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História Do Brasil Imperial Conteudo On Line aulas em Word

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História Do Brasil Imperial
Aula 01: Herança Colonial e Transfêrencia da Corte
O historiador Luiz Felipe de Alencastro afirma que:
“A transferência da corte trouxe para a América portuguesa a família real e o governo da metrópole. Trouxe também, e sobretudo, boa parte do aparato administrativo português. Personalidades diversas, funcionários régios continuaram embarcando para o Brasil atrás da corte, dos seus empregos e dos seus parentes, após o ano de 1808.”
(ALENCASTRO, Luiz Felipe. Vida privada e ordem privada no Império. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe. História da vida privada no Brasil. São Paulo: companhia das letras, 1997. p. 12)
De fato, o início do século XIX representou no Brasil a continuidade do processo de transição da Colônia para o Império. A independência em 1822 não coincidiu com a consolidação da unidade nacional, que só ocorreu mesmo entre os anos de 1840 – 1850 e tampouco foi marcado por um movimento de caráter nacionalista ou revolucionário. De fato, o que mais se apresenta no processo de emancipação do Brasil são as atitudes recolonizadoras de Portugal e as agitações populares que ocorriam na colônia. Carlos Guilherme Mota e Adriana Lopez trazem um interessante caso de como os brasileiros passaram a ter uma atitude antiportuguesa desde a insurreição nordestina de 6 de março de 1817.
O português Cardoso Machado escreveu a um amigo reclamando:
“Os boticários, cirurgiões, sangradores não fizeram mais conta de mim; quando eu passava, riam-se. Os cabras, mulatos e crioulos andavam atrevidos, pregando igualdade (...) até os barbeiros não me quiseram mais fazer a barba, respondiam que estavam ocupados no serviço da pátria, via-me obrigado a fazer a mim mesmo a barba. Cabras e mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam éramos iguais, e que haviam de casar, senão com brancas das melhores, e Domingos José Martins andava de braço dado com eles armados de bacamartes, pistolas e espada nua”. (LOPEZ, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Senac, 2008. p. 331).
Foi no clima de antilusitanismo que D. João voltou para Portugal e indicou seu filho para príncipe regente. A essa altura, a emancipação ia se tornando inevitável. Sem dúvida havia motivos tanto para a emancipação com Portugal como para a permanência, como dizia Maria Odila em sua obra “A interiorização da Metrópole”:
“Para os homens de ideais constitucionalistas parecia imprescindível continuar unidos a Portugal, pois viam na monarquia dual os laços que os prendiam à civilização européia, fonte de seus valores cosmopolitas de renovação e progresso. A separação, provocada pelas cortes revolucionárias de Lisboa, teria de início a conotação reacionária de contra-revolução e a marca do partido absolutista.” (162).
Como não haviam partidos políticos no Brasil, os grupos se reuniam por tendências e concepções políticas. Dois dos grupos mais influentes eram o partido português, que defendia a ligação com Portugal e o retorno do Brasil à condição de Colônia. Esse era formado por comerciantes ligados aos monopólios portugueses.
O outro grupo era o partido brasileiro. Esses defendiam a livre negociação, ou seja, sem o intermédio dos portugueses. Era formado por produtores de gêneros tropicais e ainda contavam com o apoio de uma ampla gama de funcionários que ficaram no Brasil após a saída da corte.
Embora esses grupos defendessem ideias opostas, em uma coisa concordavam, ambos tinham receio da agitação popular que tomava conta das principais cidades do país. O fantasma do Haiti assombrava as elites. Era inimaginável a ideia de que em um futuro governo tivesse que ampliar a base representativa com a inclusão de elementos das camadas populares.
Dessa forma, ambos os partidos agiram rápido e viram no príncipe regente a figura que iria estar à frente dos interesses comuns, a luta contra as Cortes portuguesas e contra os republicanos.
Manter a monarquia para evitar uma crise sucessória e manter a escravidão era desejo tanto dos portugueses como dos brasileiros, mas Carlos Guilherme Mota afirma que:
Por outro lado, Pedro aproveitou a oportunidade para desobedecer às cortes. Orientado por um político reformista ilustrado e maduro, o santista e professor da Universidade de Coimbra José Bonifácio de Andrada e Silva (então a figura mais ilustre no mundo luso-brasileiro), o príncipe regente Pedro proclamou a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822 (o “Grito do Ipiranga”). Dessa forma, pensava-se que o absolutismo do príncipe regente e a ordem escravista das elites ficariam a salvo dos ataques das Cortes portuguesas e da “anarquia dos liberais-radicais brasileiros.
Assim, em outubro de 1822, Pedro I foi aclamado imperador do Brasil.
José Bonifácio de Andrada e Silva
Nasceu em Santos em 1763. O estudante destacado tornou-se filósofo, advogado, professor e cientista político. Teve destacada atuação na vida política brasileira, como deputado, vice-presidente da Província de São Paulo, ministro do Império, tutor do Imperador Pedro II e é considerado como Patriarca da Independência.
REFLEXÃO:
“Ser obrigado a conduzir-me entre os homens como homem vulgar, quando não penso como eles, é a coisa mais pesada a que devo me sujeitar.”
José Bonifácio de Andrada e Silva
Guerras de Independência
Virou lugar comum ouvir dizer que o processo de independência do Brasil não contou com nenhum confronto, no entanto a historiografia elucida que ocorreram alguns conflitos, sobretudo no nordeste do país.
De fato, os conflitos mais acirrados ocorreram a partir de tropas portuguesas que estavam na Bahia, Maranhão, Piauí, Grão-Pará e também na província da Cisplatina. As tropas portuguesas lutavam para manter o Brasil ligado a Portugal.
Independência: arranjo ou revolução?
O historiador Caio Prado Júnior indica que houve um “arranjo” que marcou os períodos posteriores à formação do Estado. Sobre a interpretação de “arranjo”, atesta ele:
“Outro efeito da forma qual se operou a emancipação do Brasil é o caráter de “arranjo político”, se assim nos podemos exprimir, de que se revestiu. Os meses que medeiam da partida de D. João à proclamação da Independência, período final em que os acontecimentos se precipitam, resultou num ambiente de manobras de bastidores, em que a luta se desenrola exclusivamente em torno do príncipe regente, num trabalho intenso de o afastar da influência das Cortes portuguesas e trazê-lo para o seio dos autonomistas. Resulta daí que a Independência se fez por uma simples transferência política de poderes da metrópole para o novo governo brasileiro.”
(LOPEZ, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Senac, 2008. p. 333.)
Independência: arranjo ou revolução?
Atualmente, a historiografia sobre a Independência é bastante vasta, vale a pena conhecer os trabalhos de Evaldo Cabral de Mello e de Sérgio Buarque de Hollanda.
Aula 02: Independência e a Permanência da Escravidão 
1824: O primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foram os Estados Unidos da América, em 1824. Naquele momento o país do norte da América apregoava a política “América para os americanos”, ou seja, que os países do continente não poderiam ser colônias de outros países.
1825: Portugal só reconheceu a independência em 1825, devido a pressão da Inglaterra, que também reconheceu no mesmo ano. O apoio Inglês a independência fez com que o país consolidasse seus privilégios no Brasil, sendo a mais favorecida no comércio, além disso, os súditos ingleses não poderiam ser julgados por leis locais, na verdade o Brasil funcionava na prática como um “protetorado” inglês.
1850: Desde os primeiros tratados comerciais que D.João IV assinou em terras brasileiras com a Inglaterra, ficava acordado o fim do tráfico de escravos africanos. A Inglaterra esperava do novo Estado o fim do tráfico, mas este só seria abolido em 1850, já no Segundo Reinado. Daí vem o ditado conhecido até os dias de hoje: “para inglês ver”. A Inglaterra naquele momento estavapassando por sua revolução industrial e o Brasil já era uma área de consumo de mercadorias industrializadas, assim, quanto mais rápido o Brasil saísse de uma economia escravista para um economia tipicamente capitalista, mais rápido a Inglaterra teria novos consumidores.
Para termos uma ideia de como os produtos ingleses faziam parte do dia a dia do brasileiro, podemos recorrer aos escritos da escocesa Maria Graham:
As rua estão, em geral, repletas de mercadorias inglesas. A cada porta as palavras Superfino de Londres saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louças de barro, mas acima de tudo ferragens de Birmingham, podem-se obter um pouco mais caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil, além de sedas, crepes e outros artigos da China.
As rua estão, em geral, repletas de mercadorias inglesas. A cada porta as palavras Superfino de Londres saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louças de barro, mas acima de tudo ferragens de Birmingham, podem-se obter um pouco mais caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil, além de sedas, crepes e outros artigos da China.
ATENÇÃO:
O empenho dos ingleses pelo fim do tráfico e consequente fim da escravidão, além do exposto acima, era porque havia uma significativa presença de africanos e afro-brasileiros. Boris Fausto diz que no fim do período colonial negros e mulatos representavam aproximadamente 75% da população de Minas Gerais, 68% de Pernambuco, 79% da Bahia e 64% do Rio de Janeiro.
A Permanência da Escravidão
Como vimos, as primeiras pressões pela supressão do trabalho escravo negro foram feitas a Portugal quando ainda estava na posição de metrópole do Brasil. Nos anos de 1807, 1815 e 1817 teremos os primeiros tratados que limitavam a escravização. Já com o país independente teremos uma barganha onde, pela troca do reconhecimento diplomático da independência, o Brasil assumiu o compromisso da abolição. Contudo, é somente em 1831 que assina uma lei antitráfico, onde a partir daquele momento o tráfico seria pirataria, porém essa lei foi apenas “para inglês ver”, pois mostrou-se ineficaz e sem nenhuma fiscalização por parte do governo.
