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10 1 INTRODUÇÃO O emprego doméstico é um dos tipos de relações de trabalho que, no Brasil, em sua origem como labor, arraigou uma referência de degradação e desrespeito à mão de obra que se submetia (ou que era submetida) àquele. Diante disso, surgiu a seguinte indagação: quais os avanços e retrocessos do novo contrato de trabalho dos empregados domésticos, a partir da Lei Complementar 150/2015? O presente trabalho tem como objetivo geral identificar quais os avanços e retrocessos surgidos a partir da Lei Complementar, que tutela as relações de emprego doméstico, observando especificamente o histórico e a evolução no ordenamento jurídico pátrio do contrato de trabalho de emprego doméstico. A relevância social do trabalho doméstico é de suma importância, visto que existem sete milhões de empregados domésticos no Brasil que lutam diariamente por uma vida melhor e por melhores condições de trabalho, buscando superar os resquícios deixados pela época da escravidão. Juridicamente, é importante positivar os direitos dos domésticos, na tentativa de resgatar uma dívida com essa categoria de trabalhadores tão importante para as bases familiares. Academicamente, esse trabalho se justifica na medida em que há pouca produção acerca deste tema, devido, inclusive, ao fato de ser recente essa amplificação dos direitos dos empregados domésticos. A metodologia utilizada foi hipotético-dedutiva, de base qualitativa, com pesquisa exploratória bibliográfica, fundamentada na leitura de livros, revistas, artigos da Internet, jurisprudências, legislação e doutrina específica. Como hipóteses, tivemos: a mudança na legislação trouxe avanços quanto à formalização do trabalho doméstico, com a assinatura da Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS; entretanto, com o aumento do número de ações trabalhistas com esse objeto, evidenciou-se a urgência de tutelarem-se os direitos dos domésticos, como meio de garantir dignidade a esses trabalhadores. 11 Esse trabalho de conclusão de curso apresenta a seguinte estrutura: os capítulos 1 e 5 trazem, respectivamente, as considerações introdutórias e finais; o capítulo 2 aborda noções gerais acerca do empregado doméstico, conceito e evolução histórica no Brasil; o capítulo 3 aborda a tutela jurídica do contrato de trabalho de emprego doméstico, analisando a Emenda Constitucional 72/2013 e a Lei Complementar 150/2015; e, no capítulo 4, discutiram-se os avanços e retrocessos do novo contrato de trabalho dos empregados domésticos a partir da legislação supracitada. 12 2 EMPREGADO DOMÉSTICO: NOÇÕES GERAIS 2.1 CONCEITO E DEFINIÇÃO JURÍDICA A definição legal de trabalhador doméstico vem sendo lentamente modificada, ao longo do tempo e da História (LEITE, 2015). A palavra doméstico vem do latim domesticus e significa da casa, da família, do lar (KASSEM, 2009). O empregado doméstico é todo aquele que desenvolve sua atividade laboral – intelectual ou física – para a família, desde que não gere lucro para o empregador. Antes do advento da Consolidação das Leis do Trabalho, alguns decretos regulamentaram e definiram a figura sócio-jurídica do empregado doméstico. Vólia Bomfim Cassar (2014, p. 430) sintetiza de forma bastante clara essa definição: O Decreto n° 16.107/23 conceituou os domésticos, incluindo como tais os cozinheiros e ajudantes de cozinha, copeiros, arrumadores, lavadeiras, engomadeiras, jardineiros, hortelões, porteiros, serventes, amas-secas ou de leite, costureira, damas de companhia, e equiparou alguns trabalhadores, cujos serviços fossem de natureza idêntica aos domésticos, mesmo que o trabalho fosse desenvolvido em hotéis, restaurantes, casas de pasto, pensões, bares, escritórios etc. Concedia certos direitos e autorizava a justa causa para os casos de incapacidade decorrente de doença. Depois, o Decreto-Lei n° 3.078/1941 conceituou domésticos como aqueles que, “de qualquer profissão ou mister, mediante remuneração, prestem serviços em residências particulares ou a benefício destas”. Portanto, excluiu os trabalhadores de restaurantes, pensões e demais pessoas jurídicas da condição de doméstico. Aqueles passaram à condição de urbanos (CLT). Concedeu, ainda, aviso prévio de oito dias, um período de prova de seis meses, justa causa e despedida indireta (CASSAR, 2014., p. 430). Após os referidos decretos, a Consolidação das Leis do Trabalho conceituou a figura do doméstico, revogando as legislações anteriores, embora também os tenha excluído do rol dos direitos previstos na carta celetista, como se depreende da leitura do art. 7º, ‘a’, da Consolidação: Art. 7º. Os preceitos constantes da presente Consolidação, salvo quando for, em cada caso, expressamente determinado em contrário, não se aplicam: a) aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral, os que prestam serviços de natureza não econômica à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas; (...). 13 Já a Lei 5.859/1972 passou a regulamentar de forma exclusiva essa categoria, consagrando juridicamente o conceito de empregado doméstico, durante muitos anos (até 2015), sendo bastante abrangente, como exemplifica Monteiro de Barros (2011, p. 268 e 269): [...] cozinheira, copeira, babá, lavadeira, mordomo, governanta, e os que [...] prestam serviços nas dependências ou em prolongamento da residência, como jardineiro, o vigia, o motorista, o piloto ou marinheiro particular, os caseiros e zeladores de casas de veraneio ou sítios destinados ao recreio dos proprietários [...]. Segundo a Lei Complementar 150/2015, o novo conceito de empregado doméstico é: Art. 1º Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica-se o disposto nesta Lei. Vale salientar que o empregado doméstico é um empregado como qualquer outro. Entretanto, a despeito de ter as mesmas características dos empregados de um modo geral, as daquele extrapolam. Podem-se inferir, então, de tal conceito, as seguintes características dessa espécie de relação de emprego: pessoalidade, continuidade (hoje fixada em mais de dois dias), subordinação, onerosidade, prestação de serviço de natureza não lucrativa a pessoa física ou a família, no âmbito residencial das mesmas. De acordo com o autor Maurício Godinho Delgado, esses seriam os chamados “elementos fático-jurídicos gerais” para os empregados domésticos, sendo que um deles recebe uma conotação especial, a continuidade. Para o doutrinador, a continuidade é algo inerente a todas as espécies de empregados, mas, para a classe doméstica, acaba se tornando mais importante (DELGADO, 2015, p. 395). Encontram-se incluídos neste rol a faxineira, a arrumadeira e também o motorista, o cuidador de idosos, a babá, o caseiro etc., bastando, para tanto, que as atividades sejam desempenhadas com as características acima descritas e 14 determinação temporal mais clara e positivada. Assim, desde a origem etimológica até a atual definição jurídica, os caracteres família e residência acompanham o conceito de doméstico. Nesses termos, Leite (2015), além de traçar os requisitos que se fazem necessários para identificar o trabalhador doméstico, correlaciona-os com as regulamentações jurídicas nacionais e internacionais, quais sejam: a) pessoa física com idade mínima de 18 (dezoito) anos: por força da Convenção 168 da OIT (aprovada pelo Decreto Legislativo n. 178/1999 e promulgada pelo Decreto Presidencial n. 3.597/2000), bemcomo do Decreto n. 6.481/2008, que aprovou a Lista TIP, que traz a listagem das piores formas de trabalho infantil, o serviço doméstico, por se tratar de uma dessas formas de trabalho infantil, é proibida para menores de 18 (dezoito) anos de idade (Decreto n. 6.481/2008, art. 2º). Portanto, somente poderá ser sujeito de relação de trabalho doméstico, na condição de trabalhador, a pessoa física, independente do sexo ou orientação sexual, com idade igual ou superior a 18 anos. Assim, perante uma demanda judicial em que se confirmar a existência de contrato de trabalho assinado por trabalhador com idade inferior a dezoito anos, o juiz deverá, de ofício ou por provocação das partes: • declarar a nulidade do contrato; • ordenar a cessação imediata do trabalho; • condenar (se houver pedido) o tomador (empregador), a título de indenização, ao pagamento das verbas legais e contratuais devidas, como se o trabalhador tivesse dezoito anos completos, sem prejuízo de outras eventuais indenizações por danos morais ou materiais; b) pessoalidade: apesar de historicamente estar presente nos contratos de trabalho dos empregados urbanos e rurais, a pessoalidade torna-se mais acentuada no trabalho doméstico, visto que este se realiza dentro do âmbito residencial, através de relações muito próximas da vida íntima das pessoas envolvidas. Tal como ocorre com os contratos de trabalho dos empregados urbanos e rurais, o contrato de trabalho doméstico é, em regra, intuitu personae, com relação ao trabalhador doméstico, que é sempre pessoa física; 15 c) continuidade: o art. 1º da Lei Complementar 150/2015 regula que o trabalhador doméstico é “aquele que presta serviço de forma contínua”, sendo imperativo basilar de hermenêutica jurídica que “a lei não contém palavras inúteis”, motivo pelo qual não se pode pensar que a expressão “serviços de forma contínua” tenha o mesmo significado que a expressão constante no art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, que considera empregado urbano “toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador”, não havendo, portanto, lacuna na Lei Complementar 150/2015 no tocante ao requisito “continuidade”, visto que o doméstico é uma categoria de trabalho que presta “serviços de forma contínua”, enquanto o empregado (urbano) é uma categoria de trabalho que presta “serviços de natureza não eventual”; d) subordinação: o requisito subordinação é jurídico e encontra esteio na lei, já que o art. 2º da Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que é o empregador quem “dirige a prestação pessoal de serviços”. A Lei Complementar 150/2015, que não usa o termo “sob a dependência” prevista no art. 3º da Consolidação, tem em consideração que trabalhador doméstico é aquele que presta serviços de forma “subordinada”. É importante ressaltar que, para ser trabalhador doméstico, é essencial que o serviço não seja prestado de forma autônoma e que alguns critérios se fazem úteis para caracterizar a forma subordinada na relação empregado/empregador: • a existência do poder disciplinar do tomador de serviço, que pode aplicar punições pelas faltas cometidas pelo trabalhador doméstico; • o controle dos dias e horários pelo tomador do serviço; • a assunção de riscos por acidentes e doenças do trabalho por parte do tomador de serviço; • o pagamento mensal da remuneração, e não logo após a prestação do serviço; e) onerosidade: é requisito essencial para caracterizar o trabalhador doméstico, reclamado pelo art. 1º da Lei Complementar 150/2015, que este preste serviço de forma onerosa. A onerosidade significa que o doméstico, da 16 mesma forma que se dá com o urbano (art. 3º da CLT), assina o contrato de trabalho com o intuito de receber remuneração pelo serviço prestado, pelo tempo que passou à disposição do empregador e pelos períodos de interrupção dos contratos (férias, repouso semanal remunerado etc.); f) finalidade não lucrativa no âmbito da residência do empregador doméstico: é caracterizada pelos serviços normais que são realizados no âmbito interno de uma residência familiar, necessários à sua manutenção, tais como os serviços de conservação e limpeza, ou à satisfação das necessidades básicas das pessoas ou da família, como os serviços de alimentação, saúde, lazer, higiene e segurança (LEITE, 2015, p. 26-36). Assim, é importante destacar que o empregado doméstico deve, necessariamente, perfazer todos os requisitos caracterizadores de empregado. Nesse sentido, o autor Maurício Godinho Delgado é preciso ao afirmar que o empregado doméstico é “pessoa física que presta serviço com pessoalidade, onerosidade e subordinação, de natureza contínua, e com finalidade não lucrativa ao empregador em função do âmbito residencial desta” (DELGADO, 2011, p. 365). No que diz respeito ao empregado diarista, a principal diferença está na falta do requisito da continuidade. A Lei Complementar 150/2015 evidenciou essa diferenciação, pontuando a exigência expressa temporal de mais de dois dias de labor no ambiente familiar, residencial ou doméstico. O autor José Cairo Júnior tem um entendimento que se concilia com a postura majoritária, no sentido de existir diferença, ainda que sutilmente, entre a continuidade e a não eventualidade: O elemento componente da relação de emprego doméstico denominado de continuidade difere da não eventualidade, tendo em vista que, no primeiro caso, exige-se o labor em todos os dias da semana (excetuando-se o repouso semanal remunerado), durante um lapso razoável de tempo e com certa habitualidade. A prestação de serviços descontínua afasta a existência da relação de emprego doméstico, dando ensejo ao surgimento do trabalhador denominado de diarista (CAIRO JÚNIOR, 2013, p.286). Antes da Lei Complementar 150/2015, a Jurisprudência trabalhista, na verdade, não apresentava consenso acerca do número de dias a serem trabalhados para configurar o vínculo empregatício domestico; tampouco a legislação o previa. A 17 Jurisprudência abaixo faz uma comparação que ilustra bem a passagem anterior para a pós-vigência da LC 150/2015: RECURSO DE REVISTA EM FACE DECISÃO PUBLICADA ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 - RELAÇÃO DE TRABALHO DOMÉSTICA - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ANTEIROR À VIGÊNCIA DA LEI COMPLEMENTAR Nº 150/2015 - SERVIÇOS PRESTADOS TRÊS VEZES POR SEMANA - VÍNCULO EMPREGATÍCIO - NÃO CARACTERIZAÇÃO - NÃO PREENCHIMENTO DO PRESSUPOSTO DA CONTINUIDADE - CRITÉRIO TEMPORAL. Diversamente do termo "não-eventual", outrora utilizado pela CLT, a Lei nº 5.859/72, definiu empregado doméstico como "aquele que presta serviço de natureza contínua", inserindo, assim, uma nomenclatura diversa, que sempre causou grande divergência na doutrina trabalhista. A continuidade é traço distintivo marcante da peculiaridade com que o trabalho doméstico sempre foi tratado em nosso país, e que, aos poucos, vai sendo diluída pela progressiva equiparação dos domésticos aos demais trabalhadores, que decorre da ratificação pelo Brasil da Convenção nº 189 OIT, da promulgação da Emenda Constitucional nº 72 e, mais recentemente, da Lei Complementar nº 150/2015, que regulamenta a modificação constitucional. Ainda que tais disposições não se apliquem ao caso concreto, eis que, incorporadas ao ordenamento posteriormente à data do término da prestação de serviços controvertida nos autos, é importante observar que a própria norma internacional que ampliou o quadro de direitos das domésticas não visou extinguir a figura da diarista, em condição de autônoma, que restou expressamente preservada. Com a nova regulamentação, contudo, engajamentos com frequência de mais deduas vezes por semana imediatamente caracterizam o vínculo empregatício doméstico. O caso dos autos, contudo, versa sobre relação de trabalho iniciada e concluída antes da entrada em vigor da nova legislação, o que, por segurança jurídica, implica a observância dos parâmetros vigentes ao tempo da Lei nº 5.859/72. A maioria da doutrina trabalhista entende que a continuidade possui significação própria, correspondente à permanência absoluta, ou seja, a iteratividade, repetição da prestação no tempo sem hiatos, sendo necessária, para a configuração da relação de emprego doméstica, a prestação contínua do trabalhador, ressalvados apenas os descansos e repousos impostos pela lei. Alice Monteiro de Barros foi precisa ao diferenciar a distinção conceitual entre não-eventualidade e continuidade: "Logo, se a não-eventualidade é uma característica que não depende do tempo, o mesmo não se pode dizer da continuidade, já que a interrupção tem natureza temporal" (BARROS, Alice Monteiro de Contratos e regulamentações especiais de trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendências. São Paulo: LTr, 2008. p. 198). Igualmente, a jurisprudência desta Corte historicamente orientou-se no sentido de que não preenche o requisito da continuidade previsto no art. 1º da Lei nº 5.859/72 o labor exercido pelo trabalhador doméstico em até três dias da semana. Portanto, considerando que o caso concreto submete-se à normatividade vigente ao seu tempo e que nada consta dos autos além da periodicidade da prestação de serviços, não há que se falar em configuração do vínculo empregatício para a trabalhadora que 18 prestou serviços no âmbito doméstico com frequência semanal de três dias. Recurso de revista conhecido e desprovido. (TST - RR: 19331320105150067. Data de Julgamento: 12/08/2015. Data de Publicação: DEJT 06/11/2015) (grifos nossos). Olhando atentamente a decisão acima colacionada, percebe-se que, com a vigência da nova LC 150/2015, houve uma normatização no que se refere à quantidade de dias laborados por semana e que pode gerar vínculo empregatício. Entretanto, quanto às atividades laborais executadas antes da vigência dessa lei, a análise e a caracterização continuam a ser feitas segundo cada caso individual, o que, sem suspeita, gera insegurança jurídica para o empregador e empregado. Dessa maneira, ficou nítido que o trabalho de diarista que atue no âmbito familiar do empregador, desde que não ultrapasse a marca de dois dias na semana, não é passível de reconhecimento do vínculo empregatício. A continuidade do serviço, inerente à definição do empregado doméstico, só é reconhecida quando o trabalhador atua pelo menos três vezes por semana no âmbito familiar da residência do empregador. Com relação à finalidade da atividade desempenhada pelo empregado doméstico, o empregador não pode auferir lucro, ou seja, possui finalidade não lucrativa. Como bem assevera o autor Maurício Godinho Delgado, o serviço prestado pelo empregado doméstico à família para qual trabalha não pode, em nenhuma hipótese, ser fonte de renda ou fator de produção da família patronal, isto é, o empregado doméstico não pode se envolver em nenhum tipo de negócio do empregador (DELGADO, 2015, p.400). Se o empregador contrata um bom cozinheiro