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RESCISÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA trabalhista

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RESCISÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA
 PROCESSO Nº (xxx)/92
 REQUERENTE: INSTITUTO (XXX)
 REQUERIDO: (XXX)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O INSTITUTO (XXX), autarquia municipal criada pelo Decreto Municipal nº (xxx), inscrito no C.G.C. com o nº (xxx), com sede e foro jurídico nesta Capital, por sua Procuradoria Judicial abaixo assinada, recebendo intimações atinentes ao presente processo na Rua (xxx), Centro, em Fortaleza/CE, vem, de maneira muito respeitosa, perante Vossa Excelência propor contra (XXX), já sobejamente identificada nos autos do processo n.º (xxx)/92 (MM. (xxx)ª JCJ de Fortaleza/CE), a presente AÇÃO RESCISÓRIA com pedido de TUTELA ANTECIPADA, com fundamento no art. 485, inciso V; art. 273, inciso I; e art. 461, §3.º do Código de Processo Civil (doravante chamado de CPC), alicerçado nas razões de fato e de direito explicitadas a seguir, requerendo, ao final, o seguinte:
 
 
 
 DOS FATOS
 
 
 01. A requerida, por via de reclamação trabalhista, ajuizada em 22 de Setembro de 1992 pleiteou contra o requerente o piso salarial à base de 2,1 salários mínimos, baseado no Decreto Municipal n.º 7.153/85.
 
 
 02. A MM. (xxx)ª JCJ de Fortaleza julgou improcedente o pedido da requerida (então reclamante), acolhendo a argüição de prescrição do requerente (então reclamado), na forma do art. 269, IV, do CPC.
 
 
 03. Não conformada, a requerida interpôs Recurso Ordinário para o E. TRT da 7ª Região, com intuito de reformar a decisão recorrida. O Ministério Público do Trabalho, ao dar seu parecer através do Procurador Regional do Trabalho Francisco Adelmir Pereira, disse: "é de se confirmar a sentença com base em sua própria e jurídica fundamentação (...) desta forma, é de se manter a sentença, acatando-se as contra-razões". (do Recurso Ordinário) (fl.73). Também a juíza relatora do TRT, (xxx), em seu relatório, opinou pela confirmação da sentença. (fl. 76). O Egrégio TRT, por sua vez, acordou por unanimidade conhecer do recurso e, por maioria, dar-lhe parcial provimento para julgar não prescrito o pedido da reclamante e determinar o retorno dos autos a MM. (xxx)ª JCJ de origem para complementação da prestação jurisdicional. (fls. 81 e 82)
 
 
 04. A MM. (xxx)ª JCJ, em novo julgamento, julgou procedente em parte a reclamatória, para condenar o reclamado "a pagar à parte diferenças salariais entre o piso reconhecido (2,1 salários-mínimos) e o efetivamente pago (este a ser apurado em liquidação), a partir da data em que deixou de ser descumprido, até a instituição do RJU; reflexos de tais diferenças nas férias, 13º salários, FGTS e demais verbas vinculadas ao vencimento base, tudo a ser apurado na liquidação por artigos.
 
 
 05. Em Recurso interposto por ambas as partes, cada uma delas propôs a modificação da sentença da MM. JCJ, no sentido de ou tornar totalmente procedente o pedido da reclamatória (vontade da reclamante), ou retornar à primeira decisão da MM. JCJ (vontade do reclamado), não baseado na prescrição do direito da reclamante, mas em sua inconstitucionalidade, que mais à frente será fundamentada. Após isso, o E. TRT julgou procedente o pedido da reclamante, deferindo a ela todo o conteúdo do pedido da reclamatória.
 
 
 06. Após a decisão do E. TRT da 7ª Região, o reclamado - Instituto (XXX) - pleiteou Recurso de Revista da decisão (de última instância) para o STF, com fundamento no art. 896 da Consolidação das Leis do Trabalho, com redação dada pela Lei n.º 7.701, de 21 de Dezembro de 1988, por ter a proferida decisão daquele Egrégio Tribunal violado literal dispositivo de Lei Federal. O recorrente, no conteúdo do recurso interposto, reclamou com fundamentação legal e jurisprudencial todo o direito que já havia sido pleiteado. ENTRETANTO, a então presidenta do E. TRT da 7ª Região, a Exª. Juíza (xxx), negou seguimento ao apelo, "à míngua de amparo legal", nas palavras da própria Exª. Juíza (fl. 179), que também afirmou: 
 
 "Este Tribunal já decidiu, reiteradas vezes, que a vedação a que se referem os arts. 7º e 37 da CF/88, não se aplica ao contrato laboral, mas sim, a outros tipos de contrato, tais como, os de locação, os comerciais etc." (grifo nosso).(fl. 179)
 
 
 
 DO CABIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA (E SUA TEMPESTIVIDADE), E DO CABIMENTO (FUNDAMENTADO) DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
 
 
 07. Dispõe o art. 485, do CPC, que a sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
 
  "...........................
 
