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2014326 182412 Plagio estelionato intelectual e um pesimo inicio

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PLÁGIO: ESTELIONATO INTELECTUAL E UM PÉSSIMO 
INÍCIO 
 
 
 
 
 
Daniel Pacheco Pontes 
Doutor em Direito Penal pela 
Universidade de São Paulo, Professor 
da Faculdade de Direito de Ribeirão 
Preto da USP 
 
 
 
1 A importância do trabalho científico e as principais razões que levam o pesquisador 
ao plágio 
 
 Infelizmente, o Brasil tem pouca tradição no que diz respeito à 
pesquisa acadêmica. Tal idéia fica muito clara ao observarmos o grande número de 
Universidades que priorizam apenas o ensino, deixando de lado a pesquisa e a extensão1. 
Muitas vezes, a pesquisa é encarada por alunos e professores como um “pedágio”, um 
obstáculo a ser transposto para se alcançar determinado grau acadêmico. 
 
 Há muitas razões para tanto, além da falta de tradição cultural já 
mencionada, podemos mencionar alguns problemas mais freqüentes, como o fato de muitos 
estudantes trabalharem e realizarem estágios durante a sua graduação – prática incomum 
em outros países – ou, no caso específico de professores, a cumulação de carreiras, isto é, o 
fato de contarmos com poucos professores que se dedicam exclusivamente à docência2. 
 
 Todavia, nada pode justificar a colocação da pesquisa em segundo 
plano, uma vez que podemos dizer sem qualquer exagero que esta é a mais importante das 
atividades universitárias. Se as instituições de ensino superior tivessem como missão 
 
1
 Antônio Joaquim Severino. Metodologia do Trabalho Científico. 23ª Edição. São Paulo: Cortez, 2007, p. 
29. 
2
 Eduardo C. S. Marchi. Guia de Metodologia Jurídica (Teses, Monografias e Artigos). Lecce: Edizioni 
Del Grifo, 2002, p. 46, 47. 
 2
apenas reproduzir o conhecimento já existente, certamente não nos beneficiaríamos de todo 
o desenvolvimento ocorrido no último século em todas as áreas do conhecimento humano, 
simplesmente porque ele não ocorreria, já que os professores apenas repetiriam durante 
toda sua carreira as mesmas aulas, sem trazer nada de novo. 
 
 De qualquer forma, o estudante pouco habituado com a pesquisa 
freqüentemente se esquece de sua importância, o que, juntamente com a falta de tempo, 
pode ser um convite ao plágio. Afinal, se a monografia é encarada como um mero 
obstáculo sem utilidade prática, é natural que o indivíduo que se encontre nesta situação 
procure formas pouco trabalhosas de superá-lo. 
 
 Nos últimos anos, com o a popularização da internet e dos 
computadores pessoais, o problema agravou-se – é bom que se diga, não apenas no Brasil3 - 
fica cada vez mais fácil localizar trabalhos sobre o tema que deveria ser pesquisado que 
podem ser facilmente plagiados4. 
 
 
2 Conceito de plágio 
 
 O conceito de plágio nem sempre é claro, uma vez que o trabalho de 
pesquisa bibliográfica necessariamente implica em transcrições e paráfrases de outros 
autores, razão pela qual vale a pena tentarmos estabelecer alguns parâmetros neste ponto. 
 
 Há plágio quando alguém apresenta texto de outrem como se fosse de 
seu, utilizando-se das idéias alheias sem lhes dar o devido crédito. Tal conceituação é 
conseqüência lógica de uma das principais regras do trabalho científico, a de que todas as 
referências a trabalhos alheios devem vir acompanhadas de citações5, razão pela qual é 
natural e desejável que um trabalho venha acompanhado de muitas referências 
bibliográficas, atestando uma pesquisa cuidadosa e honesta. 
 
3
 Idem, p. 49. 
4
 Conferir em: http://www.universia.com.br/docente/materia.jsp?materia=6387, acesso em 5/11/2009. 
5
 Umberto Eco. Como se faz uma tese. 21ª Edição. São Paulo: Perspectiva, 2008, p. 129. 
 3
 
 Por isso, o plágio não ocorre apenas nas hipóteses em que o 
pesquisador faz a cópia textual do trabalho de outra pessoa sem utilizar o recurso das aspas. 
Na realidade, falamos em plágio também quando acontece uma paráfrase – “o 
desenvolvimento explicativo de obra, artigo ou texto com palavras próprias”6 – 
desacompanhada das devidas referências. 
 
 
 
3 Formas de identificação do plágio pelos examinadores 
 
 Muitos arriscam utilizar tais expedientes fraudulentos, acreditando 
que dificilmente serão descobertos. Todavia, não podemos aceitar essa premissa como 
verdadeira. Pelo contrário, um examinador experiente facilmente identifica o plágio. 
 
