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( 4 ) Ponto de Equilíbrio e Alavancagem Renata Ferreira Uma variação na receita das empresas pode trazer mudan- ças significativas nos lucros, afinal um dos passos para ter mais lucros é vender mais. Porém, quando uma empresa aumenta suas vendas, o lucro não necessariamente acompanha este cres- cimento. O lucro pode crescer em proporção maior ou menor ao crescimento das vendas (como pode até cair), dependendo do comportamento de outras variáveis como custos e despesas. O comportamento dos custos fixos funciona como uma alavanca: o aumento da receita em proporção superior ao crescimento dos custos fixos impulsiona o lucro, já que se consegue “uma força de deslocamento superior àquela apli- cada na outra extremidade da alavanca” (BRAGA, 1995). Este efeito é chamado em finanças de Alavancagem. Alavancagem é produto do uso de ativos ou fundos a custo fixo para multiplicar retornos para os proprietários da empresa (GITMAN, 2010). 118 G es tã o fin an ce ir a Geralmente, quanto maior o efeito da alavancagem, maior o retorno e o risco. O grau de alavancagem tem rela- ção direta com o retorno dos acionistas, já que a estrutura de capital da empresa (combinação entre capital próprio e capital de terceiros) interfere na composição das despesas, especial- mente das despesas financeiras, o que produz alavancagem, o que pode afetar significativamente o valor da empresa. O objetivo desta unidade é apresentar os tipos de ala- vancagem e seus efeitos sobre os resultados da empresa. Inicialmente percorreremos o conceito e a análise do ponto de equilíbrio, que auxiliam no estabelecimento das bases para os conceitos de alavancagem, pois ambos os conceitos utilizam as relações entre custo, volume de vendas e lucro. Ponto de Equilíbrio Conceitos e Aplicações A análise do ponto de equilíbrio permite verificar como o lucro é afetado pelas variações nos elementos que compõem a receita de vendas, custo e despesas. O ponto de equilíbrio (ou break even point) pode ser definido como o ponto no qual a receita de vendas cobre todos os custos, ou seja, a empresa não tem lucro nem prejuízo. Este ponto indica o mínimo de receita gerada para que a empresa não sofra prejuízo. Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 119 No ponto de equilíbrio > Lucro = 0 assim: Receita Total = Custo Total Receita total = custos fixos + custos variáveis Receita representa o volume total de vendas (ou fatu- ramento da empresa). É dada pela quantidade vendida multi- plicada pelo preço unitário cobrado. Receita Total: RT = p.Q Custos fixos são aqueles que permanecem constantes em certo período de tempo independente do volume de pro- dução e vendas. Custos variáveis são aqueles que aumentam ou dimi- nuem proporcionalmente com as flutuações no volume de vendas. Custo Total: CT = CF + CV = CF + CVu.Q CVu = custo variável unitário No ponto de equilíbrio: RT = CT p.Q = CF + CVu.Q > agrupando os elementos que dependem de Q: p.Q - CVu.Q = CF > tirando o Q em evidência: Q (p-CVu) = CF > isolando o Q: Em muitas situações é importante calcular o ponto de equilíbrio monetário. A fórmula neste caso é: Fórmula do ponto de equilíbrio (determinação do vol. de vendas em quantidade) Q = CF (p-CVu) Fórmula do ponto de equilíbrio monetário (determinação do vol. de vendas em dinheiro) PEn = CF 1-(CV/RT) 120 G es tã o fin an ce ir a Exemplo: Considere o Demonstrativo de Resultado da empresa “GF S/A”: Os custos e as despesas foram analisados e assim classificados: O ponto de equilíbrio monetário será: Isso significa que a empresa tem que obter um fatura- mento de R$ 200.000 para que seu lucro seja zero. Qualquer venda inferior a este valor resultará em prejuízo. Em termos de volume de vendas (em unidades) o ponto de equilíbrio será: No DRE é possível calcular: Preço unitário = 400.000/20.000 unidades = R$ 20 Custo Variável unitário = 280.000/20.000 unidades = R$ 