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ED 2 Infeção Hospitalar

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34 
 
Infecção Hospitalar e Seu Controle 
 
 
Denise Marangoni 
Marisa Santos 
 
Conceito 
O termo infecção hospitalar (IH) ou nosocomial foi substituído por infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS), 
como forma de abranger infecções em áreas emergentes tais como assistência domiciliar, hospitais de pacientes crônicos, 
clínicas de procedimentos ambulatoriais, etc. A IRAS é definida, então, como complicação infecciosa relacionada à assis-
tência prestada ao paciente em sua doença de base e, para tanto, tem que ser adquirida após o início da assistência (ausência 
de sinais clínicos e/ou laboratoriais anteriores) e pode se manifestar durante a internação ou mesmo após a alta, quando puder 
ser relacionada com a assistência. 
Existe ainda o critério temporal segundo o qual, para ser IRAS, a infecção não pode estar no período de incubação no 
momento do início da assistência. Assim, para infecções bacterianas em que o período de incubação não é uniforme para 
todos os pacientes, arbitrariamente são consideradas hospitalares quando se manifestam após 48 horas. As infecções com 
período de incubação regular serão rotuladas como hospitalares quando se manifestarem após este período (p.ex. varicela será 
considerada hospitalar quando manifestada após 21 dias). 
Histórico 
Na verdade, a história das IRASs, como são entendidas hoje, faz parte de todo o desenvolvimento da medicina, desde os 
primeiros procedimentos invasivos, a criação dos hospitais, o descobrimento dos microrganismos e, posteriormente, dos 
antibióticos. 
Fernandes (2000) fez uma extensa revisão histórica das infecções hospitalares, de onde foram retiradas as informações 
que serão apresentadas neste tópico. 
Os primeiros hospitais já trouxeram para a população o medo de contrair doenças no seu interior e de morrer devido a 
estas doenças. O hospital Hôtel Dieu em Paris, fundado no século VII, chegou a ter no século XVIII cerca de 2.000 leitos nos 
quais eram mantidos mais de 5.000 pacientes (alguns leitos com 3 pacientes). Nas epidemias, cada leito era ocupado por até 
sete pacientes. Durante uma epidemia de febre puerperal neste hospital, em 1746, morreram 19 de cada 20 parturientes. Em 
relação aos pacientes cirúrgicos, na sala de operações ficavam, ao mesmo tempo, os pacientes que estavam sendo operados, 
os que já haviam sido, e os que aguardavam a cirurgia. Uma comissão de peritos nomeada pelo rei Luís XVI em 1777 para 
analisar a situação, propôs medidas de controle brilhantes, tais como, locais específicos para o preparo dos pacientes que 
seriam operados e para o pós-operatório, que a sala cirúrgica fosse específica para este fim e que fosse construída de maneira 
que a operação pudesse ser observada de fora para evitar um grande número de pessoas dentro da sala, medidas de higiene e 
preparo mental para os pacientes, e limpeza do ambiente hospitalar. 
Na Inglaterra, em 1751, antes do descobrimento dos microrganismos, Burton já considerava contagiosa a febre puerperal 
que causava grande mortalidade materno-infantil nas maternidades, e Charles White foi pioneiro em suas recomendações de 
limpeza do ambiente e lavagem das mãos de médicos e parteiras, reduzindo a taxa de mortalidade materna que era de 
24/1.000 no período de 1749 a 1758 para 3,5/1.000 em 1789 a 1798 no Hospital Britânico de Partos. 
Quase um século após, em 1846, Semmelweis realizou um trabalho epidemiológico pioneiro em sua abordagem completa 
da febre puerperal: identificação do problema, da causa, proposição de medidas de controle e avaliação dos resultados. 
Iniciou seus estudos sobre a doença num grande hospital de Viena onde foi admitido como assistente na Clínica Obstétrica. A 
maternidade era dividida em duas unidades, a primeira para o ensino de médicos e a segunda para o de parteiras. A morta-
lidade materno-infantil na primeira unidade (atendida apenas por médicos) era três a dez vezes maior do que na segunda 
(atendida apenas por parteiras). Semmelweis dedicou sua vida a entender estas diferenças de taxas que, segundo ele esperava, 
poderiam explicar as verdadeiras causas desta doença. Começou com observação minuciosa do que acontecia nas duas 
unidades, suas condições ambientais, a distribuição das pacientes, suas diferenças sociais, fez exames clínicos e autópsias e 
levantamento bibliográfico para avaliar teorias e propostas anteriores, e nada explicava as diferenças. O esclarecimento veio 
com a morte de um colega médico que, durante uma autópsia de uma paciente que morreu com febre puerperal, foi ferido no 
braço pelo bisturi de um estudante e desenvolveu uma doença em tudo semelhante à das parturientes, inclusive os achados de 
autópsia. Concluiu, então, que o bisturi havia introduzido na lesão partículas de decomposição de matéria cadavérica que, no 
caso das parturientes, seriam levadas pelas mãos dos médicos e seus discípulos, ao examinarem-nas após fazerem autópsias. 
Na segunda unidade, as parteiras não dissecavam cadáveres e aí estava a diferença que explicava as taxas de mortalidade. 
Analisou as taxas históricas da maternidade e verificou que a mortalidade aumentou com o início das autópsias, e diminuiu no 
período em que ele se afastou da maternidade para descanso, período em que foram diminuídas as autópsias. Quis comprovar 
esta hipótese fazendo um estudo de taxas de mortalidade por cada médico, correlacionado-as com sua participação prévia em 
autópsias. Infelizmente foi impedido de realizar este estudo porque foi interpretado como base para denúncias pessoais. A 
partir da hipótese, Semmelweis propôs as medidas de controle que foram: isolamento das parturientes acometidas, lavagem 
das mãos dos médicos e estudantes com água clorada após as autópsias e entre os exames nas pacientes, e fervura do ins-
trumental e utensílios. A taxa de mortalidade caiu de 18%, no mês anterior às medidas, para uma média de 3% a partir do mês 
posterior. No ano seguinte, a média de mortalidade na primeira clínica foi de 1,27%, inferior à da segunda que foi de 1,33%. 
Semmelweis falhou apenas na estratégia de conscientização dos profissionais de saúde, que se revoltavam frente às suas 
medidas de controle cada vez mais rígidas. 
Ainda hoje (2011), um século e meio após, a higiene das mãos é considerada a principal medida isolada de controle de IH, 
e um dos maiores desafios das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) é conseguir a adesão dos profissionais 
de saúde a esta medida. 
O século XIX também foi palco da descoberta dos microrganismos e de sua participação nas infecções, e da consequente 
substituição da teoria miasmática (coisas desconhecidas presentes no ar) pela teoria microbiana. O reflexo destes fatos para o 
entendimento da IH foi muito importante. Em 1886, Ernest von Bergmann observou que os microrganismos eram transmi-
tidos pelas mãos dos cirurgiões, seus instrumentais e pelas esponjas muito utilizadas nas cirurgias, e que no ar os germes eram 
raros e geralmente inofensivos para o homem. Houve desenvolvimento da esterilização instrumental, inclusive pelo vapor 
d’água, importantíssimo até hoje. O método de Lister (desinfecção do ar da sala de cirurgia e do campo operatório por fenol) 
foi sendo substituído pela assepsia, através de aventais e instrumentais cirúrgicos esterilizados, e em seguida, pelo uso de 
máscaras e de luvas cirúrgicas. 
A chegada dos antibióticos no século XX e sua imediata aplicação na profilaxia cirúrgica (considerada, na época, como 
assepsia interna) causaram um certo descuido com as medidas de assepsia externa, o que foi responsável, pelo menos em 
parte, pelos resultados menos favoráveis que os esperados com a profilaxia antibiótica. 
A organização de equipes permanentes para controle de IH (CIH) aconteceu já na metade do século XX, nos EUA, devidoà ocorrência crescente de infecção por Staphylococcus aureus cada vez mais resistente aos antibióticos que vinham sendo 
desenvolvidos. Estas equipes eram formadas por profissionais de saúde interessados, voluntários, e deveriam trabalhar na 
retomada da importância da assepsia nos procedimentos invasivos e na desinfecção ambiental. 
O primeiro livro específico sobre IH foi publicado em Londres em 1960. No decorrer dessa década, bactérias Gram ne-
gativas e fungos mostraram-se também importantes nas IHs, especialmente em pacientes imunodeprimidos e nos submetidos 
a procedimentos invasivos. No início dessa década, nos Estados Unidos da América (EUA), foi realizada uma conferência 
nacional sobre IH, dando ênfase à organização de sistema de vigilância epidemiológica e à educação de profissionais de 
saúde para trabalharem em equipes de controle de infecção. Em 1965 teve-se conhecimento de um caso de IH levado aos 
tribunais e, em seguida vários outros, o que contribuiu para a instalação de equipes de controle de infecção pelos hospitais 
americanos, já que a existência destas comissões era o primeiro passo para a defesa do hospital ou do médico na justiça. 
A primeira conferência internacional sobre IH foi realizada nos EUA no início da década de 1970 e fez várias reco-
mendações: a existência de um programa de CIH em nível nacional e de cada instituição; vigilância ativa das IH (notificação 
dos casos, não pelos médicos assistentes, mas pela equipe de CIH); análise epidemiológica dos dados obtidos para tomada de 
decisões; uma enfermeira exclusiva em CIH para cada 250 leitos do hospital; e um coordenador da CCIH denominado 
epidemiologista hospitalar. Em 1972 o Centers for Diseases Control and Prevention (CDC) fundou o National Nosocomial 
Infection Surveillance (NNIS) para obter dados nacionais de IH, através da participação voluntária de hospitais, e foi fundada 
a primeira Associação de Funcionários em CIH nos EUA. Ainda nessa década foi iniciado o Projeto SENIC (Study of Efficacy 
of Nosocomial Control) um importante estudo sobre a eficácia das CCIHs e seu custo/benefício, e a Joint Commission on 
Accreditation of Hospitals incorporou a vigilância epidemiológica aos requisitos necessários para acreditação dos hospitais 
americanos. 
Nos anos 1980, houve aperfeiçoamento da vigilância epidemiológica com informatização dos dados, aumento dos estudos 
de custo/benefício das medidas de controle, e dos fatores de risco para as IHs. Em 1985 foi finalizado o Projeto SENIC, 
trazendo conclusões favoráveis à eficácia das CCIHs e ao seu custo/benefício, o que constituiu outro incentivo para a criação 
