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Página1
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 25 de Setembro de 2009, 11h-12h30 – 
Aula Teórica)
➢ O ser humano é um animal político e social, tal como 
Aristóteles afirmou, mas também racional que 
necessita de um conjunto de normas para viver em 
sociedade;
➢ O Direito é uma realidade somente dos seres 
humanos, dado que noutros casos não se aplicam 
normas jurídicas;
➢ As regras éticas, de trato social, religiosas não são 
normas jurídicas, apesar de disciplinarem a vida das 
pessoas;
➢ A criação do Estado é um facto bastante posterior à 
existência do Direito. Assim, nem todas as normas 
jurídicas são provenientes desta realidade moderna do 
século XV. Existem instituições supranacionais, como a 
ONU, que produzem normas jurídicas. Todavia, na 
actualidade, a grande maioria das normas são 
provenientes do Estado. Instituições como a União 
Europeia impõem normas jurídicas aos Estados que 
abdicam de parte da sua soberania. Podemos, por 
isso, falar de “erosão estadual”;
➢ Compete, principalmente, à Assembleia da República 
produzir e proclamar normas gerais e abstractas, sob 
a forma de suporte escrito. Todavia, em tempos mais 
remotos, existiam igualmente normas não-escritas 
(consuetudinárias), com igual valor (p.e. costume) que 
advêm de práticas regulares de uma sociedade. O 
costume é, por isso, também uma fonte de Direito. Em 
países europeus, como a Inglaterra ou em diversos 
países do continente africano, o costume assume 
primordial importância;
Página2
➢ Noutros tempos, a Lei não assumia a primazia das 
fontes de Direito. Daí que tenhamos que relativizar o 
poder da Lei;
➢ Estabelece-se uma conexão entre Direito e Justiça, 
dado que as normas jurídicas ambicionam este 
objectivo. Atentando no exemplo dos condenados pelo 
Tribunal de Nuremberga por crimes contra a 
Humanidade (pós-II Guerra Mundial), verificou-se que 
os seus actos, apesar de estarem de acordo com o 
regimento da época, não estavam de acordo com o 
ideal de Justiça. O sistema vigente não foi auto-
legitimado;
➢ A culpa é uma censura pessoal. A actuação ilícita 
distingue-se da censura pessoal;
➢ Em determinadas situações excepcionais, alguns 
valores se alevantam e se sobrepõem às normas 
jurídicas. A violação do princípio da independência 
nacional pode suceder, se estiver em causa a 
dignidade humana da população do Estado invadido, 
impondo-se uma intervenção de carácter urgente. 
Assim, acima da Lei, está o Direito;
➢ O Direito deve ser considerado também um conjunto 
de valores e não apenas de Leis, esta é a concepção 
do Estado de Direito material.
Página3
INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Terça-Feira, 29 de Setembro de 2009, 9h-11h – 
Aula Prática)
➢ Mesmo as normas que regulam a actividade do 
Presidente da República são gerais, dado que se 
destinam às sucessivas pessoas que vão ocupando 
esse cargo;
➢ Nem todo o Direito é de origem estadual. Existem 
normas provenientes de práticas regulares 
(consuetudinárias) e de organizações de âmbito 
regional (infra-estadual), supranacional e 
intergovernamental (Direito Internacional Público) com 
carácter obrigatório;
➢ As normas de carácter social podem adquirir 
relevância jurídica;
➢ A não observância das normas jurídicas, adaptando-as 
aos tempos presentes, torna-as “letra morta”;
➢ Por Direito válido, entende-se todo aquele que procura 
preservar o valor da justiça – Validade do Direito. É 
relevante para o Direito a eficácia das normas, 
colocando-se à disposição meios coercivos que 
asseguram o seu cumprimento. Porém, quando uma 
norma é violada, foi ferida na sua eficácia, mas 
permanece válida.
Página4
INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Sexta-Feira, 02 de Outubro de 2009, 11h-12h30 – 
Aula Teórica)
➢ Nas sociedades contemporâneas, nomeadamente a 
portuguesa, a principal fonte de Direito é a Lei. 
Todavia, a Lei não está acima do Direito. Aliás, 
considera-se que uma lei injusta é uma “corrupção do 
Direito”;
➢ Consultar posição de Paulus no livro do professor 
Oliveira Ascensão;
➢ O Direito vive ancorado ao valor da justiça, valor 
incessantemente procurado, mas nunca alcançado na 
plenitude;
➢ O Direito vigente no nazismo estava 
desfuncionalizado, instrumentalizado, pois não 
defendia uma concepção de justiça, parte fundamental 
do Direito. Não podemos entender “justiça” e “Direito” 
como dois conceitos separados ou considerar apenas 
que o Direito tem como fim a Justiça;
➢ A discriminação racial promovida pelo Direito no 
tempo do Nazismo era incompatível com os valores 
defendidos pelo Direito, nomeadamente o da 
Página5
preservação da dignidade humana e a igualdade entre 
pessoas.
➢ O Direito Constitucional, surgido no século XIX, 
assume uma posição de superioridade sobre o 
legislador constitucional, que não pode violar os 
princípios contidos na Constituição;
➢ Se entendermos o Direito enquanto aquele que é 
produzido pelas entidades competentes, estamos 
perante Positivismo Legalista. Todavia, o Direito não 
se deve resumir a este conceito. Em certos casos, 
desobedecer a uma autoridade competente e 
detentora de poder pode ser lícito e inclusive um 
dever em nome do Direito e de um ideal de Justiça;
➢ No período denominado PREC (Processo 
Revolucionário em Curso), em Portugal, não vigorava 
nenhuma Constituição, mas existia Direito, o que 
comprova que o conceito de “Direito” vai mais além 
do mero conjunto de normas (prof. Castanheira Neves) 
– concepção não-positivista legalista / normativista;
➢ O grande problema do Positivismo Legalista prende-se 
com o abuso de poder praticado pelo legislador que 
autolegitima as normas;
➢ O Direito não se reduz ao modo como se implanta na 
vida social. Fenómenos como a corrupção ou o furto 
são factos extremamente popularizados e enraizados 
que não podem ser compatíveis com o Direito. Nem 
tudo aquilo que observamos na vida social está 
conforme com o Direito. Se assim fosse, o Direito seria 
moldado de acordo com a vontade da sociedade. A 
formação de consensos generalizados numa sociedade 
pode conduzir à prática de actos contrários ao Direito 
e ao ideal de Justiça (ex: eliminação de uma minoria 
étnica no Ruanda) – Positivismo Sociológico Falacioso;
➢ A formação de maiorias em sistemas democráticos 
pode conduzir ao abuso de poder da facção 
predominante, espezinhando a restante minoria – 
exercício do poder pelo poder;
Página6
➢ O Direito apresenta uma instância crítica da vida em 
sociedade a sindicar o conteúdo das normas jurídicas, 
promovendo sempre o valor da justiça. Esta 
concepção promove uma dinâmica de 
aperfeiçoamento constante;
➢ Indiscutivelmente, uma das funções mais importante 
do Direito é a organização da vida em sociedade, 
através de normas vinculativas. Raras são as normas 
jurídicas que espelham imediatamente uma concepção 
de justiça. Exemplo: a esmagadora maioria das 
normas publicadas no Diário da República Electrónico 
pretendem promover a organização social;
➢ Existem normas fundamentais constantes nos 
diferentes códigos com a concepção directa de justiça 
que não podem ser alteradas, caso contrário geram 
uma grave incongroência (artigos 79º, 80º, 81º e 404º 
do Código Civil);
➢ Teoria Tridimensional do Direito, pelo filósofo brasileiro 
Miguel Reale:
○ Direito é uma realidade tridimensional, constitui 
uma triunidade, é simultaneamente facto (a 
conduta ou o agir humano), valor a que se refereesse facto e pelo qual se afere e norma que 
pretende ordenar o primeiro em função do 
segundo, encontrando-se essas suas três faces 
ou dimensões interligadas e co-implicadas, 
nenhuma delas tendo sentido separada das 
restantes;
➢ A realização de diálogos construtivos sobre a realidade 
humana, com a verdade possível, permite-nos 
alcançar uma concepção de justiça mais uniforme. Se 
tais diálogos não forem fomentados, cada um age de 
acordo com a sua vontade.
Página7
INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Terça-Feira, 06 de Outubro de 2009, 9h-11h – Aula 
Prática)
➢ Por Direito Subjectivo, entende-se “o poder ou 
faculdade atribuído pela ordem jurídica a uma pessoa 
de exigir ou pretender de outra determinado 
comportamento positivo (fazer) ou negativo (não 
fazer), ou de por um acto de livre vontade – com ou 
sem formalidades –, só de per si ou integrado depois 
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por um acto da autoridade pública (decisão judicial) 
produzir determinados efeitos jurídicos que se impõem 
inevitavelmente a outra pessoa (adversário ou 
contraparte) ”. (pelo professor Manuel de Andrade);
➢ Direito Subjectivo
○ Direito subjectivo (direito de crédito) ↔ dever 
jurídico (“dever ser”);
○ Direito potestativo ↔ estado de sujeição 
(“imposição”)
➢ Normas
○ Normas de conduta (permitem / proíbem 
comportamentos);
○ Normas meramente qualificativas;
○ Normas sobre normas (de 2.º grau) – relativas à 
interpretação, integração de lacunas, revogação 
de normas);
○ Normas que produzem efeitos automáticos.
➢ Características distintivas das normas jurídicas
○ Exterioridade;
○ Alteridade;
○ Positividade;
○ Heteronomia.
➢ A coercibilidade não é uma característica comum a 
todas as normas. Atente-se no exemplo das normas 
respeitantes à actuação do Presidente da República 
que não impõem consequências à sua violação.
➢ A atribuição de legitimidade a uma norma depende da 
defesa do valor da Justiça, da sua aprovação dentro de 
princípios democráticos, da sua publicação em Diário 
da República;
Página9
➢ Por vezes, o Direito, nomeadamente o Penal, valoriza a 
intenção de praticar um acto ilícito.
➢ O artigo 81º do Código Civil regula a limitação 
voluntária dos direitos de personalidade, tendo como 
objectivo a preservação dos princípios gerais do 
Direito e dos valores essenciais à conservação da 
sociedade. 
INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Sexta-Feira, 09 de Outubro de 2009, 11h-12h30 – 
Aula Teórica)
Caso prático (adaptação do caso do médico de 
Indiana, de 1901):
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Anos a fio, M foi o médico que tratou diversas doenças de 
membros da família de N, que, para o efeito, se deslocava a 
cavalo ao rancho relativamente distante de N. Certo dia, N 
ficou subitamente doente e solicitou, através de um 
mensageiro que mandou à cidade onde vivia M, a ajuda 
deste, esperando dele auxílio e assegurando-lhe o 
pagamento dos respectivos honorários. No Estado de 
Indiana, na área de residência de N, não havia outro médico 
disponível, M todavia não socorreu N, o qual acabou por 
falecer, em consequência da doença. Os herdeiros de N 
interpuseram uma acção de indemnização contra M.
Quid Iuris?
➢ Compete ao juiz apurar a realidade dos factos. 
Todavia, levando em consideração a maturidade e a 
experiência do mesmo, ele pode basear-se na sua 
vivência para consumar determinados factos;
➢ O critério judicial aplicado pelo juiz deve ser 
generalizado, tratando analogamente casos 
semelhantes: “tratar de modo igual o que é igual e 
tratar de modo diferente o que é diferente”;
➢ No presente caso, não podemos dar como definitiva a 
existência de um contrato entre as partes (M e N), 
porque este negócio jurídico implica um acordo de 
vontades, apesar da promessa do pagamento de 
honorários;
➢ Diferentes tipos de Justiça (Teoria iniciada por 
Aristóteles e completada por S. Tomás de Aquino – 
tradição clássica):
○ Justiça comutativa (entre pessoas singulares, 
dar a cada um o que é seu) – promove a 
igualdade entre pessoas. Diz respeito a contratos, 
reparação de danos (reposição da justiça), daí 
também ser designada justiça correctiva;
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○ Justiça legal (deveres das pessoas enquanto 
cidadãos) – reclama de nós determinadas 
condutas face à sociedade política, hoje Estado. 
Por exemplo: pagamento de impostos, 
cumprimento do serviço militar enquanto 
obrigatório;
○ Justiça distributiva (obrigações da sociedade 
política para com os cidadãos) – promove uma 
distribuição justa dos bens escassos, não sendo 
possível satisfazer as necessidades de todos.
➢ Compete ao julgador, dentro de determinados limites, 
investigar os factos ocorridos. Todavia, é necessário 
ser selectivo nessa procura, dado que há factos que 
são perfeitamente irrelevantes para o Direito;
➢ É necessário estabelecer uma separação entre a 
ordem moral / ética e a ordem jurídica. As normas 
éticas devem ser voluntariamente acatadas, não 
apresentando um carácter obrigatório. Contudo, não 
devemos desvalorizar estas ordens, dado que as 
normas jurídicas replicam as normas éticas, 
estabelecendo-se uma relação de concordância entre 
elas – Princípio de não-beligerância entre as ordens 
(professor Oliveira Ascensão).
➢ Não devemos confundir a Lei com o Direito, isto 
porque, aliás, o Direito surgiu bem antes da Lei, que 
tem cerca de 200 anos. O Direito mantem uma relação 
íntima com a Justiça, a independência e o poder dos 
tribunais, que actuam de modo imparcial. Assim, o 
Direito resulta das diferentes posições das partes 
envolvidas no caso, seleccionando-se os argumentos 
mais importantes e melhor fundamentados, sempre 
com um critério de justiça. Tal resolução dever-se-á 
aplicar, futuramente, a casos análogos, atentando 
obviamente às particularidades inerentes a esse caso;
Página12
➢ Os critérios com melhor aceitação adquiriram 
relevância social no Direito Romano, criando-se um 
Corpus Iuris. Nós pertencemos a uma civilização 
técnica, distinta de outras sociedades que apresentam 
um Direito mais rudimentar, que teve, contudo, a 
mesma origem – modo universal de criação do Direito.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 13 de Outubro de 2009 – 9H-11H – 
Aula Prática)
➢ Relativamente ao acórdão do Tribunal Constitucional 
apresentado na ficha de trabalho n.º2, somos 
confrontados com um requerimento que tinha como 
fundamento o facto do Direito extravasar a sua esfera 
e invadir a ordem moral. Existem várias normativas na 
vida social, que impedem o caos, a total 
desorganização, para além da ordem jurídica:
○ Ordem moral – visa o aperfeiçoamento do 
indivíduo interiormente, com implicações 
exteriores;
○ Ordem religiosa – mantém uma ligação próxima 
com a ordem moral. Pauta-se por valores 
interiores, estabelece normas que pautam as 
convicções do indivíduo e as relações entre o 
indivíduo e o transcendente, procurando 
promover uma adesão espontânea da sociedade;
○ Ordem do trato social – normas que asseguram 
uma boa convivência social. Determinados usos 
sociais adquirem relevância jurídica, como por 
exemplo os usos comerciais. 
➢ Critérios de distinção entre Moral e Direito:
○ Exterioridade
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 Na ordem moral, está em causa o 
aperfeiçoamento do indivíduo interiormente, 
enquanto na ordem jurídica estão em causa 
as práticas realizadas (comportamentos 
exteriores). Em determinados casos, 
nomeadamente no Direito Penal antigo, as 
intenções também eramcondenadas pela 
ordem jurídica.
○ Alteridade
 O Direito regula as relações entre indivíduos 
(é inter-subjectiva), enquanto a Moral regula 
a relação entre o individuo e a sua 
consciência (intra-subjectiva).
○ Heteronomia
 Na Moral, as normas são impostas pelo 
próprio indivíduo, enquanto no Direito as 
normas são impostas por uma entidade 
exterior.
○ Positividade (eficácia das normas)
 O incumprimento das normas morais pelo 
indivíduo gerará sentimentos de culpa e 
remorso e, consequentemente, ostracização 
e discriminação pela sociedade. No Direito, o 
incumprimento das normas jurídicas está 
sujeito a um aparelho coercivo (mecanismos 
de positividade que incentivam à prática de 
determinado comportamento ou sancionam 
certo acto contrário ao previsto nos 
diplomas legais).
➢ Teoria dos Círculos Concêntricos / Critério do Mínimo 
Ético – estrutura organizativa das normas que coloca 
no centro o Direito, abrangido pelas principais normas 
éticas. Assim, entende-se que todas as normas 
jurídicas são normas morais;
Página14
➢ Teoria dos Círculos Secantes – Direito e Moral são duas 
esferas separadas, mas com pontos em comum. Há 
factos que podem ser igualmente relevantes para o 
Direito e para a Moral (ex: homicídio). Por outro lado, 
há também factos morais irrelevantes ao Direito e 
vice-versa (ex: as regras de trânsito são irrelevantes 
para a Moral, assim como os sentimentos de pena e 
compaixão são irrelevantes para o Direito).
➢ Existem relações de atinência, antinomia e 
concordância entre normas.
○ Uma relação de discordância prende-se com a 
questão do aborto. O Direito possibilita a 
interrupção voluntária da gravidez (IVG), algo 
condenado pela Moral.
➢ Direito e Moral têm pontos de partida diferentes e 
finalidades diferentes. O critério de exterioridade 
aponta-nos os pontos de partida das ordens 
normativas (interioridade / exterioridade). Enquanto o 
Direito visa a manutenção da sobrevivência da 
sociedade, a Moral visa o aperfeiçoamento do 
indivíduo;
➢ No presente caso sobre o lenocínio (ficha de trabalho 
n.º2), estamos perante uma prática moral e 
juridicamente reprovável e também abarcada por uma 
norma juridica. Portanto, não se trata de uma mera 
questão ética / moral. Os pontos de partida de cada 
ordem são diferentes. A condenação moral de uma 
prática reprovável realizada revela uma má formação 
do indivíduo e terá consequências bastante graves. O 
Direito, neste caso, tem como finalidade a protecção 
da dignidade humana, direito fundamental consagrado 
na CRP (valores da liberdade e da integridade moral 
das pessoas que se prostituem);
➢ Constituem os dois pilares do Direito: a justiça e a 
segurança (≠ coercibilidade). A coercibilidade 
constitui-se como um instrumento do Direito para 
alcançar determinados objectivos;
Página15
➢ Segurança (dois sentidos):
○ Certeza jurídica (conhecimento do Direito 
vigente);
 Princípio da não retroactividade da Lei
○ Segurança jurídica em sentido estrito (por parte 
do Estado).
➢ As normas jurídicas procuram encontrar um equilíbrio 
entre justiça e segurança.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 16 de Outubro de 2009 – 11H-12H30 – 
Aula Teórica)
➢ Um dos corolários do Direito é a dignidade da pessoa 
humana, princípio que não é adquirido, pacífico, 
atendendo aos diferentes entendimentos sobre este 
direito fundamental. Nem sempre somos capazes de 
reconhecer o postulado por este princípio, o que não 
implica que este valor fundamental não continue a ser 
uma “bandeira” pela qual sempre se lutará;
Página16
➢ O artigo 70.º do Código Civil (tutela geral de 
personalidade) protege genericamente os indivíduos 
contra qualquer tipo de ofensa física ou moral – 
cláusula geral. Trata-se de uma disposição aberta, de 
máximo alcance, que se pode aplicar a uma 
diversidade de casos. Compete, neste caso, ao jurista 
interpretar a Lei e determinar o que pode ser 
entendido como “ofensa”. Na CRP, encontra-se 
protegido o princípio da dignidade humana previsto no 
Código Civil de 1966. Esta disposição abrange ofensas 
ao bom-nome, à privacidade da vida humana, à honra, 
ao uso inapropriado do nosso nome, à imagem. Dentro 
dos princípios da Lei, todos temos direito à contracção 
do casamento, a exercer o poder paternal, à iniciativa 
privada (art. 405º - liberdade contratual) 
resumidamente à auto-determinação. Todos os 
direitos apresentados fazem parte do corolário da 
dignidade da pessoa humana;
➢ Existe a possibilidade de celebração de contratos que 
não estão previstos no Código Civil ou de celebração 
de contratos previstos na Lei noutros termos. A 
regulação prevista no Código Civil diz-se supletiva;
➢ O Código Civil protege dois valores fundamentais: 
liberdade e igualdade. Todos somos iguais perante a 
Lei e tudo o que não nos é imposto, é permitido;
➢ O Estado só pode actuar dentro das competências que 
lhe são atribuídas pela Lei, ao contrário do indivíduo a 
quem é atribuída liberdade;
➢ Todos nós somos detentores de direitos de 
personalidade (honra, imagem, intimidade da vida 
privada, confidencialidade da correspondência), a 
partir do momento em que nascemos, completos e 
com vida. Também o princípio da integridade moral da 
pessoa humana prevê a impossibilidade, por exemplo, 
da gravação e reprodução da voz de alguém, sem 
autorização prévia;
Página17
➢ A questão do ser humano, em estado embrionário, 
exige igualmente a consagração de princípios sobre a 
aplicação da biotecnologia, para proteger a sua 
dignidade pré-natal. Por outro lado, o ser humano, no 
fim da sua vida, não encontra disposição legal que 
protega a sua vontade, se não desejar, por exemplo, 
sujeitar-se a tratamentos penosos. Estamos perante 
debilidades do nosso Código Civil. Não podemos 
estabelecer semelhanças entre estas situações e a 
eutanásia, processo que legitima o médico a apressar 
a morte do ser humano. Atentando no artigo 81º do 
C.C., verificamos que se encontra prevista a 
possibilidade de limitação voluntária dos direitos de 
personalidade que, todavia, não se aplica a casos 
contrários à ordem pública, como a eutanásia. Assim, 
todos os comportamentos contrários à ordem pública 
são punidos por lei, como por exemplo, o auxílio ao 
homicídio ou suicídio;
➢ Após a morte de um ser humano, impera o dever de 
solidariedade na hipotética doação de órgãos, dado 
que o ser humano não é só sujeito de direitos, mas 
também de deveres para com o resto da comunidade;
➢ O estatuto da pessoa, ainda antes de ser titular de 
relações jurídicas, revela-se fundamental, constitui o 
cerne para o Direito Civil;
➢ O princípio da propriedade, previsto no Código Civil, é 
inerente à dignidade da pessoa humana, o que não 
implica que este direito seja ilimitado ou não haja 
possibilidade de expropriação, em casos excepcionais 
(ex: hipoteca);
➢ Nos negócios unilaterais sem contrapartida (art. 457º 
do C.C.), o Direito desconfia da vontade e da 
manutenção da vontade do indivíduo;
➢ Nas fontes das obrigações, encontramos fontes 
involuntárias, como a responsabilidade civil por dolo 
ou mera culpa (art. 483º, n.º1 do C.C.). O efeito de 
indemnização não radica na vontade do individuo. A 
Página18
Lei é um ser eticamente responsável, que actua em 
situações censuráveis, sujeitas a uma pena sobre o 
sujeito ético. O n.º2 do mesmo artigo prevê 
responsabilidade civil sem culpa, mas por realização 
de prática com risco (ver artigo 503º do C.C.).
INTRODUÇÃOAO DIREITO I (continuação)
(Segunda-Feira, 19 de Outubro de 2009, 14h-15h30 
– Teórica)
➢ Obrigações – art. 397º do C.C. – exprimem a 
cooperação humana; fonte primordial é a autonomia 
privada;
➢ Art. 1207º do C.C. – contrato de empreitada;
➢ Princípio da tipicidade – art. 487º do C.C. (a propósito 
dos negócios unilaterais);
➢ Entre as fontes das obrigações heterónimas (derivam 
do Direito Objectivo), encontramos a responsabilidade 
civil, que implica uma indemnização sobre o dano 
(físico e/ou moral) provocado a outrem (ilicitude e 
culpa);
➢ Tem de existir um nexo causal entre o acto ilícito e o 
dano (no qual se inserem os lucros cessantes) causado 
(determinado acto ilícito foi a causa do dano, 
efectivamente);
➢ Responsabilidade civil (fazer justiça ao lesado)
○ Direitos gerais ou absolutos – todos os 
direitos de personalidade (ex: integridade física) 
e direitos reais (direitos erga omnes)
○ Direitos de crédito ou relativos – relação 
apenas entre credor e devedor
○ Deveres gerais – incumbem 
indiscriminadamente sobre todos
Página19
○ Responsabilidade obrigacional (artigos 798º e 
seguintes do C.C.)
○ Responsabilidade delitual (prática de um 
delito, acto ilícito culposo extra-obrigacional)
○ Responsabilidade civil extra-obrigacional 
pelo risco (artigo 499º e seguintes do C.C.)
 Detenção de coisas perigosas (ex: 
automóveis, animais – art. 502 do C.C.);
 Realização de actividade perigosa.
○ Compete ao autor do dano reconstituir o bem 
lesado (forma ordinária de indemnização). 
Habitualmente, é mais fácil efectuar o 
pagamento da indemnização em dinheiro, mas o 
primado da indemnização é a primeira situação 
apresentada (artigos 562º e 566º do Código Civil)
○ Responsabilidade civil pelos factos lícitos 
(pelo sacrifício)
 Alguém que está legitimado para praticar 
determinado acto, mas causa dano (por 
exemplo: expropriações por utilidade 
pública – Direito Público);
 Autotutela (“justiça pelas próprias mãos”, 
“justiça dos mais fortes”) – é proibida a 
autodefesa com algumas excepções:
• Legítima defesa (artigos 337º e 338º 
do C.C.);
• Acção directa (artigo 336º do C.C.);
• Estado de necessidade (artigo 339º 
do C.C.) – situação excepcional
○ Outras fontes das obrigações
 Enriquecimento sem causa – remoção de 
enriquecimentos injustificados; desvio de 
utilidades do proprietário para 
enriquecimento ilícito à custa de outrem.
Página20
• Artigos 473.º e seguintes do Código 
Civil;
• Conceito com origem no Direito 
Romano.
 Repetição do indevido – reaver aquilo que 
foi indevidamente pago ou dado (artigo 476º 
do C.C.);
 Gestão de negócios (artigo 464º do C.C.) – 
imiscuir-se na vida de negócios de outra 
pessoa, até com boa intenção, mas sem 
autorização; intromissão na esfera jurídica 
alheia, ficando o infractor obrigado a pagar 
despesas inerentes;
 Remuneração do gestor (art. 470º do 
C.C.) – remuneração de uma actividade 
profissional do gestor;
 Assunção deliberatória de dívidas (art. 
595º do C.C.);
 Cessão de crédito / Cessão de 
imposição patrimonial (art. 577º e 
seguintes do C.C.);
 Responsabilidade patrimonial – o 
exercício da coacção física deve constituir a 
ultima ratio (somente em situações 
excepcionais). Actualmente, a aplicação da 
pena de prisão preventiva por dívida é um 
cenário excepcional, que apenas sucede se 
estiver em causa a subsistência de outrem 
(por exemplo: incumprimento do pagamento 
do subsídio de alimentos). Habitualmente, 
aplica-se a responsabilidade patrimonial, 
com a penhora do património do devedor, 
sendo vendidos os bens e cubrindo-se a 
dívida. Todavia, o conjunto dos direitos mais 
importantes não tem cobertura patrimonial 
(direitos de personalidade, por exemplo: 
direito à honra). Outro tipo de 
Página21
compensações podem ser atribuídos, 
atendendo ao caso concreto, como o direito 
de resposta.
 Indemnização por danos morais 
gravosos – artigo 496.º do Código Civil;
 Extinção de uma obrigação pelo seu 
cumprimento – artigo 762º do Código Civil;
○ Outras formas de cumprimento da 
obrigação
 Doação em cumprimento;
 Remissão;
 Novação (substituição por outra);
 Confusão (reunião na mesma pessoa de 
credor e devedor).
➢ Figuras antiquíssimas, sem ligação política ou 
ideológica;
➢ Direito Perene – permanece no tempo.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 20 de Outubro de 2009 – 9H-11H – 
Aula Prática)
➢ Nenhuma norma jurídica se pode encontrar destituída 
de Justiça;
➢ Uma relação contratual encontra-se sujeita a riscos 
imprevisíveis, nomeadamente uma crise económica ou 
petrolífera, o que alterará o valor real do acordo 
Página22
celebrado. Para precaver estas situações, 
encontramos no Código Civil o artigo 437º.
➢ Justiça
○ Em sentido formal – promoção da igualdade 
segundo diferentes critérios, tratamento 
proporcional das situações, alteridade.
 Justiça comutativa (típica do Direito 
Privado, entre particulares)
• Regula as relações dos membros da 
sociedade entre si, visando 
restabelecer ou corrigir os 
desequilíbrios que surgem nas relações 
interpessoais, razão pela qual também 
se designa esta espécie de justiça por 
«rectificadora». Opera segundo um 
critério de igualdade simples ou 
aritmética, que se traduz na 
equivalência das prestações, e abrange 
tanto as trocas voluntárias ou lícitas 
como as involuntárias ou ilícitas.
 Justiça distributiva (típica do Direito 
Público, entre particulares e o Estado)
• Diz respeito à repartição de bens 
comuns que a sociedade deve fazer por 
todos os seus membros, segundo um 
critério de igualdade proporcional ou 
geométrica, que atende à finalidade da 
distribuição e à situação pessoal de 
quem recebe, segundo o mérito 
(meritocracia – valorizar quem revelou 
mérito), as necessidades, etc. É esta a 
justiça, por excelência, dos 
governantes, já que são os 
admnistradores do bem comum. 
(Exemplos: atribuição de subsídios de 
desemprego, invalidez, de abono de 
Página23
família maior para quem aufere 
rendimentos menores).
 Justiça geral ou legal (típica do Direito 
Público Fiscal, entre particulares e o Estado)
• Preside às relações entre a sociedade e 
os seus membros, no que concerne aos 
encargos que lhes são exigidos como 
contribuição para o bem comum e que 
devem ser repartidos por todos. 
Exemplo desses encargos são os 
impostos. À semelhança do que sucede 
na justiça distributiva, o critério que 
deve ser usado é o da igualdade 
proporcional, dado que nem todos os 
membros da sociedade podem 
contribuir da mesma maneira para o 
bem comum, devido às desigualdades 
socioeconómicas, aos benefícios 
usufruídos, etc.
○ Em sentido material – dignidade da pessoa 
humana
➢ Restrição de direitos, liberdades e garantias (na 
medida do estritamente necessário)
○ Princípio da adequação;
○ Princípio da proibição do excesso;
○ Princípio da proporcionalidade em sentido 
restrito.
➢ Distinção entre Democracia Formal e Material
○ Democracia Formal – cumprimento dos 
princípios da maioria;
○ Democracia Material – preservação da 
dignidade da pessoa humana.
➢ Segurança
Página24
○ Em sentido de certeza por parte do Estado
 Cumprimento por parte do Estado do 
princípio da legalidade.
○ Em sentido de certeza jurídica
 Prescrição de um crime (em Direito 
Penal)
• Nunca sucede se estiver em causa a 
violação de direitos humanos;
• Procura evitar a justiça tardiae garantir 
aos cidadãos que não serão 
eternamente perseguidos.
 Menoridade / Maioridade (em Direito 
Civil)
• Art. 122º do C.C. – é menor quem ainda 
mão tiver completado a idade de 18 
anos;
• Trata-se de uma norma que valoriza o 
valor da segurança no sentido de 
certeza jurídica; pretende-se a 
protecção de terceiros envolvidos em 
relações jurídicas, em detrimento da 
justiça;
• Emancipação via casamento a partir 
dos 16 anos.
 Prescrição em Direito Civil (forma de 
extinção de direitos de crédito)
• Prazos de prescrição no art. 309º e 
seguintes do C.C. (ordinariamente 20 
anos);
• Regime das obrigações naturais (ver 
artigo 402º e 403º do Código Civil)
○ O cumprimento de obrigações no 
prazo previsto ou após a 
prescrição de livre e espontânea 
vontade não pode ser anulada.
Página25
 Direito de crédito ≠ Direito real – direito 
à prestação de determinado cumprimento 
por parte de outrem.
• Contrato de arrendamento entre 
senhorio e inquilino;
• Obrigações inter partes, apenas entre 
os intervenientes na relação jurídica;
• Transmissão de posição do locador (art. 
1057º do C.C.) – alienação do direito de 
propriedade a outrem; o novo detentor 
do direito de propriedade assume-se 
também como locador, não podendo 
accionar uma ordem de despejo ao 
locatário;
 Posse do direito de propriedade por 
usucapião (art. 1287º do C.C.)
○ actuação como proprietário 
durante muitos anos;
○ instituto algo injusto que procura 
proteger a acção de terceiros;
○ a inércia do legítimo proprietário 
pode permitir a outrem adquirir o 
direito de propriedade por 
usucapião;
○ prazos para aquisição do direito 
de propriedade (artigos 1294º a 
1300º do CC)
 Inversão do título de posse (art. 1265º do 
C.C.);
○ Todos os casos apresentados promovem o valor 
da segurança em sentido de certeza jurídica em 
detrimento da justiça.
Página26
➢ Summa divisio Direito Público e Direito Privado
○ Distinção do Direito Romano, considerada a mais 
importante do Direito, com aplicação nos 
ordenamentos romano-germânicos, mas não nos 
ordenamentos de “common law” (anglo-
saxónicos);
○ Critérios de distinção
1)Critério da natureza dos interesses
✔ Direito Público – normas que visam 
satisfazer interesses públicos;
✔ Direito Privado – normas que visam 
satisfazer interesses privados.
○ Crítica: Na verdade, todas as 
normas jurídicas de Direito Privado 
são elaboradas tendo em conta 
interesses públicos (ex: normas 
contratuais de anulabilidade e 
nulidade dos negócios jurídicos) e, 
pelo contrário, as normas jurídicas 
de Direito Público também 
prosseguem interesses particulares 
(ex: normas de Direito 
Administrativo). 
○ Perante as críticas a que este critério 
foi alvo, alguns autores procuraram 
reformulá-lo, baseando a distinção 
na natureza do interesse 
predominantemente tutelado pela 
norma. Assim:
 Direito Público – conjunto de 
normas que tutelassem 
predominantemente os 
interesses da colectividade;
Página27
 Direito Privado – conjunto de 
normas que tutelassem 
predominantemente os 
interesses particulares.
1)Critério da qualidade dos sujeitos;
✔ Direito Público – normas que visam 
regular as relações em que intervenha o 
Estado ou qualquer ente público1 em 
geral, dotado de imperium2;
✔ Direito Privado – normas que visam 
regular as relações entre particulares.
○ Crítica: o Estado e demais entes 
públicos podem actuar, e 
frequentemente actuam, despidos 
de imperium, isto é, nos mesmos 
termos que qualquer particular.
1)Critério da posição dos sujeitos na 
relação jurídica.
✔ Direito Público – normas que visam 
regular as relações em que intervenha o 
Estado ou qualquer ente público dotado 
de supremacia, isto é, desde que 
investido de imperium;
✔ Direito Privado – normas que visam 
regular as relações que se estabelecem 
entre os cidadãos, ou entre estes e o 
Estado ou qualquer ente público, mas 
desde que desprovidos do seu imperium.
○ Desta forma, os sujeitos da relação 
encontram-se em pé de igualdade;
1 Autarquias locais, regiões autónomas, associações públicas, etc.
2 O Estado é dotado de autoridade, que lhe permite intervir nas diversas relações 
jurídicas em situação de superioridade e autoridade.
Página28
○ Este critério é aquele que se mostra 
mais adequado à moderna 
codificação e que reúne maior 
consenso entre os autores, na 
divisão tradicional entre Direito 
Público e Privado;
○ É evidente que estes dois ramos de 
Direito, o Direito Público e o Direito 
Privado, não constituem dois 
compartimentos estanques, 
separados de forma absoluta. Pelo 
contrário, existem muitos pontos de 
conexão entre eles.
○ Crítica: como se classificam as 
normas que envolvem duas 
entidades públicas? Neste caso, 
aplica-se o critério da qualidade dos 
sujeitos.
○ O Direito Penal pode ser 
considerado, segundo o critério da 
posição dos sujeitos, Direito Privado, 
dada a posição de igualdade qu as 
partes envolvidas assumem. 
Todavia, generaliza-se a ideia de se 
tratar de Direito Público:
 Dados os interesses públicos 
em causa;
 A aplicação de sanções por 
parte dos tribunais implica a 
existência de um poder de 
autoridade (imperium).
➢ Propriedade Pública do Estado (art. 84º da CRP)
○ Aplicação de normas de Direito Público;
Página29
○ Os bens públicos do Estado não podem ser 
adquiridos por usucapião, agindo o Estado em 
posição de supremacia;
○ Os bens imóveis adquiridos pelo Estado para 
assuntos administrativos não são considerados 
bens públicos do Estado – domínio privado do 
Estado. A aquisição por usucapião destes bens 
acresce de metade do apresentado 
ordinariamente em Código Civil;
➢ Legislação sobre achados arqueológicos (art. 
1318º e seguintes do C.C.)
○ Considerados bens públicos do Estado na 
esmagadora maioria dos casos (art. 1324º do 
C.C.);
○ Preserva-se o direito de compensação estatal a 
quem os encontrar.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 23 de Outubro de 2009 – 11H-12H30 – 
Aula Teórica)
➢ Os direitos reais, consagrados pela necessidade do ser 
humano possuir bens para se realizar, promovem a 
exclusividade do uso, fruição e disposição de 
determinado bem;
➢ Quem for desapossado de determinado bem, tem o 
direito de pedir a restituição desse bem, através do 
direito petitório ou acção de reivindicação (art. 1311º 
do C.C.)
Página30
○ Distinguir conceitos de posse e de propriedade:
 Posse: deter o bem;
 Propriedade: titularidade legítima de 
determinado bem.
➢ Compete à ordem jurídica garantir o núcleo de 
socialização primária de cada um de nós – família 
(protecção do estatuto jurídico mínimo – Direito da 
Família consagrado no Código Civil);
➢ Estão protegidas no Código Civil as relações entre 
cônjuges, nomeadamente de carácter patrimonial 
(exemplo: regime de bens); outras matérias como o 
casamento e a filiação estão igualmente previstas no 
Código Civil;
➢ As relações jurídicas post mortem, que não estão 
associadas a uma pessoa, podem perdurar, 
garantindo-se uma estabilidade nas relações sociais. 
No âmbito familiar, esta questão aplica-se, garantindo 
uma continuidade das relações jurídicas, 
especialmente de carácter patrimonial (Livro V do C.C. 
– Direito das Sucessões)
○ Sucessão voluntária (através de 
testamento)
 Título de vocação sucessória atribuído aos 
envolvidos (herdeiros) no testamento;○ Sucessão determinada pela Lei (compete à 
Lei regular o âmbito do testamento)
 Sucessão legítima (na ausência de 
testamento) – todos os bens têm de ter 
dono, em último caso o Estado 
(supletivamente estabelecida na Lei);
 Sucessão legitimária (herdeiros forçados – 
cônjuge, filhos)
• A liberdade de testar tem de respeitar 
os princípios da sucessão legitimária;
• A liberdade de disposição de bens 
sobre outros herdeiros que não os 
impostos pela Lei é de 1/3.
Página31
➢ Nos Livros IV e V do Código Civil, encontramos 
estruturas semelhante a todos os ordenamentos 
jurídicos, mesmo entre culturas diferentes;
➢ Aquilo que designamos por “direito comum” é uma 
série de práticas realizadas durante séculos, 
dificilmente afastadas pela Lei. Compete a todo o 
jurista tomar conhecimento deste “direito comum”, 
que abrange tradições e costumes;
➢ A coercibilidade não é uma característica intrínseca do 
Direito. Consiste na susceptibilidade de aplicação da 
Lei através de meios coercivos. Nenhum ordenamento 
jurídico poderá ter como caracteristica intrínseca a 
coercibilidade, porque isso colidiria com a liberdade do 
indivíduo acatar a Lei (dever jurídico);
➢ Afinal, o que é o Direito (Quid Ius?)
○ Iremos efectuar uma abordagem jurídico do 
Direito, no seu âmago (perspectiva interna);
○ O Direito radica na natureza social do Homem 
(ente racional);
○ Pertence ao mundo do espírito e da cultura, é 
uma realidade cultural;
○ Implica alteridade e sociedade, mas nem todo o 
Direito é constituído por relações jurídicas (ver 
artigo 1305º do C.C. que norteia a relação entre 
proprietário e a coisa);
○ É uma realidade histórica (reflecte as vicissitudes 
da História)
 Direito Organizacional (volúvel, diferentes 
sistemas)
○ Constituído por Leis, não da Natureza (leis 
determinísticas). O Direito é uma ordem de 
liberdade, não uma ordem física, daí a existência 
de sanções. O ser humano não é um indivíduo 
programado, pelo contrário domina as suas 
tendências;
Página32
○ O desafio da liberdade constitui uma 
responsabilidade;
○ Vivemos numa sociedade estável, constituída por 
instituições, que permitem a permanência e a 
mutação das sociedades. Compete ao Direito a 
criação de instituições, a institucionalização da 
vida social;
○ Ordem social ≠ Ordem jurídica – tentativa errada 
de socialização do Direito. As práticas sociais não 
se podem confundir com as normas jurídicas. 
Apesar da vinculação social, nem todas as regras 
regulares da vida social são Direito – 
ambivalência do Direito (que se encontra entre o 
“ser” da vida social e o “dever ser” – ordem 
deôntica. O Direito não está desligado da prática, 
aliás pretende ligar-se à prática. É, assim, uma 
instância crítica da ordem social;
○ O Direito não é, necessariamente, uma 
concepção empírica, submetida à Sociologia 
(nem todas as sentenças são justas, ao contrário 
do que se verifica numa realidade americana). A 
sentença de um juiz constitui Direito, mas pode 
não estar conforme com o Direito;
➢ Direito e as várias ordens normativas
○ Ordem Religiosa (relações do Homem com o 
transcendente)
 Tem consequências sociais, que podem 
exigir regulação jurídica;
 Autonomia entre Direito e Religião.
• Característica dos sistemas ocidentais;
• Assegura a liberdade de consciência do 
indivíduo (liberdade de crença);
• Estado islâmicos são teocráticos 
(Direito e Religião confundem-se).
Página33
○ Ordem Moral (aperfeiçoamento do indivíduo, 
dirigindo-o para o bem)
 Ocorre voluntariamente em sociedade;
 É essencialmente uma autoconstrução (sem 
imperatividade externa);
 Tem consequências sociais;
 Predominam, obviamente, relações de 
coincidência entre ordem moral e ordem 
jurídica;
 Há igualmente relações de autonomia.
○ Ordem do Trato Social (costumes sociais, 
convencionalismos)
 Tem consequências / represálias sociais;
 Sem relevância jurídica;
 Existem regras constitutivas de 
determinados jogos (por exemplo: xadrez, 
futebol);
 Ditames de consciência enraizados na 
sociedade.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 23 de Outubro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ As ordens normativas apresentadas anteriormente não 
estão dotadas de imperatividade (exigência de 
aplicação incondicionável);
➢ Acepções de Direito
1. Conforme com a justiça;
2. Ordem normativa (acepção errada – as normas 
jurídicas são um critério do Direito);
3. Ciência Jurídica (jurisprudência);
4. Posição do sujeito
Página34
➢ Enquanto o Direito é universal e se mantem no tempo, 
a ordem jurídica é mutável e restritiva;
➢ Não existe Direito fora da realidade dos juristas, que 
têm a sua imagem do Direito. Direito como 
“consciência da juridicidade” (António Castanheira 
Neves);
➢ A acepção de “posição do sujeito” relaciona-se com os 
direitos subjectivos;
➢ A realidade do Direito é polissémica, multifacetada, 
com um elevado grau de complexidade das suas 
acepções. Deste modo, compreende-se a dificuldade 
do jurista em encontrar uma noção de Direito. Para os 
detentores do poder em regimes totalitários, é 
conveniente a acepção de Direito com Poder. Outros 
entendem que não faz sentido procurar encontrar uma 
noção de Direito – cepticismo. Todavia, esta última 
posição é insustentável, dado que o Direito constitui 
um dado da experiência, integrado nas diversas 
comunidades desde sempre. De qualquer modo, 
podemos considerar que os caminhos para encontrar 
uma noção de Direito são múltiplos;
➢ Há que considerar o contributo da epistemologia e da 
simbólica para ajudar a encontrar uma noção de 
Direito, como também o testemunho de filósofos que 
se debruçaram sobre a matéria.
○ Etimologia do Direito
 Ligada à palavra ius na origem de juiz, 
justiça, jurisprudência;
 A linguagem cristalizou-se de acordo com as 
nossas necessidades.
 Traduções de Direito em diferentes idiomas 
(exemplos):
• Derecho (espanhol);
• Droit (francês);
 Sinónimo de estabilidade, rectidão, firmeza.
Página35
○ Simbólica do Direito (observáveis nos 
Palácios da Justiça)
 “Deusa da Justiça”: fonte de Justiça;
 “Espada”: a bem ou a mal, o Direito deve 
cumprir-se;
 “Balança”: relaciona-se com a alteridade 
(conflitualidade humana)
• “Pratos igualados”: símbolo de 
igualdade; se alguém desequilibra a 
igualdade, tem de ser reposta;
• “Fiel da balança”: rectidão.
 “Olhos vendados”: símbolo de 
imparcialidade; todos têm direito à mesma 
justiça, não se fazem discriminações 
infundadas; “direito cego” (não se olha a 
quem);
 “Olho descoberto”: símbolo de inteligência 
(atende à realidade).
Página36
➢ O Direito deve ser encarado como uma realidade de 
facto, existente em todas as sociedades ao longo dos 
tempos (facto cultural) – posição realista;
➢ Classicamente, a justiça era encarada como uma 
virtude/qualidade adquirida com a prática de actos 
bons (“dar a cada um aquilo que é seu”). “Direito” e 
“justiça” são conceitos interligados e susceptíveis de 
uma querela: É a Justiça que tem como objecto o 
Direito ou o contrário?;
➢ O Direito Americano e o Direito Ocidental têm uma 
origem aristotélica e latina (romana). Já o Direito 
Romano se havia inspirado na Teoria Aristotélica;
➢ O Direito contenta-se com aquilo que é objectivamente 
justo (adopção de uma conduta em conformidade com 
o Direito, mesmo sem virtude);
➢ Justiça legal ≠ Justiça Natural
Página37
○ Justiça legal – o que é justo por força de uma 
determinação daLei, que, por vezes, é um 
critério de justiça;
○ Justiça natural – decorre da natureza das 
coisas, outro critério de justiça (ex: honrar um 
contrato faz parte da natureza do compromisso; 
família fundada num casamento heterossexual; 
disposição de bens post mortem);
➢ O Direito é uma sabedoria / racionalidade prática, daí 
o valor da prudência (natureza prudencial do Direito) – 
Aristóteles;
➢ A teoria dos sábios gregos nunca se traduziu num 
Direito próprio, somente os romanos efectuaram essa 
tradução;
➢ Noções de Justiça:
○ Iustitia est constans et perpetua voluntas ius 
suum cuique tribuendi (Ulpianus) – Justiça é a 
vontade constante e perpétua de atribuir a cada 
um o seu direito;
○ Justiça é aquilo que é justo (Paulus).
➢ Noções de Direito:
○ O Direito não se resume às convenções humanas, 
existe uma Lei intrínseca à natureza humana 
(Cícero);
○ Ius est ars boni et aequi (Celsus) – Direito é a arte 
do bom e do justo.
➢ Por vezes, a aplicação mecânica do Direito gera 
injustiça;
➢ Todos estes pensamentos da Antiguidade Clássica 
permanecem até aos dias de hoje;
➢ S. Tomás de Aquino fixou as três modalidades de 
justiça: comutativa, distributiva e geral (ou legal);
Página38
○ Já Aristóteles, em “A Política”, abordava (não 
directamente) a questão da necessidade de 
distribuir os bens escassos pela comunidade, 
através do exemplo da distribuição de flautas 
(justiça distributiva)
➢ Direito Natural ≠ Direito Positivo
○ Direito Natural – deriva da natureza das coisas;
○ Direito Positivo – deriva da convenção das 
pessoas, que vai variando (p.e. – princípio da 
maioria).
