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Saúde ou doença mental

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Saúde ou doença mental: A questão da normalidade
Kátia Barbosa
Existem situações de crise, de sofrimento em que não é possível falar de doença
É necessário ter muito cuidado para não patologizar o sofrimento
Essas situações difíceis podem ser vividas por todos , em algum momento da vida e nessas circunstâncias é preciso o apoio da família, do trabalho, dos amigos
Além do apoio do grupo o indivíduo pode necessitar de ajuda psicoterápica
O critério de avaliação é o próprio sujeito e seu mal estar psicológico, levando em conta sua adaptação ou desadaptação social
A doença mental pode ser considerada como produto da interação das condições de vida social com a trajetória específica do indivíduo e sua estrutura psíquica
As condições externas (condições de trabalho estressantes, perda de um ente querido) devem ser entendidas como desencadeadoras da doença mental 
História da loucura
Michel Foucault em suas pesquisas (A história da Loucura): valiosa contribuição para compreendermos a constituição histórica do conceito de doença mental
No Renascimento (séc. XVI): o louco vivia solto, errante, expulso das cidades, entregue aos peregrinos e navegantes → Nau dos loucos
Nau dos Loucos: barcos que levavam “sua carga insana de uma cidade para outra”
No Renascimento, a loucura significava ignorância, desregramento de conduta, desvio moral, pois o louco toma o erro como verdade, a mentira como realidade
A loucura é vista, então, como oposição à razão, esta entendida como instância de verdade e moralidade
A Idade Média e no Renascimento, raramente os loucos eram internados nos hospitais e, quando isso acontecia recebiam o mesmo tratamento dispensado aos outros doentes (sangrias, banhos)
Nos séculos XVII e XVIII, os critérios para definir a loucura ainda não eram médicos, ficando a cargo da igreja, da justiça e da família. Os critérios utilizados referiam-se à transgressão da lei e da moralidade
No final do século XVII, foi criado, em paris, o Hospital Geral e neste hospital iniciou-se “a grande internação”.
A população internada era heterogênea, podendo ser agrupada em 4 categorias: os devassos (doentes venéreos); os feiticeiros (os profanadores); os libertinos e os loucos
O hospital geral não era uma instituição médica, mas assistencial. Não havia tratamento
Os loucos não eram vistos como doentes e, sendo assim, integravam um conjunto composto por todos os segregados da sociedade
O critério de exclusão baseava-se na inadequação do louco à vida social
Neste período buscava-se construir um conhecimento médico sobre a loucura , mas a medicina da época que tinha como modelo a história natural e o seu método classificatório não conseguia abarcar a complexidade de manifestações da loucura
Na segunda metade do século XVIII, iniciaram-se reflexões médicas e filosóficas, que situavam a loucura como algo que ocorria no interior do próprio homem, como perda da natureza própria do homem, como alienação
Segundo Foucault, nesse período (final do século XVIII e início do XIX) já estaríamos na modernidade e foi criada a primeira instituição destinada exclusivamente à reclusão dos loucos: o asilo
-O asilo foi criado porque considerava-se injusto com os demais presos a convivência com os loucos
Os métodos terapêuticos usados no asilo eram: a religião, o medo, a culpa, o trabalho, a vigilância, o julgamento
O médico passou a assumir o papel de autoridade máxima
A ação da psiquiatria era moral e social: função voltada para normatização do louco, agora concebido como capaz de se recuperar
 