de CCIHs, reforçado ainda pela instituição de um novo sistema de pagamento hospitalar com base no diagnóstico, no qual 
apenas 5% do gasto no tratamento de IHs eram reembolsáveis. A epidemia de síndrome de imunodeficiência adquirida 
(AIDS), naquela década, contribuiu para o desenvolvimento das medidas de isolamento e das precauções adotadas pelos 
profissionais de saúde durante o atendimento de qualquer paciente (precauções padrão ou universais). No final da década, 
teve início a uma expansão da epidemiologia hospitalar para estudo não só de complicações infecciosas, mas também de 
outras naturezas, relacionadas à assistência, integrando-se então o CIH na visão de qualidade da assistência prestada ao 
paciente. 
Nos anos 1990, toda a abrangência do CIH ficou bem estabelecida, interagindo com todos os setores do hospital: admi-
nistração (aconselhamento sobre o custo/benefício de padronização de novos materiais e insumos, participação ativa na 
planta adequada de arquitetura nas expansões hospitalares, e assessoria nos processos jurídicos); na educação dos profissi-
onais de todos os setores para prevenção de infecções; no aconselhamento aos médicos sobre o uso adequado de antibióticos; 
na vigilância sobre a potabilidade da água de todos os setores; com os serviços cirúrgicos e com as unidades de terapia 
intensiva na prevenção das infecções relacionadas aos procedimentos invasivos; com a farmácia na padronização de anti-
microbianos; com o laboratório de microbiologia no controle de microrganismos multirresistentes; na relação das autoridades 
sanitárias com a administração e a equipe de assistência; e com a saúde ocupacional, prevenindo IH e acidentes nos profis-
sionais de saúde. 
Apesar de todo o desenvolvimento do CIH, as IRASs se mantêm importantes devido ao prolongamento da vida da po-
pulação em geral e, em particular, de pacientes crônicos e imunodeprimidos, aliado ao desenvolvimento de tecnologia mul-
tiinvasiva da medicina , ambos aumentando a chance de complicação infecciosa. Além disto, o aumento de internações 
domiciliares e de internações de curta permanência (hospital-dia), aumenta a proporção de pacientes graves nos hospitais 
gerais, necessitando de assistência muito invasiva, provocando uma tendência ao aumento da taxa de IH. Atualmente os 
avanços na estatística e na biologia molecular têm permitido estudos mais completos dos fatores de risco para IH, para 
infecção por microrganismos multirresistentes e de surtos. 
Na Europa o progresso do controle das IHs foi semelhante ao descrito para os EUA, com pequenas diferenças entre 
programas. 
O Brasil vem seguindo os passos dos EUA neste processo. As primeiras CCIHs datam do final dos anos 1960 e início dos 
1970 em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. 
Na década de 1970, Uriel Zanon (Rio de Janeiro) elaborou cursos e apostilas, traduziu manuais de CIH americanos, e 
defendeu a necessidade de CCIHs em todos os hospitais do Brasil junto ao Ministério da Saúde (MS). Este órgão começou a 
participar efetivamente do CIH em 1979, após uma conferência sobre IH na América Latina patrocinada pela OPS/OMS, 
começando a definir a política nacional em CIH. 
O primeiro livro brasileiro no assunto foi publicado em 1982 por Edmundo Ferraz: Manual de Controle de Infecção em 
Cirurgia, e o segundo, mais abrangente, publicado por Uriel Zanon e Jayme Neves em 1987: Infecções Hospitalares: Pre-
venção, Diagnóstico e Tratamento. Nessa década houve grande desenvolvimento do CIH, e formação das primeiras Asso-
ciações de Profissionais em CIH. Também é desta década a primeira portaria ministerial, Portaria MS 196/83, recomendando 
a criação de CCIHs nos hospitais brasileiros e dando orientações para o seu funcionamento. O grande impacto para impul-
sionar os projetos do MS foi a morte de Tancredo Neves (o primeiro presidente eleito pelo povo após o regime militar). 
Tancredo foi operado, no mesmo dia que seria sua posse, para tratamento de diverticulite intestinal. Evoluiu com IH e morte, 
o que comoveu todo o país. O controle de infecção ganhou força no MS, e nesse mesmo ano foram iniciados os cursos de 
capacitação de profissionais em CIH em todo o país, realização de fóruns, de manuais e da legislação brasileira no assunto. 
Em 1987 foi fundada a Associação Brasileira de Profissionais em Controle de Infecção Hospitalar (ABIH), e em 1989 foi 
realizado o I Congresso Brasileiro em São Paulo, organizado pela Associação Paulista de Controle de Infecção Hospitalar,e o 
Rio de Janeiro foi sede do ICHI 89 (International Congress on Control of Hospital Infection), organizado por Uriel Zanon, 
com apoio de várias entidades. 
O início dos anos 1990 foi marcado pela realização do II Congresso Brasileiro em 1990, em Belo Horizonte, organizado 
pelas associações mineira, paulista e brasileira de CIH. A partir daí, os congressos passaram a ser realizados pela ABIH, a 
cada dois anos. Em 1992 foi lançada a segunda portaria do MS (Portaria MS 930/92), ampliando e atualizando as reco-
mendações de ações de controle e de grupos específicos de CIH. Mais adiante, a obrigatoriedade da existência de CCIH e de 
um programa de CIH em todas as instituiçõesde atendimento à saúde passou a ter força de lei, com a aprovação pelo Con-
gresso de um projeto de lei sobre o assunto. A portaria mais recente foi lançada em 1998 (Portaria MS 2.616/98), marcando a 
última ação do MS sobre o Programa Nacional de Infecções Hospitalares, que passou a ser subordinado à Agência Nacional 
de Vigilância Sanitária (ANVISA a partir de sua criação em janeiro de 1999, como um órgão vinculado mas não subordinado 
ao MS. O programa passou a ser denominado Programa de Controle de Infecção em Serviços de Saúde. Um inquérito na-
cional sobre a situação das infecções hospitalares, realizado por este órgão em dezembro de 1999, evidenciou que 40% dos 
hospitais brasileiros apresentavam um programa formal controle de infecções hospitalares. Esta situação melhorou, segundo 
outro inquérito realizado pela ANVISA em 2003, baseado em um questionário respondido por 3.123 hospitais brasileiros, 
que demonstrou que 76% dos hospitais tinham CCIH formalmente nomeada, 59,6% tinham programa de CIH, 60,9% dis-
punham de laboratório de microbiologia que era independente do hospital em 54,8% dos casos. 
Após a virada do século, já com grande conhecimento sobre os fatores de risco de IHs e as ações efetivas para seu controle, 
o desafio das CCIHs é conseguir a adesão dos profissionais de saúde para o funcionamento destas ações. Durante toda a 
década de 2000, os maiores desafios enfrentados pelas CCIHs foram: o grande aumento de microrganismos multirresistentes 
aos antimicrobianos, a transmissão cruzada desses microrganismos entre os pacientes assistidos em serviços de saúde, a 
conscientização dos profissionais de saúde sobre a importância do seu papel no controle das IHs, e o aumento progressivo da 
dificuldade no uso racional de antibiótico devido às infecções por multirresistentes. 
Importância 
A importância das IHs está em sua frequência, morbidade, letalidade e custos (direto, preventivo e indireto), além do fato 
de serem preveníveis em grande percentual. A taxa de IRAS faz parte dos índices de qualidade da assistência prestada pela 
instituição. 
Por serem complicações infecciosas da assistência prestada ao paciente, as IHs localizam-se em qualquer parte do orga-
nismo, de acordo com os fatores de risco para seu desenvolvimento, que representam uma quebra do equilíbrio entre mi-
crorganismos colonizantes ou contaminantes e as defesas antiinfecciosas do organismo. As topografias mais frequentes são 
os tratos respiratório e urinário, os tecidos operados e a corrente sanguínea, relacionados diretamente com procedimentos 
invasivos, como intubação traqueal, cateterismo vesical, cirurgia, e cateterismo vascular, respectivamente. Outras infecções 
como as gastrintestinais relacionadas à nutrição enteral ou ao uso de antibióticos, e as cutâneas em úlcera de pressão ou no 
sítio de inserção de cateter vascular, e nas ostomias (traqueais, gástricas, e intestinais) são menos frequentes. 
A incidência destas infecções é maior em grandes hospitais gerais de referência para pacientes graves e, dentro de cada 
hospital, a incidência é maior nas unidades de terapia intensiva (UTIs). Quanto maior a gravidade do estado do paciente, 
menor a sua capacidade de defesa, e maior será o número de procedimentos invasivos necessários para seu tratamento. Esta 
situação constitui grande fator de risco para as IHs. A capacidade técnica da equipe de saúde e uma CCIH atuante também 
constituem um diferenciador nas taxas de IH. A taxa relatada numa determinada instituição varia também com o método 
empregado na sua avaliação. A vigilância epidemiológica contínua destas infecções é importante para a sua prevenção, uma 
vez que pode apontar um aumento significativo da taxa basal de um determinado tipo de infecção, o que leva necessariamente 
a uma reavaliação das medidas preventivas em curso e a novo treinamento da equipe de saúde. A vigilância microbiológica é 
essencial para fornecer informação contínua sobre o perfil de microrganismos isolados e suas susceptibilidades aos antimi-
crobianos em cada setor do hospital. Este dado permite a adoção de medidas de controle de disseminação de microrganismos 
multirresistentes (MMR), e de política de uso de antimicrobianos diferenciada nos vários setores da instituição (Namias et al, 
2000). A vigilância permite avaliar a eficácia de determinadas medidas adotadas como, por exemplo, um programa de 
treinamento sobre uso de álcool para higiene das mãos e de precauções de contato na diminuição da prevalência de MMR 
num determinado setor. Constitui, portanto, um instrumento essencial para a prevenção. 
Entre maio e agosto de 1994 foi realizado um levantamento em 99 hospitais terciários localizados nas capitais brasileiras, 
da prevalência de IHs, tendo sido encontrada uma taxa média de 15,5%, variando de 5,3% na obstetrícia, a 58,2% na UTI 
neonatal (Prade et al, 1995) (Quadro 1). Apenas 42,4% das instituições avaliadas coletavam os dados da vigilância epide-
miológica através de busca ativa pela CCIH, que é o método confiável. Na distribuição das infecções, a pneumonia foi a mais 
prevalente, responsável por 29%, chegando a 52,2% nas UTIs de adultos. 
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- --------------------- 
Quadro 1 - Prevalência de infecção hospitalar (IH) por unidade de internação e distribuição topográfica em 99 hospitais terciários em 
capitais brasileiras – 1994 
 