➢ Há exigências de Direito Natural que são positivadas;
➢ Há quem defenda, com alguma razão, que o Direito 
que não é manifestado, não é Direito;
➢ A Lei é uma certa razão / critério de Direito (Paulus); 
as normas concretizam o Direito, são critérios do 
Direito, mas a Lei não é o Direito;
➢ Noção de Lei - “ordenação da razão para o bem 
comum, promulgada por aquele que tem o cuidado da 
comunidade” (S. Tomás de Aquino). O Direito é 
entendido como um produto da razão, suportado pela 
vontade, mas com uma pretensão de justiça (senão 
seria uma corrupção da Lei). Toda a Lei que não seja 
essencialmente fundamentada na racionalidade pode 
ser afastada pelo juiz. Tal facto pode estar relacionado 
com a evolução cronológica, que torna a Lei obsoleta;
➢ Propriedades da Lei Natural:
○ Universal (aplica-se e destina-se a todos);
○ Não é modificável pela vontade humana (mesmo 
que essa vontade seja manifestada pela maioria 
da população);
○ Cognoscibilidade (todos nós podemos conhecê-la)
 Graças à globalização, temos maior contacto 
com outros ordenamentos jurídicos. Tal 
facto pode ser, também, gerador de 
polémicas. Todavia, através do diálogo inter-
Página39
cultural, desde que realizado com respeito 
mútuo, pode revelar-se frutífero, na medida 
em que poderemos promover os Direitos 
Humanos noutros países. De recordar que 
todos partilhamos uma identidade 
fundamental e dos direitos humanos provêm 
de uma natureza humana comum.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 27 de Outubro de 2009 – 9H-11H – 
Aula Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º 3 
✔ Prisão Preventiva: medida de coacção que se 
destina a:
• Impedir tentativa de fuga;
• Assegurar a acção efectiva dos tribunais 
e polícia, evitando a usurpação de provas 
e permitindo a condução a bom termo do 
processo;
• Evitar a continuidade de prática criminosa 
por parte do suspeito.
✔ Direito Processual – destina-se a reger a 
actuação dos tribunais, órgão de soberania, 
que se situa acima das partes envolvidas; 
conjunto de formalidades / trâmites a seguir. 
São ramos do Direito Processual:
○ Direito Processual Penal;
 Não é um processo de partes;
 De acordo com o princípio do 
inquisitório, o processo penal 
assenta numa acção do Ministério 
Página40
Público, competindo ao tribunal 
realizar diligências probatórias, 
durante a audiência;
 Intervêm no processo o juíz, o 
Ministério Público e um assistente 
(vítima);
 Objectivo: descubrir a verdade 
material;
 O Ministério Público e os tribunais 
são, acima de tudo, defensores da 
legalidade, podendo, por isso, 
solicitar a absolvição do réu;
 Segundo o artigo 127º do CPC, “Não 
haverá, na aplicação da regra 
processual da «livre apreciação da 
prova» que lançar mão, limitando-a, 
do princípio in dubio pro reo 
exigido pela constitucional 
presunção de inocência do acusado, 
se a prova produzida, depois de 
avaliada segundo as regras da 
experiência e a liberdade de 
apreciação da prova, não conduzir 
«à subsistência no espírito do 
tribunal de uma dúvida positiva e 
invencível sobre a existência ou 
inexistência do facto». O in dubio pro 
reo, com efeito, «parte da dúvida, 
supõe a dúvida e destina-se a 
permitir uma decisão judicial que 
veja ameaçada a concretização por 
carência de uma firme certeza do 
julgador»;
 Duas fases do processo penal:
• 1.ª Fase – Inquérito, da 
responsabilidade do Ministério 
Público;
Página41
• 2.ª Fase – Julgamento, da 
responsabilidade do Tribunal.
 Os crimes públicos não implicam a 
apresentação de queixa. Já os crimes 
de ofensa à integridade física 
implicam queixa, com prazo de seis 
meses, fixados por Lei, após a 
prática do acto criminoso – crime 
semi-público;
 No caso de elevada probabilidade de 
existência de crime, compete ao 
Ministério Público deduzir o 
processo;
○ Direito Processual Civil;
 Processo Civil – meio legal de acesso 
aos tribunais comuns pelas partes, 
donas do processo, num 
determinado litígio de ordem 
privada, com regras sobre o ônus da 
prova (artigo 342º do C.C.);
 São partes integrantes do processo o 
autor, o réu, o juiz e os assistentes 
processuais;
 O princípio do dispositivo ou da 
disponibilidade das partes é um 
dos princípios basilares relativo à 
prossecução processual que faz 
recair sobre as partes o dever de 
formularem o pedido e de alegarem 
os factos que lhe servem de 
fundamento e os factos em que 
estruturam as excepções – artº 264º, 
nº 1, do CPC. Assim, compete ao 
autor, que exige o cumprimento de 
um direito subjectivo, provar os 
factos que fundamentam a sua 
Página42
acusação e ao réu defender-se dos 
factos apresentados pela acusação e 
provar os factos que lhe interessam;
 Segundo o princípio do 
inquisitório, o tribunal deve realizar 
ou ordenar oficiosamente todas as 
diligências que se lhe afigurem úteis 
para conhecer a verdade 
relativamente aos factos alegados ou 
de que oficiosamente pode conhecer 
(ex: ouvir dada testemunha, realizar 
prova pericial).
○ Direito Processual Fiscal;
○ Direito Processual Administrativo;
○ Direito Processual do Trabalho
✔ Enquanto o Direito Penal, por exemplo, é um 
direito substantivo, dado que procede ao 
estabelecimento de factos considerados crime 
e fixa as consequências para a prática de tais 
actos, o Direito Processual Penal é um direito 
adjectivo, dado que estabelece as 
formalidades a cumprir no âmbito de um 
processo;
✔ No caso dos inimputáveis, são aplicadas 
medidas de segurança, com carácter 
preventivo, dado não possuírem o necessário 
discernimento para ser possível considerar o 
facto ilícito culposo;
✔ De acordo com o critério da posição dos 
sujeitos, o Direito Penal é Direito Privado, dado 
que os intervenientes actuam em pé de 
igualdade, desprovidosde imperium. Todavia, 
o critério prevalecente é o critério dos 
interesses, visto que estão em causa direitos 
públicos. Estamos perante um exemplo prático 
que suscita crítica ao critério da posição dos 
sujeitos na relação jurídica;
Página43
✔ Direito Privado
○ Direito Civil (tronco comum do Direito 
Privado; integra as normas jurídicas mais 
importantes para regular as relações 
jurídicas entre particulares e particulares 
e o Estado, desde que destituído de 
autoridade.)
○ Direito Privado Especial
 Direito Comercial
 Direito do Trabalho
✔ Os artigos 1152º e 1153º do Código Civil são 
duas normas gerais sobre o contrato de 
trabalho, todavia esta matéria está sujeita a 
legislação especial – Código do Trabalho – onde 
se encontra a grande maioria das normas;
✔ Os artigos 980º e ss. do C.C. transmitem-nos 
uma noção de contrato de sociedade, dão-nos 
a conhecer as normas mais importantes em 
matéria de Direito Privado. No entanto, esta 
matéria encontra-se complementada e 
regulamentada num diploma próprio – Código 
Comercial, ou mais especificamente, Código 
das Sociedades Comerciais;
✔ Ramos do Direito Civil
○ Direito das Obrigações;
○ Direitos Reais (das Coisas);
 Da posse;
 Do elenco de direitos reais (principal 
é o de propriedade);
 Do elenco de direitos reais menores 
(ex: usufrutuário);
 Das formas de aquisição do direito 
de propriedade (ex: usucapião).
○ Direitos da Família;
Página44
 Integra contrato de casamento, 
divórcio, regimes de separação de 
bens, adopção e relações de filiação.
○ Direitos das Sucessões
✔ Em várias normas de Direito Constitucional, o 
critério prevalecente é o critério dos interesses, 
mas principalmente o critério da qualidade dos 
sujeitos. O critério da posição dos sujeitos não 
se adequa em vários casos;
✔ Critérios de Fiscalização da 
Constitucionalidade
○ Inconstitucionalidade:
 Por acção (n.º 1 do artigo 277º da 
CRP) – São inconstitucionais as 
normas que infrinjam o disposto na 
Constituição ou os princípios nela 
consignados. Vai ganhando 
relevância prática;
 Por omissão (artigo 283º da CRP) – 
Resulta da ausência de 
regulamentação por parte do 
legislador sobre determinada 
matéria ou da inacção da autoridade 
administrativa competente (ex: Caso 
Aquaparque, em que se verificou 
ausência de regulamentação sobre 
parques de diversão aquáticos).
○ Fiscalização:
 Concreta (artigo 280º da CRP) – em 
qualquer tribunal, no âmbito de um 
processo judicial particular;
 Abstracta (artigo 281º da CRP) – 
domínio do Tribunal Constitucional.
• Preventiva (antes da 
aprovação da Lei);
Página45
• Sucessiva (após a aprovação 
da Lei).
 A declaração de 
inconstitucionalidade pode ser 
realizada, num caso concreto, pelas 
várias instâncias, até ao Tribunal 
Constitucional.
✔ Usucapião – forma original de aquisição de 
direitos reais;
✔ Direito do Trabalho trata:
○ das relações jurídicas individuais do 
trabalho (contrato individual de trabalho);
○ das relações jurídicas colectivas do 
trabalho (contrato colectivo de trabalho, 
direito à greve).
 Convenções colectivas de trabalho: 
“tem corpo de contrato (inter partes) 
e alma de Lei (gerais e abstractas)”
• Contrato colectivo de trabalho – 
entre associações sindicais e 
associações patronais ou 
empregadores;
• Normalmente, os contratos só 
celebram efeitos entre as 
partes (eficácia relativa ou inter 
partes). Adequando esta noção 
ao caso apresentado, os efeitos 
seriam sobre os empregadores 
signatários e os trabalhadores 
filiados/sindicalizados;
• Todavia, neste caso, existe uma 
eficácia externa, isto é, os 
efeitos produzem-se sobre 
trabalhadores filiados e não 
filiados;
Página46
• Por isso, coloca-se em causa a 
integração do Direito do 
Trabalho no Direito Privado. Há 
apologistas da integração do 
Direito do Trabalho no Direito 
Social.
✔ As sociedades civis previstas no Código Civil 
não têm personalidade jurídica;
✔ Sociedades comerciais (com personalidade 
jurídica) – distinguem-se em função do tipo de 
responsabilidade assumida.
○ Sociedades Anónimas (abreviado por 
S.A.) - O capital das S.A. é dividido em 
acções e cada sócio limita a sua 
responsabilidade ao valor das acções que 
subscreveu;
○ Sociedades por quotas (abreviado por 
Lda.) - As sociedades por quotas exigem 
um mínimo de dois sócios (excepto no 
caso das sociedades unipessoais por 
quotas). Todos têm que entrar com 
dinheiro, ou com bens avaliáveis em 
dinheiro. O capital social mínimo é de 5 
mil euros, que não tem que ser 
integralmente realizado no momento em 
que o pacto social é outorgado (podem 
ser diferidas 50 por cento das entradas 
em dinheiro, desde que o capital mínimo 
fique logo realizado). A responsabilidade 
dos sócios tem uma dupla característica: 
é limitada e solidária. É limitada porque 
está circunscrita ao valor do capital social. 
Quer isto dizer que por eventuais dívidas 
da sociedade apenas responde o 
património da empresa e não o dos 
sócios. É solidária na medida em que, no 
Página47
caso do capital social não ser 
integralmente realizado aquando da 
celebração do pacto social, os sócios são 
responsáveis entre si pela realização 
integral de todas as entradas 
convencionadas no contrato social 
(mesmo que um dos sócios não cumpra 
com a sua parte).
○ Sociedades em nome colectivo - Os 
sócios respondem individualmente pela 
sua entrada. Pelas obrigações sociais 
respondem subsidiariamente em relação 
à sociedade e solidariamente com os 
outros sócios.
○ Sociedades em comandita - Cada um 
dos sócios comanditários responde 
apenas pela sua entrada. Os sócios 
comanditados respondem pelas dívidas da 
sociedade nos mesmos termos da 
sociedade em nome colectivo.
 Simples;
 Por acções.
○ As sociedades em nome colectivo e em 
comandita implicam maior 
responsabilidade dos sócios.
✔ Direito Internacional Público – considerado 
Direito Público, refere-se ao conjunto de 
normas que regulam as relações entre sujeitos 
de direito internacional:
○ Estados soberanos (actuam em posição 
de igualdade, o que, desde logo, anula o 
critério da posição dos sujeitos)
○ Organizações Internacionais;
○ Vaticano;
Página48
○ Indivíduo (questão dúbia: o indivíduo 
como pessoa de Direito Internacional 
Público)
✔ Direito Internacional Privado (a partir do 
art. 14º do C.C.)
○ Regulam as relações plurilocalizadas;
○ Conexão entre Estados federados;
○ Elementos de conexão entre diferentes 
ordens jurídicas:
 Nacionalidade;
 Residência.
○ Normas de conflito (a partir do art. 25º do 
C.C.)
 Ver a partir do artigo 49º;
 Art.º 55 – separação judicial de bens 
e divórcio (pode implicar a aplicação 
de Direito de outro país);
 Saber qual o Direito a aplicar em 
casos concretos.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 30 de Outubro de 2009, 11h-12h30 – 
Aula Teórica)
➢ A maior parte das relações sociais são gratuitas, não 
implicam uma equivalência de prestações;
➢ Direito enquanto realidade objectiva – destrinça com a 
Moral (relação de autonomia). Ninguém pode ser 
recriminado por convicções sociais diferentes ao nível 
da Moral e da Religião;
Página49
➢ A autonomia dos Homens (vontade humana) na 
definição do justo é relativa (ver art. 464º do C.C. - 
gestor de negócios);
➢ A Lei é uma razão de ser do Direito, tem de estar 
conforme com o Direito. O poder político apenas pode 
fazer interpretações daquiloque é justo, competindo-
lhe realizar honestamente a justiça;
➢ A concepção de Lei nos Estados totalitários entende 
que a razão de ser está no chefe;
➢ O entendimento do justo natural deve actualizar-se em 
função das novas realidades (ex: bioética);
➢ Se é verdade que há realidades que radicam na 
natureza humana, também é verdade que o direito 
positivo assume um papel fundamental na construção 
do Direito;
➢ Não podemos considerar que todas as questões de 
Direito são relativas (relativismo), pois nem todas as 
concepções de Direito são equivalentes. Esta posição 
inviabiliza o diálogo inter-cultural e proporciona o uso 
do poder pelo poder;
➢ Devemos assumir as limitações da nossa perspectiva e 
promover um diálogo que possibilite um entendimento 
entre ambas as partes, em busca de um conceito 
harmónico de Direito;
➢ Há matérias sobre as quais, historicamente, não é 
possível um consenso, impondo-se uma autoridade;
➢ O Direito Positivo assume uma posição essencial nesta 
matéria, traçando uma directriz que transmite certeza 
aos princípios.
✔ Art. 80º (reserva da vida privada) – lei geral 
que apela a determinados valores.
➢ A Lei precisa de garantir a eficácia das normas 
jurídicas, em cada período histórico, através de um 
aparelho instituído;
➢ A Lei impede o arbítrio dos jogadores (juízes, 
advogados), dado que ela implica a vinculação destes 
às normas vigentes.
Página50
○ Aos tribunais, compete a administração da 
justiça, em nome do povo (n.º1, art. 202º da 
CRP). Seguidamente, no n.º1 do art. 205º da CRP, 
diz-se que as decisões dos tribunais estão 
sujeitas à Lei vigente;
○ O juiz pode decidir contra legem, mas intra ius. 
Portanto, não se pode confundir Lei e Direito;
○ O art. 8.º do Código Civil limita o poder arbitrário 
do juiz. Com isto, procura-se o objectivamente 
justo;
○ O juiz não pode decidir de acordo com as 
convicções pessoais. 
➢ A Lei geral e abstracta permite a adaptação da mesma 
a cada caso concreto, proporcionando um tratamento 
igual de todas as situações. É uma medida geral que 
impede diferentes decisões sobre casos equivalentes;
➢ Os defensores do jusnaturalismo não renegam a 
importância da Lei. René Descartes, autor da célebre 
frase “Penso, logo existo”, considera impossível 
observar a realidade e entender o justo e o injusto. Tal 
só é possível apenas recorrendo ao pensamento e às 
concepções do sujeito – viragem subjectivista 
(redução da realidade ao pensamento). Descartes 
exclui os entendimentos individuais, ocorrendo assim 
um “corte” entre o “ser” e o “dever ser”. Na mesma 
altura, surge Maquiavel com a teoria do iluminado, em 
“O Príncipe”, dotado de poder divino, agindo de acordo 
com a sua vontade. Para Immanuel Kant, era 
impossível ao indíviduo conhecer a realidade e falar de 
justiça, com verdade, consentaneamante. John Rawls, 
autor de uma Teoria da Justiça material, assentando o 
Direito numa convenção que permite a sã convivência 
(retoma do “Contrato Social”, de Jean-Jacques 
Rousseau);
➢ Possível definição de Direito: O Direito é uma 
ordenação da vida social (atendendo à alteridade e 
Página51
exterioridade), segundo a Justiça (pretensão de 
Justiça);
➢ Não há uma ordem jurídica perfeita, porém ela está 
vocacionada para esse valor. O sistema de recursos 
para tribunais superiores assenta num princípio de 
aperfeiçoamento de uma decisão, procurando fazer 
justiça;
➢ A ordem jurídica tem de ser minimamente compatível 
com a ideia de Justiça, daí a consagração, por 
exemplo, do princípio da dignidade da pessoa 
humana;
➢ O legislador tem toda a legitimidade para consagrar 
normas que visem a prossecução da Justiça;
➢ O sociólogo alemão Niklas Luhmann, considerado um 
dos mais importantes representantes da ciência, 
defende a legitimidade pelo processo, ou seja nega 
a ideia de Justiça, considerando legítima uma decisão 
pelo cumprimento dos mecanismos processuais 
previstos. Trata-se de uma perspectiva criticável, pelo 
facto de não entender a noção de Direito como algo 
evolutivo, não efémero;
➢ O Direito não está necessariamente relacionado com o 
Estado. Nem todo o Direito tem origem estadual. O 
Direito Internacional Público, o Direito das 
Comunidades Primitivas, o Direito Canónico, o Direito 
Infra-estrutural das instituições são exemplos desta 
realidade;
➢ É necessário fortalecer as instituições internacionais 
(como o Tribunal Penal Internacional) para resolver os 
problemas globais;
➢ Pode existir Direito sem coacção, ou seja, a 
coercibilidade não é uma característica intrínseca do 
Direito. A eficácia do Direito não está dependente da 
existência de aparelho coercivo, logo a inexistência de 
coercibilidade não implica a inexistência de Direito. 
Sem existir coacção, o cumprimento de uma norma é 
Página52
realizado espontaneamente de acordo com o princípio 
da justiça (adesão àquilo que é justo);
➢ A norma jurídica orienta os comportamentos dos 
indivíduos, mesmo sem existir coacção;
➢ O Direito é uma ordem necessária e representa um 
imperativo (imperatividade). A coacção é um 
instrumento ao serviço da justiça, secundário, não é 
uma característica essencial, mas por vezes 
necessária (característica tendencial);
➢ A consciência de justiça por vezes proporciona a 
realização de justiça (relembrar luta pela 
independência de Timor-Leste, contra o domínio 
indonésio);
➢ A coercibilidade implica um sistema de sanções 
reguladas por um conjunto de normas secundárias (ex: 
códigos processuais)
○ Tipos de sanções
 Compulsórias (levam o infractor a praticar, 
ainda que tardiamente, o acto devido);
• Sanções Pecuniárias Compulsórias (art. 
829.º-A do Código Civil);
• Direito de Retenção (art. 754.º do C.C.) 
– o direito de retenção existe, desde 
que o devedor disponha de um crédito 
contra o seu credor, quando, estando 
obrigado a entregar certa coisa, o seu 
crédito resulta de despesas feitas por 
causa dela.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Segunda-Feira, 02 de Novembro de 2009, 14h-
15h30 – Teórica)
Página53
 Reconstitutivas (visam reconstituir a 
situação que existiria se a norma não fosse 
violada);
• Apossarmo-nos de algo de outrem 
contra a sua vontade. Desde logo, o 
juiz manda reconstituir;
• Execução específica das obrigações:
○ Realização do pagamento de uma 
quantia (por exemplo);
○ Prestação do devedor que se 
traduz num acto jurídico (ex: 
contrato-promessa)
 Execução da promessa (art. 
830º do C.C.).
○ Pagamento de uma indemnização 
por acto lesivo (art. 562º e 566º 
do C.C.). De recordar, todavia, que 
a reconstituição normal é in 
natura (em espécie).
 Compensatórias (quando a reconstituição 
não é possível);
• Prestações de facto infungível que não 
se podem cumprir (por exemplo). Neste 
caso, há lugar a uma compensação;
• Danos não patrimoniais (relacionados 
com direitos de personalidade – art. 
496º do C.C.).
 Punitivas (sanção que implica sofrimento 
ou reprovação da conduta de alguém);
• De natureza criminal (aplicação de 
uma pena privativa de liberdade, 
obrigação ao pagamento de quantias 
pecuniárias, etc.)
Página54
• Disciplinares (infracção de uma 
ordem ou disciplina que existe no meio 
de uma organização)
• Civis (condutas ilícitas não criminosas)
○ Incumprimento de um contrato, 
por exemplo;
 Estabelecimento de uma 
cláusula penal (art. 810º, 
811º e 812º do C.C.)
• O juiz pode reduzir 
cláusulas 
desproporcionadas;
• Podem existir no seio de 
associações. Preventivas (visam prevenir situações de 
desconformidade com a Lei);
• Artigos 780º e 781º do C.C. – numa 
dívida de prestação, no incumprimento 
de uma, todas as outras vencem 
(medida cautelar);
• No campo do Direito Penal – medidas 
de segurança sobre inimputáveis, que 
não possuem idoneidade suficiente 
(p.e. menores).
○ Nos sistemas totalitários, a 
aplicação de penas pode ser 
sucedida por medidas de 
segurança, como ausência de 
liberdades.
➢ Valores negativos (ou desvalores) do acto 
jurídico – um acto jurídico pode ser ineficaz, o que 
não é necessariamente uma sanção. 
Podemos distinguir três tipos de ineficácia (em sentido 
amplo), por ordem decrescente de gravidade:
Página55
○ Inexistência jurídica (art. 245º do C.C., p.e.);
○ Invalidade (actos existentes que padecem de um 
vício);
✔ Nulidade (não produz em absoluto efeitos 
jurídicos);
✔ Anulabilidade (forma menor de invalidade 
que inquina o acto, surtindo efeitos precários – 
art. 256º do C.C., p.e.)
○ Em caso de anulabilidade, compete ao 
errante decidir se quer ou não anular o 
acto.
○ Ineficácia em sentido restrito (mera ineficácia, 
total ou parcial)
○ Há actos ilícitos que são válidos, assim como há 
actos inválidos que são lícitos. Exemplos:
✔ Contrato de compra e venda através de um 
documento particular – estamos perante um acto 
lícito, mas inválido. Implica uma forma solene, 
que constitui uma excepção ao artigo 219º do 
C.C. (liberdade de forma);
✔ Casamento de menores de 18 anos, mas maiores 
de 16 anos sem consentimento – estamos 
perante um acto ilícito, mas válido, visto que 
se verifica a falta de consentimento dos pais ou 
do tutor, quando não suprida pelo Conservador 
do Registo Civil (ver artigo 1648º do C.C., sobre 
boa fé em casamento putativo).
➢ A coercibilidade é a susceptibilidade de aplicação 
coactiva de uma sanção;
➢ Uma ordem jurídica não depende da coercibilidade, 
sobrevive com a adesão voluntária dos cidadãos às 
normas;
➢ Há normas jurídicas que não são assistidas de 
coercibilidade. Por exemplo: normas de Direito 
Página56
Internacional Público, Direito Canónico, normas de 
ordens jurídicas infra-estaduais (das associações);
➢ Nos artigos 402º, 403º e 404º, são apresentadas 
obrigações naturais, isto é, deveres sociais que não 
podem ser coactivamente impostos e não são 
exigíveis judicialmente;
➢ Princípio da proibição da justiça privada ou 
autotutela (“justiça pelas próprias mãos”) – art.º 1 do 
Código de Processo Civil
○ Como alternativa, existe a possibilidade de 
requerer aos tribunais um procedimento judicial 
(art.º 2 do CPC – Garantia de Acesso aos 
Tribunais) – “a cada direito corresponde uma 
acção”
○ Excepções:
 Estado de necessidade (art. 339º do C.C.) 
– causar dano a outrem para salvaguardar 
um bem maior;
• Hipoteca social da propriedade, por 
exemplo (“em caso de necessidade, 
tudo é de todos”).
 Legítima defesa (art. 337º e 338º do C.C.) 
– impossibilidade de recorrer ao tribunal em 
situação de agressão iminente;
• Legítima defesa putativa (excesso 
de legítima defesa);
• Fenómeno que irrompe 
indiscriminadamente.
 Acção Directa (art. 336º do C.C.) – o 
agente emprega a força para realizar o seu 
direito, dadas as delongas da acção judicial;
• Subordina-se à racionalidade e à 
proporção;
Página57
• Não há defesa contra agressão como 
na legítima defesa.
 Direito de Resistência – direito de resistir 
a qualquer ordem que ofenda os direitos, 
liberdades e garantias, provenientes de uma 
autoridade pública.
➢ A Administração Pública detem mecanismos que visam 
uma actividade preventiva de infracções (tutela 
preventiva da polícia, do Banco de Portugal, 
tribunais, etc.)
○ Os tribunais podem aplicar procedimentos / 
providências cautelares (fumus boni iuris) – 
decisão provisória de tutela (antecipando a tutela 
judicial) que caduca, se improcedente.
➢ Legitimidade da coacção no Direito
○ Representa uma limitação das liberdades do 
indivíduo;
○ Coercibilidade como manifestação de 
heteronomia;
○ Necessidade de um requisito de autonomia – 
coercibilidade – como garante da ordem social;
○ A coacção é exigível, representa uma condição 
de podermos viver livremente.
➢ Relação do Direito com o Poder Político e a 
Força (observação macroscópica)
○ Direito depende da força, porque em parte, na 
sua origem, advem da Lei que é imposta por 
quem detem autoridade. Depende da força na 
sua autoridade (aparelho estatal);
○ Todavia, o Direito não se reduz à força, pois, caso 
assim fosse, seria uma sucessão de vontades 
arbitrárias dependentes de caprichos de alguém;
Página58
○ Vivemos num Estado de Direito, que portanto 
assegura como missão realizar esse Direito. Já 
um Estado, que tomasse uma posição 
complacente, ficaria indefeso;
○ O Estado não exclui a força, exclui a violência, 
apesar de determinados países liberalizarem a 
pena de morte;
○ O Direito legitima e regula a força, procura conter 
a força dentro dos seus limites (potestas 
ordinata);
○ A força interessa para o plano da vigência / 
eficácia do Direito, não para o plano da validade 
do Direito.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 03 de Novembro de 2009, 9h-11h – 
Aula Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º3 (continuação)
○ Normas de Direito adjectivo (fora dos 
tribunais) – regulam os registos (civil, predial, 
comercial, etc.); regras do Código Notarial
○ Normas de Direito substantivo (fora dos 
tribunais) – estabelecem direitos e deveres 
sobre as relações jurídicas (capacidade jurídica, 
poderes conferidos)
Grupo III
○ Todos os critérios de distinção de Direito Público 
e Direito Privado são passíveis de crítica, 
inclusive o critério da posição dos sujeitos que, 
quando inadequado, é substituído por outro(s);
○ Existem alguns ramos do Direito que não 
encaixam nesta distinção entre Direito Público e 
Página59
Direito Privado (summa divisio), como o Direito 
Internacional Público (relações dos Estados 
ocorrem em situação de igualdade, desprovidos 
de imperium). Isto justifica a “insuficiência 
científica crónica”;
○ Esta distinção é típica dos ordenamentos jurídicos 
romano-germânicos.
○ Relevo prático da summa divisio ao nível da:
 Organização judiciária (hierarquia dos 
tribunais)
• Direito Administrativo e Fiscal 
(Direito Público)
○ Tribunal Judicial de 1.ª instância;
○ Tribunal Central Administrativo 
(2.ª instância);
○ Supremo Tribunal Administrativo 
(órgão superior – não é de 3.ª 
instância) 
• Tribunais Comuns (Direito Privado)
○ Tribunal da Comarca (ou de 1.ª 
instância);
○ Tribunal da Relação (ou de 2.ª 
instância);
○ Supremo Tribunal de Justiça 
• Trata-se de uma distinção tendencial 
entre Direito Público e Direito Privado, 
porque existe matéria penal julgada 
em tribunais de competência genérica.
• Os tribunais de 1.ª instância têm 
competência para julgar matéria de 
facto, isto é verificar se os factos 
alegados foram provados. Já os 
Supremos Tribunais não intervêm em 
matéria de facto, apenas interpretam e 
aplicam as normas jurídicas. Têm poder 
Página60
de revisão sobre os acórdãos de 2.ª 
instância;
• Noutros ordenamentos jurídicos, como 
o francês, vigora o sistema da 
cassação que não possibilita a tomada 
de outra decisão, permite apenas a 
revogação.
 Aplicação no plano de estudos – existem 
disciplinas que apenas congregam DireitoPúblico ou Direito Privado.
Grupo IV
○ Contrato de compra e venda – na contratação 
pública, aplicam-se normas públicas, para 
assegurar a transparência do processo (dispêndio 
de dinheiros públicos) que envolve elevadas 
quantias e porque está envolvido de um regime 
especial;
○ Estamos perante uma relação de Direito Privado, 
em que a entidade colectiva de Direito Público 
apresentada – Câmara Municipal de Lisboa – 
participa na relação jurídica desprovida de 
imperium. É, portanto, uma questão da 
competência dos tribunais comuns.
Grupo V
○ N.º1 do Art. 508º do C.C. – Responsabilidade civil 
pelo risco, em acidentes de viação (com 
vantagens associadas à prova da culpa, que não 
é exigida – remete para o seguro obrigatório de 
responsabilidade civil);
○ Estamos perante uma situação em que o Estado 
Português relevou inércia na transposição da 
directiva comunitária, posição que lesou 
Página61
gravemente o queixoso. Assim, compete ao 
Estado indemnizar o lesado pelos prejuízos 
causados por tal omissão legislativa;
○ De acordo com a alínea g) do art.º 4 do Estatuto 
dos Tribunais Administrativos e Fiscais, é da 
competência destes o julgamento de questões 
em que, nos termos da lei, haja lugar a 
responsabilidade civil extraordinária das pessoas 
colectivas de direito público (p.e. Estado 
Português) incluindo a resultante do exercício da 
função jurisdicional e da função legislativa.
○ Efeito directo vertical ≠ Efeito directório 
horizontal
(directiva comunitária) (regulamento 
comunitário)
 ↓ ↓
 Estado Aplicado directamente aos 
indivíduos 
 ↓ (não implica 
transposição)
 Por conseguinte aos
 indivíduos após transposição 
 Se não houver transposição e alguém sair 
prejudicado com esta situação, entende-se 
que é da competência do Estado ressarcir o 
indivíduo.
➢ Ficha de Trabalho n.º4 – Tutela Jurídica
○ Distinção entre sanção e tutela jurídica (conceitos 
entendidos de modo diferente pelos autores dos 
manuais adoptados);
○ Relação entre sanção e coercibilidade
 Sanção – consequência do Direito por 
violação de uma regra jurídica (noção que 
não é unanimamente defendida);
Página62
 Coercibilidade – susceptibilidade de 
aplicação coactiva (pela força) de uma 
sanção. Por exemplo:
• sanção coactiva de liberdade (p.e. – 
prisão preventiva);
• acção de despejo pela força (por 
incumprimento do pagamento ao 
senhorio);
• imposição de pagamento de uma 
indemnização que não foi paga 
voluntariamente, recorrendo à penhora 
ou venda forçada.
○ Existem, no esquema do Direito Processual 
Civil, duas espécies fundamentais de acções: a 
acção declarativa e a acção executiva (n.º1 do 
artigo 4.º do CPC).
 Processo Declarativo
• Acção de simples apreciação - é 
pedido ao tribunal que declare a 
existência ou inexistência dum direito 
ou dum facto jurídico.
• Acção declarativa de condenação - 
vai-se mais longe: sem prejuízo de o 
tribunal dever ainda emitir aquele juízo 
declarativo, dele se pretende também 
(e fundamentalmente) que, em sua 
consequência, condene o réu na 
prestação duma coisa ou dum facto.
• Acção declarativa constitutiva - o 
juízo do tribunal já não é limitado, 
como nas duas subespécies anteriores, 
pela situação de direito ou de facto 
pré-existente. Pela sentença, o juiz, 
perante o exercício judicial dum direito 
potestativo, cria novas situações 
jurídicas entre as partes, constituindo, 
Página63
impedindo, modificando ou extinguindo 
direitos e deveres que, embora 
fundados em situações jurídicas 
anteriores, só nascem com a própria 
sentença.
 Processo Executivo - tem por finalidade a 
reparação efectiva dum direito violado. Não 
se trata já de declarar direitos, pré-
existentes ou a constituir. Trata-se, sim, de 
providenciar pela reparação material 
coactiva do direito do exequente. Com ela, 
passa-se da declaração concreta da norma 
jurídica para a sua actuação prática, 
mediante o desencadear do mecanismo da 
garantia.
○ Nos artigos 610º e seguintes do Código Civil, está 
prevista a impugnação pauliana (criada pelo 
senador romano Paulus), que é uma acção 
pessoal (e não uma acção de anulação). Na 
impugnação pauliana, o pedido a formular é o de 
que seja declarado que determinado acto jurídico 
é ineficaz perante o credor de quem o praticou e 
não o de declaração de nulidade do negócio.
○ Outra distinção das modalidades de 
ineficácia dos actos jurídicos:
Ineficácia em sentido 
amplo ≠
Inexistência
• Invalidade
➢ Nulidade 
(abrange 
interesses da 
colectividade)
Por exemplo, 
violação de 
Por exemplo, art. 
246º do C.C., em 
casos de coacção 
física, não há 
manifestação de 
vontade.
Página64
direitos públicos 
(p.e. fé pública dos 
documentos, 
quando não há 
observação da 
forma legal 
exigida.)
➢ Anulabilidade
(pretende-se 
proteger 
interesses 
particulares)
Por exemplo, o 
contrato celebrado 
por um menor (art. 
125º do C.C.)
• Ineficácia em sentido 
restrito (p.e. contrato 
de compra e venda com 
reserva de propriedade, 
sujeito a uma condição 
suspensiva – 
pagamento integral do 
preço.)
○ Critérios de requisição da nulidade e da 
anulabilidade (art. 286º e seguintes do Código 
Civil)
 Nulidade – pode ser invocada sem 
dependência de prazo, por qualquer 
indivíduo, e declarada pelo tribunal (art. 
286º do C.C.);
 Anulabilidade – pode ser invocada no 
prazo de um ano à cessação do vício que lhe 
Página65
serve de fundamento e pelas pessoas em 
cuja interesse a lei estabelece (n.º1 do art. 
287º do C.C.). Este prazo exige que os 
interessados sejam diligentes na declaração 
de interesse.
O negócio jurídico viciado por anulabilidade 
vai produzindo efeitos até à sua declaração. 
Os negócios inválidos (nulos ou anuláveis) 
têm efeitos retroactivos, ou seja, o lesado 
tem direito a reaver o que era seu (n.º1 do 
art. 289º do C.C.).
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 06 de Novembro de 2009, 11h-12h30 – 
Teórica)
➢ Relação entre Ordem Jurídica e Ordem Moral
○ Diferentes critérios de distinção
 Coercibilidade
• Normas morais – sem aplicação 
coactiva;
• Normas jurídicas – com aplicação 
coactiva.
Trata-se de um critério insuficiente, 
porque há normas jurídicas sem aplicação 
coactiva, porque a coercibilidade apenas 
está ao serviço do Direito (é meramente 
instrumental).
 Heteronomia
• Normas morais – são autónomas, 
dizem respeito apenas ao sujeito, 
criando o seu próprio padrão moral;
• Normas jurídicas – dependem de 
exigências externas.
Página66
Trata-se de um critério insuficiente, 
porque a moral também é heterónoma. 
Ninguém é dono do bem ou do mal, apenas 
adoptamos um padrão moral, do qual nos 
podemos desviar. Todavia, é necessário ter 
uma mínima moral objectiva (recta moral) 
para garantir uma sã convivência entre os 
cidadãos, isto porque não há subjectivismo 
morais mas, por outro lado, há consensos 
morais.
 Exterioridade
• Normas morais – preocupam-se com 
o lado interno;
• Normas jurídicas – preocupam-se 
com o lado externo.
Trata-se de um critério insuficiente, 
porque ao Direito também interessa a 
vontade, as intenções do indivíduo, 
nomeadamente em matéria de Direito Penal. 
O juízo de censura é, por isso, ético-jurídico. 
Por outro lado, para a Moral também não é 
indiferente oimpacto externo da conduta 
(uma tentativa de homícidio é diferente de 
um homicídio consumado). Todavia, o Direito 
procura projectar, sobretudo, uma ordem 
social, e a Moral procura o aperfeiçoamento 
do indivíduo. Por isso, podemos considerar 
que este é o melhor critério de distinção.
 Mínimo Ético – o Direito consubstancia um 
mínimo ético – mínimo necessário para 
garantir um bem-estar social.
Página67
• Trata-se de um critério falacioso , 
porque há muitas regras jurídicas que 
nada têm a ver com a ética (ex: prazos 
processuais, Direito Organizatório). No 
entanto, aquilo que é mais constante 
no ser humano relaciona-se com a 
ética (direito comum) – concepções 
moralmente fixadas.
○ O Direito procura criar as condições fundamentais 
para cada indivíduo orientar a vida em busca da 
sua concretização. Encontra-se orientado para o 
designado bem comum;
○ O Direito revela-se igualmente importante para a 
resolução de conflitos de interesses (tutela 
jurídica);
○ Quando o Estado tutela a “moral pública”, os 
“bons costumes” (p.e. – art. 280º do C.C.), 
verificamos que estes conceitos não são 
irrelevantes para o Direito. Este procura agir, 
quando há uma perturbação da boa convivência. 
Por exemplo, na questão da legalização do 
casamento homossexual, ao Direito interessa 
saber o reflexo que tal decisão terá na política 
pública de família, não sendo por isso uma 
questão meramente semântica;
○ Moral e Direito são duas disciplinas que se 
intersseccionam, mas não prosseguem os 
mesmos fins. Por exemplo, em relação à defesa 
da honra da palavra, ao Direito interessa proteger 
a ordem social, já à Moral importa proteger o 
valor da honra do indivíduo.
○ Princípio da não-beligerância entre Direito e 
Moral (o Direito não pode violar a Moral) – As 
prescrições morais não vinculam juridicamente, 
porém o Direito não deve impor nada que não 
seja moralmente devido nem prescrever o 
Página68
moralmente condenável. Existem também os 
chamados “actos toleráveis” que são permitidos 
pelo Direito, mas rejeitados pelas normas morais 
(ex: consumo de drogas, prostituição);
○ Classificação das normas jurídicas:
 Proibitivas (proíbem condutas);
 Impositivas (impõem condutas);
 Permissivas ou Prescritivas (atribuem 
liberdade ao indivíduo).
○ Num Estado Social de Direito, Ética e Direito 
assumem elevada relevância. 
○ Os valores morais têm repercussão social nas 
virtudes cívicas. A dedicação à causa pública só 
se pode fazer com valores morais;
○ Muitos conceitos da ordem jurídica remetem para 
a Ética:
 “Boa fé” – conceito moralmente 
impregnado (artigos 227º e 726º do C.C., 
por exemplo);
 “Abuso do Direito” – artigo 334º (cláusula 
geral do abuso do Direito)
○ Norma jurídica (em sentido estrito) – pequena 
unidade jurídica que compõe o Direito no seu 
todo. As normas jurídicas constituem uma 
multiplicidade de critérios de decisão, 
particulares e concretos, com a mesma 
intencionalidade (realizar a justiça). Concretizam 
a juridicidade.
○ Norma jurídica (legal ou costumeira) ≠ Lei
 A norma jurídica pode estar íncita no 
costume;
Página69
 A norma jurídica é constituída por previsão 
(ou antecedente) e estatuição (ou 
consequente);
• Previsão – situação de facto à qual se 
aplica uma consequência;
• Estatuição – consequência que se 
aplica.
 O facto previsto pode envolver pessoas, 
dizer respeito a acontecimentos concretos, 
definir espaço e tempo, ser uma situação 
valorativamente apreciada pelo Direito (p.e. 
art. 892º do C.C. – definir o que é coisa 
alheia, conhecendo o seu dono), empregar 
conceitos específicos (ex: conceito de 
“arma”, para efeitos criminais, de 
“documento”)
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 9 de Novembro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Teoria Geral da Norma Jurídica
○ Previsão – recorte de factos (conceitos) 
susceptíveis de valoração jurídica. Estes 
conceitos são encarados pelo sistema conceptual 
do Direito de modo diferente à linguagem normal;
○ As normas jurídicas respondem a questões de 
Direito, que não dispensam uma averiguação 
dos factos (questões de facto) – ver artigo 486º 
do C.C. Se não houver factos que desencadeiem 
a consequência jurídica prevista na norma, ela 
não passa de um comando hipotético. O facto 
convoca a norma à sua aplicação concreta. A 
resposta a questões de Direito implica a resposta 
a questões de facto, olhando para a norma 
jurídica e seus pontos de vista;
Página70
○ Existem dados de facto (ex: espaço, tempo) que 
influenciam a aplicação das normas jurídicas (por 
exemplo: a acção realizar-se de dia ou de noite);
○ Alguns autores entendem que as normas jurídicas 
são comandos de conduta, o que não 
corresponde totalmente à realidade. Há normas 
jurídicas que não são imperativos de conduta. 
Esta imperatividade (ordem de autoridade, com 
imposição de deveres e estabelecimento de 
proibições) distingue-se da imperatividade que 
diz respeito ao Direito enquanto exigência 
absoluta de observância. 
Note-se que existem normas jurídicas 
permissivas (art. 405º e 1305º do C.C.) e 
normas classificatórias / definitórias (art. 
203º do C.C.), que classificam uma realidade (no 
caso do art. 203º do C.C., trata-se da noção de 
“coisa”). Esta distinção entre normas permissivas 
e definitórias assume particular interesse para o 
art. 875º do C.C. A norma do art. 203º não tem 
consequências jurídicas, trata-se meramente de 
uma descrição, de uma categoria de coisas a 
utilizar noutras normas.
As proposições normativas incompletas (sem 
estatuição) condicionam indirectamente as outras 
normas jurídicas, sendo por isso meramente 
instrumentais ou funcionais. O art. 790º (extinção 
da obrigação por impossibilidade) é uma norma 
que apenas produz efeitos jurídicos, não impõe 
condutas.
As regras sobre regras (de 2.º grau), como 
por exemplo as regras de conflito de Direito 
Internacional Privado (relações jurídico-privadas 
plurilocalizadas), procuram dirimir relações de 
conflito entre diferentes ordenamentos jurídicos 
que regem uma mesma situação, ou seja, 
pretende-se saber qual dos ordenamentos se vai 
Página71
aplicar e não visam definir a conduta dos sujeitos. 
São possíveis critérios a adoptar nestas 
situações: a nacionalidade, a residência, o lugar 
onde os bens se encontram (no caso de relação 
sobre propriedade)
As regras supletivas podem ser afastadas pela 
vontade das partes, não constituindo por isso um 
comando.
Por tudo isto, a norma jurídica não pode ser 
entendida como um comando. Por outro lado, as 
normas jurídicas resultam de um conjunto de 
factores e da posição de vários legisladores, não 
são um produto da vontade voluntária do 
legislador.
○ Destinatários da norma jurídica – não sendo 
uma norma de conduta, não tem destinatários 
concretos. Entende-se que a norma jurídica seria 
um imperativo que tinha como destinatários os 
entes públicos (Administração Pública, Tribunais). 
Esta noção é bastante redutora, pois, por 
exemplo, uma norma sobre relações contratuais 
dirige-se a todo aquele que celebra contratos. 
Aliás, o Direito existe antes da ordem judicial e 
compete ao juiz aplicar o Direito.
○ A norma jurídica pode ser escrita ou não escrita e 
pode, também, brotar de uma fonte de Direito 
diferente (p.e. Lei, costume, princípios 
indeclináveis do Direito);
○ É necessário distinguir norma jurídica do texto 
que a exprime – enunciado linguístico. O 
enunciatocomunicativo é variável, mas a norma 
é a mesma, que implica uma interpretação;
○ Segundo o prof. António Menezes Cordeiro, o 
Direito concreto apenas se encontra nas decisões 
jurídicas, ou seja, os códigos legais não passam 
de meros projectos. Trata-se de um 
enviesamento da realidade, pois a decisão 
Página72
judicial não cria o Direito, apenas reconhece o 
Direito. Por outro lado, nem todo o Direito é 
judicializado, aliás a maior parte dele é 
espontaneamente seguido e não deixa de ser 
uma aplicação do Direito;
○ O processo de criação do Direito na ordem social 
e histórica é dinâmico e submete o juiz ao seu 
cumprimento;
○ Características gerais das normas jurídicas:
 Generalidade (≠ individualidade) – as 
normas jurídicas não têm destinatário 
singular, têm por outro lado um número 
indeterminado de destinatários, isto é, todos 
aqueles que são susceptíveis de serem 
abrangidos pela norma jurídica. Assim, a 
sentença judicial não é uma norma jurídica, 
dado que não visa regular uma situação 
praticável por um número indeterminado de 
sujeitos (sujeitos não individualizáveis). As 
normas jurídicas que regulam a actividade 
do Presidente da República são plurais, 
ainda que num determinado momento 
histórico apenas tenham um único 
destinatário. Do mesmo modo, os preceitos 
negociais de um contrato não constituem 
normas jurídicas, dado que são meros actos 
de autonomia privada, que moldam uma 
disciplina jurídica própria (lex privata).
 Abstracção – as normas jurídicas aplicam-
se a uma categoria mais ou menos ampla de 
situações passadas ou presentes. Não se 
impelem determinados sujeitos de Direito, 
identificados, a praticar uma determinada 
acção jurídica. Apesar de uma norma 
jurídica poder apresentar uma dada 
pormenorização da situação, não deixa de 
ser abstracta, porque não refere os 
Página73
indivíduos envolvidos. Não podemos, 
contudo, deixar de salientar uma 
proximidade entre as características gerais 
das normas jurídicas: generalidade e 
abstracção.
Quando, por outro lado, se apresenta uma 
situação concreta e se individualiza as 
pessoas abrangidas, estamos perante um 
acto administrativo.
Já quando uma determinada norma 
apresenta, camufladamente, um 
destinatário concreto, estamos perante uma 
Lei fotografia. Tal Lei diminui as garantias 
do sujeito.
➢ Regra jurídica e relação jurídica
○ O facto jurídico introduz dinamismo à norma, 
permitindo a produção de efeitos:
 Constitutivos (eficácia constitutiva – p.e. 
usucapião, que gera novos efeitos);
 Modificativos (p.e. constituição de usufruto 
sobre propriedade);
 Transmissivos (transmissão de direitos – 
p.e. compra e venda, permuta);
 Extinguíveis (p.e. cumprimento, remissão).
○ Contratos sinalagmáticos ou bilaterais: 
emergem de obrigações recíprocas para ambas 
as partes, sendo deste exemplo o contrato de 
compra e venda ou contrato de empreitada;
○ Os factos jurídicos podem ter natureza diversa e, 
normalmente, decorrem da vontade do 
indivíduo. A declaração de vontade é essencial 
num contrato de compra e venda, por exemplo.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
Página74
(Terça-Feira, 10 de Novembro de 2009 – 9H-11H – 
Aula Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º4 (continuação)
○ A coercibilidade pode ser considerada 
característica do ordenamento jurídico, mas não 
propriamente de uma norma jurídica;
○ A tutela jurídica é a reacção do ordenamento 
jurídico à violação das normas. Para o Dr. 
Baptista Machado, “tutela jurídica” equivale a 
“sanção”, expressão utilizada pelo prof. Oliveira 
Ascensão.
 Sanções punitivas – censura dirigida ao 
agente violador, privando-o de bens 
patrimoniais ou não patrimoniais (ex: pena 
de multa e pena de prisão);
 Sanções preventivas – p.e. arresto e 
providência cautelar, que implica 
constituição de acção principal no prazo de 
30 dias (p.e. embargo de obra nova, no que 
diz respeito à construção de imóveis);
 Sanções reconstitutivas – reposição do 
status quo (status quo ante)
• Reconstituição por mero 
equivalente – indemnização;
• Reconstituição natural – execução 
específica.
 Sanções compensatórias – por danos não 
patrimoniais;
 Sanções compulsórias – constranger 
alguém a realizar, de modo voluntário, ainda 
que tardiamente, determinado 
comportamento;
• Prestação de facto fungível – pode 
ser praticada por qualquer indivíduo;
Página75
• Prestação de facto infungível – só 
pode ser realizada por um indivíduo.
