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Ordem do Progresso Resumo

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Marcelo de Paiva Abreu Dionísio Dias Carneiro Gustavo H. B. Franco Winston Fristch Luiz Aranha Corrêa do Lago Eduardo Marco Modiano Luiz Orenstein Demósthenes Madureira de Pinho Neto André Lara Resende Antônio Cláudio Sochaczewski Sérgio Besserman Vianna
Marcelo de Paiva Abreu (ORGANIZADOR)
A ORDEM DO PROGRESSO
CEM ANOS DE POLÍTICA ECONÔMICA REPUBLICANA
1889-1989
Resumo
Bernardo Lanza Queiróz Bruno Carazza dos Santos Carla Aguiar Gustavo de Britto Rocha Gustavo C. Patrício Humberto Carlos Faria Teixeira Janete Duarte Maria Fernanda Diamante Basques Matheus Albergaria de Magalhães Patrícia Alvarenga
Bruno Carazza Gustavo Britto Matheus Albergaria (ORGANIZADORES)
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SUMÁRIO
3Capítulo 1- A Primeira Década Republicana	
Capítulo 2 - Apogeu e Crise na Primeira República: 1900-1930	7
Capítulo 3 - Crise, Crescimento e Modernização Autoritária, 1930-45	10
Capitulo 4 - Política Econômica Externa e Industrialização: 1946-1951	12
Capítulo 5 – Duas Tentativas de Estabilização: 1951-1954	15
Capítulo 6 - O Interregno Café Filho: 1954-55	20
Capítulo 7– Democracia com Desenvolvimento – 1956-61	23
Capítulo 8 - Inflação, Estagnação e Ruptura: 1961-1964	27
Capítulo 9 - Estabilização e Reforma: 1964 / 1967	33
Capítulo 10 - A Retomada do Crescimento e as Distorções do “Milagre”: 1967-1973	38
Capítulo 11 - Crise e Esperança: 1974-1980	45
Capítulo 12 – Ajuste Externo e Desequilíbrio Interno: 1980-1984	51
Capítulo 13 - “A ópera dos três cruzados : 1985-1989”	57
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Capítulo 1- A Primeira Década Republicana
Gustavo H. B. Franco
(Gustavo C. Patrício)
1. Introdução
A primeira década do regime republicano foi das mais difíceis para a política econômica. Tais dificuldades devem-se ao fato de que ai observam-se os momentos cruciais de importantes transformações "estruturais" na economia do país, destacadamente a súbita disseminação do trabalho assalariado no campo e o reordenamento da inserção do país na economia internacional.
A década de 90 seria memorável em seus debates em torno da orientação a ser dada a política macroeconômica. A República teria como seu primeiro ministro da Fazenda um campeão papelista de indiscutível talento, Rui Barbosa. Uma depreciação cambial em 1891 inauguraria um período de hesitações e de progressiva deterioração das contas externas, recebendo em contra partida, uma reação conservador avassaladora, a partir de meados da década, e em 1898, o país lavaria um plano conservador de saneamento monetário e fiscal as suas últimas conseqüências. Os anos 90 conhecem, portanto, ambos os extremos do espectro doutrinário.
2. O Brasil e a Economia Internacional
O crescente envolvimento do Brasil com a economia internacional constitui um traço fundamental, da história econômica do país nos últimos anos do século XIX. O valor das exportações per capita, contudo, não chega a definir o Brasil como uma economia especialmente "aberta". Além disso, a participação brasileira sobre o comércio mundial é ainda, muito pequena, inferior a 1% em 1913.
A participação brasileira no tocante ao investimento internacional é bem mais substancial. O montante do estoque de capital estrangeiro no Brasil em 1913, incluindo-se ai investimentos inglese, franceses, alemães e norte-americanos, diretos e de carteira representa cerca de 30% do total para a América Latina e 5,4% do total mundial.
Ao longo dos anos 90 a convivência do país com os mercados financeiros internacionais se enriquece sobremaneira. A conta capital passa a ter importância crescente no contexto das contas externas do país, tornando-se um mecanismo através do qual a instabilidade da receita comercial poderia ser compensada, e que também permitia a manutenção de níveis de absorção maiores do que seria possível na ausência de capitais externos, em contra partida, argumenta-se comumente que é exatamente, na articulação perversa entre movimentos de capital e as contas comerciais que se devem procurar as raízes da instabilidade macroeconômica a que esteve sujeita a economia brasileira em sua fase caracteristicamente, primário-exportadora.
Este é, na verdade, um debate que extravasa a historiografia brasileira. Os mesmos mecanismos que asseguram estabilidade macroeconômica nos países centrais, implicam instabilidade nos países da chamada periferia. A evidência disponível no que tange aos países centrais não é definitiva, mas parece apontar na direção de um comportamento contracíclico em se tratando de saídas de capital, e pró-cíclico no que respeita aos termos de troca. Para o Brasil em particular, convém observar que, tomemos o período 1870-1900 como um todo, a correlação entre movimentos de capital e termos de troca não revela nenhum padrão dominante. 
A relação entre movimentos de capital e a evolução da capacidade para importar melhor informa sobre a influência daquele sobre o estado das contas externas do país e consequentemente, sobre as flutuações da taxa de câmbio. Em dois períodos onde as entradas de capital são reduzidas, 1876-1883 e ao longo dos anos 90, de fato se observaram dificuldades cambiais. A depreciação cambial assume dimensões de crise em 1891, em função disso, observa-se uma significativa desvalorização real da taxa de câmbio, o que certamente teve papel importante em reduzir o déficit em conta corrente. Esta forma de ajustamento fornece talvez um dos melhores exemplos disponíveis do que se convencionou chamar, segundo análise pioneira de Furtado, de "socialização das perdas".
No tocante à crise de 1891 a interpretação tradicional atribui o colapso cambial a expansão monetária provocada em última instância, pelas reformas no sistema monetário introduzidas por Rui Barbosa em 1890, o que também se aplica a crise que nos levou a moratória de 1898. É comum o viés no sentido de se explicar as flutuações cambiais nos anos 90 através das variações no preço do café. Vários estudos não são conclusivos, gerando dúvidas sobre interpretações simplistas da relação entre taxa de câmbio, a moeda e aos termos de troca.
3. Trabalho Assalariado e a Política Monetária
O aumento da importância relativa do setor assalariado representou uma mudança qualitativa na organização econômica do país. Esta transição teve grande impacto monetário, com elevado grau de monetização e demanda por moeda na economia pela atividade agrícola, por exemplo.
O sistema bancário àquela época, era bastante concentrado na capital e seu incipiente desenvolvimento o tornava vulnerável às variações sazonais na procura por crédito e nos seus depósitos. Uma baixa propensão do público para reter moeda sob forma de depósitos bancários impunha uma limitação estrutural à capacidade dos bancos de expandir seus empréstimos, ou créditos.
Uma preocupante sucessão de crises na década de 1880, com crescente gravidade à medida que se aproximava o ano da Abolição, resultou em tornar inoportuna a política monetária deflacionista.
Neste contexto, surgiu o primeiro grande projeto de reforma monetária, apresentado ao Senado em 1887.
Contrapunham-se idéias sobre expandir e contrair a moeda. Em 1889, só o que a reforma de 87 tinha alcançado fora restabelecer a adesão ao padrão ouro à paridade de 1846, o que tornou possível ao Império propor a "emissão conversível".
4. Política Econômica nos anos 1890
O retorno do país ao padrão ouro far-se-ia em função de uma situação cambial extremamente favorável: a taxa de cambio atingiria a paridade de 1846 em outubro de 1888, sem que isto estivesse associado a nenhum esforço deflacionista.
Neste mesmo ano é incorporado o Banco Nacional do Brasil (BNB) com faculdade emissora e responsável pela "emissão conversível". Sem sucesso, em fins de 1889 a necessidade de novas emissões já era exaltada em tons dramáticos.
Rui Barbosa, o primeiro ministro da Fazenda de República foi por certo, um dos mais controvertidos. É objeto de irrestrita admiração mas, atribuem-lhe a responsabilidade suprema da inundação de papel-moeda,que quase fez naufragar o país com os desastres que nos levaram à moratória de 1898.
Sua principal medida de política econômica foi a lei bancária de 17 de janeiro de 1890, que estabelecia emissão bancárias a serem feitas sobre um lastro constituído por títulos da dívida pública. Três regiões bancárias seriam formadas, a central pelo BEUB, Banco dos Estados Unidos do Brasil.
Tal tentativa de se regionalizar a emissão bancária não seria bem sucedida. Algumas alterações, que descaracterizaram o decreto de 17 de janeiro foram feitas para atender a demanda "reprimida" de numerário. Dados pela Abolição, a entrada no país de mais de 200 mil imigrantes, o grande impulso no nível de atividade e o estado favorável das contas externas, o papel-moeda emitido em setembro de 1890 já havia crescido 40% em relação a 17 de janeiro.
A especulação bursátil preocupa o governo que promove a fusão do BNB e do BB no Banco da República dos Estados Unidos do Brasil (BREUB), com o propósito de constituir uma espécie de banco central; um grande banco de depósitos e descontos com poderes para regular o volume de crédito, através de emissão e mercado de câmbio.
No início de 1891, Rui Barbosa é sucedido pelo conselheiro Alencar Araripe e em seguida pelo barão de Lucena. Uma queda inusitada da taxa de câmbio neste ano é atribuída as omissões e hesitações destes dois, aliadas a influências "exógenas" tais como: o colapso da casa Baring Brothers em Londres e a moratória da Argentina. Empréstimos junto aos Rothschild tornam-se inviáveis e pouco pôde ser tentado a título de política cambial em 1891.