As pressões inglesas pela abolição trazem à tona manifestações populares contrárias ao domínio inglês, como exemplo nos é mostrado um caso em Campos onde a população prendeu um oficial e feriu um marinheiro inglês. Várias das camadas  da população imbuídas em um espirito nacionalista, acreditavam ser a Inglaterra uma nação imperialista que não deveria envolver-se nos problemas internos brasileiros - era o mesmo que dizer que a escravidão era coisa nossa - poucas eram as vozes que ouvia-se em prol dos ingleses.
Com a aproximação de findar os tratados de comercio entre os dois paises, onde a Inglaterra tinha uma considerável abertura em nosso mercado, e a recusa do Brasil em renová-lo, o governo ingles ataca mais incisivamente o escravismo e em 1845, um ano depois de ter expirado o acordo, cria-se o Aberdeen Act, e através deste prenderia e julgaria em solo britânico, os navios apreendido com mercadoria humana.
No final da década de quarenta do século XIX, navios ingleses chegam ao ponto de invadir portos brasileiros para prender e afundar navios negreiros. É nesse período conturbado que entra no forno das discussões a criação de uma lei natural do Brasil, que lançada em 1850, Lei Eusébio de Queiroz, vai mais ratificar a de 1831 do que ser uma coisa inovadora, porém a ação do governo nesse momento vai ser de repressão aos traficantes de escravos. É a  partir dessa lei que começa uma disputa entre Brasil e Inglaterra pela ação de ter extinto o tráfico, disputa que vai encontrar seu maior campo nos periódicos.
Outro importante passo para a abolição da escravidão é a Lei do Ventre Livre, 20 anos depois da que proibia o tráfico, essa lei atribuída ao governo e posta em prática em um período de relativa paz causou grande incômodo, principalmente na elite agrária, porém ela é apenas parte de uma reforma modernizadora, que em troca de um desgaste político desejava evitar um mal maior, que poderia ser desde pressões inglesas até uma revolta de escravos, como acontecida no Haiti, e temida pelos brancos.
A Lei do Ventre Livre, na prática, não resolveu nada, pois o “ingênuo” poderia ser utilizado na lavoura até 21 anos, o que facilitava as coisas para o proprietário.Sem deter–se  muito na questão, Saraiva Cotegipe afirma que o último ato da abolição foi marcado por  grande participação popular.
O 13 de maio vai romper definitivamente o acordo entre os barões e o rei, embora diga Cotegipe que a abolição foi muito mais uma ação revolucionária. O desgaste do governo com os barões foi fatal para a caída do império. Contudo diz o autor “que o sistema imperial começou a cair em 1871 após a Lei do Ventre Livre. Foi a  primeira clara indicação de divórcio entre o rei e os barões, que viram a Lei como loucura dinástica.”
Família Escrava
Para analisarmos a questão da família escrava, faz-se imprescindível os escritos do padre jesuíta Jorge Benci, que embora esteja temporariamente afastado do nosso  estudo, dá as bases de como deve ser tratado o escravo – pela política do pão, pau e pano - o alimento, o castigo e a vestimenta – pois sendo um investimento, não pode sucumbir das mazelas provocadas pelo senhor. Não se esquece porém que, para a sobrevivência do cativo, e caridade do senhor, é de suma importância o alimento espiritual, que é ministrado através dos sacramentos. Nos deteremos no que diz respeito ao sacramento matrimonial.
REFLEXÃO
São elucidativas as palavras do autor para entender como a igreja, desde os tempos coloniais, vê a formação da família escrava:  
“E não devendo os senhores impedir o matrimónio aos servos, também lhes não devem impedir o uso dele depois de casados apartando o marido da mulher e deixando a um em casa, e mandando vender ou viver o outro em partes tão remotas, que não possam fazer vida conjugal. Porque quando não pequeis contra a justiça, privando o servo do que lhe compete por direito natural, como ensina o padre Sanchez; não se pode negar que pecas ao menos contra a caridade: porque apartando os servos casados um do outro, vindes a privá-los do bem do matrimônio, no que lhes causais dano mui grave, que a caridade proíbe se faça ao próximo sem urgentíssima causa.”       
BENCI, Jorge. Economia cristã dos senhores no governo dos escravos. São Paulo: Grijaubo, 1977.
Através da fonte podemos notar que, na formação de laços familiares, buscava-se um meio para a  pacificação dos escravos com a sociedade.
Caminhando para análises mais recentes sobre a escravidão, há uma tendência de ver o escravo como “coisa”, negando-lhe dessa maneira o caráter de agente social.
EXEMPLO:
Essa visão fica bem clara nos estudos de Chalhoub, os quais dizem que ao cativo seriam negados todos os direitos, os sentimentos, mesmo os de família, e ele terminaria por “quase acreditar” na sua situação de inferioridade e agiria de acordo com as “determinações” da elite dominante.
Quando Fernando Henrique Cardoso analisa a sociedade escravocrata rio-grandense, deixa claro em seu estudo o caráter brando da escravidão nessa parte do país. Devemos já ressaltar que a escravidão tem um caráter único e um sentido de dominação de um pelo outro, não existindo nenhum tipo de escravidão benevolente.
Mas para o mito da passividade do escravo, a historiografia construiu o mito do escravo rebelde para explicar fugas, rebeliões, quilombos e outras formas de resistência que não passaria pela negociação.
Uma nova corrente que emerge na historiografia valoriza o escravo como agente social que influi de maneira incisiva para a formação da identidade nacional. Tais estudos mostram, por exemplo, que a rebeldia - antes encarada como única forma de contestação do cativo - pode ser entendida como uma das cartas que o escravo possuía para negociar sua situação. No que refere-se à família, essa nova visão utiliza-se da demografia histórica e faz uma completa mudança no cenário da escravidão brasileira, principalmenteatravés de  registros de família, casamento e herança.
A Família
Interferência da familia escava no mercado:
As pesquisas mais novas, tendo seus objetos de estudo mais limitados quanto ao espaço e ao período, permitiram uma investigação massiva dos documentos cartoriais e paroquiais. Considerando variáveis importantes como características relativas à área urbana ou rural, o tamanho do plantel, a nacionalidade dos escravos, os trabalhos quantitativos têm sido acrescidos de uma análise mais qualitativa.
Autores como Manolo Florentino, João Fragoso e José Roberto Góes, em seus estudos, mostram a família escrava estável como algo bastante comum, constatando a existência do que  poderia ser chamado de um mercado de famílias.
O Mercado:
Logo, devemos admitir a interferência da família escrava no mercado, essa forte influência é mais visível ainda após 1850 com o fim do tráfico intercontinental, e o conseqüente aumento da importância dos escravos.
O tráfico de escravos:
Devemos ressaltar que embora desde 1831 o tráfico de escravo fosse considerado pirataria é só a partir de 1850 com a lei Eusébio de Queiros que o governo brasileiro vai fiscalizar a prática do comércio ilícito.
O fim do tráfico internacional:
Porém mesmo que o fim do tráfico intercontinental tenha facilitado a formação das famílias escravas, isto não significa que não existissem condições para sua existência antes; muito pelo contrário, na realidade 1850 serviu somente para reforçar uma formação já existente e com certeza para aqueles autores que culpavam o sistema pela instabilidade da família, ficou mais fácil entendê-la.
Podemos dividir a formação dos laços de parentescos em dois grupos, o primeiro são as ligações consanguíneas, que ainda pode ser subdividido em matrifocais e nucleares.
“Em épocas de estabilidade do desembarque de africanos, os grupos familiares nucleares (pais casados e seus filhos, ou esposos cujo matrimônio era legalmente sancionado) eram maioria e abrangiam a maior parte dos parentes. Entre 1790 e 1808, seis entre cada dez familiares escravos eram deste tipo. Na medida em que o tráfico se incrementava, porém, os grupos familiares primários de base matrifocal (mães solteiras e seus rebentos), e os parentes a eles adscritos, tendiam a ser majoritários.”   
Matrifocais:
Notamos que tendo mão de obra disponível a família tende a ficar unida, não havendo necessidade do senhor desmembra-la, inclusive em alguns inventários pós–mortem, quando a herança passa para as mãos dos filhos, é comum a permanência da estrutura nuclear. Porém sendo necessário o afastamento do núcleo familiar, dá-se a separação do pai. A estrutura da família matrifocal vai ser constituída pelas mães solteiras ou viúvas
Nucleares:
O segundo grupo, e ao nosso ver o mais significativo, é a união familiar pelo batismo (o apadrinhamento), pois é dessa forma que vão estabelecer-se alianças políticas, vínculos de afeição, de identidade e de reciprocidade. Sendo fundamental para a relação entre os escravos e mesmo com o senhor.
O estabelecimento de relações familiares entre os pares eram fundamentais para a sua socialização. Relações tão intimamente ligadas à própria condição de ser escravo e que os olhares brancos por vezes não davam conta de sua amplitude. 
A questão da convivência entre os escravos era tensa, pois além da falta de mulheres – isso nos leva a crer que no tráfico atlântico o comércio de homens era mais intenso do que o de mulheres – havia a discriminação dos cativos da terra com os “negros novos”. Não podemos deixar de aludir que outro fator para as tensões, e já amplamente estudado, é a relação com o senhor.
Os escravos, para que garantissem sua sobrevivência em um “novo mundo”, tiveram de transformar antigas rivalidades em formas de solidariedade, e uma das formas de se garantir a sobrevivência do grupo era a constituição da família, mesmo que em grande parte os escravos não fossem casados com o consentimento divino, estavam repetindo uma prática da própria sociedade. Para os negros, a formação da família era uma maneira de sobrevivência e, para os senhores, um dos meios para a pacificação nas senzalas.  