○ Na visão do prof. Oliveira Ascensão, a 
anulabilidade e a nulidade não constituem 
sanções, dado tratarem-se de situações de uma 
mera irrelevância jurídica, por incumprimento dos 
pressupostos da Lei (valores negativos ou 
desvalores). Já na visão do Dr. Baptista Machado, 
todo o facto em que se produzem consequências 
jurídicas por violação dos pressupostos da Lei é 
sanção;
○ O dever de indemnizar os danos resultantes da 
prática de um acto ilícito culposo é uma sanção 
que implica reconstituição por mero equivalente;
○ Por autotutela, entende-se a possibilidade 
excepcional que o Direito confere para repelir a 
violação da norma por si próprio. Já por 
heterotutela (ou tutela pública), entende-se a 
reposição de um litígio por parte do Estado, a 
requerimento de um indivíduo, em condições de 
imparcialidade (monopólio do poder coactivo 
pelo Estado, através dos meios coercivos –
tribunais, polícia, exército);
 Vantagem e Desvantagem da 
Autotutela
• Vantagem – no caso de 
impossibilidade de se assegurar, em 
tempo útil, a protecção de direitos;
• Desvantagem – grave perturbação da 
ordem social, gerada por “juízes sem 
causa própria”; implica uma nova 
desordem, não atendendo aos critérios 
de imparcialidade.
Página76
○ Causar dano por estado de necessidade implica 
responsabilidade civil por factos lícitos;
○ Resolvendo a questão 4 da ficha:
 Partindo do princípio que Adelino tem de 
pagar o montante que Vítor despendeu ao 
levar o cão ao veterinário, mas não 
pretende;
 Em conformidade com o art. 754º do C.C., 
Vítor exerceu o direito de retenção. Ele 
está em dívida (do cão) para com Adelino, 
mas age licitamente como meio de obrigar 
Adelino a pagar as despesas de veterinário;
 Adelino comete um acto ilícito, ao tentar 
levar o cão à força, agredindo Vítor. Este, 
por seu turno, age em legítima defesa (por 
agressão actual), agredindo Adelino. 
Todavia, Adelino parte o braço em 
consequência deste acto;
 Assim, as despesas hospitalares que Adelino 
teve devem ser pagas por ele próprio, dado 
tal situação ter sido gerada por acto ilícito. 
Quanto à reparação da porta, Vítor tem 
razão em pretender que Adelino lhe pague o 
arranjo (sanção reconstitutiva);
 Nestas circunstâncias, não se aplica o artigo 
428º do C.C., pois tal só sucederia se 
houvesse despesas extra-contratuais;
 O direito de retenção pode ser entendido 
como sanção compulsória, procurando 
compelir alguém a adoptar tardiamente 
determinado comportamento devido, ou 
autotutela, procurando fazer justiça 
privada sem recurso à força.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
Página77
(Sexta-Feira, 13 de Novembro de 2009, 11h-12h30 –
Teórica)
➢ Nem todos os meios de tutela jurídica são sanções (ex: 
medidas preventivas);
➢ A existência de Direito depende da sua aplicabilidade 
efectiva – Direito positivo (ou real), com vocação de 
aplicação;
➢ Mecanismos de propulsão da vigência das 
normas jurídicas:
○ Coercibilidade (e sanções inerentes);○ Sanções premiais – modo de implantação na 
sociedade por aliciamento / recompensa (ex: 
concessão de benefícios fiscais, subsídios);
○ Consciência do indivíduo sobre a 
juridicidade, tratando-se de uma realidade 
multicultural.
➢ Entendendo que a justiça é um fim do Direito, 
consideramos que a Justiça encontra-se fora do âmago 
do Direito (entendimento incorrecto);
➢ Constituem três valores fundamentais inerentes a todo 
o ser: verdade, bem e belo. Por exemplo, o raciocínio 
jurídico é harmonioso (característica do belo).
➢ É através da declaração de vontade que os negócios 
jurídicos adquirem relevância (ex: contratos). A 
produção de consequências jurídicas não ocorre se 
houver uma perturbação na declaração de vontade 
(p.e. coacção física ou moral). Associada à declaração 
de vontade, está o discernimento necessário do 
indivíduo, que se não se verificar, pode conduzir à 
declaração de invalidade do negócio jurídico. Por 
exemplo, um indivíduo pode solicitar a anulação de 
um negócio jurídico se cometer um erro no 
entendimento celebrado;
Página78
➢ Existem actos em que, naturalisticamente, a 
manifestação de vontade é fulcral (ex: celebração de 
um contrato de compra e venda), já noutros é 
irrelevante (ex: aquisição de personalidade jurídica de 
um novo ser). Noutros casos, não é a manifestação de 
vontade efectuada que gera efeitos jurídicos, mas é o 
direito objectivo que implica a realização de efeitos 
jurídicos (ex: acto declarativo da perfilhação). Como 
vimos, existem actos que não implicam declaração de 
vontade, mas geram consequências jurídicas (ex: 
achamento de um tesouro subaquático; ocupação de 
um terreno sem dono, adquirindo o título de 
propriedade – art. 1318º do C.C.);
➢ Há factos jurídicos que:
○ Provocam imposição de deveres;
○ Atribuem qualidades, competências ou 
faculdades ao sujeito (ex: maioridade);
○ Atribuição de um direito subjectivo (atribuição de 
um bem – art. 1301º do C.C.).
➢ Criação do ónus sobre um direito subjectivo – adopção 
de um comportamento para promover uma vantagem 
ou evitar uma desvantagem (ver art. 913º e ss., em 
especial o art. 916º, do C.C.), dentro do prazo 
estipulado na Lei;
➢ O nosso ordenamento jurídico consagra o poder 
parental como um poder funcional ou poder-dever;
➢ Distinção entre dever jurídico e sujeição
○ Dever jurídico – restrição de um direito, que 
pode ou não ser acatada;
○ Sujeição – exposição à realização de 
determinadas consequências jurídicas na sua 
esfera jurídica, sem adoptar qualquer 
comportamento. Isto sucede quando estamos 
perante um direito potestativo (ex: servidão de 
passagem, para titulares de prédios encravados 
sem acesso à via pública – direito real menor). 
Nestes casos, há uma mera declaração unilateral 
Página79
de vontade do titular do direito subjectivo. O 
direito de constituição de uma servidão de 
passagem é um direito transitório, isto porque, 
com a sua constituição, extingue-se (tal como os 
direitos de crédito).
➢ A eficácia jurídica não se traduz na realização de uma 
relação jurídica. Note-se, por exemplo, que o direito de 
propriedade envolve apenas o proprietário e a coisa. 
Neste caso, estamos perante uma situação jurídica 
não relacional. O mesmo sucede com outros direitos 
de personalidade (ex: direito ao bom-nome, direito à 
honra);
➢ A Parte Geral, Título II do Código Civil aborda as 
relações jurídicas;
➢ Classificações das normas jurídicas (enquanto 
regras de conduta não valorativas)
○ Regras proibitivas, preceptivas e 
permissivas – as regras proibitivas impedem a 
prática de uma determinada conduta (“tu não 
deves”), como sucede com as normas penais; as 
regras preceptivas impõem condutas (“tu 
deves”); as regras permissivas (“tu podes”) 
conferem liberdades (ex: de testar, contratual, de 
eleger) e direitos subjectivos (bens);
○ Regras universais, regionais e locais – nesta 
classificação, está em causa o âmbito de 
aplicação e não o órgão que aprova a regra. 
Assim, as regras universais aplicam-se a todo o 
território e as regras locais têm um âmbito 
territorial circunscrito (p.e. posturas e 
regulamentos municipais). Em relação às regras 
locais, não se entende uma aplicação analógica a 
outros locais. As regras universais são 
susceptíveis de aplicação subsidiária a nível 
regional;
Página80
○ Regras gerais e regras excepcionais – as 
regras gerais constituem direito padrão e as 
regras excepcionais são direito particular, oposto 
ao regime regra, para casos particulares (ex: 
liberdade contratual – art. 405º do C.C. – 
contrariada em determinados casos, como por 
exemplo, exigência de determinada forma de 
documento – p.e. documento autenticado).
O art. 11º do C.C. proíbe a aplicação por analogia 
de regras excepcionais (aplicação analógica 
materialmente excepcional); já nas regras gerais, 
pode haver aplicação analógica (formalmente 
excepcional), quando nem todos os casos são 
abrangidos e previstos pelo legislador.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 16 de Novembro de 2009 - 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Toda a norma jurídica pode ser considerada abstracta, 
dado que não há identificação dos seus destinatários;
➢ Direito adjectivo (instrumental) – estabelece os termos 
mediante os quais os sujeitos podem recorrer à tutela 
judiciária (ex: Direito Processual Civil);
➢ Os Direitos de Personalidade são direitos de domínio 
(absolutos), assim como o direito de personalidade, 
máximo direito real (exclusivo);
➢ Classificações das normas jurídicas (continuação)
○ Regras de Direito comum e de Direito 
especial – as normas de Direito especial não 
consagram uma disciplina oposta ao direito 
comum. Trata-se de um regime particular;
Página81
 Direito Especial ao nível dos ramos do 
Direito
• Direito Comercial (especial em 
relação ao Direito Civil)
○ Compra para revenda (pode ser 
feita por um comerciante ou por 
qualquer pessoa?);
○ Este sector específico de 
actividade leva a valorações 
particulares
 Direito Especial dentro do mesmo ramo 
do Direito (Direito Processual Civil)
○ Processo comum;
○ Processo especial (trâmites 
particulares)
 Prestação de contas (e 
dentro deste processo, 
também há normas 
especiais)
 Aplicações práticas
• Art. 7º, n.º3 do C.C. – Lei geral não 
revoga lei especial
○ Com alteração do Direito Comum, 
não tem de ocorrer, 
necessariamente, alteração do 
Direito Especial. Mas também 
Direito Especial não revoga Direito 
Comum;
○ A revogação de Lei especial não 
tem consequências no Direito 
Comum.
○ Normas autónomas e normas não-
autónomas (art. 678º do C.C.)
 Norma jurídica incompleta (ausência de 
estatuição ou previsão)
 Norma classificatória ou definitória
Página82
• Artigo 1022º do C.C. – locação;
• Artigo 203º do C.C. – coisa.
○ Articulação com a autonomia privada
 Normas injuntivas e dispositivas
• Normas injuntivas (ou imperativas) – 
comandos a que todos estamos 
sujeitos;
○ Artigo 875º do C.C. (forma do 
contrato de compra e venda);
○ Não são interesses meramente 
individuais – interesses 
indisponíveis;
○ A sua aplicação não depende do 
interesse do sujeito;
○ Interesses públicos e privados 
(não dizem respeito à coisa 
pública) – ex: servidões (relações 
entre prédios – não existem 
servidões pessoais);
○ A violação das normas injuntivas 
implica a declaração de nulidade 
(ver artigos 294º, 280º e 281º do 
C.C.) ou ilicitude (quando o actoé 
material e contraria regras 
jurídicas).
• Normas dispositivas – encontram-se 
à disposição do sujeito
○ Relação mais flexível (não 
constrangem a autonomia 
privada);
○ Só se aplicam na medida em que 
o sujeito as não afaste (é possível 
o estabelecimento de um regime 
divergente);
○ Pretendem ajudar as pessoas (ex: 
área dos negócios – ver artigos 
874º e ss.) 
Página83
○ Regras supletivas – não podem 
ser afastadas, 
indiscriminadamente, pelos 
sujeitos (ex: cláusulas contratuais 
gerais nos contratos com 
empresas poderosas, detentoras 
de monopólios de mercado, 
cláusulas abusivas nos contratos 
de mera adesão);
○ Regras interpretativas (art. 
236º, 1 e 2 e art. 237º do C.C.) – 
visam interpretar o sentido das 
declarações negociais das partes. 
São relevantes quando não se 
conhece, claramente, as intenções 
das partes nos negócios onerosos 
e gratuitos. Também existem 
normas interpretativas de outras 
regras do ordenamento jurídico. 
Não visam alterar o sentido da 
ordem jurídica. Visam, por outro 
lado, classificar o sentido, não 
sendo por isso inovadoras. 
Pretendem, apenas, integrar-se na 
norma interpretada;
○ Regras facultativas (ver art. 
1305º do C.C.) – permite a 
alienação do usufruto da coisa.
➢ Codificação e técnicas legislativas (refere-se a 
normas legais)
○ Normas legais (fonte – Lei) ≠ Normas 
jurídicas (pode ter outras fontes, como o 
costume);
○ Código – diploma fundamental de certa matéria 
ou ramo do Direito, apresentando a matéria de 
Página84
modo científico (envolve um trabalho da Ciência 
Jurídica, suficientemente madura, forte, 
assegurando-se a perenidade exigível), unitário e 
sistemático. 
 Concentração da matéria de um regime 
jurídico. O movimento de codificação é 
recente (século XIX), embora já antes 
houvesse leis escritas, baseadas em 
critérios empíricos (ex: Ordenações do 
Reino); 
 Regula um ramo do Direito (sector da vida 
social);
 Constitui uma fonte de Direito, após a 
aprovação de um decreto-lei (diploma 
preambular, no caso do Código Civil, de 
1966), com igual valor jurídico;
 Poderá substituir outras fontes de Direito, 
nomeadamente de origem costumeira;
 Diferem dos restatements americanos – 
ordenamento jurídico baseado na 
jurisprudência. Não cria Direito, apenas 
mostra o Direito existente;
 Diplomas legais como o Código das Custas 
Judiciais ou a Constituição não devem ser 
designados por “códigos”.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 17 de Novembro de 2009 – 9H-11H – 
Aula Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º4 (continuação)
○ O artigo 781º do C.C. prevê uma sanção 
preventiva, em caso de incumprimento de uma 
dívida liquidável em prestações. Assim, em caso 
de incumprimento de uma prestação, vencem 
Página85
todas as prestações (vencimento automático). 
Com isto, pretende-se evitar que o património do 
devedor seja mais afectado;
○ No exercício 5, encontramos três formas de 
autotutela:
 Legítima defesa (art. 337º do C.C.) – existe 
uma situação de agressão contra o 
património de Marta. A acção de Marta teria 
de ser imediata e foi realizada sem culpa 
(reacção momentânea de Marta);
 Direito de retenção (art. 754º do C.C.) – 
direito real de garantia;
 Estado de necessidade (art. 339º do C.C.) – 
dano possível superior ao causado. O dano 
causado pode suscitar o pagamento de uma 
indemnização (responsabilidade civil pelos 
factos lícitos).
○ Art. 493º do C.C. – compete ao dono do animal 
(lesante) fazer o ônus da prova (ao contrário do 
normal).
➢ Ficha de Trabalho n.º5 
○ Função jurisdicional – exercida, sobretudo, 
pelos tribunais (para além de outras funções, 
como a acção executiva, administrativa, de 
gestão), aplicando o Direito aos casos concretos 
para resolver os litígios (art. 202º da CRP, 1 e 2) 
públicos e privados;
○ Magistratura judicial
 Tribunais como órgãos de soberania;
 Os juízes julgam em nome do povo, mas não 
são eleitos por ele – coloca-se em causa a 
legitimidade democrática. Por outro lado, 
argumenta-se que:
• É fonte de legitimidade dos tribunais a 
aplicação de normas aos casos 
Página86
concretos, que revela a subordinação 
dos tribunais ao Direito;
• Existe um código deontológico da 
actividade dos magistrados;
• O Estatuto da Magistratura Judicial 
regula a sua actividade.
○ Características da actividade judicial
 Independência (art. 203º, 216º e 217º da 
CRP)
• Imparcialidade (neutralidade) – 
funciona como uma terceira parte 
imparcial dentro e fora do processo. Os 
magistrados apenas estão 
subordinados à Constituição e à Lei e 
não a orientações políticas. Tratamento 
dos cidadãos de igual forma. Os juízes 
não podem estar ligados ou vinculados 
às partes envolvidas no processo.
• Inamovibilidade – proibição do 
executivo poder transferi-los ou afastá-
los da função como retaliação de 
decisões desagradáveis por eles 
proferidas.
• Irresponsabilidade - um juiz tem que 
ter tranquilidade suficiente para poder 
decidir conforme os factos que lhe são 
apresentados, aplicando a lei ao caso 
concreto e ponderando tudo em 
consciência. Apenas se encontram 
limitados pelos diplomas legais.
• Impossibilidade de exercício de 
outras funções remuneradas.
○ A responsabilização dos juízes ocorre quando há 
uma violação grosseira da Lei. Nestes casos, o 
julgamento dos juízes é da responsabilidade dos 
Página87
Tribunais Administrativos – responsabilidade 
civil extra-contratual do Estado;
○ Auto-governo dos juízes, através do Conselho 
Superior de Magistratura (art. 218º da CRP);
○ Tutela graciosa
 A designação “tutela graciosa” remonta ao 
século XIX, quando o Rei “concedia a sua 
graça” ao lesado;
 Tem lugar no âmbito da Administração 
Pública;
• Reclamação junto do autor do acto;
• Recurso Hierárquico junto do 
superior hierárquico do autor do acto.
○ Tutela contenciosa (recurso aos tribunais)
 Visa resolver um contencioso entre partes, 
de matéria administrativa (do julgamento 
dos Tribunais Administrativos)
○ Características da Função Administrativa na 
resolução de litígios
 Auto-tutela declarativa – a Administração 
Pública define, unilateralmente, o Direito a 
aplicar;
 Auto-tutela executiva – privilégio de 
execução prévia, tomada sem recurso aos 
tribunais.
○ Direito de Petição – previsto no art. 52º, 1, da 
CRP
 Direito de apresentar aos órgãos de 
soberania petições, queixas, reclamações;
 Possibilidade de apresentar proposta de 
discussão à AR, para ser discutida em 
sessão de plenário, após reunidas as 
assinaturas necessárias.
○ Direito de Resistência – art. 21º da CRP
Página88
 Forma de auto-tutela, possível, por exemplo, 
no caso de detenção ilegal.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 20 de Novembro de 2009, 11h-12h30 –
Teórica)
➢ A lex privata pode ser considerada um critério jurídico, 
mas não uma norma jurídica;
➢ Compete à ordem jurídica garantir a eficácia dos 
compromissos por nós assumidos, no dia-a-dia;
➢ Coercibilidade – susceptibilidade de aplicação de 
uma sanção (e não regra jurídica), porque, no caso das 
prestações infungíveis, ninguém pode obrigar alguém 
a praticar determinado acto;
➢ A anulabilidade pode decorrer de uma má 
formulação da vontade do indivíduo (por coacção, por 
acto erróneo). Trata-se de uma forma mais ténue de 
invalidade;
➢ Princípio da não-beligerância entre Direito e 
Moral – podem existir comportamentos tolerados pela 
ordem jurídica e rejeitadospela ordem moral;
➢ A usucapião pretende garantir a paz social na opinião 
pública;
➢ O usufrutuário tem de respeitar a disposição 
económica do bem, direito que pertence ao 
proprietário.
➢ Causas da codificação (continuação da aula de 
segunda-feira)
○ Ideológica / Filosófica – consequência do 
movimento racionalista do século XVIII 
(movimento iluminista). Exemplo disso é a Lei da 
Boa Razão (1769). Criação de um “edifício 
normativo” perfeito. Importância dos racionalistas 
da Filosofia Moderna, tais como René Descartes, 
Página89
Bento de Espinoza e Gottfried Leibniz. Direito 
presente numa razão pura, sendo que o Código 
constitui uma razão escrita;
○ Políticas – aconselhamento à legislação geral. 
Os códigos vieram combater disposições 
corporativas, proporcionando uma unificação 
legislativa. Exemplo disto é o Código 
Napoleónico, de 1804(originalmente designado 
Code Civil des Français, ou Código Civil dos 
Franceses), que permitiu uma unificação da lei 
escrita e do costume. Este código chegou a 
vigorar no nosso país;
○ Técnico-jurídicas – implica uma racionalidade 
que se traduz numa sinteticidade. Para isto, 
exige-se uma ciência jurídica madura.
➢ Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) e Anton 
Friedrich Justus Thibaut (1772-1840) protagonizaram 
uma célebre polémica acerca da codificação do Direito 
alemão. Tratou-se de um embate entre o iluminismo 
positivista, representado por Thibaut, maior defensor 
da codificação e o historicismo romântico, 
representado por Savigny, crítico da proposta de 
codificação. Este, na famosa obra Da vocação de 
nosso século para a legislação e a ciência do direito, 
demonstra grande ceticismo em relação às leis criadas 
por legisladores que se julgam dotados da capacidade 
de identificar regras derivadas da própria razão, e de 
elaborar códigos que “con sus perfecciones, debían 
garantir una mecánica exactitud en la administración 
de la justicia; de modo que el magistrado, dispensado 
de todo juicio propio, debía limitarse a una simple 
aplicación literal de la ley. Debían, además, estos 
Códigos estar completamente libres de toda histórica 
influencia, y por obra de una solemne y extraña 
abstracción, debían adaptarse a todos los pueblos y a 
todos los tiempos.”;
Página90
➢ Vantagens da Codificação – permite criar 
regulamentação mais apropriada do que outras fontes 
do Direito, como o costume, que nem sempre oferece 
respostas conclusivas. Evita, por outro lado, 
incongruência, dada a sua elaboração de modo 
científico. Assim, constata-se que um código permite o 
aperfeiçoamento do Direito;
➢ Desvantagens da Codificação – por outro lado, 
revela-se como desvantagem a sua rigidez, 
mostrando-se pouco permeável à mudança. Tal 
verifica-se, principalmente, nos códigos civis.
➢ De qualquer modo, os códigos não são “edifícios 
jurídicos” fechados, estão por isso predispostos à 
mudança, sempre que seja necessário. Os códigos 
representam uma estrutura que se adapta bem aos 
casos concretos;
➢ Ultrapassada a querela protagonizada por Savigny e 
Thibaut, o movimento codificado evolui, numa 
primeira fase, por iniciativa francesa (início do século 
XIX) e, numa segunda fase, por acção dos juristas 
alemães (final do século XIX);
➢ O Código Civil Alemão (Bürgerliches Gesetzbuch, 
abreviado normalmente por BGB), de 1900, influenciou 
os códigos posteriores, nomeadamente:
○ Código Civil Grego (Αστικός Κώδικας), de 1940
○ Código Civil Italiano (Il Codice Civile Italiano), de 
1942;
○ Código Civil Português, de 1966;
○ Código Civil Holandês (Burgerlijk Wetboek), de 
1992.
➢ O primeiro código civil português, de matriz francesa, 
mas autónomo dessa cultura, data de 1867, da autoria 
do Visconde de Seabra. Marcou pela sua simplicidade 
a antropormorfismo digno de destaque;
➢ É importante destacar o papel do Prof. Dr. Adriano 
Paes de Vaz Serra, na realização de estudos 
Página91
preparatórios para a elaboração do Código Civil de 
1966 e de juristas como o Dr. Adriano Moreira, o Prof. 
Dr. Fernando Pires de Lima e do Prof. Dr. Manuel de 
Andrade, enquanto membros da Comissão Redactora 
do Código Civil;
➢ O Código Civil de 1966 tem sido alvo de algumas 
alterações pouco significativas, que não afectaram a 
sua estrutura original;
➢ Iniciaram, em 2006, os trabalhos para um anteprojecto 
de Código de Consumidor, que visa proteger os 
direitos dos consumidores portugueses. Trata-se de 
uma questão discutível a criação de um diploma 
fundamental sobre esta matéria, que não seja 
integrado no Código Civil.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 23 Novembro de 2009, 14h-
15h30 – Teórica)
➢ Outras técnicas legislativas
○ Partes Gerais – surgem em códigos e diplomas 
de âmbito vasto. Enuncia-se um conjunto de 
critérios que se aplicam a toda a matéria 
abrangida pelo diploma, independentemente das 
especificidades.
 No Código Civil Português, a Parte Geral 
encontra-se no Livro I (os Livros constituem 
unidades de sistematização da matéria). Os 
restantes livros (II a V) constituem Partes 
Especiais. Há assim, entre o Livro I e os 
restantes um trânsito do geral para o 
particular;
 Finalidade da Parte Geral:
• Evitar repetições e fixar as disposições 
normativas que se aplicam em todas as 
situações. Por exemplo, o artigo 130º 
do C.C. remete-nos para os efeitos da 
Página92
maioridade: a aquisição de capacidade 
de exercício de posições jurídicas;
• Esforço de racionalização da matéria e 
inteligibilidade fácil;
• Apresenta-nos um conjunto de pré-
decisões e de critérios genéricos;
• Assume também importância nos 
sistemas de common law anglo-
saxónicos. Constituem, igualmente, 
critérios normativos fundamentais 
(precedentes) de carácter geral, mas 
não codificados.
 Críticas ao Código Civil Português:
• Inclusão na Parte Geral daquilo que é 
considerado particular;
• Regulação de matéria geral em livro 
especial.
 A Parte Geral do Código Civil não foi 
totalmente conseguida, porque inclui na 
Parte Geral matéria particular e, pelo 
contrário, regula em livro especial matéria 
geral. Ao intérprete-aplicador, compete 
efectuar raciocínios e identificar estas 
debilidades, não sendo possível o recurso 
directo ao texto escrito. Tais situações 
gerarão conflitos entre posições díspares.
○ Remissões – expediente de que o legislador se 
serve para remeter ao que está estabelecido (na 
estatuição) noutra matéria, no mesmo diploma 
ou noutro. 
 Artigo 433º do C.C. - efeitos de resolução 
(destruição) de um negócio jurídico. Remete 
para o n.º3 do artigo 289º do C.C. - efeitos 
Página93
da declaração de nulidade que, por sua vez, 
remete para os artigos 1269º e seguintes do 
C.C. – regime dos frutos do possuidor e do 
proprietário (regime de 2.º grau);
 Remissão para estabelecer a previsão 
da norma: art. 974º do C.C. – revogação da 
doação, por comportamento de indignidade 
sucessória, ocorre nos casos em que os 
testamentos podem ser revogados 
(deserdação). Remete para os artigos 2035º 
e 2160º do C.C;
 Remissão para institutos gerais, aos 
quais o legislador atribui 
subsidiariedade, ou seja aplica 
subsidiariamente. Tal verifica-se, por 
exemplo, no caso de perturbação no 
contrato de compra e venda. Como hipótese 
de perturbação, temos a situação de venda 
de coisas defeituosas, prevista no artigo 
913º do C.C. Neste caso, aplica-se o regime 
de venda de bens onerados (exceptonos 
artigos 914º a 921º do C.C.), por vícios 
jurídicos da coisa (ex: hipoteca de algo 
adquirido, que implica respeito obrigatório). 
Ver art. 939º do C.C.
Já no caso da permuta / troca directa de 
bens, não se encontra um regime próprio 
legislado, não deixando por isso de assumir 
significativa relevância. Para colmatar esta 
lacuna, aplica-se o regime da compra e 
venda para bens vendidos a título oneroso 
(com as necessárias adaptações, dado que a 
analogia nunca constitui semelhança);
 Remissão para um ramo de Direito: por 
exemplo, o Direito Comercial remete para o 
Direito Civil;
Página94
 Remissões extra-sistemáticas (fora do 
sistema jurídico português): incorporação de 
outros regimes estrangeiros. Verifica-se isto 
no artigo 8.º da CRP, que consagra a 
recepção de princípios do Direito 
Internacional e nos artigos 1625º e 
seguintes do C.C., a propósito da invalidade 
do casamento. Neste último caso, constata-
se uma remissão para o Direito Canónico, no 
caso do casamento católico.
○ Ficções legais – situação em que o legislador 
ficciona a existência de outra situação. Visam 
aplicar o regime da situação ficcionada (remissão 
encapotada).
 Aplica-se no caso de obrigações puras, sem 
prazo estipulado, mas de cumprimento 
obrigatório. Se o devedor não cumprir a 
obrigação a que está adstrito, entra em 
situação de mora, ficando obrigado a 
indemnizar o prejuízo do credor. É possível 
que o devedor evite a interpolação do 
credor, sendo que neste caso ele passa, 
automaticamente, a considerar-se 
interpelado (art. 805º do C.C.). Evita-se, 
deste modo, a fuga à obrigação;
 Trata-se de uma técnica de ficção legítima, 
mas sujeita a perigos, pois efectua uma 
equiparação de uma situação a outra, com 
as necessárias adaptações.
○ Definições legais – não vinculam o intérprete-
aplicador, concedendo-lhe liberdade de reflexão. 
Ou seja, não constituem a “última palavra”, 
estando sujeitas às críticas do intérprete-
Página95
aplicador e da doutrina. Existe susceptibilidade 
de erro na definição.
 Pode haver situações que não são 
abrangidas pela definição legal, o que 
implica um alargamento da mesma. Veja-se 
isto no regime dos arrendamentos urbanos e 
rurais: o regime dos arrendamentos urbanos 
não abarca os arrendamentos rústicos não 
rurais, para fins comerciais (comércio ao ar 
livre) ou de exercício de profissão liberal – 
definição estreita;
 Também no regime dos arrendamentos 
(protege os arrendatários face aos 
senhorios, que constituem a parte mais 
fraca), verifica-se que este também se 
aplica ao arrendamento de telhados e 
fachadas, para fins de telecomunicações e 
publicidade. Neste caso, exige-se uma 
redução teleológica (do âmbito de 
aplicação), através do estabelecimento de 
uma ressalva – definição peca por 
excesso.
○ Presunções legais – ilações do julgador, tiradas 
de um facto conhecido para um facto 
desconhecido (ver art. 249º do C.C.). Trata-se de 
um procedimento regularmente utilizado, com 
base na experiência e na racionalidade e que se 
revela importante para a comprovação de 
matéria de facto. Nas presunções legais, a Lei faz 
presumir um facto, a partir de outro, em situação 
oportuna.
 A aplicação da presunção ocorre em 
situações de incerteza;
 N.º 1 do art. 799º - na falta de cumprimento 
da obrigação, presume-se a culpa do 
Página96
devedor. Compete ao devedor explicar a 
situação ocorrida e demonstrar que não tem 
culpa, podendo o credor interpor uma acção 
de responsabilização. No caso de o devedor 
não conseguir ilidir a presunção, não se 
entende, imediatamente, o contrário;
 As presunções podem ser ilidíveis, porque 
admitem prova em contra;
 Existe, nas presunções, uma repartição do 
risco pelo legislador, na maior parte dos 
casos justa, quando o credor não consegue 
provar a culpa do devedor. 
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 24 de Novembro de 2009 – 9H-11H – 
Aula Prática)
➢ Continuação da resolução da ficha de trabalho 
n.º5
○ O Direito de Petição encontra-se regulado na 
Lei n.º 43/90, de 10 de Agosto e visa a aprovação 
de leis, reunido um número mínimo de 
subscritores:
 1000 assinaturas – obriga a publicação em 
Diário da Assembleia da República;
 4000 assinaturas – obriga a apreciação em 
plenário da Assembleia da República.
A petição pode ser encaminhada para o Ministério 
competente para aprovação sob a forma de 
decreto-lei (proposta do Governo), para o 
Procurador-Geral da República (PGR), autoridades 
policiais. Pode, também, em último caso, suscitar 
a criação de um projecto de Lei de um deputado.
Página97
O Direito de Petição não constitui um meio de 
autotutela e distingue-se da Acção Popular, meio 
de tutela judiciária que visa proteger os 
interesses da colectividade.
○ Mediação e justiça arbitral – meio alternativo 
aos tribunais para resolução de litígios, isto é, 
visam a desjudicialização e a simplificação 
processual, aliviando a sobrecarga dos tribunais.
 No processo judicial, no âmbito do Processo 
Civil, existe a via da conciliação, também 
considerado meio de resolução de litígios;
 Lei da Arbitragem (Justiça Arbitral). Podemos 
ter arbitragem:
• Voluntária (mais comum);
• Necessária (nos casos de contrato de 
arrendamento).
 Arbitragem encontra-se a cabo de juristas 
especialistas na matéria em causa;
 Os tribunais arbitrais são compostos por 
árbitros que não têm de ser juízes de 
carreira;
 A sentença arbitral tem o mesmo valor que 
uma sentença judicial;
 Vantagens da Justiça Arbitral
• Mais célere, com trâmites legais 
simplificados;
• Grau de especialização dos árbitros na 
matéria em causa superior, em relação 
aos magistrados judiciais. Podemos ter 
árbitros com especialização:
○ Jurídica (da competência de um 
jurista);
○ Técnica (da competência de um 
médico, engenheiro ou outro, 
conforme a matéria em causa, 
contribuindo para uma decisão 
mais justa).
Página98
 Desvantagens da Justiça Arbitral
• Justiça onerosa.
 Na mediação, o mediador auxilia a 
conservação das partes, sendo que, todavia, 
é a estas que compete a resolução do litígio 
(resolução amigável). Assim, constata-se 
que a mediação não visa a imposição de 
uma decisão. Esta estende-se ao mundo 
laboral, às relações familiares e a matéria de 
Direito do Consumo. A qualquer momento, 
uma das partes pode desistir da mediação.
 Julgados de Paz
• Encontram-se fora da hierarquia dos 
tribunais comuns judiciais;
• Partilham matéria dos tribunais de 1.ª 
instância;
• São tribunais do Estado com 
organização própria;
• É composto por juízes de carreira fora 
da actividade (juízes de paz);
• O processo é simplificado e acessível a 
nível económico;
• Nos julgados de paz, pode-se recorrer a 
processos de mediação, para obtenção 
de acordo amigável;
• Em contrato internacional, é habitual 
haver referência aos árbitros (ex: 
garantias bancárias autónomas, à 
primeira solicitação ou on first demand, 
que visam a satisfação do credor), 
retirando os processos aos tribunais 
judiciais.
➢ Ficha de Trabalho N.º6
Página99
○ Facto jurídico – facto que produz efeitos 
jurídicos;
○ Situação jurídica – resultado da aplicação da 
consequência jurídica (constituição, extinção ou 
modificação) ou “posição jurídica do sujeito 
perante o Direito” (definição do professor 
Menezes Cordeiro), isto é, atribuição de uma 
posição jurídica ao sujeito de direito;○ Relação jurídica – modalidade de situação 
jurídica;
○ Posição jurídica activa ou passiva – atribuição 
de poderes ou deveres aos sujeitos da situação 
jurídica.
Página100
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Página102
○ Distinção entre situação jurídica e relação 
jurídica
 Situação jurídica – não implica a 
existência de duas partes compostas por 
sujeitos (ex: usufrutuário e a coisa, no 
usufruto). Também nos direitos de 
personalidade não há relações entre 
pessoas determinadas;
 Relação jurídica – é bilateral, implicando 
sujeitos determinados em partes contrárias.
○ O n.º2 do artigo 12º do C.C. não distingue estes 
conceitos;
○ Não podemos afirmar que, numa relação jurídica, 
existe uma posição activa e passiva, porque o 
mesmo sujeito pode assumir as duas posições – 
relação jurídica complexa. Pode suceder, por 
exemplo, num contrato de compra e venda.
○ Alguns conceitos importantes presentes nos 
esquemas:
 Acto Jurídico – facto jurídico voluntário;
 Negócio Jurídico – acto declarativo, com 
manifestação ou manifestações de vontade, 
produzindo os efeitos jurídicos pretendidos.
• Unilateral – uma declaração de 
vontade de uma única parte (ex: 
testamento);
• Bilateral – pelo menos duas 
declarações de vontade de cada uma 
das partes (ex: contrato).
○ Unilateral ou Bilateral – 
obrigações para uma ou ambas as 
partes;
Página103
○ Oneroso ou Gratuito – implica 
ou não equilíbrio de prestações 
das partes.
 Simples actos jurídicos – podem envolver 
ou não declaração de vontade, sendo que os 
efeitos jurídicos produzem-se de acordo com 
a Lei e não de acordo com a vontade das 
partes (ex: perfilhação);
 Quase negócio jurídico – implica 
declaração de vontade (ex: art. 805º do C.C. 
sobre a mora – os efeitos decorrem da Lei);
 Operação jurídica – acto material sem 
declaração de vontade;
 Direito subjectivo (2 definições)
• “Poder conferido pela ordem jurídica a 
um sujeito para tutela de um seu 
interesse juridicamente relevante, isto 
é, merecedor da tutela do direito” (Ana 
Prata, Dicionário Jurídico, Vol. I, 5.ª edição, 
Almedina, Coimbra, 2008)
• “Permissão normativa específica de 
aproveitamento de um bem” (Menezes 
Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, Vol. I, 
Tomo I, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 2005)
 Direito potestativo – “Direito que se 
caracteriza por o seu titular o exercer por 
sua vontade exclusiva, desencadeando 
efeitos na esfera jurídica de outrem 
independentemente da vontade deste” (Ana 
Prata, Dicionário Jurídico, Vol. I, 5.ª edição, Almedina, 
Coimbra, 2008)
 Direitos absolutos – Direitos que impõem 
a todos os outros sujeitos um dever geral de 
respeito, sendo assim oponíveis erga omnes.
 Direitos relativos – Direitos que só 
produzem efeitos entre as partes, só 
Página104
podendo ser exercidos perante o sujeito 
passivo (que tem o correspondente dever).
 Expectativa jurídica - Posição do sujeito 
jurídico que lhe pode permitir ser titular de 
um direito subjectivo.
Exemplo: Expectativa do titular de um direito de 
preferência, do adquirente sob condição ou do herdeiro 
legitimário.
 Poderes funcionais – Os poderes 
funcionais são também designados poderes-
deveres ou direitos-deveres. Direitos de 
exercício obrigatório, uma vez que 
(também) protege o interesse de terceiros.
Exemplo: Poder paternal (Artigo 36.º, n.º 5, da 
Constituição da República Portuguesa – “Os pais têm o 
direito e o dever de educação e manutenção dos filhos”) 
– Discricionariedade no exercício do poder funcional. 
○ Classificação de factos jurídicos:
 Testamento – negócio jurídico unilateral;
 Criação de obras artísticas – simples acto 
jurídico, operação jurídica (no âmbito dos 
direitos de autor e conexos);
 Doação – negócio jurídico bilateral (duas ou 
mais declarações de vontade de doador e 
donatários), contrato unilateral (com 
obrigações para uma parte);
 Morte – facto jurídico involuntário (de 
acordo com o Direito e não com a natureza 
das coisas);
 Procuração – negócio jurídico unilateral (e 
não bilateral), porque não exige declaração 
de vontade do procurador.
• A procuração consiste na transmissão 
de poderes a um representante. 
Prevista no art. 262º do C.C., pode 
exigir documento escrito, consoante o 
negócio jurídico em causa;
Página105
O contrato de mandato (art. 1157º e 
seguintes do C.C.) é um contrato de 
prestação de serviços em que o prestador é 
o mandatário. Este age de acordo com as 
indicações e instruções do mandante quer 
quanto ao objecto, quer quanto à própria 
execução; os serviços são prestados de 
acordo com o querido e programado pelo 
mandante; ao mandatário só é permitido 
deixar de executar o mandato ou afastar-se 
das instruções recebidas nos casos previstos 
no art. 1162º CC. Ver artigos 1178º, 1179º e 
1180º do C.C., sobre mandato com e sem 
representação. No mandato com 
representação, o procurador celebra 
contratos em nome do mandante (outorga 
directamente), já no mandato sem 
representação, ele não actua em nome do 
mandante.
 Contrato de Trabalho – acto jurídico, 
negócio jurídico bilateral, contrato bilateral e 
oneroso (equilíbrio de prestações);
 Despedimento com justa causa (um dos 
tipos de rescisão de contrato) – acto jurídico, 
negócio jurídico unilateral (a cessação do 
contrato depende da declaração de vontade 
de uma das partes, mais do que a Lei). 
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 26 de Novembro de 2009 – 11H-12H30 
– Teórica)
Página106
➢ Ónus da prova (art. 342º e seguintes do C.C.) – 
consiste na prova de um facto e incumbe àquele que 
invoca o facto em seu benefício;
➢ Continuação do estudo de outras técnicas 
legislativas
○ Presunções inilidíveis / absolutas – não 
admitem prova em contrário.
 N.º3 do art. 243º do C.C. – simulação de um 
negócio jurídico. O art.º 243º visa a 
protecção de terceiros com boa-fé (n.º1 do 
art. 243º) contra simuladores, isto é, 
desconheçam plenamente a simulação. Daí 
que, por exemplo, a aquisição de um imóvel 
está sujeita a publicidade (registo predial). A 
presunção inilidível constitui uma execução 
justificada e assemelham-se às ficções.
○ Conceitos indeterminados – qualquer ordem 
jurídica necessita de conceitos claros e precisos, 
mas também de conceitos flexíveis, modificáveis 
às próprias circunstâncias do caso e que exigem 
uma densificação do conteúdo nos tribunais e 
uma especial valoração, porque “carecem de 
especial preenchimento valorativo” (Karl Lorenz)
 N.º2 do art. 766º do C.C. e N.º1 do art. 227º 
do C.C. – vinculação aos ditames da “boa-
fé” quer na fase pré-contratual 
(preliminares), quer na fase de execução. O 
conceito de boa-fé mantém-se inalterado ao 
longo dos tempos, mas, pela sua 
plasticidade, adequa-se cada vez melhor aos 
casos concretos – “Direito vivo”;
 Outros conceitos indeterminados:
• “Bons costumes” (art. 280º do C.C.);
• “Ordem pública” (art. 280º do C.C.);
• “Interesse público” – conceito vago e 
difuso;
Página107
• “Justa causa” – a propósito da 
demissão de um trabalho;
• “Diligência exigível” – comportamento 
adequado, que constitui a medida da 
culpa. Apresenta-se uma bitola, que é 
gradativa;
• “Bom pai de família” – conceito padrão 
(bonus pater familias);
• “Violação grave” (art. 1003º do C.C.);
• “Escassa importância” (art. 802º do 
C.C.).
○ Cláusulas gerais – regulamentações que 
contêm uma disciplina geral aplicável a um 
número indeterminado de situações. São 
regulamentaçõesfundamentais, das quais podem 
constar conceitos indeterminados. Por exemplo, 
os contratos devem ser pontualmente cumpridos 
(art. 483º do C.C.);
 Vantagens das cláusulas gerais:
• Dada a complexidade da matéria em 
causa, recorre-se à utilização de uma 
directriz geral aplicável com a evolução 
do tempo;
• Evitam-se omissões, com normas de 
largo espectro;
• Revelam-se úteis na impossibilidade de 
enunciar todas as situações.
○ Regulamentação casuística – aplicação de 
consequências a cada situação jurídica. Ver, por 
exemplo, artigos 484º, 485º e 486º do C.C.;
○ Cláusula geral com regulamentação 
casuística – despedimento por justa causa com 
enunciação de situações aplicáveis, numa única 
norma (no Código do Trabalho).
Página108
Artigo 441.º 
Regras gerais 
1 - Ocorrendo justa causa, pode o trabalhador fazer cessar imediatamente 
o contrato. 
2 - Constituem justa causa de resolução do contrato pelo trabalhador, 
nomeadamente, os seguintes comportamentos do empregador: 
a) Falta culposa de pagamento pontual da retribuição; 
b) Violação culposa das garantias legais ou convencionais do trabalhador; 
c) Aplicação de sanção abusiva; 
d) Falta culposa de condições de segurança, higiene e saúde no trabalho; 
e) Lesão culposa de interesses patrimoniais sérios do trabalhador; 
f) Ofensas à integridade física ou moral, liberdade, honra ou dignidade do 
trabalhador, puníveis por lei, praticadas pelo empregador ou seu 
representante legítimo. 
3 - Constitui ainda justa causa de resolução do contrato pelo trabalhador: 
a) Necessidade de cumprimento de obrigações legais incompatíveis com a 
continuação ao serviço; 
b) Alteração substancial e duradoura das condições de trabalho no 
exercício legítimo de poderes do empregador; 
c) Falta não culposa de pagamento pontual da retribuição. 
4 - A justa causa é apreciada nos termos do n.º 2 do artigo 396.º, com as 
necessárias adaptações.
○ Enumerações taxativas – aplicação de uma 
disciplina a situações concretas (elenco que não 
pode ser alcançado). Como exemplo, temos as 
situações taxativas que constituem excepções à 
incapacidade de normas (art. 127.º, onde 
constam conceitos indeterminados);
○ Enumerações limitativas – visam delimitar o 
tipo de situações a que se aplica uma dada 
situação.
➢ Direito Judiciário (dos tribunais) – Direito aplicado 
proferido pelas instâncias que têm o direito de dizer o 
que é o Direito, verificando-se um estilo de abordagem 
da matéria jurídica diferente da presente nos códigos.
○ Os conceitos indeterminados e as cláusulas 
gerais asseguram a sobrevivência do 
ordenamento jurídico, dada a evolução da 
sociedade;
Página109
○ No nosso ordenamento jurídico, existem normas 
que padecem de uma rigidez que conduz ao seu 
desuso;
○ Compete ao jurista concretizar o Direito, a quem 
se exige um esforço argumentativo, valorando o 
caso e reconstruindo-o;
○ Jurista como agente activo da realização do 
Direito, dado que as leis são fontes de Direito e 
não o próprio Direito.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 30 de Novembro 2009 – 14H-15H30 
– Teórica)
➢ Tutela das Normas Jurídicas
○ Garantia que as normas possuem, no que 
respeita à sua obrigação;
○ As sanções são, em grande medida, um 
mecanismo de tutela jurídica;
○ O artigo 1º do Código de Processo Civil proíbe a 
auto-tutela;
○ Normas com relevância jurídica:
 Para celebração de contratos – o 
incumprimento destes pressupostos gera 
uma ineficácia do contrato;
• Ex: A maioridade constitui um requisito 
/ pressuposto da liberdade contratual.
 Procedimentos para a elaboração e 
aprovação de um acto normativo da 
Assembleia da República – se estas normas 
não forem observadas, a Lei será ineficaz;
 Normas que regulam a conduta humana, 
cuja inobservância gera a aplicação de 
sanções.
Página110
○ O exercício de direitos também pode ser 
realizado judicialmente (posições jurídicas 
judiciais), ou seja, só o tribunal pode conceder 
esse direito ao indivíduo, constituindo um modo 
de tutela jurídica. Todavia, na esmagadora 
maioria dos casos, a ordem jurídica confere a 
magnitude do exercício de direitos. Noutros 
casos, a resolução de litígios pode ser conseguida 
extra-judicialmente – direito de resolução que não 
depende do recurso judicial, algo que apenas foi 
instituído mais recentemente (ex: contrato de 
locação);
○ A imposição da observância de normas constitui 
um meio de tutela jurídica, preservando-se assim 
as posições jurídicas dos mesmos. Noutros casos, 
a ordem jurídica tutela directamente as normas 
jurídicas, como se verifica na atribuição do poder 
de fiscalização da legalidade aos superiores 
hierárquicos da Administração Pública sobre os 
seus inferiores. Trata-se de um mecanismo que a 
ordem jurídica atribui para a sua própria 
protecção. O mesmo sucede com a fiscalização 
da constitucionalidade, garantindo-se assim o 
respeito pelas normas contidas na Constituição 
(fiscalização preventiva ou sucessiva);
○ As sentenças do Tribunal Constitucional têm uma 
eficácia meramente declarativa (declara o 
direito), procedendo assim ao controlo das 
normas. Também há sentenças constitutivas, 
quando é esta que constitui direitos (ex: quando 
há uma violação de um contrato-promessa de 
compra e venda não cumprido, por uma das 
partes (art. 830º do C.C.). Pretende-se obter a 
declaração de transmissão da coisa;
○ A tutela jurídica é da responsabilidade do Estado 
e do conjunto de entidades que o compõe. Assim, 
temos a:
Página111
 Tutela administrativa – da 
responsabilidade da Administração Pública, 
visa promover a realização dos fins do 
Estado;
• Estadual – liderada pelo Governo;
• Autónoma – autarquias locais, sujeita 
a uma circunscrição territorial.
 Tutela judicial – da responsabilidade dos 
tribunais.
○ A promoção e realização dos fins do Estado 
realizam-se preventivamente (garantir a paz 
social) e activamente (enquanto agente da 
realização de fins colectivos).
 Pode efectuar estas acções em consonância 
ou não com interesses particulares (ex: 
expropriação, em que os interesses 
particulares são sacrificados em detrimento 
de interesses colectivos);
 O Estado deve revelar-se imparcial no 
tratamento dos sujeitos;
 A Administração Pública necessita de meios 
para fazer valer estes interesses públicos 
(forças energéticas particulares de 
agilização), assim como os privados 
necessitam de meios de tutela;
 Princípio da legalidade e da 
competência da Administração Pública 
– a Administração Pública poderá fazer, tão-
somente, o que a Lei lhe permite, ou seja, só 
poderá agir de acordo com as competências 
que a Lei lhe atribui;
 A Administração Pública contém um 
privilégio de execução prévia das suas 
decisões, podendo depois o particular 
recorrer aos tribunais. O processo tributário 
apresenta várias situações em que, 
Página112
primeiramente, se exige o pagamento da 
tributação, sendo que só depois se concede 
o direito de reclamação sobre a mesma. 
