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Universidade Federal de Lavras – UFLA Centro de Educação a Distância – CEAD FUNÇÕES DOS NUTRIENTES NAS PLANTAS GUIA DE ESTUDOS Valdemar Faquin Cleber Lázaro Rodas Lavras/MG 2015 CEAD 16.indd 1 11/09/2015 10:43:52 Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Universitária da UFLA Faquin, Valdemar. Funções dos nutrientes nas plantas : guia de estudos / Valdemar Faquin, Cleber Lázaro Rodas. – Lavras : UFLA, 2015. 135 p. : il. Uma publicação do Centro de Educação a Distância da Universidade Federal de Lavras. Bibliografia. 1. Absorção radicular de nutrientes. 2. Absorção foliar de nutrientes. 3. Nutrientes no metabolismo vegetal. 4. Macronutrientes. 5. Micronutrientes. 6. Diagnóstico nutricional das plantas. I. Rodas, Cleber Lázaro. II. Universidade Federal de Lavras. III. Título. CDD – 581.13 CEAD 16.indd 2 11/09/2015 10:43:52 Governo Federal Presidente da República: Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação: Renato Janine Ribeiro Universidade Federal de Lavras Reitor: José Roberto Soares Scolforo Vice-Reitora: Édila Vilela Resende von Pinho Pró-Reitor de Pós-Graduação: Alcides Moino Júnior Centro de Educação a Distância Coordenador Geral: Ronei Ximenes Martins Curso de Extensão Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável Coordenadores do Curso: Daniel Carvalho de Rezende, Marcelo Márcio Romaniello e Luiz Cláudio Paterno Silveira CEAD 16.indd 3 11/09/2015 10:43:52 CEAD 16.indd 4 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................7 1.1. Composição química das plantas ................................................................7 1.2. Os elementos essenciais .............................................................................7 2. ABSORÇÃO DE NUTRIENTES PELAS PLANTAS, TRANSPORTE E REDISTRIBUIÇÃO ..................................................................................................9 2.1. Absorção iônica radicular .............................................................................9 2.1.1. Introdução .............................................................................................9 2.1.2. Mecanismos de absorção ...................................................................10 2.1.3. Fatores que afetam a absorção radicular ...........................................14 2.2. Absorção iônica foliar .................................................................................15 2.2.1. Introdução ...........................................................................................15 2.2.2. Aspectos anatômicos, vias e mecanismos .........................................15 2.2.3. Velocidade de absorção e mobilidade (transporte) dos nutrientes no floema ......................................................................................................16 2.2.4. Fatores que afetam a absorção foliar .................................................17 2.3. Transporte e redistribuição ........................................................................18 3. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E FUNÇÕES DOS NUTRIENTES ...................20 3.1. Exigências nutricionais ...............................................................................20 3.2. Funções dos nutrientes ..............................................................................27 3.2.1. Funções dos Macronutrientes .............................................................29 3.2.1.1. Nitrogênio ....................................................................................29 3.2.1.2. Fósforo .........................................................................................37 3.2.1.3. Potássio .......................................................................................41 3.2.1.4. Cálcio ...........................................................................................45 3.2.1.5. Magnésio .....................................................................................50 3.2.1.6. Enxofre ........................................................................................52 3.2.2. Funções dos Micronutrientes ..............................................................57 3.2.2.1. Boro .............................................................................................57 3.2.2.2. Cloro ............................................................................................62 3.2.2.3. Cobre ...........................................................................................64 3.2.2.4. Ferro ............................................................................................67 3.2.2.5. Manganês ....................................................................................71 3.2.2.6. Molibdênio ...................................................................................74 3.2.2.7. Zinco ............................................................................................77 3.2.2.8. Cobalto ........................................................................................81 3.2.2.9. Níquel ..........................................................................................84 4. ELEMENTOS ÚTEIS E ELEMENTOS TÓXICOS .............................................87 4.1. Elementos úteis ..........................................................................................87 4.1.1. Sódio (Na) ..........................................................................................87 CEAD 16.indd 5 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 6 4.1.2. Silício ..................................................................................................90 4.1.3. Selênio ................................................................................................92 4.2. Elementos tóxicos .....................................................................................94 4.2.1. Alumínio ............................................................................................102 4.2.2. Cádmio ..............................................................................................103 4.2.3. Chumbo ............................................................................................105 5. DIAGNOSE DO ESTADO NUTRICIONAL DAS PLANTAS .............................106 5.1. Introdução ................................................................................................106 5.2. Métodos de diagnóstico ...........................................................................106 5.2.1. Diagnose visual ................................................................................107 5.2.1.1. Indicações práticas ....................................................................108 5.2.1.2. Descrição dos sintomas visuais .................................................109 5.2.1.3. Limitações da diagnose visual ...................................................109 5.2.2. Diagnose foliar ................................................................................. 111 5.2.2.1. Introdução .................................................................................. 111 5.2.2.2. Amostragem, preparo da amostra e análise química ................114 5.2.2.3. Padrões de referências ..............................................................119 5.2.2.4. Interpretação dos resultados da análise ....................................120 5.3. Considerações finais ................................................................................129 6. LITERATURA CITADA .....................................................................................131 CEAD 16.indd 6 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientesnas Plantas 7 1. INTRODUÇÃO 1.1. Composição química das plantas De maneira geral, uma planta apresenta entre 90 e 95% do seu peso em água. A eliminação da água por secagem em estufa permite a obtenção da matéria seca da planta. Fazendo-se uma análise química da matéria seca, observa-se que mais de 90% é composta por C, O e H e o restante, pelos minerais. São três os meios onde as plantas tiram os elementos químicos para formação de sua matéria seca: • ar – C (CO2) • água - H e O • solo - elementos minerais, aqui simbolizados como ”M”. Embora o solo seja o meio que contribui em menor quantidade, os elementos minerais que formam os vegetais, de maneira geral, são aqueles que mais limitam o crescimento das plantas. Entretanto, o solo é o meio mais facilmente modificado pelo homem, tanto no aspecto físico (aração, gradagem, subsolagem, drenagem) quanto no químico (calagem e adubação). Portanto, para uma planta crescer e produzir de forma adequada, ela deve ter no meio e nos tecidos, todos os elementos essenciais (nutrientes) em quantidades e proporções adequadas. Assim, o estudo da Nutrição Mineral das Plantas é importante, porque os hu- manos comem plantas ou plantas transformadas (carne, ovos, leite, derivados) e, ainda, tiram delas energia (carvão, combustível), fibras, madeira, resinas, medica- mentos, celulose, corantes, etc. Portanto, somente alimentando adequadamente a planta é possível alimentar os humanos. 