 V. Violar literal disposição de lei.
 
 ..........................."
 
 
 08. Tendo a sentença rescidenda transitada em julgado, em 10 de Janeiro de 2000, consoante atesta a certidão expedida pela Secretaria da MM. (xxx)ª JCJ (documento em anexo), encontra-se o requerente no curso do biênio legal para propor a ação rescisória (art. 495 do CPC), restando-lhe demonstrar a violação do dispositivo de lei, que será feito oportunamente.
 
 
 09. Dispõe também o art. 273, caput, do CPC, e seu inciso I:
 
 "Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, EXISTINDO PROVA INEQUÍVOCA, se convença da VEROSSIMILHANÇA da alegação e: (grifo nosso)
 
 
 I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. "
 
 
 10. Diz ainda o artigo 461, caput, e seu §3.º:
 
 "Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER, o juiz concederá a tutela específica da obrigação, ou, SE PROCEDENTE O PEDIDO, DETERMINARÁ PROVIDÊNCIAS QUE ASSEGUREM O RESULTADO PRÁTICO equivalente ao do adimplemento. (grifos nossos). 
 
 ............................................
 
 §3.º SENDO RELEVANTE O FUNDAMENTO DA DEMANDA E HAVENDO JUSTIFICADO RECEIO DE INEFICÁCIA DO PROVIMENTO FINAL, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada." (grifos nossos).
 
 11. Quanto à tutela antecipada, fazem-se necessários alguns comentários. Observa KAZUO WATANABE que: 
 "o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, inscrito no inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal, não assegura apenas o acesso formal aos órgãos judiciários, mas sim ao acesso à Justiça que propicie a efetiva e tempestiva proteção contra qualquer forma de denegação da justiça e também o acesso à ordem jurídica justa. Cuida-se de um ideal que, certamente, está ainda muito distante de ser concretizado, e, pela falibilidade do ser humano, seguramente jamais o atingiremos em sua inteireza. Mas a permanente manutenção desse ideal na mente e no coração dos operadores do direito é uma necessidade para que o ordenamento jurídico esteja em constante evolução." (KAZUO WATANABE. Tutela Antecipatória e Tutela Específica das Obrigações de fazer e não fazer - arts. 273 e 461 do CPC, in SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA. Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo, Saraiva, 1996, p.20). 
 
 Destaca FEDERICO CARPI que:
 
 "a tutela jurisdicional dos direitos e dos interesses legítimos não é efetiva se não é obtenível rapidamente. (La tutela d'urgenza fra cautela, "sentenza anticipata" e giudizio di mérito, Relazione in XV Convegro Nazionale, Bari, 1985, p.4). 
 
 Assim, justifica-se a antecipação de tutela pelo princípio da necessidade, a partir da constatação de quem sem ela a espera pela sentença de mérito importaria denegação de justiça, já que a efetividade, da prestação jurisdicional restaria gravemente comprometida. Reconhece-se, assim, a existência de casos em que a tutela somente servirá ao demandante se deferida de imediato.
 
 
 12. Observamos ainda, no tocante à tutela antecipada, que uma aparente dificuldade facilmente seria suscitada por alguém, no intuito de não ver prevalecer esse moderno, lícito, puro e utilíssimo remédio que, apesar de novo em nosso processo, não é uma perspectiva nova, sendo nova em nossa época e em nossos ordenamentos tão-somente a consciência de que a tutela de direitos einteresses legítimos :"não é efetiva se não é obtida rapidamente", como já citado foi na do renomado jurista italiano Federico Carpi. Poderia alguém suscitar a idéia de incompatibilidade entre tutela antecipada e direitos fundamentais. Ora, à primeira vista se tem a noção de ser a tutela antecipada uma providência inconciliável com a garantia do devido processo legal e, especificamente, com a garantia do contraditório e ampla defesa, todas merecedoras de solene consagração entre os direitos fundamentais declarados pela Constituição.     
 