14 Vendas líquidas (20000 unidades) R$ 400000,00 (-) custo do produto vendido (R$ 240.000) (=) Lucro bruto R$ 160.000 (-) Despesas operacionais Despesas de vendas R$ 60.000 Despesas administrativas R$ 40.000 (R$ 100.000) (=) Lucro líquido R$ 60000 Descrição Custo fixo (R$) Custo variável (R$) Custo total (R$) Custo do produto vendido Materiais 0 100.000,00 100.000,00 Mão de obra 0 90.000,00 90.000,00 Custos indiretos 10.000,00 40.000,00 50.000,00 Despesas de vendas 15.000,00 45.000,00 60.000,00 Despesas administrativas 35.000,00 5.000,00 40.000,00 Total 60.000,00 28.0000,00 340.000,00 PEs = CF = 60.000 = 60.000 = R$ 200.000 1-(CV/RT) 1- (280.000/400.000) 1-,07 Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 121 Ou ainda: Q = Ponto de equilíbrio monetário/preço de venda Q = 200.000,00/20,00 = 10.000 unidades Construindo o gráfico: Veja nas reportagens a seguir duas situações que retra- tam o break-even point: Agronegócio: Perspectivas de boas margens em 2010/11 reanimam o campo Q = CF = 60.000 = 60.000 = 100.000 unidades (p - CVu) (20-14) 6 Você Sabia? Você sabia que (p-CVu) é chamado de Margem de Contribuição? A margem de contribuição tem a faculdade de tornar mais visí- vel a potencialidade de cada produto, mostrando como cada um contribui para o resultado operacional, ou seja, para, pri- meiramente, amortizar os gastos fixos e, depois, formar o lucro propriamente dito. É um importante conceito na gestão finan- ceira, porque os custos indiretos fixos são distribuídos por pro- duto através de rateio e, conforme a base escolhida para fazer tal divisão, um produto pode receber uma “carga de custo fixo” maior, comprometendo seu lucro unitário. 122 G es tã o fin an ce ir a A quebra das safras do norte da Europa pela seca aliada a custos menores e subsídios do governo federal serão a “ponte” para atravessar um ano que se desenhava negativo em termos de preços e rentabilidade. O faturamento bruto do setor deve subir 1%, chegando próximo do recorde de 2008. E as exportações em 12 meses superaram a marca histórica de US$ 72 bilhões. “O cenário é positivo, mas depende de análises individuais”, diz o dire- tor de Agronegócio do Banco do Brasil, José Carlos Vaz. “No Centro-Oeste, os mais capitalizados vão investir e os mais endividados vão pagar. No Sul, quem não for afetado pela seca fará o mesmo. Se perder até 15% ou 20%, o preço vai compensar eventual quebra”. (...) Agora, o “mercado de clima” da América do Sul influencia a bolsa de Chicago, o que serve em parte como um “seguro” para o produtor brasileiro. Na soja, já houve ganhos de R$ 4 a R$ 7,50 no campo, o que levou produtores do “break even” (ponto de equilíbrio) à rentabilidade. “O Cerrado agora está em um momento único, em particular Mato Grosso. Os projetos de logística em andamento dão nova perspectiva. E a agroindústria vai propagar projetos por todo o Estado, bus- cando matéria-prima na origem e escoamento mais barato”, avalia o economista Fernando Pimentel, da AgroSecurity (...) As boas margens projetadas para a nova safra nacio- nal de grãos, fibras e cereais devem elevar a renda dos pro- dutores, aumentar os investimentos no setor rural e reduzir o endividamento no campo. ABAV 2010 – Costa do Sauípe quer ser rentável em dois anos Após o reposicionamento da marca, o Costa do Sauípe, complexo hoteleiro baiano, quer atingir seu ponto de equi- líbrio em 2012. “O maior desafio é macroeconômico e está Po nto de E qu ilí br io e A la va nc ag em 123 relacionado ao valor atual do dólar – que deixa o país caro para o estrangeiro e facilita a viagem de brasileiros para o exterior”, conta Eduardo Giestas, diretor presidente. “Por outro lado, a inserção de novos consumidores com potencial de mercado e o crescimento do setor corpo- rativo e de eventos devem nos ajudar a recuperar a rentabi- lidade a médio prazo”, ressalta. Giestas lembra ainda que os grandes eventos esportivos que o país irá receber