1.2. Os elementos essenciais Somente a análise química da planta não é suficiente para o estabelecimen- to da essencialidade de um elemento. As plantas absorvem do solo, sem muita discriminação, os elementos que estiverem disponíveis na solução, ou seja, os es- senciais, úteis e tóxicos, podendo estes últimos, inclusive, levá-las à morte. Assim, pode-se definir: a) elementos essenciais - são aqueles sem os quais as plantas não vivem; b) elementos úteis – as plantas vivem sem os mesmos, mas a presença traz algum benefício e c) elementos tóxicos – essenciais ou não, em excesso no meio prejudicam o crescimento vegetal. Um elemento é considerado essencial quando satisfaz os critérios direto e, ou, indireto de essencialidade. O direto - quando o CEAD 16.indd 7 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 8 elemento é componente de algum composto ou participa de alguma reação crucial ao metabolismo. Por exemplo, o N participa da composição dos aminoácidos e, consequentemente, das proteínas; o Mg da clorofila; o P dos compostos ricos em energia (ATP), do DNA, RNA. Todos os elementos considerados essenciais aten- dem ao critério direto, à exceção do B. O indireto - trata-se basicamente de um guia metodológico, composto por três passos: 1. Na ausência do elemento a planta não completa seu ciclo de vida; 2. O elemento não pode ser substituído por nenhum outro; 3. O elemento deve ter um efeito direto na vida da planta e não corrigir uma condição desfavorável do meio. Todos os elementos essenciais atendem ao critério indireto, inclusive o B. Além do C, O e H (orgânicos), as plantas necessitam de outros elementos minerais essenciais, sendo esses divididos por aspectos puramente quantitativos em dois grupos: • macronutrientes: N, P, K, Ca, Mg e S; • micronutrientes: B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn (Co). O cobalto é considerado essencial às leguminosas que dependem da fixação biológica do N2 atmosférico. O Na, Se e Si são considerados úteis aos vegetais. Alguns termos têm sido incorretamente usados para designar os nutrientes: não se deve usar os termos “macroelementos” ou “elementos maiores” como sinô- nimos de macronutrientes; da mesma forma “microelementos”, “oligoelementos”, “elementos menores”, “elementos traços” para micronutrientes. CEAD 16.indd 8 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 9 2. ABSORÇÃO DE NUTRIENTES PELAS PLAN- TAS, TRANSPORTE E REDISTRIBUIÇÃO 2.1. Absorção iônica radicular 2.1.1. Introdução Como já discutido, a planta obtém os seus nutrientes minerais do solo, e ela o faz através da absorção pelas raízes. Portanto, é importante conhecer os mecanis- mos envolvidos e os fatores que afetam o processo. Algumas definições são necessárias, evitando-se o uso de termos indevidamente: • absorção: processo pelo qual o elemento “M” passa do meio (solo, solução nutritiva) para uma parte qualquer da planta (parede, citoplasma, vacúolo). Lembrando: “M” significa um nutriente qualquer; • assimilação: é a incorporação do nutriente em compostos orgânicos no meta- bolismo vegetal; • transporte ou translocação: é a transferência do elemento de um órgão de absorção para outro qualquer da planta (exemplo, da raiz para a parte aérea); • redistribuição: é a transferência do elemento de um órgão de acúmulo ou de função para outro qualquer (exemplo, da folha para o fruto; da folha velha para a nova). Para que o nutriente seja absorvido, a primeira condição que deve ser satisfei- ta é o contato do elemento com a superfície das raízes. Há três mecanismos pelos quais o contato acontece: • intercepção radicular: é o encontro casual da raiz crescendo e o M no solo - sua contribuição é muito pequena; • fluxo de massa: é o movimento do M em uma fase aquosa móvel (solução do solo), devido à absorção de água pelas raízes. Por esse processo os nutrien- tes são transportados no solo a maiores distâncias e é importante para o N, Ca, Mg, S e alguns micronutrientes; • difusão: consiste no movimento do íon em uma fase aquosa estacionária, de- vido a um gradiente de concentração, promovido pela própria absorção pela raiz. O movimento ocorre a curtas distâncias e é importante para o P (princi- palmente) e o K e alguns micronutrientes. CEAD 16.indd 9 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 10 Pensou-se durante muito tempo que os elementos contidos na solução do solo fossem absorvidos pelas raízes por simples difusão, caminhando a favor de um gradiente de concentração, indo de um local de maior (a solução externa) para outra de menor (o suco celular) concentração. Entretanto, as análises químicas mostraram que a concentração celular dos elementos, de maneira geral, é muito maior que a do meio. Portanto, dúvidas ainda permanecem de como a planta regula a absorção; como os íons vencem a barreira das membranas celulares e, como o processo ocorre contra o gradiente de concentração. 2.1.2. Mecanismos de absorção Dois são os mecanismos pelos quais o M presente na solução do solo é ab- sorvido. O primeiro, denominado de “absorção passiva”, corresponde à ocupação do “apoplasto” radicular (parede celular, espaços intercelulares e superfície externa da plasmalema). As características desse processo são: rápido/reversível, favor do gradiente de concentração e não exige gasto de energia. O segundo, a “absorção ativa”, trata-se da ocupação do “simplasto” (citoplasma) das células radiculares, e para tanto, o M deve atravessar a barreira das membranas celulares, a plasmale- ma, para atingir o citoplasma e o tonoplasto para ocupar o vacúolo. Suas caracte- rísticas são: lento/irreversível; contra o gradiente de concentração (o simplasto é muito mais concentrado que o apoplasto) e exige o gasto de energia (ATP). Por- tanto, as membranas plasmáticas (plasmalema e tonoplasto) são as responsáveis pela seletividade na absorção de cátions e ânions e constituem-se numa efetiva barreira para a difusão de íons do apoplasto para o simplasto ou no sentido contrá- rio, do citoplasma para o apoplasto. Em média a composição das membranas é de aproximadamente 55% de proteínas (estrutural e enzimas de transporte), 40% de lipídeos e 5% de carboidratos (Mengel e Kirkby, 1987). A Figura 1 ilustra esquema- ticamente uma célula vegetal, o que facilita o entendimento. CEAD 16.indd 10 11/09/201510:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 11 Figura 1 – Representação esquemática dos componentes da célula vegetal. A Figura 2 mostra as vias apoplástica (passiva) e simplástica (ativa) pelas quais o M da solução do solo é absorvido, movimentando-se radialmente até atin- gir os vasos do xilema, por onde é transportado para a parte aérea pela corrente transpiratória. CEAD 16.indd 11 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 12 Figura 2 – Corte transversal de raiz primária e vias de absorção radicular. A membrana celular, certamente, pela sua própria composição de natureza lipídica (fosfolipídeos, proteínas, carboidratos), é que controla todo o processo de absorção iônica, tornando-se uma barreira para a entrada livre e impedindo a saída dos elementos absorvidos. O mecanismo (ou mecanismos) para a absorção ativa, metabólica e contra um gradiente de concentração, ainda não está totalmente esclarecido. Admite-se que os elementos não atravessem a membrana isoladamente, e sim, associados a um composto denominado “carregador” e o processo exige energia (ATP). CEAD 16.indd 12 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 13 Mais recentemente, a absorção ativa tem sido explicada pelo envolvimento de três mecanismos (Figura 3): 1) Bomba eletrogênica (transporte ativo primário) – ATPases-H+ presentes na membrana, pela hidrólise do ATP e extrusão do H+ para o lado externo da membrana plasmática (apoplasto), estabelecem um gradiente de potencial eletroquímico entre as faces da membrana e com isso, há criação de energia livre representada pela equação fmP (força motriz de prótons)= ΔpH + ΔΨ; 2) Carregadores (transporte ativo secundário) – com o objetivo de estabelecer o equilíbrio químico (pH) e elétrico (Ψ) entre as faces da membrana, proteínas es- pecíficas presentes nas mesmas, denominadas de “carregadores”, com o uso da energia livre da fmP, transportam o H+ de volta para a face interna da membrana (simplasto) e, nesse processo, os nutrientes seriam transportados por esses car- regadores através da membrana contra um gradiente de concentração; 3) Canais – são proteínas transmembranas que funcionam como poros seletivos pelos quais íons podem se difundir pelas membranas a favor de um gradiente de concentração. Nesse caso, a absorção é passiva. A Figura 3 sumariza esses processos. Figura 3 – Modelo hipotético para a absorção ativa de íons através das membranas celulares. CEAD 16.indd 13 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 14 O cálcio tem um papel fundamental na manutenção da estrutura e no funcio- namento das membranas celulares. Esse efeito é atribuído às pontes que o Ca2+ forma entre os radicais aniônicos dos componentes da membrana - fosfato dos fosfolipídeos e carboxílicos das proteínas. Portanto, a manutenção de um nível adequado de cálcio no meio é necessária, para garantir entre outras coisas, a ab- sorção adequada de nutrientes. 