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ADVOCACIA ADVOCACIA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DE ________ ESTADO DE __________. ______________, brasileira, casada, maior, comerciária, residente e domiciliada na Rua ___________, nº. _____, CEP _________, em __________, possuidora do CPF(MF) nº. __________, vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu patrono que abaixo assina – instrumento procuratório acostado --, para ajuizar, com supedâneo no art. 5º, inc. X da Carta Política, bem como art. 186 c/c art. 953, ambos do Código Civil e, ainda, arts. 6º, inc. VI, 12, 14, 18, 20 e 25, § 1º do CDC, a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO, “DANO MORAL” Contra ___________, pessoa jurídica de direito privado, com sua sede na Av. _______, nº. _____, em ________ – CEP nº. ________, inscrita no CNPJ(MF) sob o nº. ________ em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas. SÍNTESE DOS FATOS A Promovente, a qual reside com seu esposo e uma filha no endereço supra citado, fora surpreendida com suspensão(indevida) do fornecimento energia elétrica ao citado imóvel. Incontestavelmente a Autora encontrava-se adimplente, na ocasião do corte de energia. Incluímos com a esta exordial, documentos que comprovam que a fatura de consumo nº.001122(em nome da Autora), com vencimento em 00/11/22222, que deu ensejo ao desiderato ora em debate, fora paga, embora após o vencimento, no dia 11/22/0000.(doc. 01) Entretanto, como bem se observa do aviso de desligamento que ora trazemos à baila(doc. 02), tal providência(o corte) fora efetuada no dia 22/00/1111, ou seja, 2(dois) dias após o aludido pagamento. Importa ressaltar que, na ocasião do desligamento, a Autora justificou aos prepostos da Ré que estava adimplente, mas que o comprovante do pagamento encontrava-se na posse de seu esposo, o qual não se encontrava na residência naquela ocasião. Em um gesto de desespero e de mais absoluto constrangimento, a Promovente ainda suplicou àqueles que não tomassem tal providência, sugerindo inclusive manter contato por telefone com seu esposo, para o mesmo providenciasse a remessa da fatura quitada com a maior brevidade. Foi em vão. O desligamento fora efetuada, onde o prepostos da Ré justiçaram que “estavam cumprindo ordem expressa de seus superiores, pois o relatório constava a ordem para suspensão do fornecimento de energia. “ Ao chegar em sua residência, muito embora tardiamente, seu esposo constatou o corte de energia e, logo em seguida, encaminhou-se a uma das lojas da Ré e, lá, demonstrou que estava em dia. Diante disto, mediante a imposição de pagamento de taxa de religação de urgência, a energia fora restabelecida, mas aproximadamente 6(seis) horas depois. De nada adiantou a religação, pois o constrangimento já estava constatado, maiormente com comentários maldosos de vizinhos quanto à pretensa inadimplência da Autora, os quais, mais, em grande parte, acompanharam tal desfecho. DO DIREITO RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA Cumpre-nos ressaltar, inicialmente, que entre a Autora e a Ré emerge uma inegável hipossuficiente técnico-econômica, o que sobremaneira deve ser levado em conta no importe deste processo. Destaque, mais, por oportuno, que o desenvolvimento desta ação deve seguir o prisma da Legislação Consumerista, visto que a relação em estudo é de consumo, aplicando-se, maiormente, a inversão do ônus da prova(CDC, art. 6º, inc. VIII). Em se tratando de prestação de serviço cujo destinatário final é o tomador, no caso da Autora, há relação de consumo nos precisos termos do que reza o Código de Defesa do Consumidor: Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviço como destinatário final. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° (...) § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Não bastasse isto, devemos sopesar que a Ré é concessionária de serviço público, e, por mais este motivo, deve se submeter, portanto, aos ditames do Código de Defesa do Consumidor. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Art. 22 - Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Lei nº 8.987/95 Art. 7º - Sem prejuízo do disposto na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações dos usuários: I - receber serviço adequado; II - receber do poder concedente e da concessionária informações para a defesa de interesses individuais ou coletivos; III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as normas do poder concedente. IV - levar ao conhecimento do poder público e da concessionária as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao serviço prestado; V - comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos praticados pela concessionária na prestação do serviço; VI - contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através dos quais lhes são prestados os serviços. Neste exato rumo: AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/ C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor. Inversão doônusdaprova. Responsabilidade da concessionária de serviço público. Apuração de irregularidades no medidor de energia de modo unilateral e arbitrário. Recurso conhecido e improvido. (TJMS - APL 0066221-69.2011.8.12.0001; Campo Grande; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Júlio Roberto Siqueira Cardoso; DJMS 15/05/2013; Pág. 28) CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ÁGUA. DESNECESSIDADE DE PERÍCIA. TEORIA OBJETIVA. RISCO ADMINISTRATIVO. LIVRE CONVICÇÃO DO MAGISTRADO. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. FALTA DO SERVIÇO POR CINCO DIAS. PRAZO MUITO SUPERIOR AO CONSIGNADO NA COMUNICAÇÃO À CONSUMIDORA. DANO MORAL PRESUMIDO. DEVER DE INDENIZAR. REDUÇÃO DO VALOR FIXADO NA PRIMEIRA INSTÂNCIA. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. I. Desnecessária a perícia, seja porque enquanto concessionária de serviço público responsabiliza-se objetivamente a recorrente pelos danos causados aos usuários do serviço, nos termos do art. 37, § 6º da cf/88, seja pelo livre convencimento do magistrado, positivado no art. 131 do CPC; II. Cabe ao juiz indeferir a produção de provas inúteis ou protelatórias, nos termos da parte final do art. 130 do CPC, de modo que o julgamento antecipado da lide realizado nos termos do art. 330, I do CPC obedece ao devido processo legal; III. Configurada a falta do serviço de fornecimento de água por cinco dias, prazo muito superior ao consignado na comunicação à consumidora, indenizável o dano moral causado, diante da responsabilidade objetiva em que incide a concessionária de serviço público apelante, nos termos do art. 37, § 6º da cf/88, que provocou a descontinuidade da prestação do serviço público, com ofensa ao previsto no art. 22 da Lei nº 8.078/90; IV. Em decorrência da demora no restabelecimento do serviço, bem como dos inestimáveis prejuízos causados à paz interior da vítima, impotente, diante da negligência com que fora tratada pela recorrente,necessária a condenação à indenização pelos danos morais perseguida, no intuito de prevenir a repetição de condutas desrespeitosas aos usuários, nos termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor; V. Impende reduzir o valor fixado na primeira instância, que se harmoniza com os precedentes desta câmara, prolatados em casos análogos, bem como em respeito aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; VI. Recurso conhecido e parcialmente provido da ré. (TJSE; AC 2013200047; Ac. 6261/2013; Segunda Câmara Cível; Relª Desª Iolanda Santos Guimarães; Julg. 06/05/2013; DJSE 13/05/2013; Pág. 29) DO DEVER DE INDENIZAR RESPONSABILIDADE CIVIL: REQUISITOS CONFIGURADOS No plano do direito civil, para a configuração do dever de indenizar, segundo as lições de Caio Mário da Silva Pereira, faz-se necessário a concorrência dos seguintes fatores: “ a) em primeiro lugar, a verificação de uma conduta antijurídica, que abrange comportamento contrário a direito, por comissão ou por omissão, sem necessidade de indagar se houve ou não o propósito de malfazer; b) em segundo lugar, a existência de um dano, tomada a expressão no sentido de lesão a um bem jurídico, seja este de ordem material ou imaterial, de natureza patrimonial ou não patrimonial; c) e em terceiro lugar, o estabelecimento de um nexo de causalidade entre um e outro, de forma a precisar-se que o dano decorre da conduta antijurídica, ou, em termos negativos, que sem a verificação do comportamento contrário a direito não teria havido o atentado ao bem jurídico.”(In, Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, Vol. I. Pág. 661). A propósito reza a Legislação Substantiva Civil que: CÓDIGO CIVIL Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. “ Ademais, aplicável ao caso sub examine a doutrina do “risco criado”(responsabilidade objetiva), que está posta no Código Civil, que assim prevê: CÓDIGO CIVIL Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único - Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Neste contexto, cumpre-nos evidenciar alguns julgados: DIREITO DO CONSUMIDOR. COBRANÇA DE CRÉDITOS REALIZADA DE FORMA ABUSIVA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. TEORIA DO RISCO DO NEGÓCIO. DANO MORAL CONFIGURADO. REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO NEGADA. RECURSO IMPROVIDO. Trata-se de recurso interposto contra a r. sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, a fim de condenar os réu ao pagamento do valor de R$8.000,00 (oito mil reais), a título de danos morais. O d. Juízo de Primeiro Grau entendeu que ""a conduta aqui demonstrada fere a dignidade da pessoa humana e deve ser rechaçada, posto que o abalo moral, a humilhação e o constrangimento restaram patenteados. Neste caso comprovado a pratica do ato ilícito e indene de dúvida e dano moral outro caminho não resta senão trilhar pela procedência do pedido indenizatório"". O recorrente, em síntese, alega a inexistência de ato ilícito e de danos morais, bem como se insurge contra o valor fixado para a reparação. A controvérsia deve ser solucionada sob o prisma do sistema jurídico autônomo instituído pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990), que por sua vez regulamenta o direito fundamental de proteção do consumidor (art. 5º, XXXII, da Constituição Federal). A teoria do risco do negócio ou atividade é a base da responsabilidade objetiva do Código de Defesa do Consumidor, a qual harmoniza-se com o sistema de produção e consumo em massa, protegendo a parte mais frágil da relação jurídica. Nos termos do art. 14, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor, o ônus da prova, em caso de causa excludente de ilicitude, é do fornecedor/recorrente, o qual não demonstrou haver qualquer causa excludente da responsabilização, capaz de romper com o nexo de