serão extre- mamente benéficos para a promoção do Brasil no mundo. O executivo está otimista também por conta do com- portamento dos agentes. Somos muito gratos à receptividade do trade, que tem muita simpatia pelo nosso produto e com- prou essa nova ideia que implantamos”, agradece (...) Você sabia que existem três tipos de ponto de equilíbrio? O conceito de ponto de equilíbrio que apresentamos até aqui é eminentemente contábil, visto que trata as receitas, custos e despesas pelo regime de competência. Ao conside- rarmos apenas os custos e despesas efetivos, descontando as despesas não desembolsáveis (como a depreciação, que não representa saída de caixa), encontramos o Ponto de Equilíbrio Financeiro. Já o Ponto de Equilíbrio Econômico considera além dos custos fixos, o custo de oportunidade dos recursos, exigindo um lucro mínimo que remunere adequadamente o capital dos acionistas. Assim: Ponto de Equilíbrio com dois ou mais produtos A fórmula básica do ponto de equilíbrio contempla ape- nas um produto. Porém, no mundo atual uma empresa não Ponto de equilíbrio contábil Ponto de equilíbrio financeiro Ponto de equilíbrio econômico Q = CF (p - CVu) Q = CF - depreciação p - CVu Q = CF + retor mínimo do pl p - CVu 124 G es tã o fin an ce ir a produz e vende um único produto (ou serviço), sua receita é fruto de uma variedade de produtos e os gestores precisam elaborar estratégias que considerem a pauta dos produtos vendidos. Quando se tem mais de um produto, pode-se traba- lhar com o ponto de equilíbrio monetário, descobrindo qual o faturamento mínimo que é necessário para que os custos sejam cobertos e distribuir este volume monetário por pro- duto. É uma forma mais simples de trabalhar com o conceito de break-even. Há também a forma mais detalhada que traba- lha as quantidades de cada produto, neste caso, é preciso uti- lizar o conceito de margem de contribuição. Considere como exemplo o caso da empresa “ABC S/A”, que produz e vende três produtos distintos, cujos preços e custos são: • Produto A: preço de venda = R$ 60 Custo variável = R$ 40 • Produto B: preço de venda = R$ 75 Custo variável = R$ 35 • Produto C: preço de venda = R$ 95 Custo variável = R$ 45 A empresa pretende distribuir sua produção da seguinte forma: 40% produto A, 30% para o produto B e 30% para o produto C. Os custos fixos totalizam R$ 175.000. Para calcular o ponto de equilíbrio precisamos encon- trar a Margem de Contribuição de cada produto e depois a Margem de Contribuição Média. Preço (p) Custo variável (Cvu) Margem de contribuição (MC = p - Cvu) % MC . % Produto A 60,00 40,00 20,00 40% 8,00 Produto B 75,00 35,00 40,00 30% 12,00 Produto C 95,00 45,00 50,00 30% 15,00 Margem de contribuição média 35,00 Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 125 Calculando o ponto de equilíbrio: Elaborando o Demonstrativo de Resultado para a empresa ABC S/A: Análise do Ponto de Equilíbrio para decisões gerenciais A análise do Ponto de Equilíbrio pode ser usada para ajudar a gestão a selecionar uma ação quando várias alter- nativas existirem. É possível testar propostas que afetam o volume de vendas, os custos variáveis, o custo fixo, ou até uma combinação desses elementos, usando a equação básica para o ponto de equilíbrio para calcular os resultados (VANDERBECK; NAGY, 2001). Assim, a análise do ponto de equilíbrio pode ser usada para se determinar o lucro zero e para elaborar estratégias que envolvam lucro. Considerando a possibilidade de lucro, o volume de vendas (em dinheiro e em quantidade) pode ser calculado pelas fórmulas: Q = CF = 175.000 = 5.000 unidades (p - CVu) 35 40% produto A = 2.000 unidades 50 unidades 30% produto B = 1.500 unidades 30% produto C = 1.500 unidades{ Receita Produto A = 2000 x 60 = 120.000 Produto B = 1500 x 75 = 11.2500,00 Produto C = 1500 x 95 = 14.2500,00 375.000,00 (-) custo variável Produto A = 2000 x 40 = 80.000,00 Produto B = 1500 x 35 = 52.500,00 