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1 Fisioterapeuta pela Faculdade Estácio de Sá de Goiás. Pós-graduanda em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva. CEAFI. Pós-graduação. Pontifícia Universidade Católica de Goiás/GO. Brasil: 2018. E-mail: ketleyalinny@hotmail.com ² Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Coordenador científico do Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada – CEAFI – Goiânia – GO. Artigo de Revisão Atuação da Fisioterapia no Pós-Operatório de Transplante Cardíaco: Revisão de Literatura Performance of Physical Therapy in the Post-Operative Heart Transplant: Literature Review Ketley Alinny Pessoa Silva¹, Giulliano Gardenghi2 Resumo Introdução: O transplante cardíaco é o procedimento de escolha para pacientes com insuficiência cardíaca grave. O Brasil é o segundo pais do mundo em número de transplantes, ganhando cada vez mais espaço no cenário mundial. Pacientes transplantados apresentam melhora na qualidade de vida, contudo, acontecem alterações físicas tais como sarcopenia, atrofia muscular, diminuição da capacidade aeróbica máxima, que decorrem do período de hospitalização, inatividade pré- operatória, denervação do coração, uso de imunossupressores, redução da aptidão física e funcional desses indivíduos. Objetivo: Diante disso objetivou-se nesse trabalho demonstrar a atuação da fisioterapia no pós-operatório de transplante cardíaco. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura composta por 28 artigos, 7 livros e 2 teses, datados de 1997 a 2018. Resultado/Discussão: A reabilitação funcional através da fisioterapia apresenta resultados expressivos no pós-operatório de transplante cardíaco, tendo papel importante na terapia não medicamentosa desses pacientes, com início indicado o mais precocemente possível. Conclusão: O programa de reabilitação com o fisioterapeuta reestabelece a função cardiopulmonar e muscular, diminui os efeitos deletérios do imobilismo, as complicações pulmonares e motoras, reduz o tempo de internação, e contribui para a melhora da qualidade de vida e retorno as atividades de vida diária de indivíduos transplantados. Descritores: Transplante, Reabilitação Cardiovascular, Fisioterapia e Exercício. Abstract Introduction: Cardiac transplantation is the procedure of choice for patients with severe heart failure. Brazil is the second country in the world in number of transplants, gaining more and more space in the world scene. However, physical changes such as sarcopenia, muscular atrophy, decreased maximal aerobic capacity, resulting from the hospitalization period, preoperative inactivity, heart denervation, use of immunosuppressants, reduction of fitness physical and functional characteristics of these individuals. Objective: Therefore, the purpose of this study was to demonstrate the performance of physiotherapy in the postoperative period of heart transplantation. Methodology: This is a literature review composed of 28 articles, 7 books and 2 theses, from 1997 to 2018. Outcome / Discussion: Functional rehabilitation through physiotherapy presents expressive results in the immediate postoperative period of mailto:ketleyalinny@hotmail.com 2 cardiac transplantation, having important role in non-drug therapy of these patients, with indicated onset as early as possible. Conclusion: The rehabilitation program with the physiotherapist re-establishes cardiopulmonary and muscular function, reduces the deleterious effects of immobility, pulmonary and motor complications, reduces hospitalization time, and contributes to the improvement of quality of life and return to life activities of transplanted individuals. Key words: Transplantation, Cardiovascular Rehabilitation, Physiotherapy and Exercise. Introdução O transplante cardíaco é o procedimento de escolha para pacientes com insuficiência cardíaca (IC) grave¹. O Brasil é o segundo paíbs do mundo em número de transplantes, ganhando cada vez mais espaço no cenário mundial, sendo atualmente referência no transplante cardíaco na Doença de Chagas². Nos últimos 10 anos foram realizados 2789 transplantes cardíacos no Brasil². Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), entre janeiro e março de 2018 foram realizados 84 transplantes cardíacos, sendo 20 realizados no estado de São Paulo, 13 em Pernambuco, 11 no Distrito Federal, 10 em Minas Gerais, oito no Ceará, quatro no Rio de Janeiro, quatro no Rio Grande do Sul, três em Santa Catarina, um no Espírito Santo e um no Paraná. Até o mesmo período do ano, havia 218 pacientes adultos ativos e 41 pacientes pediátricos na lista de espera de transplante cardíaco no Brasil³. Pacientes transplantados apresentam melhora na qualidade de vida, contudo, acontecem alterações físicas tais como: sarcopenia, atrofia muscular, diminuição da capacidade aeróbica máxima, que decorrem do período de hospitalização, inatividade pré-operatória, denervação do coração, uso de imunossupressores, redução da aptidão física e funcional desses indivíduos4, 5. A reabilitação cardiopulmonar tem ganhando espaço nas últimas décadas destacando-se como padrão ouro no tratamento de doenças cardiovasculares, estando hoje em dia altamente recomendada para indivíduos cardiopatas, com diagnóstico de IC, angina estável, e também em pós-cirúrgico de revascularização miocárdica e transplante cardíaco, por exemplo6. 3 Estudos tem revelado que indivíduos transplantados se beneficiam com a reabilitação cardiopulmonar precoce, otimizando sua aptidão física, prevenindo complicações como a obesidade, osteoporose, ansiedade, euforia e depressão, melhorando a resposta cardiorrespiratória, a função endotelial, reduzindo o risco cardiovascular, a morbi-mortalidade e melhorando a qualidade de vida7. Para a Associação Americana de Cardiologia, a reabilitação funcional através da fisioterapia apresenta resultados expressivos no pós-operatório de transplante cardíaco8, tendo papel importante na terapia não medicamentosa desses pacientes, com início indicado o mais precocemente possível9. Diversos autores descrevem o papel da fisioterapia na reabilitação pós- transplante como fundamental, tendo início ainda na fase hospitalar, atuando em conjunto com a equipe médica, enfermeiros e psicólogos, tendo como função restabelecer a capacidade cardiovascular e muscular do indivíduo, diminuir as complicações motoras e pulmonares, reduzir o tempo de internação, contribuindo assim para melhora da qualidade de vida e retorno as atividades de vida diária10. Diante disso, o objetivo desse estudo é realizar uma revisão de literatura sobre a atuação da fisioterapia no pós-operatório de transplante cardíaco. Metodologia Este estudo se caracteriza como uma revisão bibliográfica. Para a caracterização da metodologia utilizou-se livros, teses e artigos científicos que abordaram o tema. Foi feita uma busca nas bases de dados eletrônicas: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Os descritores utilizados foram Transplante, Reabilitação Cardiovascular, Fisioterapia e Exercício. Todos os descritores foram pesquisados nos idiomas: português e inglês. O levantamento obteve inicialmente 60 artigos considerados como os mais relevantes sobre o tema proposto, porém, consideram-se para esta 4 pesquisa, somente 28 artigos. Foram utilizados ainda 7 livros e 2 teses referentes ao tema. Os critérios de seleção foram, além de leituras críticas do material, utilização de artigos em português, inglês, a disponibilidade na íntegra do artigo nas bases de dados pesquisadas, os trabalhos de maior relevância sobre o tema proposto, os mais citados e mais recentes, datados de 1997 a 2018. Foram excluídos os artigos que não abordam o tema proposto, que não apresentaram resultados significativosem seus estudos e artigos inferiores ao ano de 1997. Aos dados bibliográficos agregaram-se informações obtidas em sites na internet, pertencentes a organizações governamentais que divulgam textos e dados relacionados com a temática abordada no presente trabalho. Referencial Teórico Transplante Cardíaco – Histórico Dados históricos relatam que o primeiro transplante humano no mundo aconteceu em 1967 na África do Sul. No ano seguinte, em 26 de maio de 1968, o Dr Euryclidis