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Introdução Trabalho Direito Trabalhista

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Introdução
	O trabalho escravo teve origem a séculos atrás, e ocorreu em diversos lugares, principalmente entre a África e o Brasil. Foram condições desprezíveis ao ser humano, que duraram cerca de 300 anos até a promulgação da Lei Áurea, que "acabou" com a escravidão no Brasil. 
No Brasil, a história desse tipo de exploração começou logo com seu
descobrimento. Ao chegarem aqui, portugueses depararam-se com indígenas que circulavam livremente por essas terras, seguindo seus ritos e costumes. A Coroa Portuguesa, no processo
de Colonização, sedenta por mão de obra e propriedades, desconsiderou que os indígenas eram donos da terra (e de si) e se autodeclarou proprietária deles e de todo o território brasileiro.
Com a mão de obra escrava se tornando escassa em razão da abolição do
tráfico, o Brasil foi obrigado a, paulatinamente, conceder liberdade aos negros. Em 1888, a partir da edição da Lei Áurea, a liberdade chegou a todos. Porém, isso não significou um processo de inclusão dos recém-libertos na sociedade.
Com os jesuítas liderando a proteção aos índios, os portugueses tiveram
então que recorrer ao tráfico negreiro vindo da África. Os negros passaram a ser mercadorias valiosas, a ponto de chegarem a servir como referência de riqueza: dizia-se que a capacidade econômica de uma pessoa podia ser medida pela quantidade de escravos que ela possuía.
Com a Revolução Industrial e o processo de industrialização e urbanização
que afetou o Brasil a partir de 1930, ocorreu o chamado êxodo rural, que levou ao deslocamento de um enorme contingente de pessoas dos campos para as cidades. Em busca de melhores condições de vida e de emprego, os migrantes encontraram centros urbanos inchados e sem condições de oferecer emprego e moradia a todos. As promessas de prosperidade, que retiraram muitas famílias dos campos, levaram, com poucas exceções, essas pessoas a um único destino: desemprego, pobreza e miséria na cidade grande.
	A partir desse contexto de vulnerabilidade da população é que surgiram
diferentes formas de exploração de mão de obra, dando início ao que se chama de sistema “moderno” de escravidão1
Porém até hoje existe o trabalho escravo, e muitas pessoas que sofrem, vivem de maneira totalmente desumana, que não possuem escolha, não podem se desvincular do seu "patrão".
	Ser escravo é estar sujeito à condições degradantes de trabalho e de vida, e não poder se desvincula, não possuir as garantias e direitos individuais previstos na Constituição Federal e na Declaração Universal de Direitos Humanos. O trabalho escravo tem um longo passado, e se estende, de maneira camuflada, até os dias de hoje.
	Na escravidão há sempre uma pessoa que possui "direitos" de propriedade sobre outro indivíduo, e essa condição é imposta através da força. 	A principal ação do “proprietário” é criar dívidas ao escravo, não possibilitando sua saída. Não tem o direito de escolha, possuem elevadas jornadas de serviço, o ambiente de trabalho possui péssimas condições, assim como o local em que se alojam e a comida que lhes “oferecem”, ou seja, condições de vida totalmente inadequadas.
1 TRABALHO ESCRAVO
 Conceito
	De acordo com o artigo 149 do Código Penal brasileiro, são elementos que caracterizam o trabalho análogo ao de escravo: condições degradantes de trabalho, jornada exaustiva, trabalho forçado através de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas e servidão por dívida; O termo “trabalho análogo ao de escravo” deriva do fato de que o trabalho escravo formal foi abolido pela Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Até então, o Estado brasileiro tolerava a propriedade de uma pessoa por outra não mais reconhecida pela legislação, o que se tornou ilegal após essa data.
Não é apenas a ausência de liberdade que faz um trabalhador escravo, mas sim de dignidade. Todo ser humano nasce igual em direito à mesma dignidade. E, portanto, nascemos todos com os mesmos direitos fundamentais que, quando violados, nos arrancam dessa condição e nos transformam em coisas, instrumentos descartáveis de trabalho. Quando um trabalhador mantém sua liberdade, mas é excluído de condições mínimas de dignidade, temos também caracterizado trabalho escravo.