Aula 03: FORMAÇÃO DO ESTADO IMPERIAL E A SOCIEDADE BRASILEIRA NO INICIO DO SECULO XIX
Como vimos nas aulas anteriores, embora a independência do Brasil não tenha significado a extinção do regime monárquico e a adoção da república, a transição entre colônia e império não foi feita sem conflitos.
Vamos relembrar o que estudamos e entender o processo de emancipação em um contexto maior, comparando o Brasil e as demais colônias da América Latina.
Influenciadas pelas ideias iluministas, como os princípios de cidadania, liberdade e democracia, as elites das colônias espanholas, os chamados crioulos, filhos de espanhóis nascidos na América, deram início ao processo de emancipação colonial, no século XIX.
Entretanto, foi o Haiti a primeira colônia latino-americana a se independer da sua metrópole, a França, em 1803. Mas este processo foi absolutamente particular, pois foi o único em que a independência não foi conduzida por uma elite, mas por escravos.
Assim como ocorrera nos Estados Unidos, também as colônias espanholas, ao proclamarem suas independências, adotaram o regime republicano como forma de governo. O Brasil foi uma exceção, pois manteve a monarquia intocada, herdada do período colonial.
Mas não foi só o sistema monárquico que foi mantido. Também a escravidão e a base agrária da economia brasileira permaneceram. Clique na imagem e saiba mais sobre o regime escravista.
A manutenção da escravidão pode ser considerada um dos fatores fundamentais para o desgaste das estruturas imperiais que porão fim ao império brasileiro, em 1889.  Neste caso, o Brasil não foi a única ex-colônia a manter o regime escravista. Os Estados Unidos também o fizeram, com o agravante de terem adotado o sistema republicano, baseado na liberdade e igualdade, o que tornava a existência dos escravos uma contradição ainda mais evidente.
Se a independência foi proclamada de fato em 1822, suas raízes remontam à vinda da família real, em 1808.
Ao retornar a Europa, Dom João sabia que o rompimento definitivo seria apenas uma questão de tempo, e fez uma recomendação a Dom Pedro, seu filho, que ficara no Brasil como regente: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, que para algum desses aventureiros”.
Com o retorno do rei Dom João VI para Portugal, a preocupação latente nas elites brasileiras de que o Brasil pudesse ser novamente relegado à posição de colônia e perdesse os privilégios políticos e a liberdade econômica que havia adquirido durante a permanência da corte levou aos protestos pela separação definitiva de Portugal.
Percebemos que, mesmo antes da independência, havia um projeto de manutenção das estruturas que haviam sido montadas por Portugal durante o período colonial. E foi o que aconteceu.
Ainda assim, ao proclamar a sua emancipação, Dom Pedro I deu o pontapé inicial para a formação da nação brasileira. Mas por que não podemos falar em nação antes do período da independência?
De modo geral, a formação e existência de uma nação implica em autonomia. Para que a nação exista, é preciso que ela tenha:
Além disso, é necessária a elaboração de um conjunto de leis que irão reger o novo país. Essas leis são agrupadas na constituição, que é o documento máximo de um país. Portanto, proclamar a independência foi apenas o primeiro passo. A construção da nação estava só começando.
Desde a chegada dos portugueses no século XVI, o Brasil viu seu território ser ampliado diversas vezes. Na configuração inicial, dada pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, cabia a Portugal uma faixa de terra litorânea.
A colonização, a ação dos bandeirantes que partiram rumo ao interior e o estabelecimento de novos tratados nos séculos seguintes, alterou o mapa da colônia, fazendo com que esta possuísse, ao final do século XVIII, as dimensões aproximadas que temos hoje em dia.
Isso significaque, um dos principais desafios do imperador Dom Pedro I seria governar um território de dimensões continentais. Isso não implica somente defesa das fronteiras, mas a conciliação de interesses diversos das elites regionais. Quando chegou ao Brasil, a família real transferiu a capital da colônia, que ficava em Salvador, para o Rio de Janeiro. Isso significa que o Nordeste perdeu uma enorme parte de seu poder político e, portanto, do favorecimento econômico que recebia. A transferência da capital fez com que o coração do Império se localizasse na Região Sudeste. Dessa forma, a emergência das oligarquias paulista e mineira se fizeram evidentes, em detrimento dos interesses dos senhores de terras nordestinos. As necessidades regionais eram tão diferentes quanto suas elites e, ao proclamar a independência, era preciso não só conciliar estas diferenças, mas satisfazer as oligarquias e evitar a eclosão de revoltas populares.
O primeiro passo era a elaboração de uma Constituição. A instalação oficial da assembleia constituinte aconteceu em 1823. Era formada por noventa membros e, devido a uma manobra do líder conservador José Bonifácio de Andrada, estava excluído de votar todo aquele que recebesse um salário, ou seja, a classe trabalhadora de modo geral.
Essa estratégia permitiu que todos os membros da Assembleia fossem oriundos das camadas dominantes, como latifundiários, o clero e profissionais liberais. Podemos perceber, de imediato, que o interesse das elites foi controlar os mecanismos legislativos do país com o objetivo de manter os privilégios que haviam adquirido no período colonial.
Essa elite era influenciada pelas ideias francesas defendidas pelos filósofos iluministas, mas adaptou-as às suas necessidades. Foram incorporados os princípios de soberania nacional, o liberalismo econômico e a divisão de poderes, defendida por Montesquieu em O Espírito das Leis. 
Mas os iluministas acreditavam na participação popular e na democracia. “Todo poder emana do povo e para o povo é exercido” é uma das considerações de Jean Jacques Rousseau, em o Contrato Social. Mas não foram estas as teorias aplicadas pelos constituintes de 1823. A maciça presença oligárquica nas estruturas imperais impunha um afastamento da população das decisões políticas e o documento proposto revela esta exclusão.
Os constituintes deveriam elaborar um projeto, que seria levado ao imperador para que este a sancionasse. Este projeto ficou conhecido como constituição da mandioca, pois previa que os eleitores deveriam ter sua renda medida em alqueires de farinha de mandioca.
Segundo Isabel Lustosa: “O anteprojeto da Constituição de 1823 mantinha a eleição indireta e o voto censitário com uma peculiaridade: a riqueza era medida pela quantidade de farinha de mandioca que se pudesse produzir. Os eleitores da paróquia, ou de primeiro grau, deveriam ter uma renda mínima equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca. Eles elegeriam os eleitores de províncias, ou de segundo grau, cuja renda mínima exigida era de 250 alqueires. Por fim estes últimos elegiam os deputados e senadores, que precisavam de uma renda correspondente a 500 e 1000 alqueires, respectivamente, para serem elegíveis. Diz Tobias Barreto que “tão estranha e pitoresca exigência despertou a veia humorística do povo, donde logo partiu o apelido destinado a ferir de ridículo: Constituição da mandioca”.
Embora seja excludente, o projeto anticonstitucional era claramente antiabsolutista e procurava, por diversos meios legais, limitar os poderes imperiais. Ao tomar conhecimento do teor da carta proposta pelos constituintes, o imperador ficou extremamente contrariado, pois via o poder real cerceado. Esta insatisfação aproximou Dom Pedro I do partido português, que defendia plenos poderes para o imperador e afastou-o dos conservadores. Em novembro de 1823, Dom Pedro decretou a dissolução da Assembleia Constituinte. Os deputados tentaram resistir, mas foram duramente reprimidos, sendo punidos com a prisão e o degredo.
A dissolução da Assembleia causou uma grave crise política em um regime que ainda tentava se estabelecer. O imperador nomeou um Conselho de Estado, composto de dez membros, para elaborar um novo texto para a Constituição.
Segundo o historiador Caio Prado Junior, em a Evolução Política do Brasil e outros estudos, o texto encomendado por Dom Pedro deveria conter, sobretudo, princípios liberais, com o claro propósito de deixá-los somente no papel. Pouco mais de um mês depois de formado o Conselho, a carta constitucional estava pronta, sendo outorgada em 25 de março de 1824.
Veja, estamos falando de uma Constituição outorgada.
Quando as constituições são elaboradas por representantes do povo, ou seja, com a participação popular – através de seus representantes, chamamos de constituição promulgada. Aquelas que são elaboradas sem a participação popular são constituições outorgadas. Este é o caso da Constituição de 1824, outorgada à nação pelo imperador.
A nova constituição e o projeto anterior tinham alguns pontos em comum: ambas afastavam a maior parte da população do poder. O voto era censitário, ou seja, baseado na renda, o que valia tanto para ser eleitor como para concorrer a algum cargo eletivo.
O primeiro artigo deste documento coloca que: “O Império do Brasil é a  associação Política de todos os Cidadãos Brasileiros. Eles formam uma Nação livre, e independente, que não admite com qualquer outro laço algum de união, ou federação, que se oponha à sua Independência.”
De imediato, o documento afirma a soberania do novo país e, buscando um caráter democrático, estipula também os escravos libertos como cidadãos brasileiros. Mas esse conceito de cidadão é bastante contraditório, já que as mulheres são cidadãs, mas estão impedidas de votar. O mesmo ocorre com os libertos.
Vejamos o artigo 94:
Art. 94. Podem ser eleitores e votar na eleição dos deputados, senadores e membros dos conselhos de província todos os que podem votar na assembleia paroquial. Excetuam-se:
I. Os que não tiverem de renda líquida anual duzentos mil réis por bens de raiz, indústria, comércio, ou emprego.
II. Os Libertos.
A noção de cidadania que temos hoje é bastante recente e, ainda que o documento de 1824 remeta constante aos cidadãos brasileiros, ele é excludente e deixa de fora da participação política a maior parte da população. Se a carta e seu projeto se parecem neste aspecto, diferem muito no que diz respeito aos poderes e atribuições do imperador. Aos três poderes originais – executivo, legislativo e judiciário, foi acrescentado um quarto poder, o moderador.