e requisita lhe que prepare biscoitos, com o intuito de aumentar a renda familiar, tal pedido resultará em lucro impróprio para o empregador (SANTOS, 2015). Nesse passo, Alice Monteiro de Barros discerne entre a questão da finalidade não lucrativa e os serviços domésticos: Na hipótese de haver exploração de atividade lucrativa, seja na residência urbana, onde o proprietário mantenha, por exemplo, uma pensão, seja em uma chácara, com a comercialização de seus produtos, concorrendo o trabalhador com seu serviço para essas atividades, perderá sua condição de doméstico e enquadrar-se-á como empregado regido, respectivamente, pelo art. 3º da CLT ou pelo art. 2º da Lei nº 5.889 de 1973. Lembre-se, entretanto, que permanecerão como domésticos os que trabalharem apenas nas 19 residências da fazenda, arrumando a casa ou cozinhando para seus proprietários. Não é, portanto, apenas a destinação do empreendimento como um todo, mas também a atividade ali desenvolvida pelo trabalhador que irá caracterizar a natureza da relação jurídica (BARROS, 2014, p. 270). Vale trazer à baila o comentário do também já citado doutrinador Maurício Godinho Delgado, que reza o seguinte: Do ponto de vista econômico, pode-se afirmar que o domestico produz, exclusivamente, valor de uso, jamais valor de troca: trata-se de uma atividade de mero consumo, não produtiva, por isso sem intuito ou conteúdo econômico para o tomador de serviços. Nessa linha, será doméstico o caseiro de sítio de lazer do empregador, desde que não se realize produção, na propriedade, com o concurso do caseiro, para fins de colocação no mercado. Existindo sistema de produção para venda habitual de bens a terceiros, descaracteriza-se a natureza doméstica do vinculo estabelecido com o trabalhador no local (DELGADO, 2015, p. 401). O já citado autor Sérgio Pinto Martins indica como essencial tal requisito, pois entende que: O empregador doméstico não tem por intuito a atividade econômica, não visando à atividade lucrativa, pois é uma pessoa ou família que recebe a prestação de serviços do trabalhador. Exercendo a pessoa ou família atividade lucrativa, a empregada que lhe presta serviços passa a ser regida pela CLT, não sendo doméstica (MARTINS, 2014, p. 159). O que se pode depreender, então, é que o doméstico e sua atividade laboral não podem ter como fim o lucro para o patrão, pois, se esse ocorrer, o trabalhador passa a ser regido pela CLT e enquadrado na categoria de empregado Lato Sensu, o que descaracteriza o status de trabalhador doméstico. Faz-se mister, então, destacar algumas decisões jurisprudenciais que dispuseram sobre o enquadramento na categoria do doméstico: TRT-PR-11-05-2007 TRABALHADOR DOMÉSTICO. MANUTENÇÃO DE CHÁCARA. AUSÊNCIA DE FINALIDADE LUCRATIVA. POSSIBILIDADE. O desempenho de atividade voltada à manutenção de chácara sem cunho lucrativo permite o enquadramento na categoria de empregado doméstico, nos termos da Lei nº 5.859/72. Comprovado nos autos que o trabalho realizado não se destinava a finalidade lucrativa, mas ao assessoramento de família na manutenção de pequena propriedade rural, indevida a pretensão à descaracterização do trabalho doméstico. Recurso Ordinário do Reclamante a que se nega provimento (TRT-9 3042006665906 PR 20 304-2006-665-9-0-6, Relator: UBIRAJARA CARLOS MENDES, 1A. TURMA, Data de Publicação: 11/05/2007). EMPREGADO DOMÉSTICO. VÍNCULO EMPREGATÍCIO NÃO COMPROVADO. AUSÊNCIA DE CONTINUIDADE. CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO NA CONDIÇÃO DE DIARISTA. Segundo o artigo 1º, da Lei complementar nº 150, de 1º de junho de 2015, o empregado doméstico será considerado aquele que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa, pessoal, e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, o que não é o caso dos autos, eis que restou demonstrada a prestação de serviços por apenas 1 (um) dia na semana. Assim sendo, analisando-se a prova testemunhal, pode-se concluir pelo trabalho eventual da autora, como diarista, eis que não preenchido o requisito continuidade. Apelo a que se nega provimento (TRT-2 - RO: 00017527220145020054 SP 00017527220145020054 A28, Relator: VALDIR FLORINDO, Data de Julgamento: 29/09/2015, 6ª TURMA, Data de Publicação: 05/10/2015). O que se pode notar é que se manteve o entendimento da necessidade da finalidade não lucrativa para se caracterizar a relação de emprego doméstico,após a vigência da LC nº 150 de 1º de junho do ano de 2015. No que tange à prestação laboral, só pode ser a pessoa física ou entidade familiar, no melhor entendimento da LC 150/2015, em consonância com os atuais ditames civilistas e constitucionais. Dentro desta senda, surge a seguinte indagação: o que se pode considerar pessoa e/ou família, estabelecidas no art. 1º da LC 150/2015, enquanto requisitos para a caracterização do empregado doméstico? No que diz respeito aos empregados domésticos, a já citada autora Vólia Bomfim Cassar conceitua família: [...] conceito de família deve ser entendido como reunião espontânea de pessoas para habitação em conjunto, mesmo que não haja vínculo de parentesco entre elas. Desta forma, é possível equiparar ao conceito de família, para fins de caracterização do empregador doméstico, amigos que coabitam numa mesma casa, casal homossexual, famílias irregulares etc. Comunidades maiores (colégios, albergues, conventos) devem ser descartadas, por perderem a semelhança com a família e por não importarem em reunião espontânea do grupo (CASSAR, 2014, p. 439). 21 De acordo com a advogada Maria Berenice Dias: A família, apesar do que muitos dizem, não está em decadência. Ao contrário, é o resultado das transformações sociais. Houve a repersonalização das relações familiares na busca do atendimento aos interesses mais valiosos das pessoas humanas: afeto, solidariedade, lealdade, confiança, respeito e amor. Ao Estado, inclusive nas suas funções legislativas e jurisdicionais, foi imposto o dever jurídico constitucional de implementar medidas necessárias e indispensáveis para a constituição e desenvolvimento das famílias (DIAS, 2010, p 33). Nesse contexto, é impossível a prestação de trabalho doméstico a pessoa jurídica, somente sendo possível a pessoa física ou seus grupos unitários. Entendem-se grupos unitários os de pessoas que se reúnem e coabitam no mesmo local, de maneira espontânea. Um exemplo notório de grupos unitários são as repúblicas estudantis. Constituídas de maneira informal por um conjunto de estudantes, quando uma faxineira e uma cozinheira lhes prestam serviços de natureza não lucrativa, estas se encaixam na categoria empregadas domésticas (SANTOS, 2015). Seguindo esse raciocínio, vale traçar competente explanação da autora Vólia Bomfim: O trabalho prestado para um grupo de pessoas que se reúne de forma espontânea e coabitam no mesmo local, cujo serviço se destina ao consumo pessoal de cada membro do grupo, sem natureza lucrativa, pode tomar a forma de relação doméstica, desde que caracterizados os requisitos contidos da Lei n° 5.859/72. Tal situação pode ocorrer na informal república estudantil, com uma faxineira ou cozinheira contratada para trabalhar para o grupo. O mesmo entendimento, todavia, não poderá ser adotado quando várias pessoas se encontram casualmente no mesmo local (convento, república estudantil proporcionada pelo governo graciosamente para centenas de estudantes universitários, albergues etc.) e, para o serviço doméstico, contratam uma faxineira ou cozinheira que presta serviço apenas para os que colaboram financeiramente com o trabalho (CASSAR, 2014, p. 440). Conclui-se que a definição jurídica de doméstico perpassa pelo conceito de pessoa e de família e pelos elementos da finalidade não lucrativa dos serviços prestados e que a efetuação dos serviços domésticos deve ocorrer no âmbito residencial. Sem a presença desses elementos fático-jurídicos de caráter geral, é impossível tipificar o trabalhador como empregado doméstico. 