O trabalho escravo não é caracterizado por meras infrações trabalhistas. Ele é um crime contra a dignidade humana. A constatação de qualquer um dos quatro elementos vistos abaixo é suficiente para configurar a exploração de trabalho escravo:
– TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado a se submeter a condições de trabalho em que é explorado, sem possibilidade de deixar o local seja por causa de dívidas, seja por ameaça e violências física ou psicológica;
– JORNADA EXAUSTIVA: expediente desgastante que vai além de horas extras e coloca em risco a integridade física do trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insuficiente para a reposição de energia. Há casos em que o descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador também fica impedido de manter vida social e familiar;
– SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas ilegais referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel e ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, que permanece cerceado por uma dívida fraudulenta;
– CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do trabalho e das condições de vida sob a qual o trabalhador é submetido, atentando contra a sua dignidade, destacado a seguir:
- Alojamento precário; em alguns casos trabalhadores moram em barracos de lona chão de terra, sem instalações sanitárias, dormindo em rede, 
Falta assistência medica, muitas vezes trabalham sem epis.
- Péssima alimentação, comida escassa sendo insuficiente para repor as energias gastas do trabalhador,
- Falta de saneamento básico e agua potável muitas vezes improvisam fogão e armazenam a agua em latão, banheiros sem agua encanada sem sistema de esgoto.
- Maus tratos e violência muitas vezes são humilhados são coagidos através de violência e castigos.
	Além destas precariedades ainda há outros elementos que corroboram com o cerceamento da liberdade do trabalhador, a sebar:
- retenção de salario invés de receber o salario o gato assim chamado quem os contrata diz que o salario sera pago ao termino da empreitada obrigando-os a ficar com a esperança de receber.
- isolamento geográfico o trabalhador escravizado pode ser levado a áreas distante de sua cidade , muitas vezes distantes do local de trabalho obrigando-os a percorrer distancias ficando os mesmo sem proteção ou a quem recorre,
- retenção de documentos o gato aprende os documentos do trabalhador para impedir denuncia ou fuga do mesmo.
	O governo federal brasileiro assumiu a existência do trabalho escravo contemporâneo perante o país e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995. Assim, o Brasil se tornou uma das primeiras nações do mundo a reconhecer oficialmente a ocorrência do problema em seu território. De 1995 até 2016, mais de 52 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas a de escravidão.
	Tradicionalmente, esse tipo de mão de obra é empregada em atividades econômicas, desenvolvidas na zona rural, como a pecuária, a produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, soja e algodão. Nos últimos anos, essa situação também tem sido verificada em centros urbanos, especialmente na indústria têxtil, construção civil e mercado do sexo. Infelizmente, há registros de trabalho escravo em todos os estados brasileiros.
	No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural com fins de exploração econômica são homens. As atividades para as quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores têm procurado basicamente homens e jovens. Os trabalhadores rurais libertados são, em sua maioria, migrantes que deixaram suas casas com destino à região de expansão agrícola. Saem de suas cidades atraídos por falsas promessas de aliciadores ou migram forçadamente pelasituação de penúria em que vivem.
	Em zonas urbanas, a situação de imigrantes latino americanos, como a de bolivianos, paraguaios e peruanos, merece a atenção. O recente crescimento econômico do Brasil e a crise mundial contribuíram para aumentar significativamente o número de estrangeiros no país nos últimos anos. De acordo com dados do Ministério da Justiça, de 2010 até abril de 2012, o número de estrangeiros em situação regular no Brasil aumentou em 60%. Há ainda aqueles que, por estarem em situação irregular, são mais vulneráveis à exploração e a terem seus direitos desrespeitados. A migração deve ser considerada um direito humano, no entanto, muitas vezes, o fenômeno está relacionado a violações de direitos, como o trabalho escravo contemporâneo e o tráfico de pessoas.
	Atualmente, o governo brasileiro tem centrado seus esforços para o erradicar o ciclo do trabalho escravo, especialmente na fiscalização de propriedades e na repressão por meio da punição administrativa e econômica de empregadores flagrados utilizando mão de obra escrava.
	Entretanto, a erradicação do problema só pode ser efetivada por meio da garantia de outros dois aspectos: a prevenção e a assistência ao trabalhador libertado, que devem ser feitas por meio de ações da sociedade civil e pela adoção de políticas públicas por órgãos governamentais, para que se reverta a situação de pobreza e de vulnerabilidade. A atuação nessas duas frentes de combate visa a atacar a origem do trabalho escravo, interrompendo a reincidência desse tipo de exploração.
	Diante disso, a educação tem papel fundamental para a quebra de paradigmas e a divulgação de informações, agindo diretamente na prevenção ao problema. Os dados oficiais do Programa Seguro-Desemprego registrados entre 2003 e 2016 indicam que, entre os trabalhadores libertados, 32% são analfabetos e e 39% não concluíram a 4ª série do Ensino Fundamental.
