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Roteiro Direito Penal I parte 1

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ROTEIRO DE ESTUDOS
CURSO: Direito
PERÍODO: 2º Semestre 
DISCIPLINA: Direito Penal I
PROFESSOR: Carlos Roberto Batista
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 03 horas/aula
CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 60 horas/aula
EMENTA
Noções Preliminares: Conceito, finalidades e função do Direito Penal, Direito Penal 
Objetivo e Direito Penal Subjetivo e Códigos Penais no Brasil. Fontes do Direito Penal. 
Interpretação da Lei Penal. Princípios. Eficácia da Lei Penal no Tempo. Eficácia da Lei 
Penal no Espaço. Teoria Geral do Crime: Conceito de Crime, Sujeitos do Crime e Objetos 
do Crime. Fato Típico: Conduta (crimes doloso, culposo, preterdoloso, comissivo e 
omissivo e erro de tipo), Resultado e Nexo Causal. Iter Criminis: Consumação, Tentativa, 
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz. Arrependimento Posterior. Crime 
Impossível. 
Assuntos anteriores foram trabalhados com o Professor Jefferson.
5. Eficácia da Lei Penal no Tempo
5.1. Tempo do Crime
Quando um crime se considera praticado? Esta parece ser uma pergunta 
irrelevante, mas é importantíssimo definirmos esta questão para que não ocorram 
injustiças, notoriamente nos casos de menoridade penal e sucessão de leis penais no 
tempo.
Se um menor de idade efetua um disparo de arma de fogo em alguem 
quando tinha 17 anos e onze meses, mas esta pessoa não morre no momento, o que 
ocorre só depois de dois meses, ou seja, quando o autor do fato já tinha 18 anos. O 
tempo do crime será aquele da conduta (disparos) ou o da consumação (morte)?
Outra situação: Sujeito pratica a conduta na vigência da lei A, sendo que o 
crime, entretanto, somente se consuma quando entra em vigor a lei B. Qual será a lei 
aplicável?
Existem três teorias para tratar deste assunto: atividade, resultado e 
ubiquidade.
− atividade: crime é praticado no momento da conduta (ação ou omissão);
− resultado: crime é praticado no momento do resultado;
− ubiquidade: crime é praticado no momento da conduta ou do resultado, ou seja, tanto 
faz.
Nosso Código Penal, quando se trata do tempo do crime, adotou a teoria 
da atividade, conforme o artigo 4º ("considera-se praticado o crime no momento da ação 
ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”). 
Portanto, nos dois casos citados acima, o crime será considerado 
praticado quando da conduta, sendo que, no primeiro exemplo, o sujeito será considerado 
menor de idade e, no segundo caso, a lei aplicável será a A.
Cuidado, pois a solução do legislador foi diferente nos casos de lugar do 
crime e competência criminal. No primeiro adotou a teoria da ubiquidade e, no segundo, a 
do resultado.
Princípio da coincidência, congruência ou simultaneidade: segundo ele, 
todos os elementos do crime (fato tipico, ilicitude e culpabilidade) devem estar presentes 
no momento em que o crime é praticado, ou seja, no momento da conduta.
A questão da maioridade se refere à culpabilidade. É por isso que, se o 
sujeito era menor de idade no momento em que há o disparo, pouco importa se ele era 
maior de idade à época da morte. Da mesma forma, o sujeito responderá pelo crime, 
mesmo que ele adquira uma doença mental posteriormente.
5.2. Retroatividade e Ultra-Atividade
A regra de todos os ramos do Direito é a do princípio do tempus regit 
actum, segundo o qual, os fatos/atos são regidos pela lei em vigor à época. De tal forma, 
os fatos somente serão regidos pela lei que já esteja em vigor. Isto está previsto 
expressamente no art. 5º, inciso XXXIX, da CF, quando prevê que “não há crime sem lei 
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, bem como no art. 1º do CP: 
“não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. 
Assim, no direito penal, em regra, a lei somente será aplicada quando em 
vigor. Entretanto, a lei penal é dotada de extra-atividade, que é a característica de que, 
excepcionalmente, ela poderá ter retroatividade ou ultratividade.
