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Crimes Contra a Vida (2)

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Crimes Contra a Vida – Homicídio (Aula 1)
Parte Especial 
• No Direito Penal, distinguem-se Parte Geral e Especial. 
• A Parte Geral é constituída por um corpo de disposições genéricas, compostas por normas de aplicação da lei penal, da teoria do crime e da teoria da pena. 
• Já na Parte Especial, estão contidos os crimes em espécie e suas sanções correspondentes, além de regras particulares ou mesmo exceções a princípios gerais, bem como normas explicativas. 
• Não há uma teoria geral da Parte Especial, mas, sim, uma teoria geral dos delitos em espécie, que são aí estudados. 
• O estudo da Parte Especial se faz a partir da decomposição dos delitos nos seus elementos constitutivos (Chave Mestra), que são: objetividade jurídica; sujeitos do delito; tipo objetivo; tipo subjetivo; consumação e tentativa; classificação do crime; ementas do tipo; pena; ação penal.
Crimes contra a vida 
• A Parte Especial do CP se inicia, em seu Título I (artigos 121 a 154), com os chamados crimes contra a pessoa, nos quais o sujeito passivo é a pessoa física. Os bens físicos ou morais que eles ofendem ou ameaçam estão intimamente ligados à personalidade humana. 
• Entre os crimes contra a pessoa, há os chamados crimes contra vida, pois, sua supressão consiste no mais grave atentado à pessoa, e se encontram no CP, Título I, capítulo I, artigos 121 a 128. 
• A ideia fundamental é de que a vida humana é protegida desde o momento da nidação até o último suspiro. 
• A vida não pode ser interrompida por ação de outrem, dolosa ou culposamente. 
• Estão previstos, no CP, os seguintes crimes contra a vida: homicídio (art. 121), induzimento ao suicídio (art. 122), infanticídio (art. 123) e aborto (arts. 124 a 128).
 Homicídio 
 
• Noção: O Código Penal adotou a terminologia homicídio para definir o delito de matar alguém, ou seja, a injusta morte de uma pessoa (vida extrauterina) praticada por outrem (destruição da vida humana). 
• O homicídio se divide em: 
a) Tipo simples – homicídio simples; 
b) Tipos derivados – homicídio privilegiado; homicídio qualificado; homicídio doloso e homicídio culposo. 
• Bem Jurídico: vida (preservação da vida humana extrauterina, considerada a partir do início do parto). 
• Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), sozinho ou com o auxílio de alguém.
• Sujeito passivo: ser vivo, nascido de mulher. É preciso que a vítima esteja com vida ao tempo do cometimento da conduta, do contrário, a tentativa de matá-la configurará crime impossível (art. 17, CP). 
• Tipo Objetivo: a ação incriminada é matar, que faz com que o homicídio seja um crime de forma livre, podendo ser utilizados meios diretos ou indiretos, ou mesmo meios psíquicos. Pode ser por ação (disparo de tiro, punhalada, envenenamento, estrangulamento), ou omissão (deixar de fornecer alimentos a um recém nascido, tendo a obrigação de fazê-lo). 
• Pode ser praticado também por meios morais ou psíquicos ou mesmo por meio de palavras, desde que idôneos, a causar a morte, assim como por meios indiretos: entende-se a utilização de animais ou pessoas que não responderão por suas condutas. 
• Tipo Subjetivo: dolo, consistente na vontade consciente de matar. Pode ser direto (o agente quer o resultado) ou indireto (assume o risco de produzi-lo).
• Consumação: Com a morte da vítima (crime material), que se dá com a morte cerebral. 
• Tentativa: uma vez que se trata de crime material, o homicídio doloso admite tentativa. 
 
• Classificação: crime comum quanto ao sujeito, doloso ou culposo, de forma livre, instantânea, material, e de resultado. 
• Ação penal: pública incondicionada, competindo ao júri seu julgamento. 
• Crime hediondo: O homicídio simples quando praticado em atividade típica de grupos de extermínio, ainda que cometido por um só agente (artigo 1º, I, 1ª parte, da Lei 8.072/90, com as alterações da Lei 8.930/94) é considerado crime hediondo. 
 Figuras do homicídio 
• Homicídio privilegiado: É uma causa especial de diminuição de pena (art. 121, § 1º, CP). 
• Minoram a sanção aplicável ao homicídio – se estiverem presentes os pressupostos, o juiz deverá reduzir a pena de 1/6 a 1/3. 
• São as seguintes as modalidades de homicídio privilegiado: 
i) motivo de relevante valor social;
ii) motivo de relevante valor moral; 
iii) violenta emoção logo em seguida à injusta provocação da vítima. 
• Homicídio qualificado: as qualificadoras criam um tipo penal derivado, com penas próprias. 
 
• As circunstâncias subjetivas dizem respeito aos motivos reprováveis, isto é, motivo torpe (inciso I) e motivo fútil (inciso II); e aos fins com que a ação é praticada: facilitar ou assegurar a execução, ocultação, vantagem ou impunidade de outro crime (inciso V). 
• Já as circunstâncias objetivas dizem respeito aos meios que envolvam dissimulação, crueldade, perigo de maior dano (inciso III) e aos modos que dificultem ou tornem a defesa impossível (inciso IV). 
