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DIREITO PENAL LEI PENAL NO TEMPO Nossa introdução parte do nascimento da norma jurídica (quando ocorre sua entrada em vigor no ordenamento), a sua vida (é o período pela qual ela permanece em vigência no ordenamento) e o seu óbito (momento em que é revogada e deixa de produzir efeitos no mundo jurídico). Sendo assim, a partir do momento em que uma norma em vigor no ordenamento jurídico, o Estado (detentor do direito de punir – jus puniendi) poderá exigir de todas as pessoas que se abstenham de praticar a conduta definida como criminosa. A título de exemplo, quando entrou em vigor a Lei n.º 12.850/13, o Estado passou a ter o direito de exigir de todos, que não pratiquem os comportamentos definidos como crimes de organizações criminosas (art. 2º da Lei 12.850/13). Antes disso, não poderia exigir tal conduta das pessoas, visto que tal fato não era definido como infração penal. Os dispositivos legais que você precisa ter em mente para mapearmos o nosso estudo sobre lei penal no tempo, são os artigos 2º a 4º do Código Penal e, também o art. 5º, XL da Constituição Federal: Art. 5º [...]: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Lei penal no tempo Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado – retroatividade penal benéfica. Lei excepcional ou temporária Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Tempo do crime Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Dessa forma, a lei penal poderá ser irretroativa (regra), retroativa (exceção) e também ultra ativa. Para ficar mais fácil a visualização, preparei o esquema abaixo: Ano: 2017 Banca: FEPESE Órgão: PC-SC Prova: FEPESE - 2017 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil É correto afirmar acerca dos princípios constitucionais do direito penal. A) A fixação dos crimes e das respectivas penas não depende de lei formal. B) Para beneficiar o réu, a lei penal poderá ser aplicada retroativamente. C) A lei não poderá deixar de incriminar uma conduta já tipificada por legislação anterior. D) As penas cruéis poderão ser aplicadas caso o delito cause grande comoção social. E) Na impossibilidade de cumprimento da pena pelo réu, os seus familiares poderão ter a liberdade restringida. Gabarito – B – A lei penal, conforme o art. 2º, p.ú, do CP, poderá retroagir para beneficiar o réu. Irretroatividade O instituto da irretroatividade da lei penal é a regra no ordenamento jurídico, ou seja, meus caros, a regra é de que as leis penais não retroajam para alcançar fatos passados. Quanto à irretroatividade, você também precisa saber que ela é gênero (lex gravior – outra terminologia que você pode encontrar em sua prova) da qual são espécies a novatio legis incriminadora e a novatio legis em pejus Para falar para você acerca da novatio legis incriminadora, quero que você recorde, mais uma vez, do exemplo dado no início do nosso curso no tocante ao crime de importunação sexual. A Lei n.º 13.718/18, que criou o crime de importunação sexual (art. 215-A, do CP) é um típico exemplo de nova lei incriminadora, pois, antes de ela entrar em vigor, não havia no ordenamento jurídico a previsão de um crime específico para o agente que ejaculasse em uma moça nas condições em que o crime se desenvolvia (no interior do transporte público paulistano). Assim, por ser uma nova lei incriminadora, ela é irretroativa, não podendo punir os agentes que tenham praticado a referida conduta antes da sua entrada em vigor no mundo jurídico. De outra banda, ainda temos a novatio legis in pejus, que é a lei penal que mantém a criminalização da conduta delituosa, mas da a esse fato um tratamento mais rigoroso. Voltemos ao exemplo em que Austin pratica o crime de furto (art. 155, caput, do Código Penal), que prevê uma pena de 1 a 4 anos e multa. Suponhamos que Austin depois de ter praticado esse furto e ter sido condenado a uma pena de 3 anos, sobrevenha ao ordenamento jurídico uma nova lei que torne mais severa a punição daquelas pessoas que praticam o crime de furto, prevendo uma pena de 10 a 20 anos. Desse modo, Austin não poderá ser alcançado por essa nova lei, pois ela é prejudicial para si e só passará a incidir a partir dos furtos praticados a partir da sua entrada em vigor no ordenamento Dessa forma, meu caro, em ambos os casos as leis são irretroativas!!! Entretanto, preciso que nesse momento você redobre a sua atenção, pois o que vou lhe ensinar agora é importantíssimo para dar seguimento ao seu aprendizado sobre lei penal no tempo. Em que pese a nova lei penal mais gravosa e a nova lei penal incriminadora serem irretroativas, temos um instituto dentro do direito penal que se chama “superveniência de nova lei gravosa” que acontece durante a permanência ou continuidade delitiva. Para que possamos entender o que se trata a “superveniência de nova lei gravosa” precisamos entender o que é um crime permanente. Dentro do direito