Acarretou-se a isto, a dissolução do Congresso e a ascensão de Floriano Peixoto em novembro. Seu ministro da Fazenda, Rodrigues Alves, proporia um plano deflacionista em 1892, sem sucesso no Congresso. Serzedelo Correia - um industrialista de certa projeção - o substitui, então.
Pouco ou nada resultaria da tentativa de Serzedelo - através do BRB, Banco da República do Brasil, fusão do BREUB com o BB - de "sanear a praça". A especulação na bolsa contaminara muito profundamente a carteira o próprio BRB. Ao mesmo tempo, a crise cambial aprofundava-se alimentada pela deterioração da situação política que tornava claro o estado de paralisia decisória em que se debatia o governo.
O déficit orçamentário cresceria de forma significativa após a crise de 18891. Diante deste quadro a reação do novo governo que se instalou em fins de 1894 - tendo Prudente de Morais na Presidência da República e Rodrigues Alves , mais uma vez, na Fazenda - foi a de procurar insistentemente junto aos Rothschild prover-se de recursos para financiar suas despesas no exterior.
Durante 1895 negociou-se um grande empréstimo em bases traduzidas nestas palavras dos próprios banqueiros: "acreditamos que o que o Brasil quer é um ou dois anos de tempo para respirar a fim de permitir a um governo sábio e conservador colocar as finanças do país em ordem, em caráter permanente."
Nenhuma melhora na situação cambial se observaria ao longo de 1896 e 1897, sendo o empréstimo de 1895 - não tão grande assim - rapidamente consumido. O enfraquecimento dos preços de café, reflexo dos plantios do começo da década, debilitaram ainda mais as contas externas do país.
As negociações continuaram e por fim, um plano de refinanciamento de pagamentos é finalmente acordado entre o governo brasileiro e a casa Rothschild, através do qual seria emitido o chamado funding loan. O plano tratava-se de rolar compromissos externos do governo, vale dizer, o serviço da dívida pública externa e algumas garantias de juros, em troca de severas medidas de saneamento fiscal e monetário.
A política econômica do ministro Joaquim Murtinho - que na verdade constitui-se na execução do funding scheme - estava fundada sobre concepção bastante rudimentares quanto a natureza do ajustamento necessário para solucionar as dificuldades de pagamentos do país. Tratava-se de uma seleção natural entre os diversos lavradores sem crédito. A redução do papel-moeda em circulação é, portanto, a pedra de toque do programa. A conseqüência mais imediata dessa política seria a avalanche de falências bancárias ocorridas em 1900, uma torrente que tragou o próprio BRB. 
O programa conseguiria uma apreciação cambial distante da pretendida e ainda fora favorecida pela extraordinária recuperação das exportações em 1899, para a qual a borracha contribuiu significativamente.
Finalmente, novamente, não é claro a priori em que medida a apreciação cambial se devia a contração monetária ou a fatores exógenos associados ao balanço de pagamentos. Além disso, observa-se uma revitalização das entradas de capital a partir da adoção do programa conservador. Um curioso fenômeno que se observa ao longo dos anos 90 e viria a se repetir muitas vezes nos anos seguintes, é o fato de crises (ou melhorias) cambiais serem geradas de forma espúria pelo "mau (ou bom) comportamento" das políticas monetárias e fiscais, não em função dos efeitos diretos destas, mas em função da percepção dos banqueiros internacionais tinham sobre estas políticas, pois esta percepção via de regra, era fundamental para determinar a magnitude dos fluxos de capital direcionados para o Brasil.
Índice Cronológico 
1887 - primeiro grande projeto de reforma monetária;
junho de 1889 - surgimento do BNB, como fusão entre Banco Internacional e Banque de Paris et des Pays Bas, pivô da fase da "emissão conversível", frustrada ainda em 1889;
17 de janeiro de 1890 - lei bancária de Rui Barbos, que já descaracterizada foi responsável pelas críticas a pessoa de seu idealizador;
1890 - surgimento do BEUB, banco de emissão da região central de Rui Barbosa;
início de 1891 - Rui Barbosa deixa a Fazenda, substituído por Alencar Araripe;
1891 - ascensão de Floriano Peixoto, ano de grande depressão cambial;
1892 - primeira proposta de Rodrigues Alves de clara tendência deflacionista, sem respaldo no Congresso;
7 de dezembro de 1892 - fusão do BREUB e BB, decorrente das propostas de Serzedelo Correia;
1893 - Revolta da Armada, em meio a qual a especulação da bolsa teria seu desfecho;
fevereiro de 1898 - moratória, que duraria até o ano de 1900;
1898 - plano conservador de saneamento monetário e fiscal;
1899 - recuperação das exportações, principalmente borracha, colaborando com melhoria no balanço de pagamentos;
1900 - avalanche de falências bancárias, consequência mais imediata do funding scheme.
Políticas:
i) Monetária: expansionista a partir de 17 de janeiro de 1890, com Rui Barbosa, passando a conservadora a partir de Prudente de Morais, até meados da década seguinte;
ii) Fiscal e cambial: em geral acompanharam a política monetária, no período.
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Capítulo 2 - Apogeu e Crise na Primeira República: 1900-1930
Winston Fritsch
 (Bruno Carazza)
Introdução
Apogeu, tensões e ruptura da inserção da economia brasileira na Pax Britannica.
Período caracterizado por uma “sucessão de crises econômicas esgarçam o tecido político além de sua possibilidade de resistência”.
No fim da Primeira República temos o início de uma dupla transição: 1) mudança de uma economia primário-exportadora baseada no café, com regimes cambial e comercial relativamente livres, para uma economia “voltada para dentro” e com severos controles sobre o comércio exterior e 2) de uma plutocracia paulista para algo mais difuso em termos de distribuição regional e social dos favores do Estado (Era Vargas).
Política Econômica na Primeira República
A Tendência ao desequilíbrio externo e o quadro institucional
O problema da política econômica durante a Primeira República estava em isolar a economia dos desequilíbrios provocados pelas bruscas alterações na posição externa brasileira.
A economia primário-exportadora brasileira estava sujeita a 2 tipos de choques exógenos: i) flutuações abruptas da oferta de café (quebras de safra, superprodução) e ii) flutuações da demanda nos países centrais e bruscas descontinuidades dofluxo de capital do centro para a periferia.
Ciclos e Crises da Primeira República
A Era do Ouro, 1900-1913
Ciclo de crescimento entre o ajuste recessivo da virado do século e a desaceleração que precede a Primeira Guerra.
Melhora da posição externa no Governo Rodrigues Alves (1902/06), com o crescimento das exportações de borracha e o início do boom de investimentos europeus na periferia. O controle monetário imposto pelas negociações da dívida com grupos internacionais e o crescimento da receita líquida de divisas forçaram uma substancial apreciação cambial.
Interesses do setor produtivo levaram à criação de um mecanismo automático de padrão ouro – a Caixa de Conversão, em 1906 – que possuía o poder de emitir notas plenamente conversíveis em ouro, a uma taxa fixa de câmbio.
Agravamento do desequilíbrio no mercado mundial do café e uma breve mas grave crise financeira internacional fizeram com que o governo federal temesse um colapso dos preços do café que, somado à queda dos influxos de capital, comprometeria a posição externa. O governo acabou então por avalizar, junto a seus banqueiros de Londres, um empréstimo que permitisse financiar os estoques de café a longo prazo e garantir a estabilidade de preços no curto prazo.
Com a normalização dos mercados internacionais e o retorno do afluxo de capital, além da ajuda da recuperação dos preços da borracha, o país entrou numa fase de crescimento acelerado até 1913.
Estágios iniciais desse crescimento: súbita melhora no Balanço de Pagamentos, que causou grande expansão monetária via influxos de ouro na Caixa de Conversão. Essa posição era extremamente frágil, pois uma retração da entrada de capital e das exportações não é acompanhada automaticamente pela queda na demanda de importados.
Em 1912 passou a haver uma situação de deterioração do BP e dificuldades de levantar novos empréstimos. Esse cenário toma dimensão de crise em 1913, devido à reversão da posição do BP e a uma forte retração da liquidez decorrente das operações do padrão-ouro.
O Impacto da Grande Guerra, 1914-18
A guerra teve efeito imediato sobre o fluxo de pagamentos externos, a receita tributária e a indústria do café.
Governo fechou a Caixa de Conversão e autorizou uma grande emissão de notas inconversíveis, que serviram para aliviar por um tempo a crise de liquidez e atender a despesas do governo.
Negociação de um funding loan em 1914, que aliviou o BP.
O principal impacto da guerra para o comércio exterior brasileiro foi a estagnação das importações, que afetaram o equilíbrio fiscal do governo (uma vez que as tarifas de importação constituíam um importante meio de receitas governamentais).
Como a guerra persistia, o governo viu-se forçado a tomar medidas mais radicais para ajustar a economia com vistas a equilibrar as finanças do setor público (com a ampliação de produtos sujeitos ao imposto de consumo e a manutenção das despesas a níveis baixos) e também para reverter o substancial aperto de liquidez (com a autorização de uma nova emissão de notas do Tesouro e títulos federais de longo prazo).
A queda dos salários reais em função do aumento do preço dos alimentos levou à primeira onda de greves operárias da História do Brasil.
Enquanto isso, no início de 1918, aprofundavam as preocupações com a fragilidade da posição externa e da indústria do café com o prolongamento da guerra. No entanto, com o fim do conflito e uma forte geada que elevou os preços internacionais do café, o Brasil emergia da guerra sem problemas de excesso de oferta de café e com equilíbrio externo.
