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Walter Benjamin Charles Baudelaire Um Lírico nos tempos de capitalismo

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Walter Benjamin - Charles Baudelaire Um Lírico nos tempos de capitalismo.
Nas Obras escolhidas vol. III - Charles Baudelaire, um lírico no auge do Capitalismo (2ª ed., 1991), Walter Benjamin (1892-1940), traça com seu estilo difuso e descontínuo, cheio de ires e vires, muitas citações colhidas de outros textos de sua cepa e de outros autores, um perfil da vida e obra de Baudelaire (1821-1867), um dos mais importantes poetas da língua francesa, responsável pela ocidentalização da até então, salvo raras exceções, pouco expressiva produção poética gaulesa e, cuja poesia transbordada de imagens românticas e rigores clássicos, tornou-o fundador artístico e mentor intelectual da “modernidade” - movimento literário e artístico que a partir do fim do século XIX passaria a designar diversas tendências: cubismo, dadaísmo, futurismo, etc. 
Benjamin, no ensaio citado, afirma que “a modernidade assinala uma época; designa ao mesmo tempo a força que age nessa época e que a aproxima da antigüidade”2 para completar mencionando as frases finais do crítico de arte Baudelaire em seu estudo sobre o aquarelista: “Por toda a parte buscou a beleza transitória e fugaz de nossa vida presente. 
Walter Benjamin seria um crítico por excelência dos valores modernos. Tal oficio nos é transmitido pela sua leitura de um tempo presente em diversos acontecimentos. Enquanto filósofo e estudioso de literatura, Benjamin estaria inscrito na tradição dos grandes pensadores do século XX por privilegiar a crítica em relação aos grandes princípios da modernidade descontruídos por análises que rechaçaram ideários como o culto à racionalidade, ou ao progresso científico, por exemplo. 
Benjamin não foi um leitor ortodoxo das teses marxistas, mas procurou explorar todos os conceitos que lhe serviriam de análise para fomentar a crítica em relação à modernidade. Ao depararmo-nos com a leitura de seu livro sobre Charles Baudelaire (BENJAMIN, 1989), observamos a presença indicativa da leitura benjaminiana do conceito de proletariado extraído do materialismo histórico e dialético, e entendido enquanto uma força proveniente da própria expansão do capitalismo e dos seus modos de produção. Toda a opressão da classe burguesa, a expansão dos mercados, a ampliação do comercio e o processo de industrialização, contribuíram para aumentar a exclusão social e o conflito entre as classes. A leitura de Benjamin sobre o proletariado, é oriunda da analise histórica de Marx sobre a revolução de 1848. A leitura de Marx (2003) sobre os acontecimentos presentes na Paris do Segundo Império capturam a real condição da classe revolucionária na França, bem como o futuro do socialismo no mundo moderno. Ocorre que, enquanto Marx (2003) procura enxergar no proletariado uma homogeneidade, como um estágio superior da subversão, Benjamin entende nas figuras “menores” da classe social, os aliados mais proeminentes. 
Podemos destacar, então que enquanto o marxismo enxerga no conspirador, apenas um agitador sem sentido, a leitura benjaminiana, procurar enxergar nesse tipo, os artefatos presentes em uma crítica corrosiva ao capitalismo e a modernidade. A maior representação da figura do conspirador em Benjamin encontra-se ancorada na leitura dos textos e poemas de Baudelaire.
Baudelaire, o “intelectual maldito”, assim chamado por Gonzalez (1982), responsável por invocar nos seus textos e poemas, fragmentos daquilo que causa repugnância ao puritanismo vitoriano. A grande pergunta formulada por Benjamin (1989), com relação aos escritos baudelerianos é: Baudelaire é um desses conspiradores profissionais, ou teria algo acrescentar ao levante revolucionário? Para elucidarmos esse questionamento, é necessário que compreendamos o fato de que Baudelaire é um produto do seu tempo. Nesse sentido, a sua escrita reflete um esboço da realidade parisiense do segundo império a partir da reflexão sobre a infâmia, isto é, os personagens presentes nas suas tramas textuais são os dejetos do modo de vida capitalista. Quando Baudelaire produz uma literatura crítica, ele está interessado, não em construir uma arte de vanguarda como os grandes escritores franceses, mas sim focalizar a marginalidade do mundo contemporâneo, denunciando a corrupção da escrita, a mercantilização dos objetos e dos sujeitos.
Desta forma, o que Benjamin (2007) nos ensina é a construção de uma experiência coletiva para pensar o contemporâneo a partir das figuras da infâmia que compoem esses mundo. O que abre-se de acordo com essa perspectiva é a conceitualização desses multiplos personagens, dessas múltiplas vozes que fazem ecoar no exato momento em que a crítica manifesta-se procurando esboçar uma comprensão da realidade a partir da construção de um paradigma multicultural e de um pensamento anti-colonizante que insurga-se contra as manifestações de poder e de exclusão.

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