penal temos inúmeras formas de classificar os crimes de acordo com o seu momento consumativo, ou seja, quando o crime produziu todos os seus efeitos no mundo jurídico e dá ao Estado o direito de punir o agente que praticou tal conduta. Dentre essas classificações uma delas é o crime permanente, que é aquele em que a consumação do crime se prolonga no tempo. Vamos a um exemplo: suponha que Austin sequestrou uma pessoa exigindo que lhe seja entregue uma grande quantia em dinheiro para a libertação dessa vítima. Nesse contexto estamos diante do crime de extorsão mediante sequestro, do art. 159 do Código Penal. Extorsão mediante sequestro Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos Da análise do crime em tela, a conduta do agente é a de sequestrar, ou seja, no momento em que Austin sequestra sua vítima, o crime está automaticamente consumado, independente do criminoso vir a receber ou não a vantagem solicitada para a libertação da vítima. Quero que você também perceba que a pena desse crime é de 8 a 15 anos. Agora, tenhamos a seguinte situação em mente. Se Austin mantém a vítima em seu poder por uma semana e, durante esse período de tempo, entra em vigor uma lei penal que altera o preceito secundário do crime (de 8 a 15 anos) para 20 a 30 anos, não temos dúvidas de que se trata de uma novatio legis in pejus, correto? Correto! Então, em que pese tratar-se de uma lei penal gravosa, ELA VAI SE APLICAR AO CRIME QUE ACABEI DE MOSTRAR A VOCÊS, pelo simples fato de enquanto o sequestrado estiver em poder do sequestrador, a consumação do crime está se prolongando no tempo, pelo seu caráter permanente. Diferentemente do crime permanente é o crime continuado, previsto no artigo 71 do CP. Diferentemente do crime permanente é o crime continuado, previsto no artigo 71 do CP. Crime continuado Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a maisgrave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código Podemos concluir que a continuidade delitiva (crime continuado) ocorre quando o sujeito, mediante pluralidade de condutas, realiza uma série de crime da mesma espécie, guardando entre si um elo de continuidade (em especial, as mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução). O Brasil adotou a teoria da ficção jurídica para o crime continuado. O Brasil adotou a teoria da ficção jurídica para o crime continuado. Para tanto, alguns requisitos são necessários para a ocorrência do crime continuado, quais sejam: Requisitos Objetivos: 1º) Os crimes praticados devem ser de mesma espécie (aquelas previstos no mesmo tipo penal); 2º) Condições semelhantes: tempo (aproximadamente 30 dias), lugar (no mesmo foro ou foros próximos) e modo de execução (verificar o “modus operandi”). Requisito subjetivo: Unidade de desígnios: uma programação inicial de realização sucessiva. Espécies: a) comum/simples – Art. 71, caput, basta o preenchimento dos requisitos acima, e uma vez verificados, o aumento de pena é de 1/6 a 2/3. b) Específico/qualificado (p.ú. do art.71): São requisitos adicionais aos do caput, com caráter cumulativo, sendo todos os crimes doloso, praticados contra vítimas diferentes, cometido com violência ou grave ameaça contra a pessoa. A pena nesse caso pode ser aumentada até o triplo Isso também é o que preconiza a súmula 711 do STF. Súmula 711 do STF – A lei gravosa se aplica ao crime permanente ou continuado quando entrar em vigor durante a permanência ou continuidade delitiva. Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-PE Prova: CESPE - 2016 - PC-PE - Escrivão de Polícia Civil Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei penal entrou em vigor, prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente no caso em apreço. Nessa situação hipotética, A) a lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a novatio legis in pejus. B) a lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua vigência e a legislação, em relação ao tempo do crime, aplica a teoria da atividade. C) a lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em vigor da nova legislação, antes da cessação da permanência do crime. D) a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do princípio da ultratividade da lei penal. E) a aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude da incidência do princípio da irretroatividade da lei penal. Gabarito – C – Pois, conforme acabamos de estudar, a lei penal mais gravosa se aplica ao crime continuado ou permanente enquanto não cessada a atividade delituosa e a entrada em vigor da lei mais gravosa. Essa também é a redação da súmula 711 do Supremo Tribunal Federal Ano: 2015 Banca: CESPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária Em relação à aplicação da lei penal e aos institutos do arrependimento eficaz e do erro de execução, julgue o item seguinte. Se um indivíduo praticar uma série de crimes da mesma espécie, em continuidade delitiva e sob a