O Boom e a Recessão do Pós-Guerra, 1919-22
Período influenciado pelo rápido e violento movimento de auge e recessão das economias aliadas.
Aumento dos preços das commodities levaram a um aumento explosivo das exportações das exportações brasileiras.
Houve também uma rápida recuperação das importações vinculada à significativa demanda reprimida durante a guerra e a apreciação do mil-réis.
No entanto, a adoção de políticas monetárias restritivas nos países centrais precipitou o início de uma forte recessão, refletida no colapso dos preços dos produtos primários. O resultado imediato foi a reversão da balança comercial em 1920, seguida de recessão e depreciação cambial.
Governo procurou adotar as seguintes medidas diante desses fatos: i) diminuir a velocidade e magnitude da desvalorização cambial (dada a posição financeira do governo, com grandes despesas expressas em moeda estrangeira) e ii) emitir um pequeno lote de títulos e criar a Carteira de Redesconto do Banco do Brasil, cedendo a pressões do setor cafeeiro demandando maior liquidez e estabilidade.
As dificuldades do governo em financiar seu crescente desequilíbrio fiscal (em meados de 1921) tinha consequências na viabilidade de um esquema de proteção do café – que foi remediado com um crédito de curto prazo junto a bancos comerciais ingleses.
Esse severo desequilíbrio fiscal decorrente do pós-guerra foi financiado por uma expansão da base monetária, aumentando a pressão da inflação. Ao lado da necessidade de liquidar as dívidas de curto prazo, houve motivação para a adoção de uma política fiscal recessiva.
Recuperação, Desequilíbrio Externo e Ajsute Recessivo, 1922-26
Fim do governo Epitácio Pessoa (1992) é marcado pelo preço do café em ascensão, reversão de tendência de queda das exportações e do déficit da balança e retomada da produção industrial.
Por outro lado, seu sucessor, Artur Bernardes, herdava um BP vulnerável e crônica crise fiscal. Suas metas eram: i) transformar o Banco do Brasil em banco central, retirando os poderes de emissão do Tesouro, ii) fortalecer a posição externa, com a institucionalização de um novo e ousado programa de defesa dos preços do café (controle de oferta passou a ser feito através de retenção compulsória da safra em “armazéns reguladores”, e não mais pela compra e estocagem do excedente pelo governo) e iii) reduzir drasticamente o déficit público.
Dificuldades com a safra de café (excesso de oferta) tornou necessária a emissão de títulos por parte do Banco do Brasil, acelerando a depreciação cambial. A saída encontrada para evitar uma crise cambial – que tinha impactos negativos sobre o déficit público – e diminuir o ritmo das emissões seria um empréstimo a ser conseguido junto a banqueiros ingleses, com o objetivo de saldar parte da dívida do Tesouro para com o Banco do Brasil. Devido a imposições do governo britânico contra empréstimos externos, o dinheiro não saiu.
Para complicar a situação, as revoltas militares de 1924 trouxeram consigo despesas imprevistas e a interrupção das transações bancárias em São Paulo, levando a uma nova explosão de emissões: maiores pressões inflacionárias.
Havia então a necessidade de elaboração de um programa rígido de ajuste externo e interno, que envolveu a transferência da responsabilidade do programa de valorização do café para o Estado de São Paulo (1924) e o aumento das taxas de redesconto com vistas a reduzir a base monetária (início de 1925), além da continuidade do esforço para equilibrar o orçamento. 
Os efeitos dessa política foram recessão, queda do crescimento e do investimento industrial, apreciação cambial e queda da inflação.
O Boom e a Depressão após o Retorno ao Padrão Ouro, 1927-30
O novo presidente, Washington Luís, implementou uma mudança radical das políticas monetária e cambial.
Atingiu-se uma recuperação econômica graças a uma política monetária mais expansionista por parte do governo e uma situação externa também favorável – em decorrência da valorização dos preços do café e investimento e financiamentos externos.
Ao adotar uma nova política restritiva de crédito em 1929, vinculada ao retorno do padrão ouro (1927-30), a economia caminhou para um período de severa recessão. Essa situação foi agravada por uma safra recorde de café e a restrição do financiamento externo. Com a grande depressão, os preços do café caíram vertiginosamente, decretando o “golpe de misericórdia”no equilíbrio do BP.
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Capítulo 3 - Crise, Crescimento e Modernização Autoritária, 1930-45
Marcelo de Paiva Abreu
(Bruno Carazza)
Superação da Crise e a Política Econômica do Governo Provisório (1930-34)
Em decorrência da Crise de 1929, os preços das exportações caíram (sem aumento do quantum exportado) e interrompeu-se o influxo de capital: deterioração do câmbio e queda das reservas.
Adotou-se uma política cambial restritiva em 1930-31, com moratória do pagamento de dívidas em moeda estrangeira.
Mil-réis sofreu uma desvalorização de 55% entre 1930-31, prejudicando a economia cafeeira (pois a demanda internacional do café é praticamente inelástica em relação ao preço; com a desvalorização, o café fica mais barato no exterior, mas a receita cambial cai).
Indústria foi protegida, graças ao controle das importações e a queda generalizada dos preços das commodities. Dívidas públicas cresceram tendo em vista a crise cambial.
A dívida externa brasileira distribuía-se principalmente entre dois credores: Reino Unido (num montante de US$ 600 milhões, com investimentos em queda e concentrados em setores tradicionais) e Estados Unidos (US$ 200 milhões, com investimentos que quadruplicaram de 1914 a 1930, concentrados em atividades comerciais e indústria de transformação). Essa composição gerou interesses divergentes entre os credores: enquanto os britânicos queriam maximizar os pagamentos atrasados e os americanos preferiam manter sua posição de influência comercial no Brasil.
A crise cambial brasileira e a recessão internacional afetaram os investimentos no país, principalmente os provenientes da Europa (a participação americana cresceu nesse período).
Enquanto Vargas parecia “encarnar o ‘Estado de Compromisso’, tratando de acomodar os interesses conflitantes do café e da indústria”, sua atuação tendeu a favorecer principalmente a indústria.
A crise cambial, com a deterioração dos termos de troca, colaborou para que a recuperação da atividade pós-recessão se desse de forma mais rápida.
No entanto o governo federal, atráves do Conselho (depois Departamento) Nacional do Café, efetuou uma significativa compra e posterior destruição dos estoques de café, buscando reduzir o descompasso entre seu nível e a capacidade de absorção do mercado mundial.
O governo ampliou ainda uma outra política de redução da oferta de café, logo após a Revolução Constitucionalista (1932), com a destruição de mais de 70 milhões de sacas foram destruídas entre 1931 e 1943.
A desvalorização cambial e o controle de importações reorientaram a demanda para produtos nacionais, levando a uma reversão do saldo do BP (via balança comercial).
A política econômica do Governo Provisório pode ser considerada pré-keynesiana devido à intenção de acomodar um choque fiscal (recessão internacional) através de um aumento no déficit público.
Abandono do padrão-ouro em 1930: fim da pressão sobre a base monetária (mecanismo: a partir de um choque externo há uma pressão para desvalorizar a moeda, caem as reservas, Banco do Brasil vende US$ e compra mil-réis, com isso reduz-se a oferta monetária).
A produção nacional caiu 9% entre 1928 e 30, permaneceu estagnada em 1931-31 e cresceu a uma média de 10% ao ano entre 1932 e 1939.
A participação das importações na oferta total caiu de 45% em 1928 para 25% (1931) e 20% (1939).
Boom Econômico e Interregno Democrático, 1934-37
Período marcado pela pressão americana para o Brasil liberar um regime de câmbio especial para os EUA.
Entre 1936 e 1937 as reservas acumularam-se, como resultado da ampliação das exportações, enquanto as importações permaneceram constantes. Essa folga cambial levou a um relaxamento dos controles de importação e a liberação das remessas de lucros, gerando um descoberto de 6 milhões de libras esterlinas no final de 1937.
Apesar das dificuldades no BP, a economia crescia a 6,5% ao ano entre 1934 e 37, graças ao encarecimento das importações e a adoção de políticas fiscal, cafeeira e monetária expansionistas.
Agricultura cresceu a 2% ao ano, entre 1934-37, enquanto a indústria teve uma média de 11% ao ano (com crescimento mais elevado de setores não-tradicionais: borracha, papel, cimento, metalurgia, química e têxtil).
Acordo comercial com os EUA (1935): O Brasil concedeu reduções tarifárias para produtos americanos (duráveis de consumo), enquanto os EUA mantiveram as principais exportações brasileiras livres de tributos (o que teve pouco impacto sobre a indústria nacional).
Aproximação do Brasil com a Alemanha: Aumento das exportações de café e algodão e deslocamento de importações tradicionalmente britânicas (carvão, material elétrico, folha-de-Flandres, etc) para a Alemanha. Com isso as importações americanas também ganharam participação.
Política externa de “comércio de compensação”: Vargas conseguia apoio dos Estados que exportavam para a Alemanha (Nordeste e Rio Grande do Sul).
Participação alemã no comércio brasileiro passou, entre 1928 e 1938, de 12% para 25%, em detrimento dos EUA (27 para 23), Reino Unido (22 para 10) e França (6 para 3). Substituição drástica de produtos britânicos por alemães.
Estado Novo e Economia de Guerra, 1937-45
Centralização do poder, com criação de agências governamentais com objetivos reguladores na área econômica.
Estado transitou da arena normativa para a provisão de bens e serviços.
1937: Escassez de divisas (elevação das importações, investimentos públicos, pagamento de serviços da dívida), governo foi levado a desvalorizar a moeda doméstica.
