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A IMPOSSIBILIDADE DA RESERVA DO POSSÍVEL EM RAZÃO DO MÍNIMO EXIXTENCIAL À SAÚDE 
Andressa Rossi Gelain[1: 	 Acadêmica do 3º período do Curso de Direito do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA-CNEC), e-mail: dessa.tdm@hotmail.com]
Larissa Fraga Parahiba[2: 	 Acadêmica do 3º período do Curso de Direito do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA-CNEC), e-mail: larissafraga2009@hotmail.com]
Patrícia Kunkel dos Santos[3: 	 Acadêmica do 3º período do Curso de Direito do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA-CNEC), e-mail: patriciakunkel@hotmail.com]
Roberta Bortolini Tischler[4: 	 Acadêmica do 3º período do Curso de Direito do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA-CNEC), e-mail: robertabortolinitischler@yahoo.com.br]
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a aplicabilidade da reserva do possível tendo em vista do mínimo existencial à saúde. Levando em conta a dignidade da pessoa humana e outros princípios que rodeiam o problema atualmente no Brasil. Através de pesquisa bibliográfica, o artigo aborda questões de âmbito constitucional, voltados à um objeto diretamente ligado à vida e a saúde. A Constituição Federal de 1988 traz de forma explícita, o direito fundamental à saúde. A importância da saúde se justifica, inclusive, pela adoção do princípio da dignidade da pessoa humana, como um dos fundamentos do Estado. No que toca ao direito à saúde esbarra-se na reserva do possível – a maior “desculpa” utilizada pelo Estado – e de outro lado temos o mínimo existencial, sendo que este deverá prevalecer.
Palavras-chave: Dignidade. Reserva do possível. Mínimo existencial. Saúde. 
ABSTRACT 
This paper aims to examine the applicability of the reservation is possible in view of the existential minimum health . Taking into account the dignity of the human person and other principles that surround the problem currently in Brazil. Through bibliographical research , the article discusses constitutional framework issues, focused on one directly linked to the life and health object. The Federal Constitution of 1988 provides explicitly , the fundamental right to health. The importance of health is justified even by adopting the principle of human dignity , as one of the foundations of the state . As far as the right to health - bumps in reserve as possible - the largest " excuse " used by the State - and on the other hand we have the existential minimum , and this shall prevail.
Keywords: Dignity . Reservation possible. Existential minimum. Health.
INTRODUÇÃO 
A Constituição Federal de 1988 reservou um lugar de destaque para a saúde. Qualificar um dado direito como fundamental, não significa apenas atribuir-lhe uma importância meramente retórica, destituída de qualquer consequência jurídica.
Torna-se extremamente relevante, estudar a saúde sob a nova ótica conferida pela Constituição, traçando-se os limites e possibilidades da concretização judicial desse direito, com apoio na teoria dos direitos fundamentais, que vem sendo desenvolvida no Brasil e em outros países.
Enquanto o poder constituinte (originário) almejou construir um Estado Democrático e Social de Direito, com papel ativo na busca da redução das desigualdades sociais, as políticas públicas recentemente levadas a fio pelo Poder Executivo, com a aprovação do Legislativo, têm caminhado em direção contrária, em que a função do Estado é reduzida, minimizada e enfraquecida, mediante a transferência da prestação dos serviços públicos, inclusive os essenciais, como a saúde, para a iniciativa privada.
A vontade política de fazer valer os direitos constitucionais é praticamente inexistente, o Poder Judiciário, enquanto responsável pela manutenção da superioridade da Constituição, é frequentemente chamado para dirimir conflitos em que, de um lado, está o cidadão, lutando para que as promessas constitucionais sejam efetivamente cumpridas, e, de outro lado, está o Poder Público, que, por ideologia, má gestão ou mesmo por falta de recursos, deixa de cumprir seu dever constitucional.
1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
	Atualmente a dignidade da pessoa humana é um dos pilares mais sólidos do direito brasileiro, é notório seu espaço no meio jurídico mundial. Leigos ou não, grande parte das pessoas têm o conhecimento, mesmo que vago, do uso desse princípio na efetivação e consolidação dos direitos e deveres dos seres humanos na sociedade moderna. Seu conceito é bastante abrangente, sua definição é ampla, pois engloba muitas concepções e significados. Nos primórdios da humanidade, não havia do que se falar sobre esses direitos, de forma ampla, no máximo o que se podia notar eram privilégios sobre classes ou cargos. Pode-se afirmar que os direitos humanos se desenvolveram lentamente com o decorrer dos anos, alavancados pela razão do homem.
