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APLICACAO DA LEI PENAL NO ESPACO Resumo

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Aplicação da lei penal no espaço 
 
 
1 Lugar do crime (art. 6°) 
 
 
1.1 Teorias 
 
A determinação do lugar em que o crime foi praticado é essencial para se saber qual juiz 
tem competência, isto é, atribuição, para processar e julgar determinado crime. A 
primeira questão a ser respondida é a seguinte: tendo o crime ocorrido em diversos 
lugares (como no caso de pessoa que leva o tiro em uma cidade, vindo a ser socorrida 
em outra, onde falece) em qual deles terá o juiz competência para o caso? Veremos que 
três teorias nos dão critérios para que se identifique o lugar do crime: 
a) teoria da atividade: de acordo com ela, o crime ocorre no local da ação ou 
omissão, independente do local do resultado. Assim, se a pessoa é atingida por 
um tiro no Paraguai e vem se tratar no Brasil, onde falece, considera-se o crime 
cometido naquele país; 
b) teoria do resultado: ao contrário da teoria anterior, esta considera que o crime 
se realiza no local onde ocorreu o resultado. Nesse sentido, se, numa clínica de 
aborto da Ceilândia a gestante recebe um soro abortivo que fará efeito, 
expulsando o feto, dali a algumas horas, quando já estava em Taguatinga, o 
crime considera-se ocorrido neste local; 
c) teoria da ubiquidade ou mista: como o próprio nome diz, esta teoria faz a 
junção das anteriores, considerando como local do crime tanto onde ocorreu o 
resultado quanto onde se processou a ação ou omissão. Assim, nos exemplos 
anteriores o réu poderia ser processado em qualquer um dos lugares 
(Paraguai/Brasil ou Ceilândia/Taguatinga). 
 
1.2 Determinação da competência internacional 
 
Para podermos determinar qual das teorias citadas deve ser usada devemos responder 
ainda a outra pergunta: o crime aconteceu no Brasil e no exterior (crime a distância) ou 
ocorreu apenas no Brasil, mas em diferentes localidades (crimes plurilocais)? 
Examinaremos neste tópico a primeira hipótese (crimes a distância) que é tratada no 
art. 6° do Código Penal (CP): “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu 
a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria 
produzir-se o resultado”. 
 
Percebe-se, portanto, que para se determinar a competência internacional, devemos usar 
a teoria da ubiquidade, isto é, local do crime tanto pode ser aquele em que acontece o 
resultado quanto onde ocorre a ação ou omissão. Assim, se uma pessoa foi forçada a 
ingerir um veneno nos Estados Unidos e vem a morrer, depois de algum tempo, no 
Brasil, o autor do homicídio pode ser processado em qualquer dos dois países. 
 
E por que a lei assim determinou? Para que não ocorressem problemas como o seguinte: 
alguém, na Argentina, envia uma carta caluniosa à vítima, que reside no Brasil. Poderia 
acontecer que a Argentina se utilizasse a teoria do resultado (que ocorreu, no caso, em 
território brasileiro) e o Brasil se utilizasse a teoria da atividade (que aconteceu, como 
visto, em território argentino). Se essa hipótese ocorresse, o criminoso sairia impune, o 
que seria um absurdo. A utilização da teoria da ubiquidade impossibilita que tais casos 
ocorram. 
 
A competência para julgamento dos crimes a distância pertence à Justiça Federal (CF, 
art. 109, V) desde que eles estejam previstos em tratado ou convenção internacional, 
como é o caso do crime de tráfico de drogas. Ausente essa previsão, a competência 
pertence à Justiça Estadual.1 
 
 
1.3 Definição da competência nacional 
 
E se o crime aconteceu apenas no Brasil, mas em locais diferentes (crimes plurilocais)? 
Como se determina a competência? A resposta a essa indagação é dada, desta vez, pelo 
CPP: 
 
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que 
se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for 
praticado o último ato de execução.2 
 
§ 1° Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se 
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que 
tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. 
 
§ 2° Quando o último ato de execução for praticado fora do território 
nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora 
parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. 
 