Controles cambial e de importações foram os principais instrumentos de política comercial no período.
O comércio de compensação foi gradativamente sufocado à medida que se tornava perigoso acumular reservas em marcos, tendo em vista a possibilidade de guerra.
Com a Segunda Guerra, até 1941 o país teve dificuldades com o BP (queda dos mercados de exportação). A partir de 1941 a situação se reverte com a recuperação e ampliação das exportações (suprindo economias em guerra) e com a estagnação das importações: expansão dos saldos na balança comercial.
Efeitos contraditórios na indústria: estímulo à produção e exportação mas com dificuldades de obtenção de insumos e bens de capital.
O PIB teve um efeito menor em razão do fraco desempenho da agricultura.
1942 representa um ponto de inflexão na economia brasileira: crescimento industrial acelerado, país passa a acumular reservas cambiais (reduzidas desde os anos 20), entrada de capital americano, políticas fiscal, monetária e creditícia expansionistas a partir de 1942.
Política monetária: moderada (fins de 1938 até fins de 1939) e expansionista a partir de 1940 – reforma monetária de 1942 (aumento de liquidez na economia) e expansão do crédito, com crescimento inflacionário.
Acordos com os EUA para suprimento de matérias-primas e bens primários, em contrapartida haveria a manutenção dos preços desses produtos.
CSN: governo brasileiro viu-se obrigado a participar diretamente do projeto tendo em vista o desinteresse dos grandes produtores norte-americanos de aço.
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Capitulo 4 - Política Econômica Externa e Industrialização: 1946-1951
Sérgio Besserman Vianna
(Humberto Carlos Faria Teixeira)
O cenário econômico internacional no período pós-guerra (1946-1951) foi marcado pela assinatura do tratado de Bretton Woods que previa a implementação de mudanças substanciais na organização da economia mundial. No bojo do acordo, destacam-se propostas visando: o restabelecimento do padrão-ouro divisas nos mercados cambiais, constituindo o dólar a moeda internacional de reserva, a transição para a livre convertibilidade das moedas e a criação do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) com o propósito de reduzir as barreiras ao livre comércio entre os países. O Fundo Monetário Internacional (FMI), criado com o objetivo de zelar pelos acordos de Bretton Woods e efetuar empréstimos aos países com dificuldades no balanço de pagamentos eo Banco Mundial também datam dessa época.
Os acordos internacionais do período apresentavam, portanto, um caráter eminentemente liberal. A política econômica adotada no Brasil no período 1946-1951 seguiu, em primeira instância, os preceitos liberais. VIANNA (1988) argumenta, entretanto, que o país não diagnosticou de forma precisa o ritmo e o próprio movimento nos mercados internacionais da época. A interpretação equivocada do governo Dutra expressa-se em três pontos: a idéia de que o pais encontrava-se em situação confortável em termos de reservas cambiais, a suposição de que uma política liberal de câmbio seria capaz de atrair expressivo fluxo de capitais externos ao país e a aposta nos Estados Unidos como grande credor do país em contrapartida a colaboração brasileira durante a segunda guerra mundial.
Em linhas gerais, a política econômica adotada então privilegiou o combate à inflação, expressa na adoção de políticas monetária e fiscal contracionistas (notadamente até 1949). No que se refere à balança comercial, nota-se que o Brasil apresentava um desempenho favorável com os países de moeda de baixa conversibilidade (moedas fracas) e desfavorável com os países de moeda forte (de elevada conversibilidade). No período pós-guerra, verifica-se ainda uma redução das exportações de matérias-primas e manufaturados brasileiros. Estas que representavam 20% da pauta de exportações em 1945, reduzem-se para 7,5% em 1946 e atingem a marca de 1% em 1952. VIANNA (1988) atribui este processo à recuperação econômica dos países envolvidos na guerra marcado pelo retorno de antigos fornecedores ao mercado internacional. As importações, por sua vez, eram pressionadas pela dependência da produção nacional em bens de capital (equipamentos) estrangeiros. O elevado acréscimo dos preços desses bens (os preços dos equipamentos sobem 47% em 1947 em relação ao ano anterior) supera o aumento dos preços das exportações (que sobem apenas 15% no mesmo período), prejudicando o desempenho da balança comercial brasileira. 
Percebida então a modesta entrada de capitais externos no país, um desempenho mais favorável na balança comercial seria alcançado por intermédio de medidas de controles cambiais e uma política de contingenciamento de importações.� A vigência de uma taxa de câmbio sobrevalorizada, conjuntamente com as medidas de restrição às importações e controles cambiais (mencionadas acima) produziram três efeitos: (a) efeito subsídio, beneficiando a importação de bens de capital e insumos básicos para suprimento da produção nacional; (b) efeito protecionista, através das restrições às importações de bens substitutos ou concorrentes aos produzidos nacionalmente e (c) efeito lucratividade, decorrente da taxa de câmbio sobrevalorizada que, ao alterar a rentabilidade relativa entre a produção exportada e aquela alocada para o mercado doméstico, beneficiou a produção voltada para o mercado nacional. Neste contexto, torna-se evidente o estímulo das medidas supracitadas em favor de um processo de substituição de importações. 
O período é marcado ainda, conforme mencionado acima, pela adoção de uma política econômica ortodoxa, enfatizando o combate à inflação através de políticas fiscais e monetária contracionistas. Deve-se ressaltar, entretanto, que a política de crédito foi, em grande medida, expansionista dada a política de concessão de crédito efetuada pelo Banco Brasil. A política de crédito adotada visava facilitar investimentos nacionais no processo de substituição de importações. A política de crédito, portanto, operava em contramão à estratégia de se adotar uma política monetária e fiscal mais restritiva no início do período. Vale mencionar também que cogitava-se na época a adoção de uma reforma tributária como forma de ajustar as finanças públicas. O projeto de reforma tributária, no entanto, não encontrou respaldo político suficiente, sendo abandonado em 1947.
O período caracteriza-se ainda pela obtenção de maior autonomia administrativa por parte de estados e municípios concedido pela Constituição de 1946. A maior autonomia relativa adquirida pelos estados e municípios em relação à União comprometeu os esforços desta (a União) no sentido de promover o ajuste fiscal, prejudicando assim as finanças públicas. 
Quanto ao processo inflacionário, verifica-se um crescimento dos índices de inflação a partir de 1949. VIANNA (1988) ressalta os componentes estruturais desse repique inflacionário: (a) pressão de demanda advinda do processo de urbanização e industrialização sobre a produção agrícola, alternando os preços relativos da economia em benefício deste setor, refletindo-se em aumento generalizado de preços; (b) tendência inflacionária subjacente ao aumento dos preços das exportações e (c) a existência de baixa capacidade ociosa na economia, reduzindo a possibilidade de choques de demanda serem absorvidos integralmente através de aumento da produção, ou seja, expansão da oferta agregada. 
Índice Cronológico
1944: Conferência de Bretton Woods
1947: Proclamação da Doutrina Truman nos EUA, destacando-se a elaboração do Plano Marshall como instrumento de auxílio às economias européias arruinadas com a guerra
1947-48: Fim do mercado livre de câmbio e a adoção de um política de contingenciamento de importações no Brasil entre meados de 1947 e início de 1948.
1948: Constituição da Comissão Técnica Mista Brasil-Estados Unidos, mais conhecida como Missão Abbink, que preconizava que o desenvolvimento brasileiro deveria centrar-se em três pontos: “a reorientação dos capitais formados internamente, o aumento médio da produtividade e o afluxo de capitais estrangeiros.”(VIANNA, 1988:117). 
1949: Afastamento do ministro da Fazenda Correa e Castro em meados de 1949, indicando a passagem de uma política econômica contracionista, tipicamente ortodoxa, em direção a uma maior flexibilidade nas metas monetárias e fiscais. Sob sua gestão na Fazenda, os investimentos públicos e a emissão de moeda foram reduzidas a praticamente zero em 1947. O crédito real à indústria cresceu 38%, 19%, 28% e 5% nos anos de 1947, 1948, 1949 e 1950, respectivamente.
1949: Adoção do Plano Salte, considerada “a única iniciativa de intervenção planejada do Estado para o desenvolvimento econômico” (VIANNA, 1988:116). Previa investimentos públicos nos setores de saúde, alimentação, transporte e energia para os anos de 1949 e 1953.
1950: Surge a União Européia de Pagamentos (UEP), existente até 1958, que conjuntamente com a desvalorização da libra esterlina em 1949, indicam uma transição lenta em direção às trocas multilaterais e à conversibilidade geral das moedas.
Política cambial: O câmbio foi mantido grosso modo à paridade de 1939, de 
18,5 Cr$/US$, sendo instituído o mercado livre, com a abolição das restrições a pagamentos existentes desde os anos 30. Considerando-se que a inflação brasileira no período foi o dobro da verificada nos EUA, torna-se evidente a sobrevalorização cambial. Por outro lado, as importações de bens considerados necessários à economia usufruíam de acesso à taxas de câmbio mais favoráveis, caracterizando uma desvalorização implícita da moeda. As importações eram restringidas pela concessão de licenças de importação. Nota-se, entretanto, uma liberalização na concessão das licenças de importação a partir de meados de 1950 com a alta do preço do café (aumentando a capacidade importadora da economia) no mercado internacional e dada o elevado nível de contingenciamento já alcançado nas importações. 
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Capítulo 5 – Duas Tentativas de Estabilização: 1951-1954
Sérgio Besserman Vianna
(Carla Aguilar)
A conjuntura encontrada pelo governo Vargas pode ser resumida, no setor interno, pela retomada do processo inflacionário e pela recorrência do desequilíbrio financeiro do setor público e, no setor externo, pela expectativa favorável devido a elevação do café e a mudança do governo dos Estados Unidos em relação ao financiamento dos programasde desenvolvimento do Brasil.