 Nas hipóteses de simples cópias textuais, a fraude fica evidente pela 
diferença entre a linguagem adotada no trabalho e a comumente utilizada pelo candidato. 
Além disso, se o trabalho for copiado da internet, basta utilizar alguma ferramenta de busca 
e um pequeno trecho do trabalho como “palavras chave” para localizá-lo7. 
 
 Um pouco mais complexa é a situação quando o candidato utiliza-se 
da paráfrase para plagiar. Porém, do mesmo modo, o examinador cuidadoso consegue 
desmascará-lo, seja por referências à bibliografia a que o candidato certamente não teve 
acesso – por desconhecer o idioma em que foi escrita, ou por se tratar de material raro – ou 
ainda por meio da argüição, nos casos de trabalhos submetidos a uma banca examinadora. 
Afinal, o que melhor desmascara o plagiador é o examinador que, durante a sua inquirição, 
escolhe um trecho do trabalho e pede para o candidato explicá-lo rapidamente com suas 
palavras. 
 
 
6
 Luiz Régis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro – Volume 2 – Parte Especial – Arts. 121 a 249. 7ª 
Edição. São Paulo: RT, 2008, p. 538. 
7
 Conferir em: http://www.universia.com.br/docente/materia.jsp?materia=6387, acesso em 5/11/2009. 
 4
 
4 Conseqüências do plágio 
 
 A principal conseqüência do plágio é a reprovação do pesquisador e, 
dependendo do caso, também a sua expulsão da Universidade8. Apenas esses dois 
resultados já são bastante indesejados e deveriam fazer com que todos evitassem tais 
práticas. 
 
 Todavia, há outras conseqüências. Mesmo que o pesquisador consiga 
ser aprovado mediante a apresentação de um trabalho plagiado, haverá sérios prejuízos para 
ele próprio, que perde uma excelente oportunidade de aprender a realizar uma pesquisa 
científica9, de modo que muito sofrerá se posteriormente tiver que apresentar outras 
monografias com mais seriedade. 
 
 Não podemos deixar de mencionar as conseqüências jurídicas do ato 
de plagiar. Antes de tudo, o plagiador está sujeito a sérias conseqüências civis, indenizações 
por dano moral e material10, além da eventual perda do título obtido por meio do trabalho 
plagiado. 
 
 Vale também lembrar que eventualmente a conduta do plagiador 
pode ser considerada crime. O artigo 184 do Código Penal tipifica a conduta de violação de 
direito autoral, que pode ocorrer por meio do plágio11. Como decorrência natural do 
princípio da fragmentariedade do direito penal, em sintonia com a idéia de ultima ratio, 
haverá crime apenas nos casos mais extremos, quando o autor usurpar “trechos importantes 
da obra alheia ou essenciais de sua estrutura ideológica”12, caso contrário inexiste 
responsabilidade criminal, permanecendo, no entanto, as conseqüências acadêmicas e civis 
cabíveis. 
 
8
 Eduardo C. S. Marchi. Guia de Metodologia Jurídica (Teses, Monografias e Artigos). Lecce: Edizioni 
Del Grifo, 2002, p. 46, 47. 
9
 Idem, p. 49. 
10
 Conferir em: http://www.universia.com.br/docente/materia.jsp?materia=6387, acesso em 5/11/2009. 
11
 Luiz Régis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro – Volume 2 – Parte Especial – Arts. 121 a 249. 7ª 
Edição. São Paulo: RT, 2008, p. 539. 
 5
Conclusão 
 
 Após verificarmos a importância da pesquisa científica e as terríveis 
conseqüências que um trabalho plagiado pode trazerao pesquisador, fica evidente que tal 
procedimento deve ser evitado. Afinal, mesmo que o pesquisador não se sensibilize com as 
questões éticas envolvidas, deve considerar o alto risco de ser desmascarado e as graves 
conseqüências que experimentará, caso opte por esse recurso fraudulento. 
 
 
Bibliografia 
 
ECO, U. Como se faz uma tese. 21ª Edição. São Paulo: Perspectiva, 2008. 
HUNGRIA, N. Comentários ao Código Penal. Volume VIII. Rio de Janeiro: Forense, 
1958. 
MARCHI, E. C. S. Guia de Metodologia Jurídica (Teses, Monografias e Artigos). 
Lecce: Edizioni Del Grifo, 2002. 
PRADO, L. R. Curso de Direito Penal Brasileiro – Volume 2 – Parte Especial – Arts. 
121 a 249. 7ª Edição. São Paulo: RT, 2008. 
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23ª Edição. São Paulo: Cortez, 
2007. 
 
12
 Nelson Hungria. Comentários ao Código Penal. Volume VIII. Rio de Janeiro: Forense, 1958, p. 332.

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