	De acordo com a Convenção nº 29 da OIT (adotada em 1930), trabalho forçado ou compulsório é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente. Sua exploração pode ser feita por autoridades do Estado, pela economia privada ou por pessoas físicas. O conceito é amplo e, portanto, abrange um vasto leque de práticas coercitivas de trabalho, que ocorrem em todos os tipos de atividades econômicas e em todas as partes do mundo.
Além de definir o conceito de trabalho escravo, a Convenção nº 29 da OIT prevê algumas exceções, como o serviço obrigatório militar, a prestação de deveres cívicos, o trabalho realizado para lidar com uma situação de emergência e o trabalho prisional realizado em certas condições. A OIT também possui outra Convenção sobre o tema, a nº 105 (aprovada em 1957), que impõe aos Estados a obrigação de abolir: o trabalho forçado como meio de coerção ou de educação política; a punição para pessoas que expressem opiniões políticas ou participem em greves; a utilização de trabalho forçado para o desenvolvimento econômico e sua realização como forma de discriminação racial, social, nacional ou religiosa.
	Ambas as Convenções possuem ratificação quase universal, o que significa que quase todos os países são legalmente obrigados a respeitar as suas disposições e reportar à OIT regularmente sobre seu cumprimento. Em junho de 2014, foram adotados um Protocolo e uma Recomendação que complementam as Convenções sobre o tema, dispondo sobre orientações aos países membros acerca de medidas necessárias à erradicação da escravidão.
Não estar sujeito a trabalho forçado é um direito humano fundamental: todos os Estados Membros da OIT têm, por força da Declaração da OIT sobre Princípio e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento, a obrigação de respeitar o princípio da eliminação do trabalho forçado, independentemente da ratificação dessas Convenções.
	O trabalho forçado é diferente de uma mera irregularidade trabalhista. Vários indicadores podem ser usados para determinar quando uma situação equivale a trabalho forçado, como restrições à liberdade de circulação, retenção de salários ou de documentos de identidade, violência física ou sexual, ameaças e intimidações, dívidas fraudulentas que os trabalhadores não conseguem pagar, entre outros.
	O Brasil foi a última nação do mundo ocidental a abolir o trabalho escravo de forma oficial, o que ocorreu no final do século XIX. No entanto, em termos práticos, esse problema continua a existir nos dias atuais. Informações recentes estimam a ocorrência de 200 mil trabalhadores no país vivendo em regime de escravidão, segundo dados do Índice de Escravidão Global, elaborado por Organizações Não Governamentais (ONGs) ligadas à Organização Internacional do Trabalho (OIT).
2 NORMATIVAS
	A primeira normativa internacional que tratou do tema foi o tratado firmado pela Liga das Nações (Convenção das Nações Unidas sobre Escravatura), em 1926, que proibiu a prática da escravidão no mundo. Nele, escravidão seria “o estado ou condição de um indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, alguns ou todos os atributos do direito de propriedade.
	O mais importante documento internacional de direitos humanos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948, proibiu universalmente a existência de qualquer tratamento desumano ou degradante, incluindo-se, nessa hipótese, qualquer atividade de redução do ser humano à condição análoga a de escravo. Embora a DUDH não seja um documento que imponha obrigatoriedade legal, ela serviu como base para dois outros tratados sobre direitos humanos da ONU,esses de força cogente que versam também sobre a proibição da escravidão e o direito de todos a condições de trabalho equitativas e satisfatórias: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 196635 . Antes disso, porém, a Organização Internacional do Trabalho já havia lançado, em 1930, a Convenção nº 29 sobre o Trabalho Forçado ou Obrigatório, que foi ratificada por 174 países, incluindo o Brasil (em 1957). Sob o âmbito dessa Convenção, os países membros assumiram o compromisso de “abolir a utilização do trabalho forçado ou obrigatório, em todas as suas formas, no mais breve espaço de tempo possível”. 
 	A convenção considera trabalho escravo “todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente” (artigo 2º, § 1º).
	Tal convenção, concebida ainda no início do século XX, procurou enunciar uma definição de trabalho escravo conforme suas características à época, e seu conceito foi determinado com o intuito de abranger todas as manifestações do problema no mundo, considerando que sua apresentação pode ser diferente segundo variáveis econômicas, políticas e culturais de cada país.
	Com vistas a complementar a Convenção nº 29, foi adotada a Convenção nº 105 da OIT, de 1959, relativa à abolição do trabalho forçado, também ratificada pelo Brasil, em 1965.
	Essas convenções deixaram a cargo dos países membros que as ratificaram a adoção de legislações próprias para adaptar o conceito internacional à sua realidade e circunstância.
