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Celso Furtado - Subdesenvolvimento e Estagnação na América Latina Cap. 4

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Universidade Federal da Bahia
Estudos do Desenvolvimento
Docente: Marcos Guedes
Discente: Priscila Valverde Pacheco dos Santos
Em seu livro Subdesenvolvimento e Estagnação na América Latina, especificamente no capítulo 4, Celso Furtado narra o processo de implementação do mercado interno brasileiro, surgido não por uma consciência de que se era necessário industrializar-se para alcançar o desenvolvimento, mas por demandas ocasionais, por assim dizer.
As grandes plantações de café feitas ao impulso dos preços altos no cenário internacional levaram o país a uma grande crise de superprodução, exatamente quando o preço do produto havia reduzido mais que a metade no mercado internacional. Devido a essa superprodução, eclodiram, então, duas crises nacionais: uma de caráter externo, obrigando a cortar pela metade suas importações; e outra de caráter interno, decorrente a necessidade de financiar e estocar os grandes estoques de café que não encontrava mercado consumidor. O valor do café comprado pelo Governo e retirado do mercado alcançou 10% do PIB. Essa medida de compra e estocagem do café foi evidentemente concebida para favorecer os interesses dos poderosos grupos de cafeicultores, os quais regiam a política econômica brasileira.
As consequências indiretas dessa política de compra e estocagem de café foram o manar da industrialização, a industrialização substitutiva. Ao defender o nível de renda monetária interna, em declínio na capacidade de importar, contra as fortes pressões deflacionárias, a política de favores ao setor cafeeiro deu impulso aos produtores internos. Com a rápida desvalorização da moeda cresciam os preços relativos às importações, criando-se condições altamente favoráveis para uma atitude manufatureira orienteada para o mercado interno. Tendo os lucros no setor cafeeiro e exportador, em geral, em baixa, o desenvolver de um mercado interno transformou-se, então, no negócio mais atrativo da economia brasileira. Assim, recursos financeiros e capacidade empresarial foram transferidos do setor exportador tradicional para industrias manufatureiras incipientes. Há o surgimento da alteração do eixo mercado externo para mercado interno.
Na segunda fase da industrialização brasileira, mesmo com o conhecimento já adquirido que apenas se industrializando o Brasil poderia encontrar o desenvolvimento, em 1946, o Governo decidira manter a paridade cambial. A experiência mostrou que a desvalorização do cruzeiro gerava a queda imediata do preço internacional do café, que significava também preços baixos para podutos importados. O Governo deixava de lado os interesses das novas indústrias nacionais, tendo uma tarifa brasileira não específica, que não acompanhava a elevação dos preços no mercado internacional. Os acontecimentos viriam demonstrar, entretanto, que a industrialização substitutiva de importações continuaria a impor-se, independente dos interesses dos grupos ligados às exportações continuassem a prevalecer na formulação da política econômica do país.
Atingido por uma forte dívida comercial externa que aumentava ininterruptamente e preocupado com a defesa do preço do café, ameaçado pelos excedentes retidos no Brasil, o Governo assumiu a implementação uma política de controle quantitativo das importações como opção para uma possível estabilidade nos preços do café. Por um lado, ao optar pelo controle das importações, o Governo cria condições para a recuperação do preço do café no mercado internacional. De outro, ao adotar uma política de controle de importações, esse Governo demonstra proteção aos interesses industriais. Com a política de controle quantitativo das importações, foram dadas prioridades às importações de matérias-primas e bens intermadiários. Como consequência indireta e não prevista dessa política, criou-se uma dupla proteção às industrias: proibia-se a importação de ‘similares’ produzidos nacionalmente e fornecia-se cobertura combial com um subsídio implícito crescente às matérias-primas e equipamentos.
Essa industrialização foi a resultante da ação de forças desprendidas de planejamento, ocasionadas pelos processos econômicos vividos, cujos principais resultados surgiram pela existência de um mercado de produtos manufaturados criado pelas exportações em fase anterior, a perda do dinamismo dessas exportações em razão da desorganização dos mercados mundiais.
A ausência de uma política diretora do processo de industrialização teve consequências negativas: não se preparou a infra-estrutura que requeria a transição de uma economia exportadora de produtos primários para outra de base industrial, agravaram-se as divergências entre as diversas regiões do país. A falta de uma infra-estrutura que facilitasse a mobilidade de mã-de-obra e a circulação de produtos fez com que a economia ficasse compartimentada regionalmente. Assim, a industrialização constituiu-se concentrando geograficamente não somente os benefícios do aumento de produtividade, mas também os lucros monetários criados pela elevação dos preços relativos aos produtos industriais. Uma outra consequência da inexistência de uma política de industrialização foi a concetração de investimentos em indústrias produtoras de artigos menos ‘essenciais’. Como os obstáculos às importações eram significativos, os setores que produziam artigos luxuosos passaram a ser mais atrativos. As indústrias de produtos e de bens de capital, que são a base de um sistema industrial, tiveram seu desenvolvimento seriamente prejudicado durante longo período
Houve também, como um prejudicial significante ao desenvolvimento do sistema industrial, o que se pode chamar de sobrecapitalização e sobremecanização das indústrias menos essenciais, visto que eram mais atrativas ao mercado consumidor nacional, enquanto as inversões de infra-estrutura e nas indústrias de base permaneciam insuficientes.

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