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Monitoria 1º bimestre 1 Crimes em espécie I Introdução TIPO PENAL OBJETIVO: É a descrição da conduta. O meio executório; a ação ou omissão. O núcleo do tipo é o verbo. Elementos que compõem o tipo objetivo: autor da ação, ação ou omissão, resultado, nexo causal e imputação objetiva. Por exemplo, no homicídio, o tipo penal é MATAR. TIPO PENAL SUBJETIVO Reúne todas as características subjetivas direcionadas à produção de um tipo penal objetivo. A função é averiguar o ânimo e a vontade do agente. É a vontade (dolo). Culpa somente quando houver previsão legal. Exemplo: animus necandi (vontade de matar) SUJEITO ATIVO E PASSIVO: Ativo: é a pessoa que, de alguma forma, participa do crime (como autor ou como partícipe). Passivo: é quem sofre a ofensa causada pela infração penal. Crimes Comuns: não exige nenhuma qualidade específica do sujeito ativo para ser praticado. Como exemplo, o homicídio, furto, estupro. Crime Próprio: exige certa qualidade do sujeito ativo para sua prática. Admite-se a autoria mediata, coautoria e a participação nos crimes próprios. Exemplo: peculato e autoaborto. Crime Bi Próprio: necessária qualidade especial para que seja sujeito ativo e passivo. Exemplo: bigamia. Crime de mão própria: só pode ser praticado pela própria pessoa, por si mesma. Admite-se a participação. Como exemplo, o falso testemunho. NECESSIDADE DE RESULTADO NATURALÍSTICO PARA CONSUMAÇÃO: Crime material: exige um resultado naturalístico para consumação. Ex: homicídio – é necessário o resultado morte. Crime formal: descreve um resultado naturalístico, sendo a ocorrência irrelevante para a consumação. Ex: extorsão mediante sequestro. Crime de mera conduta: aqui, o resultado naturalístico não pode acontecer, pois o tipo penal prevê a conduta, e não o resultado. Ex: violação de domicílio. AÇÕES PENAIS: Ação penal pública incondicionada (regra): nessa modalidade, quem pode intentar a ação é apenas o Estado, por meio do Ministério Público. Ação penal pública condicionada: pública porque a titularidade é exclusiva do MP; condicionada pois depende da manifestação de outrem. Ação penal privada: A lei atribui a titularidade do direito da ação penal ao ofendido ou ao seu representante legal. Subdivide-se em: exclusivamente privada, personalíssima ou subsidiária da pública). TERMOS IMPORTANTES! a) qualificadora: nova pena base maior; altera na primeira fase. Exemplo: homicídio simples – pena de 6 a 20 anos; no qualificado, é de 12 a 30 anos. b) privilegiadora: Nomenclatura errônea; esse tipo é causa de diminuição e não uma pena base menor. c) majorante: causa de aumento; altera na 3ª fase, pode-se extrapolar o máximo e o mínimo previsto em lei. Exemplo: +1/2; +2/3 d) minorante: causa de diminuição. Exemplo: - 1/3; -1/2. – Art. 14 do CP. e) agravantes: causas que sempre aumentam a pena; diferente da majorante, não diz quanto é aumentado. Exemplo: Art. 61, do CP (genéricas) f) atenuantes: reduz a pena, sem dizer o quanto. Exemplo: art. 65, do CP (genéricas). Monitoria 1º bimestre 2 CRIMES CONTRA A PESSOA Os crimes contra a vida são aqueles nos quais o bem jurídico tutelado é a vida humana. A vida humana., para efeitos penais, é intrauterina e extrauterina, ou seja, a vida de quem já nasceu é tutelada, assim como a vida daqueles que estão no ventre materno (nascituro). Os artigos 121 ao 123 tratam da vida EXTRAUTERINA (já nasceu – rompimento do saco amniótico), enquanto que os artigos 124 ao 127 cuidam da vida INTRAUTERINA (nascituros). Não é necessário que o feto seja viável, basta que nasça com vida. A morte é considerada quando diagnosticada a morte encefálica, a partir do laudo médico., conforme art. 3º da Lei n. 94.349/97. É a justificativa pela qual é permitido o aborto de feto anencéfalo. 1.1 homicídio No crime de homicídio, previsto no artigo 121 do Código Penal, o bem jurídico tutelado é a vida humana. Pode ocorrer nas seguintes modalidades: • Homicídio simples • Homicídio privilegiado (§1º) • Homicídio qualificado (§2º) • Homicídio culposo (§3º) • Homicídio culposo majorado (§4º, primeira parte) • Homicídio doloso majorado (§4º, segunda parte e §§6º e 7º) Os crimes de homicídios são julgados pelo Tribunal do Júri. A ação é pública incondicionada. 1.1.1 Homicídio simples: Trata-se do previsto no caput do artigo 121 do Código Penal. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física, assim como o sujeito passivo. O tipo objetivo é TIRAR A VIDA DE ALGUÉM/MATAR. Pode ser praticado de forma livre, podendo ser praticado de maneira comissiva (ação) ou omissiva (omissão). ATENÇÃO: O homicídio pode ser cometido por meios psicológicos, não sendo necessário o uso de meios materiais. O elemento subjetivo é o dolo, não sendo exigido uma finalidade específica. Pode ser dolo direto ou indireto. A consumação ocorre com o falecimento da vítima, sendo, assim, um crime material. Pode ser um crime fracionado em vários atos (crime plurissubsistente), existindo a possibilidade de tentativa, contando que, iniciada a execução, o crime não seja consumado por circunstancias alheias à vontade do agente. Se for praticado por grupo de extermínio, é considerado crime hediondo. (art. 1º, Lei n. 8.072/90 Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Monitoria 1º bimestre 3 1.1.2 Homicídio privilegiado (§1º) Trata-se de um homicídio praticado em circunstâncias especiais, sendo a reprovabilidade da conduta do agente é menor, e, assim, o agente faz jus a uma diminuição de pena. Pode acontecer em três situações: a) motivo relevante valor social: praticado para benefício da comunidade, como matar um traficante conhecido. b) motivo de relevante valor moral: sentimento intenso pessoal, senso pessoal. Por exemplo, matar por eutanásia. c) sob domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima: pratica o ato dominado por sentimento de violenta emoção, imediatamente após a vítima criar esse sentimento. ATENÇÃO: Caso o delito seja cometido em concurso de pessoas, a circunstâncias pessoal (violenta emoção) não se comunica entre os agentes. Responde por homicídio simples aquele que não estava sob violenta emoção. ➔ Não precisa dos 3 motivos juntos, pode ser apenas um. 1.1.3 Homicídio qualificado (§2º) Possui pena mais grave (12 a 30 anos) em virtude da maior reprovabilidade da conduta do agente. Será qualificado quando for praticado: a) mediante paga ou promessa de recompensa ou OUTRO motivo torpe: motivação repugnante. Por exemplo, o mercenário. Na promessa de pagamento, o pagamento é irrelevante; existe o concurso necessário (quem paga e quem executa). É qualificadora SUBJETIVA. b) por motivo fútil: motivo nabal, bobo, ridículo, desproporcional. Motivo injusto não é fútil. É qualificadora SUBJETIVA. O motivo fútil não pode coexistir com o homicídio privilegiado – não pode ter relevante social ou moral e ao mesmo tempo ser fútil Só se pode ter UMA qualificadora subjetiva – por exemplo, não posso ter motivo fútil e torpe Obs.: doutrina majoritária entende que não ter motivo é qualificado, mas o STJ afirma em sentido contrário. c) com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum: possibilidade de interpretação analógica (há outros meios). A doutrina entende que a qualificadora do emprego de veneno só incide se a vítima não sabe que está ingerindo; se souber, pode ser qualificado pelo meio cruel. É qualificadora OBJETIVA. ATENÇÃO: Utilizar a tortura como meio para cometer o homicídio, qualifica o delito. No entanto, se o agente tem o dolo de torturar, e acaba matando a vítima, terá tortura qualificada pelo resultado morte (art.1º, da Lei n. 9.455/97). Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode (DEVE) reduzir a pena de um sexto a um terço. § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Monitoria 1º bimestre 4 d) à traição, de emboscada, ou qualquer meio que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: qualificado em razão do meio utilizado. Meios que dificultam a reação da vítima. É qualificadora OBJETIVA. e) Para assegurar a execução, ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: a chamada conexão objetiva, ou seja, o agente comete o homicídio para garantir alguma vantagem em relação a outro crime. Trata-se de uma forma de modificação de competência, pois unifica os crimes. Pode ser teleológica (assegurar a execução futura de outro crime) ou consequencial (garantir a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime que já foi praticado); esse outro crime não precisa ter sido praticado pelo mesmo agente. É qualificadora SUBJETIVA. f) Feminicídio: homicídio qualificado por ter sido praticado contra mulher, por “violência de gênero”. É preciso que seja caracterizada a violência de gênero; se caracteriza quando o crime envolver violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. OBS: feminicídio é diferente de femicídio. Femicídio é morte de qualquer mulher. Feminicídio é a morte por ser mulher. Causas de aumento para o feminicídio: art. 121, §7º CP. O sujeito passivo somente pode ser uma mulher. Qualificadora objetiva, pois caso fosse reconhecida que essa qualificadora fosse subjetiva não poderia ser aplicada a qualificadora de motivo fútil, torpe, e, portanto, diminuiria a proteção à mulher – maior amplitude para cumulação de qualificadoras OBS. Transexuais: quando tiverem efeitos juridicamente considerando-os como mulheres, por exemplo, no direito civil possuem nomes e são tratados como mulheres, serão assim também tratados no direito penal. g) Contra agentes de segurança e das forças armadas: quando praticado contra integrantes das Forças Armadas (Marinha, Aeronáutica, Exército), das forças de segurança pública (Policiais federais, militares, civis, corpo de bombeiros militar), dos agentes do sistema prisional (Agentes penitenciários) e integrantes da Força Nacional de Segurança. É necessário que o crime seja praticado em virtude da função exercida pelo agente. Se não tiver relação, não aplica. Além dos agentes, também aplica a qualificadora se praticado contra os parentes destes funcionários públicos (cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau). É preciso que seja parente consanguíneo; filho adotado, por exemplo, não considera nessa qualificadora. Quando o agente estiver em serviço, é presumido que o homicídio foi praticado em razão da função. É qualificadora SUBJETIVA. ➔ Pode ter um crime privilegiado qualificado, ou seja, terá um motivo de natureza objetiva e um de natureza subjetiva. ➔ Homicídio qualificado é considerado crime hediondo (art. 1º, da Lei n. 8.072/90) OBSERVAÇÕES: ↳ Se tiver mais de uma circunstância qualificadora? Não existe crime DUPLAMENTE ou TRIPLAMENTE QUALIFICADO. O crime é somente qualificado. Se tiver mais de uma qualificadora, uma delas qualifica o delito, e a outra (ou as demais) é considerada como agravante genérica (se existir previsão) ou circunstância judicial desfavorável. ↳ Se o crime for, ao mesmo tempo, qualificado e privilegiado? Tem-se o chamado homicídio qualificado-privilegiado. Todavia, só será possível se a qualificadora for OBJETIVA (meio utilizado), pois a privilegiadora é sempre subjetiva (motivos do crime). Dessa forma, nunca poderá ser cometido por motivo torpe ou motivo de relevante valor moral ou social. Homicídio qualificado privilegiado não é crime hediondo; o motivo prevalece sobre o meio utilizado. Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Monitoria 1º bimestre 5 1.1.4 Homicídio culposo O homicídio culposo acontece quando o agente pratica uma conduta direcionada a outro fim, mas em virtude da inobservância de um dever de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia), acaba causando a morte da pessoa. ↳ negligência: imprudência de forma omissiva, ausência de precaução. ↳ imprudência: precipitação, com correria. ↳ imperícia: não possui aptidão técnica para realizar o ato. ATENÇÃO: O homicídio culposo na direção de veículo automotor, com o advento da Lei n. 9.503/97, é crime previsto no art. 302 do CTB. ➔ Homicídio culposo NÃO vai para ser julgado no Tribunal do Júri PERDÃO JUDICIAL (§5º) – homicídio culposo. ↳ Não precisa que o ofendido aceita. É ato unilateral. ↳ Ocorre quando o juiz verifica que a consequência do ato para o agente é pior que a pena em si. ↳ Réu fica isento de pena. Não vai ter pena, será equiparado a uma decisão declaratória de extinção da punibilidade. Fica sem antecedentes (Súmula 18 STJ). 1.1.5 Homicídio majorado O crime de homicídio pode ter a sua pena aumentado (majorado) no caso de ter sido praticado em algumas circunstâncias. Sendo elas: ▪ No homicídio CULPOSO: (aumento de 1/3) ↳ inobservância de regra técnica ou profissão, arte ou ofício ↳ Agente deixa de prestar imediato socorro à vítima ↳ Não procura diminuir as consequências de seu ato ↳ Foge para evitar prisão em flagrante: ▪ No homicídio DOLOSO: ↳ Se o crime for praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos (aumento 1/3) ↳ Se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de segurança, ou por grupo de extermínio (aumento 1/3 até a metade) ↳ Se o crime, no caso de Feminicídio, for cometido: a) durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto; b) contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; c) na presença de ascendente ou descendente da vítima (aumento de 1/3 até a metade) Homicídio culposo §3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. EXEMPLO: Médico cirurgião em uma cirurgia esquece a pinça na barriga do paciente que falece em virtude disso. Não houve imperícia, pois é médico e tem aptidão, mas teve negligência. Aumento de pena §4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menorde 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Monitoria 1º bimestre 6 12. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação O suicídio é a eliminação voluntária da própria vida. Não é ilícito penal, nem mesmo sua tentativa. Todavia, a conduta de um terceiro que induz, instiga ou auxilia a outra pessoa a se matar (material ou moralmente) é crime. A automutilação é agredir, lacerar, cortar voluntariamente e conscientemente o próprio corpo. O bem jurídico tutelado é a vida alheia. Aplica-se o princípio da alteridade, ou seja, o direito penal só vai punir condutas que sejam lesivas a patrimônios ou direitos alheios. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, sendo admitido o concurso de pessoas. Entretanto, apenas a PESSOA QUE TENHA ALGUM DISCERNIMENTO pode ser o sujeito passivo desse crime, pois se não tiver, será considerado crime de homicídio. Além disso, o sujeito passivo precisa ser determinado ou determinável; a vítima ou grupo deve ser determinada. O autor de um livro que causa muitos suicídios não pode ser punido. O crime pode ser praticado de três formas (elementos objetivos): • Instigar: reforça a ideia preexistente. • Induzir: cria a ideia que já existia – apoio moral. • Auxiliar: fornece materiais para a conduta; é diferente de realizar atos de execução; quem realiza atos de execução, pratica homicídio. Por exemplo, se o agente empresta a corda para que o sujeito se enforque, temos auxílio ao suicídio. Se ele empurra o sujeito para que a corda o enforque, o crime é o de homicídio. Elemento subjetivo: Só pode ser punido quando tiver o dolo do agente. Não admite modalidade culposa. É possível a prática do crime por meio do dolo eventual. É considerado crime formal, logo, não é necessário que o resultado aconteça. Admite-se tentativa, basta a mera intenção do agente, mesmo que não tenha obtido êxito. ATENÇÃO: Com a redação anterior ao advento da Lei n. 13.968/2019, caso a vítima não tentasse se matar ou sofresse tão somente lesão leve, não havia crime. Só existia relevância penal se a vítima sofresse lesão corporal de natureza grave ou se ela realmente tivesse conseguido se matar. Nesse entendimento, a tentativa não era juridicamente possível. A principal alteração foi a não previsão de condicionamento da punição à existência de resultado naturalístico. Assim, ATUALMENTE, admite-se a tentativa. Forma qualificada (§§1º e 2º): antes da alteração trazida pela Lei n. 13.968/2019, o art. 122, do Código Penal só previa condutas no caso do suicídio se consumar ou de a tentativa de suicídio resultar em lesão corporal de natureza grave. Com a mudança legislativa, a ocorrência de resultados naturalísticos como lesão grave ou morte torna o crime qualificado. EXEMPLO: uma babá, após assistir Peter Pan com as crianças, diz para elas que tem um pó igual o do filme para que elas possam voar, mas elas precisam pular do prédio. A criança, acreditando na babá, pula do prédio e morre – a criança é incapaz, portanto, não tem consciência do ato praticado e não há como alegar suicídio (instigação ao suicídio), por fim a babá responde por homicídio Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2 Monitoria 1º bimestre 7 Forma majorada: O §3º do art. 122 do CP traz as causas de aumento de pena. Foram incluídas pela Lei n. 13.968/2019 a do crime ser praticado por motivo torpe ou fútil. Vítima menor de idade -> Não pode ser pessoa que não tem capacidade de compreender aquilo que faz. Utiliza-se o limite de 14 anos de idade. Diminuição da capacidade de resistência -> aquele que, por qualquer razão, está mais suscetível, assim como aquela que possui algum enfermidade, como depressão. ↳ Por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real (§4º): precisa ser para pessoa(s) determinada(s). Será aumento de pena, no caso, por exemplo, do agente que utiliza chamada de vídeo ou mesmo serviço de mensagens de uma rede social, como Facebook. Exemplo: baleia azul ↳ No caso de o agente ser o líder ou o coordenador de grupo ou de rede virtual (§5º): Aumento de metade se quem pratica é o líder ou coordenador do grupo ou da rede virtual. Não tem como acontecer o §5º sem acontecer o §4º. O §5º está ligado ao §4º, aplicam-se os dois juntos ➢ Hipóteses de configuração de crime mais grave: a Lei n. 13.968/2019 inseriu os §§6º e 7º no art. 122 do CP. Dessa forma, configura lesão corporal gravíssima ou homicídio se o crime qualificado pelo resultado for praticado contra: a) Menor de 14 anos de idade: caso a vítima com 14 anos de idade se mate ou se mutile, e isso cause lesão de natureza gravíssima, o agente responderá pelo crime de homicídio ou de lesão corporal gravíssima, respectivamente. b) Vítima que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento contra a prática do ato: Trata-se da vítima, que tem alguma enfermidade ou deficiência, e que não tem capacidade de decidir, de forma consciente e livre, sobre o fim da própria vida ou sobre a automutilação. c) Vítima que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência: abrange qualquer sujeito passivo vulnerável, que não resista. É o exemplo de alguém que ingere bebida alcóolica e não tem domínio. ➢ Punição de acordo com o resultado obtido: (considerando as vítimas mencionadas acima) ↳ se causar lesão corporal gravíssima: agente responde nos termos do art. 129, §2º, do CP. Ou seja, é necessário que enseja na incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade incurável. perda ou inutilização do membro, sentido ou função; deformidade permanente ou aborto. ↳ se causar a morte: se as vítimas destacadas no §7º do art. 122 do CP falecerem, haverá a configuração do homicídio por expressa previsão legal, sendo afastada a forma qualificada do §2º do art. 122 do CP. A força para impedir o suicídio não é punida (art. 146, §3º, inciso II, do CP). A ação penal é pública incondicionada. § 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contraquem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. ROLETA RUSSA ou PACTO DE MORTE: Roleta russa: quem sobrevive responde pelo art. 122 CP, pois se encaixa em quem instigou ou induziu, porque a pessoa dá o apoio moral para que isso aconteça Pacto de morte: EX: quando as pessoas combinam de tomar veneno juntas, se uma delas sobreviver, ela responde pelo art. 122 CP – se ele, ao invés de beber o próprio veneno, ele dá o veneno para o outro tomar, ele responde pelo art. 121 CP http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2 Monitoria 1º bimestre 8 1.3 Infanticídio O infanticídio é o crime mediante o qual a mãe, sob influência do estado puerperal, mata o próprio filho recém-nascido, durante ou logo após o parto. O objeto jurídico protegido é a vida humana. Trata-se de uma espécie privilegiada de homicídio. O sujeito ativo aqui, só pode ser a mãe da vítima e ainda, desde que esteja sob influência do estado puerperal (CRIME PRÓPRIO). O sujeito passivo é o recém-nascido, logo após o parto ou durante ele. Se retirar qualquer um dos elementos (matar, estado puerperal, próprio filho, durante ou logo após o parto) não se tem infanticídio, se tem um homicídio O crime só pode ser praticado na forma dolosa (dolo direto e dolo eventual), não sendo admitia a modalidade culposa. Se a mãe matar o filho, sem querer, sob influência do estado puerperal, vai responder por homicídio culposo. ATENÇÃO: Apesar de ser um crime próprio, é possível o concurso de agentes, que responderão por infanticídio (desde que saibam da condição da mãe da vítima), nos termos do art. 30 do Código Penal. ESTADO PUERPERAL: ↳ Período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições da pré-gravidez ↳ Não tem um período específico, pois depende de cada mulher. É analisado através de perícia ↳ O início do parto é marcado pelo rompimento do saco amniótico, se for antes do rompimento é crime de aborto ➢ E se a mãe matar o filho de outra pessoa por equívoco (confunde com seu próprio filho)? Nesse caso, vai responder também por infanticídio, como se tivesse praticado o delito contra seu filho, por se tratar de erro sobre a pessoa (art. 20, §3º, do CP). CONSUMAÇÃO e TENTATIVA: o É um crime material, portanto para consumar precisa de um resultado naturalístico, ou seja, precisa da morte para a consumação o Caso o crime não ocorra devido a circunstâncias alheia da mãe, ocorre a tentativa o A mãe pode responder por uma ação ou omissão imprópria (art. 13, §2º CP) Exemplo: quando a mãe está amamentando, a criança se afoga e a mãe não faz nada para impedir que ela morra ↳ A ação penal é pública INCONDICIONADA. Infanticídio Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos EXEMPLO: Joana, que acabou de dar à luz a um bebê, resolve tirar-lhe a vida. Sob a influência do estado puerperal, pede ajuda ao marido Mario, pedindo que este traga uma faca. O marido aceita ajudar e entrega a ela a faca. Ambos responderão pelo infanticídio. Trata- se de circunstância elementar do delito. Monitoria 1º bimestre 9 1.4 Aborto Considerações Gerais: Conceito: é a interrupção proposital da gestação com resultado morte do feto mesmo que ocorre fora do ventre da gestante. O crime de aborto é julgado pelo Tribunal do Júri. A partir do rompimento do saco amniótico, considera-se homicídio/infanticídio. Fenômeno da nidação: momento inicial do aborto – quando há uma junção do espermatozoide com o óvulo. O aborto vai do momento da nidação até o rompimento do saco amniótico. A ação é pública INCONDICIONADA. Pílula e DIU não são considerados como abortos, pois interrompe o clico antes da nidação. Formas: a. Aborto natural: espontâneo; próprio corpo da gestante causa; atípico, não é crime. b. Aborto acidental: em casos de acidentes, que não existe dolo da gestante; atípico, não é crime. c. Aborto criminoso: decorre de uma ação da gestante ou de terceiros; típico, é crime. Art. 124 ao 127 do CP. d. Aborto legal: Há permissão legal para realizar; atípico, não é crime. Art. 128 CP. e. Aborto miserável: por questões financeiras, comete o aborto. Típico, é crime. f. Aborto honoris causae: realizado para esconder adultério; é típico, é crime. g. Aborto eugênico: realizado quando há má formação do feto ou alguma patologia de ordem genética. Típico, é crime. Exceção: anencéfalo – completamente sem cérebro. Figuras Típicas: ➔ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124, CP) Provocar em si, ou seja, apenas a gestante pode responder pelo artigo 124, do CP. O sujeito ativo só pode ser a mãe (gestante). Consentir – o terceiro que ajudou responde de acordo com o art. 126 do CP, enquanto a mãe responde pelo art. 124, do CP. Exceção à teoria monista (teoria segunda a qual os comparsas devem responder pelo mesmo crime). Trata-se de um crime de mão própria. O sujeito passivo é o produto da concepção (embrião ou feto). Duas formas distintas: o gestante pratica o aborto em si própria o gestante permite que outra pessoa pratique o aborto nela. O crime só é punido na forma dolosa. Se o aborto for culposo, a gestante não pratica o crime (Ex: Gestante se acidente e causa a morte). O crime se consuma com a interrupção da gestação com destruição do produto da concepção (morte do nascituro). É possível a tentativa. Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos Monitoria 1º bimestre 10 ➔ Aborto praticado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125, do CP) Nesse crime o terceiro pratica o aborto na gestante, sem que ela concorde com o ato. Não é necessário que seja um médico, pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum). O sujeito passivo é o produto da concepção (embrião ou feto). Todavia, o sujeito passivo aqui, a vítima, também será a gestante. A gestante é considerada vítima e não responde por nada Apesar de o crime ocorrer sem o consentimento da gestante, também ocorrerá o crime quando o consentimento for prestado por quem não tenha condições, como o menor de 14 anos ou a alienada mental, ou caso o consentimento seja obtido mediante fraude por parte do agente (infrator). Se o agente pretende matar a mãe, sabendo da gravidez, e ambos os resultados ocorrem, responderá por dois crimes (homicídio e aborto) em concurso. Art. 126, §Ú • Dissentimento, ou seja, consentimento viciado – responderá pelo artigo 125 • Dissentimento presumido = menor de 14 anos, débil mental ou alienado mental • Dissentimento real = quando o consentimento é obtido por fraude, grave ameaça ou violência ➔ Aborto praticado com o consentimento da gestante (art. 126, do CP) Aqui, apesar do aborto ser praticado por terceiro, existe o consentimento da gestante. A gestante responde pelo crime do art. 124 do CP e o terceiro responde por este delito. O consentimento só é válido quando a gestante possui condições de se manifestar. Caso a gestante não tenha condições de se manifestar, ou o faz em virtude de ter sido enganada ou pela fraude do agente, o crime é o previsto do art. 125do CP. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, com exceção da própria gestante. O sujeito passivo é o produto da concepção (nascituro). O elemento subjetivo é somente o dolo. O crime é consumado com a interrupção da gestação com destruição do produto da concepção (nascituro). A tentativa é possível. ❖ MAJORANTES NO ABORTO: Se no aborto provocado por terceiro (arts. 125 e 126), em virtude dos meios utilizados pelo terceiro, ou em decorrência do aborto em si, a gestante sofre lesão corporal, as penas são aumentadas de 1/3; se sobrevém a morte, as penas são duplicadas. O resultado agravador, em ambos os casos (lesão grave e morte), decorre de culpa doa gente. Se o agente tem o dolo, responde por dois crimes. Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126, CP. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54) Pena - reclusão, de um a quatro anos. Monitoria 1º bimestre 11 Se o agente tem intenção de provocar lesão na mãe e acaba causando o aborto, responde por lesão corporal gravíssima (art. 129, §2º, CP). ↳ + 1/3 LESÃO GRAVE – envolve a gravíssima também. Se perder o útero, é gravíssima. ↳ x2 MORTE – morte da gestante. ❖ Aborto Permitido O aborto não será considerado crime quando: ↳ For a única forma de salvar a VIDA da gestante (Risco de morte, ou seja, casos de vida ou morte da gestante); ou ↳ Quando a gestação for decorrente do estupro. Ocorre quando houver estupro + consentimento da gestante ou de seu representante legal Não precisa ter o trânsito em julgado do crime de estupro para poder ser feito o aborto – não precisa nem mesmo da conclusão do inquérito policial, nem de autorização judicial Para comprovar o crime de estupro e ser realizado o procedimento exige-se somente uma declaração unilateral da mulher (como, por exemplo o B.O) – considera a prova idônea Se for identificado que a gestante mentiu, ela poderá responder pelo autoaborto e também por denunciação caluniosa ou notícia falsa de crime (crimes contra a dignidade da justiça) – será duplamente punida É recomendado que se faça o procedimento do aborto até a 12ª semana de gestação – por conta do desenvolvimento do feto e do mínimo impacto a gestante – a lei não traz um prazo específico, portanto se passa da 12ª semana geralmente o médico se recusa e a gestante precisa de autorização judicial ↳ STF entende que aborto de fetos anencéfalos (anencefálicos, ou seja, sem cérebro ou com má-formação cerebral) não é crime, sendo mais uma exceção. Somente o médico pode realizar, com o consentimento da gestante. Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro (aborto humanitário) II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Exemplo de exceção: gestante chega com grande sangramento no posto de saúde – a enfermeira constata que caso não seja parado o sangramento em duas horas a gestante morre, sendo necessário realizar o aborto – ela liga para o médico e ele alega que não conseguirá chegar a tempo – a enfermeira tem que realizar o aborto e acaba sendo processada pelo fato – pode ser alegado estado de necessidade (art. 24 CP) – QUALQUER pessoa que saiba fazer o procedimento e caso fosse a única forma de salvar a vida pode alegar estado de necessidade. A alegação de estado de necessidade só cabe nesse caso QUESTÃO: Maria mantém relacionamento clandestino com João. Acreditando estar grávida, procura o seu amigo Pedro, que é auxiliar de enfermagem, e implora para que ele faça o aborto. Pedro, que já auxiliou diversas cirurgias legais de aborto, acreditando ter condições técnicas de realizar o ato sozinho, atende ao pedido de sua amiga, preocupado com a situação pessoal de Maria, que não poderia assumir a gravidez por ela anunciada. Durante a cirurgia, em razão da imperícia de Pedro, Maria vem a falecer, ficando apurado que, na verdade, ela não estava grávida. Em razão do fato narrado, Pedro deverá responder pelo crime de HOMICÍDIO CULPOSO Pedro não responderá pela tentativa de aborto, nos termos do artigo 17 do CP, tendo em vista a absoluta impropriedade do objeto, já que Maria não estava grávida, sendo impossível consumar o crime. Entretanto, pela imperícia na cirurgia, Pedro responderá por homicídio culposo, nos termos do artigo 121, §3º, do CP. http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADPF&s1=54&processo=54 Monitoria 1º bimestre 12 considerações gerais: As lesões corporais podem ser quaisquer danos provocados no sistema de funcionalidade normal do corpo humano. Não é um crime doloso contra vida, é um crime contra a integridade física. É a ofensa voltada à integridade corporal ou saúde, todo aquele dano ocasional à normalidade funcional do corpo humano. A finalidade deve ser voltada para integridade física, e não para a morte O núcleo do tipo da lesão corporal é ofender – ofensa potencialmente lesiva Qualquer forma de ofensa à integridade física (química, física, psicológica) O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, assim como o sujeito passivo. Em alguns casos, no entanto, o sujeito passivo vai ser a mulher grávida (art. 129, §§1º, IV e 2º, V). É um crime comum e material (exige resultado). Crime de forma livre. Pode ser praticado de forma comissiva ou comissiva por omissão (omissivo impróprio – quando o agente tem o dever de cuidado, mas não presta). É crime instantâneo (ação ocorre em um único momento). Admite-se tentativa. Crime cuja ações podem ser fracionadas. A autolesão não é crime (causar lesões em si próprio), por falta de lesividade a bem jurídico alheio. Se for induzida, responde pelo art. 122 do CP; se for incapaz, responde pelo art. 129 do CP, com justificativa do art. 122, §6º, do CP. Princípio da Insignificância: depende da doutrina, pois pode ou não caber. Depende da fundamentação do caso. Somente cabe no caso de lesões corporais leves (salvo se for caso de violência doméstica) Pluralidade de lesões: várias lesões corporais causadas no mesmo contexto fático. Se for no mesmo contexto fático, é apenas um crime. Verifica que tipo de lesão que ocorreu (leve, grave e gravíssima) pega a pior lesão para qualificar, e o resto das lesões usa como circunstância negativa na 1ª fase (art. 59, do CP). A lesão corporal pode ser classificada como: ↳ Simples (caput) ↳ Qualificada (§§1º, 2º e 3º) ↳ Privilegiada (§§4º e 5º) ↳ Culposa (§6º) A lesão corporal simples é a prevista no art. 129, caput, do CP, e ocorrerá sempre que não resultar em lesão de natureza mais grave ou morte. A lesão qualificada pode ocorrer pela ocorrência de resultado grave (lesões graves) ou em virtude do resultado morte (lesão corporal seguida de morte). Exemplo: Se um indivíduo tem a vontade de matar outra pessoa e desfere 10 facadas nele – o indivíduo responderá somente pela morte, pois o crime fim absolve o crime meio (princípio da consunção/absorção) quando o crime meio é necessário para o crime fim, devendo ser analisado o dolo (se o indivíduo queria a morte) Monitoria 1º bimestre13 LESÃO CORPORAL LEVE OU SIMPLES Prevista no caput do art. 129 do Código Penal. É residual, por exclusão das demais. Ou seja, será leve quando não for grave, nem gravíssima. É competência dos Juizados Especiais Criminais (exceto quando for caso de violência doméstica contra mulher). LESÃO CORPORAL GRAVE Quando resultar em: ↳ Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias (deve ser mais de 30 dias e pode ser qualquer ocupação, como academia). Se for 29 dias, não é lesão grave. ↳ Perigo de vida: risco de morte, concreta possibilidade. Perito diz se houve risco de vida. Deve se dar de forma culposa. O perigo não é assumido. ↳ Debilidade permanente de membro, sentido ou função: debilidade é redução. Obs.: órgãos duplos que exercem a mesma função ou se prestam para o mesmo sentido – debilidade – deve-se olhar a lesão e consequência dessa lesão. Exemplo: se perder somente um rim/olho, tem debilidade, pois é possível sobreviver com apenas um rim/olho, que exerce a mesma função, portanto então é grave. ↳ Aceleração de parto: somente a gestante pode ser vítima. Nasce antes do tempo. LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA Quando resultar em: ↳ Incapacidade permanente para o trabalho: praticamente inválido, não consegue mais prover a própria subsistência. Não consegue trabalhar em nenhum lugar e nenhuma área. ↳ Enfermidade incurável: perda de memória, por exemplo. ↳ Perda ou inutilização do membro, sentido ou função: perder um braço ou braço inutilizado. Perder o olho (não a visão). ↳ Deformidade permanente: qualquer sequela permanente que causa repulsa, desconforto na vítima. Uma cicatriz, por exemplo. ↳ Aborto: agressor precisa saber que a mulher está grávida; lesão com dolo e aborto com culpa (preterdoloso). Se tiver dolo na lesão e no aborto, responde por ambos os crimes em concurso formal. Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. O CP trata ambas como lesões graves, mas a doutrina chama as primeiras de Lesões Graves e as segundas de Lesões Gravíssimas. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V – aborto Pena - reclusão, de dois a oito anos. Monitoria 1º bimestre 14 LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE Crime qualificado pelo resultado, mais especificamente, um crime PRETERDOLOSO (dolo na lesão e culpa na morte). Figura privilegiada: causa de diminuição de pena e de substituição ↳ Agente comete o crime movido por relevante valor moral ou social, ou movido por violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima: pena diminuída de 1/6 a 1/3. ↳ Não sendo graves as lesões: a) Ocorrer a situação anterior; ou b) se tratar de lesões recíprocas entre infrator e ofendido – o juiz pode substituir a pena privativa de liberdade pela multa. LESÃO CORPORAL CULPOSA Prevista no §6º do art. 129 do CP. É praticada quando há violação a um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia) Não faz diferença para a pena base a gravidade da lesão – em todos os tipos de lesão corporal, se for culposa, a pena base será de dois meses a um ano. Será ação penal pública condicionada, salvo em casos de violência doméstica contra a mulher. OBS: Previsão específica na modalidade culposa quando é na direção de veículo automotor - art. 303 CTB Na lesão corporal culposa, o juiz pode conceder perdão judicial ao infrator, assim como no caso de homicídio culposo. O CP trata da violência doméstica. A violência doméstica é a praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge, companheiro, pessoa com quem conviva, ou tenha convivido ou, ainda, quando o agente se prevalece das relações de hospitalidade e convivência. Tanto homem quanto mulher pode ser vítima. Em crime de violência doméstica contra o homem, vai para juízo comum e depende de representação. Em relação ao delito de lesão corporal praticado no âmbito de violência doméstica: ↳ se o crime for qualificado (lesão grave, gravíssima ou morte) – pena aumentada de 1/3. ↳ se a vítima de violência doméstica é pessoa com deficiência – pena aumentada de 1/3. ↳ Contra autoridade ou agente policial (§12) Se o crime de lesões corporais for praticado contra integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), das forças de segurança pública (Policial Federal, Policial Rodoviário Federal, Militar e corpo de bombeiros militar), dos agentes do sistema prisional (agente penitenciários) e integrantes da Força Nacional de Segurança. É necessário que o crime tenha sido praticado no exercício da função ou em razão da função exercida pelo agente. Relacionada também os parentes destes funcionários públicos (cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau). Exemplo: um indivíduo bate no outro com as mãos, não tendo o objetivo matar o outro, porém depois das agressões esse outro indivíduo acaba morrendo Diminuição de pena § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Substituição da pena § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Monitoria 1º bimestre 15 OBSERVAÇÕES ↳ Em casos de violência doméstica, só se aplicam as disposições se a lesão for dolosa. Se a lesão for culposa, a regra é a mesma das lesões comuns (não domésticas). ↳ No crime de violência doméstica, é possível o enquadramento, por exemplo, da babá, que se aproveita da convivência com a criança para agredi-la. ↳ O crime de lesão corporal é processado mediante ação penal pública incondicionada, via de regra. Todavia, em caso de lesão corporal culposa, a ação será pública condicionada à representação (art. 88, da Lei n. 9.099/95). ↳ ATENÇÃO: Se a lesão é praticada com violência doméstica À MULHER, a ação será pública incondicionada (súmula n. 542, STJ). Os crimes contra a honra são aqueles em que o bem jurídico tutelado é a honra do ofendido. Os crimes contra a honra são três: ↳ Calúnia ↳ Injúria ↳ Difamação Lesão corporal culposa § 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de dois meses a um ano. Aumento de pena Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação ڎ7 § dada pela Lei nº 12.720, de 2012) § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006 § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo,a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) o O §9º é para lesão leve o Aplica-se o §10 para lesão grave, gravíssima, ou com morte – pega a pena base a aumenta 1/3 HONRA OBJETIVA é o apreço que os outros têm pela pessoa. É ligada à imagem da pessoa perante a sociedade. HONRA SUBJETIVA É o sentimento de apreço pessoal que a pessoa tem de si mesma. Monitoria 1º bimestre 16 3.1 Calúnia: é a imputação falsa, a alguma pessoa, de fato definido como crime. Prevista no art. 138, do Código Penal. Na calúnia, o bem jurídico protegido é a honra objetiva do ofendido, pois sua imagem perante a sociedade está em jogo. O tipo objetivo é a conduta de imputar a alguém falsamente fato definido como crime. Conduta só pode ser pratica na forma comissiva. Pode ocorrer quando o fato imputado não ocorreu ou quando mesmo tendo ocorrido, não foi o caluniado o seu autor. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Todavia, em alguns casos, algumas pessoas possuem imunidade material, não praticando o crime quando caluniam alguém no exercício da profissão (parlamentares, como exemplo). O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa. Os mortos também podem ser caluniados, mas os sujeitos passivos são seus familiares. A Pessoa Jurídica pode ser vítima de calúnia desde que o crime imputado seja um crime ambiental O inimputável pode ser caluniado. Não exige que o ofendido seja culpável (imputável), bastando que o fato que lhe está sendo atribuído seja definido como crime. Não se admite calúnia na modalidade culposa. O elemento subjetivo é o dolo. Se alguém caluniar na brincadeira, não é crime. É necessária a intenção de caluniar. Se o agente imputa a si mesmo fato definido como crime, de forma falsa (auto calúnia), poderá estar cometendo o crime de autoacusação (Art. 314, do CP), dependendo das circunstâncias. A calúnia praticada contra o Presidente da República, por questões políticas, é crime contra a segurança nacional. Conduta equiparada: nesta modalidade, só se admite o dolo direto, e não eventual. Se consuma com a divulgação da calúnia a um terceiro. Trata-se de um crime formal. É cabível a tentativa. Exceção da Verdade: trata-se do direito que o sujeito ativo tem de provar que o fato que ele imputa ao sujeito passivo, de fato, ocorreu. Não se admite invocar a exceção da verdade quando: a. No caso de ação penal privada, se não houve ainda sentença irrecorrível – se o ofendido estiver respondendo a um processo criminal, não pode alegar exceção da verdade. b. No caso de calúnia dirigida ao Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro. Calúnia Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Exceção da verdade § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. EXEMPLOS: João imputa a Maria um fato definido como crime, levando ao conhecimento de algumas pessoas esse fato. Se estas pessoas não acreditarem, não haverá resultado naturalístico, pois a honra objetiva não foi atingida. É irrelevante para a consumação. Ana encaminha uma carta a Paula