EXECUTIVO -> LEGISLATIVO -> JUDICIÁRIO -> MODERADOR 
O poder moderador era exercido exclusivamente pelo imperador e era soberano em relação aos demais. Para entendermos melhor, vamos fazer algumas considerações acerca da divisão dos três poderes.
O filósofo iluminista Montesquieu, com o objetivo de diminuir os poderes dos reis absolutos, elaborou uma teoria segundo a qual para evitar o excesso de poder, e, consequentemente, o abuso de poder, o Estado deveria ser dividido em três instâncias, com diferentes atribuições. O poder legislativo, executivo e judiciário. Cada um desses poderes seria independente, mas teria igual parcela na gestão pública. O que quer dizer que eram iguais, não havendo um que se sobrepusesse ao outro.
Quando é instituído um quarto poder, esta teoria é deturpada e acaba por perder seu sentido original, já que o poder moderador é superior aos demais. Por essa razão, alguns historiadores entendem essa estratégia como uma prática absolutista de Dom Pedro I, que concentrou os poderes do Estado em suas mãos.  Segundo Raymundo Faoro, em sua obra Os donos do poder: “O esquema procurará manter a igualdade sem democracia, o liberalismo fora da soberania popular. Linha doutrinária que flui de Montesquieu, passa por Sièyes e se difunde em Benjamin Constant, não por acaso, o pai do poder moderador da carta de 1824.”
De fato, em sua obra Curso de Política Constitucional, Benjamin Constant estabelecea necessidade de um poder moderador, que, a partir de seu ponto de vista, deveria se constituir como uma instância neutra, que mantivesse a harmonia dos demais poderes e garantisse a democracia.
Ao ser aplicado na Constituição de 1824, entretanto, ele acabou por ser apropriado para que o poder ficasse concentrado nas mãos do imperador, que legislava de acordo com a sua vontade, submetendo os demais órgãos, como as câmaras, assembleias e o senado aos seus desejos pessoais. Daí a análise de que este poder teria tornado Dom Pedro I um exemplo de rei absoluto dos trópicos. Dessa forma, a estrutura política do império ficou de outra maneira.
A partir da Constituição de 1824, o poder moderador se coloca acima de todos os outros. Mas esta não foi uma decisão acatada com tranquilidade. Ao contrário, provocou protestos por todos os lados, pois desagradava tanto ao povo quanto às elites que viram sua influência na política limitada pela vontade imperial. Além disso, através do Padroado, o poder do Imperador estendia-se também para a igreja.
Segundo a Constituição, a igreja católica era reconhecida como a religião oficial do Estado. O padroado rege a maneira como se travam as relações entre o Estado Imperial Brasileiro e a igreja. Embora sejam membros do clero, o salário deste passa a ser responsabilidade dos cofres públicos.
Na prática, isso transforma os membros da igreja católica em funcionários do Estado. Dessa forma, cabia ao imperador distribuir os cargos eclesiásticos e sancionar as bulas papais. Ou seja, as determinações do papado romano não podiam mais ser aceitas integralmente pelos membros da igreja sem antes passar pelo crivo do imperador.
O teor da carta constitucional gerou resistência por todo o país. A unidade nacional era frágil e os interesses regionais se sobrepunham aos nacionais. O descontentamento era evidente, sobretudo no Nordeste. A estrutura econômica montada durante o período colonial era baseada no latifúndio agroexportador. Enquanto o Brasil estava submetido ao pacto colonial, esse arranjo pode funcionar pois a produção brasileira era escoada para a metrópole que, por sua vez, a repassava aos seus parceiros comerciais. Quando a independência aconteceu, essa estrutura permaneceu intacta. Dessa forma, a economia nacional estava baseada na exportação e o mercado interno era praticamente ignorado pelos grandes latifundiários. Sem a presença de Portugal como comprador, era necessário que o Estado buscasse novos acordos comerciais para manter a economia, ostensivamente agrária, funcionando.
Províncias como Pernambuco, onde já havia eclodido uma revolução em 1817, defendiam claramente a república. Em toda parte, surgiam jornais e panfletos republicanos. O partido liberal passou a exercer uma oposição ferrenha ao imperador. O Partido Português, que apoiava o imperador, era visto com desconfiança e repudiado pelos nacionais. Soma-se a isso os altos tributos impostos pelo Império, o que fazia as elites nordestinas entenderem que sustentavam o Estado, mas estavam afastados das decisões políticas que lhes diziam respeito. Dessa forma, não foi surpresa quando no mesmo ano que a Constituição é outorgada, estoura uma revolta em Pernambuco, a Confederação do Equador. Nesta província existiam diversos jornais liberais e republicanos, como o Tífis Pernambucano, dirigido pelo carmelita frei Joaquim Caneca do Amor Divino.  
Em 25 de novembro de 1823, o jornal estampou a seguinte manchete, sobre a dissolução da Assembleia Constituinte:
“Amanheceu nesta corte o fúnebre dia 12 de novembro, dia nefasto para a liberdade do Brasil e sua independência; dia em que se viu, com o maior espanto, a representação da cena do 18 Brumário em que o déspota da Europa dissolveu a representação nacional da França; dia em que o partido dos chumbeiros pôs em prática as tramoias do ministério português...” 
Fonte: FERRAZ, Socorro (Org.). Frei Caneca. Acusação e defesa. Recife, Editora Universitária da UFPE, 2000. p. 187.
Frei Caneca compara a atitude de Dom Pedro I com a de Napoleão Bonaparte e se refere aos chumbeiros (Termo pejorativo com o qual os brasileiros se referiam aos portugueses, chumbeiros ou pés de chumbo) como sendo parte de uma conspiração antidemocrática que feria o direito dos brasileiros à participação política.
Um dos estopins do movimento foi a nomeação de Francisco Paes Barreto para o cargo de presidente da província, destituindo Manuel de Carvalho Pais de Andrade. Pais de Andrade era um liberal e se opunha frontalmente à política centralizadora do imperador. Ignorando os protestos populares, o imperador nomeou o novo presidente, que apoiava a sua política. Dom Pedro desejava manipular as instituições provinciais para conseguir o apoio político de que necessitava para manter a unidade do país.
Diversas petições e pedidos foram enviados ao imperador, que ignorou a todos e fez valer a sua vontade. Para garantir a posse de Francisco Barreto, o imperador enviou uma esquadra para a província. Diante dos protestos, cada vez mais constantes e violentos, o imperador então nomeou Mayrink da Silva Ferrão, que se recusou a assumir o cargo. A resistência do imperador a ceder e reempossar Manuel Paes de Andrade levou à eclosão da Confederação do Equador, em 2 de julho de 1824.
Os revoltosos: Os revolucionários pernambucanos buscaram o apoio das demais províncias nordestinas e Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba juntaram-se a Pernambuco, fazendo frente ao poder imperial. Os revoltosos tomaram o poder e tinham como objetivo separar-se do Brasil, fundando uma república federativa, na qual os estados integrantes teriam autonomia e estariam submetidos a uma nova constituição.
As forças Imperiais: A repressão não tardou e o imperador não hesitou em autorizar o uso de extrema violência para pôr fim à revolta e reintegrar as províncias ao Brasil. As forças imperiais atacaram separadamente o coração de cada uma destas províncias. Em Recife e Olinda, centro da resistência, as forças da ordem não pouparam esforços para acabar com o movimento. Sem recursos, separados e desmobilizados, o último reduto da resistência, o Ceará, acabou por se render, em novembro de 1824.
Condenados a morte: Vários revoltos foram condenados à morte, inclusive Frei Caneca. A pena previa a morte por enforcamento, mas não houve carrasco que se dispusesse a enforcar o Frei, já que esta era uma pena reservada somente a criminosos. Diante da recusa, a pena foi alterada para fuzilamento. A historiografia resgatou a imagem de Frei Caneca como um mártir da liberdade e da luta contra a tirania e a opressão. 1824 marcou definitivamente o Primeiro Reinado. Não só pela Confederação do Equador como pela evidente incapacidade do imperador em lidar com as crises, políticas e econômicas, que se avolumavam e que levaram à sua abdicação ao trono, em 7 de abril de 1831.
Aula 04: VIDA CULTURAL E SOCIAL NO PRIMEIRO REINADO / CRISE ECONÔMICA NO PRIMEIRO REINADO
A Monarquia Brasileira como uma Exceção à Modernidade Republicana nas Américas:
Ao analisar a realidade brasileira, o músico Tom Jobim afirmou que o “Brasil não é um país para principiantes”. Essa máxima se justifica pelo grau de excepcionalidade que marca a história do Brasil. Compreender uma das principais singularidades do nosso passado nacional é o principal objetivo dessa disciplina. Podemos entender melhor isso nos referindo aquele que foi um dos principais pensadores da modernidade, o escritor francês Alexis Tocqueville, que no livro De la démocratie em América analisou a fundação da República dos EUA e disse que esse país era algo inédito da história universal, uma formulação política para a qual não havia referências no passado.
Ao surgir como o primeiro país independente das Américas e como a primeira grande República moderna, os EUA inauguraram uma cultura política no Novo Mundo que se fez presente nas práticas políticas locais durante todo o século XIX. De acordo com essa cultura política, ao continente americano cabia o papel de vanguarda da modernidadee a adaptação dos valores da democracia clássica às sociedades de massa típicas das nações modernas.
O Brasil foi uma exceção a essa cultura política; entre nós o regime republicano não foi visto como a garantia das liberdades individuais e coletivas, mas sim como a origem da anarquia e da tirania militar, imagem construída pelas elites político/intelectuais brasileiras através da análise das experiências das repúblicas hispânicas vizinhas.