de Jesus Zerbini realizou o primeiro transplante cardíaco no Brasil, no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Entre 1967 e 1968 foram realizados três transplantes cardíacos,com sobrevida menor que 60 dias, fazendo com que o programa fosse interrompido até meados da década de 80, com o inicio da terapêutica imunossupressora11.12.. O transplante cardíaco é visto como a última escolha para indivíduos com IC refratária, que utilizam terapia medicamentosa e não tem outra alternativa clínica ou cirúrgica, com possibilidade de vida de um ano. E tem como objetivo reestabelecer a função cardíaca e hemodinâmica, em repouso e durante atividade física, aumentando a capacidade funcional, qualidade e expectativa de vida2,10 . Para a Sociedade Brasileira de Cardiologia estão indicados para transplante cardíaco pacientes portadores de IC classe funcional III ou IV da New York Heart Association (NYHA), com risco iminente de morte no primeiro 5 ano, com consumo máximo de oxigênio (VO2 max) menor que 10 ml/kg/min, fração de ejeção menor que 20%, idade até 65 anos, não apresentar resistência vascular pulmonar elevada ou quadro infeccioso ativo2,13 . Estão contra indicados pacientes com resistência vascular pulmonar fixa > 5 wood, doenças vasculares e cerebrovasculares graves e sintomáticas, insuficiência hepática grave, doença pulmonar grave, incompatibilidade ABO na prova cruzada entre doador e receptor, doença psiquiátrica grave2. O transplante cardíaco aumenta a sobrevida em 90% no primeiro ano, 70% no quinto ano e até 60% no décimo ano14, sendo a capacidade funcional e qualidade de vida expressivamente maiores quando comparado coma fase final da IC, e menor quando comparada a população saudável15. Alterações Fisiológicas do Transplantado O paciente pós-transplantado apresenta uma série de alterações psicológicas e fisiológicas quando comparados a indivíduos saudáveis, principalmente quando analisados alterações como frequência cardíaca (FC), débito cardíaco (DC), pressão arterial (PA), resposta endócrina e função ventricular7. Essas alterações estão ligadas especialmente a fatores da doença basal, nível de capacidade funcional pré-transplante, pelo ato e técnica cirúrgica, diferença corporal entre doador e receptor, duração da hospitalização e uso de medicação imunossupressora, com destaque para os corticosteroides16,17. Dentre as alterações fisiológicas, as funções cardiorrespiratórias sofrem maiores influências pós-transplante. Essas alterações em geral são aumento da FC em repouso, elevação do DC, aumento do volume sistólico, redução da fração de ejeção, menor VO2 máx, redução da pressão inspiratória, da capacidade pulmonar, denervação cardíaca e descondicionamento físico18. A função pulmonar é alterada em todos os pacientes no pós-cirúrgico. Reduções dos volumes pulmonares são observadas ainda no primeiro dia do 6 pós-operatório19, além do aumento do trabalho ventilatório. A disfunção da musculatura ventilatória está relacionada à diminuição da capacidade dos músculos respiratórios para gerar força, levando a dispneia, fadiga e consequente intolerância ao esforço. O VO2máx costuma ser menor e os marcadores ventilatórios de oxigênio e gás carbônico se encontram elevados, ocasionando um aumento da ventilação devido ao baixo débito cardíaco, aumento da atividade simpática causada pela denervação, comprometendo assim a relação ventilação-perfusão (V/Q) 20. A FC quando comparada a indivíduos saudáveis é elevada em pacientes transplantados, entre 14 e 26 batimentos por minuto (bpm), devido à denervação simpática e parassimpática. Já durante o exercício a FC do transplantado é de 20 a 25% menor que indivíduos saudáveis, o que se deve também a denervação simpática do nó sinusal e a deficiência cronotrópica9. De 45 a 92% dos pacientes transplantados cardíacos apresentam hipertensão arterial em repouso, já durante o exercício esses mesmo indivíduos apresentam uma pressão arterial média inferior em relação a indivíduos saudáveis21. Diversos estudos descrevem redução de volume sistólico em transplantados durante o repouso, ortostatismo e