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Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 1 Órgãos de Máquinas I 2. Parafusos Adaptado e adotado para a unidade curricular por José R. Gomes e Nuno Dourado / Departamento de Engenharia Mecânica a partir de material de apoio pedagógico em Powerpoint de Luís Ferreira da Silva Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 2 Os parafusos constituem, talvez, o tipo de componente mais frequentemente usado nos equipamentos com os quais o Engenheiro Mecânico mais contacta. Podem agrupar-se, essencialmente, em dois tipos fundamentais: • Parafusos de ligação ou de fixação (cuja principal finalidade é fixar/posicionar uma peça relativamente a outra) e • Parafusos de transmissão de movimento (cuja função é transformar um movimento rotativo em movimento retilíneo ou vice-versa). Parafusos Introdução Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 3 Parafusos de ligação ou de fixação: [Adaptado de Mott] Parafusos Introdução Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho Outros elementos de ligação: Rebites - Elemento (simples) de ligação mecânica. - Permitem realizar ligações permanentes indiretas (no qual é preciso recorrer a uma outra peça ou elemento intermediário para estabelecer a ligação). - Introduzem-se em dois furos justapostos efetuados nas peças a ligar. 4 Parafusos Introdução Cabeça - parte saliente e achatada do rebite Ponta - extremidade oposta à cabeça Espiga - o "corpo" do rebite [Veiga da Cunha] [http://pt.wikipedia.org/wiki/Rebite] Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 5 Parafusos de transmissão de movimento: [Adaptado de www.roton.com] Parafusos Introdução Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 6 Um parafuso é fundamentalmente uma peça roscada: sendo: p o passo; de o diâmetro exterior e di o diâmetro interior. Parafuso de múltiplas entradas é aquele em que se geram dois ou mais filetes consecutivamente. Neste caso deve-se distinguir: • Passo real (tr ), a distância entre dois pontos homólogos e consecutivos do mesmo filete (correspondente ao avanço do parafuso ao fim de uma rotação) e • Passo aparente (ta ), a distância entre dois pontos homólogos e consecutivos da rosca. Sendo i o número de entradas: tr = i . ta Parafusos Nomenclatura e normalização [Shigley] OBS: Nomenclatura usual para passo: t, p ou l Ângulo do filete 2 Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 7 Os parafusos de ligação encontram-se normalizados: • Normalização ISO (as dimensões são métricas e o ângulo do filete (2) é de 60º) Normalização “American National (Unified)” (UNC/UNRC, UNF/UNRF) (sistema ainda muito utilizado nos EUA e no Reino Unido, sendo o parafuso definido pelas suas dimensões em polegadas e pelo número de filetes por polegada, em vez do passo. O ângulo do filete é ainda de 60º). A forma dos topos e das raízes dos filetes também apresenta ligeiras diferenças num e noutro caso. • Outros organismos… Parafusos Nomenclatura e normalização Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 8 Os parafusos de transmissão de movimento encontram-se igualmente normalizados, quer em medidas métricas quer em polegadas. São os seguintes os grupos principais: • Normalização DIN (rosca trapezoidal, o ângulo do filete (2) é de 30º), • Normalização Americana (rosca Acme, em que o ângulo do filete (2) é de 29º e as suas dimensões são em polegadas). Além destes ainda se usa para a transmissão de movimento a rosca quadrada: Parafusos Nomenclatura e normalização [Shigley] Rosca quadrada Rosca Acme Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 9 Um problema que interessa resolver nos parafusos de transmissão de movimento é estabelecer uma relação entre o momento torsor que é necessário aplicar ao parafuso para a porca deslocar uma dada carga. Sendo, dm , o diâmetro médio; l, o passo; λ, o ângulo de hélice do filete; F, a força axial de compressão; PR , a força para fazer subir a carga e PL, a força para fazer descer a carga. Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento [Shigley] Subida Descida Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 10 Na situação de subida de carga (aperto) tem-se que: A situação de descida de carga (desaperto) traduz-se por: 0cossin NfNPF RH 0cossin λNλNfFFV 0cossin NfNPF LH 0cossin NNfFFV [Shigley] Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento Subida Descida Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 11 Para as situações apresentadas de subida e descida de carga, respetivamente, e resolvendo em ordem à força a aplicar (P ), virá: Dividindo o numerador e denominador destas equações por cos λ e sabendo que, Obtém-se: sincos sincos sincos cossin f fF Pe f fF P LR Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento l dm md l tan m m L m m R dlf dlfF Pe dlf fdlF P 11 Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 12 Finalmente, e sabendo-se que o momento do binário aplicado é igual ao produto da força P pelo raio médio dm /2, então: em que TR é o momento necessário para vencer o atrito no filete e para fazer subir a carga (binário de aperto). O momento TL , necessário para descer a carga (binário de desaperto), obtém-se da equação anterior relativa a PL: Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento lfd dflFd T d PT m mm R m RR 22 lfd ldfFd T d PT m mm L m LL 22 Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 13 Em alguns casos específicos em que o passo p (ou l ) é muito grande ou o coeficiente de atrito f é muito baixo, a carga pode provocar o desaperto do parafuso sem ser necessário aplicar qualquer força exterior. Nestes casos o momento TL ou é negativo ou é nulo. Quando o momento TL for positivo o parafuso diz-se auto- imobilizado, ou seja: (Condição de auto-imobilização) Sabendo que: então, (Condição de auto-imobilização) tanf Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento ldf m md l tan Escola de Engenharia Universidade do Minho Escolade Engenharia Universidade do Minho 14 O rendimento de um parafuso de transmissão de movimento é definido como o quociente entre o trabalho ideal (sem atrito) e o trabalho real (TR ) que é necessário realizar para elevar ou aplicar uma carga. O trabalho ideal, correspondente a f =0, virá: Vindo assim o rendimento definido por: As equações aqui apresentadas aplicam-se aos parafusos de rosca quadrada, em que as cargas normais são paralelas ao eixo do parafuso. Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento 2 0 lF T RR T lF T T 2 0 Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 15 Para parafusos Acme e outras roscas, a carga normal ao filete é inclinada em relação ao eixo do parafuso, devido ao ângulo do filete (2) e ao ângulo de hélice do filete (λ ). Como o ângulo λ é pequeno (<6º) a inclinação que lhe corresponde pode ser desprezada e apenas se considera o ângulo do filete 2. A partir da equação para TR , e dividindo os termos correspondentes ao atrito por cos , virá (para a situação de subida de carga): Esta equação permite determinar o binário necessário de aperto ou para fazer subir uma carga para a rosca trapezoidal. [Shigley] Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento sec sec 2 lfd dfldF T m mm R Ângulo do filete Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 16 Para o binário de desaperto, TL , virá: Sendo que a condição de auto- imobilização, a partir da equação anterior para TL , é dada por: [Shigley] Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento Estas roscas (trapezoidais e Acme) não são tão eficientes (devido ao maior efeito do atrito – „efeito de cunha‟) como as roscas quadradas; São, todavia, as preferíveis: • São mais fáceis de maquinar e • Permitem a utilização de porcas ajustáveis, que podem compensar o desgaste. costan f sec sec 2 lfd ldfFd T m mm L Ângulo do filete Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 17 Em muitos casos é ainda considerada uma terceira componente de binário. Quando o parafuso é carregado axialmente, pode-se utilizar uma chumaceira axial entre as partes rotativa e estacionária a fim de suportar a componente axial. Na figura mostra-se uma situação típica em que se supõe que a carga está concentrada no diâmetro médio do colar da chumaceira (dc). Se fc for o coeficiente de atrito na chumaceira, o binário necessário para vencer o atrito é: Quando Tc é significativo, o binário total aplicado será: (para subida) e (para descida). 