2.1.3. Fatores que afetam a absorção radicular Diversos fatores, externos (do meio) e internos (da planta), afetam o processo de absorção radicular. Entre os externos, citam-se: a) disponibilidade - a primeira condição para que um nutriente seja absorvido é que o mesmo esteja na forma disponível e em contato com a superfície da raiz. Portanto, os fatores que afetam a disponibilidade, afetam também, a absorção, citando-se como exemplos: o teor total do elemento no solo, pH, aeração, umidade, presença de outros íons; b) aeração - o O2 é necessário para a respiração das raízes, fonte de energia (ATP) para a absorção ativa e atividade microbiológica; c) temperatura - a faixa de temperatura favorável está entre 20 e 35 ºC. Tem- peraturas extremas, abaixo de 10 ºC e acima de 45 ºC, reduzem a absorção, devido ao fato de afetar, principalmente, a respiração; d) interação entre os íons - como a solução do solo apresenta uma série de elementos químicos, a presença de um pode alterar a absorção de outro por inibição (redução) ou sinergismo (favorecimento). Portanto, a manutenção de um equilíbrio dos nutrientes no solo é fundamental para a nutrição adequada da planta; e) pH - o pH do solo é o fator que mais afeta a disponibilidade dos nutrientes no solo. A faixa de pH mais adequada para a maioria das culturas está entre 5,5 e 6,5. Esse aspecto mostra a importância da calagem dos solos ácidos; f) umidade - a água é o veículo para o contato dos nutrientes do solo com as raízes por fluxo de massa e difusão, atividade microbiológica e muitos outros processos; g) micorrizas - termo que define a associação de fungos do solo e raízes das plantas, formando uma simbiose. Os benefícios para a nutrição da planta são o aumento da superfície radicular e do volume de solo explorado, aumentando com isso, a absorção de nutrientes (principalmente o P) e água. CEAD 16.indd 14 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 15 Entre outros, citam-se como fatores internos (da planta) que afetam a absor- ção iônica: a) potencialidade genética - as plantas variam geneticamente na capacidade de absorção iônica; b) intensidade transpiratória - atua aumentando o fluxo de massa dos nutrientes no solo em direção às raízes e no transporte desses para a parte aérea; c) morfologia das raízes - sistema radicular mais desenvolvido, raízes finas, bem distribuídas, apresentam maior área absortiva e exploram melhor o volume do solo. 2.2. Absorção iônica foliar 2.2.1. Introdução Embora no habitat terrestre, as folhas tenham se especializado como órgãos de síntese da planta, as mesmas não perderam a habilidade de absorver água e íons, característica que possuíam no seu habitat de origem, os oceanos. E essa capacidade das folhas em absorver água e nutrientes constitui-se na base para a aplicação foliar de nutrientes pela prática da adubação foliar, bem como de outros produtos como herbicidas, hormônios, desfolhantes, etc. O principal objetivo de se estudar a absorção foliar está no uso eficiente da adubação foliar. Hoje, a adubação foliar é bastante utilizada em diferentes culturas e tem como interesse prático, entre outros, corrigir deficiências eventuais dentro do ciclo da planta, fornecimento de micronutrientes, aumentar a eficiência de aprovei- tamento dos fertilizantes, aproveitamento de outras operações. 2.2.2. Aspectos anatômicos, vias e mecanismos A Figura 4 ilustra a anatomia foliar, em que se observa que tanto a superfície superior quanto a inferior são revestidas externamente por uma camada cerosa, hidrorrepelente, a cutícula - que apresenta na sua composição a cutina, pectina, hemicelulose, ácidos graxos e ceras. A cutícula apresenta-se mais espessa na face adaxial da folha. Na abaxial, além da cutícula ser mais fina, há a presença dos es- tômatos, também revestidos internamente pela cutícula, que aumentam sobrema- neira a superfície para a absorção. Assim, a cutícula constitui-se na primeira barreira à penetração dos nutrientes aplicados às folhas, para atingir o apoplasto e o simplasto foliar e serem transpor- tados pelo floema para outros órgãos. CEAD 16.indd 15 11/09/2015 10:43:52 Funções dos Nutrientes nas Plantas 16 Figura 4 – Aspectos da anatomia foliar: corte transversal da lâmina. A absorção foliar de nutrientes, tal como acontece na radicular, se processa em duas etapas: absorção passiva - consiste na ocupação do apoplasto foliar, após o nutriente atravessar a cutícula; absorção ativa - seria a ocupação do simplasto foliar, após o M vencer as membranas plasmáticas. Para isso, o processo exige energia metabólica (ATP), originada da respiração e da fotossíntese. A participação de “carregadores” no processo também é aceita. Contrariamente ao que ocorre nas raízes, o elemento absorvido pelas folhaspode atingir o floema tanto pelo apoplasto quanto pelo simplasto foliar. O transporte do nutriente a longa distância para outros órgãos, quando ocorre, é realizado pelo floema, cujo processo exige energia (ATP). 2.2.3. Velocidade de absorção e mobilidade (transporte) dos nu- trientes no floema A velocidade da absorção foliar varia de nutriente para nutriente e, também, de espécie para espécie, principalmente devido à característica da cutícula, que varia grandemente de planta para planta. CEAD 16.indd 16 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 17 A mobilidade, ou seja, o transporte dos nutrientes das folhas para outros ór- gãos pelo floema, também varia de elemento para elemento, indo de altamente móveis até imóveis (Tabela 1). Assim, a eficiência da aplicação foliar de nutrientes imóveis tal como o B e o Ca é bastante baixa, exigindo aplicações frequentes. Tabela 1 – Mobilidade comparada dos nutrientes aplicados nas folhas. Em cada grupo os elementos aparecem em ordem decrescente. Altamente Móveis Móveis Parcialmente Imóveis Imóveis Nitrogênio Potássio Sódio Fósforo Cloro Enxofre Magnésio Zinco Cobre Manganês Ferro Molibdênio Boro Cálcio 2.2.4. Fatores que afetam a absorção foliar A absorção foliar é influenciada por fatores externos (do meio) e internos (da planta), que afetam, portanto, a eficiência da adubação foliar. Entre os externos enumeram-se: • molhamento da superfície foliar - para que o nutriente seja absorvido a folha deve ser molhada pela solução e isso depende da tensão superficial da gota e da natureza da cutícula, a qual apresenta características hidrorrepelentes. Os “espalhantes adesivos” rompem essa tensão superficial permitindo o molha- mento da superfície, reduzem a evaporação da gota e facilitam a penetração da solução na câmara subestomática, favorecendo a absorção; • temperatura e umidade relativa do ar - temperatura amena e umidade do ar elevada favorecem a absorção foliar, devido a uma menor evaporação da água da solução, mantendo a cutícula hidratada e, também, pela abertura dos estômatos, via importante de absorção foliar dos nutrientes. Na prática, portanto, as condições mais favoráveis seriam pela manhã e final da tarde; • composição da solução - é comum adicionar ureia às soluções de aplicação foliar, admitindo-se que a mesma tem a propriedade de quebrar ligações entre os componentes da cutícula, aumentando a absorção de todos os componen- tes da solução. Mas, deve-se ter bastante cuidado no seu uso, pois a ureia é rapidamente absorvida pelas folhas, podendo provocar a toxidez na planta de- vido às altas concentrações de amônia (NH3). Outro fator ligado à composição da solução é a interação entre os íons - inibição e sinergismo. A presença de cobre ou boro na solução reduz a absorção de Zn em torno de 50%. A ureia e CEAD 16.indd 17 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 18 o KCl apresentam um efeito sinergístico na absorção de outros nutrientes na solução; • luz - a presença de luz promove a abertura dos estômatos e a síntese de ener- gia (ATP) pela fotossíntese, favorecendo a absorção foliar; Alguns fatores internos que afetam a absorção foliar são citados: • face da folha - a página inferior (abaxial) da folha apresenta cutícula mais fina e predominância de estômatos, portanto, maior absorção foliar que a superior (adaxial). Portanto, a distribuição uniforme da solução, atingindo também a face abaxial das folhas, é recomendada na prática da adubação foliar; • idade da folha - a absorção de nutrientes da solução é maior nas folhas novas do que nas velhas, devido à presença de cutículas mais finas e maior ativida- de metabólica. 2.3. Transporte e redistribuição O transporte ou translocação, já foi definido como a transferência do M do órgão de absorção (raiz, folha) para outro qualquer. No caso da absorção radicular, para que o M possa atingir a parte aérea, o mesmo deve sofrer o transporte radial e o transporte à longa distância. No transporte radial, o M percorre o caminho desde as células da epiderme da raiz até os vasos no cilindro central e o faz por duas vias: apoplasto e o simplasto radicular (Figura 2). O transporte a longa distância, que corresponde ao caminhamento do M da raiz para a parte aérea, é feito predominantemente pelo xilema, embora alguns elementos, como o potássio, também o faça pelo floema. O transporte dos nutrientes absorvidos pelas folhas, como visto em 2.2.3, é feito via floema. A redistribuição foi definida como a transferência do M de um órgão de acúmu- lo ou de função para outro qualquer. Assim, os nutrientes armazenados nas folhas durante os estádios de crescimento, podem sair delas (depende do nutriente) antes da senescência ou abscisão, ou sob condições de deficiência, sendo redistribuídos para outros órgãos - folhas mais novas, órgãos de reserva, regiões em cresci- mento e frutos. Essa redistribuição (remobilização) dos elementos difere entre os nutrientes e reflete na localização dos sintomas visuais de deficiência nutricional nas plantas. Sintomas localizados nas folhas mais velhas correspondem a uma alta taxa de remobilização do nutriente, enquanto que nas folhas mais novas e me- ristemas apicais, refletem uma pequena redistribuição. A Tabela 2 sumariza essas características. CEAD 16.indd 18 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 19 Tabela 2 – Redistribuição dos nutrientes e os órgãos onde os sintomas de deficiência ocor- rem primeiro. Nutrientes Redistribuição Sintomas visuais de deficiência ocorrem: N, P, K e Mg móveis folhas velhas S, Cu, Fe, Mn, Zn e Mo pouco móveis folhas novas B e Ca imóveis folhas novas e meristemas Essa maior ou menor mobilidade no floema (redistribuição) dos Ms na planta tem importante relevância prática: local de ocorrência dos sintomas de deficiência nutricional; as plantas exigem um suprimento contínuo dos nutrientes imóveis e pouco móveis; para esses, o suprimento contínuo é feito mais eficientemente quan- do aplicados ao solo. CEAD 16.indd 19 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 20 3. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E FUNÇÕES DOS NUTRIENTES 3.1. Exigências nutricionais A expressão “exigências nutricionais” refere-se às quantidades de macro e mi- cronutrientes que a planta tira do solo, do adubo e do ar (no caso da fixação biológi- ca do N), para atender as suas necessidades, crescer e produzir adequadamente. A “exportação de nutrientes” refere-se às quantidades de nutrientes presentes no produto colhido, que são retiradas da área de cultivo. A quantidade de nutrientes exigida pelas culturas é função dos seus teores no material vegetal e do total de matéria seca produzida. Como a concentração (teor) e a produção variam muito, as exigências minerais de diferentes espécies também o fazem. É o que mostram, como exemplos, as Tabelas 3 e 4, para extração (exi- gências) e as Tabelas 5 e 6 para exportação dos macro e micronutrientes de algu- mas das principais hortaliças brasileiras. A extração pelas plantas dos nutrientes do solo, não se faz nas mesmas quan- tidades durante seus vários estádios de crescimento. Tanto nas culturas anuais quanto nas perenes nos seus estádios produtivos, a curva de extração de nutrien- tes em função do tempo é uma sigmoide, tal como ocorre com a produção de ma- téria seca. Quando a planta é nova, a absorção de nutrientes é pequena; segue-se um período de acumulação logarítmica; num período final há uma fase de estabili- zação. Há, em geral, uma perfeita sobreposição das curvas da produção de matéria seca com a acumulação dos nutrientes (Figuras 5 e 6). Essas informações têm um aspecto prático muito importante relacionado com as adubações em cobertura do N e do K, que deverãoser realizadas nos períodos iniciais de grande absorção. De modo geral, as exigências nutricionais totais das plantas obedecem a se- guinte ordem decrescente: • macronutrientes: N>K>Ca>Mg>P=S; • micronutrientes: Fe>Mn>Zn>B>Cu>Mo. O conhecimento das extrações e exportações de nutrientes pelas culturas permite preparar balanços nutricionais e redirecionar as recomendações de adu- bação. As adubações não devem apenas repor os nutrientes exportados pela co- lheita, mas, também, suprir as quantidades necessárias para a formação de outros órgãos vegetais não retirados da área e as perdas por lixiviação, fixação e outros processos. CEAD 16.indd 20 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 21 Tabela 3 – Extração de macronutrientes por tonelada de produtos frescos colhidos de al- gumas hortaliças. Hortaliça Cultivar N P K Ca Mg S -------------------------------g t-1------------------------------ Abobrinha Caserta 1115 308 1763 148 160 69 Agrião - 3003 594 4204 1864 374 509 Alface Gigante Great Lakes White Boston 1936 1172 1865 267 208 196 2532 1493 2491 664 275 538 193 76 88 136 89 140 Alho Lavínia 7350 1083 4697 1312 214 1925 Batata1 - 2000 125 2500 75 75 75 Berinjela Flórida Markert Long Purple Santa Genebra 1200 1806 2186 196 297 352 1510 2350 2222 79 77 113 123 188 207 128 180 198 Beterraba - 2031 530 3850 183 287 169 Brócolos Ramoso 3540 715 3231 1240 261 498 Cebola Monte Alegre Roxa do Trairú 2735 2611 475 270 2745 2547 170 161 179 182 576 652 Cenoura Nantes IAC-3815 2077 1568 383 199 3687 3150 510 346 220 160 175 134 Chuchu - 1092 276 1265 143 93 79 Couve Manteiga 4653 524 4060 2761 363 680 Couve-flor Santa Elisa IAC-2524 2918 2710 331 550 2152 1482 308 288 143 117 430 318 Ervilha Perfectah Torta de flor roxa 5503 4711 694 686 3638 6494 1708 662 344 324 381 328 Espinafre - 1879 181 1484 116 129 269 Feijão-va- gem Manteiga 2268 405 2066 475 281 168 Jiló I-3741 2288 430 2855 242 214 190 Mandioqui- nha Salsa 2097 770 5290 256 186 291 Melancia Yamato Soto 1525 216 1106 100 112 121 Melão Amarelo Pará 1946 538 2346 136 282 200 Moranga Exposição Coroa 1307 1734 214 296 3420 3186 112 141 112 167 157 193 Continua... CEAD 16.indd 21 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 22 Hortaliça Cultivar N P K Ca Mg S -------------------------------g t-1------------------------------ Morango Monte Alegre Campinas 1166 952 280 304 1505 1312 230 163 137 102 80 61 Nabo - 924 266 1984 175 108 217 Pepino Verde Paulistano Aodai Palomar Marketer 1140 1047 698 916 277 248 178 314 1680 1212 1068 1098 240 290 200 190 138 120 95 98 128 89 - - Pimentão Ikeda 1570 297 2146 79 86 181 Quiabo Campinas 2175 460 2812 337 437 176 Rabanete - 1190 283 2025 180 125 224 Tomate Ângela 1426 155 1733 62 38 305 Fonte: Adaptado de Furlani et al. (1978); 1Adaptado de Malavolta (1976). Tabela 4 – Extração de micronutrientes por tonelada de produtos frescos colhidos de algu- mas hortaliças. Hortaliça Cultivar B Cu Fe Mn Mo Zn -------------------------------mg t-1--------------------------- Abobrinha Caserta 853 526 3900 1755 1,2 2262 Agrião - 1716 586 19500 3354 149,0 7332 Alface Gigante Great Lakes White Boston 1218 648 1134 395 375 248 38850 5535 34482 6468 3537 5502 4,0 0,5 3,0 4872 2970 4578 Alho Lavínia 5795 824 71065 6405 82,3 10370 Batata1 Achat Mantiqueira 1536 1568 1280 1040 50720 9760 2400 1520 - - 2080 2560 Berinjela Flórida Markert Long Purple Santa Genebra 957 1242 1322 435 587 606 5278 9019 8069 1771 1687 2090 1,1 0,7 1,4 1099 1554 2130 Beterraba - 2210 1086 20313 1220 14,6 3111 Brócolos Ramoso 1817 1090 13351 5293 44,0 4187 Cebola Monte Alegre Roxa de Trairú 1504 749 1147 942 6956 7383 6486 9095 0,9 1,1 4700 5992 Continua... CEAD 16.indd 22 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 23 Hortaliça Cultivar B Cu Fe Mn Mo Zn -------------------------------mg t-1--------------------------- Cenoura Nantes IAC-3815 2706 1984 502 429 14068 12864 5544 9600 5,3 3,2 2992 2432 Chuchu - 713 446 4650 744 14,0 806 Couve Manteiga 3630 374 33000 10770 130,0 3190 Couve-flor Santa Elisa IAC-2524 3600 1040 413 241 6825 3250 2550 1430 3,0 8,0 2850 3380 Ervilha Perfectah Torta de flor roxa 1995 1620 1667 1390 22165 18090 3441 3645 91,4 226,8 7059 5805 Espinafre - 903 585 10664 3655 15 1591 Feijão-va- gem Manteiga 2016 706 6336 3960 48,2 3744 Jiló I-3741 1581 828 6417 3534 5,6 2139 Mandioqui- nha Salsa 2370 1375 30756 6524 2,3 4194 Melancia Yamato Soto 1401 438 2781 1049 7,0 1661 Melão Amarelo Pará 1396 895 8545 1779 11,3 3101 Moranga Exposição Coroa 990 1230 277 642 4158 6600 2310 3960 5,9 7,9 1716 2640 Morango Monte Alegre Campinas 1080 204 151 150 6048 7548 6120 8364 14,4 10,9 1224 1156 Nabo - 1190 280 2240 1120 6,6 1470 Pepino Verde paulistano Aodai Palomar Marketer 576 406 375 364 291 165 320 227 6624 3538 3025 7532 960 1015 850 1680 4,8 4,3 4,2 4,5 1888 1276 1500 1652 Pimentão Ikeda 504 775 3888 2376 2,9 936 Quiabo Campinas 1820 701 6734 6916 23,4 4500 Rabanete - 684 163 4218 380 1,1 1406 Tomate Ângela 384 264 3964 528 1,0 864 Fonte: Adaptado de Furlani et al. (1978); 1Adaptado de Paula et al. (1986). CEAD 16.indd 23 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 24 Tabela 5 – Exportação de macronutrientes por produtos frescos colhidos de algumas hortaliças. Hortaliça Produtividade1 N P K Ca Mg S t ha-1 -------------------------------kg ha-1---------------------------- Abobrinha 15 16,7 4,6 26,4 2,2 2,4 1,0 Alface3 254 41,4 5,6 54,3 12,3 3,0 3,0 Alho 6 44,1 6,5 28,2 7,9 1,3 11,6 Batata2 40 80,0 5,0 100,0 3,0 3,0 3,0 Berinjela3 60 103,8 16,9 121,6 5,4 10,4 10,1 Beterraba 20 40,6 10,6 77,0 3,7 5,7 3,4 Brócolos 204 70,8 14,3 64,6 24,8 5,2 10,0 Cebola3 15 40,1 5,6 39,7 2,5 2,7 9,2 Cenoura 30 54,7 8,7 102,6 12,8 5,7 4,6 Chuchu 50 54,6 13,8 63,2 7,2 4,6 4,0 Couve-flor3 12 35,0 4,0 25,8 3,7 1,7 5,2 Ervilha (vagem)3 10 51,1 6,9 50,7 11,8 3,3 3,5 Feijão-vagem 40 90,7 16,2 82,6 19,0 11,2 6,7 Jiló 20 45,8 8,6 57,1 4,8 4,3 3,8 Mandioquinha 15 31,4 11,6 79,4 3,8 2,8 4,4 Melancia 40 61,0 8,6 44,2 4,0 4,5 4,8 Melão 25 48,6 13,4 58,6 3,4 7,1 5,0 Moranga3 15 22,8 3,8 49,5 1,9 2,1 2,6 Morango3 35 37,1 10,2 49,3 6,9 4,2 2,5 Nabo 50 46,2 13,3 99,2 8,8 5,4 10,8 Pepino3 45 42,8 11,4 57,0 10,4 5,1 4,9 Pimentão 35 55,0 10,4 75 2,8 3,0 6,3 Quiabo 50 108,8 23,0 140,6 16,8 21,8 8,8 Rabanete 25 29,8 7,1 50,6 4,5 3,1 5,6 Tomate 100 142,6 15,5 173,3 6,2 3,8 30,5 1Produtividade média citada por Fahl et al. (1998); 2Malavolta (1976); 3A exportação refere-se ao valor médio entre as cultivares da Tabela 3; 4Raij et al. (1996). CEAD 16.indd 24 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 25 Tabela 6 – Exportação de micronutrientes por produtos frescos colhidos de algumas hortaliças. Hortaliça Produtividade1 B Cu Fe Mn Mo Zn t ha-1 ------------------------------g ha-1------------------------------ Abobrinha 15 13 8 59 26 0,02 34 Alface 254 25 9 657 129 0,06 103 Alho 6 35 5 426 38 0,49 62 Batata3 40 62 46 1210 78 - 93 Berinjela2 60 70 33 447 111 0,06 96 Beterraba 20 44 22 406 24 0,29 62 Brócolos 204 36 22267 106 0,90 84 Cebola 15 17 16 108 117 0,02 80 Cenoura 30 70 14 404 227 0,13 81 Chuchu 50 36 22 233 37 0,70 40 Couve-flor2 12 28 4 61 24 0,07 37 Ervilha (vagem)2 10 10 15 201 35 1,59 64 Feijão-vagem 40 40 14 127 79 0,96 75 Jiló 20 95 17 128 71 0,11 43 Mandioquinha 15 36 21 461 98 0,03 63 Melancia 40 56 18 111 42 0,28 66 Melão 25 35 22 214 44 0,28 78 Moranga2 15 15 7 81 47 0,09 33 Morango2 35 24 6 289 308 0,50 51 Nabo 50 60 14 112 56 0,33 74 Pepino2 45 19 11 233 51 0,20 71 Pimentão 35 18 27 136 83 0,10 33 Quiabo 50 36 14 135 138 0,48 9 Rabanete 25 17 4 105 10 0,03 35 Tomate 100 62 46 1210 78 - 93 1Produtividade média citada por Fahl et al. (1998); 2A exportação refere-se ao valor médio entre as cultivares da Tabela 4; 3Adaptado de Paula et al. (1986); 4Raij et al. (1996). CEAD 16.indd 25 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 26 Figura 5 – Acúmulo de matéria seca pelas partes e total durante o ciclo de plantas de pe- pino, var. Aodai (Adaptado de Solis, 1982). CEAD 16.indd 26 11/09/2015 10:43:53 Funções dos Nutrientes nas Plantas 27 Figura 6 – Acúmulo de macronutrientes pelas partes e total durante o ciclo de plantas de pepino, var. Aodai (Adaptado de Solis, 1982). 