Unidade Pneumonia % Cirúrgica % Cutânea % Urinária % Sistêmica % Outras % Taxa de IH – % 
 
UTI neonatal 29,0 1,6 11,3 0 21,8 36,3 58,2 
UTI pediátrica 45,0 5,0 2,5 5,0 22,5 20,0 28,8 
Queimados 8,7 4,3 82,6 4,3 0 0 41,8 
UTI adulto 52,2 10,7 9,6 12,9 9,6 5,1 38,9 
Neonatologia 22,1 0 24,2 3,2 17,9 32,6 16,2 
C. Cirúrgica 17,1 44,2 10,0 12,4 5,6 10,6 15,9 
C. Médica 31,5 2,7 20,0 14,5 9,6 21,7 11,5 
Emergência 30,8 0 7,7 23,1 0 38,5 8,9 
Obstetrícia 5,3 60,5 2,6 15,8 0 15,8 5,3 
 
Total 29,0 15,7 15,4 11,3 10,1 18,5 15,5 
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Adaptado de Fernandes et al, 2000. 
 
As taxas de IHs são mais elevadas nos países em desenvolvimento. Rosenthal e colaboradores (2006) fizeram um estudo 
multicêntrico em 55 UTIs de 46 hospitais localizados na Argentina, Brasil, Colômbia, India, México, Marrocos, Peru, e 
Turquia com o objetivo de definir a incidência de infecção relacionada à dispositivos em UTIs de países em desenvolvimento, 
durante os anos de 2002 a 2005. Encontraram a taxa global de 14,7% ou 22,5 infecções por 1000 dias de UTI. A infecção mais 
frequente foi pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV): 41% de todas as infecções associadas a dispositivos e 24,1 
casos por 1000 ventiladores-dia, seguida de infecção da corrente sanguínea (ICS) relacionada a cateteres venosos centrais 
(ICS-CV): 30% das infecções e 12,5 casos por 1000 cateteres-dia, e infecção do trato urinário (ITU) relacionada a cateteres 
vesicais (ITU-CV): 29% das infecções e 8,9 casos por 1000 cateteres vesicais-dia. Essas taxas foram muito superiores às das 
UTIs dos EUA: PAV (5,4/1000ventiladores-dia), ICS-CV (4,0/1000 cateteres vasculares-dia), e ITU-CV (3,9/1000 cateteres 
vesicais-dia) (NNIS, 2004). 
A morbidade das IHs é muito variável, podendo ser muito pequena, como nas infecções urinárias assintomáticas, ou 
determinar graves deficiências físicas, como em algumas infecções ortopédicas, ou até causar diretamente óbito, como nas 
pneumonias ou nas sepses abdominais. O seu tratamento pode exigir prolongamento da internação, intervenções cirúrgicas, 
uso de aminas vasoativas e deantibióticos de largo espectro, ou de ventilação mecânica nas UTIs. Por serem frequentemente 
causadas por MMR, o seu tratamento com antibióticos determina uma grande pressão seletiva de resistência. Já são isolados 
com frequência, em nossas UTIs, bacilos Gram negativos susceptíveis apenas a um antibiótico, ou a nenhum, algumas vezes. 
A capacidade bacteriana de resistir aos antibióticos é muito maior do que a capacidade humana de desenvolver novos anti-
bióticos ou de adesão às medidas de controle de resistência. Bactérias trocam material genético entre si com grande fre-
quência, inclusive entre espécies diferentes, disseminando características importantes para sua sobrevida, inclusive a resis-
tência aos antibióticos. 
A taxa de mortalidade bruta, para pacientes com infecção associada a dispositivos, encontrada por Rosenthal e colabo-
radores (2006) em países em desenvolvimento, variou de 35,2% para ICS-CV a 44,9% para PAV. Em pacientes sem infecção 
relacionada à assistência a taxa de mortalidade bruta foi de 17,1%, o que significa um excesso de mortalidade de 18,1% para 
ICS-CV e de 27,8% para PAV. 
 Os custos diretos das IHs são os correspondentes ao diagnóstico e tratamento dessas infecções, incluindo exames com-
plementares, diárias extras, medicamentos e medidas de isolamento. Para cada IH, o custo é muito variável na dependência da 
sua gravidade. Por exemplo, o custo estimado por episodio de ICS relacionada a cateter venoso central é de US$25.000 a 
56.000 (Mermel 2000, O’Grady 2002). Custos preventivos referem-se ao custo do funcionamento das CCIHs, às medidas 
preventivas, incluindo material adequado dos dispositivos invasivos, anti-sépticos, esterilização de materiais, profilaxia 
antibiótica, isolamento de pacientes, treinamento dos profissionais, etc. Faltam estimativas atualizadas sobre estes custos. 
Restam ainda os custos indiretos incomensuráveis que constituem as consequências de uma IH: sofrimento físico e mental 
do paciente e seus familiares frente a novas intervenções necessárias, o prolongamento da hospitalização e/ou de tratamento 
antibiótico, o risco de morte; afastamento do paciente de seu trabalho por mais tempo e, muitas vezes, sua incapacitação para 
reassumir sua atividade profissional; ou morte. Ainda consta dos custos indiretos, a diminuição da rotatividade dos leitos 
hospitalares, agravando a demanda reprimida e, portanto, da eficiência do sistema de saúde (Fernandes et al, 2000). Outro 
aspecto cada vez mais importante devido a seu aumento progressivo é o dos processos judiciais contra médicos e instituições, 
gerados pela ocorrência de IHs. 
Infecções relacionadas ao cateter vascular 
Epidemiologia, fisiopatogenia, apresentações clínicas, e etiologia 
Epidemiologia 
Estima-se que nos EUA sejam instalados mais de 150 milhões de dispositivos vasculares, por ano, para administrar lí-
quidos intravenosos, medicações, sangue e derivados, e nutrição parenteral; para monitorizar o estado hemodinâmico; e para 
hemodiálise. A maioria é constituída por cateteres venosos periféricos, porém mais de 5 milhões de cateteres vasculares 
centrais são inseridos por ano (Maki&Mermel, 1998). São vários os tipos: cateteres venosos periféricos de diferentes com-
primentos, cateter arterial periférico, cateter venoso central de curta permanência, cateter venoso central inserido periferi-
camente, cateter arterial pulmonar, e cateteres venosos centrais de longa permanência semi-implantáveis e totalmente im-
plantáveis (Mermel et al, 2009). Estes cateteres podem ser instalados através de punção, ou dissecção, ou implantação 
cirúrgica parcial ou total. As complicações infecciosas relacionadas às linhas vasculares estão listadas e definidas no Quadro 
2, e no Quadro 3 são mostradas as taxas de infecção da corrente sanguínea (ICS) para diferentes tipos de cateter. 
 
Quadro 2 - Complicações infecciosas relacionadas aos cateteres vasculares 
Tipo de complicação Definição 
Colonização do cateter Crescimento significante de >1 microrganismo em cultura quantitativa ou semiquantitativa da ponta do cateter, ou de seu 
segmento subcutâneo, ou do conector 
Flebite Induração ou eritema, calor, e dor ao longo do trajeto de uma veia cateterizada 
Infecção no sítio de inserção Definição microbiológica: crescimento de microrganismo no exsudato do sítio de inserção com ou sem concomitante 
infecção da corrente sanguínea. 
 Definição clínica: eritema, induração, e/ou dor à palpação >2 cm do sítio de inserção; podem estar associados com outros 
sinais e sintomas de infecção, como febre ou secreção purulenta no sítio de inserção, com ou sem infecção concomitante da 
corrente sanguinea 
Infecção do tunel Dor, eritema, e/ouinduração >2cm do sitio de inserção, ao longo do trajeto de um cateter tunelizado (ex. cateter de Hickman 
ou Broviac), com ou sem infecção concomitante da corrente sanguínea 
Infecção do reservatório Liquido infectado no reservatório subcutâneo de um cateter vascular totalmente implantado; frequentemente associado com 
dor, eritema, e/ou induração sobre a área do reservatório; rutura espontânea ou drenagem, ou necrose da pele sobrejacente, 
com ou sem infecção concomitante da corrente sanguínea 
Infecção da corrente san-
guínea 
Relacionada ao liquido de infusão: crescimento do mesmo microrganismo em cultura do liquido de infusão e do sangue 
colhido percutâneamente de veia periférica, sem outra fonte identificada de infecção. 
Relacionada ao cateter: bacteremia ou fungemia em paciente com cateter vascular e >1 hemocultura positiva obtida de uma 
veia periférica, manifestações clínicas de infecção (ex. febre, calafrios, e/ou hipotensão), e ausência de outra fonte aparente 
da infecção. Deve estar presente 1 dos seguintes: cultura semiquantitativa positiva (>15 ufc/segmento do cateter) ou 
quantitativa (>102 ufc/segmento do cateter), com a mesma espécie isolada na ponta do cateter e no sangue periférico; 
culturas quantitativas simultâneas de sangue com taxa >3:1 ufc/mL de sangue (cateter vs sangue periférico); intervalo de 
tempo diferente para positividade (crescimento em hemocultura obtida através do cateter é detectado por sistema automá-
tico de hemocultura pelo menos 2 horas antes do que a cultura de igual volume do sangue periférico). 
Adaptado de Mermel et al, 2009. 
 
