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Pensamento e Linguagem
Pensamento:
 O PENSAMENTO, ou a cognição, refere-se a todas as atividades associadas a processamento, conhecimento, recordação e comunicação. Os psicólogos cognitivos estudam essas atividades, incluindo os meios lógicos e, às vezes, ilógicos pelos quais criamos conceitos, resolvemos problemas, fazemos julgamentos e tomamos decisões.
Conceitos 1: Quais são as funções dos conceitos? Para pensar sobre os incontáveis eventos, objetos e pessoas em nosso mundo, nós simplificamos as coisas. Formamos conceitos - agrupamentos mentais de objetos, eventos e pessoas semelhantes. O conceito cadeira, por exemplo, inclui diversos itens - uma cadeira alta para bebês, uma cadeira reclinável, uma cadeira de dentista - todas objetos onde se sentar. As cadeiras variam, mas não seus traços comuns que definem o conceito de cadeira.
cognição as atividades mentais associadas ao pensamento, ao conhecimento, à lembrança e à comunicação. 
conceito um agrupamento mental de objetos, eventos, ideias ou pessoas similares.
Imagine a vida sem conceitos. Seria preciso um nome para cada objeto ou ideia. Não poderíamos pedir a uma criança para “jogar a bola”, porque não haveria conceito de bola ou de jogar. Em vez de dizer “Eles estão com raiva”, teríamos de descrever expressões faciais, intensidades e palavras. Tais conceitos, como bola e raiva, fornecem-nos várias informações sem muito esforço cognitivo. Para simplificar ainda mais as coisas, organizamos os conceitos em hierarquias de categorias. Os motoristas de táxi organizam as cidades em setores geográficos, subdivididos em bairros e depois em quadras. Uma vez que as categorias existem, nós as utilizamos com eficiência. Diante de um pássaro, um carro ou uma comida, as pessoas não precisam de mais tempo para identificar a que categoria um item pertence do que perceber que algo está ali. “Assim que sabemos que está ali, sabemos o que é”, informam Kalanit Grill-Spector e Nancy Kanwisher (2005). Formamos os conceitos por definição. Ao tomarmos conhecimento da regra de que um triângulo tem três lados, imediatamente classificamos todas as formas geométricas com três lados como triângulos. Com mais frequência, no entanto, formamos nossos conceitos desenvolvendo protótipos — uma imagem mental ou o exemplo que melhor incorpora todos os aspectos que associamos a uma categoria (Rosch, 1978). Quanto mais algo se assemelha ao nosso protótipo de um conceito, mais prontamente nós o reconhecemos como um exemplo desse conceito. Um pintarroxo e um pingüim atendem à definição de pássaro: um animal de duas pernas, que possui asas e penas e que choca ovos. Mas as pessoas concordam mais rapidamente que um “pintarroxo é um pássaro” do que com “um pingüim é um pássaro”. Para a maioria de nós, o pintarroxo se parece mais com o nosso protótipo de pássaro. Uma vez que incluímos um item numa categoria, nossa lembrança daquilo posteriormente desloca-se na direção do protótipo da categoria. Olivier Corneille e seus colegas (2004) identificaram movimentos da memória após mostrar para estudantes belgas rostos etnicamente misturados. Por exemplo, quando diante de um rosto com 70% dos traços caucasianos e 30% dos traços orientais, as pessoas categorizavamno como caucasiano e mais tarde recordavam ter visto uma pessoa caucasiana mais próxima ao protótipo (Corneille et al., 2004). (Eram mais propensas a lembrar de um rosto 80% caucasiano do que o 70% caucasiano que de fato viram.) Se diante de um rosto 70% asiático, mais tarde lembravam de um rosto mais próximo ao protótipo oriental. Um estudo de acompanhamento constatou o fenômeno também em rela ção ao gênero. Os que viram rostos 70% masculinos categorizaram-nos como masculinos (o que não é surpresa) e mais tarde os recordaram como ainda mais prototipicamente masculinos (Huart et al., 2005). Se nos afastarmos dos protótipos, os limites entre as categorias podem se tornar incertos. O tomate é uma fruta? Uma pessoa do sexo feminino de 17 anos é uma menina ou uma mulher? A baleia é um peixe ou um mamífero? Como esse animal marinho não corresponde ao nosso protótipo, demoramos mais a classificá-lo como um mamífero. Do mesmo modo, somos lentos para perceber uma doença quando os sintomas não se encaixam em um dos nossos protótipos de doença (Bishop, 1991). Pessoas cujos sintomas de ataques cardíacos (respiração curta, exaustão, um certo peso no peito) não se assemelham ao seu protótipo de ataque cardíaco (dor aguda no peito) podem não procurar ajuda a tempo. E quando uma atitude discriminatória não se encaixa em nossos protótipos de preconceito — de brancos contra negros, homens contra mulheres, jovens contra velhos — com frequência não a percebemos. As pessoas detectam com mais facilidade o preconceito dos homens contra as mulheres do que o das mulheres contra os homens ou o das mulheres contra as mulheres (Inman e Baron, 1996; Marti et al., 2000). Dessa forma, os conceitos, como outros atalhos mentais que conheceremos, aceleram e guiam nosso pensamento. Mas nem sempre nos tornam sábios.
