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IMPACTO DA REABILITAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA AQUÁTICA E TERRESTRE ASSOCIADA AO TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: RESULTADOS PRELIMINARES Impact of aquatic cardiac rehabilitation and terrestrial associated with inspiratory muscle training in patients with heart failure: preliminary results Camila de Vargas Selaimen1, Stella de Andrade Schirmer1, Bárbara Hermes1, Dannuey Machado Cardoso2, Dulciane Nunes Paiva1, Isabella Martins de Albuquerque1 RESUMO Contextualização: A alta mortalidade e intolerância ao esforço físico em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC), apesar da terapêutica farmacológica, levanta a necessidade de novos tratamentos, como o treinamento físico regular e contínuo. Objetivos: Analisar o impacto de dois programas de reabilitação cardíaca – aquático e terrestre – associados ao treinamento muscular inspiratório (TMI) na força muscular respiratória, capacidade funcional e qualidade de vida em pacientes com ICC controlada. Métodos: Estudo quase experimental constituído por 12 pacientes (07 homens) com diagnostico clinico de ICC controlada. Após avaliação, 08 pacientes foram alocados ao programa de fisioterapia aquática (FA) e 04 pacientes ao programa de fisioterapia terrestre (FT) ambos associados ao TMI. Avaliou-se a força muscular respiratória (manovacuômetro digital); qualidade de vida (Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire – LHFQ) e capacidade funcional submáxima (teste de caminhada dos seis minutos -TC6M). Cada programa conteve 16 semanas de duração com 2 sessões semanais de exercícios, totalizando 64 atendimentos. Resultados: Não houve diferença significativa no grupo FA + TMI (p=0,138 e p=0,50) como no grupo FT + TMI (p=0,075 e p=0,463) para os valores de PImax e PEmax respectivamente. A distância percorrida no TC6M em ambos os grupos aumentou significativamente (FA + TMI; p=0,03) (FT + TMI; p=0,028), bem como a QDV (FA + TMI; p=0,043) (FT + TMI; p=0,028). Conclusões: Os resultados preliminares demonstraram o impacto benéfico de ambos os programas no aprimoramento da capacidade funcional submáxima e qualidade de vida dos pacientes do estudo. Palavras-chave: Reabilitação. Fisioterapia. Insuficiência Cardíaca. ABSTRACT Background: The high mortality and intolerance to physical exercise in patients with congestive heart failure (CHF), despite drug therapy, raises the need for new treatments such as regular and continuous physical training. Objectives: To evaluate the impact of two cardiac rehabilitation programs - aquatic and terrestrial - associated with inspiratory muscle training (IMT) on respiratory muscle strength, functional capacity and quality of life in stable patients with CHF. Methods: A quasi-experimental study comprising 12 patients (07 men) with clinical diagnosis of stable CHF. After evaluation, 08 patients were allocated to the 1 UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil 2 UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil program of aquatic physical therapy (APT) and 04 patients to the physiotherapy land (PL) both associated with TMI. We evaluated the respiratory muscle strength (digital manometer), quality of life (Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire - LHFQ) and submaximal level of functional capacity (6-minute walk test, 6MWT). Each intervention included 64 sessions for a period of 16 weeks (two times per week). Results: There was no significant difference in APT + IMT group (p = 0.138 and p = 0.50) as in the PL + IMT group (p = 0.075 and p = 0.463) for the values of MIP and MEP, respectively. The distance walked in 6MWT increased significantly in both groups (APT + IMT, p = 0.03) (PL + IMT, p = 0.028) and QOL was also augmented in both programs (APT + IMT, p = 0.043) (PL + IMT; p = 0.028). Conclusions: Preliminary results demonstrate the beneficial impact of both programs in increasing the submaximal functional capacity and quality of life of patients in the study. Keywords: Rehabilitation. Physiotherapy. Heart Failure. INTRODUÇÃO A insuficiência cardíaca (IC) é a via final comum da maioria das cardiopatias. Trata-se de uma síndrome complexa, caracterizada pela incapacidade do coração em gerar débito cardíaco em níveis capazes de atender às necessidades metabólicas do organismo, associada a distúrbios metabólicos, inflamatórios e ativação neuro-hormonal (BRAUNWALD et al.,1999). Representa importante problema de saúde pública, considerando-se a prevalência crescente e os índices