3.2. Funções dos nutrientes O C, H e O, que compõem a maior parte da matéria seca vegetal são di- tos “orgânicos” e não são objetos deste estudo. Portanto, serão abordados bem resumidamente: • Carbono (C): componente básico da molécula dos carboidratos (açúcares, celulose), lipídeos (óleos, gorduras), proteínas, hormônios, pigmentos, ácidos CEAD 16.indd 27 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 28 nucleicos (DNA, RNA). O C é obtido pelas plantas da atmosfera como CO2, pelo processo fotossintético; • Oxigênio (O): ocorre nos componentes citados para o C, sendo obtido com CO2 ou O2 da atmosfera, e da água (H2O); • Hidrogênio (H): também presente nos compostos citados, sendo o principal agente redutor metabólico (CO2 na fotossíntese, fixação do N2, redução do NO-3, etc.) e vem da água (H2O). Os macro e micronutrientes, denominados de “nutrientes minerais”, objetos deste estudo, desempenham funções específicas na vida da planta. Essas funções podem ser classificadas em três grandes grupos: a) estrutural: o elemento é componente da molécula de um ou mais compostos orgânicos. Ex.: N - aminoácidos, proteínas, ácidos nucleicos; P - fosfolipídeos, ácidos nucleicos; Mg - clorofila; b) constituinte de enzimas: é, também, função estrutural. São geralmente metais que fazem parte de grupos prostéticos de enzimas e essenciais às suas ativi- dades. Ex.: Fe, Cu, Mn, Mo, Zn e Ni; c) atividades enzimáticas: não faz parte de grupo prostético, é dissociável da fração proteica da enzima, mas essencial à sua atividade. Para entender melhor as funções exercidas pelos nutrientes nos grupos (b) e (c), é importante recordar o significado do termo “cofatores”: são componentes adi- cionais de enzimas e divididos em grupo prostético, coenzima e ativador metálico. O “grupo prostético” é um cofator ligado firmemente à proteína enzimática. Ex.: gru- po heme-porfirina de Fe - é o grupo prostético da catalase, peroxidase, citocromos. A “coenzima” é uma molécula orgânica pequena que facilmente dissocia-se da pro- teína enzimática, como exemplos o NAD e o NADP. Os “ativadores metálicos” são cátions mono e divalentes como o K+, Mn2+, Mg2+, Zn2+, que podem estar frouxos ou firmemente ligados à proteína enzimática. Como exemplos, o Mg2+ para fosfatases, quinases, o Mn2+ para quinases, peptidases. A seguir, serão descritas as formas de absorção, transporte, redistribuição e as principais funções que os macros e micronutrientes desempenham na vida ve- getal, que os tornam elementos essenciais. CEAD 16.indd 28 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 29 3.2.1. Funções dos Macronutrientes 3.2.1.1. Nitrogênio Aspectos gerais De maneira geral, o N é o nutriente mineral mais exigido pelas plantas sendo que, em grande parte das hortaliças e algumas produtoras de carboidratos, é su- perado apenas pelo K. A atmosfera é a fonte natural de N para a biosfera. Mas, na atmosfera, o nitrogênio está na forma gasosa (N2), havendo necessidade de sua transformação para formas combinadas, N-NH+4 (amônio) e N-NO - 3 (nitrato), para ser aproveitado pelas plantas. Os principais processos para essa transformação são a fixação biológica, fixação industrial e fixação atmosférica. Esta última apre- senta menor importância. A fixação industrial trata-se da produção dos fertilizantes nitrogenados industrialmente, a partir da quebra da molécula do dinitrogênio gaso- so (N2) e produção da amônia (NH3), composto-chave para a obtenção de todos os fertilizantes nitrogenados. A fixação biológica do nitrogênio (FBN) consiste na conversão do N2 atmosfé- rico para formas combinadas pela ação de microrganismos. A FBN é um processo mediado por um complexo enzimático denominado de Nitrogenase (Nase) que tem na sua estrutura o Mo, Fe e S. Outros nutrientes envolvidos no processo são o P, Ca, Mg e possivelmente o Cu. O cobalto (Co) é considerado um micronutriente para as leguminosas que dependem da FBN, pois faz parte da cobalamina, precursora da leghemoglobina; essa é carreadora de O2 para a respiração do bacteroide. Três são os grupos fixadores de N2: sistemas livres, associações menos ínti- mas e o simbiótico. O simbiótico de maior interesse agrícola é constituído pela as- sociação entre bactérias do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium e plantas da famí- lia das leguminosas como a soja, feijão, amendoim e muitas outras. A leguminosa fornece carboidratos para a bactéria e esta, fixando o N2 para formas combinadas (NH3), é incorporado em alfa-ceto-ácidos formando aminoácidos e amidas, que são metabolizados pela planta. A Nase, já referida é um complexo enzimático responsável pela fixação do N2 composto de duas Fe – S – proteínas, denominadas de “Fe – proteína” e “Fe-Mo – proteína”. A redução do N2 pela Nase é um processo bastante exigente em ener- gia (ATP) e envolve três diferentes tipos de reações de transferência de elétrons: (i) redução da Fe-proteína por transportadores de elétrons, como flavodoxina ou ferredoxina; (ii) transferência de elétrons da Fe-proteína para a MoFe-proteína, na presença de ATP; (iii) transferência de elétrons para o N2 utilizados para reduzir N2 e H+ a NH3 e H2, conforme a seguinte reação: CEAD 16.indd 29 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 30 A Figura 7 esquematiza as principais reações da FBN. A ligação tripla existen- te entre os átomos de dinitrogênio (N≡ N) é rompida e três átomos de H são ligados a cada N, formando-se 2 NH3 (amônia). Os H (e - + H+) e a energia necessários para o processo são obtidos pela oxidação (respiração) de carboidratos fornecidos pela fotossíntese do hospedeiro (leguminosa), produzindo-se o redutor biológico forne- cedor de H (NADH + H+) e a energia metabólica na forma de ATP. Figura 7 – Reações metabólicas da FBN nos bacteroides (Mengel e Kirkby, 1987). Devido ao caráter anaeróbico da FBN – sensibilidade ao O2 das duas prote- ínas da Nase; auto-oxidação da ferredoxina e flavodoxina que atuam como trans- portadores de elétrons – os nódulos ativos apresentam uma coloração avermelha- da típica, que é devida à leghemoglobina, que tem a função de transportar o O2 para o metabolismo oxidativo (cadeia respiratória) do qual se origina o ATP. Neste caso, o cobalto (Co) torna-se essencial ao processo – e consequentemente às le- guminosas que dependem da FBN – pois se sabe que o Co faz parte da estrutura da cobalamina (vitamina B12), a qual é precursora da leghemoglobina. CEAD 16.indd 30 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas31 A amônia (NH3) produzida no processo é transferida para fora do bacteroide e na célula do hospedeiro é incorporada a alfa-ceto-ácidos formando compostos como a glutamina, ureicos e esparagina, que serão transportados via xilema para a parte aérea da planta, onde entrarão no metabolismo normal do nitrogênio. Nitrogênio na planta Os tecidos vegetais apresentam, de maneira geral, teores de N que variam de 2 a 5 dag/kg (= %) da matéria seca. Também, com poucas exceções às culturas é o mineral mais exigido pelas plantas. Absorção, transporte e redistribuição - a absorção do N pelas plantas se dá em diferentes formas: N2 - leguminosas pela FBN; ureia e na forma mineral - NH + 4 e NO-3 (principalmente). O transporte do N das raízes para a parte aérea é feito pelos vasos do xilema, via corrente transpiratória, como aminoácidos ou NO-3. A forma pela qual o N é transportado depende da forma em que foi absorvido e do metabolismo das raízes. Quase todo N-NH4 + absorvido é assimilado (incorporado a compostos orgânicos) nos tecidos das raízes e transportado como aminoácidos. O N-NO3 - pode ser transportado como tal para a parte aérea, mas isso depende do potencial de redução do nitrato das raízes (ver a frente). Portanto, N-NO3 - e amino- ácidos são as principais formas de transporte de N no xilema de plantas superiores. Nas plantas fixadoras de N2, como já referido, o transporte do N fixado é feito em compostos nitrogenados como a glutamina, ureidos e asparagina. A redistribuição do N é fácil nas plantas via floema, na forma de aminoácidos. Quando o suprimento de N pelo meio é insuficiente, o N das folhas velhas é mobilizado para outros ór- gãos e folhas mais novas. Consequentemente, plantas deficientes em N mostram os sintomas primeiramente nas folhas velhas. A proteólise das proteínas nessas condições e a redistribuição dos aminoácidos resultam no colapso dos cloroplastos e assim ocorre um decréscimo no conteúdo de clorofila. Por essa razão, o amare- lecimento das folhas velhas é o primeiro sintoma de uma inadequada nutrição da planta em nitrogênio. Funções do nitrogênio - Cerca de 90% do N total da planta está na forma or- gânica e é