contendo um fato calunioso em relação a Mario. Imagine que Mario intercepte a carta antes que chegue ao conhecimento de Paula (terceiro). Houve a tentativa. Monitoria 1º bimestre 17 c. No caso de ação penal pública, caso o caluniado tenha sido absolvido por sentença penal transitada em julgado. Diferença entre calúnia e denunciação caluniosa: Calúnia: crime contra a honra. Denunciação caluniosa: dolo, sabendo que a outra pessoa é inocente. Crime contra a justiça. Vai até a autoridade e inventa algo. 3.2 Difamação: Semelhante à calúnia, tendo também como bem jurídico tutelado a honra objetiva do ofendido. A diferença é que o fato imputado NÃO É CRIME, mas apenas ofende a reputação. O sujeito ativo e passivo pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. ATENÇÃO: Não se pune difamação contra os mortos. O tipo subjetivo é o dolo (direto ou eventual), não se admitindo a forma culposa. A consumação ocorre quando um terceiro tem conhecimento do fato difamatório, independentemente se acreditar ou não ao fato. A tentativa é possível na forma escrita. Exceção da verdade: Só é admitida se o ofendido é funcionário público e a difamação é referente ao exercício das funções. 3.3 Injúria: A injúria busca tutelar a honra subjetiva do ofendido. O sujeito ativo e passivo podem ser qualquer pessoa. Aqui não se trata de fato, mas da emissão de um conceito depreciativo sobre o ofendido. Não se exige que um terceiro tenha conhecimento da vítima. É necessário somente que a própria vítima tenha conhecimento das ofensas. O crime é formal, se consumando com a chegada da ofensa aos conhecimentos da vítima, independentemente do fato de esta se sentir ofendida ou não. Cabe tentativa na forma escrita Não se admite prova da verdade (exceção da verdade). O §1º dispõe sobre o PERDÃO JUDICIAL. É o caso da provocação e da retorsão Difamação Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Exceção da verdade Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. EXEMPLO: Ângelo espalha para a vizinhança que João anda traindo sua esposa. Isso é um exemplo de difamação, pois tem relação com sua reputação e não é crime. Exceção da verdade Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. Injúria Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. Monitoria 1º bimestre 18 O §2º trata da chamada INJÚRIA REAL, pois há contato físico, pretendendo humilhar através de contato físico (tapa na cara, por exemplo. É preciso que o agente tenha a finalidade especial de agir (elemento subjetivo), consistente na intenção de ofender. O §3º trata sobre a injúria qualificada, que é uma modalidade em que a lei prevê uma pena mais grave. A intenção do agente é ofender. Diferente do crime de racismo, no qual o infrator pratica uma espécie de segregação, buscando marginalizar determinada pessoa em razão de alguma condição pessoal. A doutrina entende que não é cabível perdão judicial na injúria qualificada nem na injúria real. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. OBSERVAÇÕES: ↳ Se o crime for praticado contra Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, contra funcionário público (no exercício da função, na presença de váriaspessoas ou por meio que facilite a divulgação ou, ainda, contra pessoa maior de 60 anos ou deficiente (salvo no caso de injúria), a pena do agente é aumentada em 1/3. ↳ Se o crime for praticado mediante paga ou promessa de recompensa, a pena é aplicada em dobro. ↳ A injúria ou difamação não é punível se for realizada em juízo, pela parte ou seu procurador, se decorre de crítica literária, artística ou científica (salvo se inequívoca intenção de injuriar). ↳ Se for praticada calúnia e difamação pelos meios de comunicação, a retratação deve ocorrer pelos mesmos meios que foram cometidos. ↳ A ação penal, em regra, é privada, salvo no caso de injúria real quando tiver violência. Se resultar em lesão corporal, será de ação penal pública condicionada ou incondicionada. ↳ A ação é pública incondicionada à representação do ofendido no caso de injúria qualificada. Disposições comuns Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; II - contra funcionário público, em razão de suas funções; III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. § 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro Exclusão do crime Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. Retratação Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código. Monitoria 1º bimestre 19 Os crimes contra a liberdade individual são crimes que atentam contra a liberdade da pessoa. Protege-se a escolha que todo cidadão possui de agir, ou não agir, conforme a sua própria vontade. São divididos em quatro grupos: ↳ Crimes contra a liberdade pessoal ↳ Crimes contra a inviolabilidade do domicílio ↳ Crimes contra a inviolabilidade das correspondências ↳ Crimes contra a inviolabilidade dos segredos 4.1 Constrangimento ilegal O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum). O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, desde que tenha discernimento. Se o sujeito ativo for funcionário público no exercício da função, podemos estar diante do crime de abuso de autoridade. O elemento subjetivo é o dolo. Não existe na modalidade culposa. A conduta pode ser realizada de várias maneiras, contando que o agente empregue violência, grave ameaça ou outro meio que diminua a capacidade de resistência, a fim de COAGIR a pessoa a fazer alguma coisa. Só existirá esse crime caso não se trate de crime mais grave (subsidiariedade expressa). Por exemplo, se uma pessoa coage alguém para manter relações sexuais, está cometendo o crime de estupro e não de constrangimento ilegal. Pode ser praticado, de acordo com a doutrina, de forma comissiva (ação) ou omissiva (omissão). A consumação ocorre quando a vítima age ao comando do agente e pratica aquilo que foi coagida. Trata-se de crime material e plurissubsistente, sendo possível a tentativa. ❖ AUMENTO DE PENA Se o crime for cometido por meio de concurso de mais de três empresas ou através de emprego de arma (qualquer tipo), a pena é aplicada em dobro, conforme §1º do art. 146, do CP. Se na execução o agente utilizar violência, acarretando em lesões na vítima, responderá, cumulativamente, pelo constrangimento ilegal e pela violência aplicada (§2º), em concurso material. O constrangimento ilegal não será punido quando: ↳ for praticado por médico, objetivando salvar a vida do paciente (quando este não quiser); ou ↳ o agente exerce coação para impedir suicídio do coagido (§3º) Constrangimento ilegal Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Aumento de pena § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. Monitoria 1º bimestre 20 4.2 Ameaça A ameaça é o delito pelo qual um indivíduo promete uma realização futura de um mal grave e injusto a outra pessoa. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum), assim como o sujeito passivo. No entanto, o sujeito passivo precisa ter capacidade de entender o caráter da ameaça. Pode ser cometido de várias formas (palavras, gestos, escritos), de maneira implícita ou explícita. Pode ser direta ("eu vou te matar") ou indireta ("se eu fosse você, eu faria... "). A ameaça pode ser incondicionada (ameaça de fazer o mal injusto e grave); ou condicionada (mal prometido só ocorrerá sob certas condições). O mal precisa ser injusto e grave. A gravidade é analisada de acordo com o caso concreto, considerando a sensibilidade de cada pessoa. O elemento subjetivo é o dolo, baseado na vontade de ameaçar. Não é admitida a forma culposa. A consumação ocorre com a chegada da ameaça ao conhecimento da vítima. Via de regra, não cabe tentativa, mas é admitida na forma escrita. É ação penal CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO. Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. Monitoria 1º bimestre 21 QUESTÕES 1. Insatisfeito com o comportamento de seu empregador Juca, Carlos escreve uma carta para a família daquele, afirmando que Juca seria um estelionatário e torturador. Lacra a carta e a entrega no correio, adotando todas as medidas para que chegasse aos destinatários. No dia seguinte, porém, Carlos se arrepende de seu comportamento e passa a adotar conduta para evitar que a carta fosse lida por qualquer pessoa e o crime consumado. Carlos vai até acasa de Juca, tenta retirar a carta da caixa do correio, mas vê o exato momento em que Juca e sua esposa pegam o envelope e leem todo o escrito. Ofendido, Juca procura seu advogado e narra o ocorrido. Considerando a situação apresentada, o advogado de Juca deverá esclarecer que a conduta de Carlos configura crime de: a. injúria, consumado; b. tentativa de injúria, pois houve arrependimento eficaz, devendo Carlos responder apenas pelos atos já praticados; c. tentativa de calúnia, pois houve desistência voluntária, devendo Carlos responder apenas pelos atos já praticados; d. tentativa de calúnia, pois houve arrependimento eficaz, devendo Carlos responder apenas pelos atos já praticados; e. calúnia, consumado. 2. João, servidor público estadual ocupante do cargo efetivo de engenheiro civil, foi o responsável por determinada obra com escavação de um poço. João agiu culposamente, nas modalidades de imperícia e negligência, pois, na condição de engenheiro civil, realizou obra sem observar seu dever objetivo de cuidado e as regras técnicas da profissão, provocando como resultado a morte de um pedreiro que trabalhava no local. Em termos de responsabilidade criminal, em tese, João: a. não deve ser processado por homicídio, pois não agiu com dolo ou culpa criminal, restringindo-se sua responsabilidade à esfera cível; b. não deve ser processado por homicídio, pois agiu como funcionário público no exercício da função, restando apenas a responsabilidade cível que recairá sobre o poder público; c. deve ser processado por homicídio doloso, eis que agiu com dolo direto e eventual, na medida em que assumiu o risco de provocar a morte do pedreiro; d. deve ser processado por homicídio culposo, com causa de diminuição de pena, eis que não agiu com intenção de provocar o resultado morte do pedreiro; e. deve ser processado por homicídio culposo, com causa de aumento de pena, eis que o crime resultou de inobservância de regra técnica de profissão. R: LETRA A – Não houve imputação de fato no caso narrado; portanto, não houve calúnia e nem difamação. Houve, assim, injúria. Consumada pois estão reunidos todos os elementos necessários para a definição legal; a carta chegou ao destinatário e foi lida. R: LETRA E -> De acordo com o caso, o agente responde por homicídio culposo (agiu culposamente). Ademais, a situação mencionada de imperícia e negligência caracteriza o aumento de pena por inobservância de regra técnica. Monitoria 1º bimestre 22 3. Roberta, enquanto conversava com Robson, afirmou categoricamente que presenciou quando Caio explorava jogo do bicho, no dia 03/03/2017. No dia seguinte, Roberta contou para João que Caio era um “furtador”. Caio toma conhecimento dos fatos, procura você na condição de advogado(a) e nega tudo o que foi dito por Roberta, ressaltando que ela só queria atingir sua honra. Nesse caso, deverá ser proposta queixa-crime, imputando a Roberta a prática de a. 1 crime de difamação e 1 crime de calúnia. b. 1 crime de difamação e 1 crime de injúria. c. 2 crimes de calúnia. d. 1 crime de calúnia e 1 crime de injúria. 4. Paloma, sob o efeito do estado puerperal, logo após o parto, durante a madrugada, vai até o berçário onde acredita encontrar-se seu filho recém-nascido e o sufoca até a morte, retornando ao local de origem sem ser notada. No dia seguinte, foi descoberta a morte da criança e, pelo circuito interno do hospital, é verificado que Paloma foi a autora do crime. Todavia, constatou-se que a criança morta não era o seu filho, que se encontrava no berçário ao lado, tendo ela se equivocado quanto à vítima desejada. Diante desse quadro, Paloma deverá responder pelo crime de a. homicídio culposo. b. homicídio doloso simples. c. infanticídio. d. homicídio doloso qualificado. 5. No que toca ao delito de aborto e seus permissivos legais, é correto afirmar que: a. não é admissível na legislação pátria, diante do direito à vida consagrado na Constituição da República. b. é amplamente admissível na legislação pátria, diante da supremacia da disposição da mulher sobre seu corpo. c. é excepcionalmente admissível na legislação pátria, no caso de aborto terapêutico ou aborto humanitário (ou piedoso). d. é excepcionalmente admissível na legislação pátria, no caso de aborto eugênico ou aborto humanitário (ou piedoso). e. é amplamente admissível na legislação pátria, em razão de questões de política de saúde pública, mesmo sem o consentimento da gestante. R: LETRA B -> Primeiramente, cabe dizer que “explorar jogo do bicho” é uma contravenção penal, logo, não há o que se falar em calúnia (precisa ser CRIME). Quanto ao fato de Roberta contar para João que caio era um furtador, não houve uma imputação de um fato, logo, não caracteriza a difamação e a calúnia. Houve uma ofensa genérica, portanto, uma injúria. Nesse caso, seria possível uma queixa por INJÚRIA, visto que Roberta ofendeu a dignidade/decoro de Caio ao chamá-lo de “furtador”. Nesse caso, caberia uma queixa sobre DIFAMAÇÃO, visto que Roberta imputou a Caio fato OFENSIVO À SUA REPUTAÇÃO (explorar jogo do bicho). b) No dia seguinte, Roberta co R: LETRA C -> No caso em apreço, Paloma responderá pelo crime de infanticídio, conforme art. 122, do CPP. Embora Paloma tenha matado o filho de outra pessoa, a intenção era matar o próprio filho. Houve erro sobre a pessoa; neste caso, o agente responde como se tivesse atingido a pessoa visada (art. 20, §3º, do CP) R: LETRA C -> nos termos do art. 128, incisos I e II, do CP. Monitoria 1º bimestre 23 REFERÊNCIAS: Noções de Direito Penal p/ Prefeitura de Campos do Jordão/SP (Guarda Municipal) Pós- edital – Estratégia Concursos. Professor Renan Araújo. Direito Penal para Policial Civil de São Paulo (Agente Policial). Professor Renan Araújo. Direito Penal e Processual Penal para Prefeitura de Valinhos (Guarda Municipal) – Pós-Edital. Professor Renan Araújo.
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