2 cc c dfF T cR TT cL TT [Shigley] Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento Colar Porca dc Chumaceira axial Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 18 Tensões nos parafusos As tensões nominais nos parafusos de transmissão de movimento estão relacionadas com os parâmetros das roscas. A máxima tensão de corte ( ) à torção do corpo do parafuso pode ser expressa por: sendo dr o diâmetro da raiz da rosca. A tensão axial (σ ) no corpo do parafuso, devido à força F , é dada por: 3 16 rd T 2 4 rd F A F [Shigley] Parafusos A mecânica dos parafusos de transmissão de movimento dr Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 19 Parafusos Alguns exemplos de aplicação dos parafusos de transmissão de movimento Alguns exemplos adotados a partir de www.roton.com Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 20 Introdução – Um fuso de esferas é um mecanismo que permite converter o movimento de rotação em translação e vice-versa, por meio de transmissão por esferas. Para se conseguir um movimento contínuo é necessário ter um circuito de re-circulação (ou por fora da porca com pistas de reenvio ou por dentro da porca com caminho também helicoidal). Parafusos Fusos de esferas Vantagens da utilização do fuso de esferas relativamente aos fusos de rosca trapezoidal: 1- Elevado rendimento mecânico (até 98%); 2- Duração mais longa; 3- Menor atrito; 4- Menor potência de acionamento; 5- Simplificação construtiva; 6- Ausência do efeito Stick-Slip; 7- Posicionamento mais preciso; 8- Maior velocidade de translação; 9- Menor aquecimento, e 10- (Devido ao seu elevado rendimento) Os fusos de esferas não são auto-imobilizados. Figuras adotadas da revista “Mecatrónica Actual”, Nº. 3, 2002. Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 21 Exemplos de conversão de movimento: Rendimento: Informação extraída de Danaher Motion, “Precision Ball Screws”, 2003. Parafusos Fusos de esferas Binário aplicado ao parafuso (não se desloca axialmente) A porca não roda e desloca-se linearmente Força axial aplicada à porca (que não roda e se desloca) o parafuso roda e não se desloca linearmente Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 22 Pré-carga – Estes sistemas são normalmente pré-carregados por forma a eliminar a folga axial, aumentar a rigidez total do conjunto e melhorar a precisão do posicionamento. Pré-carga de porcas simples Pré-carga de porcas duplas Informação extraída de Korta, “Ballscrews Technical Catalogue”. Parafusos Fusos de esferas Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 23 Equações: Conversão de movimento rotativo em linear Conversão de movimento linear para rotativo A partir da equação anterior, referente ao rendimento, retira-se o binário: Para =90%, virá: A potência (de accionamento) será dada por: aT lF 2 lFTa 177.0 60 2 n TP a O binário de saída vem dado por: Para =90%, virá: e a potência obtida será dada por: 2 lF Te lFTe 143.0 60 2 n TP e Dados coletados a partir de: [1] Korta, “Ballscrews Technical Catalogue”. [2] Danaher Motion, “Precision Ball Screws”, 2003. [3] Danaher Motion, “Ball & Lead Screws”, 2004. Parafusos Fusos de esferas 2 lF Ta Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 24 Campos de aplicação: • Máquinas-ferramentas (incluindo as CNC); • Estações de trabalho robotizadas; • Sistemas de elevação; • Equipamentos médicos; • Instrumentos de medição; • Aviação (incluindo também o campo aeroespacial); • Reatores nucleares; • Etc. Figuras adotadas da revista “Mecatrónica Actual”, Nº. 3, 2002. Fuso trapezoidal numa máquina-ferramenta. Fuso de esferas numa outra máquina- ferramenta, onde se identifica, também, uma transmissão por correia dentada. Parafusos Fusos de esferas Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 25 Parafusos Introdução aos parafusos de ligação 25 Órgãos de Máquinas I 2.2 Parafusos de ligação Escolade Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 26 Tipos de peças roscadas para ligações: Parafuso e porca Parafuso e peça roscada Perno Parafusos Introdução aos parafusos de ligação Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 27 Parafuso e peça roscada Perno Tipos de peças roscadas para ligações: Parafusos Introdução aos parafusos de ligação Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 28 Rosca métrica: Principais dimensões. Parafusos Introdução aos parafusos de ligação Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 29 Alguns parafusos de rosca métrica de utilização geral: Principais dimensões. Parafusos Introdução aos parafusos de ligação Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 30 Nas ligações aparafusadas de caráter não permanente, por vezes, é necessário assegurar resistência não só a cargas exteriores de tração mas também a esforços de corte. O parafuso deverá não só suportar a força exterior aplicada (P ), como ainda comprimir as peças/membros a ligar com uma força inicial de aperto (ou pré- tensão inicial) designada por Fi . LG é a