Este privilégio revela-se um mecanismo 
exigente de defesa do interesse 
público;
 Para acautelar os interesses dos 
particulares, num Estado de Direito 
Democrático, a Administração Pública deve 
convocar os particulares a intervir nos 
processos de decisão (discussão pública). 
Este direito está consagrado na Lei, mas na 
prática tem sido inviabilizado;
 Com a produção de um acto administrativo, 
o sujeito pode recorrer a meios de tutela, no 
âmbito do recurso gracioso …
• Reclamaçãopara reapreciação do 
acto por parte do autor do acto; 
• Recurso Hierárquico para o superior 
hierárquico do autor do acto.
… e do recurso contencioso, através dos 
tribunais, intentando uma acção contra a 
Administração para:
• Solicitação de indemnização;
• Declaração de nulidade.
 Os poderes da Administração Pública são 
funcionais, porque estão assinalados a uma 
função, orientadas para ela. Se tais funções 
não forem cumpridas, a Administração 
incorre num desvio de poder, passível de 
controlo judicial. A Administração Pública é 
parte interessada na prossecução do 
interesse público.
Página113
 Sanções premiais da Administração 
Pública – mecanismos de incentivo à 
prossecução do interesse público (ex: 
benefícios fiscais);
 A Administração Pública pode criar 
mecanismos de dissuasão indirecta, que se 
distinguem da persuasão, na tentativa de 
evitar a prática de uma determinada 
actividade;
 Tutela judiciária – da responsabilidade dos 
tribunais, que têm a função jurisidicional 
(não lhes é exclusiva). Devem exercê-la de 
modo imparcial, dotada de uma autoridade 
particular, dizendo o que é o Direito, 
obrigatório para todos os outros órgãos. Os 
tribunais agem supra partes, não atendendo 
às partes envolvidas, julgando através do 
Direito Objectivo. A existência de um 
“tribunal” (seja esta ou não a sua 
designação) é característica intrínseca de 
todo o sistema jurídico. Também entidades 
privadas assumem funções jurisdicionais 
(ex: Conselhos de Jurisdição, Conselhos de 
Justiça). Recentemente, lançou-se a questão 
de saber se os tribunais administrativos 
podem julgar matérias de Direito Desportivo 
ou de funcionamento dos partidos políticos. 
A função jurisdicional é inerente à 
compreensão do Direito. Os tribunais, ao 
contrário da Administração Pública, apenas 
tencionam promover o valor da justiça. A 
característica da independência 
demonstra que os tribunais não estão 
vinculados à vontade de tribunais 
superiores;
Página114
 Princípio da irresponsabilidade dos 
juízes (n.º2 do artigo 216º da CRP) – diz-nos 
que os juízes apenas decidem de acordo 
com a sua consciência e cumprindo a Lei e o 
Direito, não estando por isso obrigados a 
prestar contas a ninguém. De qualquer 
modo, existe uma Lei da Responsabilidade 
Civil Extracontratual do Estado, onde se 
prevê a responsabilidade do juiz, no 
exercício da função jurisdicional, por erro 
judiciário manifesto/acção negligente na 
aplicação do Direito.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 04 de Dezembro de 2009 – 11H-12H30 
– Teórica)
 Princípios da inamovibilidade dos juízes 
(n.º1 do artigo 216º da CRP) – Os juízes 
são inamovíveis, não podendo ser 
transferidos, suspensos, aposentados ou 
demitidos senão nos casos previstos na lei;
 Princípio do juiz natural – A consagração 
do princípio do juiz natural ou legal (intervirá 
na causa o juiz determinado de acordo com 
as regras da competência legal e 
anteriormente estabelecidas) surge como 
uma salvaguarda dos direitos dos arguidos, 
e encontra-se inscrito na Constituição (art. 
32.º, n.º 9: nenhuma causa pode ser 
subtraída ao tribunal cuja competência 
esteja fixada em lei anterior), com a 
excepção de casos especiais legalmente 
consentidos, procurando-se, assim, proteger 
os arguidos - logo a partir da titularidade do 
Página115
direito de punir - pondo-os a coberto de 
arbitrariedades no exercício de tal direito;
 Incompatibilidades (n.º 3 do art. 216º da 
CRP) – Os juízes em exercício não podem 
desempenhar qualquer outra função pública 
ou privada, salvo as funções docentes ou de 
investigação científica de natureza jurídica, 
não remuneradas, nos termos da lei;
 Auto-governo da Magistratura através 
do Conselho Superior da Magistratura 
(art. 218º da CRP) – presidido pelo Supremo 
Tribunal de Justiça e composto por dois 
vogais designados pelo Presidente da 
República, sete eleitos pela Assembleia da 
República e sete juízes eleitos pelos seus 
pares. Os vogais designados pelo PR e pela 
AR não carecem de ser juízes, o que se deve 
à necessidade de reflectir a 
representatividade política. Não deixa, 
contudo, de ser uma questão polémica, pela 
possibilidade de uso do poder para fins 
políticos. O mesmo sucede com o Tribunal 
Constitucional;
 Aos tribunais, apenas compete a função 
jurisdicional. A declaração de sentença 
deve estar de acordo com o Direito vigente, 
requerendo por isso um poder neutral. A 
sentença não deve reflectir a sociedade, 
como no caso dos poderes legislativo e 
executivo. Por isso, o poder judicial é 
designado “poder morto”, servindo apenas a 
ordem estabelecida e não criando uma nova 
ordem;
 Administração da Justiça em nome do 
povo pelos tribunais (n.º1 do art. 202º da 
CRP) – não visa um objectivo auto-
referencial, mas procura servir a sociedade, 
Página116
garantindo a paz social (“paz jurídica”, em 
conformidade com o Direito) ≠ Justiça 
popular (vontade da maioria da sociedade 
decide; as sensibilidades populares revelam-
se insuficientes, por falta de fundamentação 
jurídica);
 Independência dos Tribunais (art. 203º 
da CRP) – os tribunais são independentes e 
apenas estão sujeitos à Lei. A vinculação do 
juiz à Lei pode ceder em nome de um valor 
maior – a Justiça – no caso de leis 
gravemente injustas;
 Os juízes representam o interesse do povo e 
não são eleitos, para não se criar um vínculo 
de dependência com o seu eleitorado. 
Assim, a legitimidade da actividade dos 
juízes provêm do exercício da sua função e 
não de sufrágio;
 O Tribunal de Contas assegura a 
regularidade das aplicações orçamentais do 
Estado. Discute-se se assume funções 
jurisdicionais.
 Por alçada de um tribunal, entende-se o 
valor dentro qual o tribunal julga 
definitivamente uma causa sem 
admissibilidade de recurso. A toda a causa, 
é atribuído um determinado valor, que 
representa a utilidade económica imediata 
do pedido (da pretensão do autor). É a este 
valor que se atende para determinar a 
alçada do tribunal (art.º 305º do Código de 
Processo Civil). Por sua vez, a Lei de 
Organização e Funcionamento dos Tribunais 
Judiciais, no artigo 24.º, define o valor das 
alçadas dos tribunais de 1ª instância (5.000 
euros) e da Relação (30.000 euros). Não 
existe alçada para o Supremo Tribunal de 
Página117
Justiça nem em matéria criminal. Note-se no 
entanto que em matéria cível, há causas em 
que, independentemente do valor da acção, 
há sempre possibilidade de recurso para a 
Relação. Por vezes, o critério do valor da 
acção (alçada) pode ser cerceadora da 
hipótese de recurso da acusação. Do mesmo 
modo, as despesas judiciais podem 
impossibilitar o acesso à justiça, que 
constitui uma aspiração fundamental de 
todo o indivíduo.
 O estabelecimento de uma hierarquia de 
tribunais visa o aperfeiçoamento das 
decisões, admitindo-se o erro do juiz de 
tribunal inferior.
 Ministério Público – departamento do 
Estado, dotado de autonomia (n.º2 do art. 
219º da CRP) relativa (n.º4 do art. 219º da 
CRP), destinado a prosseguir políticas de 
matéria criminal. Representa o interesse 
colectivo, reprimindo a violação de valores 
fundamentais. A Procuradoria-Geral da 
República é o órgão superior do Ministério 
Público (art. 220º da CRP). O Ministério 
Público está sujeito a instruções da 
Assembleia da República e do Ministério da 
Justiça. Tem, também,legitimidade para 
intentar uma acção popular, por interesses 
difusos (preservação do ambiente e direitos 
dos consumidores). Intervêm em processos 
de jurisdição voluntária (ex: interdição por 
cegueira, surdez-mudez e distúrbios 
psíquicos) e mantém uma relação complexa 
com outras instituições de investigação 
criminal, como a Polícia Judiciária. Coordena 
a acção judicial (fases de instrução e 
Página118
acusação) e preside à investigação da acção 
penal, proferindo o nível acusatório. 
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 07 de Dezembro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Validade da norma jurídica
• O valor da regra jurídica está na razão da 
validade do Direito, ou seja, aquilo que explica 
que o Direito valha, justifica que uma norma 
jurídica valha. Assim, uma norma vale na medida 
em que realize a ordem social;
• Princípio da maioria dos Estados 
democráticos – critério de governo e não de 
validade, possivelmente a forma mais adequada 
para chegar a uma decisão. Porém, a maioria por 
si mesma não constitui um critério de validade, 
pois essa maioria pode conduzir a decisões 
arbitrárias e injustas. A maioria não deixa, 
contudo, de estar subordinada à Justiça. Este 
princípio manifesta a igualdade radical de todos 
os seres humanos, com a mesma dignidade e 
capacidade. O princípio da maioria postula a 
dignidade da pessoa humana, enquanto princípio 
que possibilita que todos manifestem a sua 
opinião, com iguais oportunidades de decisão. 
Revela-se o critério de decisão que melhor 
expressa aquilo que pode ser o Bem Comum. O 
discurso argumentativo dos indivíduos deve ser 
desinteressado e com tal abertura para existir 
possibilidade de mudança de opinião;
• Há algo nas normas que não nos reconduz à 
validade formal. Não basta que tenha sido 
realizada pela entidade competente para 
expressar uma valoração de Justiça. Deste modo, 
Página119
apenas vigoraria formalmente e seria aceite 
pelos positivistas legalistas. É também necessária 
uma vigência social, uma validade social que se 
evidencia pela adesão espontânea da população;
• Uma norma diz-se válida com congrega os 
diferentes planos de validade: formal, material 
(axiológica, valorativa) e social. A estes planos, 
tem de atender o legislador na sua actividade 
legislativa. Por vezes, denota-se que há falta de 
sentido prático ao legislador, produzindo normas 
idealistas, deficitárias, por isso, na validade 
social;
• Problemática da Lei injusta – existem leis injustas, 
que não deixam automaticamente de valer como 
Lei (p.e. – fixação de um imposto, propinas). O 
facto de serem injustas não lhes retira 
juridicidade. Se porventura a Lei não ultrapassar 
determinados limites de tolerabilidade, ela não 
perde a sua juridicidade – injustiças suportáveis. 
Por outro lado, se ultrapassar estes limites, 
afectando gravemente a legitimidade de uma 
norma, ela deixa de ser verdadeiramente uma 
norma jurídica, podendo-se, neste caso, admitir a 
desobediência. A vigência da Lei depende do seu 
grau de injustiça, sendo que, se ultrapassarmos o 
limiar de injustiça, deixa de existir dever de 
cumprimento. Do mesmo modo, o juiz pode 
desobedecer à Lei, se se verificar que os limites 
de tolerabilidade foram ultrapassados, deixando, 
por isso, de estar vinculado à Lei. Noutra medida, 
é também necessário atender ao bem comum da 
sociedade;
• O art. 8º do C.C. visa evitar o subjectivismo, 
procurando promover o encontro de fundamentos 
objectivos. O confronto de pontos de vista só vale 
a pena, quando há uma orientação para a 
verdade. Portanto, este artigo visa apenas evitar 
Página120
o arbítrio judicial. É nestes moldes que tem de ser 
entendido este artigo, sendo que o juiz pode 
recusar a aplicação da norma. Deste modo, 
demonstra-se que a adopção de uma postura 
relativista é refutável, pois existe conhecimento 
absoluto. Caso contrário, estaríamos perante um 
cenário de luta de interesses – teoria/princípio do 
não-relativismo.
• Direito à Objecção de Consciência – 
reconhece-se o direito de não praticar 
determinados actos, atendendo ao modo de vida 
do indivíduo e ao carácter injusto da norma. Por 
estes motivos, concede-se excepcionalmente o 
incumprimento da mesma.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 11 de Dezembro de 2009 – 11H-12H30 
– Teórica)
➢ Princípios fundamentais do Direito
• À semelhança das normas jurídicas, também nos 
princípios fundamentais encontramos uma 
previsão, enquanto orientação geral (em aberto), 
que carece de ser desenvolvida (ex: princípio da 
dignidade da pessoa humana), pois não nos são 
apresentados os factos aos quais se aplicam o 
princípio e o tipo de consequências que podem 
ser postuladas;
Página121
• Princípios enquanto fundamentos da ordem 
jurídica – princípio da dignidade da pessoa 
humana, igualdade, autonomia privada 
(capacidade de auto-determinação através de 
negócios jurídicos), justiça nos contratos, 
confiança (expectativas fundadas devem ser 
protegidas), proporcionalidade;
 Estes princípios não são necessariamente 
codificados, positivados. O elenco não se 
encontra definido pelo legislador, 
competindo ao intérprete aplicador 
identificá-los;
 O Direito não é só composto por normas, 
mas também por princípios (outro elemento 
de trabalho do jurista), aos quais o jurista 
tem necessariamente de recorrer para 
definir o sentido das normas, quando estas 
não são concludentes. Noutro caso, verifica-
se uma ausência de normas sobre 
determinada matéria, sendo por isso 
necessário recorrer aos princípios;
 Os princípios, na teoria do professor de 
Teoria Geral do Direito Ronald Dworkin, 
deixam de ser meros informadores da 
ordem jurídica, passando a integrar o 
ordenamento jurídico na qualidade de 
normas jurídicas, e, portanto, incidem na 
apreciação de todo o facto juridicamente 
relevante. Dworkin formula o ordenamento 
jurídico composto por três elementos: 
princípios (principles), medidas e programas 
políticos (policies) e normas jurídicas (rules). 
Para Dworkin, a observância dos princípios é 
um requisito para a justiça, equidade ou 
alguma dimensão da moralidade. Policies 
são directrizes ou planos de acção que 
determinam objectivos sociais, políticos ou 
Página122
económicos a serem implementados pelo 
governo em benefício da comunidade. Rules 
são disposições específicas que constituem 
critérios de decisão;
 A unidade / integridade da ordem jurídica é 
garantida pelos princípios, que asseguram 
as necessidades básicas dos cidadãos e 
evitam o caos na sociedade, promovendo a 
interligação entre os seus elementos 
(congruência interna da ordem jurídica);
 Princípios ≠ Valores
• Princípios são proposições que 
exprimem os valores. Concretização do 
postulado pelo valor jurídico de 
carácter indefinido;
• Valores – Justiça e Segurança.
 Princípios ≠ Normas
• Os princípios, ao contrário das 
normas, podem não valer sem 
excepção (limitação). Estas 
limitações não colocam em causa, 
contudo, o cerne do princípio;
○ Exemplo: O princípio da 
autonomia privada está limitado 
pela necessidade de respeitar a 
autonomia dos outros.
• Os princípios, ao contrário das 
normas, podem entrar, entre si, 
em oposição. De recordar que os 
princípios são directrizes genéricas que 
necessitam de ser compatibilizadas. 
Todavia, a oposição entre princípios 
não lhes retira a validade. Por outro 
lado, umacolisão de normas conduz à 
destruição de ambas;
○ Exemplo: O n.º1 do artigo 437º do 
C.C. constitui uma cláusula geral 
Página123
que coloca em conflito a justiça 
contratual e o cumprimento 
pontual dos contratos.
○ Já os juristas medievais se 
debruçavam sobre esta matéria, 
aceitando a alteração dos termos 
do contrato, se ocorrer alteração 
das circunstâncias (por motivos 
especiais)
 Exemplo: Alteração do frete 
marítimo3 por desvio da rota 
forçado, para transporte de 
petróleo.
• Os princípios não são suficientes para a 
resolução de questões jurídicas, pois é 
necessário harmonizar as exigências de 
diferentes pessoas, daí que se afirme 
que os princípios carecem de aplicação, 
a cabo da norma ou do intérprete 
aplicador;
• Podem existir sub-princípios, que visam 
garantir a convivência social, através 
da publicidade registal (ex: registo 
predial), que é uma concretização do 
princípio da tutela da confiança;
• As regras aplicam-se através de 
mecanismos de subsunção (relação 
causa-efeito), reconduzindo a situação 
de facto à sua consequência. As 
normas recortam com clareza a 
previsão e as situações de facto. Nos 
princípios, requerem-se ponderações 
cuidadosas valoradas;
• Os princípios jurídicos podem ser:
3 O frete marítimo representa o montante recebido pelo armador como 
remuneração pelo transporte da carga.
Página124
○ Inerentes à noção de Direito 
(princípios fundamentais do 
Direito universalmente válidos, 
supra-positivos (anteriores a 
qualquer actividade de 
positivação), que não carecem de 
tutela do legislador);
○ Contingentes que não têm 
uma filiação directa com a 
noção de Direito, diferentes nos 
diversos países.
 Exemplos: 
• Publicidade dos actos 
relativos a bens imóveis 
(nem sempre existiu e 
não existe noutras 
ordem jurídicas 
estrangeiras);
• Causalidade na 
transferência de bens 
móveis e imóveis (n.º1 
do art. 408º do C.C.) – 
realização de um 
contrato (acordo de 
vontades formal), 
atendendo aos registos 
formais exigidos, 
independentemente da 
transmissão física. O 
princípio da causalidade 
encontra-se consagrado 
no ordenamento jurídico 
português, mas não na 
ordem jurídica alemã ou 
brasileira (assenta no 
princípio da 
transferência física).
Página125
• Os princípios fundamentais tendem a 
ser aplicados com a evolução do 
tempo, apesar da sua consagração ser 
anterior. No caso dos princípios gerais 
do Direito, não há razão para serem 
universais e ajudam a criar a 
integridade da ordem jurídica;
• Os princípios constituem fontes de 
Direito a que o intérprete aplicador 
recorre na ausência de Lei. Apresentam 
um conteúdo material indefinido, mas 
também podem ser metodológicos, 
dizendo ao intérprete aplicador como 
deve agir.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 14 de Dezembro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Fontes de Direito
• Expressão analógica que significa “de onde brota 
do Direito”, qual a sua origem, em cada momento 
histórico; critérios de concretização do Direito;
• Elenco de Fontes de Direito: Jurisprudência, 
Acórdãos Uniformizadores de Jurisprudência 
(equiparados aos assentos do STJ) e Doutrina 
subordinam-se ao Costume e à Lei;
• O elenco de fontes do Direito difere de acordo 
com a noção de Direito que tenhamos. A 
determinação dos modos de formação do Direito 
não pode ser satisfeita pelo legislador;
• A Lei elenca um conjunto de fontes de Direito nos 
primeiros artigos do Código Civil. O facto de 
existir uma Lei a indicar as fontes do Direito 
Português não implica que não existam outras, 
consideradas pelo intérprete aplicador. Se nos 
Página126
restringirmos à Lei, entendemos que esta será a 
fonte primordial do Direito, à qual as outras se 
subordinam. A matéria de fontes de Direito 
transcende aquilo que é manifestado por um 
sistema jurídico positivado;
• Se considerarmos que é apenas Direito tudo o 
que é legal, então o legislador determina o que é 
Direito, de acordo com a sua vontade de 
produção de normas;
• Os primeiros artigos do Código Civil constituem 
normas sobre normas (ou de 2.º grau), pois são 
normas sobre factos normativos, sobre o modo 
de reconhecimento das fontes de Direito. 
Também designadas normas secundárias ou 
prévias. Apresentam-nos um elenco de fontes 
formais (ou em sentido formal) reconhecidas 
pela ordem jurídicas como tal. A abordagem do 
Código Civil sobre esta matéria revela-se 
insuficiente, mas não irrelevante. Assim, o 
costume não constitui fonte formal de Direito, 
mas tem uma justificação para ser considerada 
como fonte;
• Fontes materiais (ou em sentido material) 
do Direito – decorrem de circunstâncias de facto 
que determinam a existência de normas jurídicas. 
Por exemplo, a ruptura política de 1974 
influenciou a CRP de 1976. Disciplinas como a 
Sociologia, a Política, a Economia e a Cultura 
ajudam à formação do ordenamento jurídico de 
uma comunidade, modelando o conteúdo das 
normas;
• Uma teoria normativa / legalista sobre a matéria 
de fontes implica um recurso ad infinitum 
insustentável. Para quebrar o recurso ad 
infinitum, poder-se-ia afirmar que é norma 
jurídica a vontade da maioria. Todavia, os 
primeiros artigos do Código Civil não decorreram 
Página127
de uma vontade política expressa da maioria. Por 
outro lado, também a vontade da maioria não é 
um critério último daquilo que vale como Direito, 
por isso a aprovação de um modo de formação 
como fonte de Direito não é suficiente para a 
legitimar;
• Existem fontes de Direito não positivadas:
 Costume;
 Princípios fundamentais inerentes ao 
Direito.
• É inviável o legislador ter a última palavra sobre 
quais as fontes de Direito. O legislador é limitado 
por princípios fundamentais do Direito (Direito 
Natural suprapositivo), não podendo, por isso, 
dispor das fontes de Direito arbitrariamente 
(determinar unilateralmente uma fonte de 
Direito);
• O Direito não é imutável, daí que tenhamos de 
identificar bem as fontes de Direito:
 Lei;
 Costume;
 Jurisprudência;
 Doutrina;
 Acórdãos Uniformizadores de 
Jurisprudência (equiparados aos assentos 
do Supremo Tribunal de Justiça) – decisões 
sobre uma questão jurídica, vinculativas 
para todos os tribunais;
 Usos
• Fontes voluntárias (ou intencionais) ≠ 
Fontes involuntárias (ou não intencionais)
 Fontes voluntárias – existe uma vontade 
de produção de Direito (ex: Lei, 
Jurisprudência, Doutrina);
 Fontes involuntárias – não existe uma 
intenção relevante de produção de Direito 
Página128
(ex: Costume, Princípios Fundamentais do 
Direito).
• Fontes imediatas (ou formais) ≠ Fontes 
mediatas (ou materiais)
 Fontes imediatas – constituem, por si, 
Direito. A lei é vista como uma fonte 
imediata do direito, para alguns autores ela 
é a única fonte imediata admissível.
 Fontes mediatas – só constituem Direito 
por força das fontes imediatas (ex: Usos)
• No art. 2º do C.C., encontramos uma referência 
às «normas corporativas» que, naturalmente, 
não apresentam qualquer conotação com o 
“Estado Corporativo”, depois da Constituição da 
República Portuguesa de 1976. De qualquer 
modo, dada a relação, por muitos, efectuada, 
atentemos nas explicações que se seguem:
Com efeito, como refere Oliveira Ascensão, em O 
Direito, Introdução e Teoria Geral, 13ª ed., pág. 
288, reportando-se à referência feita no art. 2º do 
CC, a expressão“ «normas corporativas» 
continua a ser utilizável hoje para a determinação 
do papel das fontes institucionais do direito. As 
ordens profissionais, por exemplo, produzem 
regras, pelas quais disciplinam toda a categoria 
respectiva. Essas regras são reconhecidas pelo 
poder público; e no entanto não são regras do 
Estado, são regras de produção dos próprios 
interessados”.
No mesmo sentido se pronuncia Freitas do 
Amaral, Manual de Introdução ao Direito, vol. I, 
pág. 527, o qual especificamente inscreve no 
campo das “normas corporativas”, como fonte de 
direito, os “estatutos e os regulamentos internos 
das organizações privadas internacionais, como 
Página129
por ex., as grandes federações desportivas 
mundiais (a FIFA, a UEFA, etc.) ” ou os “estatutos 
e os regulamentos internos das organizações 
privadas nacionais”.
• Costume – prática de uma conduta social 
reiterada e constante, acompanhada de uma 
convicção de juridicidade. Depende, por isso, de 
uma vontade objectiva da comunidade.
 Fonte privilegiada de Direito, que exprime 
directamente a ordem social, sem 
necessidade de qualquer autoridade / acto 
positivo;
 Harmonizado com aquilo que as pessoas 
sentem como justo, ao contrário do que se 
pode passar com a Lei;
 Os totalitarismos surgiram de uma 
manipulação da Lei e não do Costume;
 Existe a possibilidade de existência de 
costumes desadequados, devido a uma 
errada convicção / consciência social 
generalizada
 O costume é constituído por dois elementos 
essenciais que devem estar sempre 
presentes sob pena de não ser costume: 
• Corpus (prática social reiterada); 
• Animus (convicção de juridicidade4 da 
prática social reiterada);
 O costume não vigora com consagração 
legal, sendo por isso independente desta. Só 
se admitiria o inverso se se pudesse 
determinar a superioridade da Lei face ao 
costume. Não depende da imposição do 
4 Convicção de juridicidade e não de obrigatoriedade, pois existem costumes 
permissivos.
Página130
poder político, que não pode sancionar 
quem não o pratica, já que o costume é 
observado e não depende da coercibilidade;
 O costume necessita de ser racional para 
ser fonte de Direito?
• Tem de ser conciliável com a 
juridicidade, apesar de não ser forçado, 
isto é, surgir espontaneamente;
• Fala-se do requisito da racionalidade, 
para evitar a permanência de costumes 
irracionais;
• Com o Marquês de Pombal, apenas 
eram atendíveis costumes conformes 
com a Boa Razão. O mesmo sucede 
com a Lei, que tem de ser conforme 
com um mínimo de racionalidade;
• Não é um requisito autónomo, é uma 
exigência.
 Valia prática do costume
• O costume tem uma importância maior 
àquela que lhe atribuímos. Durante 
muito tempo, houve pouco espaço para 
a consagração do costume;
• Há muitas normas jurídicas que se 
fundam na Lei, mas também no 
costume – normas com dupla fonte, 
duplo fundamento com 
reconhecimento social pelo costume;
• Constitui a fonte primária de Direito 
dos não juristas.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
Página131
(Terça-Feira, 15 de Dezembro de 2009 – 9H-11H – 
Aula Prática)
➢ Continuação da resolução da Ficha de Trabalho 
N.º6
○ Sujeitos envolvidos:
 «Fundação Arte e Cultura» - pessoa 
colectiva, fundação;
 Eleutério Côrte-Real – pessoa singular;
 Bernardo – pessoa singular;
 «ArtNoveau – Decoração e Design, Lda.» - 
pessoa colectiva, sociedade comercial por 
quotas;
 Ernesto – pessoa singular;
 Fagundes – pessoa singular;
○ Sujeitos de Direito (Pessoas) podem ser:
 Pessoas singulares (humanas)
• Personalidade Jurídica: Aptidão para 
ser titular de relações jurídicas, ou seja, 
de direitos e obrigações (sentido 
qualitativo);
○ Começo: “A personalidade 
jurídica adquire-se no momento 
do nascimento completo e com 
vida.” (n.º1 do art. 66.º do C.C.);
○ Termo: “A personalidade cessa 
com a morte.” (n.º1 do art. 68.º 
do C.C.)
○ Direitos reconhecidos aos 
nascituros5 (hão-de nascer) – 
n.º2 do art. 66º do C.C.
5 Pode-se distinguir nascituros (concebidos que hão-de nascer) de concepturos 
(não concebidos que hão-de nascer). É possível fazer doações e destinar herança a 
nascituros e concepturos, mas os efeitos só se produzem com o nascimento 
completo e com vida (art. 66º do C.C.)
Página132
 Doações a concebidos e 
não concebidos (n.º1 do 
art. 952º do C.C.);
 Sucessões 
• a concebidos (n.º1 do 
2033º do C.C.)
• a não concebidos 
(alínea a), n.º2 do artigo 
2033º)
• Capacidade Jurídica: É a medida 
(variável) de direitos e vinculações de 
que cada um pode ser titular e a que 
pode estar adstrito (sentido 
quantitativo) – art. 67º do C.C.
○ Capacidade de gozo – aptidão 
para ser titular de um círculo 
maior ou menor de relações 
jurídicas.
○ Capacidade de exercício – 
medida de direitos e vinculações 
que a pessoa pode exercer ou 
cumprir por si, pessoa e 
livremente.
 A lei reconhece como 
possíveis certas situações 
excepcionais – 
incapacidades. Com efeito, 
pode suceder uma pessoa 
(menor ou demente) ser 
titular de direitos, isto é, ter 
capacidade de gozo, e não os 
poder exercer, por lhe faltar 
a necessária idoneidade para 
actuar juridicamente, ou 
seja, a necessária 
Página133
capacidade de exercício de 
direitos.
• Incapacidade dos 
menores – art. 123º do 
C.C.
• Incapacidade dos 
inabilitados – art. 160º 
do C.C.
• Incapacidade dos 
interditos – art. 139º 
do C.C.
• Incapacidade natural 
acidental – art. 257º do 
C.C.
 A inabilitação e a 
interdição são decretadas 
judicialmente. São 
decretadas por motivos 
comuns, como anomalia 
psíquica. Todavia, há 
também motivos especiais 
para cada regime, como a 
prodigalidade. O regime de 
inabilitação aplica-se a 
casos de menor gravidade 
e de interdição a casos de 
maior gravidade.
 Incapacidade de Exercício
• Genérica – quando 
uma pessoa não pode 
praticar todos os actos;
• Específica – quando 
uma pessoa não pode 
praticar alguns actos.
Página134
 Supressão das 
incapacidades:
• Dos inabilitados: 
suprida, em princípio, 
pelo instituto da 
assistência, pois estão 
sujeitos a autorização 
do curador os actos de 
disposição entre vivos, 
bem como os 
especificados na 
sentença (art. 153º CC). 
Pode, todavia, 
determinar-se que a 
Administração do 
património do 
inabilitado seja 
entregue pelo Tribunal 
ao curador (art. 154º/1 
CC). Neste caso 
funciona, como forma 
de suprimento da 
incapacidade, o instituto 
da representação. A 
pessoa encarregada de 
suprir a incapacidade 
dos inabilitados é 
designada pela lei por 
curador. Se o curador 
não der a autorização 
para qualquer acto que 
o inabilitado entenda 
que deve praticar, o 
próprio inabilitado pode 
requerer ao juiz o 
suprimento judicial do 
curador nessa situação;
Página135
• Dos menores: suprida 
pelo instituto da 
representação. Os 
meios de suprimento 
são em primeira linha, o 
poder paternal, e 
subsidiariamente a 
tutela (art. 124º CC). É 
claro que só é suprível a 
incapacidade dos 
menores, na medida em 
que haja uma mera 
incapacidade de 
exercício. Quando se 
trata de uma 
incapacidade de gozo 
esta é insuprível. Nos 
domínios em que é 
reconhecida ao menor 
capacidade de 
exercício, este é 
admitido a agir por si 
mesmo.
• Dos interditos: 
suprida mediante o 
instituto da 
representação legal. 
Estabelece-seuma 
tutela regulada pelas 
mesmas normas que 
regulam a dos menores, 
no funcionamento da 
representação legal dos 
menores é definida, no 
que se refere à 
incapacidade dos 
Página136
interditos, ao tribunal 
comum, art. 140º CC.
 Pessoas colectivas
• Associações – Pessoas colectivas de 
substrato pessoal (agrupamento de 
pessoas) que não tenham por fim a 
obtenção de lucros para distribuir pelos 
associados. No Código Civil, artigos 
167º a 184º;
• Fundações – Pessoas colectivas de 
substrato patrimonial (agrupamento de 
bens) que visam o interesse do 
fundador e são governadas pela 
vontade inalterável deste. No Código 
Civil, artigos 185º a 194º;
• Sociedades – Pessoas colectivas de 
substrato pessoal que têm por fim a 
obtenção de lucros. No Código Civil, 
artigos 980º a 1021º.
○ Tipos de sociedades:
 Sociedades Civis (todas as 
sociedades profissionais: por 
exemplo, Sociedades de 
Advogados)
 Sociedades Comerciais 
(ver Código das Sociedades 
Comerciais)
 Sociedades em nome 
colectivo
 Sociedades por quotas 
(Lda.)
 Sociedades anónimas 
(S.A.)
 Sociedades em comandita
• Simples;
Página137
• Por acções
○ No Código Civil:
 LIVRO I – PARTE GERAL;
• TÍTULO II – DAS RELAÇÕES JURÍDICAS;
○ SUBTÍTULO I – DAS PESSOAS;
 CAPÍTULO I – PESSOAS 
SINGULARES (artigos 66º a 
156º)
 CAPÍTULO II – PESSOAS 
COLECTIVAS (artigos 157º a 
194º)
○ Qualificação dos direitos subjectivos:
 a) Direito relativo (de crédito), a que 
corresponde um dever jurídico;
 b) Direito potestativo extintivo, a que 
corresponde um estado de sujeição;
 c) Direito absoluto real, a que corresponde 
uma obrigação passiva universal / dever 
geral de respeito;
 d) Direito absoluto real ou Direito 
potestativo constitutivo
• Direito legal de preferência (art. 
1091º,1 do C.C.)
○ Se o proprietário quiser vender o 
prédio, tem de o comunicar ao 
arrendatário para preferência e 
projecto de venda. Se não houver 
comunicação, o arrendatário pode 
interpor acção de preferência, que 
torna ineficaz a venda a outrem 
(direito potestativo constitutivo);
○ Se o proprietário quiser vender o 
prédio, tem a obrigação de o 
vender ao arrendatário, detentor 
do direito de preferência, se este 
Página138
aceitar as condições 
estabelecidas;
INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 18 de Dezembro de 2009 – 11H-12H30 
– Teórica)
➢ Fontes de Direito (continuação)
• A alegação de desconhecimento da Lei não é 
aceite em tribunal (art. 6º - ignorância ou má 
interpretação da Lei), apesar de se considerar 
compreensível, em certos casos. Noutros casos, 
não é desculpável, porque a Lei corresponde a 
costumes socialmente vigentes que todo o 
cidadão tem obrigação de conhecer;
• Modalidades de articulação do costume com 
a Lei
 Do ponto de vista da lei, o costume pode ser 
de três espécies: 
• costume secundum legem (segundo 
a lei);
• costume praeter legem (para além da 
lei); - com importância residual
• costume contra legem (contrário à 
lei) – o costume sobrepõe-se à Lei 
vigente, que perde influência. Como 
exemplo desta realidade, temos a 
questão dos touros de morte em 
Barrancos, que implicou uma tensão 
entre Lei e Costume e a criação de uma 
Lei de excepção.
Página139
• Cessação formal da Lei:
 Revogação – lei nova cessa lei anterior;
 Caducidade – fim do prazo de vigência ou 
dos circunstancialismos sociais que a 
justificavam;
 Cessação da convicção de obrigatoriedade 
da mesma.
• Direito Consuetudinário Estrangeiro (art. 
348º do C.C.) – aplicação do costume estrangeiro 
no nosso país (atendendo às normas de conflito);
• Importância do costume em certos sectores 
sociais, como nos baldios;
• Se uma lei, que revogue um costume, não for 
seguida pela sociedade, não adquire eficácia. Isto 
demonstra que a juridicidade observa-se na 
sociedade;
• O costume é uma fonte autojustificada, isto é, 
não carece de Lei para se justificar. Faz cessar 
leis antigas obsoletas e intervém, inclusive, em 
matéria constitucional.
• Doutrina – Conjunto de estudos, opiniões e 
pareceres dos jurisconsultos sobre a forma 
adequada de interpretação, integração ou 
aplicação do Direito. 
 Consta de tratados, manuais, comentários 
às leis (códigos) e à jurisprudência, 
monografias e estudos jurídicos vários.
 Os jurisconsultos são juristas qualificados, 
em geral, professores nas Universidades;
 A doutrina não é considerada fonte imediata 
ou directa do Direito uma vez que ela não 
cria normas jurídicas;
 A doutrina é uma fonte mediata do 
direito, apesar de não criar Direito, tem 
uma importante relevância prática na 
Página140
revelação do próprio Direito, dado que as 
opiniões dos Jurisconsultos contribuem para 
esclarecer o sentido e o alcance de 
determinadas normas jurídicas e ajudam a 
colmatar algumas omissões na lei.
Uma outra relevância importante da 
Doutrina é a influência que ela exerce na 
execução das leis, nas decisões judiciais e 
na actuação da Administração Pública. 
Funda-se na consciência das pessoas 
(consciência de juridicidade). A explicação 
da doutrina modela o Direito e faz a “ponte” 
entre as fontes formais de Direito e a 
consciência social.
 De qualquer modo, há que atender à 
falibilidade das opiniões dos jurisconsultos;
• Usos – Meras práticas sociais generalizadas que, 
ao contrário do costume, não têm convicção de 
juridicidade. 
 O n.º 1 do artigo 3º do Código Civil revela-
nos que a Lei reconhece a relevância dos 
usos, que não podem, contudo, ser 
contrários à boa-fé. Constituem uma fonte 
mediata de Direito, já que carecem da Lei 
para adquirirem vigência;
 Os usos assumem, fundamentalmente, 
relevância em matéria de Direito 
Comercial. Como exemplo disto, temos a 
lex mercatoria, nas relações comerciais 
transnacionais (Direito Internacional);
 Classificação dos Usos:
• Usos disciplinadores – 
regulamentam uma certa matéria;
Página141
• Usos interpretativos – ajudam a 
interpretar declarações emitidas;
• Usos integrativos – disciplinam uma 
matéria que não estava regulada.
 Não é preciso que a Lei remeta para os usos, 
para estes adquirem relevância.
• Ver artigos 236º (interpretação) e 239º 
(integração) do Código Civil – remissão 
para a vontade hipotética das partes;
• Não há remissão para os usos, mas 
eles podem ser aplicados.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Fevereiro de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º6 (continuação)
3) Compete ao réu especificar os factos impugnados 
pelo autor na petição inicial, justificando 
devidamente na contestação (artigo 490.º, n.º2 
do CPC). Estamos perante uma posição passiva 
do réu, um ónus da impugnação especificada. 
Importa distinguir “ónus” de “dever”, na medida 
em que, nos termos da lei, não constitui um acto 
lícito a ausência de especificação dos factos 
impugnados. Obviamente, se o réu não efectuar 
essa especificação, incorrerá numa desvantagem 
Página142
como, por exemplo, o pagamento de uma 
indemnização.
➢ Ficha de Trabalho n.º7
• A generalidade e a abstracção são as 
características comummente invocadas pela 
doutrina tradicional, recordando que, por um 
lado, autores como Oliveira Ascensão não 
admitem a abstracção como característica da 
norma jurídicas e, por outro lado, a coercibilidade 
é, nalguns casos, apontada como característica 
intrínseca da norma.Devemos, todavia, 
considerar que esta última constitui uma 
característica tendencial da norma, 
frequentemente integrante da mesma. A norma 
que nos é apresentada procura atingir todos 
aqueles que pratiquem o facto ou categoria de 
factos apresentados. A presente norma apresenta 
uma previsão (“Quem afirmar ou difundir um 
facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom 
nome de qualquer pessoa, singular ou colectiva”) 
e uma estatuição (“responde pelos danos 
causados”).
A situação apresentada implica responsabilidade 
civil extra-obrigacional, que implica geralmente o 
pagamento de uma indemnização.
• O artigo 1026.º do C.C. constitui a sustentação 
legal da arrendatária. Nele, estabelece-se um 
prazo supletivo, quando as partes não estipulam 
uma unidade de tempo. Já o n.º2 do artigo 1110.º 
do C.C. apresenta-se como a sustentação legal de 
Xavier. Como podemos constatar, estamos 
perante um conflito positivo de normas, numa 
situação de ausência de fixação do prazo do 
contrato. Independentemente da justiça ou da 
ausência dela, intuitivamente inclinámo-nos para 
a norma do artigo 1110.º do C.C., norma especial 
Página143
(consiste numa mera adaptação do regime-regra 
e não uma norma contrária ao regime geral) para 
arrendamento com fins comerciais, que se aplica 
ao presente caso. (Também a norma do artigo 
1094.º do C.C. é uma norma especial respeitante 
ao arrendamento para habitação – ver artigo 
1082.º do C.C.6) Atentando na norma do artigo 
1026º do C.C., verificamos, desde logo, que se 
trata de uma norma geral, que se aplica apenas 
em contrato de aluguer.
O artigo 1025º do C.C. fixa um limite máximo de 
locação (30 anos), o que, desde logo, 
impossibilita o arrendamento perpétuo. No 
presente caso, estamos perante uma ficção legal, 
na medida em que o legislador recorre desta 
técnica legislativa, considerando que ocorreu um 
facto que ele sabe que não ocorreu. Podemos 
apontar um outro caso semelhante, relativo ao 
contrato de mútuo (de bens fungíveis, como 
empréstimo de dinheiro), em que se verifica a 
fixação de um tecto máximo para o valor do juro, 
visando-se evitar o aproveitamento daquele que 
empresta para impor juros altíssimos.
O contrato de locação constitui um facto jurídico 
voluntário (acto jurídico), negócio jurídico 
bilateral (contrato) oneroso. A oposição à 
renovação do contrato (que contraria a 
renovação automática do contrato de locação) é 
um facto jurídico voluntário, negócio jurídico 
unilateral (com uma declaração de vontade 
tendente à produção de efeitos jurídicos 
extintivos, fazendo uso de um direito 
potestativo).
6 Situação díspar ocorre com os artigos 1297º do C.C., relativo à usucapião, por 
inércia do proprietário, e a regra excepcional presente no n.º2 do artigo 1300º.
Página144
O direito de resolução do contrato, atribuído ao 
arrendatário ou ao senhorio apresenta-se como 
um direito potestativo extintivo.
• O artigo 483.º do C.C. é uma norma geral, que diz 
respeito à responsabilidade civil extracontratual. 
Constitui a sustentação da EDP, argumentando 
que não se provou a existência de culpa ou dolo 
(por factos ilícitos). Note-se que o n.º2 deste 
artigo incide sobre situações em que se verifica 
ausência de culpa. Já o artigo 509º do C.C. revela-
se a sustentação de Cecília, na medida em que 
incide sobre a responsabilidade civil pelo risco 
dos fornecedores de energia eléctrica. Neste 
último, não se exige a prova da culpa, 
considerando-se justo condenar o fornecedor 
deste serviço. Neste caso, aplica-se o artigo 509º 
do C.C., norma excepcional que contraria a 
norma geral (princípio da culpa).
A propósito das regras excepcionais, o artigo 10º 
do Código Civil proíbe a aplicação analógica de 
regras excepcionais, pois aplicam-se a casos 
concretos.
➢ Ficha de Trabalho n.º8
• Código ≠ Compilação Jurídica ≠ Consolidação
 Código
• Apresenta dimensão qualitativa, 
regulando determinado domínio do 
Direito (Civil, Penal, do Trabalho);
• Passível de interpretação perante lei 
hierarquicamente superior;
• Organização de forma sistemática, 
garantindo uma coerência do código;
• Sinteticidade e cientificidade, através 
da dogmática jurídica, pois incumbe à 
Página145
doutrina este trabalho científico de 
elaboração do código;
• Surge com o movimento codificador do 
século XVIII, que trouxe um carácter 
inovador, característica própria dos 
Códigos.
 Compilação jurídica – aglomerado de Leis 
(em vigor ou não) sobre um domínio do 
Direito;
 Consolidação – apresenta semelhantes 
características às dos códigos, distinguindo-
se destes num ponto: um acto consolidado 
não procura inovar, apenas procura agregar 
o Direito vigente.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Fevereiro de 2010 – 15H-16H30 
– Teórica)
➢ Fontes do Direito (continuação)
• Nos ordenamentos jurídicos anglo-saxónicos, a lei 
e a jurisprudência assumem significativa 
relevância, sendo que esta última procura corrigir 
lacunas da Lei. Já nos ordenamentos romano-
germânicos, a lei apresenta-se como fonte 
primordial, o que revela a sua característica 
positivista-legalista. Note-se que nos artigos 1.º a 
13.º do C.C., que constituem uma Parte Geral do 
Direito e não apenas do Direito Civil, se constata 
uma correspondência da Lei ao Direito, 
entendendo o poder legislativo como o único que 
é capaz de produzir Direito – paradigma 
positivista.
• O nosso Código Civil arroga um elenco de fontes 
de Direito. Podemo-nos interrogar como uma 
fonte de Direito – a Lei – se dispõe a elencar 
Página146
outras fontes. Numa perspectiva positivista, 
temos fontes primárias (de 1.º grau) e fontes 
secundárias (de 2.º grau);
• As normas jurídicas não se legitimam a si 
próprias, legitimam-se, por outro lado, através da 
existência de princípios fundamentais do Direito. 
O nosso legislador positivista não refuta a 
existência de princípios. Podemos considerar dois 
tipos de princípios:
 Princípios de carácter universal 
(“traves mestras”)
• Princípio do Estado de Direito;
• Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana;
• Princípio da Justiça;
• Princípio da Igualdade. 
 Princípios específicos de alguns ramos 
do Direito
• Princípio da boa-fé, próprio do Direito 
Civil e mais particularmente do Direito 
das Obrigações;
• Princípio do inquisitório e do 
dispositivo, em Direito Processual Civil.
• Nos princípios, não conseguimos distinguir uma 
previsão e uma estatuição. Além disto, estes não 
se destinam a uma categoria de casos concretos, 
contudo têm alguma aplicação prática, 
funcionando como um critério / fonte de 
validação e legitimação de normas jurídicas. Na 
opinião de Oliveira Ascensão, os princípios não 
são fonte de Direito, na medida em que não 
constituem modo de formação e de revelação de 
normas jurídicas. Os princípios, constando ou não 
da Lei, podem influenciar a criação de uma 
norma, legitimando-a; 
Página147
• O n.º3 do artigo 10º do C.C. prevê que, numa 
situação de lacuna da Lei e na impossibilidade de 
recurso à analogia, é criada uma norma ad-hoc, 
que tem de respeitar a unidade do sistema, não 
podendo, por isso, ser formada livremente. Os 
artigos 227.º e 765.º do C.C., por exemplo, 
apresentam referências ao princípio da boa fé. 
Por um lado, não existe uma norma que reflicta, 
de modo abstracto, sobre o que é o princípio da 
boa fé, não havendo, por isso, uma enumeração 
rigorosa do princípio. Por outro lado, se por algum 
motivodeixa de haver referências à boa fé, tal 
realidade não implica o abandono deste ditame;
• Se os princípios/direitos fundamentais podem 
colidir entre si, já as normas não podem 
conflituar entre si, definindo-se critérios de 
aplicação destas, como os critérios da 
posterioridade ou da hierarquia das normas, pois 
apenas pode ser aplicada uma. No que concerne 
aos princípios, procura-se a concordância prática 
entre eles;
• A utilidade dos princípios não se prende, 
somente, com uma possível situação de lacuna 
da Lei, mas também está associada à matéria de 
interpretação da Lei, aos cânones hermenêuticos, 
no que concerne à teologia ou à ratio legis. 
Revela-se importante conhecer o princípio 
fundamental que preside àquela norma, pois o 
princípio é o reflexo da mesma;
• O costume é entendido pelos autores de 
referência como fonte de direito imediata;
• Podemos definir Lei, em sentido amplo, 
afirmando tratar-se do resultado do exercício do 
poder legislativo, sob a forma de Lei, Decreto-Lei 
ou Decreto Legislativo Regional (art. 112º da 
CRP), e do poder regulamentar / administrativo, 
tais como decretos regulamentares, despachos 
Página148
normativos e portarias do Governo, que 
apresentam normas jurídicas obrigatórias. Em 
sentido estrito, entende-se por Lei toda aquela 
que provem da Assembleia da República, 
detentora por excelência da faculdade de 
produzir normas jurídicas.
• Podemos distinguir lei em sentido material, 
que é toda aquela que é, necessariamente, 
composta por normas jurídicas gerais e 
abstractas, de lei em sentido formal, que, por 
seu turno, não apresenta, verdadeiramente, 
normas jurídicas, na medida em que estas não 
apresentam generalidade e abstracção, ainda 
que produzidas pelos órgãos com poder 
legislativo. Exemplificando esta realidade, 
podemos verificar na proposta de Orçamento de 
Estado 2010 a existência de verdadeiras normas 
jurídicas, como também de normas que não 
cumprem os critérios da generalidade e da 
abstracção;
• Outra distinção que se pode efectuar diz respeito 
às noções de lei constitucional e lei ordinária. 