De tal forma, na retroatividade, uma lei poderá retroagir para atingir fatos 
mesmo anteriores à sua vigência. Por exemplo: o sujeito praticou uma conduta que era 
tipificada como crime, com pena de 4 a 10 anos. Posteriormente, veio uma lei nova que 
passou a prever a pena de 1 a 4 anos. Esta lei nova irá retroagir, pois atingirá fatos de 
uma época em que ela não estava ainda em vigor. Isto é previsto no art. 2º, parágrafo 
único do CP.
E se a lei nova deixar de prever o fato como crime? Teremos o fenômeno 
da abolitio criminis, previsto no art. 2º, caput, do CP.
A retroatividade somente é possível para beneficiar o réu, uma vez que o 
inciso XL, do artigo 5º da CF, prevê que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o 
réu”.
Temos então o princípio da irretroatividade da lei penal maléfica.
Por exemplo: o sujeito praticou uma conduta que era tipificada como 
crime, com pena de 1 a 4 anos. Posteriormente, veio uma lei nova que passou a prever a 
pena de 4 a 10 anos. Esta lei nova não poderá retroagir. De tal forma, teremos a 
ultratividade da lei penal antiga, que estará regendo fatos mesmo após sua revogação.
Conceitos importantes: a lei nova que beneficia o agente é chamada de 
novatio legis in melius, enquanto, a que prejudica, é chamada de novatio legis in pejus.
Resumindo:
 A lei penal segue a regra de todos os ramos do direito, ou seja, o fato será 
regulado pela lei que estiver em vigor. Se o sujeito pratica uma conduta e não há 
lei que o defina como crime, não poderá haver punição;
 Excepcionalmente a lei penal poderá retroagir, mas somente para beneficiar o réu. 
Daí se extrai o princípio da irretroatividade da lei maléfica (teremos a ultra-atividade 
da lei benéfica) e o da retroatividade da lei benéfica;
 
5.3. Abolitio Criminis
Conceito visto acima.
5.4. Leis Temporárias e Excepcionais
Previsão legal: art. 3º do CP
Temporária: é aquela instituída por prazo determinado. Exemplo foi a lei 
Geral da Copa, nº 12.663/14, que trazia crimes que duraram apenas até 31/12/2014.
Excepcional: é editada em função de algum evento transitório, por 
exemplo, guerra, calamidade pública. Ela perdura enquanto persistir o estado de 
emergência.
Características:
a) autorrevogablididade: as próprias leis já trazem sua revogação.
b) ultra-atividade: continua sendo aplicada, mesmo depois de revogada. 
Portanto, desrespeitaria a retroatividade da lei penal mais benéfica. Então, se trata de 
excepcional situação de existência de ultra-atividade maléfica. 
Se essas leis não fossem ultra-ativas, haveria notória impunidade.
Portanto, a revogação das leis temporárias e excepcionais não implica 
abolitio criminis. Cuidado, pode vir uma lei e abolir os crimes. Mas, a simples 
autorevogação não causa isso.
A doutrina amplamente majoritária defende a constitucionalidade das 
normas temporárias e excepcionais. Em sentido contrário, temos a corrente defendida, 
por exemplo, por Zaffaroni.
6) Eficácia da Lei Penal no Espaço
Quando acontece um crime, qual país poderá punir o autor do fato? A 
regra é que seja o país que tenha o território atingido, mas, excepcionalmente, outros 
países também poderão punir o criminoso. Isto é o que estudaremos neste momento.
6.1) Princípios aplicáveis no conflito da lei penal no espaço
Quais os critérios para que um País defina se tem ou não interesse em 
punir crimes que tenham ocorrido fora ou dentro de seu território nacional? Os princípios 
abaixo explicam tal situação:
 Princípio da Territorialidade: Aplica-se a lei penal do local do crime (não importa 
a nacionalidade dos sujeitos ou do bem jurídico). É a regra e está no artigo 5º no 
Código Penal.
 Princípio da NacionalidadeAtiva: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do 
sujeito ativo (não importando a nacionalidade da vítima ou local do crime).
 Princípio da Nacionalidade Passiva: duas correntes
a) aplica-se a nacionalidade da vítima (prevalece)
b) Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente quando atingir os interesses de 
um cocidadão (não importando o local do crime). Ex: quando eu mato um brasileiro 
em outro país.
 Princípio da Defesa (ou Real): Aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem 
jurídico lesado (não importando a nacionalidade do agente ou o local do crime).