de hospitalização associados à alta morbimortalidade (III DIRETRIZ BRASILEIRA DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA, 2009). As manifestações clínicas associam-se à ativação do sistema nervoso simpático, disfunção endotelial, modificações do sistema músculo esquelético e alterações do controle quimioreflexo ventilatório (YAZBEK JUNIOR et al., 2007). Fadiga, dispnéia e conseqüentemente, intolerância ao exercício são costumeiramente acompanhadas por uma sensação de peso nos membros inferiores e relacionadas à má perfusão da musculatura esquelética em pacientes com baixo debito cardíaco, tais sintomas ocasionam redução da qualidade de vida (QDV) dos portadores da doença (FIGUEROA; PETERS, 2006). Recente revisão sistemática demonstrou que programas de reabilitação cardíaca são seguros e ocasionam importantes benefícios clínicos na qualidade de vida e na redução de re-hospitalização de pacientes com ICC (DAVIES et al, 2010). Entretanto, no Brasil e especialmente na região sul do país são raros os estudos nos quais abordam a questão da reabilitação aquática em pacientes com ICC. Em estudo piloto randomizado, Caminiti et al. (2011) demonstraram em pacientes idosos com ICC que um programa de reabilitação cardíaca aquática foi mais eficaz no aprimoramento da capacidade funcional e do perfil hemodinâmico quando comparado ao programa realizado no meio terrestre. O objetivo desse estudo foi analisar o impacto de dois programas de reabilitação cardíaca - aquático e terrestre - associados ao treinamento muscular inspiratório (TMI) na força muscular respiratória, capacidade funcional submáxima e qualidade de vida (QDV) em pacientes com ICC controlada classe funcional II segundo a New York Heart Association (NYHA). MÉTODOS O presente estudo se caracteriza por um delineamento quase experimental. A população foi composta por indivíduos com ICC classe funcional II (NYHA), que estavam em acompanhamento no Ambulatório de Cardiologia do Hospital Santa Cruz, na cidade de Santa Cruz do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul. Tais pacientes apresentavam estabilidade clínica superior a três meses e fraqueza da musculatura inspiratória definida como pressão inspiratória máxima (PImax) menor que 70% do predito (NEDER et al., 1999). Foram considerados critérios de exclusão: doença pulmonar, indivíduos com déficit cognitivo e indivíduos fumantes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) sob protocolo 2605/10. Os indivíduos elegíveis foram inicialmente avaliados, segundo o protocolo de avaliação abaixo explanado, e posteriormente randomizados, pelo método de sorteio de envelopes opacos e lacrados, em dois grupos: programa de fisioterapia aquática (FA) associado ao treinamento muscular inspiratório (TMI) e programa de fisioterapia terrestre (FT) associado ao treinamento muscular inspiratório (TMI). Todas as avaliações foram repetidas, nas mesmas condições, ao final do programa sendo realizadas por dois avaliadores, os quais estavam cegados para a intervenção. É importante destacarque as variáveis pré e pós-treinamento foram sempre coletadas pelo mesmo avaliador para cada paciente. A avaliação da força muscular respiratória foi realizada através da aferição da pressão inspiratória máxima (PImax) e da pressão expiratória máxima (PEmax) por manovacuometria digital (MDI® modelo MVD 300 Globalmed®). Para ambas as pressões foram realizadas cinco manobras, considerando-se o maior valor, e os valores preditos foram calculados segundo Neder et al. (1999). A avaliação da capacidade funcional submáxima foi realizada através do Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) de acordo com o protocolo da ATS (2002). Os pacientes foram monitorizados pelo cardiofrequencímetro Polar® S810, com registro instantâneo e armazenamento dos valores de frequência cardíaca (FC); os valores de pressão arterial (PA) foram obtidos pelo método auscultatório (esfigmomanômetro aneróide) antes do teste e imediatamente após o término assim como o índice de percepção da intensidade de esforço de Borg. A QDV foi medida com a versão brasileira do questionário de Minnesota (Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire), uma medida doença-específica que avalia as percepções dos pacientes sobre a influência da ICC nos aspectos físicos, socioeconômicos e psicológicos da vida. O programa de treinamento aquático compreendeu 45 minutos de duração em piscina aquecida (31–33ºC), ocorrendo 2 sessões de exercícios por semana, por um período de 16 semanas. O nível de imersão variou da cicatriz umbilical até a altura do processo xifóide, os exercícios foram realizados em piscina aquecida (31°C a 33°C) e cada sessão foi dividida em cinco etapas: 1ª - Aquecimento e alongamento (5 minutos): caminhadas para frente e para trás, realizando turbulência para aumentar a resistência ao deslocamento e alongamento dos principais grupos musculares. 