A lei constitucional pode resultar do exercício do 
poder constituinte originário, por parte de uma 
Assembleia Constituinte, ou do poder constituinte 
derivado, através de uma revisão constitucional. 
A lei ordinária pode assumir a forma de lei da AR, 
decreto-lei do Governo e decreto legislativo 
regional das Assembleias Legislativas Regionais 
(art. 112º da CRP). Podemos ainda considerar as 
leis de autorização legislativa (da AR ao Governo) 
e as leis de valor reforçado, que decorrem da 
competência legislativa parlamentar e devem ser 
respeitadas por outras leis. Por exemplo, o 
legislador orçamental deve respeitar a Lei de 
Enquadramento Orçamental;
Página149
• Na actualidade, o Direito Nacional é influenciado 
e até incorporado pelo Direito Comunitário. 
Constituem actos legislativos os regulamentos e 
as directivas, que são influenciados pelos 
tratados internacionais. Os regulamentos 
dirigem-se aos Estados-membros e/ou entidades 
de foro privado (colectivas ou particulares), 
aplicando-se directamente aos seus destinatários, 
sem necessidade de transposição e fixando meios 
e fins. As directivas dirigem-se apenas aos 
Estados-membros, fixando os fins, mas não os 
meios (que ficam ao critério dos Estados-
membros), existindo a necessidade de 
transposição da directiva (através, por exemplo, 
de aprovação de Lei nacional). Podemos ainda 
fazer referência às decisões comunitárias, 
dirigidas pela Comissão Europeia e obrigatórias 
para os destinatários que designar, não contendo 
leis gerais e abstractas.
• No âmbito constitucional, também podemos 
classificar os actos legislativos de inexistentes 
(por exemplo, na ausência de promulgação do 
Presidente da República – ver artigo 137.º da 
CRP), inválidos (por exemplo, quando uma lei é 
inconstitucional – ver efeitos da declaração de 
inconstitucionalidade no artigo 282.º da CRP, em 
que o n.º 1 prevê a nulidade das normas 
inconstitucionais, não se produzindo efeitos 
jurídicos, atentando, porém, no n.º2 deste artigo, 
que prevê a possibilidade de produção de efeitos 
jurídicos.) e ineficazes em sentido estrito (por 
exemplo, a ausência de publicação dos actos 
legislativos elencados no artigo 119º da CRP, 
necessária para garantir a cognoscibilidade da 
comunidade);
• A inconstitucionalidade de uma Lei B, que revoga 
uma lei A não conduz, de acordo com o regime 
Página150
geral, ao renascimento da lei A. Todavia, a nossa 
Constituição prevê a repristinação no artigo 
282.º; 
• Uma lei nunca entra em vigor no mesmo dia em 
que é publicada, precisamente para permitir o 
seu conhecimento. Está, por isto, em questão a 
segurança jurídica, protegida pela Lei n.º74/98, 
de 11 de Novembro. Todavia, uma Lei que 
preveja a entrada em vigor no mesmo dia poderá 
afastar a referida Lei.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 26 de Fevereiro de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
➢ Fontes do Direito (continuação)
• Oliveira Ascensão considera a possibilidade de 
entrada em vigor de um diploma no mesmo dia 
da sua publicação, desde que:
 Exista lei de igual valor hierárquico a prevê-
lo;
 Não se estabeleçam regras de conduta para 
os particulares.
• O artigo 6.º do C.C. prevê que, perante uma Lei 
que entre em vigor, respeitando todos os 
requisitos exigíveis, não se admite a ignorância 
ou má interpretação da Lei (“dura lex, sed lex”);
• Análise da Lei n.º 74/98, de 11 de Novembro
 Artigo 1.º
• N.º 1 – A eficácia jurídica dos actos 
depende da sua publicação (recorde-se 
artigo 119º da CRP);
Página151
• N.º 2 – A data do diploma é a da sua 
publicação
 Artigo 2.º
• Não é comum no ordenamento jurídico 
português existir uma grande diferença 
entre o período de publicação e a data 
de entrada em vigor;
• O Código Civil Alemão (BGB) foi 
publicado em 1896, mas entra em 
vigor apenas em 1900;
• São frequentes as alterações ao Código 
de Processo Civil, fixando-se períodos 
de reflexão de 2/3 meses, o que 
dificulta a compreensão/interpretação 
das alterações. Coloca-se em causa a 
segurança jurídica;
• O conhecimento de um ordenamento 
jurídico implica um estudo das leis, da 
doutrina e da jurisprudência, apesar de 
estas últimas, no nosso país, não serem 
fonte de direito;
• Em situação de urgência, a Lei entra 
em vigor no dia seguinte à publicação 
em Diário da República;
• N.º2 – trata-se de uma norma supletiva 
(entenda-se supletivo em sentido 
amplo), que prevê um prazo supletivo 
de vacatio legis de 5 dias, prazo 
alterado em relação à primeira versão 
da Lei. Esta primeira versão previa 
diferentes prazos para os diversos 
territórios pertencentes a Portugal 
(Regiões Autónomas dos Açores e 
Madeira e Região Administrativa 
Especial de Macau);
• N.º4 – não tinha necessariamente de 
existir, mas esclarece quaisquer 
Página152
dúvidas. Os prazos contam-se a partir 
do dia imediato ao de referência.
 Artigo 3.º - Distinção entre actos publicados 
em I e II Séries, não abrange apenas 
diplomas legais.
• Cessação da vigência da Lei (art. 7.º do C.C.)
 Por revogação7 (n.º 1 e 2 do artigo 7.º), 
com a entrada em vigor de uma Lei nova, a 
Lei antiga é revogada expressa ou 
tacitamente, total ou parcialmente:
• “Disposições finais transitórias” – leis 
sob aplicação no tempo e normas 
revogatórias que consideram revogadaoutra Lei (revogação expressa);
• Revogação tácita – existência de 
disposições incompatíveis entre 
diplomas, sendo que a Lei actual afasta 
por revogação tácita a Lei antiga. Note-
se que não pode subsistir um conflito 
positivo de Leis, aplicando-se o critério 
da posteridade;
• Revogação total ou parcial (ab-
rogação e derrogação) – no primeiro 
caso, trata-se da revogação do diploma 
na sua plenitude; no segundo caso, 
consiste na revogação de alguns 
artigos do diploma, não se tratando de 
uma revogação do diploma em bloco.
 
 Ou por caducidade
• Leis de vigência temporária, que 
apresentam um prazo definido de 
vigência;
7 Revogação ≠ suspensão de vigência da Lei, pois neste último caso a Lei não é 
afastada para sempre.
Página153
• Fim dos circunstancialismos sociais 
que motivavam a vigência da Lei 
(por exemplo, a lei que prevê a 
concessão de subsídios aos antigos 
combatentes do Ultramar cessa a sua 
vigência com a morte do último 
combatente).
 N.º3 do artigo 7.º - trata-se do critério da 
especialidade, pois lei especial afasta a 
aplicação de lei geral. Pode tratar-se de uma 
regra supletiva, se houver disposição a 
prever o contrário;
 N.º4 do artigo 7.º - trata-se do princípio da 
não-repristinação da Lei. Se uma Lei A for 
revogada por uma Lei B e esta, por seu 
turno, for revogada por uma Lei C, que não 
prevê disposição nova, não ocorre 
renascimento da Lei A.
• Se uma segunda lei revogatória (Lei C) 
colocar em vigor a Lei A, não se 
considera que exista uma 
repristinação. Entende-se apenas que a 
Lei C apresenta um regime coincidente 
ao da Lei A, ou seja, existe uma adesão 
ao regime jurídico da Lei A, mas está 
para todos os efeitos em vigor uma 
nova Lei;
• O n.º4 do artigo 7.º aplica-se a todos os 
ramos do Direito. A norma 
constitucional do n.º1 do artigo 282.º 
constitui uma excepção ao n.º4 do 
artigo 7.º do C.C., em situações de 
declaração de inconstitucionalidade da 
Lei. 
Página154
• Vicissitudes da Lei
 Entrada em vigor da Lei;
 Cessação da vigência da Lei;
 Possibilidade de suspensão da vigência 
da Lei e de suspensão da vacatio legis, 
através de um diploma de igual valor 
hierárquico, adiando a entrada em vigor;
 Rectificações ou alterações à Lei – 
conjunto de normas (inovadoras), que 
surgem posteriormente à entrada em vigor 
da versão originária. Assim, antes da 
declaração de rectificação/alteração, aplica-
se a versão originária; com a publicação e 
entrada em vigor da declaração, aplica-se a 
versão mais recente;
• No artigo 5.º da Lei n.º74/98, o 
legislador sente a necessidade de 
definir “rectificação”, não permitindo o 
tal carácter inovador das rectificações. 
Ora, deste modo, não se revela 
necessário ter tantas cautelas. Todavia, 
se a declaração implicar alterações ao 
diploma originário, coloca-se em causa 
a segurança jurídica. 
○ N.º2 do artigo 5.º - fixação de um 
prazo que, se não cumprido, 
implica declaração de nulidade.
• No domínio negocial, importa analisar as 
cláusulas contratuais para se entender qual o 
contrato em causa. Esta tarefa, da 
responsabilidade do intérprete-aplicador, consiste 
em verificar o tipo de contrato em causa, que 
pode ser diferente do nome atribuído pelas 
partes. Por exemplo, a denominação, 
erradamente efectuada, de um determinado 
contrato de hipoteca, não implica a aplicação do 
Página155
regime jurídico da hipoteca. O mesmo se aplica 
às Leis, em que o intérprete-aplicador não está 
vinculado ao nome atribuído pelo legislador;
• Usos ≠ costumes
 Por costume, entende-se a prática social 
reiterada, com convicção de obrigatoriedade 
ou juridicidade (se se tratar de um costume 
permissivo, em que exista admissibilidade). 
O costume pode apresentar um âmbito 
local, regional ou nacional. Composto por 
um corpus (prática social reiterada) e por 
um animus (convicção de obrigatoriedade 
ou juridicidade). Já os usos apresentam 
apenas um corpus (prática social reiterada);
 Admissibilidade de um costume contra 
legem, com eficácia revogatória. Nestes 
casos, importa conhecer a diferença entre 
usos e costumes, não raras vezes 
confundidos;
 O desuso da Lei não tem eficácia 
revogatória, permanecendo vigente 
formalmente. Recorde-se que os usos 
necessitam de autorização legislativa para 
serem admitidos, não podendo ser 
contrários à Lei (artigo 3.º do C.C.). Por este 
motivo, os usos são fontes mediatas de 
Direito;
 Existem diversas normas do Código Civil que 
fazem referência aos usos:
• Artigo 218.º (o silêncio como meio 
declarativo)
○ O silêncio não significa nada do 
ponto de vista jurídico, isto é, não 
se ficciona que houve consenso;
○ Todavia, se os usos considerarem 
tacitamente relevância jurídica ao 
Página156
silêncio, assumem valor 
declarativo.
• Artigo 883.º (determinação do preço)
○ Em matéria de Direito das 
Obrigações, os usos assumem 
relevância jurídica nas práticas 
comerciais, nomeadamente na 
determinação do preço num 
contrato de compra e venda.
• Artigo 763.º (realização integral da 
prestação);
• Artigo 1682.º (alienação ou oneração 
de móveis) – em matéria de direitos 
patrimoniais de Direito da Família.
 O costume é admitido nacional e 
internacionalmente, como fonte imediata, 
apresenta força obrigatória própria;
• Representa a consciência jurídica da 
comunidade, não admitindo 
arbitrariedade;
• A existência ou definição de um 
costume é, por vezes, incerta ou dúbia.
○ Artigo 348.º do C.C. – a 
convocação de um costume 
implica fazer prova do mesmo. 
Mas o tribunal também deve, 
oficiosamente, realizar diligências 
probatórias. Aqui se nota que o 
costume pode assumir relevância 
jurídica.
 Os usos assumem relevância em matéria de 
interpretação e integração de lacunas das 
declarações negociais, desde que 
possibilitem um conhecimento razoável 
(artigos 236.º e 239.º do C.C.). O artigo 
Página157
239.º do C.C. apresenta cautelas em relação 
a possíveis declarações de má-fé e assume 
relevância para a determinação de prática 
hipotética das partes.
• Doutrina
 Não constitui uma fonte de Direito, pois 
apenas influencia a prática dos aplicadores 
do Direito;
 Tem força persuasiva, não vinculativa, que 
depende do prestígio daquele que emite o 
parecer ou opinião. São comuns as 
referências a autoridades em acórdãos.
• Equidade
 Surge no Código Civil como fonte de Direito 
(artigo 4.º do C.C.), mas aplica-se apenas 
nos termos da Lei;
• Trata-se de um artigo tributário de 
um entendimento ultrapassado. Ver 
Lei da Arbitragem Voluntária (1986), 
tributária da equidade, na medida em 
que as partes podem acordar a 
aplicação da equidade em vez da Lei. 
Este entendimento está, de facto, 
ultrapassado nos tempos actuais, pois 
a equidade faz parte de todo o 
processo do Direito, na medida em 
que consiste na aplicação justa da Lei 
no caso concreto, atendendo aos 
interesses que estão em causa. Daí que 
se entenda que a equidade não é fonte 
de direito, visto tratar-se de um critério 
concreto (não geral e abstracto) de 
resolução de um caso particular, não 
servindo para outros casos.
Página158
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 02 de Março de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º8 (continuação)
• Questão 2
 Na alínea a), estamos perante conceitos 
indeterminados, com conteúdo vago que 
não se encontrabem definido, sendo que a 
concretização destes conceitos pode ser 
objecto de adaptação (“ordem pública”, 
“bons costumes”). Diferentes destes 
conceitos são os conceitos determinados, 
como “contrato”. 
• Vantagens dos conceitos 
indeterminados:
○ Possibilidade de adaptação dos 
mesmos aos casos concretos, 
graças ao seu conteúdo muito 
amplo, garantindo-se uma 
aplicação mais justa – mais justiça 
e segurança jurídica;
○ Possibilidade de adaptação da Lei 
à evolução da própria sociedade, 
impedindo-se a cristalização dos 
códigos e introduzindo-se 
dinamismo às normas.
• Desvantagens dos conceitos 
indeterminados:
○ Possibilidade de conduzirem à 
caducidade de algumas normas;
○ A definição inflexível apenas se 
aplica aos casos que se encaixam 
naquele conceito.
• A utilização de conceitos 
indeterminados atribui uma maior 
Página159
margem de jus criação dos juízes, 
aplicadores do Direito.
 Na alínea b), o n.º2, do artigo 1.º do Código 
de Processo Penal constitui uma definição 
legal (de conceitos). Já o artigo 215.º do 
mesmo código revela-se uma proposição 
normativa incompleta (não-autónoma), pois 
desta não conseguimos retirar todo o 
sentido que ela pretende reflectir. Para tal, 
temos que recorrer ao artigo 1.º;
 Na alínea c), encontramos uma presunção 
legal, pois parte-se de um facto conhecido, 
provado, para um facto desconhecido, que 
se parte do princípio que terá sucedido pela 
ocorrência do anterior. 
• O artigo 349.º do C.C. apresenta-nos a 
definição do regime de presunções. 
Este encontra-se enquadrado no 
Capítulo II – Provas, pois trata-se de um 
meio de prova;
• Procura-se provar um outro facto a 
partir de um facto base. Trata-se de 
fazer prova por meio de presunções;
• Dá-se o facto desconhecido como 
provado, por meio de prova de 
presunção, mais simples. Podemos ter:
○ Presunção ilidível ou relativa 
ou iuris tantum – presunção 
regra que admite prova em 
contrário;
○ Presunção inilidível ou 
absoluta – não admite prova em 
contrário, não podendo, portanto, 
ser afastada (presunção 
excepção)
Página160
• No artigo 350º do C.C., podemos 
encontrar a regra da elisão de provas 
(n.º1) e a regra do não afastamento da 
prova (n.º2);
• O regime do ónus da prova constituição 
o regime regra, todavia o regime da 
presunção inverte as regras gerais do 
ónus da prova (art. 342.º do C.C., 
números 1 e 2). 
○ Existindo uma presunção de 
culpa, aquele que estivesse 
responsabilizado de fazer ónus da 
prova fica desonerado (inversão 
do ónus da prova). Também se 
pode fazer presunção do 
cumprimento da dívida pelo 
devedor;
○ Àquele contra quem a invocação é 
feita compete a apresentação de 
factos extintivos do direito de 
crédito invocado, para não ser 
condenado.
• O artigo 491.º do C.C. apresenta-nos a 
presunção de culpa do responsável 
pela vigilância de um indivíduo que não 
goza do discernimento ou maturidade 
necessária. Aplica-se, por exemplo, na 
responsabilidade de um pai sobre os 
danos causados pelo filho. Todavia, 
pode não haver a esta presunção de 
culpa se:
○ Se o responsável pela vigilância 
tiver cumprido as diligências 
necessárias para evitar a prática 
danosa;
Página161
○ Se intervieram factores externos 
incontroláveis, há lugar a 
presunção ilidível.
 Na alínea d), encontramos uma presunção 
absoluta ou inilidível, na medida em que não 
admite prova em contrário, tal como 
podemos entender da expressão constante 
do artigo “Considera-se sempre (…)”.
• Estamos perante um negócio jurídico 
simulado, com um conluio entre as 
partes, por isso nulo;
• Estabelece-se um regime de protecção 
de terceiros que intervenham de boa-
fé, isto é, que desconheçam o conluio;
• No presente artigo considera-se má-fé 
o terceiro que adquiriu o direito 
posteriormente ao registo – acção 
declarativa que confere publicidade ao 
acto jurídico, logo toda a gente tem a 
possibilidade de conhecer a nulidade 
do negócio.
 Na alínea e), encontramos uma presunção 
judicial, prevista no artigo 351.º do C.C., que 
consiste numa ilação que o julgador tira de 
um facto conhecido para concluir sobre um 
facto desconhecido.
• Trata-se de uma prova judicial que 
exige muitas cautelas. Recorre a 
indícios fortes que conduzam a um 
determinado entendimento, 
mecanismo que comporta riscos. Por 
isso, raramente se decide com base em 
presunções judiciais;
Página162
• São também designadas presunções 
naturais ou da experiência, dado o 
recurso a um raciocínio lógico dedutivo.
 Na alínea f), encontramos uma ficção legal.
• O devedor adopta uma posição de 
silêncio, tornando-se difícil ao credor 
fazer prova dos factos alegados;
• Note-se a diferença entre ficção legal e 
presunção legal, pois aqui aplica-se um 
regime jurídico não contido na norma 
que se pretende aplicar que, no 
presente caso, é o regime da confissão 
de dívida. Este regime baseia-se na 
colaboração do devedor. Ora, se o 
devedor não presta depoimento, 
comportamento aliás censurável, 
ficciona-se a confissão real de 
dívida, acto que não aconteceu. Por 
isto, também se designa que uma 
ficção legal é uma remissão implícita. 
Já a presunção legal, como vimos, é 
de ocorrência duvidosa.
 Na alínea g), encontramos uma remissão 
simples, para normas específicas. Manda-se 
aplicar ao instituto da sub-rogação os 
artigos 582.º a 584.º de outro instituto;
 Na alínea h), encontramos uma Parte Geral 
e uma Parte Especial. As Partes Gerais 
visam evitar repetições, pois as normas nela 
contidas constituem um regime geral de 
todo o código, aplicando-se a todas as 
matérias/domínios do respectivo ramo.
 Na alínea i), encontramos uma remissão 
ampla, para o regime de protecção de 
prova testemunhal.
Página163
• Aplicação em bloco do instituto jurídico 
num instituto jurídico diferente;
• O artigo 939.º do C.C. apresenta-nos 
uma remissão ampla das normas do 
contrato de compra e venda, em bloco, 
para contratos de troca/permuta, por 
exemplo, com as devidas adaptações.
 Na alínea j), encontramos as seguintes 
técnicas legislativas:
• No n.º1, encontramos dois conceitos 
indeterminados (“gravidade” e 
“consequências”) e uma cláusula geral, 
que se aplica a uma multiplicidade de 
situações não identificadas pela sua 
“letra”. Difere da regulamentação 
casuística, na medida que esta impõe 
um elenco fechado de situações às 
quais se aplica um determinado 
regime, não admitindo outras que não 
se encontrem nesse elenco (trata-se, 
portanto, de uma enumeração 
taxativa);
• No n.º3, encontramos uma enumeração 
exemplificativa, que detectamos 
através da expressão 
“nomeadamente”. O n.º3 revela uma 
aplicação da cláusula geral do n.º1.
• Questão 3
 O artigo 317.º do C.C. apresenta-nos os 
créditos (cumprimento de uma obrigação) 
que prescrevem no prazo de dois anos;
 O artigo 316.º do C.C. apresenta-nos os 
créditos que prescrevem no prazo de seis 
meses;
Página164
• Em ambos os casos, estamos perante 
prescrições extintivas, que diferem 
das prescrições aquisitivas (de um 
direito). Como exemplo de prescrição 
aquisitiva, temos a usucapião. Aliás, o 
Código de Seabra (1876) faz 
precisamente referência a prescrição 
aquisitiva.
 Temos também as prescrições 
presuntivas em que, com o decurso do 
tempo, presume-se o cumprimento da 
obrigação. Note-se que se revela difícilao 
credor, decorridos os 6 meses, fazer prova 
do incumprimento, na ausência de confissão 
(artigo 313.º do C.C.);
 O artigo 342.º do C.C. refere que o credor 
tem de provar o incumprimento (n.º1), mas 
a única forma de o fazer é através da 
confissão do devedor (artigo 313.º do C.C.), 
daí que se presuma o cumprimento;
 Nos termos do n.º2 do artigo 342.º do C.C., 
o devedor que alega uma presunção do 
cumprimento fica dispensado de fazer prova 
do cumprimento. 
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 02 de Março de 2010 – 15H-16H30 – 
Teórica)
➢ Fontes do Direito (continuação)
Página165
• Jurisprudência – conjunto de decisões dos 
tribunais que apresentam uma determinada 
orientação. Aplicam-se apenas ao caso concreto, 
não sendo por isso fonte de direito
 Nos ordenamentos anglo-saxónicos, a 
jurisprudência tem força vinculativa e 
obrigatória, vigorando a regra do 
precedente vinculativo;
 Os Assentos eram fonte de Direito. 
Eram acórdãos do Supremo Tribunal de 
Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal 
Administrativo (STA), que procuravam 
uniformizar a jurisprudência dentro do 
mesmo regime jurídico e sobre factos 
substancialmente iguais. Apresentavam a 
orientação jurisprudencial que devia valer e 
assumiam utilidade indesmentível. 
Tínhamos:
• Assentos interpretativos – Fixam o 
sentido juridicamente relevante de um 
preceito preexistente e com ele a partir 
daí se confundem. “A norma a que se 
dirige tal tipo de assento, de norma de 
interpretação variável evolui, por força 
da valoração jurídica sobreposta que 
aquele consequencia, a norma de 
interpretação estável ou, pelo menos, 
mais estável (o assento, como norma 
jurídica, também é susceptível de 
interpretação). A norma visada sofre, 
por via do assento interpretativo, 
profunda recomposição: é uma nova 
norma, deste modo recomposta, que 
passa a existir no direito positivo. Há 
pois como que uma fusão entre a 
Página166
norma atingida e a norma do assento 
que a modula”8.
• Assentos integrativos – preenchem 
uma lacuna do sistema e criam a 
norma correspondente, para depois 
fazer aplicação dela ao caso concreto.
Deviam ser respeitados em todos os casos 
subsequentes e encontravam fundamento 
no Código Civil e no Código Processo Civil. 
O artigo 2.º do C.C. foi revogado por 
declaração de inconstitucionalidade com 
força obrigatória geral aos assentos, dado 
que o Tribunal Constitucional entendeu que 
estes violavam o artigo 112.º da CRP (actos 
normativos), número 5, que impossibilita a 
criação de outros actos normativos. Para 
além disso, estava a ser colocado em causa 
o princípio da separação de poderes, 
com o STJ e o STA, detentores de poder 
judicial, a exercerem o poder legislativo. 
Apesar de o artigo 8.º, número 3, do Código 
Civil declarar que o julgador deve procurar o 
tratamento análogo dos casos, na medida 
do razoável, não existe uma vinculação a 
esta uniformização. 
 Acórdãos Uniformizadores de 
Jurisprudência
• São criados quando houver 
jurisprudência contraditória;
• Não têm força obrigatória geral, apenas 
valor persuasivo;
• É aconselhável que os tribunais de 1.ª 
e 2.ª instância sigam os Acórdãos 
8 Esta caracterização dos assentos como actos normativos foi assumida no acórdão 
n.º 40/84, Diário da República, II série, de 7 de Julho. 
Página167
Uniformizadores de Jurisprudência. 
Todavia, as mutações sociais podem 
retirar valia a estes acórdãos;
• Pelo facto de não terem força 
obrigatória geral, possibilita-se a 
produção de jurisprudência 
contraditória;
• Os assentos anteriores à decisão do 
Tribunal Constitucional adquiriram o 
mesmo valor dos Acórdãos 
Uniformizadores de Jurisprudência;
• Os artigos 732.º-A e 732.º-B do CPC 
estabelecem o regime processual 
quando há jurisprudência contraditória. 
○ Para assegurar a uniformidade da 
jurisprudência, pode haver lugar a 
julgamento ampliado de 
revista, com intervenção do 
pleno das secções cíveis. Nesta 
circunstância, não é julgada 
matéria de facto.
○ O julgamento alargado é proposto 
pelo relator, por qualquer dos 
adjuntos, pelos presidentes das 
secções cíveis ou pelo Ministério 
Público;
○ O juiz relator e os restantes juízes 
que intervenham no julgamento 
votam e o acórdão proferido pelas 
secções é publicado em 1.ª Série 
do Diário da República.
• Os artigos 437.º e seguintes do CPP 
trata da fixação de jurisprudência, 
quando o STJ profere dois acórdãos que 
assentem em soluções opostas.
○ O artigo 445.º do CPP regula a 
eficácia dos acórdãos 
Página168
uniformizadores de jurisprudência. 
Estes assumem carácter 
vinculativo no próprio processo 
em que forem solicitados. Para 
casos futuros, têm apenas um 
carácter persuasivo;
○ O artigo 446.º do CPP prevê uma 
situação de recurso de uma 
decisão proferida contra 
jurisprudência fixada pelo STJ. 
Admite a possibilidade de recurso 
directo para o STJ de qualquer 
decisão contra jurisprudência por 
ele fixada.
○ Nos termos do artigo 447.º do 
CPP, o Procurador-Geral da 
República (PGR) pode solicitar a 
uniformização de jurisprudência 
(n.º1), interpondo recurso para 
novo acórdão (n.º2), sendo que a 
decisão que resolver o conflito 
não tem poder vinculativo sobre 
qualquer caso em concreto (n.º3). 
➢ Métodos de aplicação da Lei – produto da relação 
com a dogmática jurídica, dado adquirido que não 
pode ser alterado, mas é passível de interpretação 
pelo intérprete-aplicador. Estabelece-se um método 
jurídico que traga uniformidade e inteligibilidade na 
aplicação da Lei, assegurando-se a segurança e 
certeza jurídica. Por exemplo, o método para 
classificação dos factos jurídicos visa a coerência do 
ordenamento jurídico e é de origem doutrinal. Note-se 
o papel relevante que a doutrina assume para a 
dogmática jurídica.
Página169
• Interpretação da Lei (ou hermenêutica 
jurídica)
 Procura-se retirar o sentido/alcance das 
normas, conhecendo o seu campo de 
aplicação;
 Constitui um elemento indefectível do 
Direito, pois todas as normas têm de ser 
interpretadas, até aquelas que parecem 
mais claras;
 Recurso aos elementos e cânones 
interpretativos, não apenas ao elemento 
gramatical ou literal. Obtém-se uma solução 
diferente da interpretação natural;
 Necessidade de leitura para lá da “letra da 
lei”, considerando a totalidade da lei, não 
efectuando interpretações de modo parcial;
 As normas que utilizam conceitos 
indeterminados (“prazo razoável”, por 
exemplo) exigem maior atenção da 
hermenêutica, dado que estes conceitos 
variam com a evolução social;
 Também no que concerne à existência ou 
não de definições legais, é exigida um maior 
esforço ao intérprete-aplicador do Direito, 
pois revela-se necessário verificar o rigor da 
mesma e a necessidade de proceder a 
alterações;
 A interpretação está sujeita a determinados 
critérios para ser válida. Pode haver 
discricionariedade, mas nunca 
arbitrariedade em relação ao Direito 
vigente;
 Dois tipos de interpretação (em relação 
ao sujeito da interpretação):
• Interpretação autêntica – advém de 
um órgão dotado de poder normativo. 
Consta de outro acto normativo 
Página170
vinculativo, uma Lei interpretativa, que 
tem igual ou superior valor hierárquico 
relativamente à Lei interpretada. Note-
se que a Lei interpretativa não é uma 
Lei inovadora, pois apenas fixa o 
sentidoda Lei interpretada, apesar de, 
por vezes, trazer uma interpretação 
inovadora. A norma interpretativa pode 
ser produzida pelo próprio órgão que 
criou o texto legislativo a ser 
interpretado (autointerpretação) ou 
outro (heterointerpretação).
• Interpretação doutrinal – a 
interpretação doutrinal é feita por 
todos os que atribuem sentido e 
alcance ao texto legal e que não sejam 
órgãos do Estado criadores desse 
mesmo texto, estando desprovidos de 
poder normativo. Assim, um advogado 
ao interpretar uma disposição 
normativa faz uma interpretação 
doutrinal. Da mesma forma, produz 
uma interpretação doutrinal um 
estudante de Direito, quando se depara 
com um texto de lei que precisa ser 
interpretado, e atribui a esse texto 
sentido e delimita seu alcance. Não 
obstante, interpretação doutrinal em 
sentido estrito é aquela produzida 
pelos doutrinadores do direito, pelos 
juristas, que, pelo notório e 
incontestável conhecimento do direito, 
atribuem sentido e alcance aos textos, 
criando as normas jurídicas. A 
relevância da interpretação doutrinária 
está no facto de que os órgãos 
incumbidos de julgar os casos 
Página171
concretos costumam seguir as opiniões 
dos doutos no direito, ou seja, da 
doutrina. A interpretação doutrinal não 
é vinculativa e pode trazer incerteza na 
aplicação do Direito.
○ A maioria dos actos 
interpretativos é de carácter 
doutrinal.
 Querela entre Teorias de Interpretação 
subjectivista e objectivista (em relação 
ao objecto da interpretação):
• Interpretação Subjectivista - 
destinada a captar o sentido imprimido 
à norma pelo legislador (mens 
legislatoris). 
○ Esta orientação inspira-se na 
doutrina alemã de Savigny e 
releva a necessidade de 
considerar a vontade do 
legislador;
○ Pires de Lima e Antunes Varela, 
autores do Código Civil, defendem 
a teoria da interpretação 
subjectivista;
○ Esta orientação está sujeita a 
crítica, na medida em que se 
revela difícil a personificação do 
legislador, pois as Leis têm vários 
autores e assume-se como uma 
tarefa árdua o apuramento da sua 
real intenção;
○ Os trabalhos preparatórios (actas, 
projectos, questões) serviriam 
para apurar a vontade do 
legislador;
Página172
○ Muitas vezes, as interpretações da 
Assembleia da República são 
precipitadas e têm de ser 
combinadas com outros 
elementos de interpretação;
○ Podemos subdividir esta 
orientação em Subjectivismo 
moderado e Subjectivismo 
radical.
• Interpretação Objectivista – 
destinada a captar o sentido imanente 
da lei (mens legis).
○ A partir do momento em que a Lei 
é aprovada e publicada, ganha 
autonomia em relação ao autor;
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 05 de Março de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
 Actualismo e Historicismo (em relação 
ao objecto da interpretação):
• Actualismo – a interpretação está 
sujeita a uma norma, não é inflexível. 
Veja-se, por exemplo, a interpretação 
do Código Comercial de 1888, redigido 
por Veiga Beirão, em relação à 
actualidade. Trata-se de uma 
interpretação extensiva com a 
evolução social, portanto, permeável 
à mudança.
• Historicismo – o sentido de uma 
norma é fixado, de modo inflexível, no 
momento da sua formação. Qualquer 
Página173
alteração da mentalidade social, da 
técnica, da situação económica não 
vale para a sua interpretação. Trata-se 
de uma visão rígida.
 O subjectivismo pode ter uma 
interpretação actualista ou historicista. 
Se admitirmos um juízo hipotético sobre a 
vontade do legislador com a actual realidade 
social, somos partidários do actualismo. Se 
quisermos conhecer a vontade real, no 
momento da formação, do legislador, 
estamos perante uma interpretação 
historicista;
 Se formos partidários de um objectivismo 
actualista, vamos buscar o sentido da lei 
adaptado à actualidade; se formos 
partidários de um objectivismo 
historicista, buscamos o sentido da lei no 
momento da sua formação.
 A Lei Portuguesa tomou partido pelo 
actualismo;
 Na actualidade, tendemos a encontrar 
doutrina de síntese destas teorias, não se 
conhecendo defesas puras de cada uma 
delas. Manuel de Andrade defendeu uma 
teoria mista, dado não existirem grandes 
diferenças entre a teoria objectivista e a 
teoria subjectivista. Na prática, a única 
diferença prende-se com os chamados 
trabalhos preparatórios, isto é, as actas 
das discussões da Assembleia da República, 
estudos solicitados a juristas, o projecto 
legislativo que permite conhecer a vontade 
do legislador. O subjectivismo puro entende 
que os trabalhos preparatórios conduzem a 
uma determinada vontade do legislador, ao 
Página174
contrário do objectivismo que atribui menor 
relevo a estes. Nos ordenamentos anglo-
saxónicos, os trabalhos preparatórios, até há 
pouco tempo, não assumiam qualquer 
relevância, pois estaríamos a personificar a 
vontade de um Governo ou de uma 
Assembleia. Note-se que uma intervenção 
oral de um deputado e o silêncio dos outros 
pode não nos fornecer uma noção fidedigna 
da vontade do legislador. Actualmente, 
atribui-se maior relevo aos trabalhos 
preparatórios. Os ordenamentos europeus 
são partidários de uma teoria mista, 
atribuindo uma importância relativa aos 
trabalhos, mas não decisiva. No 
objectivismo, atribui-se maior relevo à “letra 
da lei” em relação ao subjectivismo.
 Método interpretativo
• Instrumentos
○ Elementos interpretativos
 Elemento gramatical / 
literal (“letra da lei”) – 
apreensão literal do texto da 
lei, apuramento do 
significado mais natural 
desse conjunto de palavras.
• Funções
○ Positiva – 
conduzir o 
intérprete para o 
sentido que mais 
decorre da “letra 
da lei”, partindo-se 
do pressuposto 
que o legislador 
utilizou 
Página175
razoavelmente os 
termos técnico-
jurídicos e que se 
tem de retirar o 
sentido mais 
natural.
○ Negativa – afastar 
os sentidos da 
norma que não 
encontram apoio 
mínimo na “letra 
da lei”. É a Teoria 
da Alusão, que 
não é defendida 
pelos subjectivistas 
radicais.
 Elementos lógicos 
(“espírito da lei”)
• Elemento histórico – 
consideração dos dados 
e circunstâncias 
históricas que rodearam 
o aparecimento da lei.
○ Circunstâncias 
económicas, 
sociais, políticas 
em que a lei foi 
elaborada (occasio 
legis – art. 9.º/1 
C.C.) Por exemplo, 
o aumento da 
moldura penal por 
existência de um 
alarme social ou a 
suspensão da Lei 
Página176
das Finanças 
Regionais pela 
ocorrência de uma 
catástrofe na 
Madeira;
○ História do 
instituto ou do 
regime jurídico: 
precedentes 
normativos 
(normas e 
diplomas legais 
nacionais e 
estrangeiros que 
influenciaram a 
aprovação de uma 
Lei nova) Por 
exemplo, o estudo 
do Direito 
Comparado 
(semelhanças e 
diferenças entre 
Direito Nacional e 
estrangeiro, 
falando-se em 
micro-comparação9 
e macro-
comparação10) e 
regime vigente 
que foi revogado 
(por exemplo, o 
Código de Seabra 
9 Comparação de regras, normas ou institutos jurídicos de diferentes ordens 
jurídicas.
10 Comparação de ordens jurídicas ou sistemas globalmente considerados. Procura-
se verificar a existência de uma influência de um ordenamento estrangeiro sobre o 
nacional (p.e. o Código Civil Português foi influenciado pelo Código Civil Italiano).
Página177
em relação ao 
Código Civil de 
1966, em que se 
efectua uma 
comparação entre 
o Direitoactual e 
anterior);
○ Fontes da lei 
(doutrina, direitos 
estrangeiros);
○ Trabalhos 
preparatórios 
(perspectiva 
objectivista – como 
elementos 
auxiliares da 
interpretação e 
não como meio de 
apuramento da 
mens legislatoris). 
Descobrir as 
legislações que 
influenciaram o 
Direito Português, 
dando a indicação 
ao intérprete da 
necessidade de 
estudo dos Direitos 
que influenciaram. 
Procura-se 
descortinar a 
vontade do 
legislador.
• Elemento sistemático 
– unidade do sistema 
jurídico (art. 9.º/1 C.C.); 
Página178
coerência interna do 
ordenamento jurídico:
○ Na relação com 
outras normas que 
regulam a mesma 
matéria (contexto 
ou relação de 
conexão). Nunca 
ler uma norma de 
forma isolada, pois 
existe uma relação 
entre elas. No 
Código Civil, as 
normas das Partes 
Especiais mantêm 
uma relação de 
conexão com a 
Parte Geral. 
Existem relações 
de conexão no 
mesmo diploma e 
em diplomas 
diferentes dentro 
do mesmo 
ordenamento 
jurídico;
○ Na consideração 
de disposições 
legais que regulam 
problemas 
paralelos ou 
institutos afins 
(lugares 
paralelos ou 
relação de 
analogia/semelh
Página179
ança) A propósito 
da resolução do 
contrato de 
compra e venda, 
pode haver lugar a 
recurso da norma 
do contrato de 
empreitada, 
partindo-se do 
pressuposto da 
razoabilidade do 
legislador e 
admitindo-se a 
inexistência de 
consequências 
jurídicas diferentes 
previstas. Neste 
caso, recorremos 
analogicamente a 
esta solução;
○ Na relação com os 
princípios gerais 
do sistema 
jurídico – ex. 
interpretação 
conforme com a 
Constituição (lugar 
sistemático ou 
relação de 
subordinação) – 
limite da 
interpretação. A 
hierarquia das 
normas tem de ser 
respeitada por 
uma norma 
Página180
inferior, em 
relação a uma 
norma superior. 
Não podemos 
interpretar uma 
norma de carácter 
interno num 
sentido diferente 
do da Constituição 
ou do Direito 
Comunitário, tendo 
de estar conforme 
com essa 
legislação, de 
hierarquia 
superior. A 
legislação 
internacional 
subordina a 
interpretação da 
lei nacional.
• Elemento teleológico 
– razão de ser da lei 
(ratio legis); justificação 
social da lei (Oliveira 
Ascensão); fim visado 
pela elaboração da 
norma.
○ Escolhe-se o 
melhor sentido 
para alcançar a 
finalidade da 
norma;
○ Pretende-se 
descortinar os 
valores e princípios 
Página181
prosseguidos que 
estão na base das 
normas.
 O confronto entre elemento 
gramatical e elementos 
lógicos permite-nos 
averiguar a fidelidade de um 
perante os outros. 
○ Argumentos interpretativos
 Argumento a pari (de 
identidade ou igualdade de 
razão) – se uma norma 
jurídica estabelecer um 
determinado regime jurídico 
e não houver razões para 
distinguir o regime desta 
com o de outra norma, 
havemos de concluir que o 
regime da norma que 
pretendemos interpretar é 
semelhante ao da outra.
• Pode ser utilizado 
dentro dos lugares 
paralelos;
• Aplicação do mesmo 
regime noutro caso não 
abrangido pela norma 
(entenda-se “letra da 
lei”) por igualdade de 
razão que subjaz aquele 
regime jurídico, o que 
conduz a uma 
interpretação 
extensiva da norma;
Página182
 
 Argumento a fortiori (de 
maioria de razão) – uma 
situação não está 
expressamente prevista na 
“letra da lei”, mas deve 
receber a aplicação do 
mesmo regime jurídico. A 
submissão ao regime 
aparece justificada por 
motivos mais fortes do que 
as situações previstas na 
“letra da lei”;
 Argumento a maiori ad 
minus (a lei que permite o 
mais também permite o 
menos) – deverá abranger 
um comportamento mais 
gravoso, se prevê um 
comportamento menos 
gravoso;
 Argumento a minori ad 
maius (a lei que proíbe o 
menos também proíbe o 
mais) – deverá admitir uma 
situação muito menos grave 
que as previstas;
 Argumento a contrario (da 
disciplina excepcional 
estabelecida para certo caso, 
retira-se um princípio oposto 
que corresponde ao regime-
regra, isto é, deduz-se que os 
Página183
casos não contemplados 
devem seguir o regime 
oposto) – serve para 
demonstrar que às situações 
não previstas num 
determinado regime jurídico, 
aplicar-se-á o regime oposto. 
Utilizado no âmbito das 
normas excepcionais, após 
determinação por 
interpretação. Implica um 
uso com várias cautelas, 
antes de chegar à conclusão 
que se aplicará o regime 
oposto, nomeadamente a 
aplicação da regra 
excepcional;
 Argumento apagógico (ou 
de redução ao absurdo ou 
reductio ad absurdum) – 
trata-se de uma redução ao 
absurdo para não permitir 
que a lei traga 
consequências ilógicas ou 
absurdas. Pretende-se 
demonstrar que a Lei tem 
aquele(s) sentido(s) que lhes 
queremos atribuir e não 
conduzem ao absurdo, de 
entre os vários sentidos 
possíveis;
 Argumento de coerência – 
sendo o sistema jurídico 
unitário e coerente, o sentido 
de uma norma jurídica será 
Página184
harmónico / coerente com as 
restantes;
 Argumento segundo o 
qual um regime jurídico 
desfavorável (por exemplo: 
pagamento de impostos, em 
Direito Fiscal) não será 
interpretado num sentido 
mais amplo, salvo se o 
regime for favorável (por 
exemplo: benefícios fiscais, 
em Direito Fiscal);
 Argumento “onde a Lei 
não distingue, não deve o 
intérprete distinguir” (ubi 
lex non distinguit nec nos 
distinguere debemus).
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 09 de Março de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º9
• Texto 1 – Valor da Lei
 Entendimento sobre as fontes de Direito que 
eleva a Lei a única e verdadeira fonte 
imediata, competindo a ela conferir a 
condição de fonte a outros possíveis modos 
de formação e revelação de normas 
jurídicas;
 O Código Civil surge, por vezes, como 
partidário desta tese (veja-se as suas 
primeiras normas). Aliás, este código foi 
Página185
aprovado por uma lei em sentido amplo 
(decreto-lei);
 Não é o entendimento mais consensual na 
actualidade.
• Texto 2 da alínea a) – Assentos:
 Interpretavam e integravam autenticamente 
as leis (acção própria do legislador);
 Atribuição ao julgador de poderes de 
vinculação efectiva;
 Violação do princípio da separação de 
poderes (poder legislativo exercido por 
órgãos judiciais – STJ e STA);
 Acórdãos produzidos pelo STA e STJ, com 
funções interpretativas e integrativas, 
aplicáveis ao caso concreto e restantes 
casos análogos. Terminavam com uma 
autêntica norma jurídica;
 Visavam a uniformização da jurisprudência, 
zelando-se, deste modo, pelo valor da 
segurança e certeza jurídica;
 Figura subsidiária aos assentos: Acórdãos 
Uniformizadores de Jurisprudência, com 
iguais funções e características. Não são, 
contudo, vinculativos para casos externos.
• Texto 3 da alínea b) – Acórdãos jurisprudenciais 
do Tribunal Constitucional
 Os tribunais inferiores recorrem aos 
tribunais superiores, dotados de um maior 
poder de influência, para complementar a 
sua actividade decisória;
 O Tribunal Constitucional é o único órgão 
competente para produzir acórdãos com 
força obrigatória geral, aquando da 
declaração de inconstitucionalidade e de 
Página186
ilegalidade (situação excepcional de 
jurisprudência enquanto fonte de 
direito)
 Só é possível conhecer a vigência da norma, 
se conhecermos oseu percurso de 
elaboração, através da interpretação 
doutrinal (de conservadores, juízes, entre 
outros). Também os despachos 
administrativos dos conservadores, apesar 
de susceptíveis de recurso contencioso, têm 
valor vinculativo, gozando de um poder jus 
criador (poder de criação de jurisprudência). 
Portugal, apesar de tudo, não é dos países 
do ordenamento jurídico romano-germânico 
em que mais se nota o valor da 
jurisprudência, ao contrário do que sucede 
em países como a Alemanha (no âmbito do 
Direito Civil) e França (no âmbito do Direito 
Administrativo). Portanto, reconhece-se um 
papel de crescente importância à 
jurisprudência, apesar de não ser fonte de 
direito. Constitui um importante auxiliar 
para a compreensão da Lei.
• Texto 4 da alínea c) – Realização de espectáculos 
tauromáquicos com touros de morte (caso 
Barrancos)
 O problema em questão pode ser visto 
segundo dois prismas:
1. No presente caso, podemos dizer o que 
o costume voltou a afirmar-se, 
enquanto prática reiterada, localizada 
numa dada região, dotada de uma 
consciência de admissibilidade – 
atribuição de tutela jurídica ao costume 
enquanto fonte imediata;
Página187
2. Por outro lado, foi necessário fazer 
aprovar uma Lei para fazer vigorar um 
costume, que pode constituir um 
desafio à autoridade do Estado 
(observação de um costume ancestral 
que se considera vigente).
 Antes da entrada em vigor da Lei 
n.º19/2002, de 31 de Julho, denotava-se um 
desafio à autoridade do Estado, pois trata-se 
de um desrespeito da Lei vigente (Lei 
n.º92/95, de 12 de Setembro). Este facto 
implicou a intervenção política, através da 
produção de nova legislação;
 Por mais que se afirme o costume como 
fonte de Direito na teoria (no presente caso, 
estamos perante um costume contra 
legem), denota-se na prática a intervenção 
da Lei a dar tutela ao costume, o que vai 
subalternizar este último.
• De todo o modo, o costume contra 
legem deixou de o ser, para se tornar 
num costume secundum legem;
• Se considerarmos que costume e lei se 
podem revogar reciprocamente, 
consideramos que estamos perante 
uma situação de equiparação. Porém, 
perante o caso de uma prática do 
género cometida sobre um ser 
humano, devemos alegar a primazia de 
princípios jurídicos fundamentais 
entretanto violados, como o princípio 
da dignidade da pessoa humana, 
plasmados inclusive na Lei 
Fundamental do País;
Página188
• Tende-se a gerar jurisprudência de 
promoção dos Direitos dos Animais, em 
nome de um princípio de Humanidade.
➢ Ficha de Trabalho n.º10
• Questão 1
 Encontramos uma referência ao artigo 
732.º-A do Código de Processo Civil, que 
remete para os acórdãos de uniformização 
de jurisprudência, obrigatoriamente 
publicados na 1.ª Série do Diário da 
República. Estes acórdãos não são 
fontes de direito, na medida em que se 
aplicam apenas ao caso concreto e 
exercem apenas um poder de 
persuasão;
 Já o artigo 8.º, número 3 do C.C. reflecte o 
interesse da uniformização do Direito, tendo 
em consideração todos os casos que 
mereçam tratamento análogo;
 É ainda apontado no enunciado o artigo 
10.º, n.º3 do C.C., que nos remete para o 
poder atribuído ao julgador (entenda-se 
“qualquer aplicador do Direito”) para a 
criação de normas jurídicas, na falta de caso 
análogo para integração das lacunas da Lei.
• Coloca-se em causa a possibilidade de 
a jurisprudência ser fonte de Direito. 
Note-se que o artigo se refere à 
integração de lacunas, após 
impossibilidade de recurso analógico;
• Nestes casos, a jurisprudência não é 
fonte de Direito. Não se cria uma 
norma geral e abstracta, mas antes 
uma norma ad-hoc, que apenas se 
aplica ao caso concreto, apesar de 
Página189
apresentar igual estrutura de uma 
norma jurídica (previsão e estatuição). 