assim que desempenha as suas funções como componente estrutural de macromoléculas e constituintes de enzimas. Os aminoácidos livres dão origem: a outros aminoácidos e às proteínas e às enzimas e coenzimas; são precursores de hormônios vegetais - triptofano do AIA e metionina do etileno. Os núcleos porfirí- nicos formam a clorofila e os citocromos; as “bases nitrogenadas” (púricas e pirimí- dicas), aos nucleosídeos, nucleotídeos e por polimerização desses aos ácidos nu- cleicos – DNA e RNA; ATP; coenzimas como o NAD (dinucleotídeo de nicotinamida e adenina) e o NADP (dinucleotídeo de nicotinamida adenina e fosfato). CEAD 16.indd 31 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 32 Nos compostos orgânicos o N aparece na forma reduzida (-3), o que corres- ponde ao NH+4. Como é absorvido predominantemente como N-NO - 3 (+ 5), oxidado, quer dizer que necessariamente deve haver uma redução do nitrato antes da assi- milação (incorporação a compostos orgânicos). A redução do nitrato ocorre em dois passos: no primeiro há redução do NO-3 para NO-2 (nitrito) e no segundo há redução do NO - 2 para NH + 4. A Figura 8 ilustra a redução do nitrato nos tecidos das plantas. Duas enzimas são envolvidas no pro- cesso, a redutase do nitrato (RNO3 -) e redutase do nitrito (RNO-2). A RNO3 - catalisa a primeira reação (NO3 - → NO2 -), a qual ocorre no citoplasma. A segunda reação (NO-2 → NH3), que ocorre nos cloroplastos ou plastídeos, é catalisada pela RNO2 -. Ambas as enzimas funcionam em série e a despeito da separação espacial não ocorre acúmulos apreciáveis de NO2 -. Com uma menor redução do NO2 - (nitrito), este acumulando, que é tóxico, exerce um “feedback” na atividade da redutase do nitrato. Assim, o NO3 - acumula no tecido. Figura 8 – Esquema da redução do nitrato (1° passo) e do nitrito. (2° passo) com a produ- ção do amônio (Marschner, 2012, p. 143). A RNO3 - apresenta as seguintes características: é uma flavoproteína (FAD = dinu- cleotídeo de flavina e adenina); contém Fe e Mo; é uma enzima adaptativa e a atividade é induzida pelo NO3 - e Mo. A enzima apresenta três grupos prostéticos, FAD, Fe-heme e Complexo Molibdênio (CoMo), os quais funcionam em série como mostra o primeiro CEAD 16.indd 32 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 33 passo da Figura 8. A enzima localiza-se no citoplasma e requer o NADH ou NADPH como doador de elétrons. Admite-se, como demonstra a Figura 8, que os elétrons são transferidos diretamente do CoMo para o NO3 -. Baixos níveis de RNO3 - nas plantas são observados sob condições de baixas concentrações de NO3 - e deficiência de Mo. A Tabela 7 demonstra que em plantas deficientes em Mo, a atividade da RNO3 - é baixa e que a incubação de segmentos de folhas da planta em solução com Mo, aumenta marcantemente a atividade em curto espaço de tempo. Desses resultados dois as- pectos podem ser destacados: o primeiro é que a diferença da atividade da RNO3 - em plantas deficientes e não em Mo pode ser utilizada para avaliação do estado nutricional da planta no micronutriente; o segundo é que em plantas deficientes em Mo há acú- mulo de NO3 -. O acúmulo de nitrato em plantas alimentícias (hortaliças) e forrageiras é indesejável, pois quando ingerido o nitrato pode ser reduzido a nitrito (NO2 -), entrar na corrente sanguínea e causar a metahemoglobinemia (forma estável da hemoglobina que perde sua função carregadora de O2 para a respiração) ou resultar na formação de nitrosaminas, as quais são cancerígenas e mutagênicas (Faquin, 2004). Resumindo, a enzima Redutase do Nitrato catalisa a reação: O local de redução do NO3 - difere entre espécies de plantas. Em tomate, por exemplo, de 80-90% do N na seiva do xilema aparece como N-NO3 -, indicando que a grande parte do nitrato absorvido é reduzida nas partes verdes da planta. Mas, outras espécies são capazes de reduzir o NO3 - tanto nas folhas quanto nas raízes. De acordo com Mengel e Kirkby (2001) a proporção de NO3 - reduzido nas raízes decresce na seguinte sequência: Cebola > Milho > Girassol > Cevada > Rabanete. Em folhas de árvores e arbustos, pouco ou nenhum NO3 - é encontrado, indicando que a redução ocorre nas raízes. Tabela 7 – Efeito do pré-tratamento com molibdênio sobre a atividade da Redutase do Nitrato em segmentos de folha de trigo. Solução de crescimento Pré-tratamento segmento folhas Atividade RNO -3 (m mol NO -2 /g mat. fresca) (mg Mo / planta) (mg Mo/L) 24 h 70 h 0,005 0 0,2 0,3 0,005 100 2,8 4,2 5,0 0 - 8,0 5,0 100 - 8,2 Fonte: Randall (1969), em Marschner (1986), p. 233. CEAD 16.indd 33 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 34 A redução do NO2 - para NH+4 é catalisada pela Redutase do Nitrito, um único polipeptídeo com dois grupos prostéticos: um grupo ferro-enxofre, Fe4S4, e um gru- po Fe-heme, associada aos cloroplastos nas folhas e aos plastídeos nas raízes. O doador de elétrons para a ferredoxina nas folhas iluminadas é o Fotossistema I e, no escuro, a respiração. Nas raízes, o doador de elétrons é o NADPH reduzido nos plastídeos pela via oxidativa das pentoses-fosfato (Marschner, 2012). O segundo passo da Figura 8 ilustra bem essa redução. A equação geral da redução do nitrito é a seguinte: Uma vez reduzido, o nitrogênio, agora sob a forma de NH+4, vai entrar no me- tabolismo gerando principalmente aminoácidos. Consideram-se duas vias metabó- licas através das quais o NH+4 é assimilado (Figura 9): A) Via sintetase de glutamina/sintase de glutamato (via GS/GOGAT); B) Via desidrogenase glutânica(via GDH). A) Via GS / GOGAT [Glutamina sintetase (GS) / Glutamato sintase (GOGAT)]. a) GS A glutamina sintetase (GS) combina o amônio com o glutamato para formar a glutamina: glutamato + NH4 + + ATP è (GS) è glutamina + ADP + Pi Essa reação pode ocorrer tanto nos plastídeos radiculares quanto nos cloro- plastos e necessita de uma molécula de ATP e um cátion bivalente, o Mg2+ ou Mn+2 como cofator. b) GOGAT A síntese de níveis elevados de glutamina estimula a atividade da glutamato sintase (GOGAT), que transfere o grupo amida da glutamina para o ácido α-ceto- glutarato formando duas moléculas de glutamato: glutamina + α-cetoglutarato + NADH è (GOGAT ) è 2 glutamatos + NAD+ A GOGAT pode ocorrer tanto nos plastídeos das raízes e nesse caso usa o NADH como redutor, quanto nos cloroplastos, que usa a ferredoxina como dadora de elétrons. B) Via desidrogenase glutânica (via GDH). CEAD 16.indd 34 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 35 O amônio pode também ser assimilado através de uma rota alternativa pela glutamato desidrogenase (GDH) que catalisa uma reação reversível que sintetiza ou desamina o glutamato: a-cetoglutarato + NH+4 + NAD(P)H →← GDH glutamato + NAD(P)+ + H2O Figura 9 – Vias de assimilação do amônio: (A) Via GS/GOGAT e (B) Via GDH (Taiz e Zei- ger, 2004, p. 291). Uma vez formado, o glutamato sofre a ação de enzimas chamadas aminotrans- ferase ou transaminase, que transferem o grupo amino (-NH2) de um aminoácido para o grupo cetônico de α-cetoácidos, formando outros aminoácidos. Exemplos: Da mesma forma: CEAD 16.indd 35 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 36 oxaloacetato + glutamato aspartato + a-ceto glutarato glioxilato + glutamato glicina + a-ceto glutarato hidroxi-piruvato + glutamato serina + a-ceto glutarato Uma vez formados os 20 ou 21 aminoácidos proteicos pode ocorrer a síntese de proteínas que se dá, resumidamente, em 3 passos a saber (Malavolta, 1980): 1) ativação de aminoácido (a.a): em que t RNA = ácido ribonucleico transferidor; 2) união do a.a. - t RNA com mRNA ( mensageiro) = ligação peptídica (-NHCO-): 3) descolamento da cadeia peptídica: O processo ocorre nos ribossomas e exige: t RNA – transferidor, mRNA – mensageiro, ATP, GTP, Mg2+, Mn2+, K+ e os 20-21 aminoácidos para a formação dos polipeptídeos (proteínas). De acordo com o código do DNA, diferentes proteínas são sintetizadas. As proteínas e aminoácidos não são os únicos compostos nitrogenados da planta; como já citado, outros mais existem como as bases nitrogenadas, coenzi- mas, pigmentos, vitaminas. CEAD 16.indd 36 11/09/2015 10:43:54 Funções dos Nutrientes nas Plantas 37 A Figura 10 resume os passos que levam o nitrato absorvido pelas plantas, a ser reduzido a amônio e daí ser assimilado e formar uma série de compostos orgâ- nicos da maior importância aos vegetais. Figura 10 – Resumo dos processos envolvidos na assimilação do nitrogênio mineral e pro- dução de compostos nitrogenados nas folhas, ilustrando o alto gasto de energia (ATP) (Taiz e Zeiger, 2004, p. 305). Os sintomas de deficiência de N nas plantas se manifestam como uma cloro- se (= amarelecimento) que começa nas folhas velhas, permanecendo, inicialmente, as novas verdes em consequência da fácil redistribuição. 