 Acontece, todavia, que as múltiplas garantias fundamentais nem sempre são absolutas e, muito freqüentemente, entram em atrito umas com as outras, reclamando do aplicador um trabalho de harmonização ou compatibilização, para definir, na área de aparente conflito, qual o princípio a prevalecer. 
 
 Ao legislar ordinariamente, o Estado procura justamente cumprir a missão prática de superar as colisões de princípios, elegendo em determinadas situações da vida a garantia constitucional a ser valorizada para predominar. 
 
 O ideal é, sem dúvida, que todos os princípios constitucionais prevaleçam plenamente, sem restrição alguma. Mas, como tal não se revela possível, dentro mesmo do complexo das normas da Carta Magna, resta lançar mão de princípios exegéticos como o da necessidade e o da proporcionalidade. 
 
 Pelo princípio da necessidade somente se admite uma solução limitadora do direito fundamental, quando é real o conflito entre diversos princípios todos de natureza constitucional. Pelo princípio da proporcionalidade o que se busca é uma operação que se limite apenas ao indispensável para superar o conflito entre os aludidos princípios, harmonizando-os, na medida do possível. Não cabe, porém, ao intérprete, a simples anulação de um princípio, para total observância de outro. É preciso preservar, quanto possível, as garantias momentaneamente antagônicas, sem privar qualquer delas de sua substância elementar. (CANOTILHO. Direito Constitucional. 5ª ed., Ed. Almedina, 1992, pp. 628 e 630; PAULO BONAVIDES. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed., São Paulo, Malheiros, 1993, p. 344 e segs.). 
 
 No caso da tutela antecipada estão em jogo dois grandes e fundamentais princípios, ou seja, o da efetividade da tutela jurisdicional e o da segurança jurídica. 
 
 Quando a Constituição garante o acesso à Justiça, por meio do devido processo legal, não o faz com o propósito de criar regras apenas formais de procedimento em juízo. O que, na verdade, se está garantindo é a tutela jurídica do Estado a todos, de maneira a que nenhuma lesão ou ameaça a direito fique sem remédio. O processo, nessa ordem de idéias, tem de apresentar-se como via adequada e segura para proporcionar ao titular do direito subjetivo violado pronta e efetiva proteção. O processo devido, destarte, é o processo justo, apto a propiciar àquele que o utiliza uma real e prática tutela. 
 
 A demora na resposta jurisdicional muitas vezes invalida toda eficácia prática da tutela e quase sempre representa uma grave injustiça para quem depende da Justiça estatal. Daí a necessidade de mecanismos de aceleração do procedimento em juízo. 
 
 Sob outro ângulo, o litigante tem constitucionalmente assegurado o direito de não ser privado de seus bens e direitos sem contraditório e ampla defesa (princípio da segurança jurídica). Muitas vezes, porém, entre a necessidade de efetiva tutela ao titular do direito subjetivo e a garantia ao seu opositor das amplas faculdades inerentes ao contraditório, se estabelece uma flagrante contradição, porquanto se se tem de aguardar todo o longo iter da ampla defesa, a tutela que afinal vier a ser deferida não corresponderá a qualquer utilidade para o titular do direito subjetivo que estava a clamar por proteção judicial. 
 
 Urge, então, harmonizar os dois princípios - o da efetividade da jurisdição e o da segurança jurídica - e não fazer com que um simplesmente anule o outro. 
 
 É claro que o princípio do contraditório não existe sozinho, mas em função da garantia básica da tutela jurisdicional. Logo, se dentro do padrão normal o contraditório irá anular a efetividade da jurisdição, impõe-se alguma medida de ordem prática para que a tutela jurisdicional atinja, com prioridade, sua tarefa de fazer justiça a quem a merece. 
 
 Depois de assegurado o resultado útil e efetivo do processo, vai-se, em seguida, observar também o contraditório mas já em segundo plano. 
 
 Assim, para evitar que o autor se veja completamente desassistido pelo devido processo legal, procede-se a medidas como as cautelares e as de antecipação de tutela. Isto se faz logo, porque não há outro caminho para assegurar a tutela de mérito ao litigante que aparenta ser o merecedor da garantia jurisdicional. No entanto, o adversário não fica privado do devido processo legal, porque depois da antecipação, que se dá em moldes de provisoriedade, abre-se o pleno contraditório e a ampla defesa, para só afinal dar-se uma solução definitiva à lide. 
 