causalidade entre suas condutas e o dano experimentado pela consumidora. Ainda assim, os documentos trazidos aos autos e as demais provas produzidas corroboram as alegações da recorrida. Nos Juizados Especiais, o juiz dirigirá o processo com liberdade para apreciar as provas produzidas e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica, conforme art. 5º, da Lei n. 9.099/1995. Quanto ao dano moral, restou patente que houve violação aos direitos da personalidade da consumidora, pois experimentou constrangimentos, humilhações, transtornos e aborrecimentos, em razão das constantes cobranças ameaçadoras que recebeu por telefone. Quanto ao valor fixado, esclareça-se que a tarifação do dano moral atenta contra a efetiva reparação da vítima. Para fixação do valor da reparação do dano moral, o operador do direito deve observar as suas diversas finalidades, que concorrem simultaneamente, e os seus critérios gerais e específicos, de modo a atender ao princípio da reparação integral, expresso no art. 5º, V, da Constituição Federal de 1988 e no art. 6, VI, do Código de Defesa do Consumidor. A primeira finalidade da reparação do dano moral versa sobre a função compensatória, caracterizada como um meio de satisfação da vítima em razão da privação ou violação de seus direitos da personalidade. Nesse momento, o sistema jurídico considera a repercussão do ato ilícito em relação à vítima. A segunda finalidade refere-se ao caráter punitivo, em que o sistema jurídico responde ao agente causador do dano, sancionando-o com o dever de reparar a ofensa imaterial com parte de seu patrimônio. A terceira finalidade da reparação do dano moral relaciona-se ao aspecto preventivo, entendido como uma medida de desestímulo e intimidação do ofensor, mas com o inequívoco propósito de alcançar todos integrantes da coletividade, alertando-os e desestimulando-os da prática de semelhantes ilicitudes. O quantum a ser fixado deverá observar, ainda, os critérios gerais da equidade, proporcionalidade e razoabilidade, bem como atender a critérios específicos, tais como o grau de culpa do agente, o potencial econômico e características pessoais das partes, a repercussão do fato no meio social e a natureza do direito violado, esclarecendo-se que o valor do dano moral não pode promover o enriquecimento ilícito da vítima e não deve ser ínfimo a ponto de aviltar o direito da personalidade violado. O valor fixado de R$8.000,00 (oito mil reais) não pode ser tido como excessivo, considerando-se o potencial econômico e gravidade da conduta do recorrente. A r. sentença deve ser confirmada por seus próprios fundamentos, nos termos do art. 46 da Lei n. 9.099/1995. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso e mantenho a r. sentença recorrida. Vencida a parte recorrente, deverá arcar com custas processuais e honorários advocatícios, em favor do autor, os quais fixo em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, a teor do art. 55 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Acórdão lavrado conforme o art. 46 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. (TJDF - Rec 2012.07.1.032796-0; Ac. 676.846; Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal; Rel. Juiz Hector Valverde Santana; DJDFTE 17/05/2013; Pág. 189) Consumidor Responsabilidade pelo fato do serviço Acidente de consumo Instituição financeira que negativa indevidamente o nome do consumidor Vítima que não contratou com o fornecedor Dever sucessivo de reparar Configuração Responsabilidade objetiva Defeito do serviço Não-oferecimento ao consumidor da segurança esperada, quanto ao modo de prestação e aos riscos razoavelmente esperados Não-comprovação, pelo fornecedor, de conduta exclusiva do ofendido ou de terceiro Teoria do risco profissional Risco inerente à atividade de exploração econômica exercida Ocorrência de fortuito interno,que não afasta a imputação Dano moral Caracterização Súmula nº 479 do STJ: "As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias" Violação do direito (da personalidade) à integridade psíquica (moral) do consumidor Lesão à honra objetiva Compensação de R$ 8.000,00 fixada na origem Adequação às peculiaridades do caso concreto, aos princípios da proporcionalidade-razoabilidade e da moderação, e às finalidades compensatória e pedagógico-preventivo-punitiva do dano moral Inaplicabilidade da Súmula nº 385 do E. STJ Inscrições anteriores que não são legítimas Sentença mantida RI-TJSP, art. 252 Recurso improvido. (TJSP - APL 0032184-54.2010.8.26.0003; Ac. 6713539; São Paulo; Sétima Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Luiz Antonio Costa; Julg. 08/05/2013; DJESP 15/05/2013) E, mais, por se tratar de concessionária de serviço público, a responsabilidade civil é objetiva – sem, pois, necessidade de demonstrar-se a culpabilidade do ofensor --, porquanto disciplina a Carta Magna que: CONSTITUIÇÃO FEDERAL Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: ( . . . ) § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. A propósito, sobre o tema em vertente, ou seja, a teoria do risco administrativo, vejamos as considerações de Sérgio Cavalieri Filho, o qual professa que: " A teoria do risco administrativo importa atribuir ao Estado a responsabilidade pelo risco criado pela sua atividade administrativa. Esta teoria, como se vê, surge como expressão concreta do princípio da igualdade dos indivíduos diante dos encargos públicos. É a forma democrática de repartir os ônus e encargos sociais por todos aqueles que são beneficiados peça atividade da Administração Pública. Toda lesão sofrida pelo particular deve ser ressarcida, independentemente de culpa do agente público que a causou. O que se tem de verificar é, apenas, a relação de causalidade entre a ação administrativa e o dano sofrido pelo administrado. [...] Com efeito, a teoria do risco administrativo, embora dispense a prova da culpa da Administração, permite ao Estado afastar a sua responsabilidade nos casos de exclusão do nexo causal - fato exclusivo da vítima, caso fortuito, força maior e fato exclusivo de terceiro" (In, Programa de Responsabilidade Civil. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 243). E, como já esclarecido que a relação jurídica entabulada entre as partes é consumo, o Código de Defesa do Consumidor é aplicável à espécie, abrindo, no caso, também por este ângulo, a responsabilidade objetiva da Ré. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Em que pese tais aspectos legais e doutrinários acerca da responsabilidade civil objetiva, evidenciaremos, abaixo, que a Ré deve ser responsabilizados civilmente, pelos motivos abaixo expostos. Sopesemos, primeiramente, que a responsabilidade civil almejada diz respeito a dano de ordem moral. Neste caso, consideremos, pois, o direito à incolomidade moral pertence à classe dos direitos absolutos, encontrando-se positivados pela conjugação de preceitos constitucionais elencados no rol dos direitos e garantias individuais da Carta Magna(CF/88, art. 5º, inv. V e X), erigidos, portanto, ao status cláusula pétrea(CF/88, art. 60, § 4º), merecendo ser devidamente tutelado nos casos concretos apreciados pelo Poder Judiciário. A moral individual está relacionada à honra, ao nome, à boa-fama, à auto-estima e ao apreço, sendo que o dano moral resulta de ato ilícito que atinge o patrimônio do indivíduo, ferindo sua honra, decoro, crenças políticas e religiosas, paz interior, bom nome e liberdade, originando sofrimento psíquico, físico ou moral. A doutrina já consagrou uma definição e uma classificação, melhor dotada de consensualidade, encontrando-se de certa forma compendiada na lição da insigne Maria Helena Diniz, em seu festejado “Curso de Direito Civil Brasileiro" (São Paulo: Saraiva, 2002, 7º vol., 16. ed., p. 83), quando discorre sobre a responsabilidade civil, nomeadamente em face do dano moral: " c.3.2. Dano moral direto e indireto. O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família). O dano moral indireto consiste na lesão a um interesse tendente à satisfação ou gozo de bens jurídicos patrimoniais, que produz um menoscabo a um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que provoca prejuízo a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem patrimonial da vítima. Deriva, portanto, do fato lesivo a um interesse patrimonial. P. ex.: perda de coisa com valor afetivo, ou seja, de um anel de noivado." Muito provavelmente a Réu defender-se-á sob o ângulo de que o ato fora praticado sob ângulo de um pretenso exercício regular de direito(CC, art. 188, inc. I), na medida que a interrupção do fornecimento de energia eletrética seria lícita, de acordo com a previsão expressa no art. 6º, § 3º, inc. II, da Lei nº. 8.987/95. Mas não é caso, Excelência. Não se desconhece que o princípio da continuidade dos serviços não impede a interrupção do fornecimento de energia elétrica, quando o usuário encontrar-se inadimplente, praticado, desta forma, com aviso prévio, dentro da previsão legal e regulamentar. Mas a hipótese aqui é absolutamente diversa. No caso concreto, ora sub examine, ao revés, restou configurado excesso no exercício deste direito por parte da Ré, o que indenizável. CÓDIGO CIVIL Art. 187 – Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Além da regra acima descrita, muitas outras encontramos dispostas na Legislação Substantiva Civil, todas destacando que o abuso do direito é capaz de originar um dano e, consequentemente, a responsabilidade civil.(CC, art. 421, 422, 1.228, §§ 1º e 2º, 1.648, etc) Ora, como relevado do contexto fático desta peça, viu-se que a Autora, na ocasião do corte do fornecimento de energia elétrica, encontrava-se adimplente. Assim, restou comprovado que a Promovente quitara a fatura que deu azo à suspensão do fornecimento da energia elétrica anteriormente à atuação da Ré(no dia 00/11/2222) A Ré, por este ângulo, foi negligente ao interromper o fornecimento, quando já adimplida a contraprestação pela usuária, ora Autora. A exposição constrangedora e vexatória à qual foi submetida a Autora é inadmissível, uma vez que fora destratada na esfera mais íntima do ser, teve sua honra e dignidade feridas, seus direitos fundamentais violados, visto que a energia elétrica é imprescindível para realização da maioria das atividades, seja comercial ou familiar. Só pela ótica desta privação, de serviço essencial à sadia qualidade de vida, caracterizado está o dano moral. Ademais, experimentar o corte de energia elétrica, tendo que conviver com a humilhação, quando detinha comprovaçãodo pagamento do valor que estava sendo cobrado, corresponde, lógico, a um inegável abalo psíquico-físico. Houve, destarte, irrefutável falha na prestação do serviço ao promover-se o corte de energia indevidamente. Nestes termos, restaram configurados a