exercício submáximo, decorrente de uma alteração na função diastólica9. As alterações musculoesqueléticas persistem por tempo indefinido pós- transplante cardíaco em decorrência da atrofia das fibras musculares, redução de fibras tipo I, deficiência da perfusão sanguínea na musculatura esquelética, levando a fadiga4. Essa perda de força muscular pode estar relacionada ao período de repouso no leito, tempo de internação, perda de oxigenação muscular e uso de imunossupressores que alteram a estrutura muscular21. Fisioterapia na Reabilitação Cardiopulmonar Pós-transplante Cardíaco Cabe ao fisioterapeuta avaliar, elaborar e executar um plano terapêutico de reabilitação com objetivos específicos para diminuir ou eliminar as limitações físicas desses pacientes22. 7 Estudos mostram que a fisioterapia nesses pacientes contribui com a redução do índice de mortalidade, sabendo-se que no caso desses pacientes o exercício físico é fundamental para uma adaptação fisiológica e consequente melhora de qualidade de vida e reinserção nas atividades de vida diária23. O tratamento fisioterapêutico na fase hospitalar do programa de reabilitação cardiopulmonar tem como base técnicas simples e de baixa intensidade, com procedimentos voltados desde a manutenção da função pulmonar, que inclui os ajustes da ventilação mecânica, processo de desmame, cinesioterapia respiratória, manobras respiratórias para higiene brônquica e reexpansão pulmonar, engloba ainda mobilização precoce, limitada por um gasto energético de no máximo 2 a 4 MET´S (equivalente metabólico)24. Exercícios aeróbicos, ativos e resistidos também podem ser realizados, aumentando progressivamente até que o paciente desenvolva força muscular e condicionamento físico apropriados, que proporcionam tanto adaptações fisiológicas quanto modificações na morfologia muscular e capacidade de exercício dos transplantados25,26. O exercício aeróbico pode ter sua intensidade prescrita através da tabela de FOX, e do teste ergoespirométrico, sendo o último o mais utilizado27. O aumento da intensidade durante o exercício é feito de forma progressiva, levando em conta a PA, FC e dispneia através da escala de esforço subjetivo de Borg28. Durante o exercício, é importante que o fisioterapeuta esteja atento a sinais e sintomas característicos de descompensação cardiovascular, tais como: piora da ausculta pulmonar, edema de membros inferiores, turgência de jugular, mudanças súbitas de marcadores funcionais de FC, PA e aumento da dispneia, de acordo com a escala de Borg. Esses sinais e sintomas podem significar risco de complicações durante os exercícios podendo levar a suspensão imediata dos exercícios29. Dentre os benefícios do exercício físico, podemos destacar o aumento da resistência, força muscular, melhora da flexibilidade, redução do risco de 8 traumas musculoesqueléticos, e melhora do condicionamento cardiovascular30. Destacam-se também os benefícios fisiológicos, que vão desde respostas imediatas ou agudas como diminuição da FC de repouso, aumento do consumo máximo de oxigênio, redução dos medidores respiratórios de oxigênio e gás carbônico durante o exercício máximo, redução da PA a respostas crônicasou tardias, como aumento da tolerância ao exercício, diminuição da gordura corporal, melhora no perfil lipídico, e progresso no perfil psicossocial31.32.33. Resultado/Discussão Os diversos estudos encontrados que englobam a atuação da fisioterapia no pós-operatório em transplante cardíaco estão relacionados na tabela a seguir: Tabela 1: Resultado da busca de artigos relacionados à atuação da fisioterapia no pós- operatório de transplante cardíaco. Autor/Ano Protocolo Duração Resultados Guimarães et al, 199933. - Supervisionado:exercícios na unidade de reabilitação. - Não supervisionado: exercícios em domicílio. Exercícios aeróbicos por 30 minutos, exercícios de flexibilidade, fortalecimento, respiratórios e de relaxamento. Programa com duração de 64 semanas. Os dois grupos obtiveram melhora no condicionamento físico, entretanto apenas o programa supervisionado apresentou redução nos níveis de PA, redução da FC de repouso, diminuição da gordura corporal. Kobashigawa et al, 199936 Grupo Controle: exercícios em domicílio sem supervisão; Grupo de Reabilitação: exercícios supervisionados de força muscular e treinamento aeróbico com caminhadas progressivas e alongamento. Programa de duração de 6 meses. O Grupo de Reabilitação teve melhora na carga de trabalho, no pico de consumo de oxigênio e redução nos níveis de CO2. O Grupo controle não apresentou resultado significativo. 