Desta vez, percebe-se que ao contrário do CP, o CPP, se utiliza, para determinar a 
competência, da teoria do resultado, considerando, assim, que o crime ocorre onde o 
resultado se verifica. 
 
1
 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. APLICAÇÃO DA LEI BRASILEIRA. 
COMPETÊNCIA JURISDICIONAL. CRIME INICIADO EM TERRITÓRIO NACIONAL. 
SEQÜESTRO OCORRIDO EM TERRA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME PROBATÓRIO. 
CONDUÇÃO DA VÍTIMA PARA TERRITÓRIO ESTRANGEIRO EM AERONAVE. PRINCÍPIO DA 
TERRITORIALIDADE. LUGAR DO CRIME - TEORIA DA UBIQÜIDADE. IRRELEVÂNCIA 
QUANTO AO EVENTUAL PROCESSAMENTO CRIMINAL PELA JUSTIÇA PARAGUAIA. 
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. ORDEM DENEGADA. 
1. Aplica-se a lei brasileira ao caso, tendo em vista o princípio da territorialidade e a teoria da ubiquidade 
consagrados na lei penal. 
(...) 
3. Afasta-se a competência da Justiça Federal, pela não-ocorrência de quaisquer das hipóteses previstas 
no art. 109 da Constituição Federal, mormente pela não-configuração de crime cometido a bordo de 
aeronave. 
(...) 
5. Ordem denegada. 
(STJ, HC 41892 / SP, julgado em 02/06/2005) 
2
 O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o do 
lugar onde o delito se consumou (STJ, Súmula 200). Compete ao foro do local da recusa processar e 
julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos (STJ, Súmula 244). 
 
E por que essa diferenciação? Porque é no local em que o crime efetivamente se 
consumou é que a justiça e a polícia terão melhores condições de investigar, processar e 
julgar o crime, mesmo porque, geralmente, é lá onde as provas mais importantes se 
encontram (como o corpo de delito). 
 
 
2. Princípio da territorialidade (art. 5°) 
 
O Código Penal enuncia o princípio básico de aplicação da lei penal no espaço, ao 
determinar que “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras 
de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”. Assim, os crimes 
cometidos dentro do espaço onde a República Federativa do Brasil exerce sua soberania 
devem ser julgados pelo Poder Judiciário do País, não importando a nacionalidade do 
autor ou da vítima do crime. 
 
A exceção a que se refere o termo “tratados e regras de direito internacional” são os 
agentes diplomáticos, que somente podem ser julgados pelo governo que representam. 
Porém, as embaixadas e as representações estrangeiras são territórios do país onde estão 
instaladas. 
 
O território nacional, em sentido estraito, inclui o solo, o subsolo, as águas interiores, o 
mar territorial3 e o espaço aéreo. Em sentido amplo, também território nacional inclui 
aeronaves e embarcações brasileiras (§ 1°): 
a) “de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se 
encontrem”; 
b) “de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo 
correspondente ou em alto-mar4”. 
A mesma regra é aplicável a embarcações ou aeronaves estrangeiras: 
a) de natureza pública, são consideradas território do País de origem, onde quer que 
estejam; 
b) de natureza privada, são consideradas território do País de origem apenas se 
estiverem em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente. 
O Código de Bustamante excepciona essas regras ao determinar que estão isentos das 
leis penais de cada Estado “os delitos cometidos em águas territoriais ou espaço aéreo 
nacional, em navios ou aeronaves mercantes estrangeiros, se não têm relação alguma 
com o país e seus habitantes, nem perturbam a sua tranquilidade” (art. 301). Assim, é 
possível aplicar a leida embarcação ou aeronave, mesmo que privada, a crime 
acontecido no território brasileiro se este não perturbar, de alguma forma, a população 
brasileira. 
 