existência dos pressupostos essenciais à responsabilidade civil: conduta lesiva, nexo causal e dano, a justificar o pedido de indenização moral. A propósito, vejamos os seguintes julgados específicos sobre o tema ora tratado: RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. Suspensão no fornecimento de água de estabelecimento comercial. Fatura quitada com dois dias de atraso, porém interrupção do serviço quase cinco meses depois. Ausência de comunicação da autora acerca da existência de débito. Defeito na prestação do serviço. Dano moral configurado. "A responsabilidade civil das prestadoras de serviços é de natureza objetiva. Ao ocorrer a suspensão do abastecimento de água, demonstrado o defeito na prestação do serviço público e inexistente as hipóteses de excludentes, impõe-se o dever de indenizar os prejuízos dela decorrentes" (TJSC. AC n. 2008.059714-3, Rel. Des. Luiz cézar medeiros, j. 24.3.09). Fato de terceiro. Falha da instituição bancária. Responsabilidade solidária da concessionária. "Não há excludente de fato de terceiro quanto ao corte de energia elétrica indevido, diante da falha de instituição financeira em repassar a informação referente ao pagamento do crédito, porquanto a concessionária é responsável solidariamente pelos erros daquela" (TJSC, AC n. 2003.018855-0, Rel. Des. Volnei carlin, j. 24.2.05). Valor indenizatório. Fixação, em primeiro grau, de R$ 27.250,00 para cada autor. Verba que está acima dos parâmetros fixados por esta câmara de justiça. Minoração para R$ 27.250,00, porém na proporção de R$ 13.625,00 para cada insurgente. Verba em consonância com o seu caráter repressivo-pedagógico. O valor da indenização a ser arbitrada deve seguir critérios de razoabilidade e proporcionalidade, mostrando-se efetivo à repreensão do ilícito e à reparação do dano, sem, em contrapartida, constituir enriquecimento ilícito. Encargos moratórios. Necessidade de readequação da sentença ex officio. Índices aplicáveis. Taxa selic. Sobre o valor da indenização por dano moral devem incidir juros de 1% ao mês (art. 406 do CC) desde a data do evento danoso, na forma da Súmula n. 54 do STJ, até a data do arbitramento – Marco inicial da correção monetária, nos termos da Súmula n. 362 do STJ –, quando então deverá incidir a taxa selic, que compreende tanto os juros como a atualização da moeda. Sentença de parcial procedência reformada para minorar a verba indenizatória e readequar, de ofício, os índices aplicáveis aos encargos moratórios. Recurso conhecido e parcialmente provido. (TJSC - AC 2011.061103-4; São José; Segunda Câmara de Direito Público; Rel. Des. Subst. Francisco José Rodrigues de Oliveira Filho; Julg. 02/05/2013; DJSC 14/05/2013; Pág. 231) RECURSO INOMINADO EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS OU MORAIS, COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. DEMANDA QUE QUESTIONA CORTE INDEVIDO NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. 2. Sentença: Reconhecida a ocorrência de corte ilegal, porquanto, à época da suspensão, a fatura já estava paga; condenação da recorrente a pagamento de danos morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 3. Recurso Inominado. Irresignação da Recorrente assentada na alegação de que a suspensão do fornecimento foi devida; aduz, ainda, que os atos praticados são acobertados pela presunção da legalidade, que não há prova do dano ou de sua ocorrência; por derradeiro, assevera ser excessivo o valor do dano fixado. 4. Ato ilícito comprovado pelo simples fato de que a conta foi devidamente paga pela recorrida, embora com o atraso. 5. Não se pode olvidar, ainda, que a suspensão do fornecimento de energia elétrica em razão de uma fatura de apenas cinco reais quando não há outros débitos, foge de qualquer razoabilidade que se possa argumentar. 6. Dano Moral. Ocorrência. A circunstância da suspensão do fornecimento de energia é, por óbvio, causador de dano moral. A prova do dano moral, entende a doutrina e jurisprudência pátrias que, devido a sua própria natureza peculiar, não deve ser submetida às mesmas regras da prova do dano material, pois, tal qual como no caso presente, não há como comprovar por testemunhas ou documentalmente a ocorrência de lesões a direito personalíssimo do autor, configurando o dano in re ipsa (presumido, implícito). 6. Dever de Indenizar. Responsabilidade civil corretamente emoldurada pelos art. 14, § 1º, I c/c art. 22 do Código de Defesa do Consumidor. 7. Instrução Adequada. Matérias de fato e de direito devidamente examinadas na instância a quo. 8. 8. Adequação da Indenização ao Dano Sofrido. Indenização fixada dentro de padrões adequados, de modo a servir como repreenda pelo dano causado e instrumento didático a evitar danos futuros, sem ocasionar enriquecimento sem causa à parte beneficiada; no computo da indenização, importante considerar que o ora recorrido permaneceu sem energia elétrica por período superior a um mês, somente retomando o fornecimento após ordem judicial; tal circunstância, sem sombra de dúvida, representa um dano maior ao consumidor. 9. Sentença confirmada pelos seus próprios fundamentos. A irresignação da Recorrente não se sustenta em argumento capaz de desconstituir a sentença monocrática, a qual apreciou a matéria controvertida de maneira satisfatória. 