 "Aqui" - lembra CALMON DE PASSOS - "dois valores constitucionais conflitam. O da efetividade da tutela e o do contraditório e ampla defesa. CASO A AMPLA DEFESA OU ATÉ MESMO A CITAÇÃO DO RÉU IMPORTE CERTEZA DA INEFICÁCIA DA FUTURA TUTELA, SACRIFICA-SE, PROVISORIAMENTE, O CONTRADITÓRIO, PORQUE RECUPERÁVEL DEPOIS, ASSEGURANDO-SE A TUTELA QUE, SE NÃO ANTECIPADA, SE FARIA IMPOSSÍVEL NO FUTURO" (Da antecipação da tutela in SÁLVIO DE FIGUEIREDO. Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo, Saraiva, 1996, p. 189). 
 
 Assim, o que se faz, para harmonizar os dois princípios fundamentais, é apenas uma INVERSÃO DA SEQÜÊNCIA CRONOLÓGICA de aplicação de seus mandamentos. 
 
 O juiz, evidentemente, cuidará para que esta inversão não se torne regra geral, pois dentro da garantia fundamental do devido processo legal e do contraditório, a garantia normal é a de que a agressão patrimonial do Estado sobre a esfera jurídica da parte vencida somente ocorra depois de percorrida a trajetória do procedimento com ampla discussão e defesa e, por conseguinte, após a formação da coisa julgada. 
 
 Mas, se se torna necessária a inversão da seqüência para evitar que o titular do direito subjetivo se veja sonegado do acesso a uma tutela justa e efetiva da jurisdição, é claro que SE PODE E DEVE AGIR DENTRO DOS MOLDES DO JÁ ANUNCIADO PODER DE TUTELA ANTECIPADA, previsto no art. 273 do CPC. 
 
 
 
 
 DO DIREITO
 
 
 13. A sentença que condenou o Instituto (xxx) a implantar o piso salarial de 2,1 salários mínimos é INCONSTITUCIONAL, dentro da lógica preceitual da Constituição da República Federativa do Brasil, posto que o inciso IV do art. 7º da Lei Máxima, quando fala do salário mínimo, é pungentemente inquestionável, quando afirma ser VEDADA SUA VINCULAÇÃO PARA QUALQUER FIM. 
 
 Ora, a Constituição Federal, ao preceituar tal norma, demonstra caráter nítido e explícito no tocante ao assunto que trata. Não se faz necessário um profundo conhecimento hermenêutico ou filosófico, nem mister se faz valer-se de interpretações teleológicas, ontológicas ou demais métodos interpretativos (neste caso), visto que apenas pelo método de interpretação gramatical (e dizemos isso sem temor de parecermos superficiais ou negligentes para com a complexidade do direito), repito, gramaticalmente e somente por este método podemos entender o completo conteúdo da intenção do legislador constituinte (no caso desta norma contida no inciso IV do art. 7º da Constituição), que quando afirma ser vedada vinculação do salário mínimo para qualquer fim, NÃO usou tal expressão somente com caráter alegórico ou em sentido estrito, mas de forma abrangente, com intenção de coibir a adaptação da Lei à vontade individual de determinados grupos, sejam eles grupos sindicais, políticos ou judiciários. "Qualquer fim", ao nosso ver, e ao modo de ver do E. Tribunal Superior do Trabalho (e creio eu que na visão do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho), não significa "qualquer fim, menos fim tal", como defendeu a Exª.Juíza (xxx), do TRT da 7ª Região, ao afirmar, como já citado nesta ação, no tópico 06:
 
 "Este Tribunal já decidiu, reiteradas vezes, que a vedação a que se referem os arts. 7º e 37 da CF/88, não se aplica ao contrato laboral, mas sim, a outros tipos de contrato, tais como, os de locação, os comerciais etc." (grifo nosso).(fl. 179)
 
 Ora, E. Tribunal, data vênia, que autoridade tem qualquer ente, seja ele juiz ou tribunal, ou quem for (e dizemos isto mui respeitosamente, sem intenção de desmerecer a competência, capacidade, idoneidade, aptidão, ou habilidade de raciocínio ou interpretação de qualquer juiz ou tribunal) para desconstituir preceito fundamental da Carta Magna, sem tornar-se inconstitucional? Quem conferiu autoridade a quem quer que seja para alterar normas tão claras e precisas da Lei Máxima, fora do procedimento previsto por ela própria? 
 