Quadro 3 - Taxa de infecção da corrente sanguinea (ICS) segundo o acesso vascular 
 
Fonte: Maki et al, 2006. 
 
Os dispositivos vasculares constituem a causa mais importante de ICS associada à assistência à saúde, com um número 
estimado de 250.000 a 500.000 ICSs relacionadas à dispositivos intravasculares, por ano, nos EUA. Os cateteres venosos 
centrais não-implantáveis são os que apresentam as maiores taxas de complicações infecciosas, sendo responsáveis por 80 a 
90% das ICS relacionadas a cateter vascular (Widmer, 1997). Nos EUA, ocorrem cerca de 80.000 ICSs, por ano, nas unidades 
de terapia intensiva (UTIs), relacionadas a esses cateteres (Mermel, 2000). No estudo de Rosenthal e colaboradores (2006) a 
incidência média de ICS de alguns hospitais de oito países em desenvolvimento, foi três vezes superior à media de 300 
hospitais americanos: 12,5 vs 4,0/1000 cateteres-dia, respectivamente. A taxa média dos hospitais brasileiros que enviaram 
seus resultados para este estudo, foi de 9,2/1000 cateteres-dia. O risco de ICS varia de acordo com o tipo e a finalidade de uso 
do cateter, o sítio de inserção, a experiência dos profissionais que instalam os cateteres, a frequência com que o cateter é 
acessado, a duração da cateterização, as características do paciente cateterizado, e do uso de medidas preventivas de infecção 
(Maki et al 2006, O'Grady et al, 2002, Safdar et al, 2004). Os fatores que aumentam o risco de infecção, relacionados ao 
paciente, são: idade avançada, gravidadeda doença de base, insuficiência renal crônica em programa de diálise, neutropenia, 
quimioterapia, AIDS, queimaduras extensas, e prematuridade. Os relacionados ao cateter são: inserção em situações de 
urgência, cateteres não-tunelizados, sítio de inserção (a veia subclávia infecta menos do que a jugular que, por sua vez, infecta 
menos do que a femural); tipo de cateter: cateter venoso periférico infecta menos do que o central de inserção periférica 
(PICC), que infecta menos do que o venoso central de curta permanência; finalidade de uso: cateter para nutrição parenteral 
total e para hemodiálise; material do cateter (poliuretano e silicone são melhores do que teflon, polivinil e polietileno), tipo de 
inserção: por dissecção venosa em vez de punção; os fatores relacionados ao momento da inserção: paramentação inadequada 
da equipe, antissepsia incorreta do sítio de inserção, tipo de antisséptico [clorexidina melhor que polivinil pirrolidona-iodo 
(PVP-I)], número de tentativas de punção, inexperiência do profissional; os fatores relacionados à manutenção do cateter: 
falta de treinamento dos profissionais de saúde no manuseio do cateter (Kritchevsky, 2001). A mortalidade atribuível (dire-
tamente causada) a estas infecções varia de 14 a 28%, na dependência da gravidade clínica; o prolongamento da internação na 
Tipo de acesso Incidência de ICS por 1000 cateteres-dia 
Cateter venoso periférico 
Cateter de plástico 0,5 
Agulhas de aço 8,6 
Cateter introduzido através de corte na pele e TCS 9,0 
Cateter venoso periférico de linha média 0,2 
Cateter arterial periférico 1,7 
Cateter venoso central de curta permanência sem antimicrobiano 
Não-tunelizado, sem cuff 2,7 
Para hemodiálise 4,8 
Tunelizado 1,7 
Introduzido perifericamente 
Paciente hospitalizado 2,1 
Paciente externo 1,0 
Cateter artéria pulmonar 3,7 
Cateter venoso central de curta permanência com antimicrobiano 
Clorexidina-sulfadiazina de prata 1,6 
Minociclina-rifampicina 1,2 
Impregnado com prata 4,7 
Prata iontoforética 3,3 
Cloreto de benzalcônio 4,8 
Cateter venoso central de longa permanência 
Tunelizado e com cuff 1,6 
Totalmente implantado 0,1 
Balão intra-aórtico 7,3 
Dispositivo intraventricular esquerdo 2,1 
UTI é de 6,5 dias em média (Widmer, 1997); e o custo estimado é de US$25.000 a 56.000 por episódio (Mermel, 2000; 
O’Grady, 2002). Neste capítulo serão abordadas as infecções relacionadas a esses cateteres, como também aos venosos 
periféricos que ainda representam um grande problema nos hospitais brasileiros.Fisiopatogenia 
O cateter vascular, periférico ou central, torna-se colonizado através das seguintes vias: pele do sítio de inserção (mi-
grando pela parede externa do cateter), conexões do cateter com o equipo de infusão (migrando pela luz do cateter), hema-
togênica (a partir de um foco infeccioso à distância) e pela solução infundida contaminada (Fig. 1). As mãos dos profissionais 
de saúde podem contribuir para a infecção, contaminando a pele do paciente no sítio de inserção, as conexões e a solução 
infundida. Cateteres vasculares, instalados há menos de 14 dias, são mais frequentemente colonizados em sua superfície 
externa, enquanto que aqueles com mais de 2 semanas, o são também na superfície interna (Mermel et al, 2009). Segundo 
Sherertz (1997), em cateteres venosos centrais inseridos há menos de oito dias, a colonização extraluminal é a mais impor-
tante (75-90%), seguida pela colonização intraluminal através da contaminação dos conectores (10-50%), hematogênica 
(3-10%), e líquido de infusão contaminado em 2-3%. Naqueles inseridos há mais de oito dias, a contaminação das conexões 
é a fonte mais provável (66 vs 26% para a via cutânea). A via hematogênica é, em geral, menos frequente, porém em pacientes 
internados em UTI, a exposição a bacteremia proveniente de outra fonte é umito frequente e pode ser um fator de risco 
importante para infecção do cateter venoso central (Maki & Will 1990). 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PelePele
ConectorConector
SoluSoluççãoão
contaminadacontaminada
Contaminação na inserção
DisseminaDisseminaççãoão
hematogênicahematogênica
FontesFontes das das InfecInfecççõesões
RelacionadasRelacionadas aoao CateterCateter
Staphylococcus, Candida, 
Gram-negativos
Gram +
Gram –
Candida
Gram +
GramGram--negativosnegativos
Gram-negativos
 
-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Apresentações Clínicas 
Infecções relacionadas ao cateterismo venoso periférico 
Flebites são complicações muito comuns da cateterização venosa periférica, ocorrendo em 15 a 70% em adultos, e 10 a 
13% em crianças, e não são infecciosas em sua maioria, mas causadas por fatores físicos (composição, comprimento, largura 
e defeitos do cateter, tempo de cateterização, rapidez de infusão, trauma na punção, local anatômico de inserção) e caracte-
rísticas do fluido infundido (pH, osmolaridade, irritabilidade inerente). Apresentam-se como inflamação local: eritema, dor, 
cordão venoso palpável, edema, endurecimento e linfangite, sem drenagem purulenta (que caracteriza infecção), com ou sem 
febre. Não há colonização significativa do cateter nestes casos (Mayhall, 1997). As flebites podem facilitar infecção,que pode 
se limitar ao sítio de inserção (inflamação + purulência + cateter colonizado) ou evoluir também com bacteremia, o que pode 
ser importante, especialmente para pacientes imunocomprometidos, cardiopatas e portadores de próteses. A denominada 
flebite supurativa é uma das mais graves complicações da terapia intravenosa, com bacteremia em 70 a 100% dos casos, a 
maioria evoluindo para sepse, com embolia séptica para pulmões (Mayhall 1997). Felizmente não é frequente, sendo mais 
relatada em pacientes queimados: 4,2% no estudo de Pruitt et al. (1980). Em sua apresentação típica, há febre, calafrios, 
hipotensão, celulite importante no sítio de inserção, acompanhada de dilatação de veias periféricas e veias colaterais salientes. 
O início pode ser insidioso, sem infecção no sítio de inserção, e pode aparecer dias após a remoção do cateter.Infecções 
relacionadas ao cateterismo venoso central de curta permanência 
Infecções da corrente sanguínea (ICSs) causadas por bactérias ou fungos são as mais frequentes, a partir do cateter 
colonizado em sua superfície externa e/ou interna. Estas infecções se manifestam, na maioria das vezes, apenas com febre 
acompanhada ou não de calafrios, sem infecção no sítio de inserção, e sem infecção aparente em qualquer outro local do 
organismo. São as chamadas ICSs relacionadas ao cateter vascular central. Pode haver evolução para sepse. 
Infecções no sítio de inserção que se manifestam com a presença de celulite caracterizada como eritema, dor e endure-
cimento com diâmetro maior que 2 cm ao redor do sítio de inserção, ou pela presença de secreção purulenta local. São 
geralmente de pequena gravidade na dependência da intensidade da celulite. 
Estas duas formas de infecção podem se apresentar isoladas ou em conjunto. A forma mais frequente é a ICS isolada. 
Pode haver complicação como tomboflebite na veia cateterizada, e infecções à distância, como osteomielite, endocardite, 
abscessos cerebrais e pulmonares. 
Etiologia 
Infecções relacionadas ao cateterismo venoso periféricoEstudos isolados mostram que, em adultos, mais de 90% das 
infecções limitadas ao sítio de inserção são causadas por estafilococo coagulase-negativa, enquanto a maioria das bacterie-
mias e das flebites supurativas são por S. aureus. Bacilos Gram negativos são muito raros nas infecções restritas ao sítio de 
inserção e responsáveis por cerca de20% dos casos das flebites supurativas e bacteriemias. Fungos são bem mais raros 
(Mayhall 1997). 
Infecções relacionadas a cateteres venosos centrais de curta permanência 
No Quadro 4 estão listados os patógenos mais encontrados em ICSs de pacientes em hospitais gerais (Wisplinghoff et al, 
2004) e UTIs (Fridkin&Gaynes, 1999) dos EUA, e em UTIs do Rio de Janeiro (Infecto - banco de dados de 2001 e 2002). 
Staphylococcus coagulase-negativa (SCoN) foi o agente mais isolado, em proporções semelhantes, nas três casuísticas, 
seguido de Staphylococcus aureus, mais isolado em pacientes fora das UTIs. Enterococus spp. aparecem em terceiro lugar 
nos EUA. No Brasil, sempre tem menos infecção por esta bactéria, em relação aos EUA, seja qual for o sítio de infecção. As 
várias espécies de Candida, em conjunto, ocupam a 4a posição entre os agentes mais frequentes nos EUA. Este patógeno tem 
igual importância no Brasil, porém não aparece no Quadro 5 porque foram avaliadas apenas as bactérias naquele levanta-
mento. O restante da etiologia é constituído por bactérias Gram negativas, entre as quais, Pseudomonas aeruginosa e Kleb-
siella pneumoniae se destacam na casuística das UTIs no Rio de Janeiro. No estudo de Rosenthal e colaboradores (2006), a 
etiologia de ICS relacionada a cateteres venosos centrais em UTIs de hospitais de 8 países em desenvolvimento (incluindo o 
Brasil), em conjunto, foi: enterobactérias (27%), S. aureus (25%), Staphylococcus coagulase-negativa (18%), Acinetobacter 
spp (13%), P. aeruginosa (9%), Candida spp (5%), e Enterococcus spp (3%). Nesta casuística, 57% das enterobactérias 
foram resistentes à ceftriaxona, 85% dos S. aureus foram resistentes à oxacilina (MRSA), 49% das P. aeruginosa foram 
resistentes às quinolonas, e 3% dos enterococos foram resistentes à vancomicina. Em cada paciente individual, num deter-
minado hospital, o agente etiológico e seu perfil de resistência aos antibióticos variarão na dependência da microbiota pre-
dominante neste tipo de infecção no setor onde o paciente está internado e na dependência dos antibióticos usados recente-
mente. Em alguns hospitais a importância de bacilos Gram negativos multirresistentes é muito grande, o que tem que ser 
levado em consideração no momento de tratar empiricamente um paciente séptico de fonte relacionada ao cateter vascular. 
 