È tendo em vista este cenário que o governo traçou sua política econômica apoiada em um projeto de governo bem definido que tinha por objetivo dividir o governo em 2 fases. A primeira (1951-1952) constituiria na estabilização da economia utilizando-se como pilar as políticas fiscal e monetária. A Segunda (1953-1954) seria para os empreendimentos e realizações tendo como pilar seria a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos(CMBEU) constituída em 1950�.
O CMBEU era importante, pois os financiamentos fornecidos pelo Banco Mundial e pelo Eximbank é que assegurariam a estrangulamentos em setores básicos da economia(energia, portos, etc.) que propiciariam uma ampliação do fluxo de capital dirigido para o Brasil. Tal afluxo de capital permitiria a fase das realizações e empreendimentos concomitantemente com uma política econômica austera e ortodoxa.
PERÍODO DE 1951-1952
Tendo em vista o quadro externo descrito acima, a política de comércio exterior apoiou-se em uma taxa de câmbio fixa e sobrevalorizada e um regime de concessão de licença para importar (esta última política modificou-se ao longo do tempo, pois foi extremamente relaxada nos primeiros 7 meses de governo). A liberalização na política de concessão deveu-se aos seguintes fatores: persistência da pressão inflacionária interna e de aguda propensão a importar; precário abastecimento interno por produtos importados, perspectivas decrescentes de escassez internacional de matérias-primas e equipamento importável em função dos programas armamentistas; perspectivas favoráveis da evolução das exportações dos principais produtos e posição cambial temporariamente favorável.
Essa extensa liberalização na política de concessão impactou violentamente as reservas em moedas conversíveis que reduziram de US$162 milhões para US$43 milhões de março para julho de 1951. Diante disto, em 1º de agosto de 1951 o Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) define instruções para que a CEXIM reintroduza um regime mais severo de licenciamento. Apesar disso, os licenciamentos continuaram elevados até dezembro deste mesmo ano resultando na necessidade de uma nova restrição no princípio de 1952. Como as licenças que eram concedidas possuíam vida útil de 6 meses a 1 ano tal medida necessitou de um prazo extenso para refletir nas estatísticas de importação.
A balança comercial apresentou um pequeno superávit em 1951. Já, em 1952, a balança comercial foi deficitária e, além disto, houve o esgotamento das reservas internacionais e o acúmulo de atrasados comerciais. Tal situação ocorreu, principalmente, devido a uma não alteração no quadro das importações (uma vez que havia uma defasagem na adoção da política de restrição e o seu efeito e somando-se a isso foi necessária a compra de trigo nos EUA por causa da seca na Argentina) e a uma redução das exportações em 20% se comparado com 1951. Esta queda deveu-se aos efeitos da sobrevalorização do cruzeiro e das pressões inflacionárias internas bem como à crise enfrentada pela indústria têxtil mundial que levou a uma paralisação das vendas de algodão segundo produto mais importante da pauta de exportações brasileira. 
Pelos motivos apresentados acima e o baixo influxo de capital estrangeiro que não ajudou a diminuir tais dificuldades houve em 1952 uma crise cambial que resultou na fratura de uma das pernas que deveria sustentar o projeto do governo Vargas.
A política econômica teve como objetivos nesta primeira fase: comprimir as despesas governamentais, aumentar na medida do possível a arrecadação, adotar políticas monetária e creditícia contracionistas. Os três primeiros objetivos foram alcançados. 
As despesas governamentais foram reduzidas tanto que o investimento público decresceu cerca de 3% em termos reais. As receitas governamentais aumentaram devido à inflação, ao crescimento real da economia, à melhoria da eficiência dos sistema arrecadador e ao extraordinário crescimento das importações. Houve em 1951 um superávit global da União e Estados que não acontecia desde 1926. Em 1952 a política fiscal foi mantida fazendo com que o superávit da União fosse quase o mesmo do ano anterior, no entanto, não foi possível o mesmo desempenho para os estados e municípios. 
A política monetária foi conduzida ortodoxamente assim como a política fiscal. A exceção foi a política creditícia que moveu-se em direção contrária, pois o presidente do Banco do Brasil (Ricardo Jafet) tinha posição distinta da ortodoxa. Sendo assim, as reduções das necessidades de empréstimos do Banco do Brasil ao Tesouro Nacional foram compensadas com a expansão do crédito às atividade econômicas. Os fatores que avalizaram tal expansão foi em 1951 a recuperação de parte das disponibilidades antes imobilizadas em empréstimos ao setor público e em 1952 soma-se a este primeiro a expansão do aporte de recursos adicionais devido ao aumento nos depósitos correspondentes aos débitos em divisas dos importadores em função do acúmulo de atrasados comerciais.
Houve um aumento do PIB em 4,9% em 1951 e 7,3% em 1952. O aumento das importações nesse período afetaram positivamente o setor de serviços que apresentou maior crescimento e negativamente a produção industrial que apresentou as menores taxas anuais de crescimento. A estagnação do café e a queda da produção de algodão e cacau fizeram com que a agricultura apresentasse pequeno crescimento em 1951, mas em 1952 o crescimento da exportação de produtos agrícolas aumentou 17% provocando uma recuperação neste setor.
Este período (1951-1952) foi marcado pela elevação das taxas de investimento e o aumento da participação do setor privado no investimento global em detrimento dos investimentos do setor público. As fontes de financiamento para esse investimento foram a liberalização das importações e a política creditícia.
PERÍODO DE 1953-1954
A segunda fase do governo (empreendimento e realizações) deveria começar em 1953 baseada na estabilização e no acordo CMBEU. No entanto, a primeira não foi alcançada pelos fatores apresentados no item anterior e a segunda também não devido ao fim da Comissão Mista Brasil Estados Unidos. Sendo assim os dois pilares do governo Vargas ruíram no primeiro semestre de 1953. Tais acontecimentos associados à uma mobilização social reinvidicadora e à uma reacomodação política derivada das eleições municipais de 1953 levaram o governo a abandonar o projeto inicial e sustentar o propósito de estabilização econômica. 
O encerramento da CMBEU ocorreu devido aos seguintes fatores: (i) a vitória de Eisenhower para presidente dos EUA fazendo com que a orientação da política norte-americana prioritária para a América Latina passasse a ser o combate ao comunismo e, além disso, sob o argumento de que precisaria manter gastos não financiaria mais os projetos que a comissão mista elaborasse. O apoio deste governo ao Banco Mundial em conflito com o Eximbank também prejudicou o Brasil, pois o primeiro era a favor de empréstimos de longo prazo do Eximbank para o desenvolvimento da América Latina apenas quando não pudesse fazê-lo. As razões para isso era que queria controlar mais as políticas econômicas dos países demandantes de crédito.(ii) deterioração da situação cambial brasileira ao longo de 1952 resultando no acúmulo de vultuosos atrasos comercias levando o Banco Mundial a mudar de postura para com o Brasil, passando a interferir na política econômica do governo.
O primeiro semestre de 1953 foi marcado pela promulgação da Lei 1807(Lei do Mercado Livre) e pelo empréstimo de US$300 milhões de dólares junto ao Eximbank. A Lei do Mercado Livre tinha como objetivo aumentar as exportações de gravosos sem prejudicar a receita proveniente do café e do cacau; e reduzir a propensão a importar. Para tal adotou cinco taxas de câmbio do lado da oferta e duas do lado da demanda. As taxas para exportação eram: a taxa oficial aplicada a 85% das exportações(limitadas ao café, algodão e cacau), as três taxas de câmbio flutuante(misturavam15,30 e 50% da taxa oficial e a taxa de mercado livre) aplicada às demais exportações e, por último, a taxa de mercado livre que era aplicada às transações financeiras(com algumas exceções). As taxas estabelecidas para demanda eram: a taxa oficial utilizada para transações essências(2/3 das importações totais) e remessas financeiras do governo de entidades pública e semi-públicas; e a taxa de mercado livre para o restante das importações e remessas.
A assinatura do acordo de empréstimo conseguida em 30 de abril de 1953 pelo governo brasileiro ocorreu devido a pressões de exportadores e investidores norte-americanos no Brasil, que tendo em vista a Lei 1807, desejavam evitar a concorrência entre a procura de dólares para remessas de rendimentos e aquela voltada para a obtenção de divisas com o objetivo de pagamento de atrasados. Esse empréstimo foi concedido nas seguintes condições: deveria ser integralizado em três anos, com pagamentos mensais a partir de 30 de setembro 1953. A taxa de juros adotada foi de 3,5% a.a. e o Brasil se comprometia a liquidar os restantes dos atrasados comerciais não, cobertos pelo empréstimo, com os EUA até 31 de Julho do ano corrente.
O principal objetivo da Lei 1807 (aumentar o desempenho das exportações) não foi alcançado, pelo contrário, as exportações tiveram seu valor reduzido em 11% no primeiro semestre de 1953. Isto ocorreu porque as exportações de gravosos não responderam bem à política de desvalorização com que foram beneficiadas e os exportadores passaram a reter os embarques com o objetivo de pressionar o governo. Esta evolução pouco favorável das exportações fizeram com que os atrasados comerciais aumentassem, levando o Eximbank a suspender o desembolso da segunda parcela do empréstimo conseguido em abril. Para agravar a situação interna do país os meios de pagamento elevaram-se de Cr$7 bilhões contra menos de Cr$1 bilhão no mesmo período de 1952, isso ocorreu devido ao aumento dos gastos do governo com a seca no Nordeste bem como o financiamento aos produtos dessa região e ao socorro a bancos de estado. Tais acontecimentos levaram a uma impressão de perda do controle das autoridades econômicas.