 Princípio da Justiça Penal Universal: O agente fica sujeito à lei do país onde for 
encontrado, não importando a sua nacionalidade, do bem jurídico lesado, ou do 
local da sua prática. Este princípio está normalmente presente nos tratados 
internacionais de cooperação e repressão a delitos de alcance transnacional.
 Princípio da Representação: A lei penal nacional aplica-se aos crimes praticados 
em aeronaves ou embarcações privadas, quando no estrangeiro, e aí não sejam 
julgados.
6.2) Conceito de território nacional
Qual dos princípios citados acima o Brasil adotou? Em regra o da 
territorialidade (art. 5º do CP), mas nosso código penal fez a previsão de várias exceções, 
as quais ocorrem porque há situações em que o Brasil tem interesse em punir o autor do 
delito, mesmo que praticado fora do território nacional.
Vejam que estamos falando muito em território nacional. Mas qual é o 
conceito de território nacional? Rogério Sanchez define o seguinte:
Entende-se por território nacional a soma do espaço físico (ou geográfico) com o 
espaço jurídico (espaço físico por ficção, por equiparação, por extensão ou 
território flutuante) .
Por território físico entende-se o espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à 
soberania do Estado (solo, rios, lagos, mares interiores, baías , faixa do mar exterior 
ao longo da costa - 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de 
baixa-mar do litoral continente e insular - e espaço aéreo correspondente) .
Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as 
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo 
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as embarcações e as aeronaves 
brasileiras (matriculadas no Brasil) , mercantes ou de propriedade privada, que se 
achem, respectivamente, em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente (art. 5°, 
§ 1 °, CP) .
6.3) Lugar do Crime
Há crimes que podem ter início de sua execução em um país e ter a 
consumação apenas em outro. Nestes casos, qual será o lugar do crime, o da conduta, do 
resultado (consumação) ou tanto faz? Esta pergunta é respondida pelo artigo art. 6º do 
CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo 
ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”
Portanto, tanto faz, considera-se praticado o crime tanto no lugar da 
conduta, quanto no lugar da consumação. Adotou-se, portanto, a teoria da ubiquidade.
6.4) Extraterritorialidade
Vimos que o Brasil adotou o princípio da territorialidade, segundo o qual 
nosso País punirá os crimes praticados em seu território nacional.
Entretanto, alguns crimes praticados dentro território brasileiro poderão 
ser punidos pela lei estrangeira (por exemplo, a imunidade diplomática). Isso é chamado 
de intraterritorialidade, na qual o fato ocorre no Brasil, mas o sujeito será punido pela lei 
de seu país e por um juiz de seu país.
Por sua vez, quando um fato ocorrido fora do Brasil é julgado conforme a 
lei penal brasileira, por um juiz brasileiro, teremos a extraterritorialidade.
Temos três tipos de extraterritorialidade: incondicionada (art. 7º, I), 
condicionada (art. 7º, II) e hipercondicionada (art. 7º, § 3º).
a) incondicionada: são casos em que a lei penal brasileira será aplicada 
sempre, independente de qualquer condição (art. 7º, § 1º);
b) condicionada: são casos em que a lei penal brasileira somente será 
aplicada se forem atendidas as condições previstas no art. 7º, § 2º;
c) hipercondicionada: além das condições do § 2º, há a necessidade de 
atendimento das condições do § 3º do artigo 7º.
Vamos a alguns exemplos:
a) Presidente Michel Temer foi à França e foi assassinado: o criminoso, 
mesmo que estrangeiro, será julgado no Brasil, por leis Brasileiras. Ele também poderá 
ser julgado na França, havendo desconto da pena.
b) Brasileiro mata um uruguaio na Argentina: o criminoso somente será 
julgado no Brasil, por leis brasileiras, se atendidas as condições do artigo 7º, § 2º.
6.5) Pena cumprida no estrangeiro
Aplicação do artigo 8º do CP: “a pena cumprida no estrangeiro atenua a 
pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, 
quando idênticas”.
Podem acontecer casos em que o sujeito será condenado no exterior e no 
Brasil, por isso existe o artigo 8º do CP.
6.6) Contagem de prazo
Aplicação do artigo 10 do CP. Na contagem de prazos penais, inclui-se o 
dia do começo, sendo contínua, incluindo domingos e feriados, e não se prorroga (se o 
último dia cair em um domingo, se encerra no domingo).

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