Os crimes cometidos a bordo de embarcações ou aeronaves brasileiras serão 
processados e julgados, no primeiro caso, “pela justiça do primeiro porto brasileiro em 
que tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em 
que houver tocado” (CPP, art. 89); e, no último caso, “pela justiça da comarca em cujo 
 
3
 De acordo com a lei 8.617, de 4 de janeiro de 1993, o mar territorial brasileiro tem 12 milhas. 
4
 Alto-mar é o trecho dos oceanos e mares que não está submetido à soberania de nenhum País. 
território se verificar o pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido 
a aeronave” (CPP, art. 90). 
 
Para ilustrar a aplicação dessas regras, pensemos nas seguintes situações: 
a) em São Paulo, um norteamericano comete homicídio contra um japonês. O autor 
deve ser julgado pela Justiça brasileira; 
b) em Brasília, dentro da embaixada da Nigéria, um sueco furta bens de um 
colombiano. Novamente, o autor deve ser julgado pela Justiça brasileira; 
c) no aeroporto de Manila, nas Filipinas, um nicaraguense estupra uma portuguesa 
dentro de um avião oficial do governo brasileiro. Mais uma vez, o autor deve 
ser julgado pela Justiça brasileira; 
d) em um navio privado holandês que está em alto-mar, é cometido um aborto. 
Como a lei aplicável é a holandesa, que permite o aborto, não há crime, mesmo 
que a mulher na qual se realizou o aborto seja brasileira5; 
e) em um navio privado brasileiro, ancorado no porto de Nagoya, Japão, um 
indiano rouba um finlandês. Desta vez, autor deve ser julgado pela Justiça 
japonesa; 
f) em voo privado de Buenos Aires a Nova Iorque, durante o sobrevoo do espaço 
aéreo brasileiro, um canadense provoca lesão corporal em um sul-africano. 
Nesse caso, o autor poderá ser julgado na Argentina (local do embarque) ou nos 
Estados Unidos (local do desembarque). 
 
 
3. Situações de extraterritorialidade (art. 7°) 
 
Como visto, vigora o princípio de que o crime deve ser punido no País onde foi 
praticado. Assim, a Justiça brasileira somente teria competência para julgar crimes 
cometidos no território nacional. Os crimes cometidos em país estrangeiro são de 
responsabilidade do Poder Judiciário daquele país. 
 
Existem, porém, situações em que o criminoso deve ser processado e julgado no Brasil, 
mesmo tendo sido cometido o crime em país estrangeiro. Para esses casos, aplica-se o 
princípio da extraterritorialidade, que permite a aplicação da lei penal brasileira ao 
crime cometido no exterior.6 
 
A eficácia da lei brasileira fora dos limites do território nacional deve obedecer a um 
dos seguintes critérios (princípios): 
a) princípio da defesa, real ou de proteção: aplica-se a lei do país a que pertencer 
o bem jurídico lesado ou ameaçado de lesão pelo crime; 
 
5
 Este não é apenas um exemplo hipotético, mas um fato real. A ONG holandesa Women On Waves tem 
um “navio do aborto” (abortionship), que realiza esse procedimento em águas internacionais, o mais 
próximo possível de países que, como Brasil, proíbem o aborto. 
6
 Não há extraterritorialidade da lei brasileira em relação às contravenções (Decreto-lei 3.688, de 3 de 
outubro de 1941, art. 2°). 
De acordo com o STJ, o julgamento do crime no Brasil não impede que o inquérito policial seja 
conduzido no exterior (CR 3723 / DE, julgado em 02/09/2009). 
b) princípio da personalidade: aplica-se a lei penal do país de nacionalidade do 
autor (personalidade ativa) ou da vítima do crime (personalidade passiva); 
c) princípio do domicílio: aplica-se a lei penal do país em que o agente for 
domiciliado, mesmo que seja estrangeiro nesse país; 
d) princípio da representação, da bandeira, subsidiário ou de proteção: adota-
se a lei do país em que estiver registrada a embarcação ou aeronave; 
e) princípio cosmopolita ou da justiça penal internacional: aplica-se a lei penal 
do país, mesmo que o crime tenha sido cometido fora de seu território, não 
envolva seus cidadãos nem afeta seus bens jurídicos. 
 