“O deus da natureza fez a América para ser independente e livre: o Deus da natureza conservou no Brasil o príncipe regente para ser aquele que firmasse a independência deste vasto continente. Que tardamos? A época é esta. Portugal nos insulta... A América nos convida... A Europa nos contempla... o príncipe nos defende... Cidadãos! Soltai o grito festivo... Viva o Imperador Constitucional do Brasil, o senhor D. Pedro Primeiro.” (NEVES, 2003, p. 382)
Autores, como Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, atribuem essas palavras, que foram publicadas nos jornais do Rio de Janeiro em 21 de setembro de 1822, a Gonçalves Ledo, um dos personagens mais atuantes nos eventos que resultaram 
na independência do Brasil. Estava claro para determinados setores das elites da América Portuguesa, falamos aqui, principalmente, de paulistas e cariocas, justamente aqueles que mais se beneficiaram com o afrouxamento dos entraves coloniais durante o período joanino, que as cortes portuguesas desejavam recolonizar o Brasil.
Podemos então ver a ruptura entre Brasil e Portugal como o resultado da conjugação de três ambições: as ambições recolonizadoras do movimento revolucionário português, a ambição de certos grupos da América Portuguesa em manter a autonomia e o estatuto jurídico conseguidos com a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves e a ambição do jovem Pedro, o Príncipe da Beira, em ser protagonista do teatro político do Império Português.
Uma vez formalizada a ruptura definitiva entre Brasil e Portugal, restava muito ainda por se fazer; era necessário que a comunidade internacional reconhecesse a nova nação e, principalmente, era indispensável a construção de uma estrutura político/jurídico de dominação forte o suficiente para se fazer soberana no território nacional. Nenhuma das duas tarefas era fácil; a segunda se mostrou particularmente difícil e o Primeiro Reinado terminou sem que ela fosse concluída.
Os EUA foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil e fizeram isso em maio de 1824 como um dos resultados da orientação que o governo do presidente James Monroe deu à política externa daquele país entre 1817 e 1825. Tratava-se do corolário “A América para os Americanos”, que na prática traduzia o interesse dos EUA em diminuir a influência dos países europeus na dinâmica interna do continente americano.
Esse tipo de postura diplomática fazia parte de um projeto que tinha o objetivo de definir os EUA como uma potência regional no novo mundo.  
Esse projeto se mostrou bem sucedido, sendo complementado pela “Política do Big Stick” na segunda metade do século XIX. Já o reconhecimento português, que era fundamental para a legitimidade do Brasil junto à opinião pública internacional, somente veio em agosto de 1825, após uma longa negociação, intermediada pela Inglaterra, entre os governos de ambos os países. O reconhecimento português saiu bem caro para o governo Brasileiro, que pagou uma multa de 2 milhões de libras à Antiga Metrópole.
A movimentação militar do Primeiro Reinado não ficou restrita aos conflitos travados no nordeste brasileiro. D. Pedro I herdou um grande problema diplomático do governo de seu pai: o caso da Cisplatina. O conflito aconteceu entre o Império Brasileiro e as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina. O motivo do litígio era uma região que há muito tempo, desde o período colonial, era a causa de disputas, tratados e conflitos entre Portugal e Espanha. Já emancipados, tanto Brasil como Argentina rapidamente assumiram as posições de principais forças nas relações internacionais sul-americanas; é exatamente essa disputa pelo status quo local a motivação da guerra.
O desfecho do conflito aconteceu em 1828, sendo mediado por França e Inglaterra, e apontou para a formação de um Estado independente na região. Nem do Brasil e nem da Argentina, surgiu nesse momento a República Oriental do Uruguai.
As dificuldades que seriam encontradas pelo Brasil nos seus primeiros anos de vida como nação independente já haviam sido diagnosticadas nos primeiros meses do Primeiro Reinado pelo astuto José Clemente Pereira, na época era o Presidente do Senado, que dirigiu a cerimônia de aclamação de Pedro como Imperador Constitucional do Brasil. O evento aconteceu em 12 de outubro de 1822, em um palacete situado no Campo de Santana. Voltando-se ao Imperador, discursou José Clemente:
O povo brasileiro tem declarado unanimemente a um só tempo que é sua vontade soberana fazer um Império Constitucional Independente, de que V.M.I seja Imperador Constitucional. (...) Sendo seu governo regulamentado por uma constituição sábia e justa redigida em breve pelos deputados, os legítimos representantes do povo. Somente assim, com a união entre o trono e os homens virtuosos, o Império que se funda hoje será capaz de enfrentar as turbulências que certamente virão em breve (NEVES, 2003, p. 382).
As palavras de José Clemente apontam para um futuro próximo difícil, típico de um país que dava seus primeiros passos como nação independente, e para certo modelo de dominação política considerado por ele e pelos seus pares o ideal para o Brasil: uma Monarquia constitucional fundamentada no princípio da soberania popular representativa, tal como formulada nas páginas da ilustração inglesa, com autores como John Locke e Edmund Burke, duas das principais referências da Monarquia Whig britânica.
Em um primeiro momento, D. Pedro demonstrou aceitar o fato de que a real origem da soberania política não era o seu cetro, mas sim a vontade de um povo, que tal como a própria nação, ainda estava, e talvez ainda esteja, em construção. Às palavras de José Clemente seguiram as seguintes, do Imperador:
Aceito o título de Imperador Constitucional e Defensor do Brasil, porque tendo ouvido meu Conselho de Estado e de Procuradores Gerais e examinando as representações das Câmaras de diferentes províncias, estou intimamente convencido, que tal é a vontade geral de todas as outras, que, só por falta de tempo, não têm ainda chegado (NEVES, 2003, p. 382).
Mesmo que na fala seguinte o Monarca tenha dado vivas à “Deus” e à “Santa Religião”, ele não fundamentou o seu trono com argumentos de natureza teológica, como era comum no discurso filosófico absolutista, que certamente encontrou uma de suas formulações mais explícitas no “Leviatã”, de Thomas Hobbes. Aqui o próprio Imperador reconhece que o poder não é essencialmente seu, sendo-lhe outorgado por algo maior, o “povo”, categoria que foi positivada na modernidade.
Esse era o momento da “lua de mel” entre o Imperador e os grupos que, a despeito das suas diferenças, apoiaram com coesão suficiente a rebeldia do então Príncipe herdeiro contra as determinações das cortes portuguesas. A lua de mel foi curta; o divórcio já viria.
Como vimos na última aula, o projeto constitucional de 1823 foi a origem dos conflitos entre o Imperador e os seus antigos aliados; vimos também que a constituição de 1824 acirrou ainda mais esses conflitos. Com o passar dos anos, a esse cenário de hostilidades somou-se a clara intenção do Imperador em lutar pela sucessão do trono português, do qual ele também era o herdeiro legítimo. As pretensões de D. Pedro despertaram em alguns setores da elite brasileira o temor da recolonização. Esses são os conteúdos principais da crise que culminou na abdicação de D. Pedro I em 07 de abril de 1831.
Cultura e Sociedade no Primeiro Reinado: uma Sociedade Escravocrata Temperada com um Catolicismo Dionisíaco
A sociedade e a cultura brasileiras durante o Primeiro Reinado eram marcadaspor duas características, que combinadas com o modelo de socialização que Gilberto Freyre chamou de “Patriarcal” davam o tom do cotidiano no período: a escravidão e uma apropriação bem particular do cristianismo católico. O mesmo Gilberto Freyre, no estudo hoje considerado clássico “Casa Grande e Senzala”, chamou essa apropriação de “catolicismo dionisíaco.
Desde o período joanino, quando grandes transformações modificaram consideravelmente a vida na América Portuguesa, é possível observar a convivência entre a sociedade rural, patriarcal e escravista com as tradições europeias, que se fizeram mais presentes por aqui após o translado da corte. É exatamente esse ajustamento o tema do livro “Sobrados e Mocambos”, de Gilberto Freyre, que a partir de agora será a nossa principal referência para pensar a sociedade e a cultura no Brasil durante o Primeiro Reinado.
Esse autor afirma que, desde fins do século XVIII, aconteceu lentamente o declínio do patriarcado rural brasileiro, que ele mesmo analisou em “Casa Grande e Senzala”, e a formação de um patriarcado semiurbano, menos severo. Esse declínio ficou ainda mais evidente ao longo do século XIX, quando a casa patriarcal, que no período colonial acomodava as diferenças raciais da sociedade escravocrata, perdeu a capacidade de “amolecer” o antagonismo entre os Brancos e os Pretos.
Só aos poucos é que se definem não tanto zonas como momentos de confraternização entre aqueles extremos sociais: a procissão, a festa da igreja, o entrudo o carnaval (FREYRE, 2004, p. 31).
AULA 05: DISCURSÕES DAS CORTES: ABDICAÇÃO, CRISE POLITICA E CONFLITOS
Sempre que falamos em independência do Brasil, nos vem à mente a celebre imagem do quadro de Dom Pedro I às margens do riacho do Ipiranga, localizado na cidade de São Paulo e a declaração do monarca: independência ou morte.
Ainda que consideremos este o início do processo de emancipação do Brasil, muitas questões ainda teriam que ser resolvidas até que o país pudesse, de fato, afirmar-se enquanto nação. Para que isso ocorresse, era necessário que os demais países reconhecessem a independência. Por que isso era fundamental?
No período colonial, o Brasil estava submetido ao pacto colonial, ou seja, havia uma relação comercial, de monopólio, com Portugal. Ao romper os laços com a metrópole, o pacto colonial também é extinto e o novo país precisa buscar novos parceiros econômicos.