22 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL Este subtópico tratar-se-á de uma breve evolução histórica do trabalhador doméstico no Brasil. Para tanto, será abordado o período anterior à Lei Áurea, mas o enfoque maior será dado a partir da regulamentação jurídica do contrato de trabalho de emprego doméstico. O trabalho doméstico no Brasil remonta ao período do regime escravocrata, quando era exercido apenas por homens negros, mulheres negras e crianças negras, visto que, era tido como um trabalho degradante e desonroso para ser exercido por uma pessoa de cor branca. Neste período não havia menção alguma à dignidade da pessoa humana e muito menos às garantias e direitos constitucionais, o que dava azo ao trabalho forçado, ilimitado, em troca apenas de comida e de um lugar onde dormir, não sendo permitido adoecer e raramente recebendo folga, sem perspectiva de melhores condições para aqueles que o exerciam. Leila Algranti tratou de forma bastante clara a questão da inserção do escravo negro na intimidade da residência dos seus senhores e o quanto este fato era trivial na época do Brasil-Colônia: Ao enfocar os costumes domésticos na Colônia, não se poderia deixar de mencionar a importância dos criados, fossem escravos, negros ou índios. Mais do que "os pés e as mãos do senhor de engenho", como os classificou Antonil no início do século XVIII, sua presença não se restringia apenas ao trabalho, uma vez que a escravidão marcou profundamente a sociedade brasileira, quer na esfera doméstica, quer na esfera das relações sociais e pessoais. O registro de instrumentos de castigo nos inventários dos colonos, desde o século XVI, como "grilhões e seus cadeados", "correntes", "corrente com 4 braças e meia com 14 colares", roda, máscaras de flandres, palmatórias e bacalhaus (chicote composto por cinco tranças de couro) representam apenas um dos lados da moeda da relação senhor-escravo, o lado mais vil e certamente mais cruel. Mas houve senhores que reconheceram os fortes laços que os uniam a seus escravos no momento de preparar seus testamentos, concedendo-lhes a alforria, recomendando aos herdeiros que tratassem bem um filho que tiveram com uma escrava, ou até proibindo a separação de uma família cativa. Todas essas manifestações são sinais efetivos de que a relação entre senhores e escravos ia além da relação de produção. São inúmeros os registros sobre a presença de crianças escravas no espaço doméstico brincando com os filhos dos senhores e engatinhando pela casa, de escravos que serviam de pajens, de mucamas que dormiam no 23 quarto de seus senhores, que levavam recados e faziam parte do séquito familiar quando este saía de casa. Isso sem contar os que serviam à mesa, introduziam as visitas, costuravam e teciam com suas senhoras.[...] (ALGRANTI, 2004, p. 131-132). A evolução da proteção normativa do trabalhador doméstico no Brasil é claramente mais lenta do que a do trabalhador urbano. Do período do descobrimento até a abolição da escravatura, em 1888, e desta até 1972, quando foi promulgada a Lei 5.859, não existia nenhuma legislação específica. A primeira norma legal que citou o trabalho doméstico no país surgiu em 1830 e tratava apenas do contrato escrito sobre prestação de serviços feitos por estrangeiros ou brasileiros, dentro ou fora do Império. Em 1888, com a abolição do regime escravocrata através da Lei Áurea, os escravos passaram de meras mercadorias à categoria de cidadãos comuns, tendo direitos e deveres, adquirindo direito a remuneração mensal pelo seu trabalho, caracterizando como trabalhador doméstico àquele que laborava em casa de família. Vale ressaltar que a Lei Áurea não era de caráter trabalhista, contudo, como esta trouxe uma mudança extrema nas relações de trabalho pautadas na escravidão, tornou-se o marco inicial da História do Direito do Trabalho no Brasil (LEITE, 2015) (SILVA, 2015). O antropólogo Roberto DaMatta nos revela a relação entre a desvalorização do trabalho doméstico e a escravidão no Brasil: No nosso sistema, tão fortemente marcado pelo trabalho escravo, as relações entre patrões e empregadosficaram definitivamente confundidas. Não era algo apenas econômico, mas também uma relação moral onde não só um tirava o trabalho do outro, mas era seu representante e dono perante a sociedade como um todo. O patrão, num sistema escravocrata, é mais que um explorador de trabalho, sendo dono e até mesmo responsável pelo escravo (...). Creio que isso embebedou de tal modo as nossas concepções de trabalho e suas relações que até hoje misturamos uma relação puramente econômica com laços pessoais de simpatia e amizade. O que confunde o empregado e permite ao patrão exercer duplo controle da situação (...). O caso mais típico e mais claro dessa problemática – muito complexa e a meu ver ainda pouco estudada – é o das chamadas ‘empregadas domésticas’, as quais são pessoas que, vivendo nas casas dos seus patrões, realizam aquilo que, em casa, está banido por definição: o trabalho. Nessa situação, elas repetem a mesma situação dos escravos da casa de antigamente, permitindo confundir relações morais de intimidade e simpatia com uma relação puramente econômica, quase sempre criando um conjunto de dramas que estão associados a esse tipo de relação de 24 trabalho onde o econômico está subordinado ao político e ao moral, ou neles embebido (DAMATTA, 2016, p. 5-6). Os escravos foram libertados de seus grilhões e lhes foram conferidos alguns direitos, mas a situação em quase nada mudou, pois eles não tinham moradia nem o que fazer, restando-lhes apenas os trabalhos já exercidos, em troca de alimentação e moradia, camuflando o velho trabalho escravo de outrora. O trabalhador doméstico continuou a submeter-se a um trabalho informal, sem acesso aos direitos como um trabalhador comum, ficando à mercê dos abusos de seus empregadores. Na obra “Trabalho, Lar & Botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque”, o historiador Sidney Chalhoub explica que a imagem da relação patrão-empregado, geralmente veiculada pelas classes dominantes brasileiras na República Velha, assemelhava-se em muitos aspectos à relação entre pais e filhos. O patrão era uma espécie de “juiz doméstico” que procurava guiar e aconselhar o trabalhador, que, em troca, devia realizar suas tarefas com dedicação e respeitar seu patrão. Esta imagem ideal da relação patrão-empregado tem um objetivo óbvio de controle social, procurando esvaziar o potencial de conflito inerente a uma relação baseada fundamentalmente na desigualdade entre indivíduos que dela participam (CHALHOUB, 2001, p. 114-115). A classe dominante, como bem asseverou Chalhoub, em seu objetivo de controlar socialmente toda uma categoria de trabalhadores, deixa pairando no ar o motivo da falta de interesse, da demora de décadas até a regulamentação necessária dos direitos e garantias do empregado doméstico. Sidney Chalhoub cita, ainda, o discurso proferido pelo então Ministro da Justiça, Ferreira Vianna, no dia 20 de julho de 1888: Já dizia Cícero que a escravidão não se podia manter, quando o senhor não dispunha do escravo como do seu boi, do seu arado, do seu carro. Era preciso que dele pudesse usar e abusar. Desde que o escravo adquiria um direito, o senhor perdia na autoridade, e a escravidão estava ameaçada de extinção. V. Exa. Conhece a história desta instituição, se tal nome merece o fato da escravidão. Desde o começo, não se reconheceu no escravo 25 uma besta, mas um homem; tinha direitos que impunham ao senhor deveres. Esses direitos cresceram, alargaram-se, foram mais e mais atendidos pelo legislador, mandados respeitar. Um dia, o instrumento, o boi, o arado, pelo sopro do legislador, levantou-se; tomou formas de homem; pôs-se em pé, e disse ao poder público, armado desde à cabeça aos pés: - Eu sou livre; fostes vós que reconhecestes o meu direito; eu sou livre; não me rendo, prefiro a morte (sensação) (CHALHOUB, 2001, p.64). Para Chalhoub, o tom um tanto triste e patético do discurso de Vianna evidencia o mundo do trabalho como sendo um problema para as elites brasileiras, quando o fim do tráfico negreiro obrigou muitos barões e senhores de escravos do Império a pensar o fim da propriedade escrava e na consequente abolição da escravatura. Com efeito, a transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil do século XIX colocou as classes dominantes da época diante da necessidade premente de realizar reajustes no seu universo mental, de adequar a sua visão de mundo às transformações socioeconômicas que estavam em andamento. No mundo de outrora, ordenado pela presença do escravo, a questão do trabalho era escassamente problematizada na esfera das mentalidades: o trabalhador escravo era propriedade do senhor e, sendo assim, o mundo do trabalho estava obviamente circunscrito à esfera mais ampla do mundo da ordem, que consagrava o princípio da propriedade (CHALHOUB, 2001 p. 65). No entender desse historiador, o processo que deflagrou o 13 de maio e a consequente libertação dos escravos efetuou a distinção entre o trabalhador e sua força de trabalho. Entretanto, apesar da abolição da escravidão em 1888, os direitos e garantias do empregado doméstico praticamente inexistiam. Ainda durante a mencionada República Velha, no ano de 1916, o Código Civil versou sobre os contratos trabalhistas ligados à locação de serviços dos empregados, incluindo os domésticos. Surgiu o ponto de partida para a busca e efetivação dos direitos e garantias dessa categoria de trabalhadores. Em 30 de julho de 1923 foi aprovado o Decreto nº 16.107, que regulamentou a locação desses serviços e trouxe em seu bojo alguns dispositivos 26 que tinham como objetivo atender aos interesses dos trabalhadores em questão (SILVA, 2015). No ano de 1941, o Decreto-Lei nº 3.078 trouxe um conceito simples sobre o trabalhador doméstico, versando sobre a locação de seus serviços. Já no ano de 1943, dois anos passados, com o Decreto-Lei nº 5.452, nascia a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), contudo, em nada dispondo sobre o trabalhador doméstico e suas condições de trabalho, evidenciando, assim, o ranço que o trabalho doméstico carrega desde a escravidão, sendo ainda considerado um trabalho menor, situação que permaneceu presente por vários anos. Em que pese as acima citadas regulamentações, foi somente em 1972, com o advento da Lei 5.859 que