espessura da zona de ligação (Shigley). Parafusos Pré-esforçamento de ligações aparafusadas P /2 P /2 P /2 P /2 Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 31 Designa-se por constante de mola ou constante de rigidez de uma peça, por exemplo, um parafuso, a relação existente entre a força que lhe é aplicada e a deformação que produz. Sabendo que a deformação de uma barra submetida à tração é: a constante de rigidez resulta como sendo: Parafusos Rigidez do parafuso de ligação EA lF l E A F l e A F E ;;l l EAF k l Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 32 As espigas dos parafusos podem ser completamente roscadas ou só uma das zonas ser roscada. Deve ter-se em conta este aspeto no cálculo da rigidez do parafuso (k ), considerando-se a constante de rigidez do parafuso como a equivalente à rigidez de duas molas em série para as duas zonas, ou seja: 21 21 21 111 kk kk k kkk Sendo a constante de rigidez do parafuso para a zona roscada, definida na zona de ligação/aperto dos membros, dada por: (Shigley) Parafusos Rigidez do parafuso de ligação t t t l EA k lt ld ou Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 33 e para a zona lisa por: sendo: At - área resistente do parafuso - tabela 3 (pag. 12 do texto apoio ou diapositivo seguinte) lt - comprimento da zona roscada do parafuso sujeita a esforço Ad - área de maior diâmetro do parafuso (correspondente à zona lisa, não-roscada, dada por: com d diâmetro nominal) ld - comprimento da zona lisa E - módulo de elasticidade do material do parafuso Substituindo na equação anterior para k , a constante de rigidez do parafuso para a zona de ligação (kb ) virá como sendo: 4/)( 2dAd Parafusos Rigidez do parafuso de ligação d d d l EA k dttd td b lAlA EAA k Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 34 Parafusos Rigidez do parafuso de ligação Rosca métrica: Parafusos, porcas e pernos; dimensões e áreas (passo grosso e passo fino) At At Ar Ar Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 35 É ainda possível definir que: LG é a espessura da zona de ligação ld = L – LT (ld , comprimento da zona lisa do parafuso) lt = LG - ld (lt , comprimento da zona roscada sujeita a esforço) L > LG + H (L , comprimento da espiga do parafuso; H , altura da porca). Para as séries métricas, LT vem dado como sendo: mmLmmd mmLmmd mmdLmmd LT 200,252 200125,122 48,125,62 Parafusos Rigidez do parafuso de ligação LG (Shigley) Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 36 Uma outra forma de ligação aparafusada está representada na figura seguinte. Enquanto que no caso anterior o parafuso estabelece a ligação por intermédio de uma porca, neste caso o parafuso é roscado diretamente no segundo membro de ligação, colocado mais à direita. Nesta situação é possível definir as seguintes relações: L‟G , como a espessura efetiva da zona de ligação, dada por: ld = L - LT lt = L‟G- ld e L > h + 1.5 d (Shigley) Parafusos Rigidez do parafuso de ligação dt d h dt t h L G 2 2 2 2 2 ' L‟G Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 37 Parafusos Rigidez do parafuso de ligação Dimensões das porcas hexagonais (Shigley) Dimensões preferíveis e números de Renard (Shigley) Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 38 Numa união de membros com várias constantes de rigidez, a constante de rigidez total (km ) dos membros/peças ligadas vem expressa por: Se um dos membros a ligar tiver uma rigidez muito mais pequena do que a dos outros membros, deve considerar-se, para efeitos de cálculo, apenas a rigidez do membro mais macio, ou seja: im k ... kkkk 11111 321 1 1 11 kk kk m i Se Parafusos Rigidez das peças Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 39 O cálculo da rigidez das peças/membros a ligar é muito difícil de efetuar, dado que a área de compressão não é uniforme e porque não se consegue determinar com exatidão a área da secção resistente. Como solução de cálculo podemos considerar o método do cone de pressão presente nas figuras, em que se assume que as tensões induzidas na ligação são uniformes na zona próxima do furo do parafuso. Para dois membros ou peças na ligação, esta região é representada por dois troncos de cone, de ângulo (metade do ângulo do cone), juntos pela base maior. (Shigley) (Ugural) Parafusos Rigidez das peças Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 40 A partir da figura seguinte, e para = 30º (adotado por Shigley), a constante de rigidez vem dada como sendo: Esta equação deve ser