	Os referidos direitos tiveram notoriedade no ano de 1945, após potências mundiais se enfrentarem na segunda grande guerra e deixando claro as atrocidades que o ser humano pode fazer a seus semelhantes em nome de um ideal. Neste momento histórico os homens eram tidos como descartáveis e substituíveis, tendo em vista o grandioso número de mortes (cerca de 40 milhões) ao longo dos anos de guerra entre o eixo (Alemanha, Japão e Itália) e os Aliados (China, França, Grã-Bretanha, União Soviética e EUA). Com o fim da Guerra e a comoção que a mesma causou em esfera mundial, ficou a certeza de era necessário tomar providências para evitar que aquela situação voltasse a acontecer, ou pelo menos, criar parâmetros para dificultar um novo conflito. Em vista disso, no mesmo ano do fim da segunda [5: Disponível em http://www.infoescola.com/historia/segunda-guerra-mundial/. Acesso em 18 jun. 2015.]
Guerra, 51 Nações de diferentes partes do mundo fundaram a ONU (Organização das Nações Unidas), tendo como principais objetivos a promoção da paz e a proteção do homem.
A Segunda Guerra Mundial representou um divisor de águas na história dos direitos fundamentais. A comunidade internacional se uniu com a sensação de que se isso fosse feito antes da guerra, as suas proporções teriam sido diferentes. O Pós – Guerra representa a restauração da dignidade da pessoa humana, que é o valor axiológico de todos os direitos fundamentais (DA SILVA, 2012, p. 7).
	A partir da criação da ONU, o mundo passou por um momento de reconstrução. Em 1948, três anos depois de sua criação, a assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou o Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH). Documento é a base da luta universal contra a opressão e a discriminação, defende a igualdade entre as pessoas e reconhece direitos humanos. A DUDH promoveu uma enorme revolução nos textos constitucionais dos países regidos pela ONU. A constituição Brasileira de 1988 é um claro exemplo de carta magma que foi influenciada por esse documento, não é preciso ir muito longe na constituição para notar isso, basta ler alguns incisos do art. 5º da mesma e concluir que o Brasil possui um sistema constitucional de proteção dos direitos humanos.
	Em âmbito nacional a dignidade da pessoa se dá por meio dos direitos fundamentais, que é a forma positivada constitucionalmente dos Direitos Humanos. São vistos como direitos de defesa, ou seja, protegem as pessoas do poder do estado, atuando como um escudo protetor.
Pela primeira vez na história brasileira uma Constituição definiu os objetivos fundamentais do Estado e, ao fazê-lo, orientou a compreensão e a interpretação do ordenamento constitucional pelo critério do sistema de direitos fundamentais. […] A dignidade humana, traduzida no sistema de direitos constitucionais, é vista como o valor essencial que dá unidade e sentido à constituição (apud PITHAN, 2004, p. 62).
	Partindo da certeza de que, por fatos históricos, temos um Estado Constitucional de Direito e que por isso o Estado deve promover a efetivação de direitos fundamentais, pergunta-se até que ponto o Estado está obrigadoà isso. É necessário analisar o mínimo que o Estado deve fornecer ao indivíduo e o máximo que se pode exigir do Estado, tentando proporcionalizar as relações jurídicas no Brasil.
	
1.1 DIGNIDADE HUMANA, MÍNIMO EXISTENCIAL À SAÚDE E RESERVA DO POSSÍVEL
	A nossa atual Carta Magma prevê a garantia de diretos fundamentais como moradia, lazer, segurança, alimentação, entre outros. Mas daremos um enfoque especial à saúde. A saúde é direito constitucional de todos e dever do Estado (Constituição, art. 196). Não se pode dizer que as constituições anteriores à de 1988 foram omissas quanto ao tema, mas foi com essa que tivemos claramente a garantia à saúde positivada. A dignidade humana está intimamente ligada à saúde, pois não há como imaginar a vida digna sem subsídios que garantam a bem estar físico e mental das pessoas.