 Assim, vemos tal disposição de lei como perfeita e irremediavelmente vinculada, não sendo facultado a ninguém, por mais alta seja sua função ou atribuição jurídica, para selecionar (em critério discricionário, para não falarmos em critério arbitrário) a que matéria (ou, por exemplo, a que tipo de contrato) se aplica preceito constitucional "x" ou "y", se a própria Constituição da República Federativa do Brasil (que, muito embora tenha muitas interpretações, tem uma única verdade, uma única intenção, um único objetivo centrais) não faz distinção, mas tão-somente veda a vinculação do salário mínimo PARA QUALQUER FIM.
 
 Ora, C. Tribunal, confirmar tal decisão seria fazer a apologia da "privatização" da Constituição Federal de 1988 aos interesses e idéias individuais; seria violentar esta Nobre Lei, que já tem sido tão maltratada em seus recentes anos de vida. Aceitar tal seleção de incidência seria tornar fraco e questionável todo o ordenamento jurídico, fazendo com que surgissem brechas para atitudes de desrespeito e inconformação para com a Lei das leis. Recepcionar tal pensamento seria vilipendiar os alicerces de toda a estrutura jurídica da Nação, sujeitando a Lei Maior - que é intertemporal e abrangente - à vontade humana, que é temporal, restrita e infinitamente variável, sendo inevitável a divergência de opiniões (que mudam, passam, surgem, morrem, renascem, arquivam-se), diferentemente da rigidez ideológica da Lei Maior, que é o corolário da segurança jurídica e garantia dos direitos fundamentais e da perfeita prestação jurisdicional.
 
 Assim, defendemos apaixonadamente a integridade da Constituição, e não somente o direito pleiteado, com a convicção de que o desrespeito à menor norma constitucional é desrespeito a todo o corpo da Carta Magna, e ameaça a todos os direitos fundamentais e às garantias individuais (parafraseando Ihering), como também pouco caso à soberania constitucional.
 
 Desta forma exposto, não vemos como falar em direito adquirido, como pleiteia a requerida, visto que o decreto municipal n.º 7.153 de 19 de Setembro de 1985 em que se baseia o pedido da reclamatória inicial NÃO FOI RECEPCIONADO pela Constituição Federal de 1988, por trazer dispositivo que contraria determinação clara e precisa da Lei Maior, quando tal decreto estabelecia o piso de 2,1 salários mínimos para funções trabalhistas exercidas pelas reclamantes. Pela TEORIA DO PRINCÍPIO DA RECEPÇÃO, deve a supremacia da Magna Carta ser notória, não permitindo que sua rigidez sofra abalos por leis anteriores que contrariem dispositivos constitucionais.
 
 Não se pode falar em direito adquirido, se o dispositivo do decreto municipal que vinculava o salário mínimo ao piso hoje não encontra mais fundamento constitucional; não é lícita (ou pelo menos bom senso não há) na voz que levanta-se para reivindicar o direito mau, o direito ilegal, o direito que é não-direito, o direito que é injusto e rebelde, o direito insubmisso, o direito anárquico que, visando somente o próprio interesse - em detrimento da justiça - desconhece o direito de todos, ao tentar iludir a opinião de grandes juristas com argumentos injustos e de má-fé, o argumento que quer abrir exceções onde a norma não as admite nem as relaciona, o argumento que intenta rasurar a obra-prima por esta não lhe ser agradável aos olhos, embora encante a humanidade.
 
 Por fim, não há que se falar em direito adquirido quando a Constituição Federal não o legitima; não se pode clamar pelo direito que é irreal, pelo direito imoral, pelo direito que ofende a supremacia da Lei que não se revoga senão pela vontade constituinte legítima e originária.
 
 
 14. Dispõe a Orientação Jurisprudencial n.º 71 da C. SBDI-2 da Corte Superior Trabalhista acerca da vinculação do salário mínimo:
 
 SBDI-2. Nº 71 - AÇÃO RESCISÓRIA. VINCULAÇÃO DO SALÁRIO DO SERVIDOR PÚBLICO AO SALÁRIO MÍNIMO. VIOLAÇÃO DO ART. 7º, IV, DA CF/1988. Viola o art. 7º, IV, da CF/1988, ensejando a procedência de ação rescisória, decisão que defere reajuste de vencimentos a empregado público com base em vinculação ao salário mínimo.
 
 Assim, é clara a intenção jurisprudencial no sentido de desvincular totalmente o salário mínimo de qualquer fim, neste caso, ao vencimento do empregado público. 
 