protótipo uma imagem mental ou melhor exemplo de uma categoria. Corresponder novos itens a um protótipo é um método rápido e fácil para ordenar as coisas em categorias (com o na comparação de criaturas com penas a um pássaro prototípico, como o pintarroxo).
algoritmo uma regra ou procedimento metódico e lógico que assegura a resolução de um problema específico. Contrasta com o uso da heurística, geralmente mais rápido, mas mais propenso a erro
heurística uma estratégia simples de pensamento que nos permite fazer julgamentos e resolver problemas com eficiência; normalmente é mais rápida porém mais propensa a erro, do que os algoritmos.
insight uma percepção súbita, e muitas vezes inovadora, da solução de um problema; contrasta com soluções baseadas em estratégias.
Solução de Problemas 2 : Que estratégias nos auxiliam a resolver os problemas e quais obstáculos nos atrapalham? Um tributo à nossa racionalidade é nossa capacidade de resolver problemas e lidar com novas situações. Qual o melhor caminho para fugir de um engarrafamento? Como devemos lidar com a crítica de um amigo? Como entrar em casa sem as chaves? Alguns problemas são resolvidos pelo método de tentativa e erro. Thomas Edison tentou vários filamentos de lâmpadas antes de conseguir um que funcionasse. Para outros problemas, usamos algoritmos, procedimentos passo a passo que garantem uma solução. Mas os algoritmos passo a passo podem ser trabalhosos e exasperadores. Por exemplo, para encontrar outra palavra usando as letras em ISPLOIOCIAG, podemos tentar cada letra em uma posição de cada vez, mas seria necessário gerar e analisar as 907.208 combinações resultantes. Em casos assim, costumamos recorrer a estraté gias denominadas heurísticas. Assim, podemos reduzir o número de opções em nosso exemplo de ISPLOIOCIAG excluindo combinações de letras raras tais como aquelas cuja última letra seja P, C ou G. Usando a heurística e depois aplicando o método de tentativa e erro, podemos chegar à resposta (que você encontrará mais adiante em destaque no texto). Às vezes, não percebemos que estamos usando algum tipo de estratégia para resolver um problema. Quebramos a cabeça sobre um problema durante um tempo e de repente as peças se juntam e percebemos a solução em um súbito insight. Johnny Appleton, de 10 anos, teve insight ao resolver um problema que deixou operários da construção perplexos: como salvar um filhote de pintarroxo que caíra num buraco estreito de 75 cm de profundidade junto a um muro de cimento. A solução de Johnny: despejar areia lentamente, dando ao pássaro tempo suficiente para manter os pés sobre a areia que subia constantemente (Ruchlis, 1990). Equipes de pesquisadores identificaram a atividade cerebral associada aos súbitos insights (Jung-Beeman et al., 2004; Sandkühler e Bhattacharya, 2008). Eles apresentaram um problema para as pessoas: pensar em uma palavra que formasse uma palavra composta ou expressão com cada uma das três palavras de um conjunto (como camisa, espada e pé)e pressionasse um botão quando encontrasse a resposta. (Se precisar de uma dica: a palavra pode ser uma fruta.1) O tempo todo, os pesquisadores mapearam a atividade cerebral da pessoa testada usando ressonância magnética funcional (MRIf) ou eletroencefalograma. No primeiro experimento, metade das soluções foi acompanhada do “Aha!" típico do insight, e normalmente foi precedida pela atividade mental no lobo frontal envolvida no processo de concentrar a atenção e acompanhada de ativação no lobo temporal direito, logo acima do ouvido (FIGURA 9.1). Como você talvez tenha sentido ao resolver o desafio da camisa-espada-pé, o insight muitas vezes aparece dentro da mente de maneira muito repentina, ou sem nenhum indício de que a pessoa está “esquentando" ou se sentindo mais próxima da resposta (Knoblich e Oellinger, 2006; Metcalfe, 1986).