Quadro 4 - Prevalência de patógenos em •ICSs relacionadas a cateter vascular nos EUA e no Rio de Janeiro 
Patógeno Hospitais Gerais - EUA 
1995-2002 n = 24.179 (%)••• 
••UTIs EUA 
1989-1998 n = 50.091 (%)•••• 
••UTIs 10 hospitais RJ 
2000/2001 n = 416 (%)••••• 
Staphylococcus coagulase-negativa 31,3 39,3 30,5 
Staphylococcus aureus 20,2 10,7 10,6 
Enterococcus spp. 9,4 10,3 6,0 
Candida spp. 9,0 4,9 - 
Escherichia coli 2,8 - - 
Klebsiella pneumoniae 2,4 2,9 6,5 
Pseudomonas aeruginosa 2,1 3,0 7,7 
Enterobacter spp. 1,9 4,2 2,9 
Serratia marcescens - - 4,6 
Acinetobacter baumannii - - 4,1 
•Infecções da corrente sanguínea 
••Unidades de Terapia Intensiva 
Fontes: ••• Wisplinghoff et al, 2004; •••• Fridkin&Gaynes, 1999; ••••• Banco de dados da Infecto Infecções Hospitalares e Assessoria Ltda. 
 
Abordagem diagnóstica e tratamento 
Se o quadro clínico é apenas febre, sem infecção no sítio de inserção, sem outro foco aparente, e com o paciente estável, 
a conduta pode se restringir à coleta de hemoculturas, sem retirada do cateter, ou com sua troca através de fio guia. A coleta 
de sangue para cultura pode ser realizada apenas em veia periférica (2 a 3 amostras) e processadas de forma rotineira pelo 
laboratório. Outra conduta, caso o cateter não seja removido, é realizar 1 coleta em veia periférica e 1 através do cateter, no 
mesmo momento, em igual volume, colocados em frascos distintos de hemocultura, identificados quanto à forma de coleta, e 
enviados ao laboratório ao mesmo tempo, para processamento automatizado. Será comparado o tempo gasto para que as 
culturas se tornem positivas. Se o crescimento bacteriano no frasco com sangue colhido através do cateter ocorrer pelo menos 
2 horas antes do colhido perifericamente, fará o diagnóstico de bacteremia relacionada ao cateter, devido ao maior inóculo de 
microrganismo presente no sangue do cateter (Mermel et al, 2009). Outro método diagnóstico é a cultura quantitativa de 
sangue colhido pelo cateter e por via percutânea. No sangue obtido pelo cateter deverão crescer pelo menos 3 vezes mais 
colônias do que naquele obtido pela veia periférica, método pouco utilizado por necessitar de aparelhagem especial para a 
contagem de colônias. 
Se o cateter foi trocado por fio guia, pode haver a opção de cultura de sua ponta distal (5 cm). É importante colher he-
mocultura antes da retirada do cateter para garantir maior chance de positividade. O resultado mais confiável da etiologia da 
infecção é o da hemocultura que deverá ser o norteador do tratamento, caso haja discrepância com o resultado da cultura do 
cateter. Mesmo fazendo-se troca do cateter por fio guia, pode-se optar por fazer apenas hemocultura porque, quando positiva 
sem outra fonte aparente de infecção, já estabelece o diagnóstico de ICS relacionada ao cateter vascular (ICS-CV). Quando 
cultivado o cateter, o método deverá ser semiquantitativo (técnica de Maki) ou quantitativo (lavagem da luz do cateter, ou 
sonicação). Não tem valor a cultura qualitativa do cateter. A técnica semiquantitativa avalia os microrganismos presentes na 
superfície externa do cateter, enquanto a sonicação avalia ambas as superfícies. Alguns estudos indicam superioridade das 
técnicas quantitativas, porém outros não encontraram diferença significante (Bouza et al, 2005). A técnica de Maki é mais 
simples e mais empregada cotidianamente. Cateteres vasculares instalados há menos de 14 dias são mais frequentemente 
colonizados em sua superfície externa, enquanto que aqueles com mais de 2 semanas, o são também na superfície interna 
(Mermel et al, 2009). Caso as hemoculturas sejam positivas, o cateter deverá ser removido, e um novo cateter deverá ser 
inserido em outro sítio. Esta conduta, em geral, é suficiente para a cura da infecção. Na maioria das vezes, a evolução clínica 
será favorável nas primeiras 48-72 horas. Só será necessário tratamento antibiótico, por 10-14 dias, se houver crescimento em 
hemocultura de S. aureus ou Candida sp., devido a potenciais infecções à distância, iniciadas durante sua passagem pela 
corrente sanguínea. Estes microrganismos têm mais facilidade de causar infecção metastática de tratamento difícil, uma vez 
estabelecida. A escolha do antibiótico será realizada de acordo com o antibiograma no caso de S. aureus, e o antifúngico será 
escolhido de acordo com a espécie de Candida isolada e com a disponibilidade de antifúngicos na instituição (Nouér & Nucci, 
2005). No caso de S. aureus, deve ser realizado ecocardiograma transesofágico para pesquisar endocardite que, se presente, 
estenderá o tempo de tratamento antibiótico. Esta recomendação é válida para todas as condições discutidas a seguir, quando 
for isolado S. aureus em hemocultura. Mermel e colaboradores (2009) recomendam antibioticoterapia não só para S. aureus 
ou Candida spp., como descrito acima, mas também para SCoN (5-7 dias), e para enterococos e Gram negativos (7-14 dias). 
 Se o quadro clínico é de sepse, sem foco aparente, a conduta é de coleta de culturas, com retirada do cateter, e início 
imediato de antibióticos contra Gram positivos e negativos e, em determinadas situações, também contra Candida spp. A 
escolha do esquema antimicrobiano empírico vai depender da microbiota predominante neste tipo de infecção no setor onde 
o paciente está internado, dos antibióticos usados recentemente pelo paciente, e de outras condições epidemiológicas do 
paciente. Dentre os agentesetiológicos listados anteriormente, neste capítulo, os estafilococos coagulase-negativa raramente 
causam sepse, razão pela qual não são levados em conta na escolha empírica inicial. Para Gram positivos, estão recomen-
dadas vancomicina ou teicoplanina para terapia empírica em locais onde a prevalência de S. aureus resistente à meticilina 
(MRSA) é maior do que 10-20% (Mermel et al, 2009). Em instituções onde a maioria das amostras de MRSA apresentam 
valores de comcentração inibitória mínima (CIM) >2 µg/mL para vancomicina, antibióticos alternativos como daptomicina 
(de preferência) ou linezolia devem ser utilizados. A preferência é para daptomicina porque, para alguns autores, a linezolida 
não deve ser empregada em terapia empírica de bacteremia, ainda sem confirmação da fonte (Mermel et al, 2009). Além da 
prevalência de MRSA na instituição onde está sendo assistido o paciente, a condição de alergia grave a ß-lactâmicos, e a 
presença de dois dos seguintes fatores também constituem indicação para uso de anti-MRSA: hospitalização no último ano ou 
procedência de qualquer instituição de atendimento à saúde; uso de quinolona nos últimos 6 meses; fazer parte de programa 
de diálise; e ter idade >65 anos (Mensa et al, 2008). Para Gram negativos, a escolha do antimicrobiano (cefalosporina de 4a 
geração ou carbapenema ou piperacilina-tazobactam isolados ou associados a aminoglicosídeo) será de acordo com dados 
locais de susceptibilidade antimicrobiana, gravidade do quadro clínico, e história epidemiológica do paciente. Há reco-
mendação de abranger obrigatoriamente microrganismos multirresistentes (MMR) e P. aeruginosa, com associação de 
antibióticos, em casos de neutropenia febril, e colonização prévia por esses patógenos (Mermel et al, 2009). O início empírico 
de antifúngico contra Candida spp. está indicado nas seguintes situações: uso de nutrição parenteral total (NPT); uso pro-
longado de antibióticos de largo espectro; presença de malignidade hematológica; paciente trasnsplantado medular ou de 
órgãos sólidos; colonização prévia por Candida spp. em vários sítios do organismo; e infecção relacionada a cateter femoral. 
Equinocandina é o antifúngico de escolha. Fluconazol pode ser empregado em pacientes que não fizeram seu uso nos últimos 
3 meses e quando dados locais indicam baixo risco de Candida krusei ou Candida glabatra (Mermel et al, 2009). De acordo 
com o resultado das culturas, o esquema antibiótico deverá ser ajustado, reduzindo o espectro, sempre que possível. 
Em infecções limitadas ao sítio de inserção, de pequena gravidade, apenas com pouca secreção purulenta e/ou pequena 
celulite ao redor, sem febre ou outros sinais sistêmicos, tanto em cateteres periféricos ou centrais, raramente se faz o isola-
mento etiológico porque o tratamento será apenas a retirada do cateter, sem necessidade de antibioticoterapia. Cultura da 
secreção do óstio, da ponta do cateter, e do sangue periférico poderão ser realizadas apenas para interesse epidemiológico. 
Quando estão associados sinais locais e sistêmicos de infecção, a etiologia será estabelecida por cultura de sangue e da 
ponta intravascular do cateter (opcional), já que a presença de infecção no sítio de inserção indica a sua retirada. A conduta 
será semelhante à descrita acima para pacientes apenas com sinais sistêmicos. 
Quando a infecção local é grave (necrose, celulite extensa), o antibiótico deverá ser iniciado imediatamente após a 
coleta das culturas, de maneira empírica. Geralmente há sinais sistêmicos associados e, especialmente se evolui para sepse, 
aumenta a possibilidade de tromboflebite supurativa, que exige desbridamento do foco, algumas vezes com retirada da veia 
envolvida. A antibioticoterapia será conduzida de maneira semelhante ao descrito acima para o quadro clínico de sepse. 
 