vigência de duas leis distintas, aplicar-se-á, em processo contra ele, a lei vigente ao tempo em que cessaram os delitos, ainda que seja mais gravosa. Gabarito – Certo – Conforme se verifica do enunciado da questão, ela retrata o teor do entendimento sumulado pelo STF no verbete 711, o qual diz ser possível a aplicação da lei penal mais gravosa que entra em vigor durante a permanência ou continuidade delitiva. Acerca dos princípios gerais que norteiam o direito penal, das teorias do crime e dos institutos da Parte Geral do Código Penal brasileiro, julgue os itens a seguir. Considere que Manoel, penalmente imputável, tenha sequestrado uma criança com o intuito de receber certa quantia como resgate. Um mês depois, estando a vítima ainda em cativeiro, nova lei entrou em vigor, prevendo pena mais severa para o delito. Nessa situação, a lei mais gravosa não incidirá sobre a conduta de Manoel. ERRADO – A lei mais gravosa incidirá sobre Manoel, pois entrou em vigor durante a permanência (prolongamento da consumação do crime) enquanto a vítima se encontrava sob seus domínios Sendo assim, meu querido(a) estudante, através das análise das questões que acabamos de resolver, é de suma importância você estar atento a súmula 711 do Supremo e sua incidência em provas de concurso. Você acha que é possível haver a combinação de leis penais? Em outras palavras, você acha possível que o juiz, no caso concreto, possa mesclar dispositivos benéficos da nova lei com benefícios da lei revogada? A resposta por um “sim” pode até parecer tentadora diante de tantas nuances presentes em vários dos institutos que já estudamos, entretanto, nesse caso é vedado ao juiz a combinação de leis penais, pois, nesse contexto, ele estaria criando uma terceira lei (chamada de lex terxio), e o STJ, por meio da súmula 501 tratou de pôr um ponto final na controvérsia. "É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis." Lei penal excepcional ou temporária. as leis penais excepcionais ou temporárias são criadas para disciplinar condutas praticadas durante alguma situação excepcional ou temporária e sua previsão legal encontra-se no art. 3º do Código Penal. as leis penais (excepcionais e temporárias) são aplicáveis aos fatos cometidos durante a situação excepcional ou o período de tempo, mesmo após o seu termino. Então, meu brilhante aluno, isso significa que essas leis penais possuem ultratividade. Art. 30. Reproduzir, imitar, falsificar ou modificar indevidamente quaisquer Símbolos Oficiais de titularidade da FIFA: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa. Para melhor visualizarmos, suponha que Austin tenha reproduzido indevidamente quaisquer um dos símbolos oficias de titularidade da FIFA durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, conforme prevê o art. 30 da Lei Geral da Copa. Dessa forma, suponha que a investigação que apurou ser Austin o autor do crime de utilização indevida e símbolos oficiais tenha se encerrado no ano de 2016, ou seja, dois anos após o término da data prevista para perdurarem os efeitos da lei (31/12/2014). Mesmo que Austin venha a ser processado somente em 2016 por ter violado o art. 30 da Lei Geral da Copa, que perdeu sua vigência em 31/12/2014, o criminoso será punido com base nessa lei pois, se tratando de lei penal excepcional ou temporária, possui ultratividade alcançado os fatos praticados durante a sua vigência. Fique atento, meu amigo(a), agora vamos ver como esse assunto vem sendo abordado nos concursos. Tempo do crime. Para que ocorra a correta aplicação da lei penal, é imprescindível definir o tempo do crime, ou seja, quando um crime se considera praticado. O nosso Código Penal, no seu art. 4º, adotou a teoria da atividade. Art. 4º - considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. “Em 1994, o homicídio qualificado tornou-se crime hediondo; a inclusão deste fato na lista contida na Lei n. 8.072/90 ocorreu no dia 7 de setembro do ano citado. Suponha que o agente, visando à morte de seu inimigo, tenha desferido contra ele diversos disparos de arma de fogo, por motivo fútil, no dia 5 de setembro de 1994. Imagine, ainda, que o atirador se evada do local e a vítima seja socorrida por terceiros, ficando hospitalizada por uma semana, até que vem a óbito, por não resistir à gravidade dos ferimentos. Neste exemplo, a conduta foi praticada antes da entrada em vigor da lex gravior, embora o resultado se tenha produzido depois desta” (ESTEFAM, André. pg. 166 o homicídio qualificado cometido pelo agente não será considerado hediondo, tendoem vista que o tempo do crime é o da conduta (disparos de arma de fogo), e não da consumação (morte da vítima). Outra importante função desempenhada pela teoria da atividade, insculpida no art. 4º do Código Penal é a delimitação da responsabilidade penal do agente criminoso. Sendo assim, através da teoria da atividade, torna-se possível fixar o exato momento em que o agente passará a responder criminalmente por seus atos – isso se dará somente se a ação ou omissão houver sido praticada quando ele já tiver completado 18 anos de idade (o que ocorre no primeiro minuto de seu 18º aniversário). Peguemos o exemplo acima e mudemos a idade do agente criminoso, teremos a seguinte situação hipotética, por exemplo: Se ao tempo do disparo de arma de fogo o agente era menor de 18 anos, terá praticado ato infracional e será punido de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei n.