 
 15. Em ação rescisória movida pelo Município de São Caetano do Sul contra a sentença rescidenda que garantia o piso salarial de 2 (dois) salários mínimos ao funcionário municipal Walter Perez Scaranto e outros (Processo nº (xxx)/95 da MM. 1ª JCJ de São Caetano do Sul - atualmente Vara do Trabalho), foi esta a decisão do E. TST, em relação à decisão do E. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região:
 
 "O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região julgou improcedente a Ação Rescisória, ao entendimento assim ementado":
 
 "AÇÃO RESCISÓRIA - DIFERENÇAS SALARIAIS - DECISÃO RESTAURADORA DE LEI MUNICIPAL QUE DISCIPLINAVA O PISO SALARIAL DE DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS - AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI - A decisão que, julgando subsistente a lei municipal que determinava em dois salários mínimos o piso salarial dos servidores, rechaçou a revogação feita pelo Município não fere o mencionado artigo 3º da Lei 7.789/89, nem o inciso IV do artigo 7º da CF; ao contrário, baseia-se em garantias constitucionais, como o respeito à irredutibilidade salarial e ao direito adquirido, restando improcedente o pedido de corte rescisório" (fl. 501). (decisão do E. TRT da 2ª Região) 
 
 Veja-se que tal decisão do Ilustre Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região não foi aceita pelo Egrégio Tribunal Superior do Trabalho, e difere totalmente da visão deste. A seguir, sua decisão: 
 
  "Entendo todavia que, aqui também, merece agasalho a pretensão do Município, ora Recorrente. Sabidamente, o Decreto-Lei nº 2.351/87, visando fortalecer o salário mínimo, desvinculou-o de sua função de indexador econômico, passando a denominá-lo de piso nacional de salário, transferindo a função indexadora para o salário mínimo de referência. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º, inciso IV, vedou a vinculação do salário mínimo para qualquer fim. Mesmo assim, a Lei Municipal nº 2.961, de 14/10/88, do Município de São Caetano do Sul, fixou o piso remuneratório de seus servidores em 02 (dois) pisos nacionais de salários (art. 3º).
 A Lei Federal nº 7.789/89 veio a revogar, no âmbito nacional, o Decreto-lei nº 2.351/87, reunificando o salário mínimo. E, no âmbito municipal, a Lei Municipal nº 3.183, de 21/01/92, revogou a de nº 2.961/88, deixando de reajustar os salários dos servidores municipais celetistas de São Caetano do Sul com base nos reajustes do salário mínimo. Por outro lado, a discussão em tela encontra-se totalmente suplantada pela Orientação Jurisprudencial nº 71 da C. SBDI-2 d esta Corte Superior Trabalhista, in verbis":
 
 "AÇÃO RESCISÓRIA. VINCULAÇÃO DO SALÁRIO DO SERVIDOR PÚBLICO AO SALÁRIO MÍNIMO. VIOLAÇÃO DO ART. 7º, IV, DA CF/1988 viola o art. 7º, IV, da CF/1988, ensejando a procedência de ação rescisória, decisão que defere reajuste de vencimentos a empregado público com base em vinculação ao salário mínimo" (Precedentes: RXOF-ROAR-585922/1999,Rel. Min. Luciano de Castilho Pereira, DJ 02/02/2001; RXOF-ROAR-613083/1999, Rel. Min. Francisco Fausto, DJ 01/12/2000; RXOF-ROAR-416343/1998, Rel. Min. Ives Gandra, DJ 24/11/2000; RXOF-ROAR-613193/1999, Rel. Min. Ives Gandra, DJ 24/11/2000 e ROAR-209244/1995, Ac. 1953/1997, Rel. Min. Manoel Mendes, DJ 01/08/1997). 
 
 "Na hipótese, a pretensão obreira, ao ajuizar a Reclamação Trabalhista, foi a de garantir os reajustes previstos na Lei Municipal nº 2.961/88, revogada pela Lei Municipal nº 3.183/92 (fls. 33/47), com a manutenção do piso salarial no correspondente a dois mínimos legais. Portanto, é de se concluir que a decisão rescindenda, ao confirmar a sentença de primeira instância (fls. 59/62), que julgou procedente opedido de diferenças salariais decorrentes da manutenção do critério de correspondência do piso salarial dos Reclamantes a 02 (dois) salários mínimos, consoante era determinado pela Lei Municipal nº 2.961/88, VIOLOU INCONTESTEMENTE O DISPOSTO NO ARTIGO 7º, INCISO IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, EXPRESSAMENTE INVOCADO NA PEÇA VESTIBULAR (fls. 02/31). 
 Por esses fundamentos, DOU PROVIMENTO à Remessa de Ofício e ao Recurso Ordinário para, reformando a decisão regional, julgar procedente a Ação Rescisória, desconstituindo a decisão rescindenda (fls. 72/74); e, em juízo rescisório, proferindo novo julgamento, decretar a improcedência a Reclamação Trabalhista (Processo nº 1107/95 da MM. 1ª JCJ de São Caetano do Sul - atualmente Vara do Trabalho), absolvendo o Município de São Caetano do Sul da condenação que deferiu as diferenças salariais e reflexos decorrentes da manutenção do critério de correspondência do piso salarial dos Reclamantes a 02 (dois) salários mínimos, consoante era determinado pelo art. 3º da Lei Municipal nº 2.961/88, invertendo-se o ônus da sucumbência em relação às custas processuais". 
 
