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1 A NARRATIVA JURIDICA

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A NARRATIVA JURÍDICA
É praticamente um consenso a ideia de que o instrumento de trabalho do profissional de Direito é a linguagem. A pragmática jurídica é construída a partir de um discurso, oral e/ou escrito, em se que defende uma tese por meio de argumentos, independente da área de atuação, se penal, civil, trabalhista etc. É preciso um discurso coerente, com poder de convencimento e persuasão, bem fundamentado e concatenado. Para tanto, o profissional recorre a dois pilares argumentativos, seja na redação das peças jurídicas (petição inicial, contestação, dentre outras), seja na sustentação oral: 1) narrativa dos fatos e 2) fundamentação jurídica.
Inicialmente, o advogado recorre à narrativa dos fatos, um dos requisitos estabelecidos pelo art. 282 do Código de Processo Civil. Isto porque os fatos constituem a causa da ação, e, por conseguinte, do pedido. Assim, o relato dos fatos não pode ser concebido como uma mera passagem do texto, nem muito menos pode ser feito aleatoriamente, sem critérios, pois não se trata apenas de uma narrativa elucidativa, é, em verdade, uma ferramenta argumentativa imprescindível não somente à compreensão do mérito da causa, mas, principalmente, para o convencimento do julgador. Destarte, é necessário que o advogado siga algumas orientações:
a) Interpretar e valorar os fatos: eis a principal característica da narrativa jurídica: não se trata de uma narrativa meramente informativa, mas, sim, de uma narrativa valorada. É preciso ter em mente que o advogado não só “conta” os fatos, mas os interpreta, valorando-os à luz do entendimento jurídico e em conformidade com o pedido que será feito, objeto maior da ação. Assim, é necessário que o advogado extraia dos fatos um entendimento, uma conclusão sob a ótica jurídica, deixando clara a relação entre os fatos e o pedido, elucidando o significado daqueles no mundo jurídico. É necessário, ainda, que o advogado faça em sua narrativa uma valoração dos fatos na perspectiva do seu cliente, trazendo a lume a dramaticidade e os sentimentos dos fatos. Valorar significa, em outras palavras, avaliar, fazer juízo de valor, atribuindo características, sensações e dimensionando os fatos. Para tanto, o profissional se utiliza, sobretudo, de adjetivos e advérbios de intensidade e de modo. Tais classes gramaticais, juntamente com outras expressões consideradas modalizadores, são essenciais à argumentatividade dos fatos. Compare as diferentes formas de valoração: 1) a autora foi prejudicada, 2) a autora foi MUITO prejudicada, 3) A autora foi IMENSAMENTE prejudicada. Em se tratando de argumetação, não somente o que se diz, mas também o “como se diz” faz toda a diferença, a escolha das palavras deve ser pensada estrategicamente, pois cada uma possui uma carga semântica, valorativa e, consequentemete, argumentativa específica.
b) Poder de persuasão: além de se utilizar do poder de convencimento, relacionado à lógica, à demonstração, o advogado deve recorrer ao poder de persuasão, ligado ao emocional, ao psicológico. Assim, o relato dos fatos deve ter também uma carga emocional (equilibrada, obviamente), um quê de dramaticidade, trazendo vida às letras frias do papel, sensibilizando o julgador, levando-o a se colocar no lugar da parte defendida (empatia). Nesse sentido, há uma classe gramatical imprescindível: o adjetivo. É por meio do adjetivo que o profissional irá não somente valorar e interpretar os fatos, mas lhes garantir a emoção, representando o estado de sentir da parte. Assim sendo, é importante que o advogado explore, sem exageros, o emprego dos adjetivos, ferramenta de persuasão fundamental à narrativa dos fatos. Exemplo: “após passar por todo o constrangimento, a autora saiu do banco sentindo-se humilhada, por ver sua imagem denegrida”.
c) Clareza e coerência - todo texto, como é cediço, deve ter clareza em suas ideias, deve ter uma unidade de sentido, em se tratando da narrativa dos fatos, não há de ser diferente, ao contrário, é necessário que o relato seja hialino o suficiente para levar o julgador ao entendimento do mérito. Sempre é bom lembrar: a lei, o juiz conhece; mas os fatos, não. Estes lhe são apresentados a partir da narrativa, que deve ser clara, sem muitos rodeios, com ênfase nos detalhes que realmente contribuem para sua análise. 
d) Ordem cronológica dos fatos: muitas narrativas se tornam confusas e trazem prejuízo à análise do mérito – quando não tornam a exordial inepta – por não estarem, os fatos, organizados em sua sequência cronológica, ou seja, não seguem a ordem com que se sucederam no decorrer do tempo. Assim, é fundamental que o advogado narre os fatos respeitando a ordem cronológica.
e) Situar os fatos no tempo e no espaço: ao narrar os fatos, é preciso que o advogado os situe no espaço (onde) e no tempo, de forma precisa, de maneira a dar veracidade e transparência, trazendo ao discurso mais força de convencimento. Assim, além de seguir a ordem cronológica, é necessário que o advogado date os fatos. Em vez de narrar, a exemplo: “dois meses depois de efetuar o pagamento, o autor recebeu a primeira cobrança”, deve-se dizer “dois meses depois de efetuar o pagamento, em 4 de abril do ano em curso, o autor recebeu a primeira cobrança”. Com isso, os fatos se tornam mais precisos.
f) Utilizar os termos técnico-jurídicos para representar as partes: ao se referir às partes litigantes (ou do processo), o advogado tem duas formas: ou a partir do nome completo das partes (nunca use somente o primeiro nome); ou recorrendo aos termos técnico-jurídicos que as representam (autor e réu, requerente e requerido, reclamante e reclamado, apelante e apelado etc.). Assim, obviamente, torna-se repetitivo se, toda vez que o advogado referir-se às partes, escrever o seu nome completo, sendo mais prático recorrer aos termos técnicos específicos. Ademais, uma dúvida que alguns advogados têm é se pode alternar os termos na mesma peça; na verdade, não só pode, como deve, para evitar um texto enfadonho, com repetição desnecessária. Dessa forma, se, num dado momento da narrativa, o advogado utiliza o termo “autor”, em outro, a depender do tipo de ação, pode usar o termo “requerente”, “investigante” etc.
g) Relacionar os fatos ao pedido: no término do relato, é necessário relacionar os fatos ao pedido, porque deles decorre, por consequência lógica, o que se pede, ou seja, o pedido. Isto é, inclusive, mais um requisito básico estabelecido pelo art. 282 do Código de Processo Civil. Não significa, porém, que o advogado deva fazer o pedido já na narrativa dos fatos, o que será feito em sua última etapa, após a fundamentação jurídica, mas simplesmente que concluirá o relato fazendo uma alusão ao pedido, construindo o liame entre os fatos e o que se pretende com a ação, o que se requer. 
Ana Luiza Fireman

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