Existem duas formas de aplicação extraterritorial da lei penal brasileira: 
a) extraterritorialidade incondicionada (absoluta): a lei nacional aplica-se, nos 
casos previstos no art. 7°, I, do CP, aos crimes cometidos em país estrangeiro, 
sem necessidade do preenchimento de qualquer requisito. O Judiciário brasileiro 
tem competência mesmo que o réu já tenha sido absolvido ou condenado no 
estrangeiro (7°, § 1°); e 
b) extraterritorialidade condicionada (relativa): a lei nacional aplica-se, nos 
casos previstos no art. 7°, II, do CP, aos crimes cometidos em país estrangeiro, 
desde que sejam preenchidos os requisitos no art. 7°, § 2°. 
A extraterritorialidade incondicionada é prevista para os crimes: 
a) “contra a vida ou a liberdade do Presidente da República” (art. 7°, I, a); 
b) “contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de 
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, 
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público” (art. 7°, I, b); 
c) “contra a administração pública, por quem está a seu serviço” (art. 7°, I, c). 
Neste caso e nos anteriores, aplica-se o princípio da defesa; e 
d) “de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil” (art. 7°, 
I, d). Aplica-se o princípio da personalidade ativa ou do domicílio. 
A extraterritorialidade condicionada é prevista para os crimes: 
a) “que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir” (art. 7°, II, a). 
Aplica-se o princípio da justiça universal; 
b) “praticados por brasileiro” (art. 7°, II, b). Aplica-se o princípio da personalidade 
ativa; e 
c) “praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados” 
(art. 7°, II, c). Aplica-se o princípio da bandeira. 
Nos casos previstos no parágrafo anterior, aplicação da lei brasileira somente é possível 
se obedecidos os seguintes requisitos: 
a) “entrar o agente no território nacional” (art. 7°, § 2°, a)7. Basta que o agente 
compareça uma vez. A saída posterior do país não impede o inquérito ou o 
processo penal; 
b) “ser o fato punível também no país em que foi praticado” (art. 7°, § 2°, b). O 
fato deve preencher, no Brasil e no país estrangeiro, todos os requisitos para a 
imposição da pena, ou seja, deve ser típico, ilícito, culpável e punível; 8 
c) “estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a 
extradição” (art. 7°, § 2°, c). A Lei 6.815, de 19 de agosto de 1980, (Estatuto do 
Estrangeiro) prevê, no art. 77, os casos em que a extradição não pode ser 
concedida. 
Finalmente, em complemento aos requisitos enumerados no parágrafo anterior, a lei 
ainda prevê o cumprimento das seguintes condições caso o crime tenha sido cometido 
por estrangeiro contra brasileiro no exterior (trata-se de aplicação do princípio da 
personalidade passiva): 
a) “não foi pedida ou foi negada a extradição” (art. 7°, § 3°, a). Assim, o inquérito 
policial ou o processo penal eventualmente abertos podem ser obstados no 
momento em que for pedida a extradição; 
b) “houve requisição do Ministro da Justiça” (art. 7°, § 3°, b). É uma das raríssimas 
hipóteses de ação penal pública que conta com essa condição de procedibilidade. 
 
 
4. Pena cumprida no estrangeiro (art. 8°) 
 
Como visto, o CP adotou, quanto ao lugar do crime, a teoria da ubiquidade, ou seja, 
considera-se praticado o crime tanto onde foi realizada a ação ou omissão quanto onde 
foi produzido o resultado. A adoção dessa teoria poderia levar a situaçõesem que uma 
pessoa é condenada pelo mesmo crime no Brasil e em algum país estrangeiro. A mesma 
situação pode acontecer nos casos de extraterritorialidade incondicionada, nos quais a 
pessoa que cometer um crime em país estrangeiro pode ser processada e julgada no 
Brasil mesmo que tenha sido condenado naquele país. 
 