Produto C = 1500 x 45 = 67.500,00 (200000,00) (=) margem de contribuição 175.000,00 (-) Custo fixo (175000,00) (=) Lucro 0 126 G es tã o fin an ce ir a Lucro em dinheiro: Lucro em %: Exemplo: A Empresa “Maria Fumaça S/A” é especializada em trens em miniatura. O preço de venda de cada trem é R$ 500, os custos variáveis totalizam R$ 350 por unidade e os custos fixos totalizam R$ 500.000 mensais. a) Qual a quantidade de vendas para resultar em um lucro de R$ 100.000 mensais? Demonstrativo: b) Qual a quantidade de vendas para resultar em um lucro de 10% sobre as vendas? Q = Custo fixo (preço - custo variável) Vendas = Custo fixo 1 - custo variável total + lucro receita total( ( Q = Custo fixo + lucro = 600.000 = 4.000 unidades (preço - custo variável) (500 + 350) Receita 4000 unidades x 500,00 2.000.000,00 (-) Custo variável 4000 unidades x 350 (1.400.00,00) (=) Margem de contribuição 600.000,00 (-) Custo fixo) (500.000,00) (=) Lucro 100.000,00 Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 127 Como o preço unitário é R$ 500, podemos descobrir a quantidade: RT = P.Q assim Q = 2.500.000,00/500,00 = Q = 5.000 unidades Demonstração: Margem de lucro = lucro/receita = 250.000/2.500.000 = 0,10 = 10% Tipos de Alavancagem A alavancagem é um instrumento de gestão financeira que pode trazer efeitos positivos ou negativos. Isso decorre da existência de custos/despesas fixas. Para compreender tais efeitos é importante conhecer os três tipos de alavancagem: operacional, financeira e a combinada (ou total). Vendas = Custo fixo = 500.000 = R$ 2.500.000,00 1 - custo variável total + lucro 1 - 350 + 0,10 receita total 500( ( ( ( Receita 5000 unidades x 500,00 2.500.000,00 (-) Custo variável 5.000 unidades x 350 (1.750.00,00) (=) Margem de contribuição 750.000,00 (-) Custo fixo) (500.000,00) (=) Lucro 250.000,00 Alavancagem total ou combinada Alavancagem operacional Alavancagem financeira Demonstrativo de resultado (-) Custo do produto vendido (=) Lucro bruto (-) Despesas operacionais (=) Lucro antes dos juros e IR (LAJIR) (-) Despesas financeiras (=) Lucro antes do IR (LAIR) (-) Imposto de Renda (IR) (=) Lucro líquido 128 G es tã o fin an ce ir a Alavancagem Operacional A alavancagem operacional resulta da existência de custos operacionais fixos na estrutura de resultados da empresa. Quando a empresa aumenta suas vendas, haverá menor carga de custos e despesas fixas sobre cada unidade vendida, provocando um acréscimoem maiores proporções no Lucro Antes dos Juros e Imposto de Renda (LAJIR). Exemplo: A empresa “New Age S/A” vende seu pro- duto por R$ 25 a unidade. Os custos variáveis unitários tota- lizam R$ 10 e os custos e despesas fixas totalizam R$ 12.000. Atualmente, a empresa tem um volume de vendas anual de 2.000 unidades e está projetando um crescimento de 25% para o próximo ano. Qual o efeito sobre o LAJIR? Como o LAJIR cresceu em proporção maior que o cres- cimento das vendas, dizemos que ocorreu Alavancagem Operacional. Inversamente, a queda nas vendas provocará “substancial redução no LAJIR que poderá transformar-se em prejuízo operacional na eventualidade de o volume situar-se abaixo do ponto de equilíbrio” (BRAGA, 1995). O grau de alavancagem operacional é a medida do impacto da alavancagem operacional sobre os lucros opera- cionais da empresa e pode ser mensurado pela fórmula: No exemplo da empresa “New Age S/A”: DRE Para 2000 unid. Para 2500 unid. Receita 50.000,00 + 25% 62.500,00 (-) Custo variável (20.000,00) (25.000,00 (=) Lucro bruto 30.000,00 37.500,00 (-) Custos fixos (12.000,00) (12.000,00) (=) LAJIR 18.000,00 + 41,67% 25.500,00 % lucro operacional % quantidade vendida GAO = Lucro bruto LAJIR ou Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 129 Concluímos que uma variação nas receitas provocará um impacto igual a 1,667 no LAJIR. Por exemplo, se ao invés de um crescimento projetado de 25% a empresa planejasse um crescimento nas vendas de 