Paralelamente a essa situação o governo enfrentava dificuldades no plano social, pois em 23 de março de 1953 eclodiu a greve dos trabalhadores em São Paulo o que sinalizava um enfraquecimento das bases de sustentação desse governo. Com o objetivo de fortalecer a coesão do governo, Vargas fez uma reforma ministerial na qual o ministro da Fazenda Horácio Lafer foi substituído por Osvaldo Aranha e quem passou a ocupar a pasta do Ministérios do Trabalho foi João Goulart 
Ao assumir o ministério, Aranha tomou como primeiras medidas a homogeneização do benefício dado às exportações; introduziu o sistema de pauta mínima e cobrou a liberação da 2ª parcela do empréstimo junto Eximbank. A primeira medida foi estabelecida reduzindo as cinco taxas de câmbio existentes em apenas três, uma taxa oficial, uma de mercado livre e uma terceira, flexível, resultante da mistura (em 50%) das duas primeiras. A segunda foi através da permissão para que exportadores de determinados produtos (café, cacau, etc.) negociassem no mercado livre as divisas excedentes a cota mínima fixada para cada um deles. A terceira, foi apresentar junto aos financiadores como condição para renegociação a liberação da 2ª parcela do acordo de empréstimo. Tais medidas alcançaram seus objetivos, a exportação de café respondeu positivamente aumentando 56% e 81% em agosto e setembro, respectivamente, em relação a julho de 1953 e o empréstimo foi liberado. A política de Osvaldo Aranha consistia numa nova tentativa de estabilização, mantendo-se a visão ortodoxa, no entanto, privilegiando o ajuste cambial. A primeira reforma implementada por este ministro foi a instrução 70 da Sumoc baixada, em 9 de outubro de 1953. 
A instrução 70 da Sumoc restabeleceu o monopólio cambial do Banco do Brasil e substituiu o controle quantitativo das importações pelo sistema de leilões. Neste sistema as importações foram divididas em 5 categorias de acordo com o critério de essencialidade, a três primeiras categorias absorviam aproximadamente 80% das importações. As taxas sobre a importação passaram a ser três, uma taxa oficial sem sobretaxa (válida para importações especiais como trigo e papel imprensa), uma taxa oficial com sobretaxa fixa (para importações dos governos, autarquias e sociedade de economia mista) e, por último, uma taxa oficial acrescida de sobretaxa variável (segundo lances feitos em bolsa) para as demais importações. Com relação às exportações, as taxas mistas foram substituídas por bonificações de Cr$5/US$ para o café e Cr$10/US$ para as demais exportações.
Os primeiros resultados da instrução 70 foram positivos, houve superávit entre as exportações(FOB) e importações(CIF) e o governo aumentou significativamente suas receitas com a cobrança de ágios sobre as importações.
Apesar da elevada receita a União apresentou déficit público, em 1953, devido aos gastos do governo na seca do Nordeste, ao aumento das despesas nas obras públicas, a um abono elevado concedido ao funcionalismo civil da União, ao pagamento de atrasados comerciais feito pelo Banco do Brasil aos credores com recursos próprios e ao empréstimo concedido pelo Banco do Brasil ao tesouro paulista. A política creditícia, neste ano, foi afetada pelo déficit público, a sua tendência foi invertida em relação aos dois anos anteriores e a sua composição foi modificada, os empréstimos do Banco do Brasil foram mais direcionados ao Tesouro Nacional e menos às atividades econômicas. A política monetária também foi expansionista.
A inflação neste ano aumentou se comparada com o 1952, isso seria explicado pelas desvalorizações cambiais resultantes da instrução 70 que pressionaram os custos das empresas conduzindo-as a reagir através do aumento de preços. O crescimento do PIB foi bem inferior ao dos anos anteriores, apesar do crescimento da indústria em 9,3%. O baixo crescimento do PIB foi devido ao baixo rendimento apresentado na agricultura(seca que aconteceu no país) e à estagnação do setor serviços(esta devido a diminuição das importações e redução das atividades comerciais). Os investimentos privados foram reduzidos neste ano, devido principalmente às restrições feitas às importações, os investimento do governo não cresceram em termos reais mantendo-se constante como proporção do PIB.
As maiores dificuldades enfrentadas por Aranha na implementação do seu plano de estabilização em 1954 foram o aumento do salário mínimo de 100% e a crise enfrentada pelo café. Estes dois fatores comprometeram profundamente o plano em meados de 1954. O aumento do salário mínimo teve como objetivo melhorar a imagem do governo junto aos trabalhadores uma vez que Vargas estava interessado nas eleições de outubro de 1954. A crise do café deveu-se primeiro, a uma geada que afetou uma das mais importantes áreas de produção brasileira levando à redução das exportações, e segundo devido ao boicote americano ao consumo de café que fez com que reduzissem sua compras ao mínimo.
O governo com objetivo de aumentar a receita cambial expediu, em junho de 1954, um decreto determinando preço mínimo elevado para o café. Tal política fez com que o governo americano, em protesto, deslocasse suas compras para outros países produtores de café. No entanto, não se pode imputar a este decreto a redução das exportações, pois estas já vinham caindo antes de sua implementação e, além disso, devido a pressão dos cafeicultores e exportadores de café essa medida durou apenas 45 dias.
Osvaldo Aranha baixou a instrução 99 da Sumoc em 14 de agosto de 1954, esta resolução não modificou a cotação mínima em cruzeiros estabelecida para a exportação de café, mas alterou o sistema de bonificações estabelecido pela instrução 70. Os exportadores passariam a receber Cr$5/US$ ou Cr$10/US$ sobre 80% das cambiais negociadas independente do produto, sobre os 20% restantes seria abonada a diferençaentre a taxa oficial e a média das taxas de compra no mercado livre, para cada moeda, no dia útil imediatamente anterior ao do fechamento de câmbio.
A política creditícia adotada por Aranha nesse período foi expansionista, não por uma mudança em sua visão ortodoxa, mas pela necessidade de atender às demandas imediatas dos estados bem como às pressões das indústrias para compensar as perdas devido ao aumento do salário e à instrução 70 da Sumoc (no ponto que se refere a defasagem entre o momento da licitação e a obtenção da licença para importar).
O descontentamento com Vargas estava presente em todas as classes, desde trabalhadores até capitalista, ele não conseguiu contentar o amplo espectro da sociedade sem nenhuma mudança estrutural e sem o apoio da sociedade civil organizada. O governo Vargas estava isolado politicamente e ficou vulnerável ao golpe que o depôs em 1954.
Índice Cronológico
Julho de 1951-início da atividades da Comissão Mista Brasil Estados Unidos.
1º de agosto de 1951-o Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) define instruções para que a CESIM reintroduza um regime mais severo de licenciamento das importações. Apesar dessas instruções o licenciamento até dezembro do mesmo ano foram elevadas, sendo necessárias novas medidas de controle no início de 1952.
Janeiro de 1953-promulgação da Lei 1807 (Lei de Mercado Livre) que concedia ampla liberdade de movimentos pelo câmbio livre ao capital estrangeiro no Brasil e tinha por objetivo elevar as exportações. Estas ao contrário ao invés de aumentar diminuíram e tal fato levou à modificação desta lei posteriormente.
30 de fevereiro(?) abril de 1953-assinatura do acordo de empréstimo de US$300 milhões de dólares junto ao Eximbank, que seria liberada em parcelas. A primeira parcela foi entregue, mas devido ao não pagamento dos atrasados comerciais pelo Brasil junto aos EUA a segunda parcela foi adiada até a entrada do novo ministro da fazenda Osvaldo Aranha.
23 de março de 1953-greve dos trabalhadores paulistas que chegou a paralisar 300 mil operários.
Abril de 1953-liberação da primeira parcela do empréstimo concedido pelo Eximbank.
15 de Junho de 1953-Horácio Lafer deixa o ministério e é substituído por Osvaldo Aranha, esta mudança está inserida na reforma ministerial feita por Vargas.
9 de outubro de 1953-instituida a instrução 70 da Sumoc que introduziu importantes mudanças no sistema cambial. Obteve êxito nos primeiros resultados, conseguindo elevar as exportações e manter as importações no nível dos trimestres anteriores além de elevar a receita do governo.
1º de maio de 1954-aumento do salário mínimo em 100%, quando na realidade para recompor os salários era necessário apenas um aumento de 53%. Vargas tomou esta decisão embuído pelos interesses eleitorais.
Junho de 1954-decreto fixando um elevado preço mínimo para o café com o objetivo de maximizar a receita cambial, devido a crise enfrentada por este produto no mercado interno e externo. Vigorou por apenas 45 dias.
14 de agosto de 1954-baixada a instrução 99 da sumoc que alterou o sistema de bonificação instituído pela instrução 70 para as exportações. Esta veio como resposta às dificuldades enfrentadas pelo café no mercado externo.
Políticas:
Política Monetária: restritiva até início de 1953 passando a partir de então a ser expansionista por problemas conjunturais da economia.
Política Fiscal: restritiva até 1952 tornando-se expansionista a partir de 1953.
Política Creditícia: expansionista até saída de Jafet , foi restritiva até 1954 voltando a ser expansionista em 1954.
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Capítulo 6 - O Interregno Café Filho: 1954-55
Demosthenes Madureira de Pinho Neto
(Bruno Carazza)
O período compreendido entre o suicídio de Vargas e a posse de Juscelino Kubitschek costuma ser colocado em segundo plano na historiografia brasileira, dadas suas características de transição. Durante os poucos meses de duração, podemos delinear duas fases bastante distintas de política econômica: as administrações Gudin e Whitaker.