	No Brasil, com o processo de redemocratização ocorrido após a queda do regime ditatorial, nasceu a chamada "Constituição Cidadã", de 1988, consolidou direitos e garantias fundamentais. Com isso, o País começou a evidenciar a necessidade de proteção dos direitos humanos, na medida em que erigiu como fundamento da República a dignidade da pessoa humana.
	Até a vigência da Emenda Constitucional (EC) nº 45, em 2004, os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil tinham status de norma supralegal, nos termos do voto do Ministro Gilmar Mendes,
.	Tal interpretação, buscando dar aplicação ao § 2º do art. 5º da Constituição Federal, adveio da necessidade do Supremo Tribunal Federal de sedimentar a hermenêutica constitucional sobre a força normativa desses tratados.
	Contudo, com a inclusão do § 3º ao art. 5ºpela referida Emenda, passou a ser possível o reconhecimento de um status constitucional a esses tratados. 	A partir de então, os tratados aprovados com o mesmo quorum estabelecido para as emendas (aprovação em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros) passaram a ter tratamento constitucional.
	 A questão do trabalho escravo foi inserida na legislação nacional pelo art. 149 do Código Penal brasileiro, antes mesmo da ratificação das Convenções nº 29 e 105 da OIT. A redação do dispositivo, porém, continha alto grau de generalidade, inviabilizando a definição das hipóteses em que ocorria o crime, o qual era assim tipificado: “Reduzir alguém a condição análoga a de escravo”.
	 Firmou-se, então, a necessidade de conceituação mais adequada de trabalho forçado no contexto nacional, Lei nº 10.803, de 11 de dezembro 2003, aprovada para alterar a redação lacunosa do antigo art. 149 do Código Penal.
	Determinadas bancadas no Congresso Nacional argumentam que tal tipo penal tornou por demais amplas as hipóteses em que se configura o crime, na medida em que elencou dois elementos (segundo eles) considerados altamente subjetivos: a degradância e a jornada exaustiva.
	É sob esse argumento que reside atualmente talvez um dos maiores impasses na erradicação do problema, uma vez que tais críticas invocam, justamente, as Convenções da OIT (29 e 105) para demonstrar que a legislação nacional foi por demais além do conceito internacional.
	Embora o art. 149 do CP seja preciso em conceituar o crime, a bancada
ruralista, receosa das implicações de tal dispositivo sobre suas propriedades, propôs então sua revisão conceitua, alegando que o conceito deveria versar apenas sobre restrição de liberdade. Segundo a bancada, os elementos constantes do tipo penal (condições degradantes e jornada exaustiva) não encontram guarida no conceito internacional.
	Argumentam, para tanto, que a alteração legislativa promovida pela Lei nº 10.803, de 2003, introduziu na tipificação penal do crime de redução a condição análoga à de escravo elementos “altamente indeterminados, criando um novo foco de insegurança jurídica e de dificuldades para a persecução criminal”
	O Ministério Público, segundo dispõe o art. 127, da Constituição Federal
de 1988, é instituição permanente, essencial à prestação jurisdicional do Estado, a quem incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
	Dentre as funções institucionais do Ministério Público, insculpidas no art.
129, da CF/88, podemos destacar aquelas que se aplicam, especialmente, ao
Ministério Público do Trabalho, a saber:
a) promover o inquérito civil e ação civil pública, para a proteção dos interesses
difusos e coletivos dos trabalhadores (art. 129, III);
b) defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas (art. 129, V);
c) expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência,
requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993 (art. 129, VI);
d) requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial (art.
129, VIII); e
e) exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde compatíveis com sua finalidade (art. 129, IX).
	Por seu turno, a Lei Orgânica do Ministério Público da União (LC nº 75/93), após elencar suas funções institucionais (art. 5º), passa a especificar os seus instrumentos de atuação, tratando, em seu art. 6º, das “competências”, dentre as quais destacaremos aquelas que são mais afetas à atuação do Ministério Público do Trabalho:
a) impetrar habeas corpus e mandado de segurança (art. 6º, VI);
b) promover o inquérito civil e a ação civil pública para a defesa de outros (trabalhistas) interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos (art. 6º, VII, “d”);
c) promover outras ações, quando difusos os interesses a serem protegidos (art. 6º, VIII);
d) defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas, propondo as ações cabíveis (art. 6º, XI);
e) propor ação civil coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos (art. 6º, XII);
f) promover outras ações necessárias ao exercício de suas funções institucionais, em defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 6º, XIV);
g) manifestar-se em qualquer fase dos processos, acolhendo solicitação do juiz ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse em causa que justifique a intervenção (art. 6º, XV); e
h) expedir recomendações, visando ao respeito, aos interesses, direitos e bens
cuja defesa lhe cave promover, fixando prazo razoável para a adoção das
providências cabíveis (art. 6º, XX).