Iniciou-se a medicalização. A cura da doença mental ocorreria a partir de uma liberdade vigiada e no isolamento
Estava preparado o caminho para a psiquiatria
A psiquiatria clássica
A psiquiatria clássica considera os sintomas como sinal de um distúrbio orgânico: doença mental é igual a doença cerebral
A origem é endógena, dentro do organismo, e refere-se a alguma lesão de natureza anatômica ou distúrbio fisiológico cerebral
- O sintoma apoia-se e tem sua origem no orgânico. Em cada área cerebral são localizadas as funções sensoriais, motoras, afetivas, de intelecção
Nessa abordagem da doença, os quadros patológicos são descritos no sentido de quais distúrbios podem apresentar. 
A doença mental sendo considerada simplesmente uma doença orgânica, será tratada com medicamentos e produtos químicos
A contribuição da psicanálise
Para a psicanálise, o que diferencia o normal do anormal é uma questão de grau e não de natureza, isto é, nos indivíduos “normais” e nos “anormais” existem as mesmas estruturas de personalidade e de conteúdos, que, se mais, ou menos ativadas, são responsáveis pelos distúrbios no indivíduo
Essas são as estruturas neuróticas e psicóticas
Freud tomou a terminologia da psiquiatria clássica do século XIX :
Neurose: “os sintomas (distúrbios do comportamento, das ideias ou dos sentimentos) são a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do indivíduo”
1- Neurose obsessiva: o conflito psíquico leva a comportamentos compulsivos e ideias obsessivas
2- Neurose fóbica ou histeria de angústia: a angústia é fixada, de modo mais ou menos estável, num objeto exterior, isto é, o sintoma central é a fobia, o medo
3- Neurose histérica ou histeria de conversão: o conflito psíquico simboliza-se nos sintomas corporais de modo ocasional, isto é, como crises
- Todas as formas de manifestação da neurose têm sua origem na vida infantil, mesmo quando se manifestam mais tarde, desencadeadas por vivências, situações conflitivas
 Psicose: termo usado até o final do século XIX para se referir, de modo geral, à doença mental. 
Para a psicanálise, refere-se a uma perturbação intensa do indivíduo na relação com a realidade
1- Paranóia: caracteriza-se por um delírio mais ou menos sistematizado, articulado, sobre um ou vários temas. Não existe deterioração da capacidade intelectual
2- Esquizofrenia: caracteriza-se por afastamento da realidade, incoerência ou desagregação do pensamento, das ações e da afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados.
É um quadro progressivo, que leva a uma deterioração intelectual e afetiva
3- Psicose maníaco-depressiva ou mania e melancolia: caracteriza-se pela oscilação entre o estado de extrema euforia e estados depressivos
 A abordagem psicológica da doença mental
Os sintomas e, portanto a saúde mental é uma desorganização da personalidade (de sua estrutura ou a um desvio progressivo em seu desenvolvimento)
As doenças mentais definem-se a partir do grau de perturbação da personalidade, isto é, do grau de desvio do que é considerado como comportamento padrão ou como personalidade normal
As psicoses são consideradas como distúrbios da personalidade total, envolvendo o aspecto afetivo, de pensamento, de percepção de si e do mundo
As neuroses referem-se a distúrbios de aspectos da personalidade (permanecem íntegras a capacidade de pensamento, de estabelecer relações afetivas, mas sua relação com o mundo encontra-se alterada)
 Normal e patológico
Existem vários critérios que são adotados de acordo com as opções filosóficas, ideológicas e a formação do profissional
1- Normalidade como ausência de sintomas e sinais patológicos
2- Normalidade relacionada ao contexto social onde o indivíduo se encontra e cujo conceito muda em função do tempo e do lugar
Determinadas áreas de conhecimento científico estabelecem padrões de comportamento ou de funcionamento do organismo sadio ou da personalidade adaptada
Esses padrões ou normas referem-se a médias estatísticas do que se deve esperar do organismo ou da personalidade, enquanto funcionamento
 3- Normalidade como sendo aquilo que se observa com mais frequência
4- Normalidade como completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente como ausência de doença (OMS)
5- Normalidade do ponto de vista psicodinâmico: capacidade de aceitar seus impulsos, adaptá-los à realidade sem ser criticado demasiadamente pelo superego, de forma tal que sua situação não
determine conflito intrapsíquico
 6- Normalidade funcional: o fenômeno é disfuncional quando provoca sofrimento para o próprio indivíduo ou para o seu grupo social
7- Normalidade como processo: considera-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e reestruturações ao longo do tempo, de crises, das mudanças próprias de determinadas fases da vida
 A antipsiquiatria e a psiquiatria social
Questiona os conceitos de normalidade implícitos na teoria e, principalmente , nas formas de tratamento da loucura
A antipsiquiatria é uma negação radical da psiquiatria tradicional ou clássica, afirmando que a doença mental é uma construção d sociedade, isto é, que a doença mental não existe em si, mas é uma ideia construída para diferenciar, isolar determinada ordem de fenômeno que questiona a universalidade da razão.
“A doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal” (Michel Foucault- Doença mental e psicologia)
A antipsiquiatria e a psiquiatria social denunciaram a manipulação do saber científico, a retirada da humanidade e da dignidade do louco, as condições perversas de tratamento e reclusão dele e, principalmente, a concepção da loucura como fabricada pelo próprio indivíduo e no seu interior
- A partir dessa concepção, começou a busca fora do indivíduo das causas ou desencadeadores do seu comportamento atual, isto é, buscar nas condições de trabalho, nas formas de lazer, no sistema educacional competitivo, na estrutura familiar ou na insegurança da violência urbana, os fatores desencadeadores ou determinantes do sofrimento imenso do indivíduo ou de sua doença
A psiquiatria social ou alternativa, embora questione as abordagens clássicas da doença mental, não negam que a doença exista 
“É nesse sentido que direi que a doença, sendo uma contradição que se verifica no ambiente social, não é um produto apenas da sociedade, mas uma interação dos níveis nos quais nos compomos: biológico, sociológico, psicológico”. (Franco Basaglia – A psiquiatria alternativa)
Portanto é no indivíduo e fora dele que vamos procurar as razões dessa desrazão

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