surgiram alguns direitos específicos, tais como benefícios e serviços da previdência social, férias anuais com o adicional de 1/3 e carteira de trabalho. Neste ínterim, foram também contemplados com o direito ao vale transporte (Decreto nº 95.247/1987), ficando a Lei 5.859 como sendo específica, definindo a relação do empregado doméstico até a promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988, ainda em vigor. Com o surgimento da Constituição Federal de 1988, os trabalhadores domésticos conseguiram mais alguns direitos e estes se encontram previstos em nove dos trinta e quatro incisos do art. 7º e são eles: salário mínimo (IV), irredutibilidade de salário (VI), 13º salário com base na remuneração integral (VIII), repouso semanal remunerado (XV), férias anuais remuneradas com um terço a mais (XVII), licença maternidade (XVIII), licença paternidade (XIX), aviso prévio (XXI), aposentadoria por idade, tempo de contribuição e invalidez (XXIV). Já no ano de 2001, com o advento da Lei nº 10.208, ficou a eles facultado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e o seguro-desemprego. Infelizmente, como a medida estava sujeita à liberalidade do empregador, a previsão em nada foi efetiva (SILVA, 2015). Outro avanço ocorreu com o surgimento da Lei nº 11.324/2006, que agregou à categoria o direito a descanso semanal remunerado aos domingose feriados, pagamento em dobro do trabalho em feriados civis e religiosos, trinta dias corridos de férias, garantia de emprego à gestante desde a confirmação da gravidez 27 até cinco meses após o parto e vedou descontos no salário do empregado por fornecimento de alimentação, higiene, vestuário e moradia. Na verdade, com toda a busca por melhores condições de trabalho, o empregado doméstico continuou, até recentemente, não favorecido e discriminado, com muitos dos seus direitos vedados, evidenciando a persistência dos resquícios da época da escravidão (SILVA, 2015). Somente em 2015, efetivamente, ao contrato de trabalho dos domésticos foram agregados mais direitos, já conferidos a outros trabalhadores. 3 TUTELA JURÍDICA DO CONTRATO DE TRABALHO DO EMPREGADO DOMÉSTICO A tutela jurídica do contrato de trabalho do empregado doméstico atualmente foi alargada pela EC 72/2013 e pela LC 150/2015 de forma a resguardar essa atividade laborativa, salvaguardando os direitos e garantias que ficaram ainda pendentes de regulamentação até o advento dessas. 3.1 EMENDA CONSTITUCIONAL 72/2013 Sob a pressão por parte de diversos movimentos sociais e pela grande mídia, em 2/4/2013, o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional nº 72, que veio para alterar a redação do art. 7º da Constituição Federal: “para estabelecer a igualdade de direitos trabalhistas entre os trabalhadores domésticos e os demais trabalhadores urbanos e rurais”. Embora o enunciado da citada emenda fale sobre “igualdade de direitos trabalhistas”, o texto aprovado apenas ampliou o rol de direitos abarcados pela redação original da Constituição federal de 1988, ficando, desse modo, direitos ainda pendentes de regulamentação. Somente em 2015, com o advento da Lei Complementar 150, essa regulamentação ocorreu de forma a efetivar os direitos e garantias que ainda estavam pendentes (ALENCAR, 2015) (LEITE, 2015). Com a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 66, conhecida como “PEC das domésticas” (posteriormente convertida na EC 72/2013), 28 que alterou o art. 7º da Constituição Federal, visando igualar os direitos dos trabalhadores domésticos, urbanos e rurais, é que houve uma vitória real, incluindo, assim, na lista de garantias já conquistadas, mais 16 (dezesseis) incisos na previsão contida no parágrafo único do art. 7º da CF, que passou a vigorar com a seguinte redação: Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. Ficaram, dessa forma, garantidos os direitos à proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa, seguro-desemprego, FGTS, salário nunca inferior ao mínimo para os que percebem remuneração variável, adicional noturno, proteção do salário, salário-família, jornada de trabalho de 08 horas diárias e 44 horas semanais, hora extra, redução dos riscos inerentes ao trabalho, auxílio-creche, reconhecimento de Acordos e Convenções Coletivos de Trabalho, seguro contra acidentes de trabalho, proibição de discriminação, proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos, e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos (SILVA, 2015). Mesmo com todos os avanços e garantias até aqui conquistados, ainda restam pendentes de regulamentação uma notória gama de direitos, não entrando em vigor, até então, a proteção do trabalhador doméstico contra despedida arbitrária ou sem justa causa, seguro desemprego (extensão de 03 para 05 parcelas), FGTS, adicional noturno, auxílio-creche, salário-família e seguro contra acidentes de trabalho, posteriormente regulamentadas pela LC 150/2015. Em verdade, a pendência na regulamentação dos direitos acima citados gerou polêmica entre os doutrinadores. Parte da doutrina amparou que tão somente uma legislação infraconstitucional superveniente lhes traria a eficácia, ao passo que a outra parte dos doutrinadores defendeu a aplicabilidade imediata de alguns destes direitos, ante a existência de regulamentação infraconstitucional suficiente. Uma boa 29 parte desta discussão só findou no mês de junho de 2015, com a nova lei dos domésticos, mais conhecida como PEC das domésticas (SILVA, 2015). O art. 7º, alínea a, da Consolidação das Leis do Trabalho dispõe: Art. 7º. Os preceitos constantes da presente Consolidação, salvo quando for, em cada caso, expressamente determinado em contrário, não se aplicam: Aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral, os que prestam serviços de natureza não econômica à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas. A vedação encerrada no dispositivo acima mencionado se devia ao fato de a Lei nº 5.859/72 ter sido considerada suficiente para normatizar o trabalho doméstico, o que não correspondia à realidade, visto que, somente com o advento da Emenda Constitucional nº 72/2013, veio para assegurar direitos reconhecidos aos trabalhadores de um modo geral, que encontram normatização infraconstitucional na CLT. Desta maneira, então, considera-se que o disposto no art. 7º, alínea ‘a’, foi revogado pela Emenda Constitucional 72/2013, devendo, diante da ausência de regulamentação dos direitos legitimados pela Constituição Federal na lei específica (5.859/72), aplicar subsidiariamente à Consolidação das Leis do Trabalho (SILVA, 2015). Como bem explica o autor Carlos Henrique Bezerra Leite (2015, p. 15,16 e 17): Nesse passo, com base no novo texto constitucional introduzido pela EC 72/2013, pensamos que são direitos fundamentais do trabalhador doméstico com aplicabilidade imediata: • salário mínimo; • irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo de trabalho; • garantia do salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; • décimo terceiro salário; • proteção do salário na forma da lei; duração do trabalho normal não superior a 8 horas diárias e 44 horas semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; 30 • repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; • remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal; • gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; • licença à gestante, sem prejuízo de emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; • licença paternidade, aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias; • redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; • aposentadoria; • reconhecimento das convenções e dos acordos coletivos de trabalho; • proibição de diferenças de salário, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; • proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência; • proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos. De outra parte, alguns direitos fundamentais estendidos pela EC 72 ao trabalhador doméstico ainda dependerão de regulamentação infraconstitucional por meiode lei. São eles: • relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa; • seguro desemprego, em caso de desemprego involuntário; • Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS; • remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; • salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda; • assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; • seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Em suma, os direitos e garantias fundamentais do trabalhador doméstico, abarcados pela EC 72/2013, além daqueles com aplicabilidade imediata, foram estendidos ao doméstico, também, garantias e direitos fundamentais passiveis de regulamentação infraconstitucional. Ao passo que a LC 150/2015 veio para 31 consagrar, definitivamente, esses direitos e garantias fundamentais asseverados antes e depois da referida Emenda, trazendo em seu corpo novidades legislativas, revogando, dessa forma, a antiga Lei 5.859/72. 