	Ainda dentro da Lei Orgânica do Ministério Público da União, merece destaque o Capítulo II - Do Ministério Público do Trabalho, do Título II – Dos ramos do Ministério Público da União, e em especial o art. 83, que assevera competir ao Ministério Público do Trabalho o exercício, dentre outras, das seguintes atribuições:
a) promover as ações que lhe sejam atribuídas pela Constituição Federal e pelas leis trabalhistas (art. 83, I);
b) manifestar-se em qualquer fase do processo trabalhista, acolhendo solicitação do Juiz ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse público que justifique a intervenção (art. 83, II);
c) promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos (art. 83, III);
d) propor as ações cabíveis para declaração de nulidade cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que viole as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores (art. 83, IV);
e) propor as ações necessárias à defesa dos direitos e interesses dos menores, incapazes e índios, decorrentes das relações de trabalho (art. 83, V);
f) recorrer das decisões da Justiça do Trabalho, quando entender necessário, tanto nos processos em for parte, como naqueles em que oficiar como fiscal da lei, bem como pedir a revisão dos Enunciados da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho (art. 83, VI);
	Incumbe, ainda, ao Ministério Público do Trabalho, no âmbito de suas atribuições:
a) instaurar o inquérito civil público e outros procedimentos administrativos, sempre que cabíveis, para assegurar a observância dos direitos sociais dos trabalhadores (art. 84, II);
b) requisitar à autoridade administrativa federal competente, dos órgãos de proteção ao trabalho, a instauração de procedimentos administrativos, podendo acompanhá-los e produzir provas (art. 83, III);
c) ser cientificado pessoalmente das decisões proferidas pela Justiça do Trabalho, nas causas em que o órgão tenha intervindo ou emitido parecer escrito (art. 84, IV).
	Quanto à atuação do Parquet Trabalhista, esta se dará de duas formas: como órgão interveniente (fiscal da lei) ou como órgão agente. 
	O Ministério Público do Trabalho tem lançado mão de diversas ações judiciais no combate ao trabalho escravo no Brasil, notadamente a ação civil pública (Lei nº 7.343/85), as Ações Coletivas (Lei nº 8.078/90), bem como as medidas cautelares.
	Após o encerramento das investigações, não tendo sido aceito pelo inquirido o Termo de Ajuste de Conduta, o Procurador do Trabalho poderá/deverá propor a Ação Civil Pública, tendente ao ajustamento compulsório da conduta do infrator, requerendo a condenação deste nas obrigações de fazer e não fazer suficientes à regularização da situação objeto de intervenção do Ministério Público.
	Aos infratores, condenados nas obrigações de fazer e não fazer, também é cominada multa em caso de descumprimento da decisão a qual vem sendo revertida ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
	Todos os procedimentos adotados contra os trabalhadores conduzem a que se reconheça o dano moral coletivo, porque atingido o complexosocial em seus valores íntimos, em especial a própria dignidade humana.
COORDENADORIA NACIONAL DE COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO -
CNCTE.
	Em junho de 2001, por meio das Portarias nºs 221 e 230, da lavra do Exmo. Sr. Procurador-Geral do Trabalho, institui-se, no âmbito do Ministério Público do Trabalho, uma Comissão Temática destinada a elaborar estudos e indicar políticas para atuação do Parquet Trabalhista no combate ao trabalho forçado e à regularização do trabalho indígena
	É certo, porém, que a atuação do Parquet Trabalhista não se dá de forma isolada. Ao contrário, muitas das denúncias chegadas às diversas Procuradorias são oriundas de nossos parceiros, dentre os quais destacamos o Ministério do Trabalho e Emprego, a Comissão Pastoral da Terra - CPT, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura - FETAGRI’s, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a OIT.
	Outra importante forma de atuação do Ministério Público do Trabalho é a articulação visando à alteração da Constituição Federal, de nossa legislação penal e trabalhista, a fim de imprimir maior efetividade ao combate ao trabalho forçado
Sanções
	O Código Penal foi reformado em 2013, deixando mais claras as situações de punição por redução a condição análoga à de escravo. O código prevê a pena de reclusão de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência cometida. 
	O crime está definido em quatro situações: cerceamento de liberdade de se desligar do serviço, servidão por dívida, condições degradantes de trabalho e jornada exaustiva. A pena é aumentada se o crime for cometido contra criança ou adolescente ou por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. 