COLONIA -( GENEROS TROPICAIS / MATERIAS PRIMAS -( METROPOLE MONOPOLIO MANUFATURADOS --( COLONIA 
Dessa forma, podemos dizer que a independência não é somente uma questão política, mas também econômica. Cabe lembrar que a economia brasileira, baseada na plantation – latifúndio, monocultor e agroexportador – necessitava do mercado externo para sua sobrevivência.
Do ponto de vista político, era necessário organizar o país, estabelecer leis, redigir uma constituição, que foram questões fundamentais do primeiro reinado.
Do ponto de vista econômico, era necessário manter a econômia funcionando sem que haja uma interrupção na produção ou uma crise por de compradores externos.
Quem deu o passo inicial no reconhecimento da independência brasileira foram os Estados Unidos que reconheceram o novo país, em 1824, antes mesmo de Portugal. Nesta época, a presidência norte americana era ocupada por James Monroe, o fundador da famosa Doutrina Monroe. Todos já ouvimos falar sobre ela, não é? Mas, o que esta doutrina significa e qual sua relação com o Brasil?
O princípio da doutrina Monroe é “América para os americanos”. Ela preconiza o ideário de liberdade colonial e estimula o rompimento das colônias com suas metrópoles.
Seu objetivo era impedir a intervenção europeia nos Estados Unidos e, progressivamente, em todo o continente americano. Mas a doutrina, embora fundada no ideário de liberdade defendido, a independência das treze colônias, em 1776, vai muito além de uma simples questão filosófica ou ideológica.
Ao se independerem, os Estados Unidos, assim como as demais colônias da América, em seu respectivo tempo, tiveram que se reorganizar econômica e politicamente. Ao pregar a liberdade e o afastamento europeu, os Estados Unidos abriam caminho para o livre comércio entre as ex-colônias do continente.
Estas colônias – agora países independentes – eram grandes fornecedores de matéria-prima e mercado consumidor para as mercadorias produzidas nos Estados Unidos. Além disso, os custos de exportação, como transporte, faziam com que o envio de mercadorias dentro do continente fosse muito mais barato do que enviá-las para a Europa.
Pela estrutura econômica herdada dos tempos da colonização, o comércio interno ao continente se constituía um grande negócio para os EUA. Estes possuíam indústrias, enquanto a América latina tinha uma economia agrária.
Podiam assim vender mercadorias industrializadas por um preço alto e comprar matéria-prima por um preço baixo, mantendo sua balança comercial sempre favorável. Não é de surpreender, portanto, que os Estados Unidos tenham sido os primeiros a reconhecer a independência do Brasil. Havia muitos interesses econômicos em jogo por traz deste reconhecimento.
Considerando os laços compartilhados pelas colônias latinas, seria de se supor que, ao se tornarem países independentes, estes reforçassem seus laços diplomáticos e buscassem um entendimento político e econômico que fortalecesse as nações emergentes, certo?
Na prática, não foi bem assim e as razões são as mesmas que inviabilizaram o projeto pan americano de Simon Bolívar. Relembrando: as colônias ibéricas se independeram de suas metrópoles no século XIX. No que diz respeito à América Espanhola, alguns nomes se destacaram como líderes da emancipação, em especial Simon Bolívar, que ficou conhecido como libertador das Américas. Bolívar acreditava que, ao eliminar a influência espanhola, seria possível que as ex-colônias se unissem em um único país de dimensões continentais e com economia diversificada, já que cada região praticava uma economia diferente como agricultura e pecuária.  Essa ideologia, - chamada de bolivarismo ou pan americanismo -  que ainda possui defensores, mesmo nos dias de hoje, não obteve sucesso porque, ainda que superficialmente estas colônias fossem parecidas e compartilhassem um passado histórico, como a herança colonial ibérica, em suas estruturas, eram diferentes. Suas elites não tinham os mesmos interesses e suas economias eram concorrentes. Por exemplo: Argentina, Paraguai e Uruguai, que se dedicavam à pecuária, defendiam cada um suas necessidades internas. O mesmo acontecia com os produtores de açúcar e café, impedindo qualquer possibilidade de uma união entre estas regiões.
Com relação ao Brasil, dá-se o mesmo. Além das economias concorrentes, foi adotada como forma de governo a monarquia, enquanto os demais países adotaram a república. Somam-se a isso às disputas de fronteiras que caracterizariam todo império e que, no primeiro reinado, deram origem à Guerra da Cisplatina.
Os primeiros anos pós-independência foram caracterizados por uma instabilidade política e econômica recorrente e que levaria à abdicação do imperador, menos de uma década depois da emancipação, em 1822.
A independência alterou o panorama político à medida que estabeleceu uma nova constituição para o país – 1824 – e buscou reestruturar a participação do povo nas decisões do estado e o sistema eleitoral, mas a manutenção da monarquia foram um entrave para que mudanças mais profundas de fato ocorressem.
O mesmo se passou na economia. A separação de Portugal não mudou a estrutura econômica, que continuava a mesma da colônia, e, portanto, dependente do mercado externo, o que comprometia a autonomia econômica brasileira.
Essa característica fez surgir diversas teorias entre os historiadores, sociólogos e economistas contemporâneos que entendem este momento – que só será rompido muito mais tarde, durante a república – como sendo fundado em uma dependência econômica atávica. A emancipação e as políticas que se seguiram a ela, sem alteração na estrutura produtivado país permitiu que, na prática, o Brasil apenas trocasse de metrópole. Se no período colonial estava submetido a Portugal, com a independência, os interesses ingleses foram preponderantes frente aos nacionais. Na república, os Estados Unidos ocuparam o lugar da Inglaterra como principal parceiro comercial do Brasil e novamente as necessidades nacionais foram deixadas de lado em detrimento das demandas do mercado externo.
A base solidamente agrária explica a industrialização tardia do país. No período colonial, as manufaturas eram proibidas para que não concorressem com os produtos metropolitanos.
No império, não havia o interesse em buscar a industrialização já que os cargos de poder eram ocupados pelas oligarquias rurais.
Tampouco houve uma diversificação econômica e, em diferentes momentos, basicamente um único produto ocupou o centro das atenções do estado.
Este papel foi ocupado, durante muito tempo, pela grande lavoura açucareira, mas, nos primeiros anos do império, o açúcar se encontrava em franca decadência, sobretudo pela concorrência daquele produzido nas Antilhas. O mercado europeu passara a consumir cada vez maiores quantidades de um outro tipo de açúcar, extraído da beterraba e não da cana. É necessário buscar um novo produto que substitua o lugar antes ocupado pelo açúcar.
Considerando o contexto internacional e a demanda do mercado externo, o café acaba por, progressivamente, ocupar o lugar central na economia imperial.   
“O fato mais importante da economia brasileira no período monárquico foi o predomínio das exportações de café. Representando apenas 19,6% das exportações brasileiras em 1822 (com a média de 18,4% nos anos 1821-1830), o produto passou a liderar as exportações brasileiras na década de 30 (desde 1831 com 28,6%) assumindo assim o lugar tradicionalmente ocupado pelo açúcar desde o período colonial.” 
(Fonte: CANABRAVA, Alice P. História econômica: estudos e pesquisas. São Paulo: Hucitec, 2005. p. 144.)
Cabe lembrar que, durante todo o império, praticamente só cinco produtos agrícolas se destacaram na economia: o café, o açúcar, o algodão, o fumo e o cacau.  Boa parte desses produtos sofreu com a concorrência, como o algodão brasileiro, que concorria com o norte americano ou as restrições inglesas ao tráfico negreiro, que impedia o desenvolvimento do livre comércio entre África e Brasil para onde era exportado boa parte do fumo aqui produzido.  
As finanças do império tampouco eram sólidas. Para manter seus produtos a um preço competitivo, as tarifas alfandegárias, uma das principais fontes de renda do estado, deveriam ser baixas e oscilavam em torno dos 15%.
O dinheiro arrecadado não era suficiente para arcar com os custos estatais o que obrigava o estado a pegar empréstimos no exterior, a juros altos. Essa situação provoca um círculo vicioso onde gasta-se sempre mais do que é possível arrecadar, mantendo a balança comercial permanentemente desfavorável. A eclosão do conflito da Cisplatina agravou ainda mais a frágil economia imperial.
Para entendermos melhor a Guerra da Cisplatina, vamos relembrar a situação daquela região do continente.
PROVÍNCIA DE CISPLATINA: Originalmente, a província Cisplatina pertencia à Espanha, mas a região sempre foi cobiçada pelos portugueses. Ela dava acesso a vários rios, como o Prata, o Paraná e o Uruguai que permitiam o rápido e eficiente escoamento de mercadorias, além de ser uma região importante para a pecuária. Havia também a importância estratégica e fronteiriça, o que a fez área de disputa durante décadas.
DIVISÃO DO TERRIÓRIO: Quando Portugal e Espanha dividiram o território da América, pelo tratado de Tordesilhas de 1494, a maior parte da extensão territorial ficou sob o domínio espanhol. Durante a colonização de fato, este tratado foi constantemente desrespeitado.  À medida que a colonização avançava, era cada vez mais necessário o transporte de mercadorias entre as diversas regiões, o que aumentava o preço dos animais de tração e do gado, cujo couro e carne eram indispensáveis para um funcionamento dos povoados e vilas da América latina.
PECUÁRIA: A pecuária praticada na região do Prata tornava-se mais e mais lucrativa.  Além disso, a região havia sido inicialmente uma possessão portuguesa, denominada de colônia do Sacramento. Os portugueses tinham a posse, mas foram os espanhóis que colonizaram de fato e, por isso, a Espanha ganhou o direito à região, mas esta questão nunca ficou inteiramente resolvida, o que permitia que Portugal questionasse a legitimidade da posse com alguma frequência.