º 8.069/90), ainda que a vítima somente venha a óbito quando o agente complete 18 anos. Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Polícia O Direito Penal brasileiro considera como momento do cometimento do crime A) desde o seu planejamento. B) quando atingido o resultado pretendido. C) o momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. D) quando chega ao conhecimento das autoridades competentes. E) o momento do cometimento do crime é irrelevante para o Direito Penal. Gabarito – C – Ao analisar o enunciado da questão, ela nos traz a indagação acerca do marco que o Direito Penal brasileiro resolveu adotar como momento para o cometimento do crime e, a partir dessa informação, conseguimos verificar na alternativa “c” que ela transcreveu a literalidade do art.4º do Código Penal, que considera como momento do cometimento do crime, a ação ou omissão, ainda que outo seja o momento do resultado. “João da Silva atira contra ‘X’ no dia 29/5, tendo ‘X’ falecido 20 dias depois.” Sobre o tempo do crime, o Código Penal adota a teoria: A) Ubiquidade. B) Da atividade. C) Do resultado. D) Ambivalência. Gabarito – C – Em que pese X ter falecido 20 dias depois da data dos disparos, o art. 4º do Código Penal, que adotou a teoria da atividade, é claro ao afirmar que considera-se tempo do crime o momento da conduta (ação ou omissão) ainda que outro seja o momento do resultado Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Analista Judiciário - Área Judiciária No dia 02.01.2018, Jéssica, nascida em 03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra Ana, sua inimiga, em Santa Luzia do Norte, mas terceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a levam para o hospital em Maceió. Após três dias internada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude exclusivamente das lesões causadas pelos disparos de Jéssica. Com base na situação narrada, é correto afirmar que Jéssica: A) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o Código Penal adota a Teoria da Atividade para definir o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para definir o lugar Gabarito – A – Ao analisarmos o enunciado da questão, à luz do tempo do crime (art. 4º do CP), é possível notarmos que Jéssica possuía 17 anos de idade na data dos disparos, razão pela qual, não poderá ser responder pelo seu crime com base no Código Penal e sim com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei nº 8.069/90), por ato infracional análogo ao crime de homicídio. Quanto a teoria da ubiquidade, ela será objeto de estudo quando iniciarmos o estudo da lei penal no espaço. Lugar do crime. “Imaginemos, por exemplo, uma bomba fabricada no Brasil e enviada para explodir e matar vítima que se encontra em país vizinho. Esse crime foi praticado no Brasil (devendo sofrer os consectários da lei nacional) ou no país vizinho (aplicando-se a lei estrangeira)? art. 6º do Código Penal, que nos apresenta a seguinte redação. Lei comigo: “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria se produzir o resultado”. Assim, quanto ao lugar do crime, o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade. Logo, sempre que por força do critério da ubiquidade o fato se deva considerar praticado tanto no território brasileiro como no estrangeiro, será aplicável a lei brasileira. CRIMES À DISTÂNCIA -O crime percorre territórios de dois Estados soberanos (Brasil e Paraguai, por exemplo) -Gera conflito internacional de jurisdição (qual país aplicará sua lei?) - Aplica-se o art.6º do Código Penal. Vou lhes dar mais um exemplo para que fique bem claro: imagine a hipótese de um roubo que tenha iniciado sua execução no município de Ponta Porã e que sua consumação ocorra no Paraguai. Nesse caso, vai ser aplicada a lei penal brasileira. Como dizia o PAI do Direito Penal, Nelson Hungria, basta que o crime tenha “tocado” o território nacional para que nossa lei seja aplicável. LEI PENAL NO ESPAÇO Territorialidade Pois bem, quando estamos tratando de lei penal no espaço, precisamos definir a territorialidade, ou seja, quais são os limites territoriais para a aplicação do direito penal brasileiro. De acordo com o artigo 5º, caput, do CP, “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. A partir da regra elencada no art. 5º do Código Penal, podemos verificar que nosso CP acolheu o princípio da territorialidade da lei penal, ou seja, a lei penal