viés de confirmação uma tendência de buscar informações que apoiam nossas preconcepções e ignorar ou distorcer evidências contraditórias.
fixação a incapacidade de ver um problema sob uma nova perspectiva empregando um diferente conjunto mental.
conjunto mental a tendência de enfocar um problema de uma maneira particular, frequentemente um modo que foi bem-sucedido anteriormente.
fixação funcional a tendência a pensar sobre as coisas apenas em termos de sua função usual; um impedimento para a solução de problemas.
Quando o “momento eureca” nos atinge, somos tomados por um sentimento de satisfação e felicidade. A graça de uma piada também pode estar na compreensão súbita de um final inesperado ou de um duplo sentido. Veja por si mesmo, com estas duas piadas consideradas as mais engraçadas (entre 2 milhões de votos para 40.000 piadas inscritas) em um estudo sobre o humor realizado pela internet, promovido em conjunto por Richard Wiseman (2002) e pela Associação Britâ nica para o Avanço da Ciência. Primeiro, a que ficou em segundo lugar: Sherlock Holmes e Dr. W atson estão acampando. Eles armam a barraca sob as estrelas e vão dormir. No meio da noite, Holmes acorda W atson. Holmes: “W atson, olhe para as estrelas e me diga o que você deduz.” W atson: “Eu vejo milhões de estrelas, e, se algumas delas têm planetas, é bem possível que haja alguns como a Terra, e, se houver planetas como a Terra lá em cima, também pode haver vida. E você o que acha, Holmes?” Holmes: “W atson, seu idiota, alguém roubou nossa barraca!” E rufem os tambores para a vencedora: Dois caçadores de Nova Jersey estão na selva quando um deles cai no chão. Ele parece não estar respirando, os olhos estão revirados. O outro caçador pega o celular e liga para o serviço de emergência. Ele fala com voz arfante com a atendente: “Meu amigo está morto! O que eu posso fazer? A operadora, com voz calma e tranquilizadora, diz: “Fique calmo. Eu posso ajudar. Primeiro, vamos ter certeza de que ele está m orto.” Há um silêncio, depois ouvese um tiro. O rapaz volta a falar ao telefone: “Ok, e agora?” • Resposta ao anagrama ISPLOIOCIAG da página anterior: PSICOLOGIA. •
Obstáculos à Resolução de Problemas
 Por mais inventivos que sejamos na resolução de problemas, a resposta certa pode nos iludir. Duas tendências cognitivas — viés de confirmação e fixação — quase sempre desorientam a busca da solução. Viés de Confirm ação Buscamos provas para confirmar nossas ideias com mais disposição do que provas em contrá rio (Klayman e Ha, 1987; Skov e Sherman, 1986). Essa tendência, conhecida como viés de confirm ação, é um grande obstáculo para a resolução de problemas. Peter Wason (1960) demonstrou o viés de confirmação apresentando a estudantes universitários britânicos uma seqüência de três números - 2, 4 e 6 - , pedindo que adivinhassem a regra usada para estabelecer a série. (A regra era simples: quaisquer três números em ordem ascendente.) Antes de entregarem as respostas, os estudantes criaram suas próprias séries de três números, e Wason lhes dizia se suas séries estavam de acordo com a regra usada por ele. Uma vez que se sentissem certos de que tinham chegando à regra de Wason, tinham que revelar qual era. O resultado? Os acertos foram raros, embora nunca tenham duvidado de suas respostas. A maioria dos alunos de Wason formou uma ideia errada ( “Talvez contar de dois em dois”) e então buscaram evidências para confirmar a regra equivocada (testando 6-8-10, 100-102-104 e assim por diante). “As pessoas comuns”, diz Wason (1981), “esquivam-se dos fatos, tornam-se incoerentes ou sistematicamente se defendem contra a ameaça de novas informações relevantes para a questão.” Os resultados são, eventualmente, surpreendentes. Os Estados Unidos lançaram sua guerra contra o Iraque pressupondo que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa, que representavam uma ameaça ime- diata. Quando essas pressuposições revelaram-se falsas, o viés de confirmação foi apontado como uma das falhas no processo de julgamento identificado pelo Comitê Bipartidário de Inteligência do Senado (2 0 0 4 ). Os analistas do governo “apresentavam a tendência a aceitar as informações que apoiavam [suas suposições] ... mais prontamente do que as informações que os contradiziam”. As fontes que negavam a existência dessas armas eram consideradas “mentirosas ou desinformadas sobre os problemas do Iraque, enquanto as fontes que informavam atividades correntes com as armas de destruição em massa eram vistas como detentoras de informações valiosas”.