2ª - Exercícios aeróbios: movimentos isotônicos dinâmicos com os membros superiores e inferiores, totalizando 20 minutos, com intervalo de um minuto entre um exercício e outro. A carga de trabalho foi de 60% da freqüência cardíaca máxima 3ª - TMI: realizado com o equipamento de resistência linear pressórica (Threshold® IMT, New Jersey, EUA) durante 5 minutos. Durante o treinamento, os indivíduos permaneceram na posição sentada, com o nariz ocluído por um nasoclip, sendo orientados a manter um padrão muscular ventilatório diafragmático, e uma freqüência respiratória aproximadamente em 20 ciclos por minuto. A carga do Threshold® IMT foi de 30% da PImax obtida na avaliação inicial, mantendo-se assim até o término do estudo. 4ª – Exercícios de fortalecimento: movimentos em diagonal com a utilização de flutuadores nos membros superiores e inferiores. Foram realizadas 2 a 3 séries de 10 repetições com duração aproximada de 10 minutos e 5ª – Alongamento e relaxamento: movimentos em diagonal com a utilização de flutuadores nos membros superiores e inferiores (5 minutos). O programa de treinamento terrestre, também compreendeu 45 minutos de duração e englobou cinco fases: 1ª - Aquecimento e alongamento (5 minutos): pedaladas na bicicleta vertical e alongamento dos principais grupos musculares. 2ª - Exercícios aeróbios: caminhada na esteira ergométrica (20 minutos). 3ª - Treinamento muscular inspiratório: o TMI foi realizado com o equipamento de resistência linear pressórica (Threshold® IMT, New Jersey, EUA) durante cinco minutos. Durante o treinamento, os indivíduos permaneceram na posição sentada, com o nariz ocluído por um nasoclip, sendo orientados a manter um padrão muscular ventilatório diafragmático, e uma freqüência respiratória aproximadamente em 20 ciclos por minuto. A carga do Threshold® IMT foi de 30% da PImax obtida na avaliação inicial, mantendo-se assim até o término do estudo. 4ª – Exercícios de fortalecimento: Realizados por meio de halteres, banda elástica, mecanoplus® e cadeira extensora. Foram realizadas 2 a 3 séries de 10 repetições com duração aproximada de 10 minutos. A intensidade foi ajustada o mais próxima possível de 50% da resistência máxima (1RM). Durante a execução do programa de exercícios terapêuticos, os pacientes foram orientados quanto ao controle respiratório para o desenvolvimento das atividades, com o objetivo de melhor aproveitamento e qualidade das tarefas. 5ª – Alongamento e massoterapia: alongamento e massagens de grandes grupos musculares mantidos por 30 segundos (5 minutos). Para o controle da intensidade dos exercícios aeróbios, tanto no meio aquático quanto no terrestre, foi mantido monitoramento da FC por meio de palpação da artéria radial e pela escala de percepção do esforço de Borg (atividade na intensidade de 2,5-4 da escala de Borg modificada, a qual equivale a 12-14 da escala de Borg original). A carga de trabalho em ambos os programas foi de 60% da freqüência cardíaca máxima (Fcmáx - calculada pela Fórmula de Karvonen) (WISLOFF et al., 2007). Previamente às sessões, foi realizada a mensuração da PA, frequência respiratória (FR), FC e saturação periférica de oxigênio (SpO2) no repouso. Ao final do atendimento e aos 10 minutos pós-sessão o monitoramento dos sinais vitais foram todos repetidos. Os dados foram apresentados em média e desvio padrão e analisados através do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences, versão 15.0). Para avaliar a normalidade da distribuição da amostra, utilizamos o teste de Shapiro-Wilk. Os dados referentes à força muscular respiratória, distância percorrida no TC6M e ao escore obtido no questionário de Minnesota foram comparados intra-grupos através do teste de Wilcoxon. O teste Exato de Fisher foi utilizado para comparar os grupos, quanto as variáveis dicotômicas. O nível de significância estatística adotado foi de p<0,05. RESULTADOS A amostra do estudo foi constituída por 12 indivíduos (07 homens) com diagnóstico clínico de ICC controlada classe funcional II (NYHA) (Tabela 01). Após os procedimentos da avaliação inicial, 08 pacientes foram alocados ao programa de fisioterapia aquática (FA) associada ao treinamento muscular inspiratório (TMI) e 04 pacientes foram alocados ao