Prevenção 
Educação da equipe de saúde - A medida mais importante de prevenção para a qual a CCIH não pode medir esforços é 
a educação dos profissionais quanto às possíveis complicações das cateterizações periféricas e centrais, à eficácia da higiene 
das mãos na prevenção, aos métodos disponíveis para a higiene e quando usá-los de maneira adequada, às indicações da 
cateterização, à técnica de inserção, aos cuidados na manutenção, e às demais medidas de prevenção de infecção que serão 
comentadas. O estímulo à higienização das mãos é fundamental para prevenção de todas as infecções hospitalares. Todo 
esforço deve ser empregado para aumentar a adesão dos profissionais a esta prática (Aiello & Larson 2002). O uso de solução 
alcoólica a 70% com substância emoliente, para prevenir lesão das mãos, é uma opção mais rápida e com eficiência superior 
à lavagem das mãos com água e sabão anti-séptico como a clorexidina (Pittet & Boyce 2001). Os dispensadores com álcool 
podem ser colocados em locais estratégicos para facilitar a adesão e diminuir o gasto de tempo para deslocamento até a pia. 
Deve-se assegurar que todo profissional envolvido na inserção e manutenção dos cateteres seja terinado e esteja apto para 
estas funções. 
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Quadro 5 - Medidas de prevenção de infecção em cateteres venosos periféricos 
 
Anti-sepsia do sítio de inserção com álcool a 70%, ou clorexidina alcoólica ou PVP-I alcoólico 
Curativo transparente ou com gaze estéril 
Trocar o cateter a cada 4 dias no máximo, e sempre que houver flebite, e retirá-lo tão logo não seja mais necessário 
Inspecionar o aspecto de cada fluido a ser aplicado quanto a turbidez, presença de resíduos, data de validade, vazamento etc. 
Usar agulha e seringa estéreis cada vez que aspirar medicamento em frasco de multidose 
Evitar o uso de agulha de metal para infundir fluido que possa causar necrose de tecido no caso de haver extravasamento 
Cateterizar de preferência, em adultos, uma veia do membro superior porque apresenta menor risco de infecção do que no membro inferior 
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------- 
 
Cateteres Venosos Centrais – Medidas específicas de prevenção 
 
Material do cateter - Os cateteres de melhor qualidade são os de poliuretano, silicone ou teflon. Vários estudos têm 
demonstrado o impacto do uso de cateteres revestidos por antibiótico ou antissépticos quando, apesar da adesão às medidas 
preventivas básicas, as taxas permanecem acima de 3 infecções/1.000 dias de cateter.Nesse caso, podem representar uma 
economia de até US$300,00 por cateter, em especial para pacientes de alto risco como neutropênicos e queimados. O re-
vestimento de clorexidina e sulfadiazina/prata é somente externo e demonstra vantagens claras quando o cateter é mantido 
por até 8 dias. O revestimento de rifampicina/minociclina é interno e externo, e tem apresentado resultados mais consistentes 
(Mermel 2001, McGee & Gould 2003), principalmente para cateteres mantidos por mais de 5 dias. Aumento na resistência 
antibiótica é sempre uma preocupação com o emprego destes cateteres. Marschall e cols (2008) recomendam cateteres 
impregnados com antimicrobianos e/ou esponja com clorexidina no sítio de inserção em pacientes com acesso venoso li-
mitado e história de ICS recorrente, e em pacientes com risco aumentado de sequela grave de ICS como implante recente de 
dispositivos intravasculares. Vigilância neste aspecto será necessária, se estes dispositivos passarem a ser usados em maior 
escala. 
 
Sítio de inserção - A julgar apenas pelas complicações infecciosas, a cateterização pela veia subclávia deve ser preferida 
à jugular, embora outros fatores sejam importantes na escolha do sítio, tais como a experiência do operador e ascaracterís-
ticas do paciente que possam dificultar a cateterização, como história anterior de dificuldade de punção, obesidade, defor-
midades anatômicas, ou cicatrizes. A veia subclávia deve ser evitada em paciente com hipóxia grave por causa da possibi-
lidade de pneumotórax ser mais frequente neste procedimento e ser menos tolerado no paciente hipóxico. Em conjunto, a 
cateterização da jugular interna e da subclávia oferecem igual risco de complicações mecânicas. Pneumotórax e hemotórax 
são mais comuns na cateterização subclávia, enquanto a punção arterial é mais comum na jugular. A veia femoral deve ser 
evitada não só pela maior frequência de infecção, quando comparada com a subclávia, mas também pela maior taxa de 
complicações mecânicas como punção arterial e hematoma. Porém, em condições de ressuscitação de choque, a cateterização 
da veia femoral pode ser considerada, devido a maior rapidez deste procedimento. Após a ressuscitação, o cateter deve ser 
trocado para outro sítio mais adequado. Trombose relacionada com cateter venoso central é um evento comum. Sua impor-
tância ainda não está estabelecida, embora sempre haja o risco de embolia. Em comparação com a subclávia, o risco de 
trombose é dez vezes maior em cateter na femoral, e quatro vezes maior na jugular interna. 
Os cateteres centrais de inserção periférica (PICCs) representam uma boa alternativa para pacientes mais estáveis que 
necessitam de infusões por tempo prolongado porque apresentam menores taxas de infecção do que os centrais não im-
plantáveis. Constituem o melhor acesso em recém-nascidos. 
Dissecção venosa deve ser evitada pelo risco de infecção maior do que o da punção devido ao trauma tecidual e por não 
haver cateter apropriado para tal procedimento. Mesmo em paciente com distúrbios de coagulação, a dissecção deve ser 
evitada, dando-se preferência à punção em sítio passível de compressão, como a veia femoral. 
 
Anti-sepsia do sítio de inserção - Embora na literatura exista uma clara tendência para as soluções à base de clorexidina, 
por diminuir o risco de colonização do cateter, no Brasil ainda há controvérsia, já que não existem no mercado as soluções 
aquosas a 2% recomendadas pelos guidelines (Marschall et al, 2008). Porém, a eficácia da solução a 0,5% em base alcoólica 
foi considerada adequada na metanálise de Chaiyakunapruk (2002). PVPI parece ser mais irritante, provocando hiperemia no 
sítio de punção. 
 
Equipe de saúde - Antes da inserção, o operador deve degermar as mãos (da mesma maneira recomendada para cirurgia), 
e durante o procedimento, empregar cuidados máximos de assepsia (capote estéril, gorro, máscara, luvas estéreis e campo 
estéril longo), que comprovadamente diminuem o risco de infecção relacionada ao cateter, levando a uma economia estimada 
de US$167 por cateter inserido. Estes cuidados são obrigatórios também para troca de cateter com fio guia (Marschall et al, 
2008). 
A equipe treinada para inserção e manutenção do cateter também é fator comprovadamente eficaz na prevenção de in-
fecção. A experiência do operador é um determinante importante. Várias tentativas de punção no mesmo sítio lesam a pele 
que se torna facilmente colonizada, aumentam a chance de complicações mecânicas e de quebra da técnica asséptica. A 
formação de hematoma também aumenta o risco de infecção. É recomendada a troca do operador após três tentativas 
malsucedidas, especialmente ser for inexperiente. Punção da jugular interna guiada por ultrassonografia reduz o número de 
complicações mecânicas, de falhas na inserção e do tempo gasto, quando o médico é treinado para tal procedimento (McGee 
& Gould 2003). 
 