• Comunicabilidade das circunstâncias qualificadoras aos partícipes: as qualificadoras referentes aos motivos determinantes do crime (subjetivas) são incomunicáveis entre os partícipes, por serem de caráter pessoal (art. 26). As qualificadoras objetivas só se comunicam quando entram na esfera de conhecimento do coautor ou partícipe. 
• Coexistência de homicídio qualificado com privilegiado: A jurisprudência dos Tribunais Superiores considera possível o homicídio privilegiado-qualificado. O privilégio pode concorrer com as qualificadoras objetivas (fogo, veneno, meio cruel) do homicídio, mas não com as subjetivas, e como este privilégio é subjetivo deve prevalecer. Logo, neste caso, aplica-se a pena do homicídio qualificado com a redução de 1/6 a 1/3.
• Homicídio culposo: a vida é protegida de toda forma ilícita de ataque. Apenas colocar a vida em perigo já constitui crime previsto no artigo 132, por exemplo. 
• A pessoa que vive em comunidade tem o dever objetivo de cuidado, o dever de ser cauteloso. Sempre que uma conduta traduzir uma violação do dever objetivo de cuidado, sendo previsível ao homem mediano que aquilo causaria a morte de alguém, ocorre o homicídio culposo. 
• Homicídio culposo qualificado: a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
i) Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício; 
ii) Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, ou não procura diminuir as consequências de seu ato; 
iii) Foge para evitar prisão em flagrante. 
• Homicídio praticado por milícia privada ou por grupo de extermínio: a pena do homicídio deve ser aumentada, de um terço até a metade, “se o crime for praticado por milícia privada, sob pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio”. 
• Milícia privada, conforme o art. 288-A, do CP, é a organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos no CP. 
• Caso o integrante da “milícia privada” ou do “grupo de extermínio”, conforme acima definido, perpetre, de fato, delito de homicídio, além de estar incurso na pena de reclusão do art. 288-A, do CP, responderá pela morte dolosa, com a incidência da majorante. 
• Feminicídio: consiste na morte dolosa de mulher por razões da sua condição de sexo feminino. 
 
• A pena do homicídio qualificado será aumentada nessas circunstâncias, quando o fato for praticado: 
1º durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; 
2º contra mulher menor de quatorze anos, maior de sessenta ou com deficiência; 
3º na presença de descendente ou de ascendente da vítima.
• Perdão judicial 
• O perdão judicial é um instituto que permite ao juiz deixar de aplicar a pena (é causa de extinção da punibilidade (era. 107, IX, CP e Súmula 18, STJ). 
• É também previsto no caso de lesão culposa, (§ 8º do artigo 129).
 DEMAIS CRIMES CONTRAA VIDA (Aula 2)
• Induzimento, instigação e auxílio ao suicídio 
• Noção: suicídio é a supressão voluntária e consciente da própria vida. Compõe-se da vontade que a pessoa tem de se matar e da prática de certos atos por parte desta pessoa. O fato de uma pessoa se matar é um indiferente legal. Não sendo incriminada a ação de matar-se ou a tentativa de suicídio, a participação em tais atos não poderia ser punível, pois não há participação punível senão em fato delituoso. 
• As legislações modernas, atendendo ao valor excepcional da vida humana, passaram a prever uma figura sui generis, que é a participação no suicídio de outra pessoa. A maioria das legislações não pune a tentativa de suicídio, que é, entretanto, considerada como fato ilícito por atingir um bem jurídico indisponível, e por não ser o exercício de nenhum direito subjetivo, permitindo a lei a coação para impedi-lo. 
• Bem jurídico: preservação da vida humana, bem indisponível.
• Sujeito ativo: qualquer pessoa, excluindo-se aquele que se suicida ou tenta se matar. Trata-se de uma forma especial do delito de homicídio. 
 
• Sujeito passivo: aquele capaz de ser induzido, instigado ou auxiliado, ou seja, que tenha alguma capacidade de resistência à conduta do sujeito ativo, sendo indispensável que tenha capacidade de discernimento para entender o ato que pratica. 
• O induzimento deve ser dirigido para uma pessoa determinada ou a um grupo determinado, não ocorre o crime quando se trata de induzimento/instigação de caráter geral e indeterminado, como em obra literária. 
• Tipo objetivo: induzir é criar a ideia do suicídio na cabeça do agente; instigar é reforçar uma ideia preexistente (participação moral); auxiliar é ajudar materialmente. 
• O meio deve ser idôneo, capaz de influir moralmente sobre a vítima, sendo esta uma das causas do suicídio, caso contrário, não haveria nexo causal.
• Se a vontade da pessoa for irreversível, a instigação não é punida, só o sendo se a pessoa ainda estiver em dúvida. 
• Pratica crime ainda quem auxilia o suicida. O auxílio deve ter sido efetivo para o suicídio, para que o agente seja punido. 
• A maioria da doutrina nega a possibilidade da prática deste crime por omissão, enquanto que outros, como Nelson Hungria, admitem-na se o agente for de alguma forma garantidor, tendo a obrigação de impedir o resultado. 
• Tipo subjetivo: O dolo é a vontade de induzir, instigar, ou auxiliar a vítima na prática do suicídio. Não há forma culposa. 
• Consumação e tentativa: A consumação se dá com a morte da vítima ou com a produção de lesões graves. Impossível a tentativa, pois a lei subordina a incriminação do fato à superveniência do suicídio ou ao menos da lesão corporal.
