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Princípio da autotutela

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE SÁ DE SANTA CATARINA 
DIREITO
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA
São José
2017
Trabalho referente a disciplina de Direito Administrativo, do Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina, ministrada pelo Professor João Mário Martins.
 
São José
2017
sumário
1.	INTRODUÇÃO	3
2.	HISTÓRICO DOS FATOS	4
3.	FUNDAMENTOS JURÍDICOS	5
4.	CONCLUSÃO	7
5.	REFERÊNCIAS	8
1
INTRODUÇÃO 
Trata-se da aplicação do princípio da Autotutela, a qual por Apelação Cível nº 2012.045474-3, de Itajaí, a Terceira Câmara de Direito Público decidiu, por votação unânime, conhecer e acolher, em parte o recurso da autora.
A principal questão do caso concreto relata a derrogação da gratificação de relevância dos vencimentos da servidora pública, sem que tenha sucedido o contraditório e a ampla defesa.
Para realização de ato administrativo que envolva direito individual, é obrigatória a instauração de processo por via administrativa para que possa garantir a outra parte o contraditório e ampla defesa, analisado assim o Devido Processo Legal.
No mais, analisarei no decorrer do trabalho juntamente com a aplicação deste princípio na apelação referida.
HISTÓRICO DOS FATOS
Marta Regina Farias ajuizou, perante a Vara da Fazenda Pública, Executivos Fiscais, Acidente de Trabalho e Registro Público da Comarca de Itajaí, Ação Declaratória de Nulidade de Ato Administrativo Ilegal, em desfavor do Município de Itajaí, sob autos nº 011778-73.2010.8.24.0033.
A Apelante é servidora pública municipal em cargo de agente em atividades de educação.
Relatou nos autos que no período de abril de 2008 a abril de 2009 recebia gratificação no percentual de 30% (trinta por cento) de seus vencimentos, mas na última data o benefício restou cessado pela Portaria nº 0223/09.
Em 23/01/2009 a mencionada gratificação foi restabelecida no percentual de 35% (trinta e cinco por cento), mediante portaria nº 286/09.
Posteriormente, em março de 2009, a benesse foi cessada definitivamente, sem o devido processo legal.
Deste modo, a Autora ingressou com a presente demanda para que fosse restabelecida sua gratificação, a condenação do Município ao pagamento de indenização por danos morais, bem como a nulidade da portaria nº 1314/09.
Após os tramites legais, o Juiz sentenciou o processo julgando improcedentes os pedidos formulados na inicial pela autora, a qual interpôs recurso de apelação cível, alegando que, para a cessação de gratificação, resta imprescindível motivação do ato administrativo, consoante Decreto Municipal nº 6.549/02, art. 5º e Lei nº 3.252/98, art. 1º, parágrafo único. Arguiu, ainda, que o ato de suspensão se sucedeu de forma ilegal, tendo em vista que não foi apreciado o devido processo legal, em específico, o contraditório e ampla defesa, e que exerce a mesma função que predispôs o benefício.
Por fim, postulou pela modificação da sentença julgando procedentes os seus pedidos.
FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A Administração Pública, no dia a dia de suas funções, está habilitada a anular ou revogar seus próprios atos, sem a interposição do Poder Judiciário, quando tais atos são desconformes à lei ou aos interesses públicos, respeitando o Princípio da autotutela.
Sobre o assunto, a súmula 473 do Supremo Tribunal Federal é clara:
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
O Princípio da Autotutela encontra-se associado com o devido processo legal, uma vez que, em se tratando de interesse individual, faz-se necessária a instauração de processo administrativo, garantindo-se o contraditório e a ampla defesa, senão vejamos:
DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE NAVEGANTES. SUPRESSÃO REMUNERATÓRIA. REPERCUSSÃO NA ESFERA INDIVIDUAL DO SERVIDOR. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA. RESTABELECIMENTO DA PARCELA SUPRIMIDA ATÉ A INSTAURAÇÃO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOCORRÊNCIA, CONTUDO, DE ABALO ANÍMICO, GERATRIZ DA PRETENDIDA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA EVIDENCIADA. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA CONFIRMADA. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. "1. "A Administração, à luz do princípio da autotutela, tem o poder de rever e anular seus próprios atos, quando detectada a sua ilegalidade. Todavia, quando os referidos atos implicarem invasão da esfera jurídica dos interesses individuais de seus administrados, é obrigatória a instauração de prévio processo administrativo, no qual seja observado o devido processo legal e os corolários da ampla defesa e do contraditório." (STJ, Recurso Especial n. 1.288.331/DF, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 07.02.2012). 2. "Conquanto, por certo, à luz das circunstâncias fáticas, [o servidor] demandante deva ter sofrido aborrecimento ou incômodo mercê do corte da gratificação indevidamente promovido pela Administração Pública, isso, porém, não se eleva à condição de abalo anímico indenizável." (TJSC, Apelação Cível n. 2012.060886-5, de Itajaí, rel. Des. João Henrique Blasi, j. 06.11.2012)." (TJSC, Apelação Cível n. 2012.086910-2, de Itajaí, rel. Des. Cid Goulart, j. 25-11-2014). (TJSC, Apelação Cível n. 2013.009477-7, de Navegantes, rel. Des. Carlos Adilson Silva, j. 15-09-2015) (grifo nosso).