Cuidados na manutenção do cateter - Não molhar o curativo durante o banho porque pode aumentar a contaminação do 
sítio de punção, tanto para curativo com gaze ou com filme transparente. Não há evidência de superioridade contra infecção 
entre os dois tipos de curativo, nem quanto à frequência ideal de sua troca rotineira. Sem dúvida, o curativo deve ser trocado 
sempre que estiver sujo ou úmido. A prática de aplicar cremes ou unguentos com antibiótico no sítio de punção é contrain-
dicada por várias razões: aumenta a colonização do cateter por fungos, promove a emergência de bactérias multirresistentes e 
não diminui a taxa de bacteriemia relacionada ao cateter (Marschall et al, 2008). Os sistemas de fixação do cateter venoso 
sem sutura (sutureless) e de curativos oclusivos com esponja impregnada com clorexidina têm demonstrado redução nas 
taxas em um número limitado de estudos, mas o custo e a disponibilidade limitam seu uso ampliado. Os conectores devem ser 
desinfetados antes de acessados. Trocar conjunto de aplicação de sangue e derivados e lipídeos em até 96 horas. 
 
Retirada e troca rotineira do cateter - O risco de colonização do cateter e de infecção da corrente sanguínea aumenta 
com o tempo de manutenção do cateter. O risco é baixo até o 5o ou 7o dia. Portanto, toda atenção deve ser dada à retirada do 
cateter tão logo não seja mais necessário. A troca rotineira programada, com fio guia ou com nova punção, não é indicada 
porque não reduz a taxa de infecção. Com o fio guia, a tendência é aumentar a taxa de infecção, e a troca do sítio aumenta a 
taxa de complicações mecânicas (McGee & Gould 2003). 
 
Profilaxia com antibióticos sistêmicos - É contra-indicada porque, apesar de reduzir a taxa de bacteriemia relacionada 
ao cateter, seu emprego aumenta a emergência de multirresistência que constitui um dos maiores desafios atuais para o 
tratamento das infecções hospitalares (McGee & Gould 2003). 
 
Uso de propofol - Propofol é um anestésico com grandes vantagens para sedação em terapia intensiva, mas com risco 
elevado de contaminação. Seus equipos de infusão devem sofrer troca mais frequente, sua manipulação deve ser cuidadosa e 
seringas e frascos abertos não devem ser guardados. O equipo deve ser acoplado à conexão mais proximal do 
cateter. 
 
Implementação de bundle - Bundle é um pacote de medidas que, quando aplicadas de forma correta e em conjunto, são 
eficazes na prevenção de infecção. Para constituir o pacote, devem ser escolhidas um número limitado de medidas profilá-
ticas comprovadamente eficazes e de fácil aplicabilidade pelos profissionais de saúde. Tem que haver treinamento e com-
promisso dos profissionais envolvidos. Para que seja eficaz, todas as medidas do bundle têm que ser aplicadas em conjunto, e 
seja medida a adesão (TUDO OU NADA). Para prevenção de infecção relacionada ao cateter vascular, as medidas do bundle 
são as seguintes: barreira estéril máxima (uso de capote, gorro, máscara, luvas e campos longos) no momento da inserção; uso 
de clorexidina na antissepsia do sítio de inserção; preferir veia subclávea para cateterizações em que a espectativa de ma-
nutenção seja >5 dias; avaliar diariamente a necessidade de manutenção do cateter. 
Infecção do trato urinário (ITU) 
A importância das ITUs é principalmente a sua frequência, já que a morbidade, a letalidade e o custo são menores quando 
comparados às infecções respiratórias, cirúrgicas e relacionadas ao cateter vascular. É a infecção mais frequente, tanto em 
hospitais gerais (cerca de 40% das infecções hospitalares) quanto no cuidado domiciliar (homecare), em asilos, e em hos-
pitais de crônicos. Cerca de 80% das ITUs são associadas ao cateter vesical (ITU-CV), chegando a 95% em UTI (Richards et 
al. 1999). Estudos epidemiológicos em UTIs sempre apontaram as ITUs ocupando o 2o lugar em frequência, perdendo apenas 
para as respiratórias (Jarvis et al, 1991; Dahmash et al, 1994; Vincent et al, 1995). No entanto, o estudo de Richards e cols 
(1999) em 112 UTIs médicas de 97 hospitais dos EUA, abrangendo o período de janeiro/1992 a julho/1997, encontrou as 
ITUs comoas mais frequentes infecções (31%), diferente do descrito anteriormente. Mais de 90% destas infecções perma-
necem assintomáticas (Tambyah & Maki 2000), sem indicação de tratamento, porém grande parte é tratada pela maioria dos 
intensivistas, tornando-se uma grande causa de uso desnecessário de antibióticos de largo espectro nas UTIs, contribuindo 
para a pressão seletiva de resistência. Outros pontos de importância das ITUs hospitalares estão em sua participação como 
principal reservatório silencioso de MMR, e em constituir a 2a fonte mais frequente de infecção da corrente sanguínea no 
hospital (Maki & Tambyah 2001). 
 
Conceito, manifestações clínicas e etiologia 
Infecções urinárias hospitalares são as que se manifestam clínica ou laboratorialmente após 48 horas do início da assis-
tência ao paciente. São classificadas como relacionadas ao cateter vesical quando se manifestam 48 horas após a cateteri-
zação. Quanto ao sítio do trato urinário acometido, são chamadas infecções baixas quando atingem uretra, bexiga e próstata, 
e altas quando acometem o ureter e o rim. 
São assintomáticas quando há ausência de sintomas em presença de bacteriúria significativa, isto é, 10
5 UFC/mL em 
cultura da mesma espécie bacteriana em duas amostras consecutivas de urina colhidas por micção espontânea, na mulher, 
com intervalo de pelo menos 24 horas. Nestas condições, para o homem, basta uma amostra positiva, devido à menor pos-
sibilidade anatômica de contaminação. Em presença de cateter vesical, basta uma amostra com 10
3 UFC/mL, a partir da qual, 
sem tratamento, o nível de bacteriúria ou candidúria cresce uniformemente, atingindo >105 UFC/mL em 24-48 horas 
(Tambyah & Maki 2000). Candidúria assintomática é diagnosticada pela presença de Candida sp. na urina em qualquer nível 
de contagem de colônias. Mais que 90% das UTIs relacionadas ao cateter vesical são assintomáticas, mesmo com presença 
de piúria (contada em hemocitômetro) por vários dias. A piúria está frequentemente associada à bacteriúria ou candidúria, 
embora não signifique obrigatoriamente presença de infecção, podendo representar apenas lesão da mucosa da bexiga pelo 
cateter. Menos que 10% dos pacientes com microrganismo em nível significativo na urina, com ou sem piúria, apresentam 
sintomas (Tambyah & Maki, 2000). Queixas de disúria e urgência têm pequeno valor preditivo de infecção, e são relacio-
nadas à presença do cateter. Provavelmente a presença do cateter previne a contínua exposição da uretra a grandes números 
de microrganismos da urina infectada, prevenindo a uretrite, responsável pela disúria e urgência, assim como a contínua 
drenagem da urina previne a urgência e a frequência relacionadas à distensão da bexiga inflamada. Alguns pacientes de-
senvolvem sintomas após a retirada do cateter (Harding et al, 1991). Leucocitose periférica também não é preditiva de 
ITU-CV. Pacientes cateterizados, com ou sem bacteriúria significativa, apresentaram níveis semelhantes de contagem de 
leucócitos no sangue no estudo prospectivo de Tambyah e Maki (2000). Febre também não é comum. Kunin e cols (1987) 
encontraram que 74% dos pacientes cateterizados em um hospital de crônicos desenvolveram bacteriúria ou candidúria (10
3 
UFC/mL) e menos que 2% tinham temperatura >38ºC. Bacteriemia ocorre em apenas 1-4% das UTI-CV devido, prova-
velmente, também à contínua descompressão do trato urinário (Tambyah & Maki, 2000). ITU relacionada a cateter de longa 
permanência em idosos pode se manifestar apenas com estado confusional ou uma febre inexplicável. Da mesma maneira, em 
pacientes com lesão medular, os sintomas de ITU-CV são inespecíficos, podendo haver febre, desconforto abdominal, 
aumento de espasticidade muscular perineal ou, às vezes, apenas modificação do aspecto e do cheiro da urina. 
Em presença de sintomas de infecção urinária em pacientes não-cateterizados, qualquer nível de bacteriúria ou candidúria 
será significativo. Com cateter vesical, a presença de febre ou diminuição do nível de consciência ou confusão mental ou 
sepse, sem outra fonte diagnosticada, em pacientes com bacteriúria ou candidúria em qualquer nível, será sugestiva de 
infecção urinária. 
A prevalência dos agentes etiológicos e sua sensibilidade aos antibióticos variam muito de hospital para hospital e de um 
setor para outro no mesmo hospital. Em um paciente individual, varia de acordo com o uso ou não de cateter, de antibiótico 
prévio ou de internação recente. O Quadro 6 mostra a variação da prevalência etiológica nos hospitais dos EUA em diferentes 
anos, comparando dados dos hospitais como um todo, e das UTIs separadamente. Especialmente expressivo é o aumento de 
Candida spp. na etiologia das ITUs em UTIs. O Quadro 7 reúne resultados de 10 hospitais privados do Rio de Janeiro, 
separando também os dados das UTIs. As ITUs-CV de curta permanência são monomicrobianas em mais que 90% dos casos 
(Tambyah & Maki, 2000). Por outro lado, 77% das bacteriúrias em pacientes cronicamente cateterizados são polimicrobianas 
(Saint & Chenoweth, 2003). 
 