Outra alteração importante do Código Penal na matéria foi dada pela Lei n. 9.777, de 1998, determinando que, para o aliciamento de trabalhadores de um local para outro em território nacional, a pena de detenção é de um a três anos e multa. Conforme o artigo 207, a pena abrange o recrutamento de trabalhadores para outra região mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia, ou não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. Esta pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.
	Em relação ao destino das propriedades em que se configurou o trabalho escravo, a Emenda Constitucional n. 81, de 2014, acrescentou o artigo 243 na Constituição Federal para determinar que as propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
	A chamada “lista suja” dos empregadores relacionados à prática de trabalho escravo foi criada por meio da Portaria Interministerial n. 2, de 12 de maio de 2011, do Ministério do Trabalho e Emprego e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A portaria enuncia regras sobre a atualização semestral do Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo, e disciplina os meios de inclusão e de exclusão dos nomes dos infratores no Cadastro. É vedado o financiamento público a pessoas físicas e jurídicas que são condenadas administrativamente por exploração de trabalho escravo.
	Fontet – Criado em dezembro do ano passado, por meio da Resolução n. 212/2015 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Fórum Nacional do Poder Judiciário para Monitoramento e Efetividade das Demandas Relacionadas à Exploração do Trabalho em Condições Análogas à de Escravo e ao Tráfico de Pessoas (Fontet) tem como atribuição o aperfeiçoamento das estratégicas de enfrentamento aos dois crimes pelo Poder Judiciário.
	O Comitê Nacional Judicial de Enfrentamento à Exploração do Trabalho em Condição Análoga à de Escravo e ao Tráfico de Pessoas do CNJ, presidido pelo ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e conselheiro do CNJ Lelio Bentes, possui cinco subcomitês com atribuições específicas para cumprir os objetivos do Fontet.
O PAPEL DO BRASIL NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO.
	A posição do País diante do cenário internacional vem sendo reconhecida exatamente pelos esforços da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE), no sentido de mudar essa sensação de impunidade que convive com a escravidão contemporânea. 	Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego citados no documento conjunto da Secretaria de Direitos Humanos e da Organização Internacional do Trabalho, de 1995 a 2001, 156 operações de fiscalização daquele Ministério liberaram mais de 3.400 trabalhadores submetidos a essa situação.
	Não pode o Poder Judiciário deixar de pactuar com esse objetivo e deixar de fazer valer princípios constitucionais que nos regem interna e externamente, quais sejam: dignidade da pessoa humana e valores socais do trabalho (art. 1º, III e IV, da Constituição Federal), prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II, da Constituição Federal), direitos dos trabalhadores (art. 7º da Constituição Federal) e função social da propriedade (artigos 5º, XXIII e 170, III, ambos da Constituição Federal). Uma omissão do Judiciário diante da constatação de trabalho em condições análogas às de escravo, seria fazer ouvidos moucos aos reclames sociais e relegar ao oblívio direitos mínimos de qualquer ser humano.
Conclusão
	Ante ao exposto, e pesquisas bibliográficas, o princípio da dignidade da pessoa humana é o sustentáculo do ordenamento jurídico pátrio, sendo a valorização ao direito ao trabalho digno, resultado de uma de suas maiores efetivações. Todavia, conforme ensina Maurício Godinho Delgado (2004), o conceito de trabalho na expressão “valorização do trabalho” deve ser compreendido como trabalho juridicamente protegido, ou seja, emprego. 
	Neste sentido, com ênfase no princípio da dignidade da pessoa humana, que, no âmbito laboral, o trabalho em condições análogas a de escravo, a partir de suas peculiaridades como a realização de trabalho em condições degradantes, constitui-se como maior ofensa praticada contra a instituição da valorização social ao trabalho e uma das maiores lesões à dignidade da pessoa humana indo contra o que prega a nossa Carta Magna.
	A reforma trabalhista, banaliza o trabalho escravo e dificulta o seu combate, de acordo com especialistas que atuam na erradicação do crime no país.	
	Ainda que a reforma não altere a forma como o trabalho escravo é caracterizado pela legislação, o texto traz várias mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que afetam o combate ao crime. Entre elas, estão a ampliação da terceirização, a contratação de autônomos de forma irrestrita, e a possibilidade de aumentar a jornada de trabalho e de reduzir as horas de descanso.
Terceirização
	A ampliação da terceirização para as principais atividades das empresas, aprovada em março pelo Congresso Nacional e detalhada pela reforma trabalhista, é apontada pelos especialistas como a principal mudança que deve dificultar o combate ao trabalho escravo.	