	“A saúde compõe a dignidade da pessoa humana, como fundamento do Estado Democrático de direito. Abrange integridade física, mental e social do ser humano. Esse é o sentido completo de vida com dignidade.” (MELO, 2008, p. 1139) . O dever de garantir o direito à saúde é concorrente entre a União e os Estados membros, ou seja, tanto um quanto o outro pode agir para assegurar que a população tenha acesso a recursos ligados ao referido direito. Baseados nesse direito, quando o Estado não cumpre seu papel em garantir a saúde, as pessoas podem ajuizar ações para cobrar do governo que cumpra com sua função.[6: Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=0MWRrMmnuIkC&printsec=frontcover&dq=reserva+do+poss%C3%ADvel&hl=ptBR&sa=X&ei=5DiMVZXPJMacNqHOgPgD&ved=0CCEQ6AEwAQ#v=onepage&q=reserva%20do%20poss%C3%ADvel&f=false. Acesso em 22 jun. 2015.]
	Nesses casos surgem dúvidas de quando é obrigação do Estado, e quais os critérios por ele adotados para resolver essas situações. Efetivar os direitos fundamentais não é tão um assunto fácil no Brasil, pois envolvem princípios conflitantes, podendo destacar aqui o mínimo existencial, que em linhas gerais consiste no mínimo para a sobrevivência humana, e a reserva do possível, que seria uma forma do Estado não efetivar os direitos fundamentais alegando falta de recursos financeiros. Em vista disso, todas as ações ajuizadas acerca do tema devem ser analisadas individualmente e proporcionalmente conforme sua urgência e nível de importância, observando as condições financeiras do Estado e os interesses das coletividades.
2 O MÍNIMO EXISTENCIAL E SUA RELAÇÃO COM OS DIREITOS FUNDAMENTAIS CONFORME A CONSTITUIÇÃO
	A questão em volta da garantia do mínimo para uma existência humanamente digna ocupou um posto destacado não apenas na área de processo constituinte, mas inclusive posteriormente a entrada em vigor da Lei Fundamental da Alemanha de 1949, na qual se extraiu da dignidade da pessoa humana, do direito à vida e à integridade física, mediante a interpretação sistemática junto ao princípio do Estado social, o direito a um mínimo de existência, a partir do que determinou um aumento expressivo do valor da ajuda social, valor mínimo que o Estado está obrigado a garantir aos cidadãos carentes. 
	Para que os direitos fundamentais sociais sejam concretizados, o Estado deve agir de forma positiva, gerando e concretizando condições de igualdade. Por sua vez, é na dignidade da pessoa humana que se encontra o rol de direitos considerados vitais a todos os seres humanos. 
	O mínimo existencial é o conjunto de prestações materiais fundamentais para assegurar a cada indivíduo uma vida adequada, no sentido de uma vida saudável. Incluindo neste rol as prestações de alimentos, abrigos, saúde, entre outros. [...] o conteúdo essencial do mínimo existencial encontra-se diretamente fundado no direito à vida e na dignidade da pessoa humana [...]” (FIGUEIREDO; SARLET, 2008).
Deste modo, a dignidade da pessoa humana não requer somente a defesa da liberdade, mas, além disso, o mínimo de segurança social, que é essencial para haver prestações materiais previstas nos direitos fundamentais à saúde, ao salário mínimo, à assistência social, à previdência social e à moradia. Regulamentou-se após anos na Alemanha em nível infraconstitucional o direito a prestação no âmbito da assistência social.
Em suma, o Tribunal Constitucional Federal aprovou o reconhecimento de um direito fundamental à garantia das condições mínimas para uma existência digna. E colocou em prática os esforços necessários para incluir todas as pessoas no direito de uma subsistência mínima, formando instituições assistências fundamentais.
A vida humana não pode ser reduzida à mera existência física e abstrata. Deste modo, a dignidade da pessoa humana só estará amparada quando for possível a vivência que permita o total gozo dos direitos fundamentais.
Na Alemanha a doutrina e a jurisprudência partem de argumentos de que existem diversas maneiras de realizar as obrigações referentes ao mínimo existencial, atribuindo ao legislador à forma que se deve exercer esta prestação, as circunstâncias para seu gozo, entre outros. Sendo que, os tribunais podem decidir sobre este princípio existencial mínimo.