MOVIMENTOS DA INDEPENDÊNCIA: No século XIX, eclodiram os movimentos de independência. Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, a influência dos movimentos de emancipação liderados pelos crioulos tornou-se uma das preocupações do regente, Dom João VI. Não podemos esquecer que havia um precedente. Os Estados Unidos se independeram da Inglaterra no século XVIII e o Haiti da França, nos primeiros anos do século XIX.
INVASÃO DA REGIÃO: Em 1811, Dom João VI promove uma primeira tentativa de invasão da região. Essa manobra, além do viés econômico mais evidente – monopolizar o mercado de gado local -, possui também um forte viés político, pois implica na afirmação da autoridade do rei sobre seus domínios. A interiorização do povoamento português para Goiás e Mato Grosso constituíam também em um forte apelo para que a coroa dominasse a Cisplatina, pois esta facilitaria muito o acesso ao interior da colônia, pela via fluvial.  
ANEXO DA PROVÍNCIA: Em 1816, a Coroa foi bem sucedida em uma nova invasão e em 1821 acabou por anexar definitivamente a província Cisplatina que passou a fazer parte do reino Unido de Portugal e Algarve. A população local nunca aceitou pacificamente esta dominação. Não havia muitos laços em comum, nem culturais, nem idiomáticos. O clima na América já era de independência e as ideias propagadas pela revolução francesa. A eclosão de uma guerra era questão de tempo. Em 1825, sob o comando de Juan Antônio Lavalejja tem início a guerra da Cisplatina, pela libertação desta província do domínio português. A Cisplatina tinha o apoio das Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, que tinha a esperança de que, vencendo os portugueses, conseguisse anexar a região.
Se os habitantes da Cisplatina desejavam sua independência, a população brasileira era contra a guerra para a manutenção deste território. A fragilidade política e econômica do primeiro reinado tornou-se ainda mais evidente com a responsabilidade de arcar com os custos altíssimos deste conflito. Se, nos dias atuais, uma guerra pode ser devastadora para a economia de um país, imagine no século XIX onde transporte, armamentos e a alimentação das tropas e das armas e munições consumiam enorme quantidade de recursos.
A Inglaterra também tinha muitos interesses econômicos na Cisplatina e o andamento de uma guerra atrapalhava o desenvolvimento do comércio local. Sendo assim, os ingleses mediaram um acordo para encerrar o conflito no qual a Cisplatina seria declarada livre e não pertenceria nem às Províncias Unidas nem ao Brasil. Em 1828, com a assinatura deste acordo, tem origem a República Oriental do Uruguai.
A concordância do imperador Dom Pedro I na assinatura deste tratado colocou várias questões em evidência. Em primeiro lugar, destacou-se a supremacia dos interesses ingleses em detrimento dos brasileiros, o que fez cair por terra todos os discursos de autonomia política que haviam sido proferidos desde a independência. Em segundo lugar, a popularidade do imperador, que já ia de mal a pior, desandou de vez. Para arcar com os custos desta guerra impopular, o imperador ordenou a emissão descontrolada de papel-moeda.
Ora, o que respaldava o valor da moeda, nesse período, eram os estoques de ouro acumulado pelo estado. Sem esse respaldo, as notas emitidas eram apenas papel, sem valor. Portanto, essa emissão provocou uma inflação generalizada já que, para compensar o dinheiro desvalorizado, os preços tiveram um aumento em todos ossetores. Se relacionarmos a inflação com a falência do Banco do Brasil, em 1829, temos as dimensões da crise econômico- -financeira do primeiro reinado.
Quando uma crise atinge apenas uma parte da população – em geral, os mais pobres –, ela tende a ser manobrada pelo estado com a ajuda das demais classes sociais e com medidas como aumento de impostos, subsídios ou isenção fiscal. Isso é possível porque temporariamente se onera um setor para sanar o outro. Mas, neste caso, essas estratégias já não funcionariam porque a má gestão econômica dos fundos do estado havia prejudicado tanto os latifundiários quanto as camadas urbanas e, é claro, as classes populares.
A crise econômica foi a gota d’água. O imperador já era mal visto deste que instituíra o poder moderador, na Constituição de 1824, onde deixou claro sua tendência centralizadora e a desconsideração pela democracia e pelo liberalismo. A imprensa exercia forte oposição ao imperador e a proliferação de jornais e panfletos contra o monarca desgastava ainda mais a imagem pública de Dom Pedro I.
A situação de Portugal também não era das melhores. Quando optou por permanecer no Brasil, Dom Pedro I – legítimo herdeiro da coroa portuguesa – abriu mão de seu trono em favor de sua filha, Dona Maria, que era ainda uma criança. Para governar, seu irmão, Dom Miguel, foi nomeado regente do trono. Mas o regente usurpou o poder, recusando-se a entregar o trono à princesa Dona Maria, o que gerou um enorme conflito em Portugal, entre os defensores da rainha e os do regente, chamado de miguelistas.  
No Brasil, devemos destacar que, desde 1822, com a declaração de independência, Dom Pedro I escolheu um rumo tortuoso para a administração pública.
1823: O fechamento do congresso em 1823 encerrou qualquer possibilidade de um diálogo político com os diversos setores da sociedade. A instauração do poder moderador levou a um governo absolutista, já extinto na Europa e considerado devassado em quase todo o mundo ocidental. Se o liberalismo florescia nas ex-colônias, como nos Estados Unidos, no Brasil ela acabou ficando no discurso, em parte devido ao caráter irascível do imperador. A repressão brutal à Confederação do equador e a entrada do Brasil na Guerra da Cisplatina acabaram com o que restava de legitimidade a Dom Pedro.
1831: Não havia alternativa, exceto a abdicação, que aconteceu em 7 de abril de 1831, dando início ao conturbado período regencial brasileiro, já que seu filho, Pedro de Alcântara, tinha apenas cinco anos de idade e não poderia assumir o trono.
1834: Ao abdicar, Dom Pedro retorna a Portugal, disposto a destronar seu irmão e restaurar o poder de direito, garantido pela linha sucessória. Inicia-se então um período de guerra civil, que durou aproximadamente dois anos, e terminou com a derrota de Dom Miguel. Ainda assim, o ex-imperador do Brasil aproveitou por pouco tempo a sua vitória, pois faleceu em 1834, vítima de tuberculose, aos 36 anos. Como medida preventiva, dom João ordenou, em 1811, uma primeira invasão à região. Além da preservação de sua autoridade, a anexação da margem norte do rio da Prata também representava a manutenção do caminho fluvial com Mato Grosso e Goiás e do acesso ao gado e ao comércio de toda a bacia platina.
Aula 6- A ESTRUTURA PARTIDÁRIA NOS PRIMEIROA ANOS DA MONARQUIA BRASILEIRA
Em janeiro de 1822, era possível perceber as primeiras manifestações de rebeldia do regente D. Pedro, o Príncipe da Beira, às tentativas das cortes portuguesas em esvaziar a sua autoridade e reconstruir a relação colonial que caracterizava a geopolítica do império português no período anterior a 1808. O resultado dessas disputas entre o Rio de Janeiro e Lisboa pela hegemonia no império português já é por nós conhecido. Em setembro de 1822, aconteceu a ruptura entre os dois reinos e a fundação da monarquia brasileira.
Como era de se esperar, os primeiros anos de vida da exótica Monarquia dos Bragança não foram nada fáceis. Como já vimos, tudo ainda estava por se definir nessa jovem nação. Apesar da relativa homogeneidade ideológica apontada por José Murilo de Carvalho, as elites, principalmente aquelas oriundas das províncias mais periféricas, ainda não estavam devidamente disciplinadas e a sombra da desmembração se fazia sentir no Rio de Janeiro, que na época era o coração da Monarquia. Nesse momento, a estrutura partidária da jovem monarquia estava dividida em três grupos:
OS CARAMURUS
O termo antes havia sido empregado no Rio de Janeiro para designar membros do Partido Restaurador, que era simpático à volta da coroa portuguesa. foi um partido político brasileiro criado em 1831, ligado à figura do Imperador D. Pedro I. Foi fundado por ex-membros do Partido Português para defender a volta do imperador, que havia abdicado e, então, estava em Portugal. Era apoiado pelos jornais O Carijó, O Caramuru, O Sete de Abril. Foi violentamente combatido por Evaristo da Veiga, famoso jornalista que fundou a Sociedade Defensora justamente para evitar a volta do imperador que abdicara, e, entre outras figuras políticas, por Bernardo Pereira de Vasconcelos, que escrevia no jornal Aurora Fluminense. Eram chamados "chimangos" ou "chapéus redondos". Um movimento popular, contrário à Sociedade Militar, associada ao partido, depredou a sede da sociedade em 5 de dezembro de 1833 e depois tipografias que publicavam jornais do Partido Restaurador.
OS MODERADOS
formado pelas elites mais influentes e poderosas do Brasil. Tratavam-se dos grandes proprietários de terra e escravos que possuíam uma agenda política em comum: a convicção de que a estrutura burocrática/administrativa de uma monarquia ilustrada era a melhor forma de garantir a prosperidade privada e pública e o bem-estar coletivo. Porém, havia também alguns pontos de discordâncias entre esses líderes, como, por exemplo, o grau de autonomia considerado ideal para os governos provinciais. Destacavam-se dentro desse grupo dois segmentos: os regressistas e os progressistas.
OS EXALTADOS
formado pelos líderes provinciais mais radicais e comprometidos com a crítica à monarquia e com a defesa da República. Os exaltados também perderam espaço após o início da década de 1840.