3.2 LEI COMPLEMENTAR 150/2015 Em 2015 houve, até agora, o maior avanço obtido pela categoria dos empregados domésticos no Brasil, através da publicação da Lei Complementar 150/2015 que se aplica a todos os contratos de trabalho doméstico, contudo, não se aplicando à categoria das diaristas. A referida lei reúne os direitos garantidos aos domésticos antes e depois da EC72/2013, trazendo consigo novidades legislativas, revogando, assim, a antiga Lei dos Domésticos (Lei 5.859/72). A Lei Complementar 150/2015 tem como objetivo principal regulamentar os novos direitos estendidos aos trabalhadores domésticos por força da Emenda Constitucional 72/2013, que trouxe uma nova redação para o parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal. Entretanto, a Lei Complementar 150/2015 foi muito mais além do que o seu objetivo principal, que era tão somente o de regulamentar a Emenda Constitucional 72. Ela proíbe o trabalho para menores de dezoito anos, inova ao trazer outro conceito para o empregado doméstico como sendo aquele “que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana”, assim pondo fim às discussões doutrinárias acerca de quantos dias trabalhados determinam o vínculo empregatício de forma a enquadrar o trabalhador como empregado doméstico ou como diarista (SILVA, 2015) (LEITE, 2015). Alguns dos direitos abarcados pela supramencionada lei mantém a mesma forma com que se já encontravam para os trabalhadores urbanos e rurais na CLT. Outros estão alterados para manter a concordância com as particularidades de cada contrato de trabalho doméstico. O restante é inteiramente novo e bastante diferenciado, consoante às peculiaridades do serviço a ser prestado. As inovações trazidas pela Lei Complementar 150/2015 foram: jornada de trabalho e férias; jornada de trabalho para quem repousa no trabalho; horas extras; rol de dispensa por justa causa e rescisão indireta; pagamento de aluguel; FGTS e 32 multa por demissão injustificada; renegociação de dívida previdenciária; direito de posse, propriedade e penhora; seguro para acidentes de trabalho e o Simples Doméstico (SILVA, 2015). 4 AVANÇOS E RETROCESSOS DO NOVO CONTRATO DE TRABALHO DOS EMPREGADOS DOMÉSTICOS, A PARTIR DA LEI COMPLEMENTAR 150/2015 Diante de tudo o que foi exposto até aqui, observa-se que a categoria dos empregados domésticos não gozava de devida regulamentação legal, por muito tempo permanecendo na informalidade, justamente por conta de sua trajetória ao longo da História e de sua estrita ligação com a escravidão, palco do seu nascimento em nosso País. Durante muito tempo o doméstico ficou relegado a um plano inferior, prestando serviços em troca de alimento e um teto para descanso. Em verdade, desde o surgimento da figura do doméstico durante o regime escravocrata, até os dias atuais, houve algumas parcas menções e regulamentações, mas somente com o advento da EC 72/2013 houve o início de uma futura vitória para esta classe tão rechaçada pela sociedade e seus legisladores. A PEC nº 66 de 2012, ou mais conhecida como PEC das Domésticas, trouxe consigo um conjunto de direitos e garantias estendidos, de eficácia plena e aplicabilidade imediata, enquanto que o grupo de normas restantes careceria de regulamentação (SANTOS, 2015). Através da nova redação do art. 7º, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988, os direitos anteriores já resguardados foram mantidos e novos direitos foram acrescentados. A LC 150/2015 regulamentou definitivamente esses direitos e garantias salvaguardados e aqueles que foram adicionados, trazendo uma imensa vitória para o doméstico, um marco para o Direito Trabalhista e para a referida categoria de trabalho. As mudanças significativas trazidas pelos direitos e garantias elencados pela LC 150/2015 inovaram decisivamente no tocante à jornada de trabalho, horas 33 extras e a compensação de jornada, intervalos para descanso e refeição, adicional noturno, férias, contrato por prazo determinado, indenização recorrente de rescisão contratual, auxílio pré-escola, salário família, seguro contra acidentes de trabalho (SAT), seguro-desemprego, estabilidade à empregada gestante e o SIMPLES doméstico. Assim, a referida Lei Complementar, no que concerne à jornada de trabalho, estabeleceu que esta não poderá exceder 8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) horas semanais, respeitando o limite mensal de 220 (duzentas e vinte) horas. Traz, ainda, a possibilidade de o empregado doméstico exercer suas atividades em regime de tempo parcial, permitindo a este o labor semanal que não exceda 25 (vinte e cinco) horas semanais. A Lei Complementar dá opção, ainda, de o empregado doméstico exercer a jornada em escalas de 12 horas seguidas de trabalho por 36 horas ininterruptas de descanso, respeitando-se os intervalos previstos em lei, desde que a jornada seja estabelecida mediante acordo escrito entre as partes (SOUZA, 2015). Desse modo, o legislador especificou detalhadamente as diversas modalidades de jornada de trabalho com o intuito de se aplique o que for melhor para as partes em cada caso concreto. A LC em análise versa, ainda, sobre a jornada de trabalho do empregado doméstico referente à época em que este viajar a serviço, acompanhando seu empregador. Nesse passo, serão consideradas para a contagem da jornada diária, apenas as horas efetivamente laboradas. Ademais, o doméstico terá o valor de sua hora diferenciada enquanto estiver em viagem, devendo esta ser acrescida de, no mínimo, 25% sobre o valor da hora normal. Assim, o legislador, além de estabelecer a jornada de trabalhado para o empregado doméstico, instituiu, ainda, a obrigatoriedade de controle dessa jornada, que deverá ser efetuado por meio de mecanismo manual, mecânico ou eletrônico, desde que seja idôneo e capaz de demonstrar jornada exercida pelo empregado doméstico (SOUZA, 2015). Com a LC150/2015, tornou-se obrigatório que o doméstico registre seu horário de entrada e saída do serviço. O ônus de provar a jornada de trabalho diferente da informada judicialmente pelo empregado será do empregador que não apresentar os registros de jornada regulares. A súmula 338 do TST versa: 34 JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA PROVA (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nºs 234 e 306 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005 I - É ônus do empregadorque conta com mais de 10 (dez) empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT. A não-apresentação injustificada dos controles de freqüência gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário. (ex-Súmula nº 338 – alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003) II - A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda que prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por prova em contrário. (ex-OJ nº 234 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001) III - Os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não se desincumbir. (ex-OJ nº 306 da SBDI-1- DJ 11.08.2003) (grifos nossos). A LC 150/2015 também inova ao versar sobre as horas extras e a compensação, visto que não havia nenhuma previsão legal com relação aos intervalos entre as jornadas de trabalho. A referida Lei Complementar trouxe de maneira expressa o intervalo para descanso e refeição de, no mínimo, 1 hora diária. No caso de haver prévio acordo escrito entre as partes da relação contratual em questão, o dito intervalo poderá ser reduzido para 30 (trinta) minutos. A LC 150/2015 foi tão específica que abordou, também, o intervalo intrajornada para aqueles empregados que residem em seu local de trabalho. Desta sorte, a este doméstico há a possibilidade de duas pausas para o gozo do intervalo intrajornada, sendo que cada uma deverá ser de, no mínimo, 1 (uma) hora (SOUZA, 2015): Art. 13. É obrigatória a concessão de intervalo para repouso ou alimentação pelo período de, no mínimo, 1 (uma) hora e, no máximo, 2 (duas) horas, admitindo-se, mediante prévio acordo escrito entre empregador e empregado, sua redução a 30 (trinta) minutos. § 1o Caso o empregado resida no local de trabalho, o período de intervalo poderá ser desmembrado em 2 (dois) períodos, desde que cada um deles tenha, no mínimo, 1 (uma) hora, até o limite de 4 (quatro) horas ao dia. § 2o Em caso de modificação do intervalo, na forma do § 1o, é obrigatória a sua anotação no registro diário de horário, vedada sua pré-notação. A LC 150/2015 veda a possibilidade de apontar previamente o intervalo intrajornada nas folhas de ponto, sendo obrigatório o seu registro manual, mecânico ou eletrônico, representando o real tempo de pausa usufruído pelo empregado. 