Tomada de Decisões e Julgamentos 3 : Como a heurística, a super confiança e a perseverança das crenças influenciam nossas decisões e julgamentos? Quando fazemos centenas de decisões e julgamentos diariamente ( "Vale a pena levar um guarda-chuva? ”, “Será que posso confiar nessa pessoa? ”, “Devo fazer o arremesso ou passar a bola para o cestinha do time?”), raramente paramos ou nos esfor çamos para raciocinar de modo sistemático. Simplesmente seguimos nossa intuição. Após entrevistar os que desenvolvem políticas nas áreas de governo, negócios e educação, o psicólogo social Irving Janis (1986) concluiu que eles “com frequência não usam um enfoque reflexivo na redução de problemas. De que modo normalmente chegam às suas decisões? Se você perguntar, é provável que lhe digam que... na maioria das vezes, eles fazem isso sentados em suas poltronas (a partir de suas informações e intuições).
Usos e Desusos da Heurística Quando precisamos agir com rapidez, os atalhos mentais que denominamos heurísticas quase sempre nos ajudam a superar a paralisia das análises. Graças ao processamento automático das informações pela nossa mente, os julgamentos intuitivos são instantâneos. Mas o preço que às vezes temos de pagar por essa eficiência - julgamentos rápidos, porém ruins - pode ser alto. A pesquisa realizada pelos psicólogos cognitivos Amos Tversky e Daniel Kahneman (1974) sobre representatividade e disponibilidade heurística mostrou como esses atalhos geralmente úteis podem levar mesmo as pessoas mais inteligentes a decisões estúpidas. (Seu trabalho conjunto sobre tomada de decisão levou-os a receber o prêmio Nobel de 2002, ainda que, infelizmente, apenas Kahneman estivesse vivo para receber a homenagem.)
A Heurística da Representatividade Para julgar a probabilidade de algo representar adequadamente determinado protótipo, utilizamos a heurística da representatividade.
heurística da representatividade julgar a probabilidade do quão bem as coisas representam ou correspondem aos protótipos particulares; pode nos levar a ignorar outras informações importantes.
heurística da disponibilidade estimar a probabilidade dos acontecimentos baseado em sua disponibilidade na memória; se as ocorrências logo vêm à mente (talvez devido a sua vividez), presumimos que tais eventos são comuns.
A heurística da representatividade influencia muitas de nossas decisões do dia a dia. Para julgarmos a probabilidade de alguma coisa, intuitivamente comparamos essa coisa à nossa representação mental daquela categoria - de, digamos, como são os motoristas de caminhão. Se as duas coisas correspondem, esse fato normalmente ignora outras considerações de estatística ou lógica.
A Heurística da Disponibilidade A heurística da disponibilidade opera quando baseamos nossos julgamentos na informação que está disponível mentalmente. Qualquer fator que faça com que as informações “saltem na mente" de maneira rápida e com pouco esforço - a recenticidade, vividez ou distintividade - contribui para aumentar sua disponibilidade percebida, fazendo-os parecer lugar-comum. Se exemplos de um evento estiverem facilmente disponíveis - se vierem rapidamente à mente -, presumimos que tais eventos são comuns. Os cassinos nos estimulam a apostar sinalizando mesmo pequenos ganhos com campainhas e luzes - tomando-os vividos e memoráveis - enquanto as grandes perdas são mantidas silenciosamente invisíveis. E se alguém de um grupo étnico específico comete um ato terrorista, nossa memória do evento dramático, prontamente disponível, pode moldar nossa impressão de todo o grupo. Quando a realidade estatística é contraposta a um único caso vivido, o caso memorável normalmente sai ganhando. O massacre massivo de civis pode parecer estar aumentando recentemente graças aos casos de terrorismo e genocídio disponíveis em nossas memórias. Na verdade, esse horror vem declinando acentuadamente desde o final dos anos 1980 (Pinker, 2007; Departamento de Estado dos EUA, 2004).