7
 CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. HOMICÍDIOS QUALIFICADOS. CRIMES 
PERPETRADOS POR BRASILEIRO, JUNTAMENTE COM ESTRANGEIROS, NA CIDADE DE 
RIVERA - REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAI. REGIÃO FRONTEIRIÇA. VÍTIMAS. 
POLICIAIS CIVIS BRASILEIROS. RESIDENTES EM SANTANA DO LIVRAMENTO/RS. 
EXTRATERRITORIALIDADE. AGENTE BRASILEIRO, QUE INGRESSOU NO PAÍS. ÚLTIMO 
DOMICÍLIO. CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO/SP. O ITER CRIMINIS OCORREU NO 
ESTRANGEIRO. 
1. Os crimes em análise teriam sido cometidos por brasileiro, juntamente com uruguaios, na cidade de 
Rivera - República Oriental do Uruguai, que faz fronteira com o Brasil. 
2. Aplica-se a extraterritorialidade prevista no art. 7.º, inciso II, alínea b, e § 2.º, alínea a, do Código 
Penal, se o crime foi praticado por brasileiro no estrangeiro e, posteriormente, o agente ingressou em 
território nacional. 
(...) 
(STJ, CC 104342 / SP, julgado em 12/08/2009) 
8
 Os dois últimos requisitos previstos no parágrafo são consequência deste: “não ter sido o agente 
absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena” (art. 7°, § 2°, d); e “não ter sido o agente 
perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais 
favorável” (art. 7°, § 2°, e). 
 
Por isso, o CP prevê que a pena cumprida em país estrangeiro sempre deve ser 
considerada no Brasil. Nesse sentido, existem duas situações: 
a) a pena cumprida no estrangeiro tem a mesma natureza da pena a ser 
cumprida no Brasil: na sentença, o juiz deve fazer a detração9, ou seja, subtrair 
a quantidade de uma pena pela de outra. Assim, se a pessoa já cumpriu quatro 
anos de reclusão na Argentina e aqui foi condenada pelo mesmo crime à pena de 
dez anos, deverá cumprir apenas seis anos. Porém, se a pena cumprida no 
estrangeiro for maior que a determinada no Brasil, não restará nada a cumprir, 
havendo extinção de punibilidade; 
b) a pena cumprida no estrangeiro tem a natureza diversa da pena a ser 
cumprida no Brasil: na sentença, o juiz deve atenuar a pena imposta, de acordo 
com um juízo de equidade. Assim, se a pessoa recebeu em Cingapura a pena de 
dez chibatadas e no Brasil a pena de cinco anos de reclusão, o juiz pode diminuir 
a pena para, por exemplo, quatro anos, considerando, de acordo com sua 
avaliação, que um ano de reclusão equivaleria a dez chibatadas. 
 
 
5. Eficácia de sentença estrangeira (art. 9°) 
 
A sentença estrangeira somente tem efeitos no Brasil depois de homologada pelo 
Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, i), de acordo com o procedimento previsto 
no Código de Processo Penal, art. 787 a 790. Depois de homologada, a sentença 
estrangeira deve ser executada pela Justiça Federal (CF, art. 109, X). 
 
A sentença penal condenatória estrangeira tem efeitos limitados no Brasil. Não se pode, 
por exemplo, executar a pena nela prevista. Excetuam-se apenas os países que 
assinaram a Convenção Interamericana sobre o Cumprimento de Sentenças Penais no 
Exterior, concluída em Manágua, em 9 de junho de 1993 (aprovada pelo Decreto 5.919, 
de 3 de outubro de 2006). Nesses casos, “as sentenças impostas em um dos Estados 
Partes a nacionais de outro Estado Parte poderão ser cumpridas pela pessoa sentenciada 
no Estado do qual seja nacional” (art. II, a). Assim, um brasileiro condenado, por 
exemplo, na Venezuela, pode ter a pena aqui cumprida. Da mesma forma, um 
colombiano condenado no Brasil pode lá cumprir a pena. 
 