programa de fisioterapia terrestre (FT) associada ao treinamento muscular inspiratório (TMI). É importante mencionar que ambos os programas foram bem tolerados, sendo que sinais e sintomas de intolerância ao exercício não foram observados. Tabela 01. Características clínicas e funcionais da amostra FA + TMI (n=08) FT + TMI (n=04) Sexo, (M/F) 05/03 02/02 Idade, (anos) 69 ± 5,60 68 ± 6,43 IMC, (Kg/m2) 33,38 ± 4,7 32,48 ± 7,5 Classe Funcional (NYHA) II II Diurético (n) 06 03 Digoxina (n) 07 04 iECA (n) 06 03 Beta-bloqueador (n) 06 03 FA: Fisioterapia Aquática; FT: Fisioterapia Terrestre; IMC: índice de massa corporal; NYHA: New York Heart Association; iECA: inibidor da enzima conversora de angiotensina. FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA Conforme evidenciado nas Figuras 01 e 02, os resultados demonstraram que não houve incremento significativo na força muscular respiratória tanto no grupo FA + TMI (-86 para -91 cmH2O; p=0,138 e 106 para 121 cmH2O; p=0,50 para os valores de PImax e Pemax, respectivamente) como no grupo FT + TMI (-69 para -90 cmH2O; p=0,075 e 107 para 131 cmH2O; p=0,463 para os valores de PImax e Pemax, respectivamente). Figura 01: Valores da PImax (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. Figura 02: Valores da PEmax (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. QUALIDADE DE VIDA Observou-se no presente estudo que após os programas, os pacientesevidenciaram um aumento global da qualidade de vida demonstrado pela redução estatisticamente significativa da soma dos valores individuais do LHFQ em ambos os grupos (FT + TMI 22 para 11 pontos; p =0,028) (FA + TMI 27 para 08 pontos; p=0,043) (Figura 03). Figura 03: Valores do escore do Questionário de Minesotta (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. † Diferença estatisticamente significativa no grupo FT + TMI (p=0,028) * Diferença estatisticamente significativa no grupo FA+ TMI (p=0,043) CAPACIDADE FUNCIONAL SUBMÁXIMA Os resultados do estudo apontaram que houve um incremento significativo da distância percorrida no TC6M tanto pelos participantes do programa de fisioterapia aquática (480 para 505 metros; p=0,03) quanto de fisioterapia terrestre (441 para 487 metros; p=0,028) (Figura 04), evidenciando um aumento da capacidade funcional submáxima nos pacientes da amostra. Figura 04: Valores da distância percorrida no TC6M (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. † Diferença estatisticamente significativa no grupo FT + TMI (p=0,028) * Diferença estatisticamente significativa no grupo FA+ TMI (p=0,03) DISCUSSÃO A alta morbidade e mortalidade assim como a persistente intolerância ao esforço físico que ocorre nos pacientes com insuficiência cardíaca apesar da terapêutica farmacológica otimizada, levanta a necessidade de pesquisar novas estratégias de tratamento como o treinamento físico regular e continuo (III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica, 2009). Recentemente Erbs et al. (2010) demonstraram em pacientes com ICC avançada que um programa de doze semanas de treinamento físico foi associado significativamente com um aumento do processo de regeneração das células progenitoras endoteliais, prevenção da perda de fibras musculares, neovascularização e aumento da função sistólica do ventrículo esquerdo. Dall’Ago et al. (2006) realizaram um estudo avaliando o efeito do treino muscular inspiratório (12 semanas) em doentes com ICC e fraqueza muscular inspiratória. Após o período de treino foi observada melhoria na PImax, na capacidade funcional e na qualidade de vida dos doentes que realizaram o treino. Além do tamanho amostral, outra provável hipótese elencada, no presente estudo, para o achado da não significância estatística no aumento da força muscular respiratória pode ser o fato da freqüência do TMI ter sido menor do que nos estudos que demonstraram aumento da PImax (DALL’AGO et al., 2006; PADULA et al., 2009). Winkelmann et al. (2009) demonstraram o ganho de força muscular respiratória, obtido após um programa de TMI associado ao treinamento aeróbico (12 semanas, 7 vezes/dia) em pacientes com ICC. Dentro desse contexto é importante destacar, a importante relação entre condicionamento físico e atenuação do metaborreflexo inspiratório em indivíduos saudáveis treinados aerobicamente a qual foi recentemente documentada por Callegaro et al. (2011). Na presente casuística, o motivo pelo qual pode ter ocorrido aumento da força da musculatura respiratória no grupo FA + TMI, o qual não atingiu significância estatística, foi o fato da pressão hidrostática, através