• Formas Qualificadas: a pena é duplicada: 
I – se o crime é praticado por motivo egoístico: se o agente vai obter alguma vantagem pessoal com o suicídio (ex.: induz o marido de sua amante a se matar, ou induz o concorrente ao suicídio), seja ou não de ordem material; 
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Considera-se menor aquele que tem menos de 18 anos, mas para Damásio, se a vítima for menor de 14 anos, não será este crime, mas sim homicídio, conforme a presunção do artigo 224, fazendo analogia ao caso de estupro. Deve-se verificar se a pessoa tem ou não capacidade de discernimento.
• Ação penal: pública incondicionada, cabendo ao júri seu julgamento. 
• Infanticídio 
• Noção: Infanticídio é o homicídio praticado pela genitora contra o próprio filho, influenciada pelo estado puerperal, durante ou logo após o parto. Portanto, trata-se de uma espécie derivada do homicídio, na medida em que o núcleo de ambos é o mesmo: matar alguém. 
• Bem jurídico: vida (preservação da vida humana). Especificamente, a vida do nascente (aquele que está nascendo) e do neonato (recém-nascido). 
• Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, em que somente a mãe (parturiente), sob a influência do estado puerperal, pode ser sujeito ativo. 
• Sujeito passivo: o recém-nascido ou o feto que está nascendo, não o feto sem vida nem o abortado ou inviável. Antes do início do parto, qualquer atentado à vida será aborto, a partir do início do parto, quando se rompe a bolsa d’água, o crime será de infanticídio se praticado pela mãe. O nascituro deve nascer com vida, senão é crime impossível.
• Tipo objetivo: pode ser praticado por qualquer meio, até por omissão (artigo 13, § 2º, “a”), mas deve ser logo após o parto (elemento normativo temporal). 
• Parto é o conjunto dos processos (mecânicos, fisiológicos e psicológicos) por meio dos quais o feto a termo ou viável separa-se do organismo materno e passa ao mundo exterior. 
• Há certa dificuldade na conceituação do que seja “logo após”. Entende a maioria da doutrina compreender todo o período do estado puerperal, circunstância a ser analisada pelos peritos médicos no caso concreto. 
• Não basta que a mãe mate o filho durante ou logo após o parto, sob a influência do estado puerperal: é preciso, também, que haja uma relação de causa e efeito entre tal estado e o crime, pois nem sempre ele produz perturbações psíquicas na parturiente. 
• Tipo Subjetivo: dolo direto ou eventual. A mãe deve estar sob a influência do estado puerperal (elemento fisiopatológico). Não há forma culposa
• Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do recém-nascido e a tentativa é admitida. 
• Concurso de pessoas: se um terceiro eventualmente participa de um infanticídio, sendo este um crime próprio, a doutrina se divide em três correntes: 
a) o partícipe responderá também pelo infanticídio, baseando-se no artigo 30 do CP, que diz que as circunstâncias pessoais, quando elementares do crime, se comunicam (Delmanto, Damásio, Frederico Marques).
b) a condição de mãe e a influência do estado puerperal é personalíssima, não se comunicando ao terceiro, que responderá por homicídio (Aníbal Bruno, Heleno Fragoso, Nelson Hungria). 
c) faz-se uma distinção com relação ao terceiro, se este só auxiliar, sendo partícipe, responde por infanticídio, se participa dos atos executórios, sendo coautor, responde por homicídio (Magalhães Noronha). 
• Agravantes genéricas: não se aplicam a este crime as agravantes previstas no artigo 61, II, letras “e” e “h”, pois a relação de parentesco já constitui o crime e a qualidade de criança do sujeito passivo também.
• Aborto 
• Noção: Aborto é a interrupção da gravidez, com a morte do produto da concepção, que é protegido pela normal penal, que pune o aborto desde o momento da nidação (implantação do ovo no útero) até o início do parto. 
• Nos EUA, a Suprema Corte decidiu, em 1973, não ser admissível, de acordo com a Constituição, a proibição do aborto nos 3 primeiros meses de gravidez, enquanto que do 3º ao 6º mês só poderá ser realizado se estiver em risco a vida ou a saúde da gestante. 
• O CP prevê 3 hipóteses de aborto: aborto provocado pela gestante (art. 124, 1ª parte); aborto com o consentimento da gestante (art. 124, 2ª Parte e art. 126); aborto sem o consentimento da gestante (artigo 125). 
• Bem jurídico: a vida humana em formação (intrauterina) e no aborto sem o consentimento da gestante está se protegendo também a sua liberdade de escolha e integridade física.
• Sujeito ativo: fora o aborto provocado pela gestante, cujo sujeito ativo é a própria gestante, nos outros casos, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. 
• Coautoria: a questão do enquadramento de terceiro que auxilia a gestante é discutida. Auxiliar significa, no caso, oferecer os instrumentos, acompanhá-la até a clínica, pagar o aborto e dar os remédios. 
• O entendimento jurisprudencial dominante é que este terceiro não responde pelo art. 126, mas sim pelo art. 124. 
• A importância desta distinção é que se a gestante vier a sofrer lesões graves, ou mesmo morrer, o terceiro que auxilia continuará sujeito ao art. 124, não tendo qualquer aumento em sua pena (em virtude da prescrição – isso é relevante). 