excesso de confiança a tendência a ser mais confiante do que o que seria correto - superestimar a precisão de nossas crenças e julgamentos.
perseverança da crença agarrar-se aos conceitos iniciais após o descrédito das bases sobre as quais se fundamentava.
Excesso de Confiança O uso da heurística intuitiva quando formamos julgamentos, nossa ansiedade de confirmar as crenças que já possuímos e a habilidade que temos de explicar nossos erros se combinam para criar 0 excesso de confiança, a tendência a superestimar a exatidão de nossos conhecimentos e julgamentos. Em diversas atividades, as pessoas superestimam seu desempenho passado, presente e futuro (Metcalfe, 1998).
As pessoas também são mais confiantes do que corretas quando respondem a determinadas perguntas como: “O absinto é uma bebida alcoólica ou uma pedra preciosa?” (É uma bebida alcoólica de alcaçuz.) Para as perguntas a que apenas 60% das pessoas respondem corretamente, os respondentes normalmente se sentem 75% confiantes. Mesmo quando as pessoas têm 100% de certeza sobre suas respostas, elas erram cerca de 15% das vezes (Fischhoff et al., 1977). O excesso de confiança compromete as decisões fora dos laboratórios também. Foi um Lyndon Johnson excessivamente confiante que guerreou com o Vietnã do Norte e um superconfiante George W. Bush que marchou sobre o Iraque para eliminar supostas armas de destruição em massa. Em menor escala, o excesso de confiança dos corretores da bolsa de valores e dos gestores de investimentos os leva a vender suas habilidades como capazes de superar o desempenho da média do mercado, apesar das evidências esmagadoras do contrário (Malkiel, 2004). A compra de uma ação X, recomendada por um corretor que julga ser essa a hora de comprar, é normalmente equilibrada por uma venda feita por alguém que julga ser essa a hora de vender. Apesar da confiança de ambos, comprador e vendedor não podem estar certos ao mesmo tempo. Os estudantes também demonstram, rotineiramente, excesso de confiança em relação à velocidade para fa^er seus deveres e trabalhos escolares, em geral achando que vão acabar seus projetos antes do prazo (Buehler et al., 1994). Mas, na verdade, os projetos costumam ficar prontos no dobro do tempo previsto. Apesar de subestimarmos dolorosamente nossos prazos, continuamos excessivamente confiantes em nossas previsões seguintes. Além disso, pela antecipação de nossos resultados, acabamos por superestimar nosso futuro tempo livre (Zauberman e Lynch, 2005). Acreditando que no mês que vem teremos mais tempo livre do que temos hoje, aceitamos novos convites alegremente, só para descobrir que estaremos igualmente ocupados ao longo do dia.
O fracasso em avaliar nosso potencial para o erro pode ter conseqüências sérias, mas o excesso de confiança também tem valor adaptativo. As pessoas que erram por excesso de confiança vivem mais felizes, acham mais tranqüilo tomar decisões difíceis e parecem mais dignas de crédito do que as que têm pouca autoconfiança (Baumeister, 1989; Taylor, 1989). Além disso, quando recebemos pronto e claro retorno sobre a exatidão de nossos julgamentos - como os meteorologistas depois das previsões diárias -, podemos aprender a avaliar com mais realismo a precisão de nossos julgamentos (Fischhoff, 1982). A sabedoria para reconhecer quando sabemos algo e quando não sabemos nasce da experiência.