3.2.1.2. Fósforo Aspectos gerais O fósforo (P) é dos macronutrientes, um dos menos exigidos pelas plantas, mas, trata-se do nutriente mais usado em adubação no Brasil. Análises de solo no Brasil mostram teores de P disponível menores que 10 mg/dm3 (=ppm) (baixo); em solos de cerrado os teores são de 1 mg/dm3 ou menores. Além da carência generalizada de P nos solos brasileiros, o elemento apresenta forte interação com o solo (fixação), o que reduz a eficiência da adubação fosfatada. Certamente, é o nutriente que mais limita o crescimento das plantas nos solos das regiões tropicais. Fósforo na planta O P requerido para o ótimo crescimento das plantas varia, dependendo da espécie e do órgão analisado, de 0,1 a 0,5 dag/kg (= %) na matéria seca. De CEAD 16.indd 37 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 38 maneira geral, sua exigência pelas plantas é menor que do N, K, Ca e Mg, igualan- do-se à do S. Absorção, transporte e redistribuição: a absorção do P pelas plantas se dá na forma de H2PO - 4, predominante na faixa de pH do solo de 4 a 7. Como no solo o P se movimenta por difusão, a curtas distâncias, as micorrizas apresentam um papel relevante na sua absorção, aumentando a superfície absorvente e o volume de solo explorado pelo sistema radicular das plantas. O fosfato absorvido pelas células é rapidamente envolvido em processos metabólicos; 10 minutos após a absorção do fosfato pela cevada, 80% do total absorvido foi incorporado a compostos orgânicos, basicamente formando hexose-fosfato e uridina difosfato (Mengel e Kirkby, 2001). O transporte para a parte aérea se dá via xilema na forma de fosfato (H2PO - 4), como fosforil-colina ou ésteres de carboidrato. A redistribuição do P na planta é bastante fácil via floema, como P-inorgânico (Pi) ou fosforil-colina. Dada a essa fácil redis- tribuição, os sintomas de deficiência manifestam-se inicialmente nas folhas mais velhas. Formas e funções do fósforo na planta: boa parte do P total da planta aparece na forma inorgânica (Pi = H2PO - 4) e em menor quantidade como pirofosfato (P-P). Uma menor proporção aparece como P orgânico. O Pi no citoplasma tem uma função regulatória da atividade de várias enzimas; o mesmo ocorre em algumas organelas celulares como nos cloroplastos e mitocôndrias. As formas orgânicas de P na planta são compostos nos quais o ortofosfato é esterificado a hidroxilas de açúcares e álcoois, como exemplos, a frutose-6-fosfato, glicose-6-fosfato e fosfogli- ceraldeído. Nos fosfolipídeos, componentes importantes da estrutura das membra- nas celulares, o fosfato encontra-se ligado aos compostos orgânicos por ligações diéster. O mais importante composto no qual o grupo fosfato serve para armazenar energia e depois transferi-la para a promoção de processos endergônicos é o trifos- fato de adenosina - o ATP (Figura 11). CEAD 16.indd 38 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 39 Figura 11 – Estrutura do ATP (trifosfato de adenosina) (~, ligação de alta energia). A energia armazenada nas ligações entre os grupos fosfato do ATP(~), se tor- na disponível quando ocorre a hidrólise de um ou dois radicais fosfatos terminais, que libera 7.600 kcal/mol. Essa energia é utilizada em muitos processos endergô- nicos do metabolismo, como exemplo a absorção iônica ativa, síntese de amido, gorduras e proteínas, trabalho mecânico, entre muitos outros. Nesses processos, normalmente ocorre uma reação inicial de fosforilação, que envolve a transferência do grupo fosforil do ATP para outro composto: Assim, o composto fosforilado é ativado e capaz de participar dos processos metabólicos. Em algumas reações de fosforilação o substrato liga-se com o ADP ou AMP, como no caso do ADP-glicose na síntese do amido e AMP-aminoácido, na ativação de aminoácidos na síntese de proteínas. Embora o ATP seja o principal composto fosforilado rico em energia, a sua energia pode ser transferida para outras coenzimas, as quais diferem do ATP so- CEAD 16.indd 39 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 40 mente na base nitrogenada como, por exemplo, uridina trifosfato (UTP), guanosina trifosfato (GTP), citidina trifosfato (CTP), as quais são requeridas para a síntese de sacarose, celulose e fosfolipídeos, respectivamente. Todos estes nucleotídeos trifosfatos (ATP, UTP, GTP, CTP e TTP-tiamina trifosfato) também são envolvidos na síntese dos ácidos nucleicos, oácido ribonucleico (RNA) e o desoxiribonucleico (DNA). Os compostos que formam o fosfato orgânico indicam o universal e essen- cial papel do P não somente em plantas, mas também em todos os outros organis- mos vivos. A reserva de fósforo em sementes e frutos são os fitatos (sais de Ca, Mg e K do ácido fítico = éster hexafosfórico ou inositol) e representam cerca de 50% do P total em sementes de leguminosas e de 60 a 70% em grãos de cereais; em tubér- culos de batata, representam de 15 – 30%. A função do fitato na germinação de se- mentes é óbvia. Nos estágios iniciais de crescimento das plântulas, o embrião tem um alto requerimento de nutrientes minerais, incluindo o Mg (necessário para as reações de fosforilação e síntese proteica), o K (requerido para a expansão celular) e o P (para formação dos fosfolipídeos das membranas celulares e ácidos nuclei- cos). A Tabela 8 ilustra bem a rápida degradação dos fitatos e, consequentemente, síntese de outros compostos fosforilados, durante a germinação de sementes de arroz. Nas primeiras 24 horas, a maior quantidade de P-fitatos foi incorporada nos fosfolipídeos, indicando a síntese de membranas, essenciais para a compartimen- talização e regulação dos processos metabólicos. O aumento dos níveis de Pi e éster de fosfato refletem uma intensiva respiração, fosforilação e processos rela- cionados. A degradação de fitatos continua com o tempo e, finalmente, os níveis de fósforo incorporados no DNA e RNA aumentam, indicando um aumento na síntese de proteínas e divisão celular. Tabela 8 – Alterações nas frações de fósforo durante a germinação de sementes de arroz. Germinação (horas) Frações de fósforo (mg P / g mat.seca) Fitatos Lipídeos Pi Ester RNA + DNA 0 2,67 0,43 0,24 0,078 0,058 24 1,48 1,19 0,64 0,102 0,048 48 1,06 1,54 0,89 0,110 0,077 72 0,80 1,71 0,86 0,124 0,116 Fonte: Mukherjl et al. (1971), em Marschner (2012) p. 163. Sintomas de deficiência – devido às inúmeras funções do P na vida da plan- ta, participando da síntese e degradação de macromoléculas – amido, gorduras, proteínas e de outros inúmeros processos metabólicos, como já descritos, a sua CEAD 16.indd 40 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 41 carência se reflete inevitavelmente no menor crescimento das plantas. Como o P se redistribui facilmente na planta, os sintomas de deficiência, inicialmente, ocorrem nas folhas mais velhas. Estas podem mostrar uma cor amarelada, pouco brilho, cor verde-azulado; em algumas espécies pode ocorrer uma tonalidade arroxeada como, por exemplo, no milho, eucalipto e café. 3.2.1.3. Potássio Nos solos, o K não se encontra em teores tão limitantes quanto o fósforo. O potássio na planta O requerimento de K para o ótimo crescimento das plantas está aproximada- mente entre 2 a 5 dag/kg (= %) na matéria seca, variando em função da espécie e do órgão analisado. O potássio é o segundo nutriente mais exigido pelas plantas, perdendo apenas para o N. As plantas produtoras de amido, açúcar, fibras e horta- liças parecem ser particularmente exigentes em potássio (Tabelas 3 e 4). Absorção, transporte e redistribuição – O potássio na solução do solo aparece na forma iônica, K+, forma esta absorvida pelas raízes das plantas. Concentrações elevadas de Ca2+ e Mg2+ reduzem a absorção do potássio por inibição competitiva. O K é bastante permeável nas membranas plasmáticas e isso o torna facil- mente absorvido e transportado a longa distância pelo xilema e pelo floema. Gran- de parte do K total da planta está na forma solúvel (mais de 75%), portanto, a sua redistribuição é bastante fácil no floema. Dessa maneira, sob condições de baixo suprimento de K pelo meio, o elemento é redistribuído das folhas mais velhas para as mais novas e para as regiões em crescimento. Assim, os sintomas de deficiência aparecem primeiro nas folhas velhas. Funções do potássio – O K não faz parte de nenhum composto orgânico, portanto, não desempenha função estrutural na planta. No floema, o K é o cátion mais abundante, em concentrações aproximadamente iguais a do citoplasma e cloroplastos; nesses, a concentração mantém-se em uma relação relativamente estreita, de 100 a 120 mM, enquanto nos vacúolos é mais variável, de 20 a 200 mM e nas células-guardas dos estômatos pode alcançar até 500 mM (Marschner, 2012). Essas altas concentrações são requeridas para a neutralização de ânions insolúveis e solúveis (exemplo: ânions de ácidos orgânicos e ânions inorgânicos) e para estabilizar o pH nestes compartimentos entre 7 e 8, pH este ótimo para as reações enzimáticas. O K contribui também para a regulação osmótica da planta. Além dessas funções, o K+ atua na ativação enzimática e no processo de absorção iônica. CEAD 16.indd 41 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 42 Ativação enzimática - a principal função bioquímica do K é ativação enzimá- tica. Mais de 50 enzimas são dependentes do K para sua atividade normal, citan- do-se as sintetases, oxirredutases, desidrogenases, transferases e quinases. Altas concentrações de K são necessárias para induzir as variações conformacionais e otimização do grau de hidratação da proteína enzimática e, portanto, máxima ativa- ção enzimática. Como citado, altas concentrações de potássio são encontradas no citoplasma e nos cloroplastos de plantas bem nutridas em K. Em geral, a mudança conformacional das enzimas induzidas pelo K+, aumenta a taxa de atividade, Vmax, e em alguns casos também a afinidade para com o substrato, Km. Em plantas deficientes em K, algumas mudanças químicas são observadas, incluindo a acumulação de carboidratos solúveis, decréscimo no nível de amido e acúmulo de compostos nitrogenados solúveis. No metabolismo de carboidratos, enzimas como a 6-fosfofrutoquinase e a piruvato quinase, que atuam na via glico- lítica, apresentam um alto requerimento de K; a sintetase do amido é também alta- mente dependente de cátions monovalentes, entre os quais o K é o mais eficiente. As ATPases