• Sujeito passivo: o feto. Discute-se se a sociedadeé sujeito passivo. No aborto sem consentimento da gestante, ela também é sujeito passivo. 
• Tipo objetivo: ação de provocar (dar causa, originar) tem forma livre e pode ser praticada por qualquer meio, comissivo ou omissivo. 
• Os meios podem ser químicos ou físicos, diretos ou indiretos, incluindo psíquicos (ex.: susto e terror). É imprescindível que o meio seja hábil à produção do resultado. Se o meio é absolutamente ineficaz (ex.: rezas, simpatias, ingestão de substâncias inócuas), há crime impossível (art. 17 do CP), da mesma forma, manobras abortivas em mulher não grávida, ou sobre feto já morto, em razão da impropriedade do objeto. 
• O crime consiste na morte dada ao nascituro intra uterum ou pela provocação de sua expulsão. Pressupõe a gravidez, sendo necessário que o feto esteja vivo. 
• O termo inicial para a prática do delito em exame é o começo da gravidez e, para efeitos jurídicos, considera-se o momento da nidação, ou seja, na implantação do óvulo fecundado no endométrio. 
• O termo final é o início do parto – contrações da dilatação (parto normal) ou o corte abdominal (cesariana)
• Tipo subjetivo: dolo genérico (direto e eventual). Não há forma culposa. Entretanto, o terceiro que culposamente provoca o aborto, responde por lesão corporal culposa (art. 129, § 6º do CP). 
 
• No aborto qualificado pelo resultado (art. 127), o crime é preterdoloso: há dolo no antecedente (aborto) e culpa no subsequente (lesão grave ou morte). • Consumação e tentativa: com a morte do feto ou destruição do óvulo se consuma o crime. A expulsão do produto da concepção não é imprescindível para a consumação do delito. O aborto é crime material. Admite-se tentativa. 
• Aborto provocado pela gestante e aborto consentido: essas duas figuras estão contidas no art. 124. 
• No caso do aborto consentido, quem pratica os atos materiais do aborto incide no art. 126. 
•A coautoria não é admissível no aborto provocado pela gestante, embora se admita a participação.
• Aborto praticado por terceiro sem consentimento da gestante: admite duas formas: não concordância real (violência, grave ameaça ou fraude); não concordância presumida (menor de 14 anos, alienada ou débil mental). 
• Aborto praticado por terceiro com o consentimento da gestante (aborto consensual): é sancionado de forma menos severa. Enquanto a grávida responde pelo crime do art. 124, o médico responde por este – exceção à regra geral do concurso de pessoas. 
 • Presunção de incapacidade para consentir: a violência, neste caso, refere-se àquela utilizada para a obtenção do consentimento e não para a realização do aborto. 
• Presume-se, neste caso, a incapacidade da gestante em consentir. Discute-se se os pais podem consentir. O eventual erro quanto ao consentimento é erro de tipo. 
• Aborto qualificado pelo resultado: trata-se de forma preterdolosa. Esta qualificadora somente é aplicável aos arts. 125 e 126, e não ao art. 124.
• O partícipe do crime de aborto provocado pela gestante, portanto, não responde pelo resultado mais grave. A lesão leve é absorvida pelo crime do caput. 
• No caso específico de que, dos meios empregados para provocar o aborto não advenha a morte do feto, embora ocorra a lesão corporal grave ou a morte da gestante, a doutrina se divide. Para alguns autores, haveria crime de aborto qualificado tentado (Aníbal Bruno, Hungria, Frederico Marques, Fragoso e Mirabete), enquanto que outros como Luiz Regis Prado, fazem menção ao fato de que o crime qualificado pelo resultado não admite tentativa, concluindo que nesta hipótese haveria aborto qualificado pelo resultado consumado (art. 127, CP). 
•Homicídio de mulher grávida: se o agente sabia da gravidez, pode haver aborto na forma de dolo eventual, respondendo o agente pelo concurso formal entre o homicídio simples + aborto sem o consentimento da vítima.
• Aborto legal: exige-se que seja o aborto praticado por médico, embora seja aplicável a regra genérica de estado de necessidade para o caso da enfermeira que provoca o aborto para salvar a vida da mãe. 
• São as seguintes as hipóteses de aborto legal: 
a) Aborto necessário ou terapêutico: hipótese em que médico o pratica se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
b) Aborto sentimental, ético ou humanitário: ocorra caso a gravidez resulte de estupro e o aborto seja precedido de consentimento da gestante, ou quando incapaz, de seu representante legal. 
• O aborto eugenésico, ou seja, aquele praticado em virtude de graves anomalias genéticas ou outros defeitos físicos ou psíquicos, não é admitido pela legislação brasileira. 
• Ação penal: a ação penal é pública incondicionada, cabendo ao júri seu julgamento. Por força da Lei nº 9099/95, é cabível a suspensão condicional do processo no aborto provocado pela gestante e no aborto consentido.
• Aborto e anencefalia: o Direito penal se deparou recentemente com um problema trazido pelo avanço da medicina: o do feto nascido sem cérebro. 
• Os juízes, em geral, vinham autorizando o aborto nesse caso, tendo em vista a inviabilidade da vida no caso concreto, para evitar um sofrimento maior para a mãe – atipicidade por ausência de bem jurídico a proteger. 
• Em 2012, o STF julgou a matéria na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, em que declarou a inconstitucionalidade de interpretação segunda a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo configuraria prática de crime de aborto.