10%, o impacto sobre o LAJIR será de 16,67% (10% x 1,667). Quando a variação percentual do LAJIR é superior à variação percentual das vendas, temos alavancagem opera- cional. Isso significa que, toda vez que GAO > 1 há alavanca- gem operacional. Em algumas situações, a alavancagem operacional é chamada de Risco do Negócio. O risco do negócio está relacionado com as variações do LAJIR, pois isto “implicaria maior risco da margem de contri- buição ser insuficiente para cobrir os custos operacionais fixos, prejudicando a rentabilidade e a liquidez da empresa” (BRAGA, 1995). Além disso, o GAO pressupõe que permanecem inalte- rados o preço de venda, o custo variável unitário e os custos fixos, o que nem sempre acontece quando ocorrem flutuações na quantidade vendida. Outra situação comum é a dificuldade de repassar ao preço de venda aumentos nos custos operacionais. Alavancagem Financeira A alavancagem financeira resulta da existência de des- pesas financeiras. As despesas financeiras não dependem dire- tamente do volume de vendas e produção, mas sim, do volume de empréstimos e financiamentos e da taxa de juros. Com isso, as despesas financeiras classificam-se como custos/despesas fixos e com tal, podem provocar efeitos de alavancagem. O LAJIR deve ser suficiente para cobrir as despesas financeiras e ainda gerar o lucro antes do imposto de renda (LAIR). Quando a empresa possui despesas financeiras pode se beneficiar de um crescimento mais que proporcional no lucro líquido, dado um crescimento no lucro antes dos juros e do imposto de renda (LAJIR). 130 G es tã o fin an ce ir a Exemplo: Voltando ao caso da empresa “New Age S/A”. Considere que as despesas financeiras totalizam R$ 9.000 e que o Imposto de Renda é de 15%. Qual o efeito do aumento das vendas de 2.000 para 2.500 unidades sobre o lucro líquido? Como o Lucro líquido cresceu em proporção maior que o cres- cimento do LAJIR, dizemos que ocorreu Alavancagem Financeira. O grau de alavancagem financeira mede os efeitos pro- vocados sobre o lucro líquido pelas variações no LAJIR e pode ser calculado pela fórmula: No exemplo da empresa “New Age S/A”: Concluímos que mantendo constante as despesas financeiras, um aumento no LAJIR provocará um impacto 2 vezes maior no Lucro líquido. Assim, toda vez que GAF > 1 há alavancagem financeira. DRE Para 2000 unid. Para 2500 unid. Receita 50.000,00 + 25% 62.500,00 (-) Custo variável (20.000,00) (25.000,00) (=) Lucro bruto 30.000,00 37.500,00 (-) Custos fixos (12.000,00) (12.000,00) (=) LAJIR 18.000,00 + 41,67% 25.500,00 (-) despesas financ. (9.000,00) (9.000,00) (=) LAIR 9.000,00 16.500,00 (-) Imposto de renda (1.350,00) (2.475,00) (=) Lucro líquido 7.650,00 +83,33% 14.025,00 % lucro operacional % LAJIR GAF = LAJIR LAJIR ou GAF = 18.000 = 2 vezes 9.000 GAF = 83,33% = 2 vezes 41,67%ou Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 131 Um GAF alto indica a existência de elevadas despesas financeiras para o LAJIR considerado, isto implica em maior risco. Assim, risco financeiro está relacionado com a possi- bilidade de o LAJIR ser insuficiente para cobrir as despesas financeiras, o que afeta diretamente a rentabilidade e a liqui- dez da empresa. Alavancagem Total ou Combinada A Alavancagem Total é o potencial de custos fixos, operacionais e financeiros, utilizado para aumentar o efeito das variações nas vendas sobre o lucro líquido, ou seja, é o efeito acumulado das alavancagens operacional e financeira sobre o risco da empresa. A mensuração da alavancagem total é dada pela fórmula: Exemplo: Calculando a alavancagem total da empresa “New Age S/A”: Isso significa que se o volume de vendas sofrer varia- ções, o lucro líquido da empresa flutuará 3,33 vezes. Por exem- plo, se o crescimento projetado das vendas for de 15%, o lucro líquido crescerá aproximadamente 50% (GAT = 15% x 3,333). GAT = % lucro líquido % volume de vendasGAT = GAO x GAF ou GAT = GAO x GAF = 1,667 x 