A ABDICAÇÃO DE D. PEDRO I E A CRISE DO PROJETO MONÁRQUICO
Já no início de 1830, os grupos moderado e exaltado demonstravam certo incômodo com o envolvimento, considerado excessivo, de D. Pedro I com a sucessão portuguesa. D. Miguel, o irmão mais moço do imperador, havia usurpado em 1826 o trono de Maria da Glória, a filha de D. Pedro e a favor de quem anos antes ele havia abdicado ao seu direito de sucessor legítimo da Coroa portuguesa.
A filha voltara para o Rio em 1829, acompanhada de muitos partidários, sob a proteção do pai, causando desconforto político. Reclamava-se também da dependência de D. Pedro em relação aos conselhos de um gabinete secreto de amigos portugueses, entre os quais se salientava o chalaça. (CARVALHO, 2010, p.19)
Além do incômodo com a presença dos caramurus junto ao monarca, as elites brasileiras estavam ansiosas para fazer valer o sistema representativo e a Constituição de 1823. O desfecho dos conflitos já é conhecido por nós: a constituição outorgada em 1824. Já vimos antes com certo cuidado a dinâmica dos acontecimentos que resultaram na abdicação de Pedro I e no fim do Primeiro Reinado.
Francisco Gomes da Silva (1791-1852) foi um político português que se notabilizou como principal confidente de D. Pedro I.
Major Frias
Este é o momento de analisar a incerteza que se descortinava aos contemporâneos; quando o Major Frias chegou ao Campo da Aclamação trazendo a notícia da abdicação, várias coisas poderiam ter acontecido. Se por um lado havia consenso em relação à oposição ao despotismo de D. Pedro I, por outro não havia acordo naquilo que se referia à qual caminho tomar.
General Francisco de Lima e Silva
Após muita discussão e confusão, foi eleita uma regência trina formada pelo general Francisco de Lima e Silva, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e José Joaquim Carneiro de Campos,o Marquês de Caravelas, que deveria governar o Brasil até a reunião da Assembleia Legislativa, o que aconteceu em 17 de junho de 1831, quando foi eleita a Regência Trina Permanente, que era composta pelos Deputados José da Costa Carvalho, João Bráulio Muniz e pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva e governo do Brasil até 1835.
O ato adicional de 1834 foi redigido por Bernardo Pereira de Vasconcelos, um jurista com formação em Coimbra que se destacou pelo combate à jurisdição absolutista do Primeiro Reinado, e traduz a preocupação das elites políticas da época em idealizar um sistema de dominação política eficaz o suficiente para garantir a manutenção da Monarquia unificada.
Adotando uma inspiração mais liberal, a regência chefiada por Feijó formalizou o ato adicional, que teve como principal característica a formalização da autonomia dos governos provinciais. Outra novidade importante do que Bernardo Pereira de Vasconcelos inseriu no ato adicional foi a figura do juiz de paz, que não era um magistrado profissional, mas sim um potentado local eleito no próprio município
Com isso, o objetivo era descentralizar a administração da justiça e colocar em prática o projeto de uma monarquia federativa.
Porém, o acirramento das revoltas regenciais mostrou aos líderes da época que outra proposta de dominação política era necessária para a manutenção da monarquia e da unidade territorial. Foi em meio a esse quadro de grave crise institucional que Diogo Feijó renunciou à regência em setembro de 1837; outra eleição foi realizada e o pernambucano Araújo Lima foi o escolhido, sendo empossado no cargo em janeiro de 1838.
A regência de Araújo Lima marcou uma reorientação na forma como o governo tratava as liberdades provinciais e as revoltas separatistas. Essa nova orientação foi marcada pela atuação de dois personagens: novamente Bernardo Pereira de Vasconcelos, agora identificado com a causa conservadora e com a proposta da administração centralizada, e Luiz Alves de Lima e Silva (1803-1880), o futuro Duque de Caxias, que em pouco tempo se tornaria o principal quadro militar da monarquia brasileira.
O GOLPE DA MAIORIDADE, A CONCILIAÇÃO E A CONSOLIDAÇÃO DO BIPARTIDARISMO
O projeto de antecipação da maioridade do jovem príncipe Pedro já havia sido cogitado no auge da crise da Regência de Feijó (CARVALHO, 2010). Em 1835, Vasconcelos propôs a instalação da regência da princesa Januária, irmã três anos mais velha que o herdeiro do trono. A ideia não foi adiante. Quando os regressistas subiram ao poder em 1837, foi a vez dos progressistas levantaram a bandeira maiorista.
A mudança de mãos da causa maiorista, dos conservadores para os liberais, era indicação de que os grupos políticos, ainda mal organizados em partidos, não tinham encontrado um mecanismo institucional de convivência. Com receio de que o adversário se perpetuasse no poder, decidiram recorrer ao trunfo do poder monárquico, mesmo que fosse necessário colocá-lo nas mãos de um rapazinho (CARVALHO, 2010, p. 37-38)
Uma relação mais estável e harmoniosa entre as facções políticas viria apenas mais tarde, no início da década de 1850, com os governos do Visconde de Itaboraí e do Marques de Paraná. No início da década de 1840, o clima ainda era de incerteza e indecisão. Nesse momento, três importantes leis centralizadoras, todas de autoria de Bernardo Pereira de Vasconcelos, estavam em discussão na câmara: a reforma do ato adicional, como já vimos, a reforma do Código de Processo Criminal, que referendou o regresso jurídico já previsto pela lei interpretativa, e a recriação do Conselho de Estado.
EXEMPLOS DE LIBERAIS
José Martiniano Alencar / Martim Francisco / Teófilo Otoni
Os liberais sentiram o perigo e fundaram em abril desse mesmo ano o clube da maioridade, que era formado por importantes lideranças como José Martiniano Alencar, pai do romancista José de Alencar, Martim Francisco e Teófilo Otoni. Os maioristas não tiveram êxito no trâmite legislativo da proposta e levaram o debate para as ruas. Mais uma vez o governo brasileiro estava às voltas com as intrigas e com a pressão dos populares reunidos no Campo da Aclamação.
Até hoje não sabemos bem o que aconteceu, se o jovem herdeiro se posicionou de forma mais ativa em relação à questão ou se a conspiração partiu única e exclusivamente dos quadros do Partido Liberal. O fato é que Pedro II foi coroado Imperador Constitucional do Brasil em julho de 1841, começando assim o Segundo Reinado. Jamais na nossa história um homem ficaria tanto tempo no governo do Estado brasileiro.
Visconde de Itaboraí
A despeito de algumas exceções, como as revoltas Mineira e Paulista, em 1842, e a Pernambucana, em 1848, a antecipação da maioridade de fato inaugurou um período mais estável para a monarquia brasileira. Essa estabilidade foi concretizada no início da década de 1850, quando dos governos do Visconde de Itaboraí (1852-1853) e do Marquês de Paraná (1853-1856). A partir de então, os conflitos intraelites foram pacificados e restritos a uma agenda limitada que não colocava em risco a existência do sistema e se inaugurou um mecanismo de revezamento entre os partidos, fluxo orquestrado pelo Poder Moderador que, de acordo com o cânone jurídico da época, tinha natureza administrativa e irresponsável do ponto de vista político.
Obs: REVOLTAS
BALAIADA NO MARANHAO somente derrotada três anos depois, foi, inicialmente, o resultado das lutas internas da Província, opondo cabanos (conservadores) a bem-te-vis (liberais), aprofundadas pela luta dos segmentos sertanejos liderados por Manuel Francisco dos Anjos, e pela insurreição de escravos, sob a liderança do Negro Cosme, dando características populares ao movimento;
Sabinada: se desenvolveu na Bahia, e pretendeu sustentar a República Bahiense até a maioridade de D.Pedro II.
AULA 7- A REVOLTAS DE LIVRES E ESCRAVOS NAS PRIVINCIAS
Nas aulas anteriores, vimos acerca dos momentos fundadores da nação brasileira: a Declaração de independência e o início da organização política nacional, o primeiro reinado e suas crises até a abdicação do imperador, Dom Pedro I.
O retorno do imperador a Portugal e sua abdicação do trono em favor de seu filho Pedro de Alcântara deu início ao período regencial, que terminaria com o golpe da maioridade que coroaria o novo monarca, Dom Pedro II.
No período regencial, houve vários gabinetes e o governo foi conduzido por diversos regentes, até que o príncipe herdeiro pudesse alcançar a idade para assumir o governo. Mas as inúmeras crises internas e a eclosão de revoltas em todo o país obrigaram o Estado a antecipar a maioridade do príncipe, precipitando sua coroação, conforme estudamos na aula passada.
Quando Dom Pedro I renuncia, ele provoca um vazio no poder. Mesmo que tenham sido nomeados regentes para administrar o Estado, estes não tinham a legitimidade do monarca. Além disso, as disputas entre os diversos grupos políticos do império faziam com que o governo regencial fosse instável, e oscilasse em torno dos interesses das oligarquias dominantes.
Por outro lado, havia a questão da autonomia das províncias. O eixo das decisões políticas estava concentrado no Sudeste, em especial no Rio de Janeiro, então capital imperial. Desde a vinda da família real para o Brasil, em 1808, a política centralizadora de Dom João VI abriu pouco espaço para a autonomia das demais regiões.
Esta estrutura se manteve após a independência e os estados do Sul e do Nordeste, que esperavam maior influência nas decisões administrativas do país, se viram, novamente, deixados de lado. Estas regiões periféricas eram negligenciadas pela política econômica do império e as condições de vida de sua população eram cada vez mais precárias. Durante o primeiro reinado, já havia um grande descontentamento popular que a abdicação do imperador veio a agravar.
É neste contexto que ocorrem as revoltas regenciais. Uma das primeiras foi a Cabanagem, na região do Grão Pará. No período imperial, a província do Grão-Pará englobava o que hoje é a região norte, em especial

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