09. Juros e Correção Monetária conforme Enunciado nº 10 da TRCC/MA: Nas ações de indenização por danos morais, incidirão juros legais e correção monetária, contados a partir da data da sentença condenatória. 11. Recurso Inominado Conhecido improvido. 12. Condenação da Recorrente em custas processuais, já recolhidas, e na verba honorária em quantia equivalente a 20% sobre o valor da condenação. 13. Súmula do julgamento que serve de acórdão (art. 46, segunda parte, da Lei nº 9.099/95). (TJMA - Rec 1720/2012-1; Ac. 76008/2013; Rel. Juiz Aureliano Coelho Ferreira; DJEMA 30/04/2013) PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. CELPE. COBRANÇA DE FATURA JÁ QUITADA. CORTE DE ENERGIA ELÉTRICA. ILEGALIDADE. DANO MORAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO DE AGRAVO. NÃO-OCORRÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS AUTORIZADORES À OPOSIÇÃO DOS ACLARATÓRIOS. PREQUESTIONAMENTO. POSSIBILIDADE. DECISÃO UNÂNIME. 1. Ao juiz cabe apreciar a lide de acordo com o seu livre convencimento, não estando obrigado a analisar todos os pontos suscitados; 2. Restando incontroversa a ilegalidade da cobrança de fatura já quitada e, estando a decisão arrimada com todos os dispositivos legais necessários ao deslinde da controvérsia, não há que se falar em omissão de termos constitucionais; 3. Responde civilmente por dano moral a empresa de energia elétrica que efetua corte de consumidor que havia pago a fatura de energia elétrica. Embargos conhecidos para fins prequestionadores, contudo, negado provimento. Decisão à unanimidade de votos. (TJPE - Proc 0000254-45.2007.8.17.1370; Quarta Câmara Cível; Rel. Des. Eurico de Barros Correia Filho; Julg. 11/04/2013; DJEPE 19/04/2013; Pág. 183) Por fim, anote-se que o dano moral justifica-se pela simples prática do ato lesivo ao ofendido, constatando-se, desta sorte, de forma in re ipsa, ou seja, prescinde da prova da efetividade de seus reflexos. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CADASTRO DE INADIMPLENTES. INSCRIÇÃO INDEVIDA. DEVER DE INDENIZAR. PESSOA JURÍDICA. DANO IN RE IPSA. PRESUNÇÃO. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1 - Nos casos de protesto indevido de título ou inscrição irregular em cadastros de inadimplentes, o dano moral configura-se in re ipsa, prescindindo de prova, ainda que a prejudicada seja pessoa jurídica. Precedentes específicos. 2 - Razoabilidade do quantum indenizatório arbitrado na origem restabelecido pela decisão monocrática que deu provimento ao Recurso Especial. 3 - Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg-REsp 860.704; Proc. 2006/0125222-0; DF; TerceiraTurma; Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino; Julg. 12/04/2011; DJE 19/04/2011) CONSUMIDOR. INDENIZATÓRIA C/C DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. CANCELAMENTO DE CONTA BANCÁRIA E INSCRIÇÃO DO NOME DO AUTOR EM ÓRGÃOS RESTRITIVOS SEM PRÉVIA COMUNICAÇÃO. EXISTÊNCIA DE SALDO NEGATIVO, PORÉM DENTRO DO LIMITE DISPONIBILIZADO. INSCRIÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL CONFIGURADO. O autor possuía conta junto ao banco demandado, que, por sua vez, afirma que o débito gerado é oriundo da utilização do limite do cheque especial pelo autor e das taxas de manutenção cobradas, sendo estas devidas, diante dos serviços oferecidos. A referida conta permaneceu inativa, restando saldo negativo, o qual não superava o limite de crédito disponibilizado pela instituição financeira, fl. 09. Entretanto, sem prévio aviso ao correntista, a dívida foi transferida para uma conta em liquidação, e seu nome foi inscrito em órgãos de proteção ao crédito, gerando-lhe surpresa. Dano moral configurado, in re ipsa, ou seja, prescindível de prova do abalo suportado. Quantum arbitrado em r$5.000,00, valor adequado aos parâmetros das turmas recursais cíveis, em casos análogos. Recurso improvido. (TJRS - Rec. 6533-96.2011.8.21.9000; Torres; Segunda Turma Recursal Cível; Relª Desª Fernanda Carravetta Vilande; Julg. 13/04/2011; DJERS 19/04/2011) RESPONSABILIDADE CIVIL. CORTE NO FORNECIMENTO DE ÁGUA. ALEGAÇÃO DE INADIMPLEMENTO. DÉBITO DE TERCEIRO. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. QUANTUM. MITIGAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. Indiscutível o advento do dano moral na hipótese em que o consumidor teve o fornecimento do serviço de água à sua residência interrompido em razão de débito imputável à terceiro, que residira anteriormente no imóvel. Sobrevindo lesão antijurídica ao consumidor em razão do corte indevido dos serviços de água de sua residência, materializa-se o dever de compensá- lo pecuniariamente pelo dano moral suportado, uma vez que esse emerge da própria conduta lesionadora, prescindindo de prova. Em se tratando de danos morais, a condenação pecuniária imposta ao ofensor tem natureza compensatória e penalizante, devendo ser observada, para a fixação do valor devido, a capacidade econômica das partes e a intensidade do dano sofrido. (TJDF - Rec. 2006.01.1.094442-9; Ac. 496.916; Segunda Turma Cível; Relª Desª Carmelita Brasil; DJDFTE 18/04/2011; Pág. 88) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA A inversão do ônus da prova se faz necessária na hipótese em estudo, vez que a inversão é “ope legis” e resulta do quanto contido no Código de Defesa do Consumidor. Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. [ . . . ] § 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. À Réu, portanto, caberá, face a inversão do ônus da prova, evidenciar se a Autora concorreu para o evento danoso, na qualidade de consumidora dos serviços, ou, de outro bordo, em face de terceiro(s), que é justamente a regra do inc. II, do art. 14, do CDC, acima citado. Nesse sentido, de todo oportuno evidenciar as lições de Rizzatto Nunes: “Já tivemos oportunidade de deixar consignado que o Código de Defesa do Consumidor constituir-se num sistema autônomo e próprio, sendo fonte primária (dentro do sistema da Constituição) para o intérprete. Dessa forma, no que respeita à questão da produção de provas, no processo civil, o CDC é o ponto de partida, aplicando-se a seguir, de forma complementar, as regras do Código de Processo Civil (arts. 332 a 443). “( NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011, pp. 215-216) Também é por esse prisma é o entendimento de Ada Pellegrini Grinover: “Já com a inversão do ônus da prova, aliada à chamada ‘culpa objetiva’, não há necessidade de provar-se dolo ou culpa, valendo dizer que o simples fato de ser colocar no mercado um veículo naquela condições que acarrete, ou possa acarretar danos, já enseja uma indenização, ou procedimento cautelar para evitar os referidos danos, tudo independemente de se indagar de quem foi a negligência ou imperícia, por exemplo. “ (GRINOVER, Ada Pellegrini [et tal]. Código de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 158) A tal respeito trazemos à baila as seguintes notas jurisprudenciais: DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. TELEFONIA MÓVEL. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ALTERAÇÃO DE PLANO E COBRANÇA INDEVIDA. DANOS MORAIS. 1. Acórdão elaborado de conformidade com o disposto no art. 46, da Lei nº 9.099/1995 e arts. 12, inciso IX, 98 e 99 do Regimento Interno das Turmas Recursais. Recurso próprio, regular e tempestivo. 2. Usuária de linha telefônica pré-paga que tem o seu contrato alterado para o plano pós-pago, sem solicitação. Alegação da operadora de que a consumidora solicitou alteração no plano, sem respaldo em prova idônea, qual seja, a gravação do serviço de atendimento ao cliente. Inversão do ônus da prova em favor da consumidora, na forma do art. 6º, inciso VIII do CDC. 3. Suspensão dos serviços com grave repercussão no cotidiano da autora. Danos morais caracterizados. Indenização fixada em R$ 5.000,00, que atende aos critérios de repressão e prevenção ao ilícito. Sentença que se confirma pelos seus próprios fundamentos. 4. Recurso conhecido, mas não provido. Custas processuais e honorários advocatícios, no valor de R$ 800,00, pelo recorrente. (TJDF - Rec 2012.01.1.096058-5; Ac. 647.710; Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal; Rel. Juiz Aiston Henrique de Sousa; DJDFTE 25/01/2013; Pág. 437) RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CURTO CIRCUITO EM LINHA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. RELAÇÃO DE CONSUMO. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES E HIPOSSUFICIÊNCIA. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A inversão do ônus da prova é medida excepcional, aplicável nas hipóteses em que forem verificados os requisitos necessários, quais sejam, a verossimilhança das alegações ou quando a parte for hipossuficiente. 2. No caso concreto, à concessionária dos serviços de fornecimento de energia elétrica deve ser imposto o ônus de provar eventual excludente de responsabilidade pelos danos causados por curto circuito em linha de transmissão da rede elétrica. Hipossuficiência do consumidor. (TJMT - AI 13474/2012; Segunda Câmara Cível; Relª Desª Clarice Claudino da Silva; Julg. 16/01/2013; DJMT 24/01/2013; Pág. 34) PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. FORNECIMENTO DE ÁGUA E COLETA DE ESGOTO. COBRANÇA. RELAÇÃO DE CONSUMO. HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA DA AUTORA. CONSTATAÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. Aplicação do artigo 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor. Admissibilidade. Efetiva utilização, pelos réus, dos serviços cobrados. Comprovação. Ausência. Ônus do qual a autora não se desincumbiu. Sentença mantida. Recurso improvido. (TJSP - APL 0486973-44.2010.8.26.0000; Ac. 6444178; São Paulo; Trigésima Segunda Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Rocha de Souza; Julg. 17/01/2013; DJESP 24/01/2013) “PRETIUM DOLORIS” Pelas normas de consumo, resulta expressa a adoção da responsabilidade civil objetiva, assim conceituada pela professora Maria Helena Diniz: " Na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o dano é lícita, mas causou perigo a outrem, de modo que aquele que a exerce, por ter a obrigação de velar para que dele não resulte prejuízo, terá o dever ressarcitório, pelo simples implemento do nexo causal. A vítima deverá pura e simplesmente demonstraro nexo da causalidade entre o dano e a ação que o produziu" (in, Curso de Direito Civil Brasileiro. 