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cap 4 direito empresarial

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Origem e conceito das sociedades limitadas
Até o século XIX podiam-se dividir as sociedades existentes em dois grupos: as sociedades de pessoas, que eram de simples constituição e estrutura, mas que não permitiam a limitação da responsabilidade dos sócios (responsabilidade ilimitada) e as sociedades anônimas, que possuíam responsabilidade limitada, porém dotadas de estrutura e funcionamento complexos, se adequando somente às grandes atividades.
Essa situação não se adequava ao interesse dos pequenos e médios empresários (à época chamados de comerciantes), que pretendiam a limitação da responsabilidade dos sócios e não possuíam recursos para manter a complexa estrutura da sociedade anônima. Diante deste cenário, várias pessoas que possuíam recursos para investir na exploração de atividade econômica deixavam de fazê-lo, exatamente por temer o comprometimento do seu patrimônio pessoal, caso o empreendimento se tornasse deficitário.
Para solucionar esse problema, em 1892, a Alemanha criou a sociedade limitada. Desde então este modelo permite a constituição de uma sociedade com estrutura mais simples e que possibilita a limitação da responsabilidade dos sócios.
Veja que a possibilidade de limitação da responsabilidade dos sócios possui como finalidade incentivar a exploração da atividade econômica, uma vez que limita o risco do empreendimento. Trata-se então de uma medida que visa ao aumento da circulação de riqueza, com a criação de empregos e a geração de tributos.
No Brasil, a sociedade limitada é regulamentada pelo Código Civil, que estabelece em seu art. 1.052 que “na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”.
Esse regime de responsabilidade dos sócios está diretamente relacionado ao dever de integralização do capital social. Ao estipular o valor do capital social, os sócios estão tornando público o valor total que pretendem investir para a exploração da atividade econômica, e este valor será o máximo de responsabilidade que assumirão. Assim, neste tipo societário, o risco do empreendimento assumido pelos sócios é o valor do capital social, ou seja, o valor que efetivamente investiram na sociedade ou prometeram fazer em momento futuro.
O artigo 1.052 deve ser analisado sob duas perspectivas distintas. Na primeira parte do artigo, o legislador partiu do pressuposto de que o capital social está totalmente integralizado e estabeleceu que “a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas”. As quotas do sócio representam a sua participação no capital social, ou seja cada sócio tem o dever de contribuir para o capital social de acordo com as quotas que adquiriu e é o valor das quotas de cada sócio que limita sua responsabilidade. Isso quer dizer que o risco assumido pelo sócio é de não obter retorno financeiro pelo investimento realizado, mas que, como regra geral, não será obrigado a pagar, com recursos pessoais, dívidas da sociedade. Portanto, se o capital estiver totalmente integralizado e a sociedade não possuir recursos (patrimônio) para quitar todos as suas dívidas, os sócios não terão o dever de pagá-las, salvo nas já estudadas hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica.
Contudo, se o capital social não estiver totalmente integralizado prevalecerá a segunda parte do art. 1.052, que estabelece que “todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”. Isso quer dizer que, caso a sociedade não possua patrimônio para quitar seus débitos e o capital social não esteja integralizado por completo, os credores poderão exigir de quaisquer dos sócios o valor que ainda falta ser integralizado. O sócio que pagar tal montante ao credor terá direito de regresso contra o sócio que não havia integralizado sua parcela do capital social. Veja-se o seguinte exemplo: Chico, Manuel e Zeca constituíram uma sociedade limitada. No ato da constituição, ficou estabelecido que cada sócio teria uma participação de R$ 100.000,00 no capital social, totalizando R$300.000,00. Chico e Manuel integralizaram à vista sua participação, ao passo que Zeca integralizou apenas metade do valor que prometeu. Assim, esta sociedade possui um capital a integralizar de R$50.000,00, sendo Zeca o responsável pela integralização faltante.
Com o passar do tempo, a exploração da atividade se mostrou deficitária e a sociedade não possui recursos para pagar suas dívidas. Nesta hipótese é possível que se exija dos sócios não o pagamento total dos débitos da sociedade, mas o valor que falta ser integralizado (R$50.000,00), e mesmo os sócios que já integralizaram sua parte terão a obrigação de integralizar este montante. Assim, caso Manuel pague os R$ 50.000,00, terá direito de cobrá-lo de Zeca (real devedor da quantia). A esta possibilidade dá-se o nome de direito de regresso.
O dever de integralização do capital social e o sócio remisso
Como já estudado, os sócios possuem o dever de integralizar o capital social, e aquele sócio que não o fizer na forma e no prazo previstos no contrato social será notificado para cumprir com seu dever, possuindo 30 dias para fazer o aporte prometido. Caso permaneça inerte ou se recuse expressamente a cumprir com seu dever, três são as penalidades que lhe podem ser impostas.
a) Ajuizamento de medida judicial para que o sócio remisso seja forçado a pagar o valor faltante.
b) Redução de suas quotas, e consequentemente de sua participação nos lucros e de seu direito de voto, ao valor de sua participação no capital social.
c) Exclusão do sócio remisso.
É importante ressaltar que a escolha de qual penalidade será aplicada compete à maioria dos demais sócios, lembrando que os votos são sempre computados de acordo com a participação no capital social. Assim, na votação que escolherá a punição a ser aplicada, o sócio remisso não terá direito de voto e prevalecerá aquela que for votada pela maior parte dos votos realizados.
Características das sociedades anônimas
Para WALDO FAZZIO JÚNIOR, as sociedades anônimas podem ser conceituadas da seguinte forma:
Sociedade anônima ou companhia é a pessoa jurídica de direito privado, empresária por força de lei, regida por um estatuto e identificada por uma denominação, criada com o objetivo de auferir lucro mediante o exercício da empresa, cujo capital é dividido em frações transmissíveis, compostas por sócios de responsabilidade limitada ao pagamento das ações subscritas.[1] (FAZZIO JÚNIOR, 2009, p. 175)
A partir deste conceito, podemos retirar as principais características de uma sociedade anônima. Neste tipo societário, o nome empresarial deve ser a denominação, sendo vedado o uso de firma. Além disso, a sociedade sempre terá natureza empresária, por expressa previsão legal, ainda que explore atividade intelectual.
O ato constitutivo das companhias recebe o nome de estatuto social e o seu capital social é dividido em frações, denominadas ações de livre transferência. Cabe destacar que a sociedade anônima pode ser classificada em aberta, quando seus valores mobiliários podem ser negociados no mercado de capitais, ou fechada quando as ações não podem ser negociadas no mercado de capitais. Em ambos os casos, as ações são de livre negociação, o que muda é a forma de realização da venda. Nas sociedades anônimas abertas a venda é realizada mediante oferta pública, tendo em vista que há utilização do mercado de capitais. Já nas companhias fechadas, que não podem valer-se de tal sistema, fala-se em oferta particular.
Por fim, é preciso enfatizar que a responsabilidade do acionista é limitada à integralização do preço de emissão das ações das quais é titular, não podendo ser obrigado a integralizar o montante devido por outro acionista (responsabilidade individual).

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