	No mesmo sentido, dispõe o artigo 5º, LV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
A Administração Pública deve zelar pela regularidade de sua atuação, não sendo essa uma mera prerrogativa. Portanto, ainda que não tenha sido provocada, a Administração Pública tem o dever de vigilância, devendo, mediante controle interno, verificar a legalidade de seus atos, bem como a conveniência destes. 
Entretanto, embora seja a autotutela um dever do Administrador Público, existem limitações para seu exercício. O uso dessa garantia esbarra, principalmente, no princípio da segurança pública, conforme julgado do Superior Tribunal de Justiça:
O poder-dever da Administração de invalidar seus próprios atos encontra limite temporal no princípio da segurança jurídica, de índole constitucional, pela evidente razão de que os administrados não podem ficar indefinidamente sujeitos à instabilidade originada da autotutela do Poder Público. (STJ, RMS 25652/PB, 5ª T., Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, J. 16.09.2008, DJe 13.10.2008)
	Como uma segurança jurídica, a Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, em seu artigo 54, dispõe sobre a decadência de a administração pública anular seus atos: “O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé”.
O direito citado decai no prazo de cinco anos, a partir da data em que esse ato foi realizado. No decorrer do quinquênio, o administrado mantem-se resignado a reformulação ou anulação do ato administrativo que o beneficia. Nesse período ainda não está totalmente estabilizada nem imune a alterações.
Entretanto, findado o prazo decadencial, a relação do administrado com a administração pública deve ser inalterável pelo princípio da segurança jurídica.
CONCLUSÃO 
A Autotutela é a alternativa que o Poder Público tem em anular ou revogar seus atos administrativos, quando ilegais ou contráriosà oportunidade ou conveniência administrativa. Contudo, não se faz necessário a intervenção do Poder Judiciário, podendo perfazer-se por meio de outro ato administrativo auto executável. 
O Poder de Autotutela não pode se sobrepor aos interesses de terceiros, tendo estes garantia de manifestação, o contraditório e ampla defesa. Não se pode aceitar que a Administração Pública tome providências unilaterais que atinjam direitos de terceiros sem que o faça mediante o Devido Processo Legal.
Portanto, ao juntarmos ao caso concreto trabalhado, concluímos que o princípio da autotutela foi respeitado, tendo em vista que a supressão do pagamento da gratificação ocorreu sem o devido processo legal e por decisão da Câmara este foi restabelecido.
Quanto aos danos morais, este não restou comprovado. Vez que não atingiu sua honra, reputação, dor e nem humilhação, sendo assim não lhe acarretou danos passíveis de indenização. 
Deste modo a Terceira Câmara de Direito Público decidiu por votação unanime, conhecer a colher em parte o recurso da autora para determinar o restabelecimento da gratificação de serviços de relevância até 18/08/2013, bem como condenar o Município de Itajaí ao pagamento das parcelas vencidas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 21 set. 2017.
BRASIL. Lei nº 9.784 , de 29 de Janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9784.htm>. Acesso em: 21 set. 2017.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível nº 2012.045474-3. Relator: Desembargador Júlio César Knoll. Disponível em: <http://app6.tjsc.jus.br/cposg/pcpoSelecaoProcesso2Grau.jsp?cbPesquisa=NUMPROC&Pesquisar=Pesquisar&dePesquisa=20120454743>. Acesso em: 21 set. 2017.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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