	A reforma deve aumentar a cadeia de empresas terceirizadas, distanciando o trabalhador de quem efetivamente controla a produção. Com as novas regras, segundo Faria, aumentará a prática de empresas terceirizadas que contratam outras empresas, a chamada quarteirização.
	Na indústria do vestuário, por exemplo, o trabalhador encontrado em condições análogas à escravidão normalmente está em uma oficina de costura subcontratada por uma empresa de confecção que já é terceirizada de uma grande marca. 	
	A ampliação das formas de contratação de profissionais autônomos é considerada, pelos especialistas ouvidos pela Repórter Brasil, como uma “ampliação da terceirização”. Ela permite que autônomos sejam contratados de forma contínua e exclusiva. Assim, o empregador pode privar o trabalhador dos seus direitos básicos.
Jornada de trabalho
	Areforma trabalhista permite que negociações coletivas ampliem a jornada de trabalho, que pode chegar a 12 horas diárias, e reduzam o intervalo de descanso. Esses acordos teriam predominância sobre alguns pontos da legislação trabalhista.
	A jornada exaustiva, que vai além de horas extras e que coloca em risco a integridade física do trabalhador, é um dos pontos que podem caracterizar uma situação de trabalho escravo. Ainda que nem toda jornada de 12 horas possa configurar o crime, esse aumento pode banalizar a sua ocorrência. “Nenhuma jornada superior a oito horas pode ser habitual [salvo exceções negociadas em acordos coletivos. A reforma cria um argumento de resistência e de disseminação da fraude pelos escravistas.
	A presença de sindicatos nessas negociações não garante dignidade aos trabalhadores, pois existem organizações sindicais que funcionam como “aliciadores de mão de obra. 
Ambientes insalubres
	A reforma trabalhista estabelece que um acordo coletivo pode alterar o “enquadramento do grau de insalubridade” de um ambiente de trabalho e prorrogar jornadas “em ambientes insalubres”. Atualmente, essas mudanças necessitam da licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho.
	Quando configuradas jornada exaustiva e condições degradantes, o que se verifica é uma sistemática afronta a direitos relacionados à saúde, à segurança, ao bem estar físico, emocional e psicológico do trabalhador. Admitir tais violações no mundo moderno significa retroceder aos tempos de coisificação do ser humano. Mais do que isso, importa em retirar o caráter de humanidade das pessoas, reduzindo-as a objetos descartáveis. E é isso que pretendem alguns. Com a aprovação condicionada da PEC 438, o que o Congresso fez foi deixar margem para um possível retrocesso social, que se consolidará na hipótese de 46 aprovação do PLS nº 432, de 2013, que retira os elementos jornada exaustiva e condições degradantes do conceito de trabalho escravo. Não se pode permitir o avanço desse processo, sob pena de o Brasil se afastar do caminho que o levou ao reconhecimento internacional no enfretamento a essa grave violação de direitos humanos.
	Educação é o ponto crucial para ter inicio minimizar o trabalho escravo no Brasil, tendo em vista que, a diminuição de inspetores trabalhista, a morosidade da Policia Federal, processos arquivados e muitos prescritos contribuem categoricamente o aumento da escravidão moderna. As multas nunca são pagas, empresários não são punidos, os gatos ainda continuam, a migração nordestina iludida a condições de melhora de vida continua.
	A reforma trabalhista estará contribuindo para um retrocesso e quão distante está a manter as normas de dignidade humana, com isto contribuir a impunidade, pois sanções rígidas a serem cumpridas acabam sendo um equivoco uma utopia.
	
DELGADO, Maurício Godinho. Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2004.
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Para que se consiga atingir este objetivo de forma célere, é importante dar subsídios e ampliar: a fiscalização realizada pelo grupo móvel, as atividades praticadas pelo Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho e agentes do terceiro setor, todavia, não há dúvida de que a aprovação da PEC 438, que hoje está em lenta tramitação na câmara dos deputados, seria a principal ferramenta para a efetiva erradicação desta que é uma das mais antigas e graves formas de exploração do homem.
 
Referências
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 20. e
Conclusão
A reforma trabalhista, prevista para ser votada nesta terça-feira (11) no Senado Federal, banaliza o trabalho escravo e dificulta o seu combate, de acordo com especialistas que atuam na erradicação do crime no país.
Ainda que a reforma não altere a forma como o trabalho escravo é caracterizado pela legislação, o texto traz várias mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que afetam o combate ao crime. Entre elas, estão a ampliação da terceirização, a contratação de autônomos de forma irrestrita, e a possibilidade de aumentar a jornada de trabalho e de reduzir as horas de descanso.