 "ISTO POSTO:
 
 ACORDAM os Ministros da Subseção II Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer e dar provimento à Remessa de Ofício e ao Recurso Ordinário para, reformando a decisão regional, julgar procedente a Ação Rescisória, desconstituindo a decisão rescindenda (fls. 72/74); e, em juízo rescisório, proferindo novo julgamento, decretar a improcedência a Reclamação Trabalhista (Processo nº 1107/95 da MM. 1ª JCJ de São Caetano do Sul - atualmente Vara do Trabalho), absolvendo o Município de São Caetano do Sul da condenação que deferiu as diferenças salariais e reflexos decorrentes da manutenção do critério de correspondência do piso salarial dos Reclamantes a 02 (dois) salários mínimos, consoante era determinado pelo art. 3º da Lei Municipal nº 2.961/88, invertendo-se o ônus da sucumbência em relação às custas processuais. Doutro tanto, ainda por unanimidade, pelos princípios da fungibilidade e da instrumentalidade das formas, receber a postulação de tutela antecipada como pedido cautelar para deferir, desde logo, a suspensão da execução que se processa nos autos da reclamação trabalhista n.º 1107/95, em curso perante a MM. 1ª JCJ (atual Vara do Trabalho) de São Caetano do Sul/SP, até o trânsito em julgado da presente decisão rescisória, determinando que se oficie ao juízo de execução, urgentemente, nesse sentido".
 
 Brasília, 12 de Junho de 2001
 
 RONALDO JOSÉ LOPES LEAL
 Ministro no exercício da Presidência
 
 MÁRCIO RIBEIRO DO VALLE
 Juiz Convocado - Relator
 
 
 
 16. Há ainda posicionamento do C. Supremo Tribunal Federal no tocante à vinculação do piso salarial ao salário mínimo. Entende o STF que não é possível a vinculação de múltiplos do salário mínimo com o piso salarial. É possível, evidentemente, ser estabelecido que determinado trabalhador ou classe ganhará 1 (um) salário mínimo, pois ninguém pode ganhar menos que esse valor, sendo assim válida a "indexação" quando não há múltiplo do salário mínimo. Havendo, no entanto, torna-se inconstitucional a vinculação. Abaixo, algumas decisões do C. STF nesse sentido:
 
 "AGRRE-283495/PR - AG. REG. EM RECURSO EXTRAORDINARIO - Relator(a) 
 Min. NÉRI DA SILVEIRA: Julgamento
 Segunda Turma 
 
 Partes: AGTES. : MARIA TEREZINHA RADIGONDA SERRATO E OUTROS. ADVDOS. : ANTÔNIO CONSTANTINO VOLKOV E OUTRO. AGDO. : ESTADO DO PARANÁ. ADVDOS. : PGE-PR - MÁRCIA DIEGUEZ LEUZINGER E OUTRO
  
 Ementa: Servidores públicos estaduais. Magistério. 2. Piso salarial. Impossibilidade de vinculação ao salário mínimo. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento."
 
 Outra decisão do c. STF diz:
 
 "RE-242740/GO RECURSO EXTRAORDINARIO. Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 20/03/2001 - Primeira Turma. 
 