35 Já sobre o adicional noturno, a Lei Complementar manteve os conceitos do trabalhador urbano vindos da CLT, permanecendo, inclusive, a duração da hora de trabalho de noturno para os que laboram entre as 22h00min e 05h00min terão direito ao recebimento desse adicional, bem como direito à hora noturna reduzida. Dessa forma, o adicional noturno deverá ser de, no mínimo, 20% e toda a hora noturna deverá ter a duração de 52 minutos e 30 segundos (SOUZA, 2015). Sobre as férias, a LC 150/2015 manteve as regras gerais previstas pela CLT: DO DIREITO A FÉRIAS E DA SUA DURAÇÃO Art. 129 - Todo empregado terá direito anualmente ao gozo de um período de férias, sem prejuízo da remuneração. Art. 130 - Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção: I - 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5 (cinco) vezes; II - 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14 (quatorze) faltas; III - 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e três) faltas; IV - 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta e duas) faltas. § 1º - É vedado descontar, do período de férias, as faltas do empregado ao serviço. § 2º - O período das férias será computado, para todos os efeitos, como tempo de serviço. A grande novel da LC 150/2015 é com relação às férias do empregado que exerce seu trabalho em regime de tempo parcial. Ela determina a quantidade de dias de férias com base na quantidade de horas laboradas por semana: • 18 dias de férias – trabalho semanal superior a 22 horas até o limite de 25 horas; 36 • 16 dias de férias – trabalho semanal superior a 20 horas até o limite de 22 horas; • 14 dias de férias – trabalho semanal superior a 15 horas até o limite de 20 horas; • 12 dias de férias – trabalho semanal superior a 10 horas até o limite de 15 horas; • 10 dias de férias – trabalho semanal superior a 5 horas até o limite de 10 horas; • 8 dias de férias – trabalho semanal com duração igual ou inferior a 5 horas. Assim, dá a possibilidade do empregador, discricionariamente, permitir o fracionamento das férias do empregado doméstico em dois períodos, desde que um não seja menor que 14 dias: Art. 17. O empregado doméstico terá direito a férias anuais remuneradas de 30 (trinta) dias, salvo o disposto no § 3o do art. 3o, com acréscimo de, pelo menos, um terço do salário normal, após cada período de 12 (doze) meses de trabalho prestado à mesma pessoa ou família. [...] § 2o O período de férias poderá, a critério do empregador, ser fracionado em até 2 (dois) períodos, sendo 1 (um) deles de, no mínimo, 14 (quatorze) dias corridos. § 3o É facultado ao empregado doméstico converter um terço do período de férias a que tiver direito em abono pecuniário, no valor da remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes. Dessa maneira, todos os domésticos terão o seu direito a férias acrescidas do terço constitucional na medida de seu efetivo trabalho mensal, sem haver diferenças entre as diferentes jornadas para os trabalhadores domésticos. A LC 150/2015 trouxe a possibilidade da contratação de empregada doméstica em regime parcial de trabalho, com o salário proporcional à jornada de trabalho. Na verdade, a possibilidade do regime parcial já existia na CLT, e foi 37 trazida para a Lei Complementar 150/2015. O artigo 58-A da CLT traça juridicamente o regime parcial de trabalho (SANTOS, 2015): Art. 58-A. Considera-se trabalho em regime de tempo parcial aquele cuja duração não exceda a vinte e cinco horas semanais. § 1º - O salário a ser pago aos empregados sob o regime de tempo parcial será proporcional à sua jornada, em relação aos empregados que cumprem, nas mesmas funções, tempo integral. § 2º - Para os atuais empregados, a adoção do regime de tempo parcial será feita mediante opção manifestada perante a empresa, na forma prevista em instrumento decorrente de negociação coletiva (grifo nosso). A LC 150/2015 autoriza a contratação de empregado doméstico por meio de contrato por prazo determinado, que é uma espécie de contrato com prazo rígido e especificado, que produz verbas rescisórias limitadas. Entretanto, essa possibilidade somente se encaixa em duas hipóteses: • a do contrato de experiência; • do contrato temporário. Estabelece que o empregador pode contratar, facultativamente, empregado doméstico por tempo determinado em caso de contrato de experiência ou para atender necessidades transitórias no âmbito familiar, ou, ainda, para cumprir a substituição temporária de outro empregado doméstico, em condições similares às já dispostas na CLT (SANTOS, 2015). A vantagem da contratação por tempo determinado é que esta é menos custosa ao empregador ao fim do contrato, uma vez que não terá que arcar com multa indenizatória nem com o aviso prévio, já que seu término era previsto desde o começo. No que concerne ao contrato de experiência, este nada mais é do que uma espécie de contrato por tempo determinado. O legislador manteve o dispostona CLT, afirmando que o contrato de experiência será de, no máximo, 90 (noventa) dias, podendo ser prorrogado uma única vez, desde que a soma dos dois períodos não ultrapasse o referido prazo. Haverá um contrato temporário, mas este só será 38 aceito nas hipóteses arroladas no artigo 4º, II, da LC 150/2015, quais sejam (SOUZA, 2015): • para atender as necessidades familiares de natureza transitórias; • para substituição temporária de empregado doméstico com o contrato de trabalho suspenso ou interrompido. Delgado sinaliza para o fato de que o trabalho em tempo parcial não usa como referência a jornada diária, e sim a semanal, de maneira que é possível trabalhar a jornada de oito horas em alguns dias da semana, ou laborar 4 horas diárias durante a semana: Há um aspecto relevante, por fim, na caracterização do tipo legal regulado pelos diplomas normativos citados: ali se fala apenas no parâmetro semanal de duração do trabalho, omitindo-se referência ao parâmetro diário (labor... “cuja duração não exceda vinte e cinco horas semanais” – enfatiza a nova ordem jurídica). Isso significa que um contrato de tempo parcial à base de 24 horas semanais pode ser cumprido seja através de jornadas de quatro horas (durante seis dias da semana), como também através de jornadas mais amplas, de oito horas, por exemplo (laborando-se, em consequência, somente três dias ao longo de toda a semana) (grifos nossos) (GODINHO, 2015. p. 1008). Há uma diferença, entretanto, entre o regime de trabalho parcial da CLT e o autorizado pela Lei em questão. A CLT veda aos empregados que trabalham em tempo parcial a realização de horas extras, enquanto que a Lei Complementar 150/2015 permite que o doméstico que trabalha em tempo parcial realize até uma hora extra por dia, mediante acordo escrito firmado com o empregador: Art. 3o Considera-se trabalho em regime de tempo parcial aquele cuja duração não exceda 25 (vinte e cinco) horas semanais. § 1o O salário a ser pago ao empregado sob regime de tempo parcial será proporcional a sua jornada, em relação ao empregado que cumpre, nas mesmas funções, tempo integral. § 2o A duração normal do trabalho do empregado em regime de tempo parcial poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente a 1 (uma) hora diária, mediante acordo escrito entre empregador e empregado, aplicando-se-lhe, ainda, o disposto nos §§ 2o e 3o do art. 2o, com o limite máximo de 6 (seis) horas diárias (grifos nossos). 39 Outra novidade regulamentada pela referida LC 150/2015 se refere aos domésticos que viajam a trabalho, acompanhando os seus empregadores. Um exemplo bastante comum é o da babá que viaja para cuidar dos filhos de seu empregador. Durante esse período, a jornada de trabalho deve ser contada a partir das horas efetivamente trabalhadas e o empregado e o empregador devem firmar acordo escrito para formalizar a companhia do empregado na viagem. De certo, o aspecto mais importante é que, assim, fica estabelecido que o valor da hora de trabalho em viagem será, no mínimo, 25% acima ao da hora do serviço normal. O adicional é um tipo de compensação ao empregado pelo deslocamento da sua cidade ou da sua casa, enfim, seu local de residência e emprego habituais, para acompanhar o empregador, prestando seus serviços (SANTOS, 2015). O adicional acima citado não se confunde com o adicional de horas extras. Contudo, a lei também estabelece a possibilidade de o empregador, mediante acordo com o seu empregado, transformar o valor adicional em acréscimo no banco de horas, podendo ser utilizado a critério do empregado: Art. 11. Em relação ao empregado responsável por acompanhar o empregador prestando serviços em viagem, serão consideradas apenas as horas efetivamente trabalhadas no período, podendo ser compensadas as horas extraordinárias em outro dia, observado o art. 2o. § 1o O acompanhamento do empregador pelo empregado em viagem será condicionado à prévia existência de acordo escrito entre as partes. § 2o A remuneração-hora do serviço em viagem será, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) superior ao valor do salário-hora normal. § 3o O disposto no § 2o deste artigo poderá ser, mediante acordo, convertido em acréscimo no banco de horas, a ser utilizado a critério do empregado (grifos nossos). Outra novidade trazida pela LC 150/2015 é a respeito da indenização nos casos de demissão sem justa causa. Agora, com a nova LC, o empregado doméstico tem direito à multa de 40% sobre os depósitos do FGTS. Não obstante, para os domésticos, a multa rescisória de 40% será recolhida mensalmente ao longo da vigência de todo o contrato de trabalho, diversamente do que ocorre nas demais 40 relações de emprego, em que a referida multa é recolhida apenas quando há a rescisão contratual. Desta maneira, além de recolher os 8% referentes ao FGTS, os empregadores domésticos terão que recolher mais 3,2% a