ligadas às membranas celulares, que atuam no processo de ab- sorção iônica ativa (ver item 2.1.2), requerem para sua máxima atividade o Mg2+ e o K+, como ilustra a Figura 12. Figura 12 – Atividade de ATPase de fração de membrana de raízes de milho, influenciada pelo pH, Mg e K (Leonard & Hotchriss, 1976, em Marschner, 2012, p. 168). Tem sido atribuído ao potássio um efeito indireto no acúmulo de putrescina em tecidos de plantas deficientes em K. A putrescina, composto fitotóxico na planta, CEAD 16.indd 42 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 43 tem origem em aminoácidos básicos (ornitina, citrulina e arginina). Em plantas de- ficientes em K, ocorre redução na síntese proteica e acúmulo dos aminoácidos bá- sicos, levando a um grande aumento no teor de putrescina (Tabela 9). Nas regiões lesadas (clorose e necrose), nas bordas e pontas das folhas mais velhas, sintoma típico de deficiência de K em plantas, ocorre um acúmulo de putrescina. Tabela 9 – Aminoácidos, aminas, N total, proteínas e potássio em folhas de gergelim (38 dias de idade) influenciadas pelo teor de K na matéria seca. Componente mmol/g m.s. Componente % relação m.s. + K -K +K -K Arginina 72 115 N Total 1.6 2.8 Citrulina 118 377 Potássio 3.0 0.5 Agmatina 45 117 Proteína * 572.0 235.0 N-carbamilputrescina 26 92 * mg proteína/100 mg N total Putrescina 114 1000 Fonte: Crocomo e Basso (1974), em Malavolta & Crocomo (1982). As enzimas que catalisam a síntese das aminas são estimuladas por um pH baixo no suco celular. Considerando, como visto, que o K+ tem um papel importante na manutenção do pH elevado no citoplasma, parece que o aumento na síntese de putrescina é um reflexo de um mecanismo homeostático, o qual é controlado pelo pH. Também, enzimas que levam a síntese de putrescina daarginina via agmatina são inibidas pela alta concentração de K (Marschner, 2012). Em condições drás- ticas de deficiência de K, o teor de putrescina chega a superar 1% (com base na matéria-seca), representando 10% do N total. Osmorregulação – a nutrição potássica também está ligada à regulação do potencial osmótico das células das plantas. A expansão celular e a abertura e fe- chamento dos estômatos dependem de um ótimo turgor celular e, para tal, o K é indispensável. Para que haja a alongação normal das células meristemáticas das plantas é necessário o afrouxamento da parede celular, provavelmente induzido pelo AIA (Ácido Indol Acético) e um acúmulo de soluto (K e açúcares redutores) no vacúolo para criar um potencial osmótico interno. O processo é iniciado pela ATPase lo- calizada na plasmalema (ativada pelo K+) que bombeia o H+ do citoplasma para o apoplasto e resulta na ativação de enzimas hidrolisantes e, consequentemente, afrouxamento da parede celular. Esse afrouxamento e o aumento da pressão de CEAD 16.indd 43 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 44 turgor, promovido pela absorção de água em resposta à diminuição do potencial osmótico pela absorção do K, são pré-requisitos para o crescimento celular. Os fitohormônios envolvidos com o crescimento dos tecidos meristemáticos apresentam um efeito sinergético com o K, como mostrado para o AIA no cresci- mento de coleóptilos de milho, para o ácido giberélico no crescimento de plântulas de girassol e para as citocininas no crescimento de curcubitáceas. Esses exem- plos mostram que o K tem um papel fundamental no crescimento meristemático. O pequeno crescimento de plantas deficientes em K está, obviamente, diretamente relacionado com o efeito do K sobre a ATPase da plasmalema dos tecidos meriste- máticos (MENGEL; KIRKBY, 2001). A baixa perda de água pelas plantas bem supridas em K é devido à redução na taxa de transpiração, a qual não depende somente do potencial osmótico das células do mesófilo, mas também é controlada pela abertura e fechamento dos estômatos. O acúmulo de K nas células-guardas induzido pela luz, é mediado por uma bomba de H+ (ATPase), tal como ocorre em outras membranas celulares. A energia requerida para o processo é suprida pela fotofosforilação nos cloroplastos das células-guardas. Um aumento na concentração de K nas células-guardas re- sulta na absorção de água das células adjacentes e um consequente aumento na pressão de turgor, promovendo assim, a abertura dos estômatos. A fotossíntese também é afetada pela abertura e fechamento dos estômatos; faltando K+ os estômatos não se abrem regularmente, há menor entrada de CO2 e, portanto, menor intensidade fotossintética. Também tem sido atribuída à nutrição potássica a tolerância das plantas à seca e à geada, pelos mesmos motivos acima discutidos: no primeiro caso – di- minuição no potencial osmótico do suco celular e maior absorção de água e, no segundo - redução do ponto de congelamento do suco celular. Fotossíntese e transporte de carboidratos – tem sido reportado um efeito direto do K sobre a taxa de assimilação do CO2. Além da regulação da abertura e fechamento dos estômatos, o K+ estaria também envolvido em uma melhor difusi- vidade do CO2 no mesófilo; estímulo na atividade da ribulose bifosfato carboxilase (RuBP), possivelmente, devido à manutenção de um pH ótimo para a atividade da enzima. Um efeito benéfico do K+ na fotofosforilação também tem sido citado: o K+ promoveria, possivelmente, uma desporalização das membranas dos tilacoides dos cloroplastos, favorecendo assim o fluxo de elétrons nos fotossistemas I e II. O carregamento e descarregamento do floema em fotoassimilados é um pro- cesso ativo, requer energia do ATP e envolve ATPases associadas às membranas. CEAD 16.indd 44 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 45 Admite-se que o K+ esteja diretamente envolvido nesse processo, possivelmente pela desporalização da membrana plasmalema e ativação das ATPases. Muitos trabalhos têm mostrado que o K+ aumenta o transporte de fotoassimila- dos pelo floema, como demonstra a Tabela 10. Em plantas de cana-de-açúcar bem nutridas em K, o transporte de compostos – 14C das folhas (fonte) para os colmos (órgão armazenador) é mais rápido e em maior quantidade. O transporte de outros compostos, além dos fotossintatos, também é favorecido pelo K, assim como o de proteínas e outros compostos nitrogenados. Portanto, o K favorece o carregamento e descarregamento e o transporte dos compostos no floema. Tabela 10 – Migração de fotoassimilados – 14C em cana-de-açúcar bem (+K) e mal (-K) nutrida em potássio, após 90 minutos do tratamento. Parte da Planta % da marcação total + K - K Limbo da folha alimentada com 14CO2 54,3 95,4 Bainha da folha alimentada com 14CO2 14,2 3,9 Ponto de inserção da folha alimentada 9,7 0,6 Folhas e pontos de inserção acima desta folha 1,9 0,1 Porção do colmo abaixo do ponto de inserção 20,1 0,04 Fonte: Hartt (1969), em Marschner (1986), p. 310. Sintomas de deficiência – devido à mobilidade do K nos tecidos, os sintomas de deficiência ocorrem em primeiro lugar nas folhas mais velhas, como uma cloro- se seguida de necrose nas pontas e margens das folhas; nas regiões lesadas há acúmulo de putrescina. 3.2.1.4. Cálcio O cálcio, o magnésio e o enxofre são conhecidos como macronutrientes se- cundários. Do ponto de vista da nutrição mineral das plantas, nenhum nutriente pode ser considerado secundário. Na adubação, os três são realmente secundá- rios, por se constituírem componentes de fertilizantes e corretivos, que são comer- cializados por seu conteúdo em NPK ou por sua capacidade corretiva. Por isso, não são valorizados diretamente. Cálcio na Planta O Ca é um nutriente exigido em quantidades muito variadas em diferentes culturas, variando, dentro de limites, de cerca de 10 até 200 kg ha-1 de Ca, sendo CEAD 16.indd 45 11/09/2015 10:43:55 Funções dos Nutrientes nas Plantas 46 mais exigido pelas dicotiledôneas do que pelas monocotiledôneas. Os teores de Ca nos tecidos foliares também variam amplamente entre diferentes espécies, desde menos de 0,4 até cerca de 4%, para culturas normais. A deficiência de Ca é rara sob condições de campo, exceto no caso de cul- turas com exigências especiais, como exemplo o tomate, maçã, melão, melancia, pimentão, amendoim, entre outras. Absorção, transporte e redistribuição – o cálcio é absorvido pelas raízes como Ca2+ da solução do solo. Geralmente, a concentração de Ca2+ na solução do solo é bem maior que a de K+; entretanto, a taxa de absorção de Ca2+ é normalmente menor do que aquela observada para o K+. Isso é devido ser o Ca2+ absorvido ape- nas pelas extremidades das radicelas radiculares, onde as paredes celulares da endoderme não foram ainda suberizadas (estrias ou banda de Caspari, Figura 2). A presença de outros cátions em altas concentrações, tal como o K+, Mg2+ e NH4 +, diminuem competitivamente a absorção do Ca2+. O Ca é transportado unidirecionalmente pelo xilema, via corrente transpirató- ria, das raízes para a parte aérea. A taxa de redistribuição do Ca é muito pequena devido à baixa solubilidade dos compostos de Ca na planta (pectatos de cálcio, sais de Ca, tais como sulfato, fosfato, silicato, citrato, malato e oxalato) e a sua concentração no floema ser muito baixa. Dessa forma, em condições de carência, os sintomas de deficiência aparecem em órgãos e partes mais novas: folhas novas, gemas e extremidade das raízes. Os sintomas que aparecem em frutos de toma- te, maçã (bitter pit), pimentão, melancia, etc., são devidos a esses tecidos serem supridos por Ca pelo xilema, via corrente transpiratória, que transporta o nutriente diretamente da solução do solo. Se a concentração de Ca na seiva do xilema for