A dignidade da pessoa humana somente estará assegurada, em termos de condições básicas a serem garantidas pelo Estado e pela sociedade, onde a todos e a qualquer um estiver garantida igualmente uma vida saudável. 
Já no Brasil, apesar de que não há uma previsão constitucional explicita legitimando um direito à defesa do mínimo existencial, existe a garantia de uma existência digna que contém os princípios e objetivos da ordem constitucional, no seu (art. 170, caput) da Constituição Federal:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social.”
Frisa-se, assim, que:
[...] o que importa, nesta quadra, é a percepção de que a garantia (e direito fundamental) do mínimo existencial independe de expressa previsão constitucional para poder ser reconhecida, visto que decorrente já da proteção da vida e da dignidade da pessoa humana.” (FIGUEIREDO; SARLET, 2008). 
Em síntese, a garantia do mínimo existencial assume notável importância quando se trata da efetivação dos direitos fundamentais como direitos a prestações. Deduz-se que as prestações necessárias à efetivação dos direitos fundamentais dependem da disponibilidade financeira e da capacidade jurídica de quem tenha o dever de assegurá-las. Por conta disto, sustenta-se que os direitos a prestações e o mínimo existencial encontram-se condicionados pela assim designada “reserva do possível” e pela relação que esta guarda, entre outros aspectos, com as competências constitucionais, o princípio da separação dos poderes, a reserva de lei orçamentária, e o princípio federativo.
3 RESERVA DO POSSÍVEL
3.1 ORIGENS DA RESERVA DO POSSÍVEL E SUA INTRODUÇÃO NO BRASIL
A teoria da reserva do possível teve origem na Alemanha (a partir dos anos 70) e discutia a limitação do número de vagas nas universidades públicas alemãs. Estudantes que não haviam sido aceitos em universidades de medicina de Hamburgo e Munique, em razão da política de limitação de vagas em cursos superiores, ingressaram com uma ação judicial se baseando em um artigo que dizia que todos os alemães tinham o direito de escolher sua profissão, local de trabalho e seu centro de formação. Mas, aplicando a teoria da reserva do possível, a Corte alegou que só poderia ser exigido o que razoavelmente pudesse ser feito pelo Estado. Ou seja, não se deveria analisar somente a situação financeira, mas sim se há razoabilidade da pretensão proposta.
Já no Brasil a interpretação da teoria se transformou em uma teoria da reserva do financeiramente possível; a possibilidade financeira tornou-se argumento da distorção da teoria Alemã. E a reserva do possível passou a ser utilizada como justificativa para ausência Estatal.
 “Fato inegável é que sob a argumentação da reserva do possível passou-se a legitimar a não realização de direitos fundamentais sociais,especialmente em sua dimensão prestacional. E, com isso, os valores sociais consagrados na Constituição Federal de 1988 foram abalados.” (OLSEN, 2008, p.19).
A reserva do possível acabou sendo um verdadeiro argumento do Estado para não cumprir com o papel que a própria Constituição lhe conferiu.
3.2 LIMITES DO ORÇAMENTO PÚBLICO
Os recursos para que os direitos fundamentais sejam assegurados são escassos. E considerando que os recursos financeiros são limitados, muitas vezes, direitos sociais importantes, podem ter sua efetivação prejudicada, em detrimento do grande número de pessoas que necessitam de tal ajuda.
No campo da saúde, por exemplo, há inúmeras decisões judiciais obrigando os estados a fornecerem determinados medicamentos ou cirurgias, cujos custos financeiros para efetuar tais coisas chegam a alcançar valores exorbitantes. Assim os responsáveis pela representação judicial dos entes estatais, buscaram argumentações que pudessem apresentar uma solução, com embasamento jurídico, capaz de impedir que tais situações venham afetar o funcionamento da estrutura estatal. E essa solução é dada pela adoção do princípio da reserva do possível.
Quando o Estado se depara com um direito fundamental amparado pelo mínimo existencial, ele alerta que deve ser observada a reserva orçamentária que ele tem disponível, ou seja, o Estado realiza somente o que está dentro de sua capacidade econômica. Mas cabe destacar que jamais uma impossibilidade orçamentária remota ou inexistente do Estado em oferecer o mínimo existencial poderá impedir a eficácia dos direitos fundamentais considerados essenciais, justos e basilares. O Estado tem o dever de concretizar os direitos postulados na Constituição Federal e os princípios ligados a ela, com o fim de garantir à pessoa humana uma vida digna.