Veja os pontos da reforma trabalhista que devem dificultar o combate ao crime:
Terceirização
A ampliação da terceirização para as principais atividades das empresas, aprovada em março pelo Congresso Nacional e detalhada pela reforma trabalhista, é apontada pelos especialistas como a principal mudança que deve dificultar o combate ao trabalho escravo.
“A nossa experiência de combate ao trabalho escravo mostra que todos os resgatados são contratados por intermediários que já são autônomos ou terceirizados, e quem contrata busca se esquivar da responsabilidade”, afirma Brito
A reforma deve aumentar a cadeia de empresas terceirizadas, distanciando o trabalhador de quem efetivamente controla a produção. Com as novas regras, segundo Faria, aumentará a prática de empresas terceirizadas que contratam outras empresas, a chamada “quarteirização”. “Será mais difícil que a gente identifique quem é o real empregador”, afirma.
Na indústria do vestuário, por exemplo, o trabalhador encontrado em condições análogas à escravidão normalmente está em uma oficina de costura subcontratada por uma empresa de confecção que já é terceirizada de uma grande marca. “A explicação que as grandes empresas dão sempre é ‘eu não sabia de nada’, porque se referia a uma empresa terceirizada. Com as mudanças trabalhistas, isso vai piorar”, afirma Faria. Autônomos
A ampliação das formas de contratação de profissionais autônomos é considerada, pelos especialistas ouvidos pela Repórter Brasil, como uma “ampliação da terceirização”. Ela permite que autônomos sejam contratados de forma contínua e exclusiva. Assim, o empregador pode privar o trabalhador dos seus direitos básicos.
Jornada de trabalho
A reforma trabalhista permite que negociações coletivas ampliem a jornada de trabalho, que pode chegar a 12 horas diárias, e reduzam o intervalo de descanso. Esses acordos teriam predominância sobre alguns pontos da legislação trabalhista.
A jornada exaustiva, que vai além de horas extras e que coloca em risco a integridade física do trabalhador, é um dos pontos que podem caracterizar uma situação de trabalho escravo. Ainda que nem toda jornada de 12 horas possa configurar o crime, esse aumento pode banalizar a sua ocorrência. “Nenhuma jornada superior a oito horas pode ser habitual [salvo exceções negociadas em acordos coletivos]. A reforma cria um argumento de resistência e de disseminação da fraude pelos escravistas,” diz o juiz do trabalho da 15ª região Marcus Barberino.
 
Já Faria destaca que a presença de sindicatos nessas negociações não garante dignidade aos trabalhadores, pois existem organizações sindicais que funcionam como “aliciadores de mão de obra”. Ele exemplifica com o caso da Cofco, multinacional chinesa autuada por explorar trabalho escravo em abril deste ano no Mato Grosso. No caso, a negociação coletiva com a presença do sindicato sequer coibiu condições que caracterizam o trabalho escravo. Para Faria, com a reforma, casos como esse poderiam ser ainda mais comuns.
Ambientes insalubres
A reforma trabalhista estabelece que um acordo coletivo pode alterar o “enquadramento do grau de insalubridade” de um ambiente de trabalho e prorrogar jornadas “em ambientes insalubres”. Atualmente, essas mudanças necessitam da licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho.
Faria lembra que há insalubridade em todos os casos de trabalho escravo encontrados nas indústrias de vestuário e na construção civil. Esses setores, onde são encontrados a maior parte dos casos de trabalho escravo urbano, devem se tornar ainda mais hostis com a reforma. “Combinado com a jornada exaustiva, essas mudanças podem ampliar as situações análogas ao trabalho escravo”, diz o auditor fiscal.
Esta reportagem foi realizada com o apoio da DGB Bildungswerk
. Quando configuradas jornada exaustiva e condições degradantes, o que se verifica é umasistemática afronta a direitos relacionados à saúde, à segurança, ao bem estar físico, emocional e psicológico do trabalhador. Admitir tais violações no mundo moderno significa retroceder aos tempos de coisificação do ser humano. Mais do que isso, importa em retirar o caráter de humanidade das pessoas, reduzindo-as a objetos descartáveis. E é isso que pretendem alguns. Com a aprovação condicionada da PEC 438, o que o Congresso fez foi deixar margem para um possível retrocesso social, que se consolidará na hipótese de 46 aprovação do PLS nº 432, de 2013, que retira os elementos jornada exaustiva e condições degradantes do conceito de trabalho escravo. Não se pode permitir o avanço desse processo, sob pena de o Brasil se afastar do caminho que o levou ao reconhecimento internacional no enfretamento a essa grave violação de direitos humanos

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