Tendo em vista o período de instabilidade que se seguiu ao Governo Vargas, Café Filho buscou sustentar seu governo em bases bastante heterogêneas, embora o caráter ortodoxo das figuras ligadas à UDN e ao movimento antigetulista prevalecesse. Para a pasta da Fazenda foi indicado o nome de Eugênio Gudin, economista respeitável e de grande prestígio junto a comunidade financeira internacional – uma das virtudes que mais pesou na sua escolha. Gudin poderia ser considerado um severo crítico das propostas desenvolvimentistas e adepto a políticas ortodoxas, atribuindo o processo inflacionário ao déficit público e à expansão creditícia. 
Gudin assumiu ao Ministério da Fazenda num momento de grave crise cambial, decorrente do colapso dos preços e das quantidades exportadas de café. Mesmo com uma desvalorização de 27% da moeda nacional no final do governo Vargas (ago/54), houve um grave impacto sobre as receitas de exportação, uma vez que a elasticidade da demanda internacional do café era baixa no curto prazo. Outro problema que complicava a situação externa do Brasil era o acúmulo dos atrasados comerciais e a necessidade de renegociar as dívidas brasileiras junto aos credores internacionais. Acontece que o governo americano, sob gestão de Eisenhower, mostrava-se intransigente com os países em desenvolvimento, tendo inclusive manifestado que o problema do financiamento da dívida da América Latina deveria ser resolvido por fluxos de capitais privados e não por auxílio econômico do governo americano. 
Destarte o fracasso de sua negociação com o governo americano em Washington, Gudin conseguiu levantar US$ 200 milhões junto a um consórcio de 19 bancos privados americanos, o que aliviava a situação cambial até que medidas mais profundas surtissem efeito junto ao Balanço de Pagamentos. Neste sentido, Gudin mostra-se disposto a remover os obstáculos ao livre fluxo de capital estrangeiro para o país, expresso na Instrução 113 da Sumoc – liberalização da entrada de capital, voltada para o saneamento econômico e o financiamento doméstico.
O programa de estabilização de Gudin sustenta-se em dois pilares: austeridade fiscal e contração monetário-creditícia. Sua política monetária valeu-se de diversas instruções da Sumoc, que envolveram a elevação dos juros e das taxas de redesconto (Inst. 105 e 106). A Inst. 108 determinou um aumento significativo dos compulsórios, agora recolhidos junto à Sumoc, buscando uma eficácia maior de sua função redutora, uma vez que os compulsórios eram recolhidos anteriormente ao Banco do Brasil (que também era um banco comercial). Essa instrução estabeleceu ainda um limite para os empréstimos das carteiras do Banco do Brasil, inclusive junto a entidades públicas e ao Tesouro. Podemos definir suas políticas monetária e creditícia como fortemente contracionistas.
Ao contrário do lado monetário, Gudin não obteve muito sucesso com a política fiscal. Gudin objetivava reduzir as despesas governamentais e ampliar a receita, mas não foi muito feliz em suas metas, uma vez que sua modificação mostrou-se inviável devido às dificuldades de aprovação de uma elevação da carga tributária no Congresso e o comprometimento do Orçamento da União. Seu único êxito consistiu na redução de verbas para alguns ministérios, resultando numa queda do investimento público.
De um modo geral, as medidas adotadas por Gudin levaram a uma crise de liquidez, queda na formação bruta de capital fixo e nos investimentos em bens de capital (tendo em vista o esfriamento da atividade nesse período). As razões para a substituição de Gudin residem no descontentamento do setor cafeeiro com as medidas adotadas, sintetizadas naquilo que a oposição chamou de “confisco cambial”. Como o setor cafeeiro representava uma importante base política, sua pressão resultou no pedido de demissão de Eugênio Gudin em 4 de abril de 1955.
Para aplacar a fúria da cafeicultura paulista, Café Filho escolheu José MariaWhitaker para o ministério da Fazenda, ex-ministro de Vargas durante o governo provisório. Na gestão Whitaker podemos verificar uma inflexão na política econômica, dado que “a inflação parecia preocupá-lo apenas enquanto exercício de retórica”. 
Em maio de 1955, ainda em conseqüência das medidas contracionistas da política monetária de Gudin, aflora uma crise bancária decorrente da falta de liquidez do setor financeiro. Whitaker baixa então a Instrução 116 da Sumoc, que nada mais faz do que refogar as instruções 106 e 108 tomadas pelo seu antecessor. Whitaker definia-se como seguidor da real bills doctrine, acreditando que as emissões destinadas aos setores produtivos não eram inflacionárias. Como resultado dessa visão, ampliaram-se as concessão de crédito ao setor privado e ao investimento público.
Whitaker decretou ainda o fim “temporário” da intervenção brasileira no mercado do café, baseado na tese de que a queda decorrente dos preços do café beneficiaria o Brasil ao eliminar do mercado os produtores marginais e menos eficientes. 
Durante a gestão Whitaker o país recebeu a visita de uma missão do FMI, cujo resultado foi o chamado “Relatório Bernstein”, que apresentava como alternativas para a reforma cambial no Brasil i) a desvalorização e unificação do câmbio, mantendo os leilões cambiais para importação e ii) o abandono do regime de taxas fixas, com a instituição de um mercado livre.
A reforma realmente elaborada estipulava um regime cambial unificado por meio de taxas flutuantes, mantendo um regime diferenciado para o café. No entanto, esse projeto foi sepultado pelo Congresso, tendo em vista as eleições presidenciais.
 
Índice Cronológico
setembro de 1954: Gudin embarca para Washington (reunião anual do FMI). Consegue US$ 80 milhões de empréstimo da instituição e acerta outro de US$ 200 milhões com um consórcio de bancos privados.
Outubro de 1954: Instituídas as seguintes Instruções da Sumoc: 105 (fixava os juros pagos aos depósitos a vista e a prazo em 3% e 7% ao ano), 106 (elevava a taxa de redesconto das promissórias de 6 para 10% e das duplicatas de 6 para 8%) e 108 (aumentos dos compulsórios sobre depósitos a vista de 4 para 14% e a prazo de 3 para 7%). Tornava-se explícita a orientação contracionista do governo.
Novembro de 1954: Instrução 109 da Sumoc: fixou-se a bonificação para a venda de café no mercado internacional (a política vigente anteriormente estabelecia que essas bonificações flutuariam conforme o mercado)
Janeiro de 1955: Instrução 112 da Sumoc: Governo eleva as bonificações para os demais produtos de exportação (incluindo algodão e cacau) 
27 de janeiro de 1955: É publicada a Instrução 113 da Sumoc, que concede significativos instrumentos para a entrada de capitais externos no país.
Fevereiro de 1955: Dada a insatisfação da cafeicultura diante daquilo que chamou-se de “Confisco cambial”, o governo volta atrás e equipara a bonificação do café com a das demais mercadorias (Instrução 114 da Sumoc).
4 de abril de 1955: Gudin deixa o governo em virtude da pressão da cafeicultura paulista. Assume o ministério em seu lugar o banqueiro paulista José Maria Whitaker.
Abril de 1955: Whitaker suspende temporariamente a compra de café, insatisfeito com a prática intervencionista do governo brasileiro na sustentação dos preços mínimos do café, que acabava privilegiando os concorrentes do produto nacional.
Maio de 1955: Através da Instrução 116 da Sumoc Whitaker revoga as Instruções 106 e 108 assinadas por Gudin. Os compulsórios e redescontos voltaram aos níveis anteriores.
Agosto de 1955: Forte geada força o governo a adotar uma desvalorização gradual do câmbio-café.
Setembro de 1955: Reforma cambial. Unificação do câmbio através de taxas flutuantes, com um regime diferenciado para o café (a fim de eliminar os efeitos do “confisco cambial”).
Contexto internacional – O período é marcado pela indisposição do governo Eisenhower em financiar o endividamento dos países latino-americanos. Essa decisão apenas reforça uma tendência já verificada, em diferentes intensidades, durante todo o pós-guerra, como atesta o fim prematuro da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) já no governo Vargas. O país viu-se então forçado a negociar, na gestão Gudin, empréstimos junto ao setor financeiro privado internacional, criando ainda mecanismos para atrair a entrada de capital (Instrução 113 da Sumoc). No ministério de Whitaker o governo estabeleceu contatos com o FMI a fim de implementar uma reforma cambial.
 
Política Monetária – Fortemente contracionista durante o ministério Gudin. O ministro implementou medidas que aumentavam os juros, compulsórios e redescontos (Instruções 105,106 e 108 da Sumoc). Esse período é considerado como um dos mais efetivos na condução de uma política de cunho restritivo-ortodoxo já implementadas no país, resultando numa significativa crise de liquidez. Já na gestão Whitaker essa política de estabilização é seriamente afetada pelas medidas que revogaram as instruções que implementavam uma política monetária creditícia. Esse período também é marcado pela ampliação do crédito ao setor produtivo, especialmente a agricultura.
Política Fiscal – Gudin considerava o processo inflacionário como fruto da expansão monetária (já combatida pelo programa contracionista descrito acima) e dos déficits públicos. Para combater esse segundo ponto, Gudin pretendia ampliar a arrecadação mediante a elevação da carga tributária, e reduzir as despesas. Devido às dificuldades de aprovar no Congresso uma medida impopular, Gudin só conseguiu uma redução da dotação de verbas para os ministérios, reduzindo a participação do governo na formação bruta do capital.