O argumento da escassez de recursos deverá ser investigado a fundo quando confrontado com a realização de um direito fundamental social prestacional. A proporcionalidade em sentido de proibição de insuficiência se mostra como um valioso instrumento à disposição do Judiciário para que a atuação restritiva do Estado seja devidamente avaliada e ponderada, de modo a se proibir que prestações determinadas pela Constituição sejam negligenciadas.
E o Estado arrecada tributos através de impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais, então o mínimo que há de ser executado em benefício dos cidadãos é justamente o efetivo cumprimento dos direitos mais importantes, os direitos e garantias fundamentais.
 “Verifica-se que para o STF a reserva do possível é vista como uma questão que envolve a “insuficiência de disponibilidade financeira e orçamentária” e que não pode ser invocada “com o propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição”. Ademais, a reserva do possível, também na visão do STF, não pode servir de argumento para a não implementação dos direitos que integram o mínimo existencial.” (FALSARELA, 2012, p.11).
3.3 PONDERAÇÃO
Com relação à ponderação, haverá que se analisar se há uma real impossibilidade de realização do direito – no caso da escassez essencial de recursos, como, por exemplo, a inexistência de órgãos para um transplante que poderia salvar a vida de um indivíduo. Portanto, reserva do possível determina que um direito só poderá ser exigido dentro das condições fáticas existentes.
Sempre que o Judiciário tiver que decidir sobre a exigibilidade de um determinado direito social, se ele entender pelo afastamento ou pela aplicação do limite da reserva do possível, esta decisão precisará ser racionalmente fundamentada.
 “Portanto, a reserva do possível não compreende tão somente a existência de destinação orçamentária e de recursos em caixa. A mera disponibilidade financeira não conduz necessariamente ao fornecimento da prestação visada, devendo ser examinada a razoabilidade da pretensão.” (FALSARELA, 2012, p.13).
A alegação, pelos poderes públicos, de que não dispõem de recursos suficientes para a satisfação de uma pretensão deverá passar pelo crivo da proporcionalidade. Esta escassez de recursos deverá ser necessária e proporcional.
4 O DIREITO À SAÚDE COMO GARANTIA E OBRIGAÇÃO, E SUA APLICABILIDADE ENTRE A RESERVA DO POSSÍVEL E O MÍNIMO EXISTENCIAL
	A saúde é indispensável para o ser humano, na qual se constata que é um direito fundamental de todos e consequentemente um dever do Estado. O dever fundamental de proteção da saúde gera repercussão na posição das relações entre particulares (penal e cível), visto que estes se encontram também relacionados às normas que asseguram direitos e impõe deveres fundamentais.
O Estado deve garantir a todos qualidade de vida suficiente para evitar o risco de adoecer, ou seja, adotar políticas sociais e econômicas que assegurem tudo o que interfere e condiciona a saúde individual e coletiva. “[...] diretamente da dicção do texto constitucional, que, no artigo 196, prescreve que a ‘saúde é direito de todos e dever do Estado’ [...]”. (FIGUEIREDO; SARLET, 2008). 
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”
Contudo, o cidadão passou a ter que obedecer o que está estipulado na lei, para conseguir o tratamento adequado para o seu problema ou o medicamento que necessite.
	A saúde na esfera de bem jurídico, contempla o sistema de proteção internacional e o nacional, no qual é marcada tanto pela existência de uma separação entre os diversos males que a afetam e as medidas para sua conservação e proteção.
	Desta forma, o direito à saúde é um privilégio a qualquer pessoa humana, independente se for brasileiro ou não. Os direitos sociais são continuamente individuais e, portanto, direitos de todos e de cada um, o que assume particular relevância no campo da saúde. 
	A respeito dos direitos fundamentais em relação à saúde, há duas divisões que podem ser feitas, uma em relação aos direitos de defesa, no qual o direito à saúde assume a condição de um direito à proteção contra ameaças a esse direito. E outra acerca das prestações, onde o direito à saúde pressupõe a realização de atividades por parte do destinatário que asseguram o gozo do direito.
	Assim sendo, constata-se a obtenção de medidas para assegurar o direito à saúde de cada indivíduo, fornecendo serviços e medicamentos para as pessoas, além da organização das instituições e ações prestadas a este membro da sociedade.