Levando em conta essa exceção, a lei (CP, art. 9°) determina que a sentença estrangeira, 
depois de homologada, pode ter os seguintes efeitos no Brasil: 
a) obrigar o condenado a reparar o dano causado pelo crime e submetê-lo a outros 
efeitos civis da condenação10. A prescrição da pretensão executória (ausência de 
 
9
 A detração é um simples procedimento aritmético, no qual se considera, na imposição da pena privativa 
de liberdade, o tempo já cumprido em prisão provisória pelo mesmo crime – art. 42 do CP. 
10
 A sentença condenatória transitada em julgado é título executivo judicial (CPC, art. 575, IV) que pode 
dar início a uma ação civil de reparação de danos (prevista nos art. 63 a 68 do CPP). Além da reparação 
de danos, ainda podem existir outros efeitos civis, como a inabilitação para dirigir veículo – esses efeitos 
estão previstos nos arts. 91 e 92 do CP. 
imposição da pena até determinado prazo) não impede que a condenação tenha 
efeitos civis11; 
b) sujeitá-lo a medida de segurança.12 
A lei prevê os seguintes requisitos para a homologação da sentença penal estrangeira: 
a) pedido da parte interessada – para obrigar o condenado a sofrer os efeitos civis 
da condenação; 
b) existência de tratado de extradição ou, na sua ausência, de requisição do 
Ministro da Justiça – para a execução da medida de segurança. 
Finalmente, é preciso ressaltar que a sentença penal estrangeira pode ter efeitos no 
Brasil sem necessidade de homologação nos seguintes casos: 
a) detração (CP, art. 42); 
b) reincidência (CP, art. 63)13; e 
c) cumprimento da pena no estrangeiro como causa impeditiva da prescrição antes 
de transitar em julgado a n condenatória (CP, art. 116, II). 
Aplicação da lei penal no espaço 
Definição Conjunto de normas que estipulam em que locais a lei 
penal brasileira deve ser aplicada e qual o juízo 
competente para sua aplicação. 
Crimes a 
distância 
Teoria da ubiquidade. Lugar do crime 
Crimes 
plurilocais 
Teoria do resultado. 
Princípio da territorialidade A lei brasileira aplica-se aos crimes cometidos em 
território nacional. 
Em sentido 
estrito 
Apenas solo, subsolo, mar territorial, 
águas interiores e espaço aéreo. 
Oficiais Em qualquer 
lugar. 
Componentes do território 
nacional 
Em sentido lato Navios e 
aeronaves 
Privados Em alto-mar ou 
no espaço aéreo 
correspondente. 
Definição Situações em que a lei brasileira aplica-se 
a crimes cometidos no exterior. 
Extraterritorialidade 
Espécies Incondicionada A lei brasileira aplica-
 
11
 HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA. AGRAVO REGIMENTAL. 
PRESCRIÇÃO DA PENA. APLICAÇÃO AO CASO DO ART. 9º DO CÓDIGO PENAL 
BRASILEIRO. 
 – Nos termos do art. 9º do Código Penal Brasileiro, a sentença estrangeira, quando a aplicação da lei 
brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada para obrigar o condenado à 
reparação do dano e a outros efeitos civis. 
– A prescrição da pena não é causa suficiente para fins de homologação de sentença penal estrangeira. 
Agravo regimental improvido. 
(STJ, AgRg na SE 3395 / ES, julgado em 03/12/2008) 
12
 Medida de segurança não é pena, mas tratamento psiquiátrico aplicado a inimputáveis. É regulada pelos 
arts. 96 a 99 do CP. 
13
 Reincidência é a principal circunstância agravante de um crime (CP, art. 61, I) e consiste no 
cometimento de um novo crime após o trânsito em julgado de condenação por crime anterior, no Brasil 
ou em país estrangeiro. 
se em quaisquer casos. 
Condicionada A aplicação da lei 
brasileira deve 
obedecer a certos 
requisitos. 
Pena cumprida no estrangeiro Para o mesmo crime, atenua ou diminui a quantidade 
de pena imposta no Brasil. 
Condição Homologação pelo STJ 
Cumprimento da pena, mas somente para 
os signatários da Convenção de Manágua. 
Submissão do criminoso aos efeitos civis 
da condenação. 
Eficácia de sentença 
estrangeira Situações 
Sujeição a medida de segurança.

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