2 = 3,333 vezes GAT = % lucro líquido = 83,33% = 3,333 vezes % volume de vendas 25% 132 G es tã o fin an ce ir a Desempenho Operacional e Alavancagem Financeira Na mensuração dos três tipos de alavancagem são levados em conta vários conceitos de lucro: Lucro Antes dos Juros e Imposto de Renda (LAJIR), correspondente ao inglês Earning Before Interest and Taxes (EBIT); Lucro Antes do Imposto de Renda (LAIR) e o lucro líquido. Sob a ótica da administração financeira, o lucro líquido depende das decisões de investimento (decisões de ativo) e de financiamento (decisões de passivo) e representa o resultado do acionista. Por isso, na aná- lise de rentabilidade, o conceito que tem mais sentido é relacio- nar o lucro líquido com o capital de propriedade dos acionistas (o Patrimônio Líquido). Já o lucro operacional é formado pelas ati- vidades operacionais da empresa, independente da forma como são financiadas, e por isso deve se relacionar com o os ativos da empresa quando se pretende analisar o retorno sobre o investi- mento total (ASSAF NETO, 2010). Vimos que a alavancagem financeira pode ser medida pela relação entre a variação percentual do lucro líquido e a variação percentual no lucro operacional (LAJIR). O lucro líquido se relaciona com a rentabilidade do patrimônio líquido (ROE) e o lucro operacional com a rentabilidade do ativo (ROA). Assim, existe uma relação direta entre a alavan- cagem financeira e a rentabilidade da empresa. Exemplo: A empresa “Pop Star S/A” desenvolverá um projeto cujo investimento inicial é de R$ 500.000. O resultado operacional esperado para este projeto é de 20% ao ano e exis- tem duas opções para financiamento do projeto: a) 100% com capital próprio e, GAT = % lucro líquido % volume de vendasGAT = GAO x GAF ou Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 133 b) 50% com capital próprio e 50% com capital de tercei- ros (financiamento bancário com jurosde 10% ao ano). A rentabilidade do capital próprio cresceu de 20% para 30% com a utilização de capital de terceiros, isso gerou o pagamento de despesas financeiras e proporcionou uma ala- vancagem financeira positiva (GAF>1). Isso ocorre toda vez que a rentabilidade do capital próprio (ROE) for maior que a rentabilidade do investimento (ROA) e quando o custo do capital de terceiros (neste caso 10% - juros) for menor que o resultado operacional (ROA = 20%). Agora considere que o resultado operacional seja de 8%. Itens Sem financia- mento Com financia- mento A. Capital próprio 500.000,00 250.000,00 A. Capital de terceiros 0 250.000,00 A. Investimento total (A+B) 500.000,00 500.000,00 A. Resultado operacional (20% de C) 100.000,00 100.000,00 A. Juros (10% de B) 0 25.000,00 A. Resultado após os juros (D-E) 100.000,00 75.000,00 A. ROA - Rentabilidade do investimento 20% 20% A. ROE - Rentabilidade do patrimônio (F/A) 20% 30% A. Alavancagem financeira (H/G) 1 1,5% Itens Sem financia- mento Com financia- mento A. Capital próprio 500.000,00 250.000,00 A. Capital de terceiros 0 250.000,00 A. Investimento total (A-B) 500.000,00 500.000,00 A. Resultado operacional (8% de C) 40.000,00 40.000,00 A. Juros (10% de B) 0 25.000,00 A. Resultado após os juros (D-E) 40.000,00 15.000,00 A. ROA - Rentabilidade do investimento (D/C) 8% 8% A. ROE - Rentabilidade do patrimônio (F/A) 8% 6% A. Alavancagem financeira (H/G) 1 0,75% 134 G es tã o fin an ce ir a A rentabilidade do capital próprio caiu de 8% para 6% com a utilização de capital de terceiros, o que proporcionou uma alavancagem financeira negativa (GAF<1). Isso ocorre toda vez que a rentabilidade do capital próprio (ROE) for menor que a rentabilidade do investimento (ROA) e quando o custo do capital de terceiros (neste caso 10% - juros) for maior que o resultado operacional (ROA = 8%). Neste caso, a empresa paga para cada R$ emprestado mais do que rende seu investimento no negócio, então os acionistas “bancam” esta diferença com sua parte de