resolvida isoladamente para cada membro, ou peça, na ligação. Os valores obtidos são então agrupados na equação de km para a determinação da constante de rigidez dos membros a ligar: im k ... kkkk 11111 321 (1) (Shigley) Parafusos Rigidez das peças dDdDt. dDdDt. dE k 1551 1551 ln 0.5774 Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 41 Se os membros na ligação forem do mesmo material (mesmo módulo de elasticidade, E ), e agrupados de forma semelhante à apresentada na figura (membros da mesma espessura, L /2), os membros comportam-se comoduas molas em série. ddddαl ddddαl αdEπ ww ww tan tan ln2 tan km Sabendo que, nestas circunstâncias, km= k /2, e considerando que a espessura de ligação é l =2t (ou seja, t=l /2 em que l é a espessura total dos membros a ligar) e que dw é o diâmetro da face da cabeça do parafuso, determina-se que a constante de rigidez dos membros virá dada como sendo: (Ugural ) Parafusos Rigidez das peças Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 42 Para parafusos normalizados de cabeça sextavada, o diâmetro da face da cabeça do parafuso (dw ) é aproximadamente 50% maior do que o diâmetro nominal do parafuso; assim, e considerando que dw =1.5 d e = 30º, a equação anterior virá: Resolvendo a equação, do diapositivo anterior, em ordem a km /Ed temos: d.l. d.l. dEπ. km 5257740 5057740 5ln2 57740 ddddαl ddddαl απ dE k ww ww m tan tan ln2 tan Parafusos Rigidez das peças Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 43 Nesta abordagem foi usado =30º como o valor recomendado para membros em aço temperado, ferro fundido ou alumínio. Wileman, Choudury e Green estudaram este problema envolvendo a análise por elementos finitos. Os resultados, que se mostram na figura, validam a recomendação de =30º, coincidindo exatamente para d / l = 0.4, tendo ainda apresentado uma aproximação exponencial do tipo: l/dBA dE km exp (Shigley) Parafusos Rigidez das peças Análise por elementos finitos = 30º Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 44 Esta equação permite determinar a rigidez dos membros a ligar km , para parafusos normalizados e membros do mesmo material: Constantes A e B, presentes nesta equação, para vários materiais: l/dBA dE km exp A equação (1) continua a ser a base de abordagem do problema aqui exposto, ou seja: dDdDt. dDdDt. dEπ. k 1551 1551 ln 57740 (Shigley) Parafusos Rigidez das peças (1) Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 45 O cone de pressão que se refere a outra situação já definida (parafuso roscado diretamente no segundo membro) está representado na figura. Convém realçar que a dimensão l é a espessura efetiva da zona de ligação (indicada anteriormente por L‟G), em que as bases dos cones (D1 e D2 ) são dadas por: d.dD l.d.αldD w w 51 577051tan 2 1 (considerando dw = 1.5 d e = 30º) (Shigley) Parafusos Rigidez das peças e Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 46 Verifiquemos o que acontece quando se aplica uma força exterior, P, a uma ligação aparafusada como a da figura. Considere-se a nomenclatura seguinte: P – carga exterior aplicada à ligação Fi – pré-tensão (ou pré-carga) aplicada ao parafuso por aperto Pb – parte da carga P suportada pelo parafuso Pm – parte da carga P suportada pelos membros Fb – carga resultante no parafuso (Fb = Pb +Fi ) Fm – carga resultante nos membros (Fm = Pm - Fi ) C – fração da carga exterior suportada pelo parafuso (1 – C ) – fração da carga exterior suportada pelos membros (Shigley) Parafusos Parafusos com pré-tensão (ou pré-carga) P /2 P /2 P /2 P /2 Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 47 Parafuso: acréscimo de extensão Peças: decréscimo de deformação Pré-tensão (ou pré-carga) Quando se aplica uma força exterior P a uma ligação pré-esforçada resulta uma variação na deformação ( ) do parafuso e também na dos membros (ou peças) ligados: b b k P δ m m k P δ Parafusos Parafusos com pré-tensão Extensão do parafuso = redução na contração da junta Deflexão C a rg a Fb P = aumento em Fb e decréscimo em Fm P/2 Fm Fi (com Fi o parafuso aumenta de comprimento e os membros diminuem de espessura) P/2 P/2 P/2 Fb Fm Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 48 Admitindo-se que as peças não chegam a separar-se, a deformação (de tração) do parafuso é igual à das peças: Por outro lado, como P = Pb + Pm , ou seja, Pm = P – Pb , temos: em que: também designada por constante de rigidez da junta (de ligação). b m bm k k PP PC kk Pk P mb b b Parafusos