	Ao poder público incumbe formular e implementar políticas sociais e econômicas que visem a garantir aos cidadãos o acesso universal e igualitário à assistência médico hospitalar.
A Constituição protege a cura e a prevenção de doenças através de medidas que asseguram a integridade física e psíquica do ser humano como consequência direta do fundamento da dignidade da pessoa humana. Como relatam FIGUEIREDO e SARLET: 
“[...] a Constituição de 1988 conecta-se com a chamada “saúde curativa”, quer dizer, a garantia de acesso dos indivíduos aos meios que lhes possam trazer, senão a cura da doença, pelo menos uma sensível melhora na qualidade de vida, o que, de modo geral, ocorre nas hipóteses de tratamento contínuo. Além disso, as expressões “redução do risco de doença” e “proteção” parecem guardar relação com a idéia de “saúde preventiva”, isto é, a efetivação de medidas que tenham por escopo evitar o surgimento da própria doença, inclusive pelo contágio[...]” (FIGUEIREDO; SARLET, 2008).
Hoje, o cidadão mais consciente de seus direitos, busca a tutela jurisdicional para ver atendida sua necessidade de saúde, mediante a propositura de ações, que vão desde aquelas objetivando o fornecimento de remédios, à realização de exames, cirurgias e tratamentos diversos.
Mas FIGUEIREDO e SARLET deixam bem explícito que:
“[...] a interpretação do conceitode saúde e do próprio mínimo existencial deverá sempre levar em consideração a realidade circundante (cultural, social, geográfica e climática, etc.) e as circunstâncias pessoais do titular [...]” (FIGUEIREDO; SARLET, 2008).
	O direito à saúde encontra-se afetado pela reserva do possível seja pela disponibilidade de recursos existentes, seja pela capacidade jurídica dele se dispor, porém o princípio da reserva do possível em tema orçamentário não assume caráter absoluto. Em contrapartida, a garantia de um direito fundamental ao mínimo existencial opera como regra mínima dessa efetividade, impedindo tanto omissões quanto medidas de proteção e promoção insuficientes por partes estatais. Diante disso, FIGUEIREDO e SARLET mencionan que:
[...] em matéria de tutela do mínimo existencial (o que no campo da saúde, pela sua conexão com os bens mais significativos para a pessoa) há que reconhecer um direito subjetivo definitivo a prestações e uma cogente tutela defensiva, de tal sorte que, em regra, razões vinculadas à reserva do possível não devem prevalecer como argumento a, por si só, afastar a satisfação do direito e exigência do cumprimento dos deveres, tanto conexos quanto autônomos, já que nem o princípio da reserva parlamentar em matéria orçamentária nem o da separação dos poderes assumem feições absolutas [...]” (FIGUEIREDO; SARLET, 2008).
	Há uma grande desigualdade social ao abordarmos a questão de quando os serviços de saúde prestados pelo poder público são gratuitos e os denominados planos de saúde privados. Por isso, a questão sobre gratuidade do acesso a saúde requer que seja melhor discutido, no mínimo para uma distribuição mais igualitária, potencializando assim o acesso em termos do número de pessoas abrangidas pelo sistema e buscando uma maior qualidade dos serviços.
	Neste sentido, tem-se a necessidade de efetivação do mínimo existencial, num sentido de que a garantia resguarda o direito de ser tratado como igual, e não precisamente o direito a prestações iguais, cabendo ponderações conforme a hipótese de fato. 
	Em relação à reserva do possível, além das questões orçamentárias, abrange também outros enfoques, como a disponibilidade efetiva de leitos, aparelhos médicos avançados, profissionais de saúde habilitados, entre outros. Segundo FIGUEIREDO e SARLET: [...] “assume relevo a exigência de capacidade de decisão específica (perícia) acerca das diretrizes terapêuticas a serem observadas quanto à prestação de saúde requerida [...]”(FIGUEIREDO; SARLET, 2008).
	As exigências do mínimo existencial podem ser comuns a uma comunidade de pessoas, mas o remédio deve ser adequado ao mal específico de cada um e, ser apropriado ao tratamento naquele caso, isto sem adentrar a questão da atualização periódica dos protocolos, entre outras questões.
Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade devem servir como meio de decisão judicial. O Estado não será condenado ao fornecimento ou custeio de todo medicamento ou tratamento que vier a ser criado ou descoberto, conforme a evolução científica, ainda que oportunamente aprovado pelo órgão sanitário técnico competente.
	Muitas vezes a prestação pressuposta refere-se ao mínimo existencial e, portanto, com a garantia da dignidade na vida das pessoas que buscam tratamento, analisa-se que um dos pontos mais importantes seja uma revitalização do papel ativo do Poder Judiciário.
	Portanto, mesmo que o tratamento pedido não se tenha em listas oficiais, aparenta-se inevitável que o juiz deva consumar o caso. Para isso, deverá formular dúvidas quanto ao receituário médico e, sendo necessário, solicitar o auxílio de profissional especializado, no sentido de certificar-se da eficiência e segurança do tratamento requerido pela pessoa interessada. Caso não haja protocolos clínicos deve-se ter uma prova científica.
Em suma, não se devem confundir os aspectos e ligações da reserva do possível com o inadmissível bloqueio da eficácia e estabilidade do mínimo existencial, que tem como principal foco uma vida humana digna.
CONCLUSÃO
Diante da escassez de recursos e da multiplicidade de necessidades sociais, cabe ao Estado efetuar escolhas, estabelecendo critérios e prioridades. Tais escolhas consistem na definição de políticas públicas, cuja implementação depende de previsão e execução orçamentária. 
As escolhas realizadas pelo Estado devem ser pautadas pela Constituição Federal, documento que estabelece os objetivos fundamentais que deverão ser satisfeitos pela autoridade estatal. 
Não se nega que políticas públicas não são de fácil implementação e que não possam produzir efeitos de uma hora para outra, mas é dever do Estado agir para minimizar as desigualdades sociais. E é obrigação do mesmo prover o mínimo existencial do cidadão para que tenha uma vida digna, mas tem que haver proporcionalidade e ser razoável no que tange a pedidos de ajuda do Estado. Não se leva em conta só o orçamento nem só a necessidade, tem que ter uma ponderação. Confirmando assim as hipóteses de que o Estado deve oferecer o mínimo a sociedade, mas não tudo que a sociedade quer. 
REFERÊNCIAS
DA SILVA, Raphael Lemos Pinto Lourenço. Dignidade da Pessoa Humana: origem, fases, tendências, reflexões. Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, 2012.
FALSARELA, Christiane. Reserva do Possível como aquilo que é razoavelmente se exigir do estado. Disponível em:<http://www.apesp.org.br/comunicados/images/tese_christiane_mina_out2012.pdf>. Acesso em: 11 de jun. de 2015.
FLORES, Maria Dal Zot. Mínimo existencial – uma análise à luz da teoria dos direitos fundamentais. Disponível em:<http://www.upf.br/seer/index.php/rjd/article/view/2167/1399>. Acesso em: 18 de abr. de 2015.
GOMES, Cristiana. Segunda Guerra Mundial. Disponível em http://www.infoescola.com/historia/segunda-guerra-mundial/. Acesso em 18 jun. 2015.
MELO, José Tarcízio de Almeida. Direito Constitucional do Brasil. São Paulo: Del Rey LTDA, 2008.
OLSEN, Ana Carolina Lopes. Direitos Fundamentais Sociais: Efetividade frente a reserva do possível. Disponível em:< https://books.google.com.br/books?id=0MWRrMmnuIkC&printsec=frontcover&dq=reserva+do+poss%C3%ADvel&hl=ptBR&sa=X&ei=5DiMVZXPJMacNqHOgPgD&ved=0CCEQ6AEwAQ#v=onepage&q=reserva%20do%20poss%C3%ADvel&f=false>. Acesso em: 22 de juh. de 2015.
PITHAN, Lívia Haygert. A dignidade humana como fundamento jurídico das “ordens de não ressuscitação” hospitalares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
SARAIVA; CURUIA, Luiz Roberto; CÉSPEDES, Livia; NICOLETTI, Juliana. Constituição Federal (1988). Vade Mecum. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Reserva do possível, mínimo existencial e direito à saúde: algumas aproximações. 2008. Disponível em:<http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/index.htm?http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao024/ingo_mariana.html>. Acesso em: 18 de juh. 2015.

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