lucro. Este exemplo permite identificar que o custo da dívida também interfere na alavancagem financeira e que o retorno dos acionistas é o índice mais importante na análise de resul- tados. O retorno sobre o Ativo e o custo da dívida são infor- mações gerenciais de como a empresa atingiu o retorno sobre o patrimônio líquido, ou seja, são fundamentais para defini- ção de estratégias empresariais. Incorporando o custo da dívida na análise temos a seguinte relação: Saiba Mais Você sabe o que é EBITDA? EBITDA (Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) ou LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, depreciação e amortização do diferido) – é um indicador financeiro equivalente ao fluxo operacional de caixa, é calculado pela soma do lucro ope- racional antes do imposto de renda (LAJIR) e as despesas não desembolsáveis (como a depreciação, que é uma des- pesa contábil, mas não uma saída efetiva de caixa), eviden- ciando a capacidade financeira da empresa em remunerar os proprietários do capital (credores e acionistas). ROE = ROA + (ROA -k) x PE/ROA Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 135 ROE = Retorno sobre o patrimônio Líquido ROA = Retorno sobre o Investimento k = Custo da dívida = DF/PE (despesas financeiras/ pas- sivo que gerou essa despesa) PE = Passivo gerador de encargos financeiros PL = Patrimônio Líquido Esta fórmula mostra o efeito que a estrutura de capital e os juros pagos produzem sobre os lucros finais, informando se esta estrutura está beneficiando ou não os acionistas, ou seja, se está gerando alavancagem financeira positiva. A rentabilidade do patrimônio líquido (ROE) pode ser totalmente diversa da taxa de retorno do Ativo e, em certos casos, até oposta, dependendo do custo da dívida e de sua pro- porção em relação ao Patrimônio Líquido. Matarazzo (2010) con- clui ao analisar esta situação que, “às vezes vale mais uma boa administração financeira que uma boa atividade operacional”. Considerando esta relação, a fórmula completa da ala- vancagem financeira é a seguinte: Voltando ao exemplo da empresa “Pop Star S/A” • Com um resultado operacional de 20%: Podemos desmembrar a equação: – Os 20% primeiros equivalem à taxa que o próprio patrimônio líquido, com seus recursos, está obtendo de lucro. – Os 10% (20% - 10%) são a diferença entre as duas taxas, de captação e de aplicação, que neste caso representa GAF = ROA + (ROA - k) x PE/PL ROA GAT = 20% + (20% - 10%) x 250.000/250.000 = 20% + 10% = 1,5 20% 20% 136 G es tã o fin an ce ir a uma sobra que os recursos de terceiros estão deixando para o patrimônio líquido. – O terceiro item, 250.000/250.000, significa que os capitais de terceiros são 1 vez o capital próprio. Esta relação entre pas- sivo originador dos encargos e patrimônio líquido é chamada por alguns autores de Multiplicador da alavancagem financeira. • Com um resultado operacional de 8%: Estes exemplos mostram que a empresa deve recor- rer a capital de terceiros quando a taxa de retorno do ativo é maior do que o custo da dívida. Ao utilizar recursos de tercei- ros, a empresa paga os encargos desta opção, que representa a substituição aos encargos que teria com os proprietários pela remuneração do capital de risco. “A capacidade que a empresa tem de administrar os recursos, próprios e/ou de ter- ceiros, e com isso maximizar os lucros por ação, é a adminis- tração da alavancagem financeira” (MATARAZZO, 2010). Assim, o estudo da alavancagem financeira busca a melhor composição entre capital de terceiros e capital pró- prio e analisa o retorno dos acionistas mediante variações na estrutura de capital. É HORA DE FIXAR: A Cia. Padrão está desenvolvendo um projeto de expansão de suas atividades. O investimento total previsto é de R$ 1.250.000. Tais recursos serão financiados 40% com capital próprio e o restante com capital de terceiros, através da obtenção de um financiamento bancário com taxa de 20% ao