 EMENTA: Pensão especial cujo valor é estabelecido em número de salários mínimos. Vedação contida na parte final do artigo 7º, IV, da Carta Magna, a qual tem aplicação imediata. - Esta Primeira Turma, ao julgar o RE 140.499, que versava caso análogo ao presente, assim decidiu: "Pensões especiais vinculadas a salário mínimo. Aplicação imediata a elas da vedação da parte final do inciso IV do artigo 7º da Constituição de 1988. - Já se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido de que os dispositivos constitucionais têm vigência imediata, alcançando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade mínima). Salvo disposição expressa em contrário - e a Constituição pode fazê-lo -, eles não alcançam os fatos consumados no passado nem as prestações anteriormente vencidas e não pagas (retroatividades máxima e média). Recurso extraordinário conhecido e provido". - Dessa orientação divergiu o acórdão recorrido. - A vedação constante da parte final do artigo 7º, IV, da Constituição, que diz respeito à vinculação do salário mínimo para qualquer fim, visa precipuamente a que ele não seja usado como fator de indexação, para que, com essa utilização, não se crie empecilho ao aumento dele em face da cadeia de aumentos que daí decorrerão se admitida essa vinculação. E é o que ocorre no caso, em que a pensão especial, anteriormente à promulgação da atual Constituição, foi instituída no valor unitário mensal sempre correspondente a seis vezes o salário mínimo, o que implica dizer que o salário mínimo foi utilizado para o aumento automático da pensão em causa sempre que houvesse majoração de seu valor. Isso nada tem que ver com a finalidade do salário mínimo como piso salarial a que qualquer um tem direito e que deve corresponder às necessidades básicas a que alude a Constituição, pois, em casos como o presente, não se está estendendo à pensão a norma constitucional (art. 7º, IV) que diz respeito ao piso salarial - ou seja, que nenhum trabalhador pode perceber menos que o salário mínimo -, o que ocorreria - e aí seria válido o argumento de que a pensão tem por finalidade atender às mesmas garantias que a Constituição concede ao trabalhador - se a pensão em causa fosse estabelecida no valor de um salário mínimo. E não é demais atentar para a circunstância de que, mesmo COM RELAÇÃO A SALÁRIO, A VEDAÇÃO DE SUA VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO SE APLICA SE, PORVENTURA, SE ESTABELECER QUE O SALÁRIO DE CERTO TRABALHADOR SERÁ O DE "VALOR CORRESPONDENTE A ALGUMAS VEZES O SALÁRIO MÍNIMO", POIS AQUI NÃO SE ESTÁ CONCEDENDO A ELE A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ARTIGO 7º, IV, MAS, SIM, SE ESTÁ UTILIZANDO O SALÁRIO MÍNIMO COMO INDEXADOR PARA AUMENTO AUTOMÁTICO DE SALÁRIO DE VALOR ACIMA DELE. Recurso extraordinário conhecido e provido". (grifos nossos). 
 
 
 
 DO PEDIDO
 
 
 
 17. Assim, diante de argumentos que não fogem ao bom senso e que são perfeitamente legais, lícitos, legítimos e constitucionais; diante da Lei Maior, e diante também da decisão (entre tantas existentes no E. TST) a favor do direito que nesta pleiteamos, invocamos a ação deste Egrégio Tribunal para que - em atitude de honra e reverência àquela Lei em que cremos e defendemos, como também ao E. Tribunal Superior do Trabalho, ao C. Supremo tribunal federal, à Justiça e ao puro Direito, e respaldado no art. 485, inciso V do Código de Processo Civil - violação literal disposição de lei - PROMOVAA TOTAL RESCISÃO DA SENTENÇA que condenou o requerente a cumprir com um dever que, visto do pólo oposto, é um vergonhoso direito, por afrontar preceito constitucional claro e objetivo, para assim DESCONSTITUIR A COISA JULGADA e tornar sem efeito a decisão que contrariou a Constituição da República Federativa do Brasil e a posição jurisprudencial do Insigne Superior Tribunal do Trabalho. 
 
 
 18. Pedimos ainda ao E. Tribunal que, baseado no art. 273, caput, e incisos I e II do Código de Processo Civil e no art. 461, caput, e §3º do mesmo diploma legal, como também no já decidido e reiterado pelo Ilustre Superior Tribunal de Justiça, ao garantir o pedido do requerente, faça-o com ANTECIPAÇÃO DA TUTELA DO DIREITO PLEITEADO que é inquestionável, que tem provas inequívocas, e que, se não for satisfeito de imediato, poderá lesar irremediavelmente a fazenda municipal, que deve ser empregada em prol do povo, em razão do interesse público, e não para satisfazer direitos ilegítimos pleiteados de forma inconstitucional. 
 
 Desta forma, esse E. Tribunal se posicionará como o bom intérprete da Lei, como guardião da segurança jurídica e estará prestando, certa e convictamente, uma homenagem à Constituição Federal.
 
 
 
 
 Nestes termos,
 Pede deferimento.
 
 
 
 _________________________________
  Dra. (xxx)
  Advogada
  Coordenadora da (XXX)

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