título de multa indenizatória. Entretanto, a depender da forma de rescisão contratual, os valores recolhidos a título de multa rescisória serão convertidos em favor do empregador doméstico (SOUZA, 2015). Na verdade, a LC 150/2015 afasta do empregado doméstico a possibilidade de receber a multa de 40% sobre o FGTS. Da leitura do art. 22 da referida LC depreende-se: Art. 22. O empregador doméstico depositará a importância de 3,2% (três inteiros e dois décimos por cento) sobre a remuneração devida, no mês anterior, a cada empregado, destinada ao pagamento da indenização compensatória da perda do emprego, sem justa causa ou por culpa do empregador, não se aplicando ao empregado doméstico o disposto nos §§ 1o a 3odo art. 18 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990. A alíquota de 3,2% age no mesmo sentido da mencionada multa, vez que trata de uma compensação financeira em caso de dispensa imotivada, sendo, assim, o mesmo instituto legal. Com a LC 150/2015, o empregador fica sujeito a recolher uma quantia excedente aos 8% de FGTS mensalmente, para o final do contrato, caso haja desobrigação imotivada pelo empregador. Se a modalidade de desobrigação se der por justa causa ou a pedido de demissão do empregado, o mencionado recolhimento excedente, integralmente, será devolvido ao empregador. Em caso de culpa recíproca, o valor deve ser retirado em sua metade pelo empregado e outra metade pelo empregador (SANTOS, 2015). 41 Além das hipóteses de rescisão indireta do contrato de trabalho mencionadas noutra parte e algumas já anteriormente previstas no art. 483 da CLT, a LC 150/2015 trouxe uma nova hipótese de rescisão indireta: Art. 27. Considera-se justa causa para os efeitos desta Lei: I - submissão a maus tratos de idoso, de enfermo, de pessoa com deficiência ou de criança sob cuidado direto ou indireto do empregado; [...] Parágrafo único. O contrato de trabalho poderá ser rescindido por culpa do empregador quando: [...] VII - o empregador praticar qualquer das formas de violência doméstica ou familiar contra mulheres de que trata o art. 5o da Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (grifos nossos). Sem sombra de dúvida, se trata de uma novel que traz consigo uma carga social de valorização da mulher, de valorização, também, do idoso, chamando a atenção para a causa do combate à violência doméstica e familiar. O art. 5º da Lei 11.340 de 2006, a Lei Maria da Penha, ícone da luta contra a violência da mulher, define violência doméstica ou familiar: Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moralou patrimonial: (vide Lei complementar nº 150, de 2015) I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual (grifos nossos). Assim, a LC 150/2015 carrega consigo a proteção aos empregados domésticos de forma geral, a proteção à mulher e às empregadas domésticas, categorias expostas a situações de abusos no ambiente de trabalho. A LC 150/2015 também inova ao regulamentar o auxílio pré-escola, o salário família, o seguro contra acidentes de trabalho, o seguro-desemprego, a estabilidade à empregada gestante, entre outros benefícios acautelados pela referida Lei. 42 No tocante à estabilidade da trabalhadora doméstica gestante, a LC 150/2015 garante estabilidade provisória desde a confirmação da gravidez até o quinto mês após o parto, o que já era previsto na Lei nº 11.324/2006: Art. 25. A empregada doméstica gestante tem direito a licença- maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário, nos termos da Seção V do Capítulo III do Título III da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Parágrafo único. A confirmação do estado de gravidez durante o curso do contrato de trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à empregada gestante a estabilidade provisória prevista na alínea “b” do inciso II do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Fica assim garantida mesmo nos casos em que a empregada doméstica esteja cumprindo aviso prévio, trabalhado ou indenizado, assim como nos casos de contrato de experiência. A preocupação diante de tal situação é evidenciada pela Resolução 185 do Tribunal Superior do Trabalho, item III, da Súmula 244 do Tribunal Superior do Trabalho, publicada no DJU – 26.09.2012 que passou a ter uma nova redação assegurando o direito da empregada gestante à estabilidade provisória no emprego na hipótese de admissão mediante contrato de experiência ou por prazo determinado. Súmula nº 244 do TST – GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. I – O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, “b” do ADCT). II – A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade. III – A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10, inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado. (Redação alterada pela Resolução n° 185 do Tribunal Superior do Trabalho realizada em 14.09.2012 – DJU – 26.09.2012) 43 Este direito também está previsto no parágrafo único, do artigo 25, da Lei Complementar nº 150/2015: Art. 25. A empregada doméstica gestante tem direito a licença- maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário, nos termos da Seção V do Capítulo III do Título III da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de 1943. Parágrafo único. A confirmação do estado de gravidez durante o curso do contrato de trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à empregada gestante a estabilidade provisória prevista na alínea “b” do inciso II do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A LC 150/2015 versa sobre a questão do vale transporte e formalizou o pagamento em espécie dos valores referentes ao transporte do empregado doméstico, situação que era muito comum na prática. A vantagem é que anteriormente o pagamento em dinheiro do valor do transporte configuraria como verba salarial para o empregado, e agora, o empregador realiza o pagamento em dinheiro sem medo de repercussão como verba salarial para o empregado (SANTOS, 2015). A LC 150/2015 fala, também, sobre o direito do doméstico ao seguro desemprego. Antes, o recolhimento do FGTS por parte do empregador não era obrigatório e somente os empregados cujos empregadores realizavam o recolhimento é que tinham o direito ao benefício do seguro desemprego, em um número de três parcelas. Hoje, com a obrigatoriedade fixada pela LC 150/2015, o seguro desemprego fica assim garantido como um direito, também, para os trabalhadores domésticos: Art. 26. O empregado doméstico que for dispensado sem justa causa fará jus ao benefício do seguro-desemprego, na forma da Lei no 7.998, de 11 de janeiro de 1990, no valor de 1 (um) salário- mínimo, por período máximo de 3 (três) meses, de forma contínua ou alternada. Diante de um cenário de mudanças e de crise, do advento de novas contribuições fiscais a serem pagas e que antes inexistiam, e diante do claro aumento de custo para os empregadores, a LC 150/2015 estabelece a criação do SIMPLES doméstico, para facilitar o pagamento pelo empregador face suas novas obrigações com a classe doméstica. 44 O SIMPLES veio numa tentativa de desburocratizar a formalização do emprego doméstico, tanto que o governo pretende criar uma guia única de pagamento reunindo todas as contribuições a serem pagas pelos empregadores. Assim, o pagamento do simples doméstico abrangerá os seguintes impostos (SOUZA, 2015): • de 8% a 11% a título de contribuição previdenciária; • 8% de contribuição patronal previdenciária; • 0,8% de contribuição social, com o objetivo de financiar o seguro contra acidentes de trabalho; • 8% a título de FGTS; • 3,2% a título de multa rescisória, que será revertida a favor do empregador em caso de pedido de demissão ou dispensa por justa causa; • outros impostos que incidirem sobre a relação de trabalho. O Programa de Recuperação Previdenciária dos Empregados Domésticos, o Redom, está previsto nos arts. 39 a 41 da LC 150/2015, com as seguintes redações (LEITE, 2015): Art. 39. É instituído o Programa de Recuperação Previdenciária dos Empregadores Domésticos (Redom), nos termos desta Lei. Art. 40. Será concedido ao empregador doméstico o parcelamento dos débitos com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) relativos à contribuição de que tratam os arts. 20 e 24 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, com vencimento até 30 de abril de 2013. § 1o O parcelamento abrangerá todos os débitos existentes em nome do empregado e do empregador, na condição de contribuinte, inclusive débitos inscritos em dívida ativa, que poderão ser: I - pagos com redução de 100% (cem por cento) das multas aplicáveis, de 60% (sessenta por cento) dos juros de mora e de 100% (cem por cento) sobre os valores dos encargos legais e advocatícios; II - parcelados em até 120 (cento e vinte) vezes, com prestação mínima no valor de R$ 100,00 (cem reais). § 2o O parcelamento deverá ser requerido no prazo de 120 (cento e vinte) dias após a entrada em vigor desta Lei. § 3o A manutenção injustificada em aberto de 3 (três) parcelas implicará, após comunicação ao sujeito passivo, a imediata rescisão do parcelamento e, conforme o caso,
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