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O conceito de estrutura em Lévi Strauss.docx

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Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Faculdade de Ciências e Letras – Campus de Araraquara
Curso de Ciências Sociais
Disciplina: Antropologia III
Docente: Profª Drª Renata Medeiros Paolielo
Discente: Gisele Fernanda Alves Lopes
Data: 14 de maio de 2008
Avaliação 1: (Escolher uma dentre as cinco questões propostas e respondê-la em aproximadamente duas páginas).
2) Defina os conceitos de sistema, estrutura e modelo, nos termos da perspectiva estruturalista, e a relação entre eles. Explique como esta construção teórica dá suporte à formulação do método estrutural enquanto método de análise cujo objetivo é o de permitir a conversibilidade entre os diversos sistemas de verdade. Explique porque esta construção teórico-metodológica se funda na concepção lévi-straussiana da realidade social como realidade simbólica, e do objeto antropológico como objeto simbólico, por sua vez referida a uma teoria do simbolismo que vê os sistemas de símbolos como códigos (perspectiva semiológica) mutuamente conversíveis porque estruturalmente homólogos, embora distintos quanto a sua matéria. Vincule esta construção à problemática epistemológica do kantismo. Por fim, aponte a diferença entre o conceito de estrutura de Lévi-Strauss e o de estrutura social formulado por Radcliffe-Brown e as questões relativas à generalização e à comparatibilidade ligadas a esta diferença conceitual.
	O conceito de estrutura formulado por Lévi-Strauss toma emprestado de outras áreas do conhecimento, notadamente da matemática, e mais ainda da semiologia saussariana, noções centrais para sua construção. Da matemática temos que a estrutura se constituiria em uma forma, abstrata e vazia, que ganharia significado quando preenchida por um modelo – este de caráter particular, concreto e de conteúdo variável. Da lingüística, a noção de sistema foi a que legou maior contribuição ao estruturalismo. Os elementos (no caso da lingüística, os termos de uma língua) são solidários e só possuem valor e significação na presença simultânea de outros termos.
	Para que um modelo esteja apto a pertencer a uma estrutura (ou seja, ser um modelo estrutural), deve preencher quatro características básicas:
Apresentar caráter de sistema, o que significa que deve ser constituído de elementos integrados, de forma que, uma modificação em um dos elementos constituintes provoque mudanças também nos outros.
Deve pertencer a um grupo de transformações, onde cada um destes grupos corresponda a um modelo de mesmo tipo. Assim, um conjunto de transformações acabaria por constituir um grupo de modelos.
Levando em conta os dois itens anteriores, deve ser possível prever como reagirá o modelo em caso de modificação de algum de seus elementos.
A construção do modelo deve ser tal que o seu funcionamento possa explicar todos os fatos observados.
Além dos fatores precedentes, para Lévi-Strauss a estrutura se constrói a partir de “oposições binárias pertinentes”. Isso implica que as partes, na estrutura, só tem significação a partir de suas relações umas com as outras, não significando nada sozinhas; implica também na eliminação dos elementos não pertinentes e também na consideração das menores partes significativas para a construção da estrutura. A partir daí Lévi-Strauss caracteriza a estrutura como um sistema de relações – e é de sistemas deste tipo que se constitui a sociedade.
A perspectiva estruturalista é universalista, tanto na formação conceitual do que seja estrutura, quanto na crença da universalidade da natureza humana. Isso leva o autor a tratar a estrutura como um sistema de leis constantes do espírito – simbólicas, portanto, e não pertencentes ao campo do empiricamente observável.
A cultura e a linguagem se apóiam em estruturas inatas e simbólicas, que são responsáveis pela constituição do social, fazendo-o através de relações que, por sua vez, formam conjuntos de sistemas de comunicação, dos quais os principais, em qualquer sociedade, são o parentesco (troca de mulheres), a economia (troca de bens) e a linguagem (troca de palavras).
Estes sistemas de signos, na análise da estrutura, possuem a característica fundamental de serem “traduzíveis”, através da substituição de um modelo por outro. Isto é possível por que a estrutura se remete ao mesmo conjunto de leis e relações, na análise do sistema – a estrutura possui caráter universal e invariável (pois se refere a sistemas homólogos), aplicável à análise de qualquer sociedade: as variações, pertencentes ao campo daquilo que é concreto, observável e particular são atribuições do modelo. Fazendo uma analogia com a linguagem, é como se a estrutura fosse o amplo sistema de relações da comunicação humana, responsável pela atribuição de significado, e os modelos fossem os idiomas, traduzíveis de um para outro, mas mantendo a mesma relação de correspondência de um enunciado.
Ao compreender a estrutura desta forma, Lévi-Strauss une-se à problemática colocada anteriormente pelo kantismo: as categorias fundamentais do pensamento que Kant propõe são inatas, formadoras da estrutura do pensamento humano. Mas o mundo e os fenômenos não podem ser apreendidos apenas pela razão – é a experiência sensível que, organizada pelas categorias (leis do pensamento) dará significado aos fenômenos – seria a atividade do espírito de impor formas a um determinado conteúdo.
Quanto à análise do objeto antropológico, estabelece-se o curioso paradoxo de que a ciência etnológica seja ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, pois a apreensão da cultura de uma outra sociedade se dá a partir da intersecção de duas subjetividades. Embora a experiência de uma sociedade que serve de objeto de estudo ao etnólogo seja objetiva, a única forma que o pesquisador pode apreendê-la é através da sua subjetividade.
O conceito de estrutura de Lévi-Strauss marca uma importante diferença em relação ao conceito de estrutura social formulado por A.R. Radcliffe-Brown. Enquanto que para o primeiro a estrutura é um sistema de relações simbólicas, operando no campo do abstrato, para o segundo a estrutura social corresponde a uma rede de relações sociais concretas e observáveis. Dada esta diferença fundamental, é possível inferir que o conceito de estrutura social de Radcliffe-Brown, ao contrário do de Lévi-Strauss, remete a realidades empíricas e por isso não pode ser generalizado – a comparação entre os modelos diversos que as sociedades constróem, para o antropólogo inglês, seria uma comparação entre estruturas. De maneira oposta, para Lévi-Strauss, o conceito de estrutura, sendo abstrato, se constitui em um método de análise que não se restringe à antropologia, e que permite a comparação de uma mesma função – se é possível dizer assim – expressa por sistemas, em várias sociedades diferentes. Sendo assim, o que para Radcliffe-Brown é a estrutura social, para Lévi-Strauss corresponderia aos modelos.

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