Ainda assim, não é uma verdadeira 
norma jurídica, pois não se aplica a 
casos posteriores;
• Logo, não podemos afirmar que a 
jurisprudência seja fonte de 
Direito.
• Questão 2
 Encontramos uma alegação de um desuso 
capaz de fazer cessar a Lei, que não está 
dotado de uma convicção de juridicidade 
(animus), de relevância jurídica;
 A Lei em causa, apesar de incumprida 
sistematicamente, procura defender 
questões de salubridade e segurança 
pública;
 No presente caso, a Lei em causa não se 
revela injusta, deixando-se de poder alegar 
um costume contra legem. O mesmo se 
aplica na Lei que impõe a obrigatoriedade 
do uso cinto de segurança pelo condutor e 
passageiros, apesar do incumprimento 
geral. Estamos perante um mero 
desuso, mas nunca um costume contra 
legem.
• Questão 3
 Encontramos uma alusão ao artigo 1.º do 
C.C., relativo às fontes imediatas de Direito 
(ver n.os 1 e 3);
• Oceana invoca o fim do Estado 
Corporativo, que vigorava em 1966. Por 
esse facto, ela entende que tinham 
desaparecido os pressupostos de 
Página190
vigência da Lei – interpretação 
historicista;
• Vítor Hugo considera a possibilidade de 
aproveitar a referida norma, aplicável 
às corporações profissionais, sindicatos 
e outros organismos que defendem os 
interesses da sua classe. Estes gozam 
de poder normativo, não podendo, 
contudo, contrariar a Lei vigente, pois 
as normas corporativas encontram-se 
num plano hierarquicamente inferior. 
Podemos dizer, então, que Vítor Hugo 
faz uma interpretação actualista.
• O Estatuto da Ordem dos Advogados 
não é uma norma corporativa, mas 
uma Lei aprovada pela Assembleia da 
República, órgão dotado de poder 
legislativo. Todavia, esta Ordem goza 
de poder regulamentar para a criação 
de normas corporativas. Por exemplo, o 
Código Deontológico dos Advogados é 
passível de ser sindicável por um 
tribunal.
➢ Ficha de Trabalho n.º11
• Questão 1
 Organizando hierarquicamente:
1. Lei constitucional (editada pelo legislador 
constituinte originário);
2. Lei constitucional (editada pelo poder 
constituinte de revisão), pois esta tem de 
respeitar os limites materiais de revisão;
Página191
3. Lei ordinária
4. Lei da AR (dotada de uma 
legitimidade democrática e de uma 
reserva de lei parlamentar);
5. Decreto-Lei do Governo (paridade 
com a Lei em matéria concorrencial, mas 
subalternizada pela Lei, nos termos do 
artigo 112.º, n.º2 da CRP);
6. Decreto Legislativo Regional (sobre 
matéria de interesse regional, não 
podendo contrariar as Leis da República).
7. Regulamentos (dependentes ou 
independentes)
8. Decreto regulamentar do Governo 
(previsto no artigo 112.º, n.º6 da CRP, 
com exigência de formalidade solene – 
promulgação do PR);
9. Portaria;
10.Despacho normativo;
11.Resolução do Conselho de Ministros 
(pode não ter conteúdo normativo, sendo 
uma mera recomendação).
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 09 de Março de 2010 – 15H-16H30 – 
Teórica)
 Método interpretativo (continuação)
Página192
• Cautelas a tomar na utilização dos 
instrumentos interpretativos
○ Utilização em conjunto destes 
instrumentos (não são 
compartimentos estanques), com 
habilidade e a recolha de 
experiência;
○ Utilização de todos os elementos 
na interpretação de uma norma 
jurídica, o que apenas não sucede 
quando se verifica a ausência do 
elemento histórico;
○ Os resultados interpretativos 
resultam da comparação da “letra 
da lei” com o “espírito da lei”, em 
todos os casos.
• Resultados interpretativos
○ Interpretação declarativa– O 
sentido da lei cabe dentro da sua 
“letra”. A “letra da lei” está 
conforme com o seu “espírito”. O 
intérprete conclui que a “letra da 
lei” é coincidente com o “espírito 
da lei”. Obtém-se igual resultado 
com a combinação dos elementos 
lógicos e a “letra da lei”;
○ Interpretação extensiva - A 
letra da lei diz menos que o seu 
espírito ou, noutros termos, o 
legislador pretendia dizer mais 
além do que consta do texto da 
lei; para obedecer à norma que se 
extrai da lei, o intérprete deve 
procurar uma formulação que a 
traduza correctamente – alarga o 
Página193
alcance do texto da lei para este 
coincidir com o espírito que extrai 
da lei, por interpretação 
(importância do elemento 
teleológico). 
 Argumento a pari (de 
identidade de razão);
 Argumento a fortiori (de 
maioria de razão – submissão 
ao regime aparece justificada 
por motivos mais fortes).
Consiste na determinação do 
sentido mais razoável da Lei, 
obtendo-se um resultado 
extensivo à fórmula textual, que 
nela não se encontra contido. Esta 
interpretação não viola a “teoria 
da alusão”, pois a lei, fazendo uma 
alusão mínima, possibilita a 
extensão dentro dos limites do 
razoável. Ocorre numa situação 
de regulamentação casuística. 
Muitas vezes, utiliza-se a 
interpretação extensiva com o 
argumento a maiori ad minus. 
Veja-se o artigo 1305.º do C.C.: ao 
possibilitar-se a venda e troca do 
imóvel, depreende-se que também 
permite a oneração ou hipoteca, já 
que o bem continua na posse do 
proprietário. 
○ Interpretação restritiva – A 
“letra da lei” atraiçoa o 
pensamento legislativo, por ter 
um alcance mais abrangente do 
Página194
que a norma que se pretendia 
exprimir. Distingue-se da 
interpretação extensiva, na media 
em que se conclui que a “letra da 
lei” não foi fiel ao “espírito da lei”, 
pois disse mais do que queria 
dizer. Com a interpretação 
restritiva, diminui-se o elenco de 
hipóteses de aplicação da Lei. Tal 
justifica-se pelo facto de a Lei só 
fazer sentido com um âmbito mais 
reduzido de aplicação.
○ Interpretação enunciativa (ou 
implicativa) – recorre bastante 
ao argumento a contrario; se o 
intérprete conseguir provar que o 
regime abrangido pela norma 
excepcional não cabe no espírito 
da Lei, aplica-se o regime geral 
contrário ao da norma que 
estamos a interpretar. Contudo, é 
importante estar seguro que estou 
perante uma norma excepcional. 
A interpretação enunciativa 
resulta na descoberta de uma 2.ª 
norma que não se encontrava 
implícita. Para Oliveira Ascensão, 
estamos perante um método de 
integração de lacunas.
 Argumentos a maiori ad 
minus e a minori ad 
maius (a lei que permite o 
mais também permite o 
menos; a lei que proíbe o 
menos também proíbe o 
mais);
Página195
 Argumento a contrario (da 
disciplina excepcional 
estabelecida para certo caso, 
retira-se um princípio oposto 
que corresponde ao regime-
regra, isto é, deduz-se que os 
casos não contemplados 
devem seguir o regime 
oposto).
○ Interpretação revogatória (ou 
ab-rogante) – o intérprete 
conclui que existe uma 
contradição insanável com outra 
disposição legal. Regra não tem 
sentido útil (quer porque há uma 
impossibilidade prática de 
coexistência quer porque as 
regras exprimem valorações 
contraditórias), o intérprete 
apenas se limita a verificá-lo. 
Existindo um conflito positivo de 
normas, em que ambas 
pretendem aplicar-se à mesma 
situação, e não existindo um 
critério para decidir qual a norma 
a adoptar, estamos perante uma 
lacuna de colisão, gerando-se um 
vazio no ordenamento jurídico. 
Verificando-se um conflito de 
normas que se anulam 
mutuamente, criar-se-á uma 
norma ad-hoc (artigo 10.º, n.º3 do 
C.C.);
Página196
○ Interpretação correctiva – texto 
da lei não exprime com uma 
clareza mínima a finalidade para 
que foi criado e, tomado à letra, 
abrange hipóteses que não estão 
de forma evidente no espírito da 
lei. (Contra: Oliveira Ascensão – 
alterações do sistema normativo 
apenas competem às fontes de 
direito). É raramente mencionado 
no elenco de resultados 
interpretativos, sendo duvidosa a 
sua admissibilidade. Consiste na 
ausência de adopção de um 
sentido, que não encontra alusão 
na “letra da lei”, já que conduz a 
um verdadeiro absurdo. O artigo 
8.º, n.º2 do C.C. é válido, na 
medida que é congruente com os 
princípios reinantes). Se a norma 
violar um princípio fundamental, 
ela é inválida. Argumenta-se que 
o artigo 8.º, n.º2 do C.C. não 
admite a interpretação correctiva, 
procedendo à alteração da “letra 
da lei”. Por outro lado, outros 
dizem que apenas se proíbem 
interpretações subjectivas do 
intérprete, afastando-se da “teoria 
da alusão”, fazendo uma 
interpretação hábil do artigo. O 
entendimento maioritário não 
admite a interpretação correctiva, 
devendo ela cingir-se aos sentidos 
que a lei admite, não se aceitando 
sentidos que extravasem este 
núcleo. O artigo 8.º, n.º2 do C.C. 
Página197
impõe a obediência à Lei, mesmo 
sendo injusta. Não é este o 
entendimento de Mário Bigotte 
Chorão, que considera que o 
artigo admite uma defesa 
fundamentada e objectiva da 
injustiça da Lei.
• Artigo 9.º do C.C. – apresenta regras 
gerais relativas à interpretação, 
aplicáveis em princípio a toda a ordem 
jurídica, a todos os ramos do Direito. O 
legislador do Código Civil de 1966 não 
tomou posição em relação à querela 
objectivismo / subjectivismo.
Faz sentido que uma norma legal 
preveja estas regras? 
Normas definidas pela comunidade 
de intérpretes
○ Orientação geral: 
A interpretação não deve cingir-se 
à letra da lei, mas reconstituir a 
partir dos textos o pensamento 
legislativo (n.º 1) – texto da lei = 
apenas um elemento da 
interpretação.
Denota-se a utilização de uma 
expressão neutra. Considera-se 
que o legislador de 1966 será, 
quanto muito, partidário da 
corrente mista / gradualista. 
Verifica-se um afastamento da 
corrente subjectivista, pois impõe-
se um entendimento com a Lei, 
Página198
mas não deixa de referir que a 
interpretação deve ter em conta 
as circunstâncias em que a Lei foi 
elaborada, isto é, a descoberta da 
vontade do legislador histórico. O 
Código Civil entende que se deve 
atender ao elemento sistemático 
(unidade do sistema jurídico), ao 
elemento teleológico (referência 
que não se obtém directamente) 
e, obviamente, à “letra da lei”. 
 Na querela entre historicismo 
e actualismo, vence este 
último, na medida em que se 
atende às condições do 
tempo em que a Lei é 
aplicada;
 É conferida legitimidade ao 
legislador para estabelecer 
normas de interpretação. 
Muito poucos códigos civis 
contêm uma norma tão clara 
como a do artigo 9.º do C.C., 
pois muitos não se 
consideram habilitados para 
tal. Este facto justifica-se 
com a necessidade de a 
norma respeitante à 
interpretação também ter de 
ser interpretada. No Código 
Civil Português, decidiu-se 
integrar uma norma com 
sentido amplo e critérios de 
interpretação válidos e 
seguidos, que deve ser 
consolidada pela doutrina e 
jurisprudência. Os 
Página199
detractores de uma norma 
como esta consideram tratar-
se de uma norma sem 
sanção, pois não se prevê 
uma consequência para a 
violação da mesma. A 
sentença prevista para tal 
prática é a revogabilidade 
dessa interpretação, não 
sendo, portanto, destituída 
de consequênciasjurídicas.
 No que concerne à 
interpretação deste n.º1 do 
artigo 9.º do C.C., efectua-se 
igualmente a sua 
interpretação.
○ Responsabilidade do 
intérprete – encontrar soluções 
mais adequadas. Presume-se 
“que o legislador consagrou as 
soluções mais acertadas e soube 
exprimir o seu pensamento em 
termos adequados” (n.º 3) – não 
dispensa a tarefa de interpretação 
e o recurso a outros elementos. 
Contem o critério do 
legislador razoável, relacionado 
com a função positiva, devendo-se 
por isso retirar o sentido mais 
razoável da interpretação do texto 
da lei, partindo do pressuposto 
que o legislador é, de facto, 
razoável.
Página200
○ Dupla função da letra da lei: 
ponto de partida e limite da 
interpretação (n.º 2)
 Não pode, porém, ser 
considerado pelo intérprete o 
pensamento legislativo que 
não tenha na letra da lei um 
mínimo de correspondência 
verbal, ainda que 
imperfeitamente expresso 
(n.º2 do artigo 9.º do C.C.);
 A letra é um elemento 
irremovível da interpretação, 
ou um “limite da busca do 
espírito”.
 Entendimentos de Karl 
Larenz e António Manuel 
Hespanha
• “Uma interpretação que 
não se situe já no 
âmbito do sentido literal 
possível, já não é 
interpretação, mas 
modificação de 
sentido.” (Larenz)
• “(...) há-de ser um 
sentido (uma 
motivação, um conjunto 
de objectivos) que caiba 
razoavelmente no 
sentido literal da 
declaração do 
legislador. Sob pena de, 
se isto não acontecer, 
se estar a criar uma 
nova norma, em vez de 
interpretar uma norma 
Página201
já existente.” 
(Hespanha)
• Os argumentos interpretativos devem 
ser utilizados na sua totalidade e, aliás, 
mantêm relações próximas com alguns 
elementos interpretativos;
• Pode suceder que os próprios códigos 
dos diferentes ramos do Direito 
apresentem legislação sobre 
interpretação e integração.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 12 de Março de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
• O processo de subsunção do caso 
concreto à previsão da norma 
jurídica é rejeitado por uma visão 
tradicional, entendendo tratar-se de 
um silogismo jurídico, isto é, um 
raciocínio meramente lógico. Qualquer 
valoração apresenta-se como uma 
questão extra-jurídica, pelos 
positivistas. Na actualidade, já não é 
esta a visão sobre o processo, não se 
considerando um raciocínio meramente 
lógico, visto que integra valores e 
concepções ético-sociais na aplicação 
ao caso concreto. Mas o raciocínio 
lógico não é suficiente;
• Note-se que as presunções judiciais 
vivem da experiência do aplicador 
(julgador) da legislação ao caso 
concreto. Se antes se rejeitava esta 
Página202
noção, devido ao facto de se tratar de 
um mero raciocínio lógico, 
actualmente, desde que realizado com 
objectividade, é aceite, envolvendo 
raciocínios lógicos e elementos lógicos 
e científicos;
• Refira-se, também, a abertura inter-
disciplinar do Direito no desenrolar de 
processos no tribunal, enquanto 
auxiliar ao juiz para tomar a decisão 
correcta. Veja-se, por exemplo, ao nível 
da prova pericial;
• Numa tentativa de os juízes garantirem 
a comunicabilidade com a comunidade, 
procura-se que estes não façam uma 
abordagem hermenêutica nas 
sentenças ou acórdãos, numa tentativa 
de transmitir uma mensagem acessível 
ao público-alvo. Os juízes devem 
atender aos interesses que estão em 
jogo no caso concreto e às 
consequências jurídicas e práticas que 
a aplicação da Lei no caso concreto 
têm nos sujeitos sobre os quais 
recaem.
• Integração de Lacunas da Lei
 Lacuna – “é uma incompleição do sistema 
normativo que contraria o plano deste”, ou 
seja, uma incompletude contrária ao plano 
do Direito vigente;
 Distinguem-se das situações extra - jurídicas 
– dizem respeito a situações que cabe ao 
direito regular mas em que o Direito (e não 
apenas a lei) não dá resposta a esta questão 
Página203
jurídica (lacunas do ordenamento jurídico – 
Inocêncio Galvão Telles);
 O processo de interpretação e integração de 
lacunas é um processo integrado, isto é, 
antes da integração, procede-se à 
interpretação, para chegar à conclusão que 
existe uma lacuna. Esta ideia é apenas da 
segunda metade do século XX;
Interpretação / integração – integração supõe 
interpretação
momento de determinação momento de 
preenchimento
da lacuna da lacuna
 interpretação das fontes a aplicar por 
analogia
 A lacuna corresponde a um vazio jurídico, a 
um caso omisso;
 A Lei refere-se apenas à lacuna da lei. 
Todavia, se admitirmos a existência de 
norma consuetudinária, não sendo 
positivistas, só admitimos a existência de 
lacuna de lei na ausência de costume 
aplicável;
Página204
 Se se chegar à conclusão que, após 
interpretação jurídica, não existe disciplina 
para o caso em questão, denota-se um vazio 
jurídico;
 Mesmo não existindo uma norma jurídica 
aplicável, existe a hipótese de recurso ao 
costume e aos usos autorizados, isto em 
teoria;
 A doutrina, perante os vazios legais, 
entende que é perfeitamente possível 
existir lacunas, pois o legislador não é 
perfeito e não pode legislar sobre tudo. 
Todavia, nem sempre foi assim. No século 
XIX e na primeira metade do século XX, a 
doutrina não admite a existência de lacunas. 
Teorias da época:
• Teoria do espaço juridicamente 
livre – estabelece que todas as 
matérias não reguladas pelo Direito 
não eram juridicamente relevantes, isto 
partindo do dogma que o Direito 
legislava sobre tudo o necessário;
○ Crítica: podem existir matérias 
não reguladas pelo Direito que 
clamam protecção jurídica, o que 
pode acontecer por esquecimento 
do legislador, por exemplo.
• Teoria da norma geral exclusiva / 
de liberdade – as normas jurídicas 
positivadas proibiam e impunham 
condutas (normas gerais), sendo que 
um comportamento não especialmente 
previsto era permitido.
○ Críticas:
Página205
 As normas jurídicas também 
permitem expressamente 
comportamentos;
 Podem existir normas 
omissas que proíbem ou 
imponham uma conduta. 
 Na actualidade, os ordenamentos da família 
romano-germânica aceitam a existência de 
lacunas. Já na família anglo-saxónica, nunca 
se defendeu o dogma da plenitude de 
cobertura de todos os casos, prevendo o 
recurso à jurisprudência para integrar 
lacunas;
 Quando é que existem lacunas?
• A mera existência de um vazio legal 
não implica a existência de uma 
lacuna. Por exemplo, há vazios legais 
que são voluntários, gerida pelo 
legislador. Note-se que o artigo 10.º do 
C.C. apenas se aplica aos vazios 
involuntários, isto é, não são desejados 
pelo legislador). Há lugar a um vazio 
voluntário:
○ Se houver uma falta de consenso, 
devido a uma dada questão, tendo 
o legislador decidido não legislar 
(por exemplo: adopção por casais 
homossexuais);
○ Pela necessidade de conceder 
autonomia na organização e 
funcionamento nas empresas, nas 
famílias, apesar da ingerência 
crescente do Estado.
• Para se considerar que estamos 
perante uma lacuna, é necessário ter 
Página206
consciência das variações históricas da 
vontade do legislador;
• Revela-se importante considerar a 
existência de factos alheios ao Direito, 
como o trato social ou a religião;
• A Constituição prevê que o legislador 
se deve abster, em determinadas 
questões, de produzir um regime 
jurídico, por ser uma questão do foro 
político, porexemplo.
 Se se verificar que existe uma lacuna, 
depois de atendidos os critérios 
anteriormente apresentados:
• É necessário atender à proibição do 
princípio de negação de justiça, 
estabelecido no artigo 8.º do Código 
Civil e também no Código Penal, sujeito 
portanto a moldura penal (artigo 369.º 
do Código Penal) e possibilidade de 
solicitação de indemnização, estando 
submetido a processo especial (artigo 
1083.º do Código de Processo Civil);
• Instrumentos de integração de 
lacunas (note-se a hierarquia de 
preferência de aplicação):
○ 1.º Instrumento: recurso à 
analogia (analogia legis e 
analogia iuris) (artigo 10.º, n.º1 
do C.C.);
○ 2.º Instrumento: criação de 
norma ad-hoc (artigo 10.º, n.º3 
do C.C.).
• Tipos de Lacunas
○ Lacunas da Lei 
Página207
 Ao nível da teleologia – 
após apuramento do 
resultado interpretativo 
restritivo, com a verificação 
que a finalidade da lei não foi 
tão além da “letra da lei”. 
Nesta situação, existirá 
matéria sem regime jurídico, 
mas que o mereça;
 Ao nível das normas – pela 
simples leitura das normas 
(lacunas de colisão, por 
interpretação revogatória, 
por exemplo) ou por 
ausência de diploma especial 
que regule a actividade de 
um órgão, ainda que 
estivesse prevista a sua 
existência.
○ Lacunas do Direito – existe uma 
lacuna, não pela leitura da lei ou 
da sua teleologia, mas porque 
através de um princípio geral de 
Direito chegamos a esta 
conclusão, implicando, 
habitualmente, o recurso a uma 
norma especial (norma ad-hoc).
• Aplicação analógica de normas 
jurídicas (artigo 10.º, nos 1 e 2 do C.C.)
○ Estão em causa os valores da 
igualdade e da segurança 
jurídica, o que justifica a 
organização hierárquica dos 
métodos de integração;
Página208
○ Problemas que se colocam:
 Quando há analogia?
 Quando há lugar ao 
recurso analógico?
• Há lugar a recurso a um 
raciocínio de analogia / 
semelhança nos 
argumentos 
interpretativos a pari 
(por igualdade de 
razão) e a fortiori 
(por maioria de 
razão).
○ Duas hipóteses de aplicação 
analógica de normas jurídicas:
 Recurso analógico – 
aplicação de uma norma 
análoga ao caso omisso;
 Interpretação extensiva – 
se o caso se integra no 
espírito da norma análoga, 
há lugar a aplicação directa 
da mesma, não existindo 
lacuna sequer. Importa 
apurar se o caso omisso se 
integra no espírito da norma 
análoga (ver caso dos 
“lugares paralelos”, estando 
em causa matérias 
diferentes). Só se admite 
aplicação analógica com as 
devidas adaptações 
(aplicação indirecta mutatis 
mutandis).
Página209
○ Note-se que, para haver lugar a 
integração, a hipótese não pode 
estar compreendida nem na 
letra nem no espírito da lei. 
○ Refira-se ainda que não se trata 
da extracção de uma regra 
implícita num texto que a 
exprime imperfeitamente (cfr. 
artigo 11.º CC – proibição de 
aplicação analógica de normas 
excepcionais).
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 16 de Março de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º11 (continuação)
○ Questão 2:
 Em relação à alínea a), de acordo com o 
artigo 7.º, número 4 do C.C., não é possível 
o recurso à repristinação. Tal apenas pode 
suceder em situações excepcionais, 
nomeadamente: quando há uma declaração 
de inconstitucionalidade da norma que 
revoga lei inicialmente revogada com força 
obrigatória geral; ou quando uma lei 
revogatória declara a repristinação, 
gerando-se um conflito positivo de normas, 
prevalecendo a Lei de Autorização da AR 
Página210
sobre o Decreto-Lei autorizado do Governo 
(que aprovou o Código Civil), isto numa 
situação de autorização legislativa, em 
matéria reservada à AR. Este último caso 
não se aplica em matéria concorrencial, 
situação aliás presente no enunciado desta 
questão. Estando perante uma questão de 
matéria concorrencial, recorremos ao 
critério temporal lex posterior derogat priori 
(lei posterior revoga lei anterior) e ao 
critério de especialidade lex specialis 
derogat legi generali (lei especial revoga lei 
geral). Deste modo, e dado não existir o 
carácter especial da situação em causa, não 
há lugar a repristinação, sendo que a Lei 
n.º5/2005 se limita a revogar e não há 
regime jurídico aplicável. De todo o 
modo, não há lacuna da lei, se é possível 
aplicar o regime geral (estando perante 
regime especial), ou havendo lacuna é 
possível a criação de norma ad-hoc. Poderia 
ainda o legislador de 2005 criar o regime 
jurídico, o que não levava ao recurso destes 
procedimentos;
 Em relação à alínea b), haveria lugar a 
repristinação da Lei n.º15/99;
 Em relação à alínea c), no caso apresentado, 
não há verdadeira repristinação, mas por 
outro lado incorporação do Decreto-Lei 
n.º15/99 (ou remissão), tendo a Lei 
n.º5/2005, que estaria em vigor, aderido ao 
regime do Decreto-Lei n.º15/99. Aplica-se, 
portanto, a Lei n.º5/2005. 
➢ Ficha de Trabalho n.º12
○ Questão 1:
Página211
 Em relação à alínea a), constatamos que:
• A Lei n.º99/2003 apresenta duas 
revogações expressas: uma revogação 
total do Decreto-Lei n.º49408, de 24 de 
Novembro de 1969 e uma revogação 
parcial (artigo 13.º) do Decreto-Lei 
n.º409/71, de 27 de Setembro. 
Encontramos, também, uma revogação 
tácita, ao abrigo do critério da 
posteridade de outros diplomas não 
apresentados, mas por 
incompatibilidade entre lei posterior e 
lei anterior;
• O artigo 1.º da Lei Orgânica n.º2/2004, 
de 12 de Maio cessará a sua vigência 
por caducidade, a de 1 de Julho de 
2004. Trata-se de uma lei de vigência 
temporária, que cessa com o fim do 
evento em causa;
• A Portaria n.º568/81, de 8 de Julho 
declara a cessação de vigência do 
Decreto-Lei n.º54-A/81, de 30 de 
Março, por fim dos circunstancialismos 
que motivaram a aprovação daquele 
diploma. Neste caso, não há lugar a 
revogação, por uma questão de 
hierarquia (portaria assume uma 
posição hierarquicamente inferior em 
relação ao decreto-lei).
 Em relação à alínea b), importa notar que a 
simples revogação não conduz à 
repristinação das normas que aquele 
diploma veio revogar. Recorde-se o 
enunciado linguístico constante do artigo 
7.º, n.º4 do C.C., que constitui regra geral.
Página212
○ Questão 2:
 Os bens públicos do Estado (artigo 84.º da 
CRP) não são adquiríveis por usucapião, por 
pertencem ao domínio público do Estado. 
Veja-se também o artigo 202.º do Código 
Civil, que reforça esta ideia. Todavia, os 
bens móveis do domínio privado do Estado 
são passíveis de transacção livre e de 
aquisição por usucapião, estando 
abrangidos pela Lei n.º54, de 16 de Julho de 
1913;
 A argumentação da Junta de Freguesia 
baseia-se no artigo 7.º, n.º1 do C.C., 
considerando que a referida disposição civil 
(Lei n.º54, de 16 de Julho de 1913) deixou 
de vigorar com a introdução do Código Civil 
de 1966. Já a argumentação de Abílio 
fundamenta-se no facto de a questão em 
causa estar abrangida por legislação 
especial a que se faça referência;
 No presente caso, não houve intenção do 
legislador do Código Civil de revogar a 
legislação especial anterior, continuando a 
aplicar-se o regime de 1913. Só havia lugar 
a aplicação dos prazos do Código Civil de 
1966 se este manifestasse a intenção de 
revogar a legislação especial anterior.
➢ Ficha de Trabalho n.º13
○ QuestãoI:
 O artigo 1699.º do C.C. refere-se às 
restrições ao princípio da liberdade em 
convenções antenupciais, para determinar o 
regime de tutela dos esposos. As 
convenções antenupciais são um contrato 
celebrado entre pessoas que ainda não 
celebraram casamento.
Página213
• Note-se que é possível fazer 
estipulações diferentes aos regimes 
previstos no Código Civil;
• O artigo 1699.º, n.º2 do C.C. declara a 
proibição de estipulação do regime de 
comunhão geral nem possibilita que se 
considerem comuns os bens referidos 
no n.º1 do artigo 1722.º do C.C. (bens 
próprios).
 Note-se as diferenças existentes entre o 
regime da comunhão geral de bens 
(artigo 1732.º do C.C.) e o regime da 
comunhão de bens adquiridos.
• No regime da comunhão geral de bens, 
o património levado para o casamento 
por cada cônjuge passa a ser de ambos 
(é isto que se pretende proibir no caso 
apresentado), podendo ser adquiridos 
bens, gratuitamente e durante o 
casamento, por via de testamento;
• No regime da comunhão de adquiridos, 
são posse de ambos os cônjuges os 
bens adquiridos apenas na constância 
do casamento (bens onerosos).
○ Note-se que o artigo 1733.º do 
C.C. exclui da comunhão bens 
próprios (bens incomunicáveis).
○ A sucessão com a morte de A, 
casado com B, em regime de 
comunhão geral de bens, e 
com um filho C, ocorre do 
seguinte modo:
 50% do património é 
entregue a B;
 Os restantes 50% do 
património são divididos 
Página214
entre B e C, tendo cada um 
direito a metade.
 Portanto, ¾ do património 
revertem a favor de B e ¼ do 
património é de C.
 Já em comunhão de 
adquiridos, os bens de A, 
adquiridos antes do 
casamento, não eram 
levados para o casamento, 
sendo que B tinha direito a 
50% dos bens, tal como C.
 O artigo 1699.º, n.º2 do C.C. não distingue 
entre filhos comuns e filhos unilaterais. De 
acordo com o argumento interpretativo 
“onde a Lei não distingue, não deve o 
intérprete distinguir” (ubi lex non distinguit 
nec nos distinguere debemus), não se faria 
distinção, mas actualmente tem-se outro 
entendimento;
 A interpretação em causa é doutrinal, não 
sendo por isso da responsabilidade do órgão 
que aprovou a Lei ou de outro órgão com 
poder legislativo. Sendo uma interpretação 
doutrinal, não tem efeito vinculativo 
externo. Importa não confundir 
interpretação doutrinal com as circulares 
interpretativas das Finanças ou com os 
pareceres do Conselho Técnico do Instituto 
de Registos e Notariado, que têm apenas 
um efeito vinculativo interno. Para além 
disso, não constituem interpretações 
autênticas, apesar de os funcionários das 
respectivas instituições as respeitarem, por 
serem uma orientação de um superior 
hierárquico.
Página215
 No presente caso, foram utilizados os 
seguintes elementos interpretativos:
• Elemento teleológico – apurar a 
finalidade da norma (elemento 
principal);
• Elemento gramatical – forma textual 
da norma (“letra da lei”).
 O resultado interpretativo encontrado foi 
uma interpretação restritiva, pois entendeu-
se que a “letra da lei” foi mais além que o 
“espírito da lei”, restringindo-se o âmbito 
de aplicação da norma. Aplica-se apenas 
aos filhos próprios de um cônjuge.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 16 de Março de 2010 – 15H-16H30 – 
Teórica)
• Integração de Lacunas da Lei (continuação)
 Analogia legis
• Analogia – aplicação de um processo 
geral de pensamento particular no 
domínio da integração; 
• Fundamento: tratamento igual de 
casos semelhantes (princípio da 
igualdade e certeza do direito – 
obtenção da uniformidade de 
soluções);
• Artigo 10.º/1 CC – “Os casos que a lei 
não preveja são regulados segundo a 
norma aplicável aos casos análogos”;
• Casos análogos: não basta 
semelhança na descrição exterior da 
situação, é necessário que exista um 
conflito de interesses paralelo ou 
semelhante e que o critério valorativo 
adoptado pelo legislador para compor 
Página216
esse conflito no caso previsto possa ser 
aplicável também no caso análogo 
(art. 10.º/2 CC – é necessário que 
“procedam as razões justificativas 
da regulamentação do caso previsto na 
lei”).
 Refira-se a dificuldade do intérprete para 
decidir qual o critério de aplicação analógica 
a aplicar;
 Sempre que, estando em causa um conflito 
de interesses, a Lei for capaz de se aplicar 
no caso concreto, há lugar a recurso 
analógico;
 Interpretação extensiva (artigo 11.º do 
C.C.)
• Para haver lugar a integração, a 
hipótese não pode estar compreendida 
nem na letra nem no espírito da 
lei;
• Não se trata da extracção de uma 
regra implícita num texto que a 
exprime imperfeitamente (cfr. artigo 
11.º CC – proibição de aplicação 
analógica de normas excepcionais, pois 
“nenhuma excepção deve ser 
transformada em regra”).
• Ainda assim, as normas excepcionais 
também são passíveis de interpretação 
extensiva, desde que o caso omisso se 
integre no “espírito de lei”. Situações 
de impossibilidade de recurso 
analógico:
○ Tipologias taxativas – 
referência àqueles casos aos 
quais, expressamente, se aplica, 
Página217
com um regime contrário ao 
regime geral 
○ No âmbito do Direito Fiscal – 
os números 2 e 3 do artigo 103.º 
da CRP apresentam o princípio da 
legalidade em Direito Fiscal 
(aplicação de normas fiscais 
apenas no caso a regular. 
Também a Lei Geral Tributária 
apresenta, no n.º4 do artigo 11.º, 
a impossibilidade de integração 
analógica de lacunas.
Artigo 11.º da Lei Geral Tributária (LGT)
Interpretação
1 - Na determinação do sentido das normas fiscais e na qualificação dos 
factos a que as mesmas se aplicam são observadas as regras e princípios 
gerais de interpretação e aplicação das leis. 
2 - Sempre que, nas normas fiscais, se empreguem termos próprios de 
outros ramos de direito, devem os mesmos ser interpretados no mesmo 
sentido daquele que aí têm, salvo se outro decorrer directamente da lei. 
3 - Persistindo a dúvida sobre o sentido das normas de incidência a aplicar, 
deve atender-se à substância económica dos factos tributários. 
4 - As lacunas resultantes de normas tributárias abrangidas na reserva de 
lei da Assembleia da República não são susceptíveis de integração 
analógica. 
As normas fiscais não são 
passíveis de aplicação analógica. 
Podemos dizer que são 
irretroactivas.
○ No âmbito do Direito Penal – 
se a regra a aplicar for 
desfavorável, seria insusceptível 
da lei analógica, mas se for 
favorável já é susceptível de 
aplicação. Isto, de acordo com o 
princípio da legalidade, que 
admite situação estiver 
Página218
expressamente prevista ou for 
possível fazer interpretação 
extensiva.
 O artigo 1.º do Código Penal 
(princípio da legalidade) não 
admite a possibilidade de 
recurso analógico para 
efeitos de alteração de 
moldura penal, 
considerando-se apenas 
como conduta criminosa toda 
aquela que se encontra 
prevista no Código Penal;
 No caso de normas 
favoráveis, já pode haver 
lugar a interpretação 
analógica.
 Atitude do intérprete que não pode 
suceder com uma norma excepcional
• Método indutivo – abstraindo-se da 
norma excepcional em concreto, 
formular um princípio geral, que depois 
seria aplicado nos conflitos de normas.
• Método dedutivo
○ Estar-se-ia a contrariar a vontade 
do legislador ao estabelecer um 
regime excepcional.
 O recurso análogo emDireito Fiscal levaria a 
uma situação de incerteza jurídica, estando 
o contribuinte sujeito a ver as suas práticas 
fiscais submetidas a um grande âmbito, o 
que aliás se aplica, mutatis mutandis, ao 
Direito Penal, em que estão em causa 
interesses fundamentais do indivíduo;
Página219
 Todas as restrições anteriormente 
apresentadas estão sujeitas ao princípio da 
proporcionalidade, tendo em vista a 
protecção de Direitos Fundamentais, ao 
abrigo do artigo 18.º, n.º3 da CRP.
 O artigo 10.º, n.º3 do C.C. é um 
mecanismo com aplicação subsidiária, na 
ausência de qualquer norma análoga.
• Trata-se de um mecanismo de 
utilização rara, dada a vasta legislação 
existente, directa ou analogicamente 
aplicável;
• Tendo em consideração o princípio de 
denegação de justiça, o juiz tem de 
decidir e criar uma norma ad-hoc para 
o caso concreto. Portanto, o seu âmbito 
esgota-se no referido caso. O julgador é 
obrigado a colocar-se acima do caso 
concreto, aquando da criação da 
norma, apesar de se apoiar 
sociologicamente naquele caso, pois a 
referida norma ad-hoc aplicar-se-á a 
todos os casos que se integrem na 
categoria em causa, tendo por isso 
uma formulação abstracta.
• Intenção generalizadora: Assim, 
formula uma autêntica norma, geral e 
abstracta, que não se aplique somente 
ao caso concreto, apesar do interesse 
em causa ser esse. Contudo, essa 
norma apenas vale para o caso sub 
judice;
• A aplicação de norma ad-hoc é passível 
de recurso pelas partes, podendo ser 
revogada se uma decisão de tribunal 
superior assim declarar. Tal facto 
Página220
poderá conduzir à criação de uma nova 
norma;
• O mecanismo do presente artigo 
confere maior liberdade ao juiz para 
criar uma norma jurídica, estando, 
contudo, sujeito a limites para a prática 
deste acto e sob fiscalização, para 
verificar o cumprimento dos 
parâmetros legais para a técnica de 
integração de lacunas. Além disso, a 
solução encontrada tem de se 
enquadrar no sistema (“espírito do 
sistema”) e nos princípios jurídicos 
transversais do Direito, como o 
princípio da dignidade da pessoa 
humana ou também princípios 
particulares dos diversos ramos do 
Direito;
 A analogia, em sentido técnico ou não, 
revela-se um importante instrumento para 
garantir a coerência do sistema jurídico, tal 
como o argumento a pari;
 Só existe obrigatoriedade de legislar sobre 
uma lacuna se estiver previsto na 
Constituição, sendo que, se não houver, 
incorre-se numa inconstitucionalidade. 
Portanto, são admissíveis lacunas 
voluntárias.
• Aplicação da Lei no tempo
 Os conflitos da Lei no tempo estão regulados 
pelos artigos 12.º, 13.º e 297.º do Código 
Civil;
 Aquando do estudo das formas de cessação 
de vigência de Lei, vimos que lei posterior 
revoga lei anterior. Todavia, há também 
Página221
situações jurídicas que surgem ao abrigo de 
uma determinada Lei e que sobrevivem com 
a entrada em vigor de uma nova Lei. A 
questão que se coloca é qual o regime 
jurídico a aplicar;
 Digladiam-se dois interesses, a propósito do 
Direito inter-temporal:
• O surgimento de Lei nova constitui um 
avanço no Direito, mais perfeito e 
actual. Há, por isso, um interesse em 
aplicar Lei nova, por uma questão de 
dinamismo;
• Por outro lado, coloca-se em causa a 
segurança jurídica, podendo acontecer 
que alguém não preveja a entrada em 
vigor de um novo regime jurídico, 
abalando o conflito de interesses das 
partes num negócio jurídicos. Há, por 
isto, um defraudar de expectativas 
e direitos fundamentais.
 Não existe um princípio constitucional a 
declarar a irretroactividade da Lei. Todavia, 
há que considerar os artigos 2.º, 18.º, 29.º e 
103.º da CRP:
• Artigo 2.º - Princípio do Estado de 
Direito Democrático, que promove o 
princípio da segurança jurídica e de 
uma irretroactividade;
• Artigo 18.º, n.º3 – A propósito das leis 
restritivas de direitos fundamentais, há 
também consagração da 
irretroactividade da Lei;
• Artigo 29.º, n.º1 e artigo 103.º - 
Referência a domínios em que é 
necessário proteger a segurança 
jurídica e direitos fundamentais. 
Página222
Consagração constitucional da 
irretroactividade da Lei.
Assim, uma norma retroactiva será 
inconstitucional nos casos dos artigos 
18.º, 29.º, 103.º da CRP e, em casos 
bastante graves, em que se fere de 
modo intolerável a segurança jurídica, 
impõe-se o artigo 2.º da CRP. Ainda 
assim, note-se que não existe um 
princípio constitucional geral de 
proibição de retroactividade.
 Prevalece sobre o artigo 12.º do C.C. 
qualquer norma contida num diploma que 
preveja um dado regime;
 Recursos para aplicação da Lei no 
tempo (ordenados)
• Em primeiro lugar, importa considerar 
que em diploma preambular anexo ao 
Decreto-Lei que aprova o Código Civil, 
temos disposições (artigos 20.º e 21.º) 
de Direito transitório, da 
responsabilidade do legislador de 1966, 
sendo que determinados regimes do 
Código de Seabra devem ser 
devidamente adaptados.
○ Direito transitório
 Formal – a lei nova contem 
normas de decreto 
transitório, que apenas 
referem qual o regime que se 
aplica, sendo autênticas 
regras de conflito;
Página223
 Material – estabelece um 
regime jurídico de equilíbrio.
• Na ausência de normas de Direito 
transitório, é importante conhecer se o 
ramo do Direito em causa prevê 
normas de aplicação da Lei no tempo 
(por exemplo, em Direito Penal, no 
Código Penal);
• Se também não existirem normas de 
aplicação da Lei no tempo no ramo de 
Direito em causa, recorre-se aos 
artigos constantes do Código Civil.
○ Artigo 12.º - critério fundamental 
de aplicação da Lei no tempo;
○ Artigo 13.º - aplicação no tempo 
das leis interpretativas;
○ Artigo 297.º - prazos (facto 
juridicamente relevante, capaz de 
produzir efeitos jurídicos 
relevantes, tal como na prescrição 
e na cessação de vigência por 
caducidade) para definição do 
regime jurídico aplicável.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 19 de Março de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
• Aplicação da Lei no tempo (continuação)
 Na maior parte dos casos, não existem 
normas de Direito Transitório;
 Graus de retroactividade
• Máxima – uma lei nova pode ser 
aplicada a factos antigos e sentenças 
Página224
transitadas em julgado (efeito caso 
julgado). Não há preocupações com 
direitos fundamentais e segurança 
jurídica, pois não se respeita o caso 
julgado. O artigo 2.º da CRP (Estado de 
Direito Democrático) prevê princípios 
de confiança, segurança jurídica e 
irretroactividade, o que conduziria à 
declaração de inconstitucionalidade, 
em Portugal, de lei com grau de 
irretroactividade máxima;
• Média – respeita o efeito caso julgado, 
podendo contudo aplicar-se a casos 
passados e a efeitos passados de 
factos passados (antes da entrada em 
vigor). Exemplos: contrato de 
arrendamento e nascimento;
• Normal – respeita o efeito caso 
julgado, como os efeitos produzidos no 
passado, de modo a garantir a 
segurança jurídica. Admite-se a 
aplicação de lei nova a factos 
passados, no que concerne apenas a 
efeitos do presente e do futuro. 
Exemplo: num contrato de 
arrendamento, as rendas passadas são 
respeitadas, podendo as actuais e 
futuras ser alteradas. O artigo 12.º do 
C.C. admite apenas este grau. 
 Artigo 12.º do Código Civil (princípio 
geralde aplicação das leis no tempo)
• Teoria do facto passado 
complementada com doutrina alemã. 
Sustenta o artigo 12.º do C.C.
Página225
• Teoria dos direitos adquiridos, que 
difere das simples expectativas, teve a 
adesão e defesa de Savigny. De acordo 
com esta teoria, ao abrigo da lei nova, 
têm de ser respeitados os direitos 
adquiridos no passado.
• Direito adquirido ≠ Simples 
faculdade
○ Numa concepção anterior, o 
direito adquirido era aquele que 
foi efectivamente exercido, 
enquanto a simples faculdade é 
aquela que não foi utilizada;
○ Numa concepção actual, não se 
pensa assim, pois o direito de 
propriedade, por exemplo, ainda 
que não utilizado, não é uma 
simples faculdade.
• Situações jurídicas objectivas e 
subjectivas
○ Objectivas – questões atinentes 
em que não intervinha a vontade 
dos sujeitos, mas a vontade do 
legislador;
○ Subjectivas 
 As situações jurídicas 
formadas no passado deviam 
ser respeitadas;
 Decorriam da vontade dos 
particulares (situações 
jurídicas negociais, 
contratuais);
 Respeito pela autonomia 
privada;
 Todavia, mesmo no âmbito 
do Direito dos Negócios, há 
Página226
regras imperativas que não 
podem ser afastadas pelas 
partes, de acordo com a 
vontade do legislador, pois 
estão em causa interesses 
públicos.
• Situações jurídicas duradouras e 
instantâneas (teoria de Inocêncio 
Galvão Telles)
○ Duradouras – se a lei nova se 
aplica às situações jurídicas 
duradouras, então aplica-se às 
situações do passado e do futuro;
○ Instantâneas – se a lei nova se 
aplica às situações jurídicas 
instantâneas, então aplica-se 
apenas à situação posterior (por 
exemplo: Imposto de Valor 
Acrescentado – IVA).
 Crítica a esta teoria: Trata-
se de uma teoria simplista, 
porque há leis novas que 
remetem para situações 
jurídicas duradouras (por 
exemplo: contrato de 
arrendamento) e que não 
devem surtir efeitos nas 
situações passadas (por 
exemplo: forma do contrato). 
Tal justifica-se pela 
necessidade de não colocar 
em causa as legítimas 
expectativas que as partes 
depositaram no regime 
jurídico.
Página227
• Teoria/Doutrina do facto passado 
(sustenta o artigo 12.º do C.C.)
○ De acordo com a concepção inicial 
desta teoria, a lei nova só se 
deve aplicar a factos 
posteriores, após a sua entrada 
em vigor;
○ Todavia, de acordo com a doutrina 
actual, há situações em que faz 
todo o sentido aplicar a lei 
nova a factos passados (por 
exemplo: direitos perpétuos, como 
o direito de superfície).
 Podem estar em causa 
interesses superiores à 
autonomia das partes que 
prevalecem – interesses 
públicos – e que são 
protegidos pela lei nova, 
devendo, por isso, aplicar-se 
a lei nova a situações 
jurídicas do passado;
 Ainda assim, a lei nova deve 
respeitar os efeitos 
produzidos pelas situações 
jurídicas constituídas no 
passado (grau de 
retroactividade normal).
 Artigo 12.º do Código Civil (princípio 
geral de aplicação das leis no tempo)
• N.º1 – regra geral (Teoria do facto 
passado);
• N.º2 – explicita a teoria enunciada, 
distinguindo duas situações diferentes
○ Note-se que só se aplica este 
artigo se não houver solução de 
Página228
Direito transitório e em caso de 
dúvida de aplicação da lei no 
tempo;
○ 1.ª Parte da disposição: 
“Quando a lei dispõe sobre as 
condições de validade substancial 
ou formal de quaisquer factos ou 
sobre os seus efeitos, entende-se, 
em caso de dúvida, que só visa os 
factos novos (…)”
 Condições de validade 
formal dos factos
• Ainda que o artigo 219.º 
do C.C. consagre a 
liberdade de forma 
como regra geral, 
existem situações 
excepcionais em que é 
exigida uma 
determinada forma 
(artigo 220.º do C.C., 
sob pena de declaração 
de invalidade do 
negócio jurídico), 
prescritas pela lei nova;
• Veja-se o contrato de 
mútuo, que, consoante 
o valor em causa, impõe 
exigências de forma 
(artigo 1143.º do C.C.);
• De todo o modo, tende-
se a assistir a uma 
sucessiva 
desformalização. Veja-
se, por exemplo, o 
artigo 875.º do C.C., 
respeitante à compra e 
Página229
venda de imóveis, em 
que, se antes só se 
poderia celebrar o 
negócio jurídico por 
escritura pública, desde 
2008 já existe a 
possibilidade de o fazer 
por documento 
particular autenticado 
pelas autoridades 
competentes, não tendo 
de ser exarado pelo 
notário. 
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Março de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º13 (continuação)
○ Questão II:
 Nesta questão, é feita referência à acessão 
(art. 1325.º do C.C.), isto é, a incorporação 
de um material pertencente a outrem, 
distinguindo-se as situações de acessão de 
boa-fé e de má-fé, com possibilidade de 
aquisição de direito de propriedade. 
Podemos considerar:
• Acessão natural (artigos 1327.º e 
seguintes) – por força da Natureza;
• Acessão industrial (artigos 1333.º e 
seguintes) – respeitante a bens móveis 
(mobiliária) e imóveis (imobiliária)
○ Os artigos 1339.º e seguintes 
dizem respeito à acessão 
industrial imobiliária, situação 
Página230
presente no caso enunciado nesta 
hipótese. Trata-se da construção 
sobre bem imóvel;
○ Tal como sucede no presente 
caso, e nos termos do artigo 
1340.º do C.C., o autor da 
incorporação de boa-fé pode 
adquirir o direito de propriedade 
sobre o prédio urbano, desde que 
pague o valor justo. Já o artigo 
1341.º refere-se à incorporação 
de má-fé.
 O artigo 204.º do C.C. apresenta-nos, no 
n.º1, um elenco de coisas imóveis e, no n.º2, 
a distinção entre prédio urbano e prédio 
rústico:
“Entende-se por prédio rústico uma parte 
delimitada do solo e as construções nele 
existentes que não tenham autonomia 
económica, e por prédio urbano qualquer 
edifício incorporado no solo, com os 
terrenos que lhe sirvam de logradouro.”