Parafusos com pré-tensão b b k P δ m m k P δ mb b kk k C Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 49 sendo ainda possível de definir que: A carga resultante no parafuso vem dada por: e a carga resultante nos membros por: De acordo com as condições apresentadas, estes resultados são válidos desde que os membros estejam a trabalhar à compressão (Fm 0). PCPPP bm 1 0 miibb FFPCFPF 01 miimm FFPCFPF Parafusos Parafusos com pré-tensão Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 50 • Medindo o alongamento resultante no parafuso devido a Fi (método pouco viável, pois nem sempre as extremidades do parafuso estão acessíveis): • Uma pré-tensão adequada pode ser obtida rodando a porca mais meia-volta (180º) depois da ligação estar ajustada; método expedito mas pouco preciso relativamente ao valor de Fi . • Utilização de uma chave dinamométrica (processo mais corrente e que permite determinar o binário aplicado no aperto). l EA F ii Parafusos Estabelecimento da pré-tensão aos parafusos de ligação http://www.beta-tools.com/ l lt Formas de estabelecer a pré-tensão nos parafusos de ligação: Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 51 A maneira mais corrente de se controlar o pré-esforço duma ligação aparafusada é usar-se uma chave dinamométrica e relacionar o binário, T , aplicado com a força Fi resultante. Pode obter-se uma boa estimativa do binário necessário usando as equações já analisadas, ou seja: Como e dividindo ambos os membros do primeiro termo por dm obtém-se: 2sec sec 2 cci m mmi dfF lfd dfldF T mdπ l λ tan 2sectan1 sectan 2 ccimi dfF αλf αfλdF T Parafusos Relação entre binário de aperto e a força de pré- -tensão Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 52 Para parafusos correntes, o diâmetro externo da superfície de contacto da porca é 1.5 diâmetro nominal: Assim, o diâmetro médio do colar (dc ) será: donde, definindo-se como coeficiente de binário (K) a expressão: d. d.d dc 251 2 51 dFf. αλf αfλ d d T ic m 6250 sectan1 sectan 2 c m f. αλf αfλ d d K 6250 sectan1 sectan 2 Parafusos Relação entre binário de aperto e a força de pré- -tensão 1.5 d d dc Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 53 o binário de aperto virá como sendo: O coeficiente de atrito depende do tipo de acabamento superficial, precisão e grau de lubrificação. Em termos médios, tanto f como fc são cerca de 0.15. Um facto interessante acerca da equação do coeficiente de binário é que K ≈ 0.20 para f = fc = 0.15, seja qual for o tamanho do parafuso ou da rosca (normal ou fina). dFKT i A tabela ao lado apresenta alguns valores recomendados, por um grande fabricante de parafusos citado por Shigley, para o coeficiente K : (Shigley) Parafusos Relação entre binário de aperto e a força de pré- -tensão Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 54 As equações permitem a determinação das forças numa ligação aparafusada com pré-tensão. A tensão no parafuso vem dada como sendo: O valor limite de σb é a designada tensão de prova, Sp . Introduzindo um fator de carga, n , a equação anterior vem dada como sendo: (n > 1 garante que a tensão no parafuso é menor do que a tensão de prova.) 0 miibb FFPCFPF 01 miimm FFPCFPF t i tt b b A F A CP A F σ p t i t S A F A PnC PC FAS n itp Parafusos Análise estática do parafuso Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 55 Outra forma de garantir que a ligação nunca se separa é fazer com que a carga exterior aplicada seja menor do que a necessária para promover a separação dos membros. Se ocorre a separação, a carga exterior imposta será suportada pelo parafuso. Se P0 for o valor da carga exterior aplicada que provocaria a separação da junta de ligação, na separação Fm =0 e, pela equação anterior: pode-se escrever: Se o coeficiente de segurança (n0) contra a separação dos membros a ligar for dado por: iimm FPCFPF 1 01 0 iFPC P P n 00 e substituindo P0 = n0 P na equação (2) virá: (2) CP F n i 1 0 como o fator de carga contra a separação da junta de ligação. Parafusos Análise estática do parafuso Se n0 > 1 (ou seja P0> P), os membros não se separam Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 56 A pré-tensão é o “músculo” da ligação e o seu valor é determinado pela resistência do parafuso. Parafusos de boa qualidade podem ser pré- tensionados com valores dentro do domínio plástico de forma a garantirem uma maior resistência. Para carregamentos estáticos e de fadiga são recomendados os seguintes valores de pré-tensão: em que Fp é a força de prova dada por: Os valores de Sp encontram-se listados seguidamente, e para materiais que não se encontrem tabelados usa-se, com boa aproximação: spermanenteligaçõespara spermanentenãoligaçõespara p p i F F F 90.0 75.0 ptp SAF yp SS 85.0 Parafusos Análise estática do parafuso tensão de cedência Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 57 (Shigley) Parafusos Análise estática do parafuso (Sp) (Sut) (Sy) . Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 58 Uma situação frequente que se encontra é a de carga flutuante, entre carga nula e carga máxima de tração P . É, por exemplo, a situação que acontece num cilindro de pressão. Neste caso, e considerando a nomenclatura apresentada anteriormente, é possível definir que: i bmáx FF FF min e que a componente alternada da força é dada por: 22 min ibmáx a FFFF F Pré-tensão (Shigley) Parafusos Parafusos solicitados à fadiga e P/2 P/2 P/2 P/2 C a rg a Deflexão Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 59 Dividindo por At , e utilizando a equação iibb FPCFPF na expressão anterior, obtém-se a componente da tensão alternada no parafuso: tt ii t ib a A CP A FFCP A FF 222 A tensão média é igual à componente alternada mais a tensão mínima, σi = Fi /At , donde resulta que: Pré-tensão t i t m A F A PC 2 Parafusos Parafusos solicitados à fadiga P/2 P/2 P/2 P/2 C a rg a Deflexão = Extensão do parafuso = redução na contração da junta Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 60 Relativamente ao diagrama de Goodman que se mostra seguidamente (em que B define o ponto de funcionamento em segurança, e C o ponto em que se dá a rotura), a reta de carga é dada por: iam O passo seguinte é determinar as componentes Sa e Sm do ponto de rotura por fadiga (C ) e que dependem do critério a usar: Goodman; Gerber, e ASME-elítico. (Shigley) Parafusos Parafusos solicitados à fadiga tensão limite de fadiga corrigida (endurance strength – valor tabelado) Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 61 Goodman: 1 ut m e a S S S S Gerber: ASME-elítico: 1 22 p m e a S S S S Tensão limite de fadiga corrigida (Se ) [Shigley]: (Shigley) Parafusos Parafusos solicitados à fadiga 1 2 ut m e a S S S S Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 62 As soluções obtidas, considerando a equação como Sm = Sa + σi , e cada uma das equações apresentadas para cada um dos critérios, virão: Goodman Gerber iam iam eut iute a SS SS SS S iam eiutieeutut e a SS SSSSSS S S 24 2 1 22 Parafusos Parafusos solicitados à fadiga Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 63 ASME-elítico O coeficiente de segurança à fadiga (nf) é dado por: devendo-se também verificar a cedência, usando a tensão de prova: iam eiiepp ep e a SS SSSS SS S S 222 22 a a f S n σ am p p S n σσ Parafusos Parafusos solicitados à fadiga Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 64 F F I cM Flexão Corte Rotura à tração de uma das peças As ligações aparafusadas que trabalham ao corte analisam-se do mesmo modo que as ligações rebitadas (outros exemplos, além dos citados, encontram-se assinalados nos textos de apoio): Parafusos Algumas ligações aparafusadas ao corte Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 65 Uma situação típica de carregamento excêntrico: Se os parafusos forem todos iguais e dispostos de uma maneira simétrica, o centróide é o centro geométrico. (Shigley)Parafusos Carregamento excêntrico Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 66 Diagrama de carga dos parafusos: ...rr rM F,undárioseccortedeEsforço )parafusosdenúmeronsendo( n V F,primáriocortedeEsforço 2 B 2 A i" i ' (Shigley) (Shigley) Parafusos Carregamento excêntrico Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 67 Determinação do centróide para o caso geral: n 1 i n 1 ii n 1 i n 1 ii A yA y A xA x Centróide (x, y) Sendo: Ai - áreas das secções dos parafusos, e x, y - sistema de eixos ortogonais qualquer. Parafusos Carregamento excêntrico Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 68 Parafusos Alguns exemplos de aplicação de parafusos Diferentes tipos de parafusos Acoplamentos flexíveis (bipartido com centro elástico) Na informática… Nos motores eléctricos… Nos motores dos carros… Elementos estruturais Escola de Engenharia Universidade do Minho Escola de Engenharia Universidade do Minho 69 Parafusos Alguns exemplos de aplicação de parafusos … na fixação de suspensões … na fixação de sistemas de transmissão de movimento