24ª ed. Saraiva: 2010, 7º vol, p. 53). ( destacamos ) De outro plano, o Código Civil estabeleceu-se a regra clara de que aquele que for condenado a reparar um dano, deverá fazê-lo de sorte que a situação patrimonial e pessoal do lesado seja recomposta ao estado anterior. Assim, o montante da indenização não pode ser inferior ao prejuízo. Há de ser integral, portanto. HhÁ CÓDIGO CIVIL Art. 944 – A indenização mede-se pela extensão do dano. Nesta esteira de raciocínio, emérito Julgador, cumpri-nos demonstrar a extensão do dano( e não o dano ). Quanto ao valor da reparação, tocantemente ao dano moral, assevera Caio Mário da Silva Pereira, que: “Quando se cuida de reparar o dano moral, o fulcro do conceito ressarcitório acha-se deslocado para a convergência de duas forças: `caráter punitivo` para que o causador do dano, pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa que praticou; e o `caráter compensatório` para a vítima, que receberá uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal sofrido. “ (PEREIRA, Caio Mário da Silva (atualizador Gustavo Tepedino). Responsabilidade Civil. 10ª Ed. Rio de Janeiro: GZ Ed, 2012, p. 78) (destacamos) Nesse mesmo compasso de entendimento, leciona Arnaldo Rizzardo que: “Não existe uma previsão na lei sobre a quantia a ser ficada ou arbitrada. No entanto, consolidaram-se alguns critérios. Domina a teoria do duplo caráter da repação, que se estabelece na finalidade da digna compensação pelo mal sofrido e de uma correta punição do causador do ato. Devem preponderar, ainda, as situaões especiais que envolvem o caso, e assim a gravidade do dano, a intensidade da culpa, a posição social das partes, a condição econômica dos envolvidos, a vida pregressa da pessoa que tem o título protestado ou o nome negativado. “ (RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 4ª Ed. Rio de Janeiro, Forense, 2009, p. 261) No caso em debate, ficou cabalmente demonstrada a ilicitude do defeito na prestação do serviço, o que não se pode negar que este fato trouxe à mesma forte constrangimento, angústia e humilhação, capazes, por si só, de acarretar dano moral de ordem subjetiva e objetiva. Desta maneira, o nexo causal ficou claríssimo. Logo, evidente está o dano moral suportado pela Autora, devendo-se tão-somente ser examinada a questão do quantum indenizatório. É certo que o problema da quantificação do valor econômico a ser reposto ao ofendido tem motivado intermináveis polêmicas, debates, até agora não havendo pacificação a respeito. De qualquer forma, doutrina e jurisprudência são pacíficas no sentido de que a fixação deve se dá com prudente arbítrio, para que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas também para que o valor não seja irrisório. Ademais, a indenização deve ser aplicada de forma casuística, supesando-se a proporcionalidade entre a conduta lesiva e o prejuízo enfrentado pela ofendida, de forma que, em consonância com o princípio neminem laedere, inocorra o lucuplemento da vítima quanto a cominação de pena tão desarrazoada que não coíba o infrator de novos atos. O valor da indenização pelo dano moral, mais, não se configura um montante tarifado legalmente. A melhor doutrina reconhece que o sistema adotado pela legislação pátria é o sistema aberto, no qual o Órgão Julgador pode levar em consideração elementos essenciais, tais como as condições econômicas e sociais das partes, a gravidade da lesão e sua repercussão e as circunstâncias fáticas. Assim, a importância pecuniária deve ser capaz de produzir-lhe um estado tal de neutralização do sofrimento impingido, de forma a "compensar a sens ação de dor" experimentada e representar uma satisfação, igualmente moral. Anote-se, por oportuno que não se pode olvidar que a presente ação, nos dias atuais, não se restringe a ser apenas compensatória; vai mais além, é verdadeiramente sancionatória, na medida em que o valor fixado a título de indenização reveste-se de pena civil. Não precisamos ir longe para compreendermos o potencial financeiro da Promovida, sobretudo quando figura como uma das grandes concessionárias serviço de energia do País. PEDIDOS E REQUERIMENTOS POSTO ISSO, como últimos requerimentos desta Ação Indenizatória, a Autora requer que Vossa Excelência se digne de tomar as seguintes providências: a) Determinar a citação da Requerida, por carta, com AR, instando-a, para, querendo, apresentar defesa no prazo legal, sob pena de revelia e confissão; b) pede-se, de outro lado, sejam julgados procedentes os pedidos formulados nesta ação, condenando a Ré a pagar indenização por danos morais sofridos pela Autora, não menos da quantia de R$ 20.000,00(vinte mil reais), ou sucessivamente, a ser estipulado por V. Ex.ª por equidade; c) que todos os valores acima pleiteados sejam corrigidos monetariamente, conforme abaixo evidenciado: Súmula 43 do STJ – Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo. Súmula 54 do STJ – Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. d) sejam os Requeridos condenados solidariamente ao pagamento de honorários de 20%(vinte por cento) sobre o valor da condenação, mormente levando-se em conta o trabalho profissional desenvolvido pelo patrono da Autora, além do pagamento de custas e despesas, tudo também devidamente corrigido. Em que pese os fatos devam ser analisados COB o prisma da inversão do ônus da prova, protesta-se prova o alegado por todos os meios admissíveis em direito, assegurados pela Lei Fundamental(art. 5º, inciso LV, da C.Fed.), notadamente pelo depoimento do representante legal da Ré, pena de tornar-se confitentes fictos, oitiva de testemunhas a serem arroladas oportuno tempore, junta posterior de documentos como contraprova, perícia, tudo de logo requerido. Atribui-se a presente Ação o valor estimativo de R$ _________ Respeitosamente, pede deferimento. _________, __ de _____ de _____. _____________________ Advogado – OAB � �PAGE � �