 Outros crimes contra a pessoa (Aula 3 )
Outros crimes contra a pessoa: na sequência do CP, estão dispostos outros crimes contra a pessoa. Nesses, há variedade de bens jurídicos diferentes, que são tutelados sob a ameaça da pena criminal. 
Lesões corporais: 
1) Noção: ocorre quando uma pessoa ofende a integridade física ou à saúde de outra pessoa. Implica na agressão, em suas diversas formas, à integridade corporal ou à saúde de um ser humano, por meio da conduta de outro ser humano. 
• Para a configuração do tipo é preciso que a vítima sofra algum dano ao seu corpo, alterando-se interna ou externamente, podendo, ainda, abranger qualquer modificação prejudicial à sua saúde, transfigurando-se qualquer função orgânica ou causando-lhe abalos psíquicos comprometedores. 
2) Bem jurídico: integridade física ou fisiopsíquica da pessoa. Trata-se da incolumidade pessoal do indivíduo, protegendo-o na sua saúde corporal, fisiológica e mental (atividade intelectiva, volitiva ou sentimental). 
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de lesão corporal (crime comum).
• A lei exclui a autolesão, se um inimputável, menor, ébrio ou por qualquer razão incapaz de entender ou de querer, por determinação de outrem, praticar em si mesmo uma lesão, quem o conduziu à autolesão responderá pelo crime, na condição de autor mediato. 
 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa, salvo nas figuras previstas no § 1º, IV e § 2º, V, nas quais deverá, obrigatoriamente, ser mulher grávida.
• Se a vítima for menor de 14 ou maior de 60 anos de idade, aumenta-se a pena em 1/3, conforme a remissão feita pelo artigo 129, § 7º, ao artigo 121, § 4º. 
• Em caso de violência doméstica (§9º), exige-se uma especial relação de coabitação ou convivência, presente ou pretérita, entre autor e vítima. 
• Na hipótese prevista no §10º, a vítima deve ser portadora de deficiência. 
5) Tipo objetivo: o núcleo do tipo é ofender (lesar, ferir) e pode ser praticado por qualquer meio (crime de forma livre), por ação ou omissão. 
• A autolesão é impunível, salvo quando configurar outro delito. 
• Constitui lesão corporal qualquer dano à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, fisiológico ou mental (atividade intelectiva, volitiva ou sentimental). Excluem-se, porém, as bagatelas. 
• Dano à integridade corporal é a alteração, anatômica ou funcional, interna ou externa, que lese o corpo (ex. luxações, ferimentos, cortes, fraturas, entre outras), enquanto que dano à saúde pode ser uma alteração fisiológica oupsíquica. 
• Não há necessidade de derramamento de sangue, até porque a hemorragia pode ser interna, bem como não precisa haver dor para que se configure lesão corporal. 
 6) Tipo subjetivo: o crime de lesão corporal admite tanto a modalidade dolosa – dolo direto ou eventual, isto é, a intenção de gerar a ocorrência do resultado – quanto a modalidade culposa. A vontade de causar lesão corporal é denominada animus laedendi. 
• A lesão corporal culposa está prevista no § 6º do artigo 129. 
• Se a intenção do agente for atingir a honra, tratar-se-á de injúria real (art. 140, § 2º, CP). Se o dolo não é de dano, mas de perigo, pode ocorrer o delito de perigo à vida ou à saúde de outrem (vide artigo 130 e ss.). 
7) Princípio da Insignificância: o dano à integridade física deve ser juridicamente apreciável, relevante. Quando o dano, ainda que existente, for mínimo, entende-se ser insignificante para a promoção de uma ação penal, trata-se da figura do delito bagatelar, que não é punido. 
8) Consumação e tentativa: estará consumado com a efetiva ofensa à integridade física ou psíquica da vítima (crime material). Ainda que a vítima sofra mais de uma lesão, o crime será único. Admite-se tentativa. 
9) Confronto 
1) Se há sofrimento físico ou mental: crime de tortura (art. 1º, Lei 9.455/97). 
2) No caso de um beliscão ou arranhão, sem efetiva lesão: contravenção das vias de fato (art. 21, LCP). 
3) Se o cidadão se autolesiona para receber seguro ou indenização: art. 171, § 2º, V. 
4) Se a pessoa se autolesiona para fugir ao serviço militar: art. 184, Código Penal Militar. 
10) Lesão corporal leve: por exclusão, aquela que não possui qualquer causa que a torne mais grave (art. 129, caput). 
11) Lesão corporal grave: os primeiros parágrafos do Artigo 129, CP, se referem a lesão grave, embora a doutrina faça a distinção entre lesão grave (§ 1º) e lesão gravíssima (§ 2º). 
• Nesse caso, o agente responde pelo resultado mais grave doloso ou culposo (exceção: lesão grave pelo resultado aborto, em que necessariamente este resultado é culposo: artigo 129, § 2º, V). 
• As qualificadoras previstas no § 1º são de natureza objetiva e se comunicam aos partícipes desde que abrangidas pelo dolo. 
São elas: 
1) incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias; 
2) perigo de vida; 
3) debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
4) aceleração do parto. 
