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1 Exemplo de Festinger e Carlsmith: Em 1959, através de um estudo de cumplicidade induzida, vários estudantes aceitaram se submeter a diversas tarefas sem sentido e altamente simples e repetitivas, tais como girar pinos ou colocar e tirar papéis de uma gaveta. Os estudantes realizavam estas mesmas tarefas de forma individual e durante longos períodos. Ao terminar, a maioria deles qualificaram estas tarefas como altamente entediantes. No final, era pedido a cada estudante um pequeno favor: eles deveriam tentar persuadir a outro sujeito, na verdade um pesquisador, que as tarefas realizadas eram altamente interessantes e motivadoras, quando na verdade não eram. Eles mentiriam com o objetivo de convencer o outro a participar. Por este favor, os estudantes poderiam receber US$ 20,00 ou US$ 1,00. No grupo de controle não era solicitado tal favor. Posteriormente, os participantes eram indagados em relação à tarefa de girar pinos. Curiosamente, aqueles que receberam menos pelo favor avaliaram a tarefa de forma mais positiva do que os que receberam mais e do que o grupo controle. Esta maneira de se adaptar à situação foi interpretada pelos autores da pesquisa como uma forma de Dissonância Cognitiva. Em outras palavras, as pessoas que receberam menos dinheiro e mentiram sentiram-se sem uma justificativa externa suficiente para explicar tal atitude e, por esse motivo, tiveram que internalizar a mentira a qual foram induzidas a expressar. 2 Por outro lado, aqueles sujeitos que receberam mais dinheiro (U$ 20,00) contavam com uma justificativa externa que explicava o comportamento deles. Por isto, este grupo de participantes não precisava internalizar a atitude à qual foram forçados e conseguiam, assim como o grupo controle, expressar o que realmente acharam. Para os pesquisadores, os participantes que receberam apenas U$1,00 careciam de uma justificativa suficientemente consistente e forte e, portanto, vivenciaram o fenômeno de Dissonância Cognitiva. Eles tinham o conflito entre a crença de não serem mentirosos, que caracteriza a maioria dos sujeitos, e a evidência de terem mentido ao fazer o favor pedido. Para poder aproximar estas duas informações os participantes tiveram que acreditar que, a final de contas, a tarefa realizada não era tão ruim assim. Segundo este exemplo, podemos entender que quando somos persuadidos a mentir e carecemos de uma justificativa clara e concreta que nos permita justificar o nosso ato, a maioria de nós tem a tendência de se autoconvencer que tal mentira não é tão falsa. Festinger batizou esse comportamento de Paradigma da Recompensa Insuficiente. Será que o grupo de US$ 1,00 realmente acreditava nas mentiras que contava ou apenas tentava se justificar e reduzir o sofrimento por venderem suas consciências a um preço tão baixo? Exemplo de Elliot Aronson e Judson Mills: Em outro estudo, Elliot Aronson e seu colega Judson Mills bolaram um engenhoso experimento para avaliar uma situação corriqueira. Alunos 3 de Stanford, voluntários no estudo, eram convidados a se juntar em um grupo para discutir a Psicologia em torno do sexo. Mas antes de serem admitidos eles precisariam passar por um ritual de iniciação. Metade do grupo deveria recitar em público as passagens mais picantes e explícitas de "O amante de Lady Chatterley", que na década de 1950 representava o suprassumo da pornografia. Os demais leriam apenas palavras de conotação sexual contidas em um dicionário comum. Após esses diferentes procedimentos, todos ouviam, juntos, uma suposta gravação da reunião anterior, que os participantes veteranos desse mesmo grupo teriam organizado. Os diálogos resumiam-se, contudo, a monótonas discussões sobre os hábitos de acasalamento dos pássaros - como as empolgantes mudanças em suas plumagens e seus emocionantes ritos de azaração. Além disso, o ritmo da conversa era propositadamente entediante e desinteressante, sem variação no tom de voz e longas pausas entre as frases. Finalmente, os voluntários deveriam avaliar a gravação ouvida, de acordo com vários aspectos. Como era de se esperar, os que passaram pelo ritual de iniciação mais leve (ler o dicionário) detestaram a experiência e consideraram-na extremamente sem sentido e aborrecida, confessando-se arrependidos de estarem ali. Já os que sofreram um pouco mais (lendo em público as peripécias de Lady Chatterley) classificaram a mesma gravação como muito interessante e empolgante. Será que esse segundo grupo realmente gostou ou seus participantes estavam apenas tentando se justificar e reduzir o sofrimento pelo qual haviam passado? Em 1963, outra experiência de justificação cognitiva para cumplicidade forçada foi realizada com crianças. 4 Nesse experimento, o pesquisador exibia vários brinquedos para cada criança e solicitava que mostrasse os brinquedos mais interessantes. Os brinquedos eram separados e levados para uma sala vazia onde a criança entrava junto com pesquisador. Ao deixar a sala, o pesquisador falava à criança que ficava com o brinquedo que ela estava proibida de brincar e que caso brincasse seria castigada de forma severa. Outro grupo de crianças era advertido pelo pesquisador com um castigo mais leve caso brincasse com o brinquedo na sala. Posteriormente, o pesquisador repetia esse procedimento, mantendo as mesmas crianças e os mesmos brinquedos com uma diferença, ele informava às crianças de que desta vez não haveria castigo algum e que todas elas tinham permissão para brincar com qualquer brinquedo. De maneira surpreendente, as crianças que tinham sido ameaçadas com um castigo mais leve tendiam a brincar menos ainda sabendo que não existia castigo algum desta vez. Quando os pesquisadores indagaram essas crianças expressaram menos interesse pelo brinquedo em questão, diferente do interesse que elas mesmas tinham mostrado no início do experimento. Já no caso das crianças que tinham sido advertidas com uma punição mais severa, observou-se um aumento do interesse demonstrado pelo brinquedo. Esta pesquisa permitiu o entendimento do efeito da superjustificação e o da justificação insuficiente. No primeiro efeito as crenças e as atitudes individuais não precisam 5 mudar na presença de uma justificativa externa e concreta que permita explicar os atos realizados. Este é o caso das crianças advertidas com punições severas. Elas não podiam brincar, pois a ameaça era muito forte, mas ainda assim desejavam muito brincar. Uma vez que a ameaça sumia elas podiam e sentiam ainda mais vontade de brincar. Já no caso das crianças que foram advertidas com uma ameaça mais leve precisaram de se autojustificar, pois não contavam com motivos suficientes já que a punição externa não era tão terrível assim. Como consequência, estas crianças precisaram se autoconvencer de que na verdade o brinquedo não era tão atrativo assim e por esse motivo, ainda quando a punição foi retirada elas não demonstraram muito interesse por brincar. Desta forma, entendemos que a Dissonância Cognitiva é um estado de tensão que ocorre quando uma pessoa tem duas cognições que são psicologicamente inconsistentes. Semelhante à moral dupla, na presença de Dissonância Cognitiva o sujeito acaba tomando uma atitude mesmo quando ele acredita em outra totalmente diferente. Como a maioria dos indivíduos todos nós temos uma autoavalição positiva nos levando a crer que somos pessoasdo bem, capazes e inteligentes. Quando apresentamos atos que vão contra esta crença temos a tendência de procurar justificar esta incongruência e evitamos assumir a responsabilidade sobre nossos erros para mantermos a imagem de seres perfeitos frente ao espelho.
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