brasileira será aplicada a todos os fatos ocorridos dentro do nosso território. “Arpini, o que pode ser considerado território nacional? Somente o espaço físico brasileiro? “ Por território nacional, entende-se a soma do espaço físico (geográfico) com o espaço jurídico (espaço físico por ficção ou por extensão). Espaço físico (geográfico) Espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à soberania do Estado (solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa – 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continente e insular – e espaço aéreo correspondente. Espaço físico por extensão ou ficção Para os efeitos penais, consideram-se como espaço físico por ficção as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as embarcações e aeronaves brasileiras (matriculadas no Brasil), mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente em alto mar ou no espaço aéreo correspondente (art. 5º, §1º, CP). É também aplicável a lei brasileira aos crimes cometidos a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou voo no espaço aéreo corresponde, e estas em porto ou mar territorial do brasil (art. 5º, §2º, CP). Do que acabei de mostrar a você anteriormente, podemos extrair as seguintes conclusões: A) Quando navios ou aeronaves forem públicos ou estiverem a serviço do governo brasileiro, quer se encontrem em território nacional ou estrangeiro, são considerados parte do nosso território. B) Se os navios ou aeronaves forem privados, quando em alto-mar ou espaço aéreo correspondente, seguem a lei da bandeira que trazem consigo. C) Quanto aos navios e aeronaves estrangeiros, em território brasileiro, desde que privados são considerados parte de nosso território. através da redação do art. 5º, podemos perceber que há exceções, não sendo absoluta a regra da territorialidade, comportando a aplicação de disposições previstas em convenções, tratados e regras de direito internacional (territorialidade temperada/mitigada). Essa ressalva se refere aos casos de imunidades diplomáticas (que possuem caráter absoluto – tendo validade para todos os crimes) ou consular (tem caráter relativo – o detentor de imunidade consular só fica isento dos crimes ligados à função). Isso é decorrência do princípio da soberania das nações. Imagine a seguinte situação: suponha que o embaixador italiano no Brasil, por contade uma discussão ocasionada com um brasileiro, acaba matando-o mediante três disparos de arma de fogo A partir dessa situação, não temos dúvida de que se trata de um crime de homicídio, praticado dentro do território brasileiro, contra uma vítima brasileira, sendo assim, devemos aplicar para o caso concreto a lei brasileira, correto? Errado, meu amigo(a)!!! Nesse caso, por conta do princípio da soberania das nações, e das exceções previstas no art. 5º do Código Penal, o embaixador italiano, mesmo que tenha praticado um homicídio contra um brasileiro, dentro do território brasileiro, por conta de sua função diplomática, responderá pelo homicídio com base na lei italiana. Por conta disso, permite-se a aplicação da lei penal estrangeira a fato praticado em território brasileiro, fenômeno conhecimento como intraterritorialidade, presente, justamente na imunidade diplomática. A intraterritorialidade não se confunde com a extraterritorialidade, que será objeto de estudo logo adiante, quando analisarmos o art. 7º do Código Penal. Princípio da Territorialidade Princípio da Extraterritorialida de Princípio da Intraterritorialidad e Local do Crime Brasil País estrangeiro Brasil Lei a ser aplicada Brasileira Brasileira Estrangeira* * Na intraterritorialidade, o fato criminoso, apesar de cometido no Brasil, será punido de acordo com a lei estrangeira aplicada pelo juiz criminal do seu país. Princípios aplicáveis a territorialidade. Princípio da territorialidade- Aplica-se a lei penal do local do crime, não importando a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico. Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa- Aplica-se a lei do país a que pertence o agente criminoso, pouco importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico violado Princípio da nacionalidade ou personalidade passiva Aplica-se a lei penal da nacionalidade da vítima Princípio da defesa Aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado (ou colocado em perigo), não importando o local da infração penal ou a nacionalidade do sujeito ativo Princípio da Justiça Penal Universal ou da Justiça cosmopolita O agente fica sujeito à lei do País onde for encontrado, não importando sua nacionalidade, do bem jurídico lesado ou do local do crime. Esse princípio está normalmente presente nos tratados internacionais Princípio da representação, do pavilhão, da substituição ou da bandeira. A lei penal nacional aplica-se aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados. —Sobre a aplicação da lei penal, de acordo com o Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) Não há crime sem lei posterior que o defina. ( ) Considera-se praticado o crime no momento da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. ( ) Considera-se como extensão do território nacional, para efeitos penais, a aeronave de propriedade privada, que se ache no espaço aéreo correspondente. ( ) Não fica sujeito à lei brasileira, embora cometido no estrangeiro, o crime contra a liberdade do Presidente da República.B) F, V, V, F —Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada A) que se achem em alto-mar. —O marinheiro Jonas matou seu colega de farda a bordo do navio-escola NE Brasil, da Marinha Brasileira, quando o navio estava em águas sob soberania do Japão. Assim: a lei penal brasileira será aplicada ao caso, em razão do princípio da territorialidade Extraterritorialidade Anteriormente expliquei a vocês que o critério geral adotado pelo ordenamento jurídico penal é o de que a lei penal brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional (art. 5º, CP), vale dentro do território nacional (geográfico e por extensão). No entanto, meu caro, em casos excepcionais, a nossa lei poderá ultrapassar os limites do território, alcançando crimes cometidos exclusivamente em território estrangeiro. Esse é o fenômeno conhecido por extraterritorialidade. A extraterritorialidade está prevista no art. 7º do Código Penal, em seus incisos I e II e, também no §3º, nos anunciam quais são os crimes que fixam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro. Extraterritorialidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. A partir da leitura do art. 7º do Código Penal o tema da extraterritorialidade se dividem em extraterritorialidade incondicionada e extraterritorialidade condicionada. A extraterritorialidade incondicionada está prevista no art. 7º, §1º do Código Penal, alcançando os crimes descritos no art. 7º, inciso I. Nessas hipóteses, a lei brasileira, para ser aplicada não depende do preenchimento de qualquer requisito. Ocorrendo um crime que se amolde a essas hipóteses, aplica-se a lei brasileira não importando se o autor do fato foi absolvido ou condenado no estrangeiro. a extraterritorialidade condicionada alcança as hipóteses trazidas pelo inciso II do art. 7º do Código Penal. Nesses casos, para que a nossa lei possa ser aplicada, faz-se necessário o concurso das seguintes condições (art. 7º, §2º, CP): Outra possibilidade de extraterritorialidade é a prevista na Lei de Tortura (9.455/97). I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II -submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:I -se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III -se o crime é cometido mediante sequestro. § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. Desse modo, a extraterritorialidade prevista na lei de tortura é a representação do princípio da personalidade ou nacionalidade passiva. Existe, ainda, um último caso de extraterritorialidade, que é a chamada extraterritorialidade hipercondicionada, prevista no art. 7º, §3º, do CP. Porém, para que essa modalidade seja objeto de aplicação é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos: Não ser pedida ou, se pleiteada, negada a extradição; Requisição do Ministro da Justiça. Então, nesse caso, acolheu-se o princípio da defesa ou da personalidade passiva. A extradição consiste na entrega de uma pessoa autora de infração penal, por parte do Estado em cujo território se encontre, a outro que solicita a referida entrega. Assim, para que a extradição ocorra, é necessário que entre os países haja um tratado bilateral ou multilateral tratando do assunto. Porém, caso não exista, o Estado requerente deverá prometer reciprocidade de tratamento ao Brasil. Pena cumprida no estrangeiro. Pena cumprida no estrangeiro Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas A partir da leitura do artigo mencionado, podemos concluir que dois fatores devem ser considerados ao mencionarmos a hipótese de pena cumprida no estrangeiro, quais sejam: a qualidade e quantidade da pena imposta. Exemplificando: tratando-se da mesma qualidade (duas penas privativas de liberdade) da punição aplicada no Brasil, será computada a pena cumprida no exterior. Por outro lado, se de qualidade diversa (pena privativa de liberdade e pecuniária), aqui no Brasil será atenuada a pena imposta. Imagine que Austin é condenado a pena de 10 anos na Itália por ter atentado contra a vida do nosso Presidente da República. No Brasil, é também processado e condenado, mas a pena imposta foi de 22 anos. Neste caso, serão abatidos os 10 anos cumpridos na Itália, cumprindo Austin, no Brasil, somente os 12 anos. Agradeço sua presença até esse momento e espero que eu esteja atendendo todas as suas expectativas. Dessa forma, seguimos por aqui e passamos para o estudo do conflito aparente de normas.
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