DIREITO PENAL III 
12) Lesões corporais gravíssimas: 
1) incapacidade permanente para o trabalho; 
2) enfermidade incurável; 
3) perda ou inutilização de membro, sentido ou função; 
4) deformidade permanente; 
5) aborto. 
13) Lesão corporal seguida de morte: forma preterdolosa, em que o agente querendo apenas ofender a integridade física da vítima, acaba causando a sua morte de forma culposa (Art. 129, § 3º). 
14) Diminuição de pena: se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
15) Substituição da pena: a pena de detenção pode ainda ser substituída pela de multa se ocorrer qualquer das hipóteses de diminuição de pena ou se as lesões forem recíprocas. 
16) Lesão corporal culposa: é a lesão que resulta de imprudência, negligência ou imperícia (§ 6º). A ela, não se aplicam os §§ 1º e 2º. 
• As lesões culposas no trânsito estão previstas no art. 303 do CBT (Lei nº 9.503/97). 
• Haverá lesão culposa qualificada se: 1) o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício; 2) o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, ou não procura diminuir as consequências de seu ato. 
17) Aumento de pena: a pena pode ser aumentada em 1/3 (§ 7º): 
1) em caso de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante; 
2) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos. 
18) Perdão judicial: o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária (§ 8º). 
19) Violência doméstica: se a lesão for praticada contra: 1) ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro; 2) com quem conviva ou tenha convivido; 3) prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. 
• É elementar do crime a especial relação entre autor e vítima. 
• A pena pode ser aumentada de 1/3 quando ocorrer o resultado lesões grave, gravíssima ou seguida de morte (§10) ou se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência (§11). 
20) Ação penal: pública incondicionada, com exceção da lesão leve, que depende de representação. 
Crimes de perigo para a vida e a saúde: 
• Quanto ao resultado, podem ser: crimes de dano e crimes de perigo. 
• Os crimes de perigo podem ser crimes de perigo individual ou crimes de perigo coletivo ou comum. 
• Existe, ainda, outra divisão com relação aos crimes de perigo: crimes de perigo abstrato e crimes de perigo concreto. 
Tipos: 
1) Perigo de contágio venéreo – artigo 130 
2) Perigo de contágio de moléstia grave – artigo 131 
3) Perigo para a vida ou a saúde de outrem – artigo 132 
4) Abandono de incapaz – artigo 133 
5) Exposição ou abandono de recém nascido – artigo 134 
6) Omissão de socorro – artigo 135 
7) Maus tratos – artigo 136 
• Crime de Perigo de Contágio Venéreo 
1) Noção: o referido artigo contém três figuras: 
a) o agente sabe estar contaminado (caput, 1ª Parte). 
b) o agente não sabe, mas devia saber achar-se contaminado (caput, 2ª parte). c) sabe e tem a intenção de transmitir a moléstia (§ 1º do art. 130). 
2) Bem jurídico: a incolumidade física da pessoa. 
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher, portador de moléstia venérea. 
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa, homem ou mulher. 
5) Tipo objetivo: a ação de expor deve ser praticada mediante relações sexuais (cópula, conjunção carnal normal), ou qualquer ato libidinoso (qualquer ação atentatória ao pudor, praticada com o fim de satisfazer a própria concupiscência, ou por lascívia) capaz de produzir o contágio – delito de forma vinculada.
6) Tipo subjetivo: será diverso em cada uma das três figuras: a) o agente sabe estar contaminado (caput, 1ª Parte): dolo de perigo direto. b) o agente não sabe mas devia saber achar-se contaminado (caput, 2a. parte): dolo eventual. c) o agente sabe e tem a intenção de transmitir a moléstia (§1o. do art. 130): dolo de dano (direto). 
7) Consumação e tentativa: consuma-se com a prática do ato sexual (crime instantâneo), independentemente do efetivo contágio que, se ocorrer, será simples exaurimento do delito. É possível, em tese, a tentativa. 
8) Classificação: crime comum quanto ao sujeito; doloso (dolo direto ou eventual), de perigo (caput), ou formal com dolo de dano (§ 1o), comissivo e instantâneo. 
9) Ação penal: pública condicionada à representação.
• Crime de Perigo de Contágio de Moléstia Grave 
1) Bem jurídico: a incolumidade física da pessoa. 
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher, contaminada por moléstia grave. 
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, homem ou mulher, desde que não esteja contaminado. 
4) Tipo objetivo: praticar ato capaz de produzir o contágio. Trata-se de forma livre, que abrange qualquer ato, desde que idôneo a transmitir a doença; a conduta pode ser direta ou indireta. O perigo deve ser direto e iminente. 
5) Tipo subjetivo: dolo de dano (direto e não eventual) e elemento subjetivo do tipo (especial fim de agir): “com o fim de transmitir”. É o dolo específico da doutrina tradicional. Não há forma culposa. 
6) Consumação e tentativa: consuma-se com ato capaz de contagiar, sendo indiferente que a transmissão ocorra. A tentativa é possível teoricamente.
7) Ação penal: pública incondicionada. 
 
• Crimede Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem 
1) Bem jurídico: a vida e a saúde da pessoa humana. 
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, mas deve haver uma vítima determinada. 4) Tipo objetivo: a conduta é expor a perigo e o comportamento pode ser comissivo ou omissivo. O perigo deve ser direto e iminente. 
5) Tipo subjetivo: dolo de perigo (direto ou eventual). 