O Fenômeno da Perseverança da Crença Nossa predisposição a temer as coisas erradas e para sermos superconfiantes em nossos julgamentos é impressionante. O mesmo vale para nossa tendência a nos agarrarmos a nossas crenças diante das evidências em contrário. A perseverança da crença quase sempre alimenta os conflitos sociais, como em um estudo realizado com pessoas com opiniões contrá rias sobre a pena de morte (Lord et al., 1979). Cada grupo estudou as conclusões de pesquisas supostamente novas - uma apoiando e a outra refutando a alegação de que a pena de morte detém o crime. Os dois lados se mostraram mais impressionados pelo estudo que apoiava suas próprias cren ças, e ambos questionaram o estudo contrário. Assim, mostrar as mesmas evidências combinadas aos grupos a favor e contra a pena de morte aumentou suas discordâncias. Se você quiser frear o fenômeno da perseverança da crença, existe um remédio simples: considere o oposto. Quando Charles Lord e seus colegas (1984) repetiram o estudo sobre a pena de morte, pediram a alguns participantes que fossem o mais “objetivos e imparciais possível”. O pedido em nada reduziu a avaliação tendenciosa da evidência. Pediram então a outro grupo que considerasse “se teriam feito as mesmas avaliações (altas ou baixas) caso o mesmo estudo tivesse produzido resultados opostos”. Após imaginar e ponderar sobre conclusões opostas, essas pessoas foram bem menos tendenciosas em suas avaliações das evidências. Quanto mais apreciamos os motivos de por que nossas crenças poderiam ser verdades, mais fortemente nos agarramos a elas. Uma vez que as pessoas tenham explicado a si mesmas a razão pela qual acreditam que uma criança seja “bemdotada” ou “incapaz”, ou por que é mais provável que o candidato X ou Y seja um melhor comandante em chefe, ou por que vale a pena comprar ações da empresa Z, maior a tendência a ignorar as evidências que contrariam tais crenças. O preconceito persiste. Uma vez que as crenças se formam e se justificam, são necessárias evidências mais fortes para modificá- las do que as que foram necessárias para criá-las.
Os Perigos e o Poder da Intuição 4 : Como pensadores inteligentes usam a intuição? Vimos como nosso pensamento irracional pode contaminar nossos esforços para solucionar problemas, tomar decisões sábias, formar julgamentos válidos e raciocinar de maneira lógica. A intuição também alimenta nossos temores e preconceitos profundos. Além disso, esses perigos da intuição aparecem mesmo quando as pessoas recebem um pagamento extra para pensar de maneira inteligente, mesmo quando são solicitadas a justificar suas respostas, e mesmo quando são médicos e clínicos especializados (Shafir e LeBoeuf, 2002). A partir daí, você pode concluir que nossas cabeças são, de fato, recheadas com palha.
intuição um sentimento ou pensamento imediato automático e sem esforço, em comparação ao raciocínio explícito e consciente.
Mas não podemos abandonar as esperanças para a racionalidade humana. Os cientistas cognitivos atuais também estão revelando o poder da intuição, como você pode ver ao longo de todo este livro (TABELA 9 .1 ). Na maioria das vezes, nossas reações cognitivas instantâneas e intuitivas nos levam a reagir rapidamente e em geral de maneira adaptativa. Isso ocorre, primeiro, graças às nossas heurísticas rápidas e frugais, que nos permitem, por exemplo,intuitivamente presumir que objetos indistintos estão distantes, como de fato normalmente estão (a não ser nas manhãs enevoadas). Nossas associações aprendidas também geram intuições em nossa mente de duas vias. Se um estranho se parece com alguém que anteriormente nos feriu ou ameaçou, podemos - sem uma lembrança consciente da experiência anterior - reagir com desconfiança. (A associação aprendida faz emergir um sentimento instintivo.) Ao demonstrar como as heurísticas do dia a dia normalmente nos levam a agir com inteligência (e apenas algumas vezes como tolos), Gigerenzer (2004, 2007) perguntou a estudantes americanos e alemães: “Que cidade tem mais habitantes, San Diego ou San Antonio?” Após pensar por um momento, 62% dos americanos acertaram: San Diego. Mas os estudantes alemães, muitos dos quais jamais tinham ouvido falar de San Antonio (com o perdão de nossos amigos texanos), usaram uma heurística intuitiva rápida e frugal: escolha a que você reconhece. Com menos conhecimento, mas com uma heurística adaptativa, 100% dos alemães responderam corretamente. O psicólogo da University of Amsterdam Ap Dijkterhuis e seus colegas (2006a,b) descobriram os surpreendentes poderes da intuição inconsciente em experimentos que apresentaram informações complexas para pessoas sobre potenciais apartamentos (ou colegas de quarto, ou pôsteres artísticos). Eles convidaram alguns participantes a declarar suas preferências imediatas após lerem uma dúzia de informações sobre cada um de quatro apartamentos. Um segundo grupo, que contou com vários minutos para analisar as informações, tendeu a tomar decisões ligeiramente mais inteligentes. Mas os mais sábios de todos, estudo após estudo, foram os membros de um terceiro grupo, cuja atenção foi desviada por algum tempo. Isso permitiu que suas mentes processassem as informações complexas inconscientemente e chegassem a resultados mais satisfatórios. Diante de decisões complexas envolvendo diversos fatores, o melhor conselho pode ser, de fato, dar um tempo - “dormir com isso” — relaxar e aguardar o resultado intuitivo de nosso processamento inconsciente. A intuição é grandiosa. Muito mais do que podemos perceber, o pensamento ocorre nos bastidores, com os resultados ocasionalmente entrando em cena. A intuição é adaptativa. Ela nutre nossa perícia, nossa criatividade, nosso amor e nossa espiritualidade. E a intuição, a do tipo inteligente, nasce da experiência. Os mestres do xadrez são capazes de olhar para um tabuleiro e saber intuitivamente o movimento certo. Na modalidade do xadrez blitz, ou rápido, em que cada movimento é feito apos não mais do que um olhar, eles praticamente não demonstram nenhuma perda de desempenho (Burns, 2004). Os que têm experiência para identificar o sexo dos pintos podem com um rápido olhar saber se é um macho ou fêmea mas não são capazes de dizer como é que chegam a essa conclusão. Em cada um dos casos, o insight imediato descreve a perícia rápida adquirida, que se parece com uma intuição instantânea. Enfermeiras experientes, bombeiros, críticos de arte, mecânicos de automóveis, jogadores de hóquei, e você mesmo, em qualquer coisa para a qual desenvolvemos um conhecimento profundo e especializado, acabam por aprender a dimensionar diversas situações num piscar de olhos. A intuição é reconhecimento, observou o economista e psicólogo Herbert Simon, ganhador do prêmio Nobel (2001). É a análise “congelada em um hábito”. Assim a intuição - pensamentos e sentimentos não racionais rápidos e automáticos,- faz uso de nossa experiência e guia nossas vidas. A intuição é poderosa, muitas vezes é sábia, mas ocasionalmente é perigosa, sobretudo quando enfatizamos os sentimentos e subestimamos o pensamento, como no caso da avaliação de riscos. A ciência da psicologia atual valoriza nosso reconhecimento da intuição. Mas também nos lembra que é preciso confrontá-la com a realidade. Nossa mente de duas vias cria uma doce harmonia quanto o pensamento inteligente e crítico ouve os sussurros criativos de nossa vasta mente invisível e se aprimora avaliando as evidências, testando as conclusões e planejando o futuro.
Os Efeitos do Enquadramento 5 : O que é enquadramento? Um teste adicional de racionalidade é verificar se duas formas diferentes da mesma questão, logicamente equivalentes, irão produzir a mesma resposta. Por exemplo, um cirurgião diz a alguém que 10% das pessoas morrem ao se submeterem a determinada cirurgia. Outro diz que 90% sobrevivem. A informação é a mesma. O efeito não é. Tanto para os pacientes quanto para os médicos, o risco parece maior para aqueles que ouvem que 10% irão morrer (Marteau 1989; McNeil et al., 1988; Rothman e Salovey, 1997). Os efeitos do enquadramento, a maneira como apresentamos uma questão, às vezes são surpreendentes. Nove entre 10 estudantes universitários avaliam uma camisinha como eficaz se ela tiver uma suposta “taxa de 95% de sucesso” para evitar o vírus da AIDS; mas apenas quatro entre 10 a acham eficaz quando ela tem uma “taxa de 5% de fracasso” (Linville et al., 1992). E as pessoas ficam mais surpresas quando “1 evento em 2 0 ” acontece do que quando o equivalente “10 eventos em 200” acontecem (Denes-Raj et al., 1995). Para assustar as pessoas, enquadra os riscos como números, e não como percentagens. Ouvir que a projeção de uma exposição química mata 10 pessoas em cada 10 milhões (imagine 10 pessoas mortas!) nos deixa mais temerosos do que ouvir que a taxa de risco fatal é infinitesimal, 0,000001 (Kraus et al., 1992).
enquadramento a maneira com o uma questão é apresentada; com o a questão é enquadrada pode afetar significativamente as decisões e os julgamentos.
