brasileira e de seus sistemas de direitos fundamentais e 
democráticos, afastandoqualquer hipótese apriorística (BINENBOJM, 2014, p. 88). 
Nesse ponto, torna-se mister destacar que de modo algum se nega a importância do 
interesse público; o que se sustenta é a revisão dessa concepção a priori de supremacia 
daquele sobre os interesses dos particulares. Com efeito, apregoa-se que deva existir uma 
ponderação na medida em que os interesses do Estado e dos particulares entram em conflito, 
de modo que não deve haver espaço para consagrar a supremacia do interesse público, sem 
que este critério seja esgotado (ÁVILA, 2001, p. 29). Por esse motivo, alerta com clareza 
Justem Filho (2005) que a separação entre os interesses individuais e o interesse público – 
representado por um cariz autoritário – configura o ponto de partida para a afirmação dos 
interesses supra-individuais, com caráter eminentemente totalitário, cuja presença se 
evidenciou, v.g., no stalinismo. 
Ademais, demonstra-se que o princípio da supremacia do interesse público, cujo 
escopo não segue uma lógica de ponderação proporcional, mas, sim, uma relação hierárquica 
estática, privilegiando os interesses da coletividade sobre os interesses individuais, apresenta 
patente incompatibilidade com os preceitos constitucionais. Isso porque os princípios devem 
ser aplicados conforme o caso concreto, utilizando um juízo de valor, em maior ou menor 
grau, com a devida reflexão, ainda que pautada noutros princípios coexistentes 
(BINENBOJM, 2008, p. 10). Sendo assim, o autor reforça a ideia de que o princípio em 
análise, ao favorecer, impreterivelmente, o interesse público frente ao conflito de interesses 
com o particular nas nuances do caso concreto, isenta qualquer margem de discussão e acaba 
por cessar qualquer oportunidade para ponderações (BINENBOJM, 2014, p. 97). Na mesma 
toada, o eminente professor Barroso (2008) leciona que os princípios não devem ser impostos 
nos termos de tudo ou nada, de modo que, como a lógica do sistema é dialética, a aplicação de 
qualquer princípio parte da ponderação. 
Ante o exposto e com fito de superação do paradigma em tela, tem-se discutido a 
proposta de constitucionalização do direito administrativo, norteada pelos sistemas de 
democracia e de direitos fundamentais, pautando-se em vetores axiológicos nas intervenções 
da Administração Pública, os quais confluem no princípio da dignidade da pessoa humana 
(BINENBOJM, 2008, p. 7). 
Neste passo, examina Binenbojm (2014) que nossa Constituição Federal protege 
efetivamente os interesses fundamentais, visto que, com o retorno da ordem democrática, 
antes deteriorada pelos governos ditatoriais, vêm à tona normas e princípios revestidos do 
espírito cidadão. Em consonância com o acatado, Sarmento (2010) aduz que a Carta Magna 
de 1988 é revestida pelo supramencionado princípio da dignidade da pessoa humana, o qual, 
além de ser proclamado como fundamento da República, traz em seu bojo a ideia de que a 
pessoa humana é a finalidade primordial, devendo o Estado, como meio, garantir e promover 
os direitos fundamentais. 
 Por conseguinte, em primorosa obra, Ávila (2001) sustenta que tanto os interesses 
públicos, quanto os privados estão igualmente instituídos e protegidos pela Constituição 
Federal de 1988, de modo que não se admite que sejam apartadamente descritos perante a 
atividade estatal, ou seja, os elementos privados também compõem uma finalidade do Estado. 
Ademais, o autor aqui mencionado certifica que o princípio da supremacia do interesse 
público sobre o particular não se caracteriza como norma-princípio, vez que ele possui apenas 
um grau de aplicação, sem margem para possibilidades normativas e concretas, de tal maneira 
que a Administração não pode exigir do particular um determinado comportamento, 
sobretudo que imponha restrições ou obrigações, fundamentada por ele. Por fim, o eminente 
jurista argumenta que a desconstrução do aludido princípio se dá por sua evidente 
incompatibilidade com os postulados normativos da proporcionalidade e da concordância 
prática, os quais se caracterizam por um meio de adequação razoável entre a norma e o fato, 
garantindo a harmonia entre os bens jurídicos. 
 
Conclusões 
 
A partir da análise apresentada, demonstra-se que o contexto histórico do direito 
administrativo, instituído pelas origens liberais e garantidoras oriundas da submissão do 
Estado à lei e aos indivíduos, não é como retrata a história; ao contrário, buscaram-se meios 
de satisfazer a sua própria vontade, sendo o princípio da supremacia do interesse público 
sobre o privado, apenas uma forma velada que reafirma a dogmática administrativa voltada à 
preservação do autoritarismo. 
Deveras, o então princípio aclamado pela doutrina entra em xeque por ter em seu 
bojo finalidade a priori de satisfação do interesse público, suprimindo qualquer espaço para 
ponderações diante do caso concreto, trazendo clara incompatibilidade com a sistemática 
constitucional de direitos e garantias fundamentais. 
Nesse sentido, fica atestado que, como o princípio da supremacia do interesse 
público sobre o interesse particular está divorciado de qualquer análise de ponderação 
proporcional, seguindo apenas uma relação estática de verticalidade, sem qualquer juízo de 
valor, deve ser descaracterizado como norma-princípio, não podendo a administração requerer 
certo comportamento perante o administrado com base nele sem antes apreciar as 
peculiaridades do caso concreto, esgotando as discussões pertinentes dentro do contexto 
constitucional. 
Por fim, o presente estudo não teve como fito de forma alguma vituperar com a 
colaboração dos grandes estudiosos administrativistas, mas tão somente aproveitar seus 
ensinamentos para abrir espaço para novas discussões sobre assuntos que merecem um olhar 
enverdecido diante do cenário atual, lembrando sempre que a sociedade, não sendo ela 
imutável, carece de reflexões e consequentemente da quebra de antigos paradigmas 
objetivando sempre a forma mais equânime para solução de conflitos entre a Administração 
Pública e seus administrados sem perder de vista o que reza e assegura a Constituição. 
 
Referências 
 
ÁVILA, Humberto Bergmann. Repensando o “princípio da supremacia do interesse público 
sobre o particular”. Revista Diálogo Jurídico, Salvador – BA, v. I, n.7, outubro 2001. 
 
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 6ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2008. 
 
BINENBOJM, Gustavo. A constitucionalização do direito administrativo no Brasil: um 
inventário de avanços e retrocessos. Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado, 
Salvador – BA, n. 13, março 2008. 
 
______, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos fundamentais, 
democracia e constitucionalização. 3ª ed. Rev. e Atual. – Rio de Janeiro: Renovar, 2014. 
 
JUSTEM FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005. 
 
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 31ª ed. São Paulo: 
Malheiros, 2014. 
 
SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. 2ª ed., 3ª tiragem. Rio de 
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010.

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