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Capítulo 7– Democracia com Desenvolvimento – 1956-61
Luiz Oreinstein e Antônio Cláudio Sochaczewski
(Bruno Carazza)
O Brasil encontrava-se em meados da década de 1950 num dilema que envolvia a necessidade de levar adiante o processo desenvolvimentista de substituição de importações e a queda no saldo disponível das divisas internacionais. A diminuição das receitas de exportação e o aumento das importações – que determinavam o desajuste externo – contrastava com a necessidade de aumentar a entrada de bens de capital e matérias-primas para incentivar o crescimento industrial. A única solução viável para esse problema de Balanço de Pagamentos (BP) seria a entrada líquida de capitais autônomos, a fim de manter alta a taxa de investimento e não afetar o fluxo de importações. Para tanto o governo JK tomou como uma das medidas iniciais de seu governo a criação de um arcabouço institucional para estimular a entrada de capital, mesmo que isso se desse a custo de maiores pressões no BP.
O governo levou adiante ainda uma reforma cambial (1957), reduzindo as taxas múltiplas (de 5 para 2, a geral e a especial, que tornava certas importações mais caras), impondo tarifas ad-valorem e desvinculando recursos obtidos com os leilões cambiais (permitindo assim maior flexibilidade de gastos do setor público). De um modo geral essa reforma buscou compatibilizar a contradição entre prover a importação a baixo custo de equipamentos e matérias-primas e estimular a produção interna.
Essa determinação em levar adiante com maior fôlego o processo de desenvolvimento era evidente desde a posse do governo. Além dessas medidas de reforma cambial e estímulo à entrada de capitais, o governo JK já no início de 1956 criou o Conselho de Desenvolvimento, encarregado de elaborar o que no final do ano foi lançado como Plano de Metas, que resumia os objetivos de atuação das esferas pública e privada no estímulo ao crescimento econômico.
O Plano de Metas baseou-se nos diagnósticos elaborados por programas como o CEPAL-BNDE (1953), e da Comissão Mista Brasil Estados Unidos (CMBEU, segundo governo Vargas), que definiam áreas-chave de investimento e os pontos de gargalo da economia brasileira. O plano trabalhava com um espaço de tempo de 5 anos e definiao campo de atuação do Estado em investimentos em áreas básicas e de infra-estrutura e no estímulo aos investimentos privados. Contemplava-se cinco áreas principais: energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação, além da construção de Brasília (que não estava orçada no Plano). Do total de recursos necessários para tanto, 71,3% se concentrariam nos setores de energia e transporte (quase que totalmente arcados pelo setor público), 22,3% na indústria de base (envolvendo o setor privado, financiado por entidades públicas) e apenas 6,4% para os setores de alimentação e educação. O desembolso ficaria em 50% a cargo do setor público, 35% viria da esfera particular e 15% de agências internacionais que financiariam programas tanto públicos quanto privados.
Lessa (1981) define quatro pontos básicos para o Plano de Metas:
Tratamento especial para o capital estrangeiro
Financiamento dos gastos públicos e privados via expansão dos meios de pagamento e do crédito – provocando forte pressão inflacionária.
Ampliação da participação do setor público na formação bruta de capital.
Estímulo à iniciativa privada – através de reserva de mercado para a produção nacional (lei do similar nacional), câmbio preferencial para a importação de bens de capital para setores especiais (automobilística e naval, por exemplo) e crédito com carência e juros subsidiados do BNDE e do Banco do Brasil.
O governo previa para os anos seguintes um déficit decrescente do BP, alcançando o equilíbrio em 1961. Estabelecia-se uma meta inflacionária de 13,5% ao ano e déficits orçamentários de 2,2% do PIB por parte do setor governamental – o que parece incompatível, uma vez que a única forma de se financiar esse déficit seria a emissão de moeda, o que desencadearia uma série de pressões inflacionárias.
No final do período pode-se constatar que a maioria das metas específicas do Plano de Metas alcançaram altas taxas de realização (referentes a expansão da malha rodoviária, energia, produção industrial, etc.). O PIB cresceu à taxa média anual de 8,2% (o PIB per capita cresceu 5,1%) e a inflação média, porém, ficou em 22,6% ao ano – ambas superiores ao objetivo, só que a primeira com efeito positivo e a segunda, negativo. O período apresentou ainda fortes déficits no BP, resultado da queda dos preços do café e da estagnação de outros componentes da pauta de exportação de 1958 a 60.
Pode-se delinear como impactos do Plano de Metas a preocupação com os pontos de estrangulamento da infra-estrutura e a modernização e ampliação do parque industrial, ainda que às custas do aprofundamento das desigualdades sociais e regionais. As principais dificuldades enfrentadas no período foram a ausência de definição dos mecanismos de financiamento das metas (como por exemplo a elevação da carga fiscal, dado a pouca expressividade do sistema financeiro nacional), a resistência do empresariado frente a medidas de controle inflacionário e a atitude dúbia da política monetária, ao tentar tornar compatíveis metas antagônicas como crescimento, estabilidade, altos lucros e baixo custo de vida.
O papel do setor público
Além da tendência verificada desde o início dos anos 50 de atribuir ao setor público a solução para os problemas de infra-estrutura que dificultassem a industrialização, a partir da segunda metade da década delega-se também ao Estado o provimento de insumos básicos. O governo controlava nesse período as três maiores siderúrgicas do país (CSN, Cosipa e Usiminas), detinha o monopólio da produção e refino do petróleo (Petrobrás), produção e exportação do minério de ferro (CVRD), participação crescente no setor energético (CHESF, Furnas), importância fundamental nos transportes (através da RFFSA, Lloyd Brasileiro, DNER e DER) e ainda o controle sobre o crédito (Banco do Brasil) e a comercialização do café, cacau, borracha, açúcar, etc. através dos vários institutos.
O governo contou como suas principais fontes de recursos no período o imposto sobre o consumo, imposto de renda e o saldo de ágios e bonificações do imposto de importações. A participação da receita do governo no PIB, que permaneceu entre 19 e 20% até 1957, chegou a 23.2% no auge do Plano de Metas. 
No entanto o governo ampliou o peso de seus gastos de 19% do PIB em 1952 para 23,7% em 1961, colocando em risco a capacidade de poupança do setor público. Os investimentos do setor público concentraram-se no setor industrial (química e mineração, mais transportes e comunicações a partir de 1958, com a formação da RFFSA). Ao exercer uma demanda autônoma de investimentos, o Estado exerceu posição central para a sustentação do ciclo econômico, principalmente para o setor de bens de capital.
Políticas fiscal e monetária
Durante o governo JK as políticas monetária e fiscal ficaram para segundo plano, ficando vinculadas ao processo de industrialização.
No campo monetário a política econômica era gerenciada pela Sumoc, Banco do Brasil e pelo próprio Tesouro. Cabia à Sumoc a política cambial, a fixação das taxas de redesconto e compulsórios, a fiscalização do capital estrangeiro e dos bancos comerciais e as operações de open market. O Tesouro emitia papel-moeda e amortizava-o através da Caixa de Amortização. As funções do Banco do Brasil, no entanto, eram as mais contraditórias.
Ao Banco do Brasil estava delegada a operação da carteira de redescontos (para crédito seletivo e de liquidez) e da caixa de mobilização bancária (emprestador de última escolha), operava ainda a carteira de câmbio e de comércio exterior (Cacex) – implementando decisões da Sumoc. O Banco do Brasil recebia ainda a arrecadação tributária e efetivava os pagamentos da união (banco do Tesouro), sendo responsável ainda pelo serviço de compensação de cheques e o depósito das reservas voluntárias dos bancos comerciais.
A ambigüidade das funções do Banco do Brasil residia no choque entre seus papéis de banco comercial e autoridade monetária (não existindo limites rígidos à emissão de papel-moeda) e por outro lado de depositário das reservas dos bancos comerciais e ele mesmo sendo um banco comercial (não havendo limite para suas operações ativas). Durante o período JK a cobertura do déficit de caixa governamental se fez quase que exclusivamente através de empréstimos do Banco do Brasil ao Tesouro. Como o BB exercia funções de banco central e banco comercial, qualquer crédito contra ele tornava-se base monetária (e não moeda escritural secundária). Logo, a cobertura dos déficits do Tesouro com crédito em conta corrente no Banco do Brasil representava expansão primária dos meios de pagamento.
Além dessa controversa atuação do Banco do Brasil, o governo encontrava dificuldades na utilização dos instrumentos tradicionais de política monetária para restringir a expansão do crédito: i) as operações de open market eram praticamente inexistentes, pois não havia um montante suficiente de letras do Tesouro em circulação, ii) as autoridades relutavam em utilizar o depósito compulsório, uma vez que esse meio seria lento e de grande impacto, iii) o redesconto também foi pouco utilizado. As autoridades monetárias contaram então com dois instrumentos heterodoxos: a manipulação dos empréstimos das diversas carteiras do BB e a compra e venda de divisas de câmbio – as chamadas PVCs (Promessas de Venda de Câmbio).
Dessa forma a eliminação do déficit do Tesouro só poderia se dar através do aumento da receita tributária (que se fazia desinteressante para o Congresso), lançamento de títulos da dívida pública (havia no entanto restrições com relação ao patamar de sua taxa de juros) e a compressão de despesas – afetando diretamente o investimento, pois o funcionalismo público era bastante forte. Como a inflação havia saltado de 7% (57) para 24,3% (58), Lucas Lopes assumiu o Ministério da Fazenda encaminhando ao Congresso o Programa de Estabilização Monetária. Seus principais objetivos: num primeiro momento, reduzir o ritmo da inflação mediante distribuição de renda e orientação de investimentos

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