Considere como o efeito do enquadramento influencia as decisões políticas ou de negócios. Os políticos sabem enquadrar suas posições sobre a assistência pública como “auxílio aos necessitados” se forem a favor ou contra ao “bem-estar”; Os comerciantes aumentam os “preços regulares” para parecer que oferecem enormes vantagens sobre os “preços de liquidação”. Um casaco de US$150 remarcado para US$100 na Loja X pode parecer um melhor negócio do que o mesmo casaco com o preço regular de US$100 na Loja Y (Urbany et al., 1988). E a carne moída que é apresentada como “75% magra” parece muito mais atraente do que se contiver “25% de gordura” (Levin e Gaeth, 1988; Sanford et al., 2002). Da mesma forma, a diferença de preço do combustível pago com cartão de crédito ou com dinheiro parece mais atraente se enquadrada como “desconto em dinheiro” do que como “taxa de cartão de crédito”. As pesquisas de enquadramento também encontram um uso poderoso na definição de opções, que podem ser apresentadas de maneira a estimular as pessoas a tomar melhores decisões (Thalere Sunstein, 2008). ,
• O tamanho preferido da porção depende do enquadramento. Se um restaurante oferece uma opção de cardápio regular e uma alternativa de ‘porção menor’, a maioria das pessoas escolherá a opção maior. Se o restaurante oferecer a opção menor como padrão e marcar a maior como “porção super”, mais pessoas optarão pela menor porção (Schwartz, 2007). 
• Por que optar por ser um doador de órgãos depende do local onde você mora. Em muitos países europeus, assim como nos EUA, as pessoas podem decidir se querem doar seus órgãos ou não quando renovam suas carteiras de motorista. Nos países onde a opção padrão é sim, mas as pessoas podem escolher não, praticamente 100% concordam com a doação. Nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha, onde a opção padrão é não, mas as pessoas podem optar por sim, apenas 1 em cada 4 concorda com a doação (Johnson e Goldstein, 2003). 
• Como auxiliar os empregados a decidir poupar para a aposentadoria. Uma lei de 2006 para pensões nos EUA reconheceu os efeitos poderosos do enquadramento. Anteriormente, os empregados que preferiam adiar uma parte de sua remuneração para um plano de aposentadoria tinham que optar por levar menos dinheiro para casa no final do mês, o que a maioria das pessoas prefere não fazer. Agora, as empresas estão sendo estimuladas a incluirseus empregados automaticamente, mas oferecendo-lhes a opção de recusar (e aumentando sua remuneração mensal). Nos dois planos, a escolha era do empregado. Mas na opção por não participar, mais do que na de aceitar, as inscrições dispararam de 49 para 86% (Madrian e Shea, 2001). Lembre-se: Aqueles que compreendem o poder do enquadramento podem usá-lo para influenciar nossas decisões.
Linguagem :
OS IMPRESSIONANTES EFEITOS DO ENQUADRAMENTO ilustram o poder da linguagem - nossas palavras faladas, escritas ou sinalizadas e a maneira como as combinamos ao pensar e nos comunicar. Há muito que os humanos anunciam orgulhosamente que a linguagem nos coloca acima dos demais animais. “Ao estudarmos a linguagem humana”, afirmou o linguista Noam Chomsky (1972), “nos aproximamos do que alguns chamam de ‘essência humana’, as qualidades da mente que são, até onde sabemos, únicas [para os humanos].” Para o cientista cognitivo Steven Pinker (1990), a linguagem é a “joia da coroa da cognição”.
linguagem nossas palavras faladas, escritas ou sinalizadas e as formas com o as com binam os para comunicar significados.
Imagine uma espécie alienígena que pudesse transmitir pensamentos de uma cabeça para outra simplesmente pulsando as moléculas de ar entre elas. Talvez essas estranhas criaturas pudessem estar em um futuro filme do Spielberg? Na verdade, essas criaturas somos nós! Quando falamos, nosso cérebro e a