9 Legenda: MMSS: Membros superiores; MMII: Membros inferiores; MIN: minutos; PA: Pressão arterial FC: Frequência cardíaca; CO2: Gás Carbônico. A II Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o diagnóstico e tratamento da Insuficiência Cardíaca29 considera que a atividade física deve iniciar de 24 a 48 horas pós-procedimento cirúrgico, com mobilização precoce e exercícios posturais, e somente após alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) poderão ser incluídos exercícios com cicloergômetro, sem resistência, com duração de no máximo cinco minutos, sendo introduzida também nessa fase a deambulação. Autor/Ano Protocolo Duração Resultados Schimidt et al, 200237 Grupo de Reabilitação: exercícios de aquecimento, 40 minutos de bicicleta com carga e por fim, cinco minutos de alongamento. Programa com início após alta hospitalar. Treino aeróbico regular restaura a função vascular em doentes transplantados, apresentando melhora da vascularização arteriovenosa na avaliação de fluxo da artéria braquial. Karapolat et al, 200835 Grupo 1: exercícios na unidade de reabilitação. Grupo 2: exercícios em domicílio.- Exercícios aeróbicos por 30 minutos, exercícios de flexibilidade, fortalecimento, respiratórios e de relaxamento. Programa com duração de 8 semanas. Em ambos os grupos houve melhora da capacidade funcional. Entretanto, o Grupo 1 apresentou melhora do consumo de oxigênio, da FC de repouso e das variáveis cronotrópicas em relação ao grupo 2. Kawauchi et al, 201334. - Controle: Exercícios respiratórios associados à elevação, flexão e abdução de MMSS; exercício de agachamento e abdução de MMII, deambulação. Treinamento: exercícios respiratórios, exercícios resistidos e caminhada. O Programa teve início no primeiro dia após extubação prolongando-se até a alta hospitalar. Ambos os grupos apresentaram como resultado o aumento na capacidade vital, entretanto não houve superioridade de resultado em relação aos dois grupos 10 Em estudo realizado por Kawauchi et.al34, 22 pacientes transplantados foram divididos em dois Grupos: Controle e Treinamento. O de controle seguia o protocolo cinco vezes por semana com duração de 60 minutos cada sessão, supervisionado por um fisioterapeuta. O de Treinamento teve um programa de exercícios realizado cinco vezes por semana, sendo uma vez acompanhada pelo fisioterapeuta. Os pacientes foram analisados desde o primeiro dia após extubação até alta hospitalar. Foi avaliada a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos e força muscular com teste de 1 repetição máxima. Ao final do programa todos os pacientes apresentaram benefícios com o programa, contudo, não houve superioridade de resultados entre os dois grupos. Guimarães et al33, citam em seus estudos o programa supervisionado de reabilitação física pós-transplante cardíaco do Instituto de Coração de São Paulo, o protocole tem duração de 64 semanas, com sessões três vezes na semana durante 60 minutos. No programa supervisionado, a sessão era dividida em cinco minutos de aquecimento, 30 minutos de exercício aeróbico, bicicleta estacionária ou caminhada em sessões intercaladas, cinco minutos de recuperação ativa, 15 minutos alongamento e cinco minutos de relaxamento. No programa não supervisionado os pacientes eram aconselhados a caminhar todos os dias, por no mínimo 30 minutos. No final do estudo os dois grupos melhoraram o condicionamento físico, entretanto apenas os indivíduos que integraram o programa supervisionado apresentaram retardo no aumento de lactato durante o exercício, redução nos níveis de pressão arterial, redução da FC de repouso, diminuição da gordura corpora e