Quadro 6 - Patógenos causadores de infecções do trato urinário ao cateter vesical em hospitais americanos de pacientes agudos 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
 Hospitais gerais UTIs UTIs clínicas 
Microrganismos 1990-1992 (% do total) 1990-1992 (% do total) 1992-1997 (% do total) 
 
Escherichia coli 26 18 14 
Enterococcus sp. 16 13 14 
Pseudomonas aeruginosa 12 11 10 
Klebsiella spp. e Enterobacter spp. 12 13 11 
Candida spp. 9 25 31 
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Adaptado de Maki e Tambyah 2001 e de Richard et al. 1999. 
 
Quadro 7 - Patógenos causadores de infecções do trato urinário ao cateter vesical em 10 hospitais de pacientes agudos do Rio de Janeiro 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
 Hospitais gerais UTIs 
 Jan/2000 a Set/2001 Jan/2000 a Set/2001 
Microrganismos n = 625 (% do total) n = 294 (% do total) 
 
Escherichia coli 21,6 21,1 
Enterococcus sp. 10,4 8,8 
Pseudomonas aeruginosa 15,5 15,6 
Klebsiella spp. 9,9 9,2 
Candida spp. 19,2 25,5 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Fonte: Banco de dados da Infecto-Infecções Hospitalares e Assessoria Ltda. 
 
Patogenia 
Uma vez inserido o cateter vesical, inicia-se a formação de biofilme em suas superfícies interna e externa. O biofilme é 
formado pela aderência de microrganismos ao cateter, que em seguida começam a se multiplicar e secretar uma matriz 
extracelular constituída principalmente por polissacárides que envolve a camada de microrganismos. O biofilme protege os 
microrganismos da ação dos antibióticos de várias maneiras: 1) dificultando a sua penetração; 2) a maioria dos antimicro-
bianos requer crescimento microbiano ativo para exercer sua atividade e, dentro do biofilme, os microrganismos crescem 
lentamente, talvez pela falta de nutrientes e oxigênio; 3) os microrganismos dentro do biofilme alteram os sítios de ação dos 
antimicrobianos. A migração do biofilme na superfície interna do cateter à bexiga ocorre em 1 a 3 dias. Na maioria das vezes, 
uma única espécie bacteriana compõe o biofilme, embora possa haver até cinco espécies. Algumas bactérias como Proteus 
sp., Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Providencia sp., hidrolisam uréia na urina, produzindoamônia livre 
que aumenta o pH, permitindo precipitação de minerais dentro do biofilme, causando incrustações que podem até obstruir o 
cateter. Infecção crônica por estas bactérias pode levar à formação de cálculo renal. Não está ainda estabelecido o papel do 
biofilme na patogenia da ITU-CV. Alguns estudos sugerem que as bactérias encontradas em cultura de urina coletada pelo 
cateter podem não refletir a população bacteriana crescendo dentro do biofilme (Warren 1997). 
Os microrganismos ganham acesso às vias urinárias, no paciente cateterizado, através de dois caminhos. O primeiro é a 
via extraluminal. Microrganismos colonizantes do períneo podem ser introduzidos por inoculação direta no momento da 
inserção do cateter, ou, mais tarde, migrar do períneo, por ação de capilaridade, através da interface entre a mucosa uretral e 
a superfície externa do cateter. Um estudo prospectivo de Tambyah e cols (1999) mostrou que 66% das ITUs-CV foram 
adquiridas por esta via, sem diferença entre homens e mulheres, e que é mais importante para bacilos Gramnegativos do que 
para fungos e cocos Grampositivos (Quadro 8). O segundo caminho é a via intraluminal por microrganismos que ganham 
acesso à luz do cateter por falha na manutenção da drenagem fechada de urina ou por contaminação da urina na bolsa coletora. 
Esta via foi responsável por 34% das infecções no estudo de Tambyah e cols (1999) e foi o caminho mais importante para as 
infecções por cocos Grampositivos e fungos. O esvaziamento da bolsa coletora sem os cuidados adequados é frequentemente 
fonte de surtos de ITU-CV. A via hematogênica para pielonefrite hospitalar é rara e quase exclusivamente para S. aureus. 
 
Quadro 8 - Vias preferenciais de acesso dos microrganismos às vias urinárias 
------------------------------------------------------------------------------------------------ 
 Via extraluminal Via intraluminal 
Microrganismos (%) (%) 
 
Cocos gram-positivos (n = 44) 79 21 
Fungos (n = 34) 69 31 
Bacilos gram-negativos (n = 37) 54 46 
 
Total (n = 115) 66 34 
 ----------------------------------------------------------------------------------------------- 
Adaptado de Maki e Tambyah (2001) 
 
Fatores de risco e medidas de prevenção 
Cateter vesical - O principal fator de risco das ITUs hospitalares é o cateter vesical. Cerca de 80 a 95% das ITUs rela-
cionadas à assistência são associadas ao cateter (ITU-CV) (Richards et al, 1999). Desta forma, a principal medida preventiva 
é evitar a cateterização desnecessária através da educação da equipe médica sobre as indicações para o cateterismo vesical. 
Cateterização desnecessária foi registrada em 21-50% dos casos por Saint e Chenoweth (2003). A inserção deve ser realizada 
com técnica asséptica por profissional treinado. As indicações para o uso de cateter estão listadas no Quadro 9. 
Alternativas ao cateter vesical de demora incluem o uso de coletor externo (condom), cateter suprapúbico e cateterismo 
intermitente. 
Sobre o uso de condom, estudos das décadas de 1970 e 1980 apontavam um risco 2,5 vezes menor de infecção sintomática 
comparado ao cateter mantido. Porém um estudo de porte nacional realizado em hospitais de agudos e de crônicos, e em 
assistência domiciliar, mostrou incidência duas vezes maior com o uso de condom (Zimakoff et al, 1996). Especialistas sobre 
o assunto propõem que novos estudos são necessários. Dado que a maioria dos homens incontinentes preferem condom ao 
cateter, este dispositivo deve ser indicado para homens que aderem a este tipo de coleção de urina (Saint & Chemoweth 
2003). 
Quanto ao cateter suprapúbico, a maioria dos estudos indica menor taxa de bacteriúria e maior taxa de satisfação dos 
pacientes com este procedimento, em comparação com o cateter vesical. Porém alguns estudos referem complicações me-
cânicas maiores. Até que se esclareça o risco/benefício deste procedimento, a sua maior dificuldade de realização limita o seu 
uso em pacientes que requerem cateterismo de curta permanência (Saint & Chemoweth 2003). 
O cateterismo intermitente é uma boa alternativa ao cateterismo de longa permanência em pacientes com lesão raqui-
medular, diminuindo o risco de bacteriúria, de episódios febris, cálculos, infecções periuretrais e de insuficiência renal. 
O uso de fraldas em pacientes incontinentes requer infraestrutura de trocas múltiplas (pelo menos seis vezes ao dia) 
acompanhadas de higiene da região perineal com água e sabão. 
Quanto à prevenção, cateteres impregnados com prata têm mostrado eficácia na redução de ITU-CV sem seleção de 
microrganismos resistentes e os estudos de custo/eficácia mostram que podem trazer economia para a instituição (Maki et al, 
1998; Saint et al, 1998). 
 
Quadro 9 Indicações para cateterismo vesical 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Imediatamente antes, durante e imediatamente após cirurgia prolongada usando anestesia geral ou raquimedular 
Para monitorização do débito urinário 
Para prevenir lesão de pele e úlcera de pressão em pacientes debilitados, paralisados ou comatosos 
Para alívio de obstrução anatômica ou funcional do fluxo urinário 
Para facilitar a cicatrização em pacientes submetidos a reparação cirúrgica do trato geniturinário 
Quando é necessária irrigação contínua da bexiga em pacientes com hemorragia do trato urinário 
Quando há incontinência urinária sem obstrução em paciente com úlcera de pressão sacra ou perineal 
Para drenagem a longo prazo, quando a correção cirúrgica não é indicada ou desejada 
------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ------------------------------------ 
A seguir serão comentados os fatores de risco para ITU e profilaxia em pacientes cateterizados. 
 
Sistema aberto de coleção de urina - É o principal fator de risco para ITU-CV. Consta de um cateter vesical acoplado ao 
tubo coletor que drena a urina em um depósito ao qual não é selado. A taxa de bacteriúria em pacientes submetidos a este 
sistema de coleção é de 100% em 4 dias. A contaminação intraluminal do tubo de drenagem é rápida, e a partir daí os mi-
crorganismos ascendem para as vias urinárias. Não há mais indicação para o uso deste sistema nos dias de hoje, razão pela 
qual todas as informações sobre cateterismo vesical neste capítulo serão referentes ao sistema fechado de coleção de urina, 
em que o tubo coletor é selado à bolsa coletora. O cateter vesical deve ser conectado ao tubo coletor de maneira asséptica, 
antes de ser introduzido no paciente, e não deve ser desacoplado durante todo o tempo de uso. O único ponto de abertura do 
sistema é o conector de drenagem na parte inferior da bolsa, que permanece clampeado, sendo aberto apenas para esvazia-
mento, e com cuidados adequados para prevenir contaminação (Fig. 2). 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 - Vias de contaminação da urina no paciente cateterizado 
 
 
Duração da cateterização - O tempo de permanência do cateter é o principal fator de risco em pacientes com sistema 
fechado de coleção. Cerca de 25% dos pacientes cateterizados por 7 ou mais dias apresentarão bacteriúria ou candidúria, com 
um risco diário de cerca de 5%, e com 30 dias de cateterização, a infecção é quase universal (Maki & Tambyah, 2001). 
Portanto, a principal medida de prevenção no paciente cateterizado é a retirada do cateter tão logo não seja mais necessário. 
Tempo maior que o necessário é apontado pela literatura em 1/3 a 1/2 dos dias de cateterização. Um motivo comum deste 
prolongamento é o esquecimento do cateter no paciente pelos médicos, ou mesmo a falta de conhecimento

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