ano. A empresa pretende vender a mercadoria produ- zida neste projeto por R$ 13/unidade. O custo variável uni- tário é de R$ 5 e os custos/despesas fixos operacionais (sem GAT = 8% + (8% - 10%) x 250.000/250.000 = 8% + 10% = 0,75 8% 8% Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 137 as despesas financeiras) totalizam R$ 350.000. Sabendo que a empresa projeta uma venda de 80.000 unidades, calcule: (obs.: para efeitos de simplificação esta empresa está isenta do pagamento de Imposto de Renda) a) A alavancagem financeira (pelo conceito de retorno do capital). Pela ótica da alavancagem, vale a pena captar este montante de recursos de terceiros? b) O ponto de equilíbrio. RESOLUÇÃO: a) Calcular a alavancagem financeira: Elaborar o DRE: Calcular os retornos e a alavancagem: Demonstrativo de resultado Receita 80.000 unid.x13,00 1.040.000,00 (-) Custo variável 80.000 unid.x5,00 (400.000,00) (=) Margem de contribuição 640.000,00 (-) Custo fixo operacional (350.000,00) (=) Lucro operacional (LAJIR) 290.000,00 (-) despesas financeiras 750.000x20% (150.000,00) (=) lucro líquido 140.000,00 Itens A. Capital próprio (40%) 500.000,00 B. Capital de terceiros (60%) 750.000,00 C. Investimento total (A+B) 1.250.000,00 D. Resultado operacional (LAJIR) 290.000,00 E. Juros (20% de B) 150.000,00 F. Resultado após os juros (D-E) 140.000,00 G. ROA - Rentabilidade do investimento (D/C) 23,20% H. ROE - Rentabilidade do patrimônio (F/A) 28,00% I. Alavancagem financeira (H/G)1,21 138 G es tã o fin an ce ir a O projeto proporciona uma rentabilidade do investi- mento superior ao custo da dívida pela captação de recur- sos bancários. Isso gera uma alavancagem que é refletida no retorno sobre o patrimônio líquido, então, sob esta ótica, vale a pena a captação de 60% de capital de terceiros para finan- ciar o projeto. b) Ponto de Equilíbrio: P = 13,00 CVu = 5,00 CF = Custo fixo operacional + despesas financeiras CF = 350.000,00 + 150.000,00 = 500.000,00 A empresa precisa vender 62.500 unidades para obter um lucro igual a zero. Como a projeção de venda é de 80.000 unidades (está 28% acima do ponto de equilíbrio), terá um lucro de R$ 140.000, o que representa uma lucratividade líquida de 13,46% (IL = LL/Vendas = 140.000,00/1.040.000,00 = 0,1346). R ef eR ênci as ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRAGA, R. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995. GITMAN, L. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley Brasil, 2010. HIGGINS, R. C. Análise para Administração Financeira. 8. ed. Rio de Janeiro: Mc Graw Hill, 2007. Q = CF = 500.000 = 62.500 unidades p - Cvu 13-5 Po nt o de E qu ilí br io e A la va nc ag em 139 LEMES JR., A.B. et al. Administração Financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. 3.ed. Rio de Janeiro: Cam- pus, 2010. MATARAZZO, D. C. Análise Financeira de Balanços – abor- dagem básica e gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. VANDERBECK, E. J.; NAGY, C. F. Contabilidade de Custos. 11. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2001. ZANATTA, M. Valor Econômico. Agronegócio. 15. out., 2010. Disponível em: http:// clippingmp.planeja- mento.gov.br/cadastros/noticias/2010/10/15/perspecti- vas-de-boas-margens-em-2010-11-reanimam-o-campo COSTA, A. ABAV 2010 – Feira das Américas – Notícias de mercado. 22. out., 2010. Disponível em: http://www.hoteliernews.com.br/ HotelierNews/Hn.Site.4/Imprimir.aspx? Noticia=61224&Midia=1 ( 1 ) Introdução à Gestão Financeira e Fundamentos do Cálculo Financeiro ( 2 ) Cálculo Financeiro em Contexto Inflacionário ( 3 ) Análise das Demonstrações Financeiras ( 4 ) Ponto de Equilíbrio e Alavancagem ( 5 ) Planejamento Financeiro e Orçamento de Caixa ( 6 ) Administração do Capital de Giro e a Gestão das Disponibilidades ( 7 ) Administração das Contas a Receber e dos Estoques ( 8 ) Administração do Passivo Circulante
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