da imersão ao nível do processo xifóide, ter proporcionado constante resistência ao diafragma durante a inspiração por todo o período de treinamento da musculatura (RAMOS; ACCACIO; AMBRÓSIO, 2007). A insuficiência cardíaca tem um impacto significativo na redução da qualidade de vida dos portadores desta doença, existindo usualmente uma correlação com a progressão da doença e a classificação funcional segundo a NYHA (GOODLIN, 2009). Em 1999, Belardinelli et al., em um estudo clássico, utilizaram o instrumento Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire (LHFQ) para aferir o impacto do exercício na qualidade de vida de pacientes com ICC. Os autores demonstraram uma diminuição dos escores, avaliados pelo instrumento LHFQ, associado ao incremento da capacidade funcional (BELARDINELLI et al., 1999). Desde então, vários estudos realizados de forma controlada e randomizada tem demonstrado em pacientes com ICC que programas de reabilitação cardíaca aumentam a qualidade de vida, em virtude da diminuição de sintomas específicos e da maior disposição para a realização de atividades de vida diárias (NILSSON et al., 2008; PINA, 2010). No presente estudo, outro provável mecanismo responsável pelo impacto benéfico do programa de fisioterapia aquática na qualidade de vida seriam os efeitos da diminuição da resistência vascular sistêmica e da vasodilatação periférica ocasionados pela imersão em água aquecida (CIDER et al., 2006). Em recente revisão sistemática de oito ensaios clínicos, Hwang et al. (2010) constataram que o treinamento de resistência aumenta a distância percorrida no TC6M em pacientes cardiopatas. Caminiti et al. (2011) têm relatado o aumento da capacidade funcional, avaliada pelo TC6M, em pacientes portadores de IC submetidos a programas de reabilitação cardíaca aquática. Esses autores sugerem que durante a imersão em água aquecida ocorre o efeito do aumento da redistribuição do fluxo de sangue á musculatura periférica, também postulam que a concentração plasmática do hormônio antidiurético (ADH) diminui, contribuindo para o aumento da diurese; da mesma forma ocorrendo a supressão do sistema renina- angiotensina-aldosterona. Assim, em nosso estudo, parece razoável sugerir que tais efeitos citados anteriormente poderiam ser os responsáveis pelo aumento da capacidade funcional evidenciada por nossos pacientes. Em ultima análise, o aumento na capacidade funcional submáxima evidenciada no presente estudo após os programas de FA + TMI e FT + TMI pode estar relacionado ao ganho de força muscular inspiratória, que possivelmente retardou o desenvolvimento da fadiga muscular diafragmática (Dall’ago et al., 2006). Corroborando com essa hipótese, Shell et al. (2002) investigaram os efeitos da fadiga muscular inspiratória sobre o fluxo sanguíneo periférico e concluíram que, ao mesmo tempo em que o diafragma entra em fadiga, ocorre uma resposta reflexa de vasoconstrição periférica, cujos autores denominaram de resposta ergorreflexa. Diante desses pressupostos, torna-se mais fácil relacionar o ganho de força muscular inspiratória com a melhora na capacidade funcional. Até onde é do nosso conhecimento, esse é o primeiro estudo que aborda a questão do TMI em imersão em pacientes com ICC, contudo é importante mencionar as limitações desse estudo as quais requerem discussão. Em virtude do delineamento quase-experimental, a extrapolação dos resultados carece de restrições, fazendo-se necessário aumentar o tamanho da amostra bem como a comparação dos resultados entre os grupos. CONCLUSÃO Os resultados deste estudo são preliminares, entretanto demonstramos o impacto benéfico de ambos os programas no aumento da qualidade de vida e capacidade funcional submáxima de pacientes com ICC classe funcional II (NYHA). REFERÊNCIAS AMERICAN THORACIC SOCIETY. ATS Statement: Guidelines for the Six-Minute Walk Test. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, New York. v. 166, p.111 – 117, mar. 2002. BELARDINELLI, R. et al. Randomized, controlled trial of long-term moderate exercise training in chronic heart failure: effects on functional capacity, quality of life, and clinical outcome. Circulation. 1999;99(9):1173-82. BRAUNWALD, E.; COLUCCI, S.W.; GROSSMAN, W. In: BRAUNWALD, Eugene. Tratado de medicina cardiovascular. 5 ed.; v. 1. Rio de Janeiro: Roca Ltda., 1999. p.472-497; 747.BRITTO R, SOARES S, LIMA M. O uso do teste da caminhada de seis minutos na avaliação e no acompanhamento de pacientes com insuficiência cardíaca: revisão da literatura. 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