Esta distinção rigorosa não é utilizada no 
artigo 1340.º do C.C., optando-se por uma 
linguagem coloquial: “terreno” (prédio 
rústico) e “edifício” (prédio urbano). A 
expressão “terreno” orienta-nos para a 
noção de prédio rústico. Resta saber se o 
artigo 1340.º do C.C. também se aplica para 
prédios urbanos.
 O Tribunal de 1.ª instância fundamenta a 
sua decisão, efectuando uma interpretação 
com base no elemento gramatical (“letra da 
Página231
lei”), obtendo um resultado de interpretação 
declarativa (coincidência entre “letra” e 
“espírito” da lei), restringindo o campo de 
aplicação apenas aos prédios rústicos;
 Já o Tribunal da Relação, na sua 
interpretação, recorreu aos seguintes 
elementos interpretativos:
• Elemento histórico – à data, o 
legislador ter-se-á debruçado sobre a 
construção de obras em terreno alheio 
(occasio legis – conhecer a razão de ser 
da norma);
• Elemento teleológico – o legislador terá 
procurado contemplar as situações de 
incorporação de material em coisa 
alheia, daí surgindo uma inovação, 
independentemente de efectivada 
em prédio rústico ou urbano. 
Utiliza-se, aqui, o argumento a pari ou 
de igualdade de razão, pois não há 
razão para distinguir uma situação da 
outra;
• Elemento gramatical.
Como resultado interpretativo, temos 
uma interpretação extensiva (o 
legislador disse menos do que queria 
dizer – minus dixit quam voluit), 
devendo também as construções sobre 
prédio urbano alheioser abrangidas.
 Se o caso não previsto se inscreve no 
“espírito da lei”, há lugar a interpretação 
extensiva . Por outro lado, se o caso não 
previsto não se inscreve no “espírito da lei”, 
não tendo a ver com a categoria de casos 
que a norma abrange, há lugar a recurso 
Página232
analógico para integração de lacunas 
(aplicação indirecta de um regime jurídico 
por recurso analógico. Por exemplo: 
resolução de um contrato de empreitada, 
aplicando o regime jurídico do contrato de 
compra e venda);
 Em relação ao artigo 208.º do Código Penal, 
a propósito do furto de uso de veículo:
• Haveria lugar a interpretação 
extensiva, se necessário para 
abranger, na categoria de casos, outros 
veículos para além dos mencionados;
• Por outro lado, o recurso analógico não 
é permitido, se dele resultar uma 
situação desfavorável para o criminoso.
○ Questão III:
 A hipótese apresentada faz referência ao 
artigo 483.º do C.C., princípio geral da 
responsabilidade por factos ilícitos, aplicável 
nas situações em que alguém, por dolo ou 
mera culpa, violar ilicitamente o direito de 
outrem. Trata-se de uma norma aplicável 
em caso de culpa pelo incumprimento 
salarial, quer em responsabilidade civil 
contratual, quer em responsabilidade civil 
extra-contratual. No caso de 
responsabilidade civil contratual, há lugar a 
inversão do ónus da prova (artigo 799.º do 
C.C.), contrariamente ao que consagra o 
artigo 342.º do Código Civil. Assim, o credor 
não tem de fazer prova do cumprimento, 
havendo lugar a uma inversão da presunção 
de culpa. Trata-se de uma presunção 
relativa ilidível (regime-regra), salvo casos 
expressamente previstos na Lei (artigo 
350.º, n.º2 do C.C.). Todavia, não se trata de 
Página233
uma verdadeira presunção, pois a culpa, em 
última análise, revela-se essencial para 
imputar responsabilidade civil e haver lugar 
a indemnização (responsabilidade 
subjectiva);
 Elementos hermenêuticos utilizados:
• Elemento gramatical (“letra da lei), 
com função positiva (optar pelo sentido 
mais natural utilizado nas palavras do 
legislador) e negativa (afastar os 
sentidos que não encontram apoio na 
“letra da lei”);
• Elemento histórico e teleológico 
(finalidade), procurando a 
compreensão das circunstâncias que 
estiveram na base da criação da norma 
pelo legislador;
• Elemento sistemático, efectuando uma 
comparação com outras normas do 
sistema jurídico.
Como resultado interpretativo, temos 
uma interpretação declarativa.
Apurou-se que o n.º1 do artigo 1.º da 
Lei n.º17/86, de 14 de Junho é uma 
norma excepcional, através do 
argumento a contrario.
➢ Ficha de Trabalho n.º14 
○ Questão 1
 Interpretação de Américo – elementos 
utilizados e resultado interpretativo:
• Elemento gramatical – parte da 
leitura da cláusula 63.º, procurando 
Página234
perceber o significado da palavra 
“Previdência”. 
• Para tal, utiliza o elemento 
sistemático, pois refere que a 
cláusula em causa se integra no 
capítulo IX (combinação da cláusula 
com o título em que se integra);
• Como resultado interpretativo, temos 
uma interpretação declarativa, que 
pode ser ampla ou restrita, sendo no 
caso restrita, fixando-se no sentido 
“Segurança Social”.
 Interpretação da Árvore – elementos 
utilizados e resultado interpretativo:
• Elemento histórico (occasio legis): a 
expressão «Previdência Social» era 
utilizada para abranger todas as 
situações; alusão aos precedentes 
normativos (à data da publicação da 
Lei de Bases da Reforma da 
Previdência Social);
• Podemos também considerar que nos 
estamos a referir a um elemento 
sistemático (combinação de Leis para 
garantir a coerência do sistema 
jurídico);
• Através da occasio legis e do elemento 
sistemático, conseguimos concluir a 
finalidade da norma (elemento 
teleológico).
• Coloca-se em confronto a interpretação 
da cláusula 63.º com o artigo 13.º da 
CRP (conjugação com normas de outros 
diplomas – Lei constitucional) – 
interpretação conforme à Constituição, 
Página235
requisito essencial para uma boa 
interpretação.
• Isto conduz a uma interpretação 
declarativa ampla, considerando que 
Previdência abrange todos os sistemas 
de Segurança Social.
 A argumentação jurídica da Árvore revela-se 
bastante mais consolidada, não omitindo 
determinados factos, como fez Américo.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Março de 2010 – 15H-16H30 – 
Teórica)
• Aplicação da Lei no tempo (continuação)
 Artigo 12.º, n.º2 do C.C.
• 1.ª Parte – a Lei nova deve apenas 
aplicar-se a factos futuros se a Lei nova 
valorar esses factos;
• 2.ª Parte – não sendo intenção da lei 
nova valorar esses factos, aplica-se aos 
efeitos produzidos por essas situações 
jurídicas, que ocorram após a entrada 
em vigor da Lei nova.
 Lei nova aplica-se a factos futuros, 
quando reporta a circunstâncias de:
• Validade formal de factos
○ Negócios jurídicos sujeitos, 
excepcionalmente, a uma 
determinada forma solene, por 
motivos de interesse público 
Página236
(escritura pública, documento 
particular autenticado);
○ Lei nova estabelece novas regras 
de validade formal, aplicando-se 
apenas às situações que ocorram 
apenas depois da sua entrada em 
vigor.
○ Num mesmo momento, pode 
acontecer que contratos sobre 
uma mesma matéria observem 
formas diferentes, de acordo com 
o seu momento de constituição;
○ A forma solene pode aplicar-se a 
outros factos jurídicos que não os 
contratos, como por exemplo os 
actos unilaterais ou os 
testamentos.
 
• Validade substancial de factos 
○ Necessidade de respeitar regras 
correspondentes à substância de 
factos jurídicos (condições de 
validade substancial). Por 
exemplo:
 Casar só é permitido com a 
idade núbil mínima de 16 
anos (requisito de idade);
 Celebração de um negócio 
jurídico, tendo sido coagido 
(negócio inválido, havendo 
uma viciação da vontade).
○ A lei nova só se aplica aos casos 
constituídos após a sua entrada 
em vigor (casos novos). Os casos 
Página237
anteriores não são minimamente 
afectados, nem para validar, nem 
para confirmar negócios jurídicos 
anteriores;
• Efeitos de factos regulados pela 
Lei nova e aplicáveis a situações 
jurídicas futuras 
○ Os efeitos de factos jurídicos 
distinguem-se do conteúdo de 
situações jurídicas, isto é, direitos 
e obrigações (n.º2 do artigo 12.º 
do C.C.);
○ A expressão “relações jurídicas 
reais” merece interpretação 
extensiva, entendendo-se por 
“situações jurídicas reais”. Por 
exemplo, em matéria de direitos 
reais, temos o direito do indivíduo 
sobre a coisa (direito de 
propriedade;
○ Efeitos de factos constitutivos, 
modificativos ou extintivos de 
uma situação jurídica;
 Artigo 12.º, n.º2 do C.C.
• 1.ª Parte – a Lei nova produz a 
valoração de factos posteriores, ao 
abrigo do princípio da irretroactividade 
da Lei;
○ Importa conhecer, para a 
aplicação de uma das partes, a 
teleologia da Lei. Por exemplo:
 Lei nova que valora facto 
negativamente, tornando-o 
ilícito, sendo que antes não o 
Página238
era. Esta lei nova que 
introduz um desvalor sobre 
um facto só se aplica em 
situações futuras
ou
 Já sendo o facto ilícito, a lei 
nova estabelece 
consequências mais 
desfavoráveis, como por 
exemplo o aumento dos 
valores indemnizatórios. Esta 
valoração negativa só se 
aplica no futuro.
• 2.ªParte – de acordo com a 2.ª parte 
do artigo 12.º, a Lei nova aplica-se a 
situações jurídicas que coexistem 
no passado e continuam no futuro, 
visando incidir sobre o conteúdo de 
normas jurídicas e abstraindo-se dos 
factos que lhe deram origem, não 
os valorando. Podemos invocar como 
exemplos a usucapião ou a acessão.
Apenas está em causa o direito da 
situação jurídica (por exemplo: direito 
de superfície). Surgindo novas 
condições de valoração formal e/ou 
substancial, não se aplicam a situações 
do passado.
Todavia, por alterações da situação 
económica, pode haver lugar a 
alteração do conteúdo normativo que 
se aplica às situações existentes, 
constituídas no passado, no momento 
da entrada em vigor da Lei nova. 
Admite-se, aqui, um grau de 
retroactividade normal. Esta situação 
Página239
aplica-se, por exemplo, com o contrato 
de arrendamento.
 A distinção entre Lei nova que pretende 
valorar efeitos de factos e Lei nova que 
pretende incidir sobre o conteúdo normativo 
depende da abstracção ou não face aos 
factos que deram origem à situação jurídica;
 Outra forma de estudar a aplicação da Lei 
no tempo é através do “raciocínio dos 
estatutos”, desenvolvido por João Baptista 
Machado, que se dedicou ao estudo do 
Direito Internacional Privado (aplicação da 
lei no espaço – situações jurídicas 
plurilocalizadas)
Através deste raciocínio do Direito 
Internacional Privado, desenvolve-se um 
raciocínio para o Direito Civil Português – 
regras tendenciais para cada domínio do 
Direito, que se apoiam no artigo 12.º do C.C
• Estatuto contratual – aplica-se a Lei 
em vigor no momento da celebração do 
contrato, sendo princípio fundamental 
do Direito Privado a liberdade 
contratual. Daí que o Estado e a Lei 
devam atender à vontade das partes 
(opções negociais em função do regime 
em vigor).
○ A maioria das normas em Direito 
dos contratos são dispositivas, 
mesmo supletivas, havendo 
possibilidade de:
 Afastar o regime supletivo;
Página240
 Não dispor nada em 
concreto, aplicando-se o 
regime supletivo;
 Reproduzir o conteúdo da 
norma supletiva.
○ Com o surgimento de Lei nova 
que prevê um novo regime 
jurídico, colocam-se em causa as 
legítimas expectativas das 
partes. Por isso, perante normas 
dispositivas, só se aplica a Lei 
nova em casos posteriores. Neste 
caso, não há abstracção dos 
factos que estão na origem do 
contrato. O mesmo não sucede 
com normas imperativas, em que 
estão em causa interesses 
públicos, não se respeitando a 
liberdade contratual, sendo por 
isso de aplicação imediata. Aqui, 
não há dependência do facto que 
deu origem ao contrato.
 Exemplos de casos de 
abstracção dos factos que 
estão na origem do 
contrato (perante normas 
imperativas instituídas 
pela Lei nova):
• Lei nova que contem 
normas de Direito do 
Consumidor, visando 
proteger a parte mais 
fraca do contrato. Estão 
em causa interesses da 
colectividade;
Página241
• Lei nova que introduz 
novas normas para 
relações laborais, 
discriminando 
positivamente uma das 
partes em situação de 
desequilíbrio.
○ A propósito da responsabilidade 
civil extra-contratual, sempre que 
a lei regular um facto ilícito, 
apenas se aplica no momento da 
entrada em vigor a factos futuros.
• Estatuto real – aplicação da Lei nova 
às situações jurídicas pendentes;
• Estatuto sucessório – aplicação da 
Lei em vigor no momento da abertura 
da sucessão, aquando da morte (facto 
relevante). A lei nova só se aplica às 
situações hereditárias geradas por 
efeito da morte.
○ Quando o legislador introduz 
normas imperativas, que visam 
salvaguardar interesses 
públicos, estas têm 
aplicabilidade imediata. Temos 
como exemplo a fixação da quota 
disponível, a chamada regra da 
“legítima”, que se destina aos 
herdeiros legitimários (cônjuge, 
pais e filhos), salvo situações de 
deserdação e indignidade 
sucessória;
○ Se a lei nova diminuir as 
capacidades de testar, no 
Página242
momento em que já exerci esse 
direito, aplica-se o regime 
anterior. 
• Estatuto pessoal – importa saber se a 
Lei nova se aplica a estados 
constituídos desde a sua entrada em 
vigor ou se se aplica a estados 
anteriores. Exemplos:
○ Casamento – apenas se aplica a 
Lei nova desde a constituição do 
casamento. Para regulação de 
direitos e deveres do cônjuge 
(conteúdo normativo), há lugar a 
abstracção do facto que deu 
origem ao casamento, aplicando, 
portanto, a todos os factos;
○ Divórcio – direito potestativo dos 
cônjuges. Há abstracção do facto 
que lhe deu origem, aplicando-se 
a Lei nova, desde que esta esteja 
em vigor aquando do pedido.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 26 de Março de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
 Ramos do Direito com particulares na 
aplicação da Lei no tempo:
• Direito Penal
○ Direito fragmentário que apenas 
abrange os domínios onde são 
colocados em causa os bens 
jurídicos fundamentais;
Página243
○ Visa garantir a paz social e 
segurança jurídica;
○ Direito privativo até das 
liberdades fundamentais, ainda 
que com sujeição aos princípios 
da personalidade e da proibição 
do excesso;
○ Instrumento de “ultima ratio” para 
a protecção de bens jurídicos 
fundamentais e para a 
manutenção da sociedade;
○ O artigo 2.º do Código Penal 
consagra que a lei penal 
retroactiva é inadmissível, quando 
daí resulta uma situação 
desfavorável.
 N.º1 – aplicação da Lei penal 
que se encontra em vigor no 
momento da ocorrência do 
facto jurídico;
 N.º2 – a retroactividade é 
inadmissível, quando daí 
resultar uma situação 
desfavorável para o arguido, 
sendo admissível apenas se 
resultar uma situação 
vantajosa;
 N.º3 – no caso de lei 
temporária em vigor durante 
um determinado período de 
tempo, não é pelo facto de 
ela deixar de vigorar e prever 
um desvalor que é afectada 
no caso da ocorrência de um 
facto no período da sua 
vigência;
Página244
 N.º4 – a lei posterior é 
aplicável a situação anterior 
se for mais favorável para o 
arguido, tendo-se de 
averiguar, no caso concreto, 
se, de facto, é mais 
favorável. Tal é realizado 
através da feitura de 
simulação da situação, com 
as circunstâncias concretas 
do facto ilícito em causa.
• Direito Processual (Civil e Penal)
○ Regra geral – aplicação 
imediata da lei nova, mesmo em 
processos a decorrer (antes da 
produção do despacho), na 
medida em que o Direito 
Processual, enquanto direito 
adjectivo acessório do Direito 
substancial, fixa os trâmites legais 
para a protecção de direitos e 
imposição de deveres;
○ Todavia, a Lei nova, em matéria 
de Direito Penal, não deve 
desfavorecer o arguido. De todo o 
modo, entende-se que 
determinadas leis novas 
poderiam ser aplicados na 
fase de inquérito do processo, 
ainda que conduza a uma 
situação desfavorável para o 
arguido. Isto só pode suceder 
em situações muito restritas. 
Em Direito Processual Civil, 
apenas se admite este 
mecanismo de retroactividade 
Página245
em situações de economia 
processual. Por outro lado, a lei 
nova não é aplicável se daí 
resultar um prejuízo de economia 
processual;
○ Aplicabilidade da Lei nova em 
matéria de recursos – entende-
se que o momento relevante para 
a aplicação da lei nova é aquele 
em que a decisão é proferida.
 Artigo 13.º do Código Civil
• Refere-sea casos de interpretação 
autêntica;
• Leis interpretativas – integram-se 
nas leis interpretadas (art. 13.º, n.º 1 
CC), ou seja, as leis que pretendem 
fixar a interpretação de outras têm a 
força vinculante de todas as leis (o 
legislador não tem de obedecer a 
princípios hermenêuticos).
○ A lei interpretativa deve ser 
aplicada a factos passados, salvo 
em casos de decisões transitadas 
em julgado. Aparentemente, tem-
se aqui a admissibilidade da 
retroactividade, dada a 
incorporação da lei interpretativa 
na lei interpretada. Não haverá 
uma retroactividade, mas uma 
retrospectividade, na medida 
em que, pelo facto de se 
suscitarem dúvidas sobre a lei 
interpretada, fixou-se o sentido 
único da mesma com a lei 
interpretativa, sabendo qual o 
Página246
regime jurídico a aplicar, que 
vincula o juiz;
○ A lei interpretativa vai escolher 
um dos vários sentidos que a lei 
interpretada podia tomar, que era 
previsível. Todavia, esta definição 
do sentido a tomar só é admissível 
com o recurso aos elementos e 
argumentos hermenêuticos, ou 
seja, ao método interpretativo;
○ O artigo 12.º do C.C. regula a 
aplicação das leis inovadoras no 
tempo, o que não sucede com o 
artigo 13.º, visto que as leis 
interpretativas não são 
inovadoras. Elas apenas 
procuram fixar o sentido e o 
regime jurídico a aplicar;
○ Se a lei interpretativa, respeitando 
os mais rigorosos cânones 
interpretativos, assumir a 
possibilidade de existência de 3 
sentidos admissíveis e, nos 
tribunais, se aplicarem esses 
mesmos 3 sentidos, sem se 
formar uma tendência, haverá 
lugar a futura interpretação de 
acordo com esses 3 sentidos. 
Contudo, se houver uma 
tendência jurisprudencial 
marcada, essa deve ser 
respeitada, tendo em vista a 
garantia da segurança jurídica, de 
acordo com o artigo 13.º do 
Código Civil. Ainda assim, se não 
for assumida esta tendência, há 
Página247
lugar à criação de uma lei 
inovadora.
 Artigo 297.º do Código Civil (decurso de 
um prazo e extinção/constituição de um 
facto, com um prazo. Por exemplo, recorde-
se as prescrições extintivas ou as 
prescrições aquisitiva, como a usucapião)
• Não introduz um verdadeiro 
desuso do artigo 12.º do Código 
Civil, que consagra que a lei nova só 
se aplica a factos futuros;
• O facto “prazo” ocorre com o final 
do mesmo;
• Este artigo refere-se aos prazos em 
curso e à aplicação da lei nova;
○ A lei nova que fixe um prazo 
mais curto do que o da lei 
anterior aplica-se a partir do 
momento da entrada em vigor. 
Destrói-se todo o prazo 
decorrido, reiniciando-se a 
contagem. Exceptuam-se as 
situações que prevêem aumento 
de prazo, pois a intenção do 
legislador era o contrário. Aqui, há 
lugar à aplicação da lei antiga;
○ A lei nova que fixe um prazo 
mais longo tem aplicação 
imediata, aplicando-se o prazo 
mais longo, mas não se 
destrói o tempo decorrido até 
ao momento. Se tal sucedesse, 
teríamos um aumento exagerado 
do prazo.
Página248
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 07 de Abril de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho N.º14 (continuação)
○ Questão 2
 Na presente hipótese prática, é feita 
referência ao artigo 2194.º do C.C., que se 
integra nos casos de indisponibilidade 
relativa. Não há nulidade absoluta, apenas 
se aplica a determinadas pessoas:
• Artigo 2192.º C.C. (Tutor, curador, 
administrador legal de bens e 
protutor);
• Artigo 2194.º C.C. (Médicos, 
enfermeiros e sacerdotes);
• Artigo 2195.º C.C. (Excepções ao 
artigo 2194.º)
○ Admite deixa testamentária para 
pagamento de serviços recebidos 
pelo doente;
○ Admite deixa testamentária para 
cônjuge ou familiar que exerça 
profissão médica). Entende-se 
que, dentro da família, existem 
relações recíprocas de 
solidariedade, não havendo 
situação de superioridade do 
profissional sobre o doente 
fragilizado, numa tentativa de 
manipulação da vontade;
• Artigo 2196.º C.C. (Cúmplice do 
testador adúltero).
Página249
 Também em matéria de doações (artigos 
940.º e seguintes do Código Civil) se manda 
aplicar, com as devidas adaptações, as 
situações de indisponibilidade relativa 
apresentadas. O artigo 958.º apresenta-nos, 
aliás, uma norma remissiva;
 Posições em confronto nesta questão: 
• Posição de Jasão
○ Pede a declaração de nulidade do 
testamento, com base no artigo 
2194.º do Código Civil;
○ Efectua uma interpretação 
extensiva do mesmo, pois 
considera que o referido artigo 
quer abranger aqueles que 
exerçam funções médicas de 
facto, e não apenas aqueles que 
detêm carteira profissional;
○ Recorre ao elemento histórico, 
referindo a intenção da Comissão 
Revisora do Código Civil, que 
“teve por objectivo incluir na lei 
não só os enfermeiros, mas 
também aqueles que exercem de 
facto funções médica, ainda que 
ilegalmente”. Isto para além do 
recurso ao elemento 
gramatical.
• Posição de Serafim e Atalanta
○ Efectuam uma interpretação 
declarativa, considerando que a 
“letra da lei” é inteiramente fiel ao 
“espírito da lei”;
Página250
○ Utilizam o elemento gramatical, 
com base no artigo 9.º do Código 
Civil, em que se assume a 
razoabilidade do legislador. Isto 
para além da utilização do 
elemento sistemático 
(comparação com os artigos 
2192.º e 2196.º do Código Civil) e 
do elemento teleológico, a 
partir do elemento histórico, 
visto que, na Comissão Revisora 
do Código Civil, “não foi, porém, 
discutida a possibilidade de 
abranger aqueles que, por 
qualquer motivo não profissional, 
prestem assistência ao testador”. 
Alegam, assim, que esta posição 
nunca se configurou, nos termos 
do artigo 2194.º do Código Civil. 
 Para interpretarmos o artigo 2194.º do C.C., 
devemos considerar o argumento “onde a 
Lei não distingue, não deve o 
intérprete distinguir” (ubi lex non 
distinguit nec nos distinguere debemus) e 
considerar o objectivo do legislador 
(elemento teleológico) ao consagrar a 
norma aludida:
• A referida norma considera a 
debilidade do doente em momento de 
situação terminal;
• Visa-se evitar as consequências 
nefastas da posição de superioridade 
do profissional sobre o doente 
fragilizado (manipulação da vontade);
• O presente artigo não admite a 
apresentação de prova em contrário – 
Página251
presunção absoluta ou inilidível – na 
medida em que não se duvida da 
especial influência exercida pelo 
profissional sobre o doente;
○ O mesmo se aplica no artigo 
2192.º C.C., entre pupilo e tutor, 
ainda que não seja no leito da 
morte;
○ Já no caso constante do artigo 
2196º C.C., a propósito do 
adultério, admite-se que são 
razões de ordem moral que 
motivaram o legislador a prever 
esta indisponibilidade, apesar de 
se encontrar previsto o princípio 
fundamental da liberdade de 
testar. 
 Concluímos assim que, atendendo à 
finalidade do artigo 2194.º C.C., não faz 
sentido abranger não profissionais (no 
presente caso, amigos) que prestem 
assistência. Aliás, também se admite uma 
relação de solidariedade dos amigos perante 
o doente, que deve ser fomentada. Este 
artigo procura salvaguardar a liberdade de 
testar do testador, não possibilitando a 
disposição de bens àqueles que ilegalmente 
exerçam funções médicas e possam exercer 
um efeito de superioridade sobre o doente, 
independentemente de possuírem ounão 
carteira profissional;
 Obtêm assim um resultado interpretativo 
declarativo, considerando-se existir uma 
relação de fidelidade entre a “letra da lei” e 
o “espírito da lei”;
Página252
 Se tiver havido, de facto, uma manipulação 
por parte dos amigos, aplica-se o regime 
constante nos artigos 240.º e seguintes do 
Código Civil, alegando o sobrinho que há 
lugar a impugnação do testamento. Poder-
se-ia também fundamentar esta posição 
com os artigos 255.º e 256.º do C.C., que 
prevêem a anulação do testamento em 
situação de coacção ou ainda, melhor 
ajustado, o artigo 282.º C.C., a propósito dos 
negócios usurários, por exploração da 
situação de debilidade normal do doente, 
desde que provada.
➢ Ficha de Trabalho N.º 15
○ Questão 1
 No presente caso, o Banco Internacional de 
Negócios dispõe de uma garantia real 
(hipoteca). Justiniano era arrendatário de 
uma fracção autónoma no referido edifício e 
foi confrontado com a diligência judicial de 
entrega do andar que habita, no âmbito de 
uma acção executiva onde ocorreu a venda 
do mesmo. A entidade bancária alega a 
caducidade do direito de arrendatário de 
Justiniano, com base no artigo 824.º do C.C.
• O n.º2 do referido artigo consagra que 
a venda executiva conduz à 
caducidade de:
○ Direitos reais de garantia;
○ Demais direitos reais anteriores a 
arresto, penhora ou garantia.
Página253
Questão: Há um direito de 
arrendamento?
• Categorias de Direitos reais 
○ Direitos reais de gozo: Nos 
direitos reais de gozo, o 
aproveitamento da coisa é feito 
de modo directo e imediato no 
sentido de que o titular do direito 
real de gozo pode fazer suas as 
utilidades que a coisa lhe 
proporciona. Pode colher os frutos 
naturais, perceber frutos civis, 
consumir a coisa, alterá-la, etc. 
Portanto, o titular do direito real 
de gozo satisfaz o seu interesse 
através do aproveitamento do 
valor de uso da coisa, retirando da 
sua substância todas as utilidades 
dessa coisa. São direitos reais de 
gozo: a posse, o direito de 
propriedade (compropriedade e 
propriedade horizontal), as 
servidões, o direito de superfície, 
o direito de uso e habitação, o 
direito de usufruto e o direito real 
de habitação periódica.
○ Direitos reais de garantia: Nos 
direitos reais de garantia, as 
utilidades proporcionadas ao seu 
titular são aproveitadas de modo 
indirecto, isto é, através do 
valor económico, do valor de 
troca, e não através do seu valor 
de uso. Estes direitos reais são 
acessórios de uma relação 
Página254
creditória e por isso encontram-se 
regulados no Livro II, tendo a 
função de assegurar 
eficazmente ao credor, o 
pagamento preferencial do 
seu crédito pelo valor da coisa 
sobre que recaem. Os direitos 
reais de garantia caracterizam-se 
pelo facto de incidirem sobre o 
valor ou os rendimentos de bens 
certos e determinados, do próprio 
devedor ou de um terceiro. O 
Código Civil admite os seguintes 
direitos reais de garantia: 
 1. Consignação de 
rendimentos (artigo 656º); 
 2. Penhor (artigo 666º);
 3. Hipoteca (artigo 686º);
 4. Privilégios creditórios 
(artigo 733º);
 5. Direito de retenção (artigo 
754º).
○ Direitos reais de aquisição: Os 
direitos reais de aquisição 
constituem a categoria de direitos 
reais mais recente, em que o 
interesse do titular é satisfeito 
através da aquisição de um outro 
direito real (a partir do momento 
em que se exerce o direito real de 
aquisição, o seu titular é 
imediatamente transposto para 
outro direito real de gozo). Por 
exemplo: 
 O direito que tem cada um 
dos comproprietários a ter 
Página255
preferência, na venda ou 
doação, das quotas dos 
outros; 
 O caso do contrato-promessa 
e do pacto de preferência 
quando se tenha atribuído 
eficácia real;
 A situação jurídica do 
possuidor que adquire o 
direito de propriedade por 
usucapião (artigo 1287º do 
C.C.);
 O caso de apropriação de 
coisa alheia (artigo 1321º e 
1323º do C.C.).
Esta é a classificação tradicional das 
categorias dos direitos reais. O seu 
critério de distinção assenta no 
modo como se efectua o 
aproveitamento das utilidades da 
coisa, que é o objecto do direito real.
• Os direitos reais de garantia 
apenas conferem ao titular o 
direito de ser pago em primeiro 
lugar em relação aos demais 
credores comuns, não titulares de 
um direito real de garantia. Os 
demais credores comuns podem 
reclamar os seus direitos de crédito 
num processo de insolvência.
• Há direitos reais de garantia que 
prevalecem independentemente do 
registo, como o direito de retenção e os 
privilégios creditórios. Neste caso, não 
há lugar a organização cronológica (de 
graduação) dos créditos;
Página256
• Em acção executiva, procura-se 
satisfazer o crédito do credor colocado 
em primeiro lugar, podendo haver 
lugar ou não, em função do limite do 
valor de bens vendidos, à satisfação 
dos credores posicionados em 2.º, 3.º e 
restantes lugares.
• Arresto – apreensão judicial de bens 
do suposto devedor, que ficam à ordem 
do tribunal e servem de garantia da 
eventual execução que contra ele 
possa vir a ser efectuada.
• Se o direito de arrendamento for 
constituído posteriormente à hipoteca, 
como no presente caso, há lugar à sua 
caducidade?
○ De acordo com o artigo 1057.º do 
C.C., o adquirente do direito de 
propriedade sucede nos direitos e 
obrigações do locador, não 
havendo lugar à caducidade do 
direito de arrendamento;
○ Nos termos do artigo 695.º do 
C.C., constante do capítulo da 
hipoteca, é nula a convenção que 
proíba o dono de bem hipotecado 
a aliena-lo ou onera-lo. É, 
portanto, nula a cláusula de 
hipoteca que proíba a oneração de 
um bem. Note-se que, estando um 
bem arrendado, há lugar a uma 
diminuição do valor do mesmo e a 
uma sucessão de direitos e 
obrigações do locador.
Página257
• Posição do arrendatário 
(Justiniano): alega que o seu direito 
de arrendamento é válido, não 
caducando, o que consequentemente 
impede o seu despejo. Para 
fundamentar esta sua posição:
○ Invoca o artigo 1057.º do C.C., em 
que se diz que o contrato de 
arrendamento é oponível ao 
novo adquirente;
○ O direito de arrendamento não 
é um direito real (não se aplica 
o artigo 824.º, n.º2, que apenas 
implica a caducidade de direito 
reais, algo que neste caso não 
sucede), mas obrigacional, pois 
não consta do catálogo de direitos 
reais de gozo11. O artigo 1022.º 
(locação) consagra uma noção 
que nos encaminha para um 
direito obrigacional, exigindo-se 
de outro um determinado 
comportamento;
○ O artigo 695.º diz-nos que é nula 
a cláusula de hipoteca que 
proíba a oneração de um bem. 
Logo, não faria sentido 
desproteger, de imediato, a 
posição do arrendatário, devendo 
o contrato manter-se válido, eficaz 
e oponível ao locador.
11 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 22.02.1994, in www.dgsi.pt, cujo 
sumário é “O direito de arrendamento não pode ser adquirido por usucapião”: 
Página258
Recorre aos seguintes elementos 
interpretativos:
○ Elemento sistemático – para 
compreensão do artigo 695.º do 
C.C., houve recurso a outros 
artigos do mesmo diploma;
○ Elemento gramatical – 
elemento vital na sua 
interpretação, considerando a 
“letra da lei”;
○ Elemento teleológico – verificar 
a finalidade dos artigos 695.º e 
1057.º do Código Civil,para 
demonstrar que não faz sentido a 
caducidade do contrato do 
arrendamento;
○ Elemento Histórico – os n.os 2 e 
3 do artigo 824.º C.C. 
“Trata-se de questão muito controvertida, afigurando-se nos que a maioria da 
doutrina e da jurisprudência considera o direito do locatário ao 
arrendamento insusceptível de ser adquirido por usucapião, quer directamente, 
afirmando que tal direito não é usucapível, quer indirectamente, dizendo tratar-se 
de um direito de crédito, obrigacional ou pessoal, e não direito real, e certo 
sendo que os direitos de crédito não podem ser adquiridos por usucapião, só o 
podendo ser os direitos reais e não todos. Porém, uma corrente minoritária nos 
apresenta - há ainda posições intermédias diversas, ao lado das quais 
passaremos - tem defendido que o direito ao arrendamento, o direito do 
locatário, é usucapível como consequência do facto de poder ser qualificado 
como um direito real ou por se verificar uma situação justificativa da 
admissibilidade da usucapião, atentos os fundamentos desta figura. Os defensores 
daquela primeira orientação são muitos e de alta carreira (Vaz Serra, Revista de 
Legislação e Jurisprudência 100; 202 e 203; Antunes Varela, Das Obrigações em 
Geral, Volume I, sétima edição; 178 e Revista de Legislação e Jurisprudência 119; 
248 e 249; Galvão Teles, Direito das Obrigações, sexta edição, 17, Pereira Coelho, 
Arrendamentos, edição de 1984, 16 e seguintes; acórdão do Supremo Tribunal de 
Justiça de 21 de Dezembro de 1982, Boletim do Ministério da Justiça 320, 338; 
acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de Novembro de 1966, Boletim do 
Ministério da Justiça 161, 1393; acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de 
Julho de 1960, Boletim do Ministério da justiça 99, 804, além de outros. Mas a 
apoiar a tese contrária também há autores de valia (Dias Marques, Prescrição 
Aquisitiva, edição de 1960, Volume I, 214 e seguintes; J. Oliveira Ascensão, Direitos 
Reais, edição de 1971, 91, 96 e 519 e seguintes; Meneses Cordeiro, Direitos Reais, 
II Volume; 958 e seguintes; Paulo Cunha e Pinto Coelho (estes dois citados por 
Meneses Cordeiro, além de outros, a página
975; Mota Pinto, Direitos Reais, edição de 1971, 146 e seguintes, se bem que com 
bastante hesitação; acórdão da Relação de Lisboa, de 21 de Maio de 1992, 
Colectânea de Jurisprudência de 1992, Tomo III, 181), além de outros. 
Página259
correspondem ao anterior artigo 
907.º CPC. O recurso ao elemento 
histórico serve para defender que 
o direito de arrendamento é um 
ónus.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 07 de Abril de 2010 – 15H-16H30 – 
Teórica)
• A Lei nova aplica-se a factos jurídicos 
constitutivos, modificativos e 
extintivos (artigos 12.º e 297.º do 
C.C.), juridicamente relevantes para 
determinar a sua competência. 
Distinguem-se dos “factos-
pressupostos”, na terminologia de 
João Baptista Machado, que não se 
revelam juridicamente relevantes, para 
a aplicação da lei no tempo. Os factos-
pressupostos constituem pressupostos 
de uma dada qualidade, como por 
exemplo os factos que interferem com 
a capacidade sucessória (qualidade de 
sucessor), mas não são determinantes 
para saber qual a Lei aplicável.
○ O facto constitutivo das relações 
sucessórias é a morte. Já o facto 
impeditivo de adquirir capacidade 
sucessória (facto-pressuposto) 
não interfere na definição da lei a 
aplicar;
○ Em matéria de prazos, eles nem 
sempre são factos constitutivos 
(por exemplo, prazo da 
usucapião), extintivos (por 
Página260
exemplo, prazo da prescrição) ou 
modificativos. Se surgir uma Lei 
nova que determina o novo 
prazo, aplica-se a Lei vigente 
à data da ocorrência do facto 
juridicamente relevante;
○ Há factos que também podem 
funcionar como prazos-
pressupostos:
 Prazo internupcial (artigo 
1605.º do C.C.) – facto 
impeditivo do casamento.
• Se surgir uma lei nova 
que estabeleça a 
diminuição do prazo 
internupcial, coloca-se a 
questão de qual a Lei 
aplicável:
○ no momento do 
início do prazo?
○ à data da entrada 
em vigor da nova 
Lei?
Tem-se de procurar o 
facto constitutivo que 
a Lei nova visa regular 
(que no presente caso é 
o casamento), 
aplicando-se a Lei 
que vigora à luz da 
celebração do 
casamento.
• Só há retroactividade, 
quando há aplicação de 
Lei nova a factos 
Página261
passados constitutivos, 
modificativos ou 
extintivos. No presente 
caso, poderá haver uma 
retroconexão ou uma 
referência 
pressuponente, que 
não é uma verdadeira 
retroactividade.
• Lei confirmativa tácita
○ Ao abrigo da 1.ª parte do n.º2, do 
artigo 12.º, a Lei nova só se pode 
aplicar a factos jurídicos futuros;
○ Se se celebrasse um contrato de 
compra e venda, em 2007, por 
documento particular autenticado, 
ele seria nulo, nos termos do 
artigo 220.º do C.C., dado o 
incumprimento do requisito formal 
exigido à época. Recorde-se que, 
a partir de 2008, já seria possível, 
com a entrada em vigor da Lei 
nova;
○ Ainda assim, admite-se uma 
interpretação restritiva do 
artigo 12.º, entendendo-se que ele 
visa, sobretudo, salvaguardar a 
segurança jurídica, não devendo 
este artigo, por isso, aplicar-se 
apenas aos casos que colocam em 
causa a segurança jurídica. Assim, 
se a Lei nova trouxer uma 
desformalização dos requisitos 
exigíveis, pode-se admitir uma 
convalidação, desde que:
Página262
 Corresponda aos interesses 
das partes;
 Não coloque em causa as 
legítimas expectativas de 
terceiros.
○ Assim, estamos perante uma Lei 
confirmativa tácita que valida o 
acordo celebrado, que diferem 
das disposições confirmativas 
expressas, constantes, por 
exemplo, do Preâmbulo do Código 
Civil (Direito transitório);
○ Esta interpretação restritiva não 
tem sido utilizada em sede de 
tribunais, mas é afirmada em 
doutrina e jurisprudência diversa;
○ A admissibilidade de Lei 
confirmativa tácita é defendida 
por João Baptista Machado. 
Contudo, trata-se de uma questão 
que não é consensual.
--------------------------------------x-------------------------------------
➢ Introdução ao Direito Civil
○ Parte Geral do Código Civil
 Análise da relação jurídica (conceito 
operatório mais importante no Direito Civil 
português)
• O legislador português divide o Título 
"Das relações jurídicas" do Código Civil 
em quatro subtítulos: (I) – "Das 
pessoas" (artigos 66º a 201º), (II) – 
Página263
"Das coisas" (artigos 202º a 216º), (III) 
– "Dos factos jurídicos" (artigos 217º a 
333º) e (IV) – "Do exercício e tutela dos 
direitos" (artigos 334º a 396º);
• Elementos da relação jurídica
○ Sujeitos;
○ Objecto;
○ Factos jurídicos;
○ Garantia (tutela dos direitos 
através de mecanismos 
coercitivos).
• O Direito Civil regula as relações 
jurídicas mais quotidianas dos sujeitos, 
daí ser o ramo mais importante do 
Direito Privado (constitui o seu tronco 
comum);
• Aplicação das normas da Parte Geral 
nas Partes Especiais. Por exemplo, 
normas sobre coacção em Direito das 
Sucessões ou Direito das Obrigações;
• Os conceitos indeterminados e as 
cláusulas gerais são típicos do Direito 
Civil;
• Na opinião de António Menezes 
Cordeiro, a expressão relações 
jurídicas é mal empregue. No seu 
entender, a expressão que deveria ser 
utilizada seria situações jurídicas, 
pois engloba as situações jurídicas 
absolutas, em matéria de direitos de 
personalidade e direitos reais.
• Princípios fundamentais do Direito 
Civil
○ Princípio da Dignidade da 
PessoaHumana: este princípio é 
Página264
transversal a todos os ramos do 
Direito, sendo que muitos 
princípios a seguir apresentados 
são a decorrência deste. Consiste 
no respeito pela pessoa como 
um fim em si mesmo e não 
como um meio ou instrumento. 
Implica o reconhecimento de 
direitos e deveres e o respeito 
mútuo entre os sujeitos que 
estabelecem relações jurídicas;
 Cláusulas atentatórias da 
dignidade da pessoa 
humana:
• Medidas mais eficazes 
no Direito Penal;
• No âmbito do 
testamento (artigos 
2224º e ss. do C.C.):
○ Artigo 2229.º do 
C.C. - Condições de 
testamento válido 
e inválido; 
condições do livre 
desenvolvimento 
da personalidade;
○ Artigo 2233.º do 
C.C. – liberdade 
negativa (não se 
obriga ninguém a 
celebrar 
casamento).
• Direitos de 
personalidade (artigos 
70º e ss. do C.C.):
Página265
○ Princípio do reconhecimento 
da personalidade jurídica 
humana (artigos 66.º e 67.º C.C.): 
reconhece-se que cada sujeito 
tem a susceptibilidade de ser 
titular de relações jurídicas (ser 
sujeito de Direito). No artigo 66.º, 
n.º2 do C.C., admite-se a 
protecção da vida intra-uterina;
 Diferente tratamento entre 
personalidade singular e 
personalidade colectiva: se 
em relação à personalidade 
singular não há atribuição 
de direitos, mas apenas 
reconhecimento dos 
mesmos, no que concerne à 
personalidade colectiva 
estamos perante uma 
abstracção colectiva, em que 
o Direito decide atribuir 
personalidade jurídica a 
entes colectivos.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 9 de Abril de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
○ Princípio da plenitude da 
personalidade jurídica: a 
faculdade de se ser titular de 
direitos e obrigações difere de 
pessoa singular para pessoa 
colectiva e entre pessoas 
singulares.
Página266
 Personalidade jurídica 
(conceito qualitativo)
 Capacidade jurídica 
(conceito quantitativo)
• As pessoas colectivas 
têm uma capacidade 
jurídica muito reduzida. 
No artigo 160.º do C.C., 
vemos que apenas lhe 
são atribuídos os 
direitos e obrigações 
necessários à 
prossecução dos seus 
fins. Por exemplo, sendo 
o fim de uma empresa o 
lucro, todo o acto para 
além desse fim é nulo.
○ Princípio da tutela geral da 
personalidade humana: 
princípio autónomo à dignidade da 
pessoa humana.
 Artigos 70.º a 81.º C.C. – 
Direitos de personalidade 
(direitos absolutos, inatos, 
inalienáveis, irrenunciáveis e 
oponíveis erga omnes);
• Artigo 70.º - cláusula 
geral de tutela 
(abrangente) de direitos 
de personalidade, 
prevendo-se as 
consequências civis 
para a sua violação. Um 
aspecto da 
personalidade não 
Página267
indicado nos artigos 
seguintes está 
protegido por esta 
cláusula geral.
• Artigo 71.º - protecção 
do bom-nome de 
pessoas já falecidas. 
Comprova que a tutela 
geral não termina com a 
morte física;
• Artigos 72.º, 76.º e 
seguintes até 80.º - 
protecção cirúrgica 
de aspectos particulares 
que merecem especial 
relevo, pois são 
regularmente sujeitos a 
violações.
• Artigo 80.º - direito à 
reserva sobre a 
intimidade da vida 
privada foi pensado 
para os seres humanos, 
mas pode ser adaptado 
para o mundo 
empresarial ou 
associativo, tendo em 
vista o desenvolvimento 
da sua actividade (por 
exemplo: protecção da 
divulgação das actas 
das reuniões12).
12 A sua divulgação só é admissível no âmbito de um processo judicial, não se 
podendo divulgar a sua integralidade, mas apenas o estritamente necessário para a 
descoberta da verdade (valor maior).
Página268
 Admite-se que os direitos de 
personalidade possam ser 
aplicados, mutatis mutandis, 
às pessoas colectivas, sendo 
que nem todos são 
aplicáveis;
 O direito à vida e à 
integridade pessoal não se 
encontram nos artigos 
anteriormente referidos, mas 
integram-se no artigo 70.º. É 
recorrente, também, 
conjugar este artigo com os 
artigos 1.º, 24.º e 25.º da 
CRP.
○ Princípio da personificação 
jurídica e da capacidade 
jurídica funcional das pessoas 
colectivas privadas: do ponto 
de vista naturalístico, apenas os 
sócios deviam ser portadores de 
personalidade jurídica. Todavia, 
considera-se que também se deve 
reconhecer personalidade jurídica 
às seguintes entidades:
 Associações – Pessoas 
colectivas de substrato 
pessoal (agrupamento de 
pessoas) que não tenham 
por fim a obtenção de lucros 
para distribuir pelos 
associados. No Código Civil, 
artigos 167º a 184º;
 Fundações – Pessoas 
colectivas de substrato 
Página269
patrimonial (agrupamento de 
bens) que visam o interesse 
do fundador e são 
governadas pela vontade 
inalterável deste. No Código 
Civil, artigos 185º a 194º;
 Sociedades – Pessoas 
colectivas de substrato 
pessoal que têm por fim a 
obtenção de lucros. No 
Código Civil, artigos 980º a 
1021º.
 Tipos de sociedades:
• Sociedades Civis 
(todas as sociedades 
profissionais, como as 
Sociedades de 
Advogados) – para a 
concessão de 
personalidade jurídica, é 
exigida a celebração de 
um contrato de 
sociedade e a inscrição 
do acto constitutivo na 
Conservatória do 
Registo. Aliás, o 
registo é condição 
indispensável para a 
aquisição de 
personalidade.
• Sociedades 
Comerciais (ver Código 
das Sociedades 
Comerciais) – podem 
ter:
○ Sócios de 
capital: entram 
Página270
com dinheiro ou 
bens patrimoniais;
○ Sócios de 
indústria: entram 
com o seu trabalho 
(know-how).
As associações e fundações 
necessitam do reconhecimento do 
Ministério Público para a aquisição 
de personalidade.
○ Princípio da não violação da 
esfera jurídica alheia: por 
“esfera jurídica”, entende-se o 
âmbito de relações jurídicas 
(direitos e obrigações) de que 
cada um de nós é titular. Trata-se 
de um conceito aplicável a 
pessoas singulares e colectivas e 
abrange relações jurídicas de 
personalidade (co-naturais à 
condição de pessoa) e relações 
jurídicas patrimoniais. Trata-se de 
um instituto que está na base da 
responsabilidade civil contratual e 
extracontratual por danos que 
atingem direitos pessoais ou bens 
patrimoniais.
○ Princípio da igualdade dos 
Homens perante a Lei
 Evolução do conceito de 
igualdade, no âmbito do 
Direito Civil:
Página271
• Conceito formal de 
igualdade – as partes 
envolvidas numa 
relação encontram-se 
numa posição de 
igualdade, havendo um 
equilíbrio de prestações 
– princípio do 
equilíbrio de 
prestações.
• Conceito material de 
igualdade (actual) – 
reconhece-se a 
existência de 
desigualdades nas 
relações, em virtude da 
situação económica das 
partes, havendo uma 
discriminação positiva 
dos mais 
desfavorecidos, em 
Direito de Trabalho. Mas 
também em Direito Civil 
se reconhece este 
conceito material, por 
exemplo em Direito do 
Consumo (através da 
Lei de Defesa do 
Consumidor e de 
Legislação 
Extravagante).
 Regime jurídico das 
cláusulas contratuais 
gerais, instituído pelo DL n.º 
446/85, de 25 de Outubro e 
Página272
integrado num capítulo à 
parte do Código Civil.