6) Consumação e tentativa: na efetiva superveniência de perigo para a vida ou para a saúde da vítima. Admite-se a tentativa.
7) Forma qualificada: há aumento de pena de 1/6 a 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimento de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. 
8) Ação penal: pública incondicionada. 
• Crime de Abandono de Incapaz 
1) Bem jurídico: a segurança da pessoa humana que não pode, por si própria, defender-se. 
2) Sujeito ativo: o agente tenha especial relação de assistência com o sujeito passivo (cuidado, guarda, vigilância ou autoridade), ou tenha a posição de garantidor. 
3) Sujeito passivo: o menor, o adulto incapaz de defender-se por si próprio ou a pessoa idosa. 
4) Tipo objetivo: A ação incriminada é abandonar, largar, deixar sem assistência e se exige a especial relação de assistência entre os sujeitos ativo e passivo.
5) Tipo subjetivo: dolo de perigo, direto ou eventual; e elemento subjetivo do tipo: a vontade de expor a perigo. Não há punição a título de culpa. 
6) Consumação e tentativa: consuma-se com o abandono, desde que ponha em perigo o ofendido, ainda que momentaneamente. Tentativa é possível. 
7) Figuras qualificadas: 
a) se resulta lesão corporal grave (forma preterdolosa); 
b) se resulta morte (forma preterdolosa); 
c) abandono em lugar ermo, ou seja, habitualmente solitário; 
d) relação específica entre sujeito ativo e passivo, que acarreta um dever legal ou moral mais imperioso. 
8) Ação penal: pública incondicionada.
• Crime de Exposição ou Abandono de Recém-Nascido 
1) Bem jurídico: a segurança da pessoa e, especialmente, do recém-nascido. 
2) Sujeito ativo: a mãe (crime próprio). 
3) Sujeito passivo: o recém-nascido. 
4) Tipo objetivo: expor, abandonar, largar, deixar sem assistência. O perigo deve ser concreto e não presumido, é preciso que a vítima fique exposta a risco de vida ou de saúde por tempo juridicamente relevante. 
5) Tipo subjetivo: dolo de perigo direto e elemento subjetivo do tipo “ocultar desonra própria”. Não há forma culposa. 
6) Consumação e tentativa: consuma-se com a criação do perigo concreto. Tentativa é possível na forma comissiva. 
7) Figuras qualificadas: lesão grave ou morte (resultados preterdolosos). 
8) Ação penal: pública incondicionada 
• Omissão de socorro 
1) Bem jurídico: a preservação da vida e da saúde da pessoa. 
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
3) Sujeito passivo: somente a criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida, ferida ou em grave e iminente perigo. 
4) Tipo objetivo: omissão de assistência ao periclitante ou de solicitação dela à autoridade pública. 
5) Tipo subjetivo: dolo direto ou eventual.
6) Consumação e tentativa: como crime omissivo próprio não admite tentativa, ou o agente se abstém do socorro e o crime se consuma, ou não há crime algum. Consuma-se com o inadimplemento do dever de assistência. 
7) Figuras qualificadas: lesão grave ou morte. 
 
8) Ação penal: pública incondicionada 
• Crime de maus tratos 
1) Bem jurídico: a vida e a incolumidade da pessoa. 
2) Sujeito ativo: aquele que tem o sujeito passivo sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia. 
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa submetida à guarda, vigilância ou autoridade de outra, para fim de educação, ensino.
4) Tipo objetivo: expor a vida ou a saúde da vítima: 
a) privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis (crime omissivo); 
b) sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado; 
c) abusando dos meios de correção e disciplina. 
5) Tipo subjetivo: dolo de perigo ou a aceitação do risco de tal exposição ao perigo (dolo eventual). Não há forma culposa. 
6) Consumação e tentativa: consuma-se com a criação do perigo concreto. A tentativa é possível na forma comissiva. 
7) Figuras qualificadas: lesão grave ou morte (resultados preterdolosos). 
8) Ação penal: pública incondicionada.
• Rixa 
1) Bem jurídico: vida e saúde da pessoa. 
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa (delito comum). É crime plurissubjetivo, que somente se configura com o concurso de três ou mais pessoas. 
3) Sujeito passivo: os rixosos entre si, uns em relação aos outros. 
4) Tipo objetivo: participar de rixa, que é o embate violento, travado entre três ou mais pessoas, tendo como essência a confusão e a reciprocidade das agressões. Não é suficiente para a configuração do delito a mera altercação, a discussão acalorada ou a troca de ofensas ou ameaças, mesmo se exaltados os ânimos. É indispensável a existência de violência física. 
5) Tipo subjetivo: dolo de perigo. Inexiste forma culposa.
 
6) Consumação e tentativa: consuma-se com o surgimento do perigo decorrente da violência. É praticamente impossível a configuração de tentativa, a não ser na hipótese de rixa preordenada
7) Figuras qualificadas: lesão corporal grave ou morte. 
8) Ação penal: pública incondicionada.
 CRIMES CONTRA A HONRA (Aula 4)
Noção: os crimes cujo bem jurídico tutelado é a honra, o patrimônio moral. 
Honra: é o conjunto de predicados ou condições da pessoa que lhe conferem consideração social e estima própria.
A honra tem dois aspectos: 
a) Honra objetiva ou honra externa: é o que terceiros pensam sobre cada um de nós (reputação da pessoa); 
b) Honra Subjetiva ou honra interna: é o conceito que cada um de nós faz de si próprio (autoestima). 