melhora do perfil lipídico33. Karapolat et al35, em estudo realizado durante oito semanas pós-evento cardíaco, com frequência de duas a três vezes por semana, onde o Grupo um realizou os exercícios na unidade de reabilitação com supervisão do fisioterapeuta e o Grupo dois em domicílio. O protocolo dos dois grupos consistia em exercícios aeróbicos por 30 minutos, exercícios de flexibilidade, fortalecimento, respiratórios e de relaxamento, e teve como resultado melhora da capacidade funcional nos dois grupos, o primeiro grupo se sobressaiu ao 11 segundo apresentando ainda melhora do consumo de oxigênio, da FC de repouso e das variáveis cronotrópicas. Já em estudo realizado por Kobashigawa et al36, com duração de 6 meses e frequência de 3 vezes semanais, os pacientes foram divididos em Grupo Controle e Grupo Reabilitação. O grupo controle realizou exercícios em domicílio sem supervisão, o grupo reabilitação realizou exercícios supervisionados de força muscular e treinamento aeróbico com caminhadas progressivas e alongamento. No final, o grupo de reabilitação teve melhora significativa na carga de trabalho, no VO2max e na redução nos níveis de CO2. Guimarães et al32,afirmam que os exercícios devem iniciar após o paciente estar hemodinamicamente compensado, com exercícios aeróbicos tais como cicloergômetro ou caminhada, com intensidade progressiva, relacionados a exercícios de resistência , flexibilidade e mobilidade, utilizando grandes grupos musculares. O autor cita o protocolo usado pela Universidade de Stanford, que usa exercícios aeróbicos com cicloergômetro, com duração de 5 a 25 minutos, com velocidade média e carga livre. Caminhada de 10 a 30 minutos de duração, e velocidade media de 40 a 80 passos por minuto, sempre com monitorização de PA, FC e dispneia, comparando valores de repouso, na metade do exercício, final da atividade e período de recuperação32. Schimidt et al37, realizaram estudo onde sete pacientes executaram exercícios em ambulatório após alta hospitalar, e seis pacientes mantiveram um estilo de vida sedentário sem exercício físico regular. O protocolo consistia em exercícios de aquecimento, 40 minutos de bicicleta com carga e por fim, cinco minutos de alongamento. O resultado foi comparado com um grupo controle saudável de seis indivíduos, comprovando que o treino aeróbico regular restaura a função vascular em doentes transplantados, apresentando melhora da vascularização arteriovenosa na avaliação de fluxo da artéria braquial. Segundo Bacal2, no que diz respeito à população de transplantados cardíacos, existe uma necessidade de criar um protocolo,que englobe tanto 12 exercícios aeróbicos como o treino de resistência, estimulando a adoção de um estilo de vida saudável, com melhora da qualidade de vida. Inúmeros estudos comprovam que o exercício deve ter início precoce, e ser realizada ativamente, de forma progressiva, utilizando resistência, sempre visando minimizar os efeitos nocivos do procedimento, do imobilismo e alterações fisiológicas não desejáveis, reestabelecendo a qualidade de vida desses pacientes. Considerações Finais A fisioterapia inserida no programa de reabilitação cardiovascular pós- transplante cardíaco traz benefícios para esses pacientes, reestabelecendo a função cardiopulmonar e muscular, diminuindo os efeitos deletérios do imobilismo, as complicações pulmonares e motoras e reduzindo o tempo de internação, contribuindo assim para melhora da qualidade de vida, e retorno as atividades de vida diária. Referências Bibliográficas 1. Lima EB, Cunha CR, Barzilai VS, Ulhoa MB, Barros MR, Moraes CS, et al. Experience of ECMO in primary graft dysfunction after orthotopic heart transplantation. Arq Bras Cardiol. 2015;105(3):285-91. 2. Bacal F, Souza-Neto JD, Fiorelli AI, Mejia J, Marcondes-Braga FG, Mangini S. II Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco Arq Bras Cardiol 2009;94(1 supl.1):e16-e73 3. Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. Registro Brasileiro de Transplante [periódico da internet]. 2018 [acesso em 28 de jul 2018] . 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