• Regula os contratos 
celebrados por 
empresas que 
fornecem, a grandes 
massas de população, 
serviços de interesse 
geral (luz, água, 
telecomunicações, 
seguros);
• Dado o poderio 
económico destas 
empresas, elas não 
negoceiam os termos 
dos contratos de 
fornecimento dos 
serviços, sendo que o 
contratanteapenas se 
pode decidir pela 
celebração ou não do 
mesmo. Os contratantes 
não podem influenciar a 
redacção das cláusulas 
do contrato de adesão;
• Para protecção do 
consumidor, prevêem-
se listas “negras e 
cinzentas” de cláusulas 
contratuais nulas, 
podendo o consumidor 
argumentar-se nestas 
para solicitar a nulidade 
do negócio;
• Compete à parte mais 
forte informar a parte 
mais fraca dos termos 
Página273
do contrato, não 
podendo apresentar 
esta informação através 
de letras microscópicas. 
Em caso de desrespeito, 
podem daí resultar 
seguintes 
consequências, de 
acordo com a 
gravidade:
○ Considerar a 
cláusula não 
escrita;
○ Direito a 
indemnização;
○ Interposição de 
processo contra a 
empresa 
fornecedora por 
associação de 
protecção dos 
direitos do 
consumidor.
• Pretende-se conferir 
protecção acrescida à 
parte contratual mais 
fraca.
 Disposições do Código Civil 
que reflectem o princípio da 
igualdade:
• Artigo 437.º - resolução 
ou modificação de 
contratos onerosos por 
circunstâncias 
imprevisíveis que 
alteraram a relação de 
Página274
equilíbrio de prestações 
das partes;
• Artigo 428.º - excepção 
do não cumprimento do 
contrato. Trata-se de 
um meio de tutela 
privada compulsória, 
que pretende manter a 
relação de igualdade 
entre as partes. Seria 
injusto obrigar uma 
parte a cumprir a sua 
obrigação, se a outra 
parte não o fizer;
• Artigo 1424.º - princípio 
da igualdade na 
repartição das 
despesas, em matéria 
de encargos dos 
condóminos. Critério de 
proporcionalidade entre 
condóminos detentores 
de diferentes fracções 
autónomos, em função 
da permilagem;
• Artigo 408.º - a 
alienação de direitos 
reais revela-se um facto 
constitutivo, por acordo 
celebrado e não por 
realização de 
prestações – princípio 
da consensualidade;
• Artigo 796.º - o 
perecimento ou 
deterioração de um 
bem, em negócio 
Página275
jurídico cuja entrega 
não tenha sido, 
imediatamente, por 
vontade do comprador, 
é da responsabilidade 
do adquirente. Para tal, 
houve uma ponderação 
de interesses, tendo em 
vista o equilíbrio de 
prestações.
 “Cláusulas gerais” ≠ 
“Cláusulas contratuais 
gerais”
• Cláusulas gerais – 
técnica legislativa de 
ampliação do âmbito de 
aplicação de uma 
norma, não a 
desenvolvendo de modo 
exaustivo. Fixam-se 
directivas de 
orientação. Por 
exemplo: artigo 70.º do 
Código Civil;
• Cláusulas contratuais 
gerais – constam dos 
contratos de adesão 
pelos consumidores a 
serviços de interesse 
geral fornecidos por 
empresas. São gerais, 
porque se destinam a 
uma massa de clientes. 
○ Princípio da auton omia 
privada
Página276
 Liberdade de conteúdo 
positiva (não se pode ser 
obrigado) e negativa (não 
se pode ser impedido);
 Trata-se de um princípio 
transversal a todos os sub-
ramos do Direito Civil, 
notando-se de modo mais 
aprofundado no Direito das 
Obrigações.
○ Princípio da liberdade 
contratual (artigo 405.º, n.os 1 e 
2)
 Princípio decorrente do 
princípio da autonomia 
privada;
 Liberdade contratual muito 
vasta, que se analisa em 
várias perspectivas:
• Ampla margem de 
fixação das cláusulas 
contratuais;
• Liberdade negativa e 
positiva;
• Possibilidade de 
celebrar os contratos 
nominados (típicos) da 
Lei (presentes no 
Código Civil ou em 
Legislação especial13) ou 
contratos inominados 
(não previstos na Lei);
• Possibilidade de fazer 
combinações de 
contratos:
13 Por exemplo, contrato de locação financeira, vulgarmente designado contrato de 
leasing.
Página277
○ Celebrando no 
mesmo acto, dois 
ou mais 
contratos14;
○ Celebrando um 
contrato misto, isto 
é, um contrato não 
tipificado na Lei, 
que vai buscar 
características de 
outros contratos.
• Possibilidade de 
escolher o sujeito com 
quem se quer contratar.
 Há diversos desvios à 
liberdade contratual, como 
por exemplo:
• Em matéria de 
modelação de contrato 
em Direito do Consumo;
• Obrigação de celebrar o 
contrato com outra 
pessoa, 
independentemente da 
vontade, nas seguintes 
situações:
○ Contrato de 
fornecimento de 
interesse geral. 
Havendo 
monopólio do 
serviço, há 
obrigação de 
14 Por exemplo, contrato de compra e venda, contrato de mútuo e contrato de 
constituição de hipoteca.
Página278
celebração de 
negócio;
○ Contratos 
obrigatórios, 
porque impostos 
por Lei, como por 
exemplo o de 
seguro obrigatório 
de 
responsabilidade 
civil automóvel 
(contra terceiros).
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 13 de Abril de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho N.º 15 (continuação)
○ Questão 1
 O processo de insolvência tem execução 
universal, podendo todo e qualquer credor 
reclamar os seus créditos. Trata-se de uma 
protecção dos direitos de propriedade 
destes indivíduos, atribuindo-se o valor 
correspondente da dívida com a venda 
executiva de bens (massa insolvente);
 Argumentos do Banco Internacional de 
Negócios
• O Banco tem interesse que o bem se 
venda em acção executiva pelo maior 
valor. Logo, importa-lhe a caducidade 
do direito de arrendamento, pois este 
facto conduz à diminuição do valor do 
imóvel;
Página279
• Para o Banco, o direito de 
arrendamento é um “direito real” que, 
nos termos dos n.os 2 e 3 do artigo 
824.º do C.C., conduziria à caducidade 
do contrato, com eficácia oponível erga 
omnes (artigo 1057.º C.C.). Entende 
que o direito de arrendamento é 
inerente a um bem e é oponível a todo 
o novo adquirente. O Banco 
considera que o direito de 
arrendamento tem características 
tais que permitem uma 
equiparação a um direito real;
• Compreensão do elemento 
teleológico do artigo 695.º C.C. (a 
segunda parte deste artigo antecipa o 
vencimento da hipoteca), em confronto 
com o artigo 824.º, n.º2 do C.C. No 
interesse do Banco, este alega que o 
presente artigo visa proteger os 
interesses do credor. De facto, este 
artigo integra-se no regime geral da 
hipoteca, que constitui um direito real 
de garantia do credor. Visa reforçar a 
garantia patrimonial do crédito, 
permitindo-se uma desoneração 
forçada do bem;
• Relacionando o artigo 695.º com o 
artigo 824.º, n.º2 do C.C., podemos 
referir que ele abrange os direitos que 
partilham desta inerência e da 
possibilidade de caducidade. Só assim 
faria sentido o constante do artigo 
695.º C.C., admitindo-se um ónus 
real em matéria de arrendamento;
• Compatibilização do artigo 824.º com o 
artigo 1057.º C.C. O artigo 1057.º C.C. 
Página280
integra-se em matéria de locação, 
enquanto o artigo 824.º C.C. constitui 
uma norma de cumprimento de 
obrigação. Assim, podemos afirmar que 
o regime-regra se encontra no artigo 
1057.º, enquanto o artigo 824.º 
constitui norma especial, aplicável 
nesta circunstância;
• Recurso aos elementos literal, 
sistemático, teleológico e histórico, 
sendo que este último se verifica na 
parte final do enunciado, quando há 
referência a legislação anterior;
• Aplicação analógica do artigo 
824.º, por argumento de igualdade 
de razão e de interesses, com as 
devidas adaptações. Trata-se de uma 
terceira via àquelas que anteriormente 
apresentamos, mas que surte iguais 
efeitos práticos da corrente 
minoritária;
• O artigo 1057.º C.C. apresenta uma 
lacuna de 2.º grau (lacuna 
teleológica),pois devia prever a 
existência de um regime especial, que 
se encontra implicitamente na Lei;
• Como resultado interpretativo, temos 
uma interpretação restritiva do 
artigo 1057.º e uma interpretação 
extensiva do artigo 824.º.
○ Questão 2
 Formulação de norma ad-hoc aplicável ao 
caso concreto;
 Visa-se a protecção da reserva da vida 
privada da fundação e de terceiros 
Página281
constantes das actas, só havendo lugar a 
revelação de informação se estiverem 
em causa interesses superiores, dentro 
das estritas necessidades;
 Só existe protecção de escritura mercantil 
(das sociedades comerciais);
 Ao abrigo do artigo 519.º CPC, poderíamos 
dizer que todas as pessoas (singulares e 
colectivas) estão abrangidas pelo n.º3 do 
referido artigo. Todavia, há lacuna, na 
medida em que não há como encaixar o 
facto em causa na fórmula textual. 
Entende-se que o presente artigo foi 
elaborado a pensar nas pessoas singulares. 
Ainda assim, podia haver lugar a uma 
interpretação extensiva, através do 
elemento teleológico, pois não há razão para 
efectuar distinção (argumento de igualdade 
de razão);
 Note-se a necessidade que o Código 
Comercial sentiu em estabelecer normação 
própria sobre esta matéria. Ainda assim, 
podíamos alegar que apenas se trata de 
uma regra especial que reforça o regime do 
artigo 519.º CPC;
 Os artigos 42.º e 43.º do Código Comercial 
não têm aplicabilidade directa ou indirecta 
neste caso, pois destinam-se a sociedades 
com fins lucrativos, constando, por isso, 
desse Código;
 Poderíamos invocar que, se o legislador não 
teve preocupação em proteger as pessoas 
colectivas, não haveria razão para os 
proteger. Por outro lado, se se considerar 
que há boas razões para proteger as 
pessoas colectivas, admitindo-se existir 
lacuna, há lugar ao recurso a norma ad-hoc, 
Página282
por não haver hipótese a aplicação 
analógica dos artigos do Código 
Comercial.
• A natureza colectiva da pessoa em 
questão no Código, com fins lucrativos, 
não faz sentido para pessoas sem fins 
lucrativos. O texto da norma do artigo 
42.º do Código Comercial não é 
normalmente aplicável a uma 
fundação, o mesmo sucedendo, 
parcialmente, com o n.º2 do artigo 43.º 
desse Código. Trata-se de normas 
expressamente pensadas para uma 
sociedade comercial.
 O julgador deve atender sempre aos 
princípios fundamentais do sistema, 
aquando da elaboração de norma ad-hoc:
• Princípio da descoberta da 
verdade;
• Princípio da reserva da intimidade 
da vida privada da pessoa 
colectiva.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 13 de Abril de 2010 – 15H-16H30 – 
Teórica)
○ Princípio da boa-fé 
 Subjectiva
• Artigo 243.º C.C. – se 
duas pessoas (A e B), de 
conluio, celebram um 
negócio simulado com 
um terceiro (C), que 
desconhece a situação, 
importa proteger este 
Página283
último. Estamos perante 
uma situação em que o 
terceiro actua de boa-
fé, por ignorância 
censurável ou não, 
face à simulação 
anterior. 
Desconhecimento de 
uma situação anterior 
que viola a ordem 
jurídica;
• Artigo 1260.º C.C. – 
posse de boa-fé, neste 
caso, por ignorância 
face a um dado 
estado de coisas.
• Artigo 291.º C.C. ≠ 
Artigo 243.º C.C., pois 
exigem-se requisitos 
mais fortes (ignorância 
não censurável).
 Objectiva – o princípio geral 
da boa-fé coincide com a 
boa-fé objectiva, isto é a 
adopção de um 
comportamento pautado por 
certos cânones de conduta 
fundamentais, tais como agir 
com lealdade e honestidade, 
não omitir informações ou 
não utilizar artifícios.
• Artigo 762.º C.C. – 
integra-se no regime do 
capítulo do 
cumprimento e 
incumprimento de 
Página284
obrigações. O n.º2 
consagra que as partes 
devem agir de boa-fé, 
como modo de conduta;
• Artigo 227.º C.C. – 
responsabilidade civil 
pré-contratual. Trata-se 
de um artigo que tem 
sido alvo de abundante 
reflexão doutrinal e 
jurisprudencial. 
Consagra o modo como 
as partes se devem 
comportar antes da 
celebração do contrato, 
considerando os 
interesses da 
contraparte e agindo de 
modo leal e honesto, 
sem ocultação de 
informação. O 
incumprimento destes 
cânones pode ter como 
consequência a 
nulidade do negócio. Se 
a contraparte teve 
despesas, a propósito 
do contrato e antes da 
sua celebração, e eu 
decido abortá-lo nesse 
momento, há um 
desrespeito pelo 
princípio da 
confiança.
• Artigo 334.º C.C. – 
abuso do direito, por 
exercício de um direito 
Página285
com uma conduta de 
má-fé, de ilegítima 
confiança por parte da 
contraparte. 
○ Princípio da proibição da auto- 
defesa de direitos próprios: 
constituem excepções, ao artigo 
1.º do CPC, os artigos 336.º e 
seguintes do Código Civil;
○ Princípio da liberdade 
declarativa, consagrado no 
artigo 219.º C.C., excepto se for 
exigida uma forma prevista na Lei 
(por exemplo, no contrato de 
compra e venda – artigo 875.º 
C.C.). A inobservância da forma 
exigida por Lei implica a nulidade 
do negócio jurídico;
○ Princípio da nulidade dos 
actos e negócios jurídicos 
violadores de disposições 
legais imperativas
 Artigo 294.º C.C. – a 
inobservância de norma legal 
imperativa implica a nulidade 
do negócio jurídico. Este 
artigo admite interpretação 
extensiva, nos casos de 
fraude à lei, em que a prática 
de um acto não violador das 
Página286
disposições legais repercute 
os mesmos efeitos nefastos, 
contornando a Lei. Por 
exemplo, as sociedades 
offshore. O artigo 295.º 
também abrange actos 
jurídicos que não sejam 
negócios jurídicos;
 Artigo 875.º - a não 
observância da forma legal 
prevista conduz à nulidade 
do negócio jurídico;
 Artigo 876.º - consequências 
de fraude à Lei.
• Estrutura das relações jurídicas 
civis
○ Noção de ónus (recordar) – não 
implica a obrigatoriedade de 
cumprimento de um dever 
jurídico, mas sim a conveniência 
da prática para garantir uma 
vantagem ou impedir uma 
desvantagem;
○ Critérios:
 1 – As relações jurídicas 
podem ser obrigacionais, 
reais, familiares, 
sucessórias e pessoais, de 
acordo com o ramo de 
Direito Civil;
 2 – As relações jurídicas 
podem ser patrimoniais ou 
pessoais, em função da 
possibilidade de avaliação 
pecuniária da relação. Como 
Página287
exemplo das primeiras, 
temos a atribuição de bens 
comuns do casal, já da 
segunda podemos invocar a 
exigência de fidelidade do 
cônjuge. Em Direito das 
Sucessões, com a morte, não 
se extinguem as relações 
jurídicas patrimoniais do 
falecido. O artigo 71.º C.C. 
consagra a protecção do 
bom-nome da família, ao ser 
denegrida a imagem do 
falecido;
 3 – As relações jurídicas 
podem ser simples ou 
complexas. Uma relação 
jurídica simples constitui um 
vínculo entre duas pessoas, 
sobre as quais recai uma 
posição activa para uma e 
uma posição passiva para 
outra. Estas relações são 
raríssimas. Por outro lado, as 
relações jurídicas complexas 
envolvem, para ambas as 
partes, uma multiplicidade 
de direitos e obrigações, não 
sendo possível definir, com 
precisão, uma posição activa 
e uma posição passiva. 
○ Reconhece-se a possibilidade de 
existir uma eficácia póstuma de 
uma relação jurídica, após a sua 
cessação;
Página288
○ Note-se que as relações jurídicas 
podem ter uma multiplicidade desujeitos de Direito envolvidos. 
Veja-se o exemplo da constituição 
de uma sociedade comercial, 
composta por vários sócios;
○ Relações jurídicas complexas 
(distinção de direitos e deveres)
 Direitos e deveres de crédito 
típicos de cada relação 
jurídica – direitos e 
deveres principais, que 
definem a relação jurídica, 
decorrendo directamente do 
contrato;
 Direitos e deveres 
relacionados com o princípio 
da boa-fé – direitos e 
deveres acessórios ou de 
conduta. Por exemplo, o 
dever de informar sobre uma 
característica específica do 
bem, para evitar lesões 
corporais.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 16 de Abril de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
• Elementos da relação jurídica
○ Sujeitos 
 Titular de posição activa 
(direitos) e posição passiva 
(deveres);
Página289
 Conceito de personalidade 
jurídica – grande atributo de 
todos os seres humanos, não 
o sendo naturalmente das 
pessoas colectivas;
 Artigos 66.º e 67.º C.C., 
relativos, respectivamente, à 
personalidade jurídica 
(conceito qualitativo) e à 
capacidade jurídica de 
gozo (conceito quantitativo);
 Capacidade jurídica de 
exercício – pressupõe a 
capacidade jurídica de gozo e 
corresponde ao poder de, 
autonomamente ou sob 
representação voluntária, se 
vincular a direitos e deveres;
 Artigo 66.º, n.º1 C.C. – 
aquisição da 
personalidade com o 
nascimento completo e 
com vida
• Nascimento completo 
– implica completa 
autonomização corporal 
em relação à mãe, com 
o corte do cordão 
umbilical. Trata-se de 
uma questão discutível 
que envolve matéria de 
cariz moral e 
entendimentos 
médicos;
• Nascimento com vida 
– não pode ser um 
nado-morto. A partir do 
Página290
momento em que 
nasceu com vida, ainda 
que apenas esteja vivo 
durante uma fracção de 
segundo, entende-se 
que foi portador de 
direitos e obrigações, 
isto é, de personalidade 
jurídica.
 A questão que se coloca, 
acerca deste artigo, prende-
se com uma possível 
verificação de 
inconstitucionalidade, face 
ao direito à vida e à 
dignidade da pessoa 
humana. Tal entendimento é 
seguido por aqueles que 
assumem a concepção 
como o momento de 
aquisição de personalidade 
jurídica. Ora, nestes termos, 
tornar-se-ia inviável a 
Interrupção Voluntária da 
Gravidez (IVG), sendo 
considerada crime. Nesta 
corrente, integram-se 
Meneses Cordeiro, Mário 
Bigotte Chorão e Pais de 
Vasconcelos. Consideram 
que os nascituros concebidos 
são portadores de 
personalidade jurídica, sendo 
que, na opinião de Meneses 
Cordeiro, apenas são 
portadores do direito à vida. 
Página291
Para os outros autores, os 
nascituros são titulares de 
todos os direitos e estão 
adstritos a todas as 
obrigações. Trata-se de uma 
concepção utópica, dada a 
nítida diferença entre 
nascituros e indivíduos 
nascidos completos e com 
vida. Nos termos do n.º2 do 
artigo 66.º C.C., coloca-se 
uma questão a estes autores: 
o direito à indemnização faz 
sentido com a morte do 
nascituro, antes do 
nascimento completo e com 
vida? Neste campo, 
reconhecem que não faz 
sentido, pois a existência 
desses direitos, formados na 
esfera jurídica da criança, só 
fazem sentido com o 
nascimento completo e com 
vida;
 Direitos reconhecidos aos 
nascituros concebidos ou 
não concebidos 
(concepturos)
• Aos nascituros, 
conferem-se direitos 
patrimoniais e alguns 
direitos pessoais;
• Aos concepturos, 
apenas são 
reconhecidos direitos 
patrimoniais.
Página292
• Direitos de natureza 
não patrimonial
○ Artigo 70.º C.C. – 
não faz referência 
aos nascituros, 
mas, pela 
interpretação feita, 
considera-se que 
este também se 
aplica aos 
nascituros 
concebidos;
○ Artigo 1878.º C.C. 
– dever de 
representar “…
ainda que 
nascituros…”;
○ Artigo 1826.º C.C. 
– referência aos 
nascituros 
concebidos sem 
atribuição de 
direitos;
○ Artigo 1824.º C.C. 
– perfilhação 
voluntária de um 
nascituro.
• Direitos de natureza 
patrimonial
○ Artigo 952.º C.C. – 
doação em favor 
de nascituros 
Página293
concebidos ou não 
concebidos;
○ Artigo 2033.º C.C. 
– capacidade 
sucessória dos 
nascituros 
concebidos. O n.º2 
confere 
capacidade 
sucessória, na 
sucessão 
testamentária ou 
contratual, 
abrange 
concepturos;
○ Artigo 2240.º C.C. 
– administração da 
herança por 
nascituro 
concebido ou não 
concebido.
 Capacidade jurídica de 
gozo (artigo 67.º C.C.) – 
atributo necessário de toda a 
pessoa singular com 
personalidade jurídica. 
Situações em que ela é 
retirada:
• Direito das Sucessões – 
artigo 2189.º C.C. 
(sujeitos incapazes de 
exercício e de gozo, não 
podendo redigir o 
testamento 
autonomamente ou 
Página294
através de 
representante);
• Direito da Família – 
artigo 1601.º C.C. 
(impedimentos 
dirimentes absolutos 
para contrair 
casamento, não se 
admitindo procuração 
ou representação legal); 
artigo 1631.º C.C. 
(causas de 
anulabilidade do 
casamento); artigo 
1850.º C.C. 
(incapacidade de gozo 
para perfilhação); artigo 
1861.º C.C. 
(requerimento para 
anulação de perfilhação 
por incapacidade);
• Indisponibilidades 
relativas – artigos 
2192.º e seguintes do 
C.C. (sobre testamento) 
e artigo 953.º C.C. 
(sobre doação) – 
incapacidade de gozo 
para deixar bens, nem 
através de 
representante. Também 
artigo 877.º C.C. (venda 
a filhos e netos).
 Termo da personalidade 
(artigo 68.º C.C.) – a 
Página295
personalidade jurídica cessa 
com a morte. 
• Há lugar à extinção de 
grande parte dos 
direitos da esfera 
jurídica do indivíduo, 
principalmente direitos 
pessoais, mas também 
alguns patrimoniais. Por 
exemplo: artigo 1443.º 
C.C. (limite máximo de 
usufruto atingido com a 
morte do usufrutuário, 
não transmissível por 
via sucessória); artigo 
1256.º C.C. (acessão na 
posse – invocação de 
direito de propriedade 
por usucapião, juntando 
a posse do vendedor à 
do actual possuidor); 
artigo 1255.º (sucessão 
na posse – poder 
patrimonial que se 
transfere para a esfera 
jurídica dos sucessores, 
havendo uma simples 
continuação na posse, 
mesmo estando o 
sucessor de má-fé);
• Momento da morte 
estabelecido por Lei – 
morte cerebral. Esta 
matéria foi discutida a 
propósito do transplante 
e doação de órgãos 
Página296
provenientes de 
pessoas vivas e mortas.
○ Artigo 68.º, n.º2 
C.C. – presunção 
quanto ao 
momento de 
conveniência da 
morte. Presume-se 
que morreram 
ambas as pessoas 
ao mesmo tempo. 
Trata-se de uma 
presunção relativa, 
ilidível se houver 
prova científica em 
contrário;
○ Artigo 68.º, n.º3 – 
presunção da 
morte. Estabelece 
o regime da 
“morte técnica”, 
ainda que o 
cadáver não seja 
encontrado. Os 
artigos 114.º e 
seguintes 
relacionam-se com 
o pedido de 
declaração de 
morte presumida, 
pelo facto de o 
desaparecimento 
ter ocorrido após 
10 anos 
decorridos. 
Importa ressalvar o 
artigo 119.º C.C., 
Página297
sobre o regresso 
do ausente.
• Existência do dano 
“morte”, a favor dos 
falecido, tendo sido 
afectada a sua esfera 
jurídica e se transmite 
por efeitos sucessórios.
○ Artigo 496.º, n.º2 
C.C. – 
indemnização aos 
familiares, como 
forma de 
compensação por 
danos não 
patrimoniais. Faria 
sentido 
autonomizar este 
dano, admitido nos 
tempos actuais?15 Incapacidade de exercício 
(art. 122.º e seguintes do 
C.C.)
• Capacidade negocial 
– aspecto associado à 
capacidade de 
exercício, que consiste 
no poder de, 
autonomamente, 
15 No caso das seguradoras, quanto maior a idade do falecido, menor a 
indemnização.
Página298
celebrar negócios 
jurídicos;
• Capacidade delitual 
(artigo 488.º C.C.) – 
prática de facto ilícito, 
que se relaciona com 
imputabilidade, isto é, a 
susceptibilidade de juízo 
de censura por culpa. 
Denomina-se actio 
liberi in causa a acção 
de quem usa, de modo 
deliberado, um meio 
para se colocar em 
estado de incapacidade 
física ou mental, parcial 
ou plena, no momento 
da ocorrência do facto 
criminoso. É também a 
acção de quem, apesar 
de não ter a intenção de 
praticar o delito, podia 
prever que tal meio o 
levaria a cometê-lo. 
Noutras palavras, é a 
acção de se deixar ficar 
num estado de 
inconsciência, culposa 
ou não (por exemplo: 
embriaguez).
○ É possível a 
presunção de 
culpa de um menor 
de 16 anos.
Página299
• Capacidade judiciária 
– encontra-se associada 
à personalidade 
judiciária, isto é, à 
possibilidade de ser 
parte numa acção, 
aplicando-se a pessoas 
singulares e colectivas. 
Encontra-se previsto na 
Lei Processual Civil que, 
por via da 
representação, um 
condomínio ou um navio 
possam ser portadores 
de personalidade 
judiciária;
• Incapacidade 
acidental – difere de 
estados permanentes 
de incapacidade (como 
anomalia psíquica), 
constituindo um estado 
meramente transitório. 
O artigo 257.º C.C. 
prevê a anulabilidade 
de um negócio jurídico 
praticado nestas 
circunstâncias (de modo 
involuntário).
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 20 de Abril de 2010 – 11H-13H – 
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º16
Página300
○ Questão 1
 Direito de preferência contratual – artigo 
414.º e seguintes;
• Os pactos de preferência podem ter 
origem legal ou convencional;
• O direito de preferência presente neste 
caso não é contratual, mas resulta de 
disposição legal;
• Como exemplo de direito de 
preferência, temos o pacto que confere 
o direito de tanteio (como designado 
no Código de Seabra) ou prelação em 
favor do vizinho que habita em prédio 
contíguo, aceitando os termos e 
condições negociadas com terceiros. É 
efectuada comunicação (escrita) para 
preferência, com prazo para preferir. 
Se o vizinho o exercer, o vendedor terá 
que vender o imóvel a ele;
• Artigo 1380.º C.C. - Direito de 
preferência legal, sendo que o n.º2 
prevê a situação de haver mais do que 
um titular do direito de preferência;
• Artigo 1381.º C.C. – Casos em que não 
há direito de preferência;
 A questão que se coloca, nesta situação 
apresentada, é verificar se existe um direito 
de preferência. Pelos dados fornecidos, 
faríamos o seguinte esquema interpretativo:
• Recurso ao elemento teleológico – o 
decreto-lei n.º 384/88 visa reforçar a 
competitividade da agricultura 
portuguesa, dados os elementos 
conhecidos e constantes do Preâmbulo. 
Note-se que o artigo 1380.º C.C. não foi 
revogado;
Página301
• Recurso ao elemento gramatical – 
para análise do artigo 18.º, n.º1 do 
Decreto-Lei, parecendo dar razão a 
André;
• Recurso ao elemento histórico 
(occasio legis) – circunstancialismos 
económicos e sociais, politicamente 
determinadas, que motivaram a 
elaboração da norma. Importa recordar 
a adesão à União Europeia e a Revisão 
Constitucional de 1989;
• Recurso ao elemento sistemático – 
conjugar o artigo 1380.º C.C. com o 
artigo 18.º do Decreto-Lei.
• Todavia, o real objectivo deste decreto-
lei foi, precisamente, evitar o 
progressivo fraccionamento dos 
terrenos agrícolas. Entende-se, por 
isso, que o artigo 1380.º não era 
suficientemente capaz de prosseguir 
este objectivo. Seria, então, o Decreto-
Lei mais um instrumento para 
prosseguir este fim;
• O artigo 18.º do Decreto-Lei é 
susceptível de dúvida, quanto à sua 
redacção, se se efectuar uma 
interpretação com base, apenas, na 
“letra da lei”. Esta redacção iria contra 
a teleologia do Decreto-Lei de 1988, 
havendo lugar a uma interpretação 
restritiva do mesmo. Deve, por isto, 
entender-se que o referido artigo se 
aplica quando um dos terrenos, 
pelo menos, tem uma área inferior 
à unidade mínima de cultur a ;
Página302
• Assim, André não seria titular de um 
direito de preferência.
○ Questão 2
 Em acção executiva para cumprimento 
forçado das prestações:
• Artigo 733.º C.C. e seguintes – 
Privilégios creditórios
○ Artigo 735.º C.C. – Privilégios 
creditórios mobiliários (são gerais) 
e imobiliários (são sempre 
especiais);
○ Existem privilégios creditórios 
imobiliários gerais não previstos 
no Código Civil (por exemplo, no 
Código do Imposto sobre o 
Rendimento das Pessoas 
Colectivas – CIRC), cujo regime 
não se encontra previsto, o que 
implica recurso analógico do 
regime previsto em número 
anterior;
○ Artigo 751.º C.C. – privilégio 
imobiliário especial prefere sobre 
garantias anteriores;
○ Compete ao Banco analisar o 
regime jurídico dos privilégios 
creditórios e verificar se há norma 
aplicável, por analogia mais 
favorável.
○ Os artigos 749.º, 750.º e 751.º do 
C.C. são aplicáveis num concurso 
entre privilégio creditório e outro 
direito. Os artigos 749.º, n.º1 e 
750.º apenas se aplicam a 
privilégios creditórios mobiliários 
gerais, sendo que, no primeiro 
Página303
artigo prevalece a hipoteca 
(direito de terceiro oponível ao 
exequente e erga omnes) e no 
segundo prevalece, igualmente, a 
hipoteca, porque foi constituída 
em primeiro lugar. Estes artigos 
não são passíveis de aplicação 
directa no caso apresentado, nos 
termos do artigo 735.º, n.º3 do 
C.C;
○ Estando perante uma lacuna da 
Lei, podemos colocar a questão 
se é equiparável um privilégio 
imobiliário geral face a um 
privilégio imobiliário especial. Ora, 
um direito real tem 
necessariamente de incidir 
sobre coisa certa e 
determinada. Os privilégios 
creditórios gerais (detidos pela 
Fazenda Nacional e pela 
Segurança Social) não incidem 
sobre coisas certas e 
determinadas na sua constituição, 
não constituindo verdadeiros 
direitos reais. Portanto, não são 
oponíveis erga omnes;
○ O privilégio creditório 
imobiliário geral é mais próximo 
de um privilégio creditório 
mobiliário geral do que um 
privilégio creditório imobiliário 
especial.
➢ Ficha de Trabalho n.º17
○ Questão 1
Página304
 Aplica-se, no presente caso, a interpretação 
extensiva da expressão “relação jurídica”, 
entendendo-se como “situação jurídica”, 
que incide também sobre direitos absolutos, 
como direitos reais;
 Pretende-se regular, com a Lei nova, uma 
relação jurídica real. Logo, em matéria de 
estatuto real, a Lei nova aplica-se mesmo 
aos direitos reais já constituídos.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 20 de Abril de 2010 – 15H-16H30 – 
Teórica)
 Incapacidade de exercício 
(art. 122.º e seguintes do 
C.C.)
• Artigo 122.º C.C. – 
menoridade. Está 
vedada a prática de 
actos autónomos, 
pessoais e de conteúdo 
patrimonial, por falha 
volitiva e cognitiva;
• Difere das 
incapacidades de gozo 
de testar (artigo 2189.º 
C.C.), de perfilhar e de 
casar;
• Artigo 125.º, n.º1 C.C. – 
Se o acto for realizado 
sem representação 
legal, é anulável, de 
modo a proteger os 
interesses particulares.A anulabilidade não 
Página305
pode ser invocada por 
toda e qualquer pessoa, 
estando sujeita a um 
elenco taxativo (menor 
ou quem cura dos seus 
interesses). O n.º2 do 
mesmo artigo prevê que 
a anulabilidade é 
sanável mediante 
confirmação do menor, 
logo que atinja a 
maioridade ou esteja 
emancipado, ou pelo 
seu representante legal. 
A anulabilidade pode 
ser alegada no prazo de 
um ano;
• O momento de 
contabilização do prazo 
de prazo de arguição de 
anulabilidade difere 
entre a incapacidade de 
exercício em geral 
(artigo 287.º C.C.) e a 
incapacidade de 
menores (artigo 125.º 
C.C.);
• Nos termos do artigo 
287.º, n.º2 C.C., a 
anulabilidade pode ser 
arguida antes de se 
cumprir o negócio;
• Artigo 126.º C.C. – Dolo 
do menor (ver definição 
legal de dolo – artigo 
253.º C.C.) – uso de 
dolo para se fazer 
Página306
passar por maior, 
não merecendo, por 
isso, protecção. 
Assim, o negócio é 
válido, não havendo 
lugar a invocação da 
anulabilidade do menor. 
Há lugar a interpretação 
extensiva do artigo 
126.º C.C., dada a sua 
finalidade, não se 
conferindo a 
possibilidade de 
nenhum dos legais 
representantes para 
arguir a anulabilidade;
• Artigo 127.º C.C. – 
excepções à 
incapacidade de 
exercício de direitos por 
menores;
• Artigo 128.º C.C. – 
dever de obediência aos 
pais ou tutor;
• Artigo 132.º C.C. – 
emancipação apenas 
através do casamento;
• Artigo 133.º C.C. – 
emancipação atribui 
plena capacidade de 
exercício de direitos, 
salvo o disposto no 
artigo 1649.º C.C., a 
propósito do casamento 
de menor, com idade 
compreendida entre os 
16 e os 18 anos (artigo 
Página307
1601.º - idade núbil 
mínima é 16 anos), sem 
consentimento. Trata-se 
uma protecção do 
menor face à 
possibilidade do outro 
nubente se aproveitar 
deste, dada a sua 
fragilidade. Assim, o 
menor não goza de 
plena capacidade de 
administração e 
disposição dos bens).
• Artigos 138.º a 151.º 
C.C. – interdição;
• Artigo 139.º C.C. – 
aplica-se o regime da 
menoridade.
• Afectação das 
faculdades volitivas e 
cognitivas;
• Tem de ser decretada 
pelo tribunal, por 
anomalia psíquica 
duradoura, surdez-
mudez ou cegueira;
• Pressupostos:
○ A causa da 
interdição tem de 
ser actual;
○ Causa habitual;
○ Elevado nível de 
incapacidade 
implica afectação 
muito grave – 
Página308
critério de máxima 
gravidade (≠ art. 
152.º - causas 
menos graves).
• Incapacidades 
excepcionais de gozo:
○ De casar;
○ De perfilhar (art. 
1850.º C.C.);
○ De testar (art. 
2189.º C.C.)
• Interdição mais grave é 
a anomalia psíquica. 
Trata-se de um conceito 
indeterminado, 
maleável com a 
evolução social, 
associado à demência, à 
esquizofrenia;
• Utilização indevida da 
Lei de Saúde Mental 
para internamento 
compulsivo de idosos;
• Artigo 141.º C.C. – 
legitimidade para 
requerer interdição (o 
mesmo se aplica para 
inabilitação). Verifica-se 
a elevada rigidez do 
legislador para admitir a 
possibilidade de o 
próprio indivíduo 
solicitar a interdição ou 
inabilitação;
• Artigo 143.º C.C. – a 
quem incumbe a tutela;
Página309
• Supressão da 
menoridade e da 
interdição através do 
instituto da 
representação legal , 
através do poder 
paternal (comum no 
caso da menoridade), 
do poder tutelar 
(comum no caso da 
interdição) ou do 
administrador legal 
de bens (entrega dos 
bens patrimoniais para 
administração legal e 
representação em 
relação a esses bens – 
artigo 1922.º C.C.);
• Artigo 1877.º C.C. e 
seguintes – poder 
paternal / 
responsabilidade 
paternal;
• Artigo 1913.º C.C. – 
inibição do poder 
paternal (ausentes e 
interditos);
• Efeitos da interdição 
(artigos 148.º a 150.º 
do C.C.) – Distinção de 
momentos temporais:
○ Actos anteriores 
à interdição que 
exigem a registo 
civil (proposição da 
acção) não sujeitos 
a anulabilidade, 
Página310
mas se for nítida a 
condição de 
incapacidade, há 
lugar a 
incapacidade 
acidental para 
protecção de 
terceiros e a 
declaração de 
anulabilidade;
○ No decurso da 
acção de 
proposição, os 
negócios são 
anuláveis, sob 
condição de 
declaração futura 
de interdição, 
acautelando 
prejuízos para 
terceiros;
○ Depois da acção 
de proposição.
• Prazo para requisição 
da anulabilidade – 1 
ano;
• Levantamento da 
interdição – por decisão 
judicial.
• Artigos 152.º a 156.º 
C.C. – inabilitação
• Artigo 156.º - nas 
situações não 
reguladas, aplica-se o 
regime da interdição;
Página311
• Causas – para além das 
situações já referidas 
(mas com menor 
gravidade), temos a 
prodigalidade ou o 
consumo de bebidas 
alcoólicas;
• Causas da 
inabilitação:
○ Actual;
○ Permanente;
○ Menos gravosa.
• Suprimento da 
inabilitação:
○ Instituto da 
assistência – 
permite ao 
inabilitado celebrar 
negócios jurídicos 
com autorização 
do curador. Tem 
poder sobre os 
seus bens, 
definidos em 
sentença proferida 
em tribunal;
○ Actos de 
disposição de 
bens – a alienação 
ou destruição de 
um bem, com 
diminuição do seu 
valor, implicam 
autorização do 
curador;
○ Actos de simples 
administração 
Página312
dos bens (art. 
153.º/154.º C.C.) – 
maior 
maleabilidade do 
julgador na 
decisão:
 1. Se for 
considerada 
plena 
capacidade 
de 
administraç
ão de bens;
 2. Necessita 
de 
assistência 
do curador;
 3. Regime da 
representaç
ão em 
relação à 
administraç
ão de bens 
(porventura 
mais valiosos) 
– substituição 
pelo 
administrador 
(curador) com 
poderes 
representativ
os (artigo 
154.º C.C.)
○ Artigo 155.º C.C. – 
Levantamento da 
inabilitação nos 
Página313
casos 
especificados. 
Implica trânsito de 
5 anos;
○ Incapacidades de 
gozo dos 
inabilitados:
 De casar 
(artigo 
1601.º, b) 
C.C.);
 De perfilhar 
(artigo 
1850.º, n.º2 
C.C.), no caso 
de notória 
demência;
 Inibição de 
representaçã
o e 
administração 
de bens 
(artigo 1913, 
n.º2 C.C.), no 
caso de 
padecer de 
anomalia 
psíquica.
○ A doação de um 
bem do filho 
implica autorização 
judicial (artigo 
1889.º C.C.);
○ Autorização do 
tribunal suprime 
impedimento 
Página314
colocado pelo 
curador para a 
celebração de 
negócios jurídicos.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 23 de Abril de 2010 – 9H30-11H – 
Teórica)
 Pessoas colectivas:
• Associações;
• Fundações;
• Sociedades.
• O Código Civil 
desenvolve 
principalmente as 
associações e 
fundações. No que 
concerne às sociedades, 
apenas as sociedades 
civis são reguladas no 
Código Civil;
• Elementos a 
considerar na 
atribuição de 
personalidade 
jurídica:
○ De facto / 
substrato
 Conjunto de 
bens 
afectados 
Página315
(nas 
fundações);
 Pessoas que 
contribuam 
com a sua 
actividade 
para a 
prossecução 
de interesses 
sociais (nas 
associações);
 Pessoas que 
contribuam 
com bens e 
serviços para 
a prossecução 
de uma 
finalidade 
económica 
(nas 
sociedades).
○ Jurídico / de 
Direito / 
Reconhecimento 
da legalidade
 Associações 
– dois 
regimes em 
vigor e em 
paralelo 
desde 2007: 
escritura 
pública (mais 
formal, pelo 
notário), com 
publicidade 
Página316
da 
constituição, 
através da 
Conservatória 
do Registo 
(pelo 
conservador); 
“associaçõesna hora” 
(medida 111 
do “Simplex”, 
desde 2007), 
não exige 
escritura 
pública, 
apenas 
documento 
escrito, com 
reconhecimen
to das 
assinaturas, 
no seio das 
conservatória
s;
 Fundações – 
processo 
semelhante 
ao das 
associações, 
através de 
escritura 
pública, com 
controlo pela 
Conservatória 
do Registo 
Comercial, 
Página317
Ministério da 
Administração 
Interna e 
Presidência 
do Conselho 
de Ministros;
 Sociedades – 
até há pouco 
tempo, era 
exigida 
escritura 
pública. Com 
a 
desformalizaç
ão dos actos 
inerentes à 
formação de 
sociedades 
comerciais, é 
suficiente 
documento 
escrito. 
Implica 
controlo pela 
Conservatória 
do Registo 
Comercial. Só 
existe 
“sociedade” a 
partir do 
registo na 
Conservatória 
do Registo 
Comercial.
Página318
• Sociedades de Direito 
comercial – 
organizações que 
contribuem com bens e 
serviços para o 
desempenho de uma 
actividade comercial (≠ 
sociedades civis);
○ Categorias híbridas 
– sociedades civis 
sob a forma 
comercial (por 
exemplo: por 
quotas).
• Sociedades 
unipessoais por 
quotas – foge à regra 
geral, por ter apenas 
um sócio;
• Sociedades 
comerciais – 
distinguem-se em 
função do nível de 
responsabilidade 
assumido perante 
terceiros:
○ Por quotas – 
responde o capital 
da sociedade e, se 
necessário, cada 
sócio responde 
pela sua quota. Os 
Página319
restantes sócios 
podem assumir a 
quota em falta de 
outro sócio, no 
capital social 
(responsabilidade 
limitada);
○ Anónimas – cada 
accionista é 
responsável pela 
sua parte do 
capital da 
sociedade. Não é 
possível atingir o 
património do 
accionista16 
(responsabilidade 
limitada);
○ Em nome 
colectivo – em vi 
de extinção, na 
medida em que há 
lugar a 
responsabilização 
pessoal, não 
respondendo só a 
pessoa colectiva, 
com o património 
social. Responde o 
património dos 
sócios, 
solidariamente, na 
insuficiência do 
património social 
(património à 
16 Apenas numa situação de má gestão da sociedade se pode atingir o património 
individual dos accionistas. Trata-se de uma situação excepcional.
Página320
mercê dos 
credores);
○ Em comandita – 
envolvem um 
regime híbrido, 
havendo sócios 
comanditários17 
(apenas injectam 
capital) e sócios 
comanditados18 
(prestam serviço à 
sociedade, através 
do desempenho de 
actividade).
• O Código Civil prevê a 
hipótese de constituição 
de sociedades civis, 
reguladas ao abrigo do 
regime de pessoas 
colectivas, que também 
podem ser abrangidas 
pelo regime especial 
constante de diploma 
avulso (por exemplo: 
Sociedades de 
Advogados);
• O Código Civil regula 
um tipo de entidade 
desprovida de 
personalidade jurídica 
(que não é sujeito de 
direito), com finalidades 
transitórias. Por 
17 Pode aplicar-se o regime de sociedade por acções, sem poder de administração, 
mas com responsabilidade limitada.
18 Responsabilidade subsidiária face ao capital social, respondendo solidariamente 
na insuficiência deste (regime análogo ao das sociedades em nome colectivo).
Página321
exemplo, Comissões de 
Festas, que angariem 
fundos e efectuem 
despesas (artigos 195.º 
e seguintes C.C.);
• Capacidade de gozo 
das pessoas 
colectivas (artigo 12.º 
CRP e artigo 160.º C.C.) 
– apresentam uma 
incapacidade parcial de 
gozo, isto é, um elenco 
de direitos de que não 
podem ser titulares. Por 
exemplo, artigos 1484.º 
e seguintes C.C., 
relativos ao uso e 
habitação, direito real 
intuitu personae, 
vedado às pessoas 
colectivas;
• Limitações ao nível 
da capacidade 
sucessória:
○ Sucessão 
legitimaria – 
regime imperativo 
que limita a 
liberdade 
sucessória (quota 
de património 
indisponível). Não 
podem integrar a 
sucessão 
legitimaria;
Página322
○ Sucessão 
legítima – regime 
supletivo que se 
aplica quando não 
há uma disposição 
plena do 
património (na 
ausência de 
sucessão 
legitimaria), em 
último caso o 
Estado, que 
constitui a única 
pessoa colectiva 
considerada 
herdeiro 
legítimo;
○ Sucessão 
testamentária – 
é possível deixar 
bens a pessoa 
colectiva, por via 
de testamento 
(capacidade 
testamentária 
passiva). As 
pessoas 
colectivas não 
gozam do direito 
de testar, pois 
elas não morrem, 
apenas se 
extinguem.
• Artigo 160.º C.C. – as 
pessoas colectivas 
Página323
não podem ser 
titulares de relações 
colectivas fora do fim 
a que se destinam. 
Gozam, contudo, da 
possibilidade de 
efectuar doações que se 
enquadrem no fim 
prosseguido (acto 
gratuito funcionalizado 
aos interesses das 
pessoas colectivas). 
Também o aval 
prestado a dívida de 
terceiro é permitido, 
desde que dentro dos 
interesses prosseguidos 
pela empresa;
• Artigos 157.º e 
seguintes do Código 
Civil – regime das 
pessoas colectivas.
○ Não existe capítulo 
associado às 
sociedades civis, 
apenas em 
discurso doutrinal;
○ Artigo 980.º C.C. 
(sociedades civis) – 
regime nuclear da 
sociedade de 
pessoa colectiva;
○ Existem normas 
remissivas do 
Código das 
Sociedades 
Página324
Comerciais para o 
Código Civil. 
○ Objecto 
 Realidade ou bem sobre o 
qual incide o direito da 
relação jurídica;
 Espécies de objectos:
• Prestações 
(comportamento 
exigido a outrem, em 
matéria de direitos de 
crédito)
○ Objecto mediato 
(o bem, a própria 
coisa. Por 
exemplo: imóvel) 
≠ objecto 
imediato 
(exigência de uma 
actividade ou 
comportamento 
devido. Por 
exemplo: 
comportamento de 
entrega do bem).
• Coisas (em matéria de 
direitos reais)
○ Artigo 202.º e 
seguintes C.C. – 
elenco de coisas 
Página325
que podem ser 
objecto de relação 
jurídica. O n.º2 
distingue entre 
coisas públicas e 
coisas privadas 
ou coisas fora do 
comérci o 19 e 
coisas dentro do 
comércio;
○ Artigo 204.º C.C. – 
coisas móveis e 
coisas imóveis. 
Este artigo 
apresenta o elenco 
de coisas imóveis, 
sendo que o artigo 
205.º C.C., por 
exclusão de 
partes, tudo o 
restante é bem 
móvel;
○ Artigo 408.º - 
contratos com 
eficácia real por 
mero consenso ou 
transferência de 
propriedade de 
coisa futura, 
apesar de haver 
consenso, só 
ocorre no 
momento em que 
se torna presente 
do ponto de vista 
19 As coisas fora do comércio pertencem ao domínio público do Estado.
Página326
jurídico (≠ 
naturalístico);
○ Bens 
originariamente 
móveis que se 
tornam imóveis: 
partes 
componentes20 
(incorporação de 
elemento essencial 
para a existência 
de bem imóvel, 
cuja ausência 
constitui prejuízo 
para o bem, como 
por exemplo a 
destruição, 
enquanto não 
houver destaque 
material) e partes 
integrantes21 
(ligação material 
de elementos não 
fundamentais ao 
bem imóvel, mas 
que integraram o 
negócio jurídico de 
venda imóvel – 
artigo 204.º C.C.) 
de imóveis;
○ Artigo 210.º C.C. – 
coisa acessória22 
(bens móveis) que 
20 Por exemplo: telhas e janelas.
21 Por exemplo: ar condicionado, aquecimento central e antena TV.
22 Por exemplo, mobílias.
Página327
não constituem 
parte integrante e 
que constituem 
ornamento, 
servindo o bem 
imóvel. O preço de 
venda não abrange 
estes bens, salvo 
menção expressa 
no contrato;
○ Prédio rústico e 
prédio urbano 
(n.º2 do artigo 
204.º C.C.) – 
segue-se o critério 
económico e 
funcional para se 
distinguir as partes 
mais

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