• Alguns autores se referem à honra profissional (ex. militar/coragem, médico/salvar vidas, advogado/chave de cadeia). 
• Os crimes contra a honra são: calúnia (art. 138); difamação (art. 139) e injúria (art. 140).
 Calúnia
1) Bem jurídico: a honra objetiva. 
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, inclusive, aquelas de má-fama, os irresponsáveis (loucos ou menores), os mortos e as pessoas jurídicas (em crimes ambientais, Lei n. 9.605/98). 
4) Tipo objetivo: imputar falsamente fato definido como crime ou propalar ou divulgar tal fato, sabendo falsas as imputações. O fato atribuído deve ser específico e determinado, sendo a falsidade da imputação requisito essencial. 
5) Tipo subjetivo: O dolo direto ou eventual na conduta de imputar e o dolo direto ou dolo direto ou eventual na hipótese de propalar ou divulgar, além do elemento subjetivo do tipo “propósito de ofender”. Não existe modalidade culposa.
6) Tipos de calúnia: a) inequívoca ou explícita; b) equívoca ou implícita; c) reflexa. 
7) Exceção da verdade: é admitida, salvo: 
a) se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; 
b) se o fato é imputado à presidente da República ou Chefe de Estado estrangeiro; 
c) se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. 
8) Consumação e tentativa: consuma-se quando a ofensa chega ao conhecimento de terceira pessoa, não bastando o próprio ofendido. Admite-se a tentativa apenas se for praticado por escrito. 
 9) Ação penal: em regra, privada.
Difamação
1) Bem jurídico: a honra objetiva. 
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, inclusive, aquelas de má-fama, os irresponsáveis (loucos ou menores), os mortos e as pessoas jurídicas. 
4) Tipo objetivo: atribuir ou imputar conduta que seja capaz de macular a reputação do sujeito passivo, mas que não corresponda fato criminoso, e o fato deve ser determinado. A imputação não necessita ser falsa. O delito é comissivo e pode ser praticado por qualquer meio.Entende-se que o propalador realiza nova difamação. 
5) Tipo subjetivo: dolo (direto ou eventual) e elemento subjetivo do tipo “intenção de ofender”. Não admite modalidade culposa.
6) Consumação e tentativa: consuma-se com a chegada da imputação ao conhecimento de outrem, que não a vítima. Admite-se tentativa. 
7) Exceção da verdade: a exceção da verdade somente é possível se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de sua função. 
 
8) Ação penal: em regra, privada.
Injúria
1) Bem jurídico: a honra subjetiva (sentimento que cada pessoa tem a respeito de seu decoro ou dignidade). 
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa física. A pessoa jurídica não possui honra subjetiva.
4) Tipo objetivo: imputar qualidade ou opinião negativa a respeito do ofendido e não fato. Havendo dúvida a respeito de atribuição de fato ou qualidade negativa, deve-se optar pela injúria. Não precisa ser levada ao conhecimento de terceiro, basta que o ofendido tome conhecimento. Pode ser praticado por qualquer forma (verbal, escrita, gestos, ações). 
5) Modalidades de injúria: a) direta b) oblíqua c) simbólica d) reflexa e) dubitativa f) implícita 
6) Tipo subjetivo: dolo (direto ou eventual), e intenção de ofender. Não há a forma culposa. 
 7) Consumação e tentativa: consuma-se quando a ofensa chega ao conhecimento do ofendido. Admite-se tentativa se praticada por escrito.
8) Confronto: O crime de desacato (art. 331) se diferencia da injúria por exigir a presença física do funcionário público, bem como que o fato ocorra em razão e por ocasião do exercício da função. Ausente o funcionário, o fato constituirá injúria qualificada (art. 141, II). 
9) Isenção de pena: o juiz pode deixar de aplicar a pena: a) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; b) no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. 
10) Injúria real: É a praticada mediante violência ou vias de fato, aviltantes. Absorve a contravenção das vias de fato, mas há concurso com as eventuais lesões corporais, graves ou leves. 
11) Injúria qualificada: a) Injúria racial: em razão de raça, cor, etnia, religião ou origem; b) Injúria contra idoso ou deficiente.
Disposições comuns:
1) Ação penal l: em regra, a ação penal, mas há exceções: 
a) injúria real + lesão: pública condicionada à representação do ofendido se a lesão for leve e incondicionada se for grave; 
b) contra Presidente da República ou Chefe de governo estrangeiro: pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça; 
c) contra funcionário público no exercício de suas funções: pública condicionada à representação do ofendido. 
2) Formas majoradas: as penas aumentam-se de 1/3 (um terço), se qualquer dos crimes é cometido: contra o Presidente da República ou contra Chefe de governo estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções; na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria; contra pessoa maior de 60 anos ou portadora de deficiência. 
• Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
3) Retratação: o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou difamação, fica isento de pena. 
4) Pedido de explicações: é uma medida preparatória e facultativa para o oferecimento da queixa, e somente cabe nos casos de ofensas equívocas. 
5) Exclusão do Crime: não constituem injúria ou difamação punível: a) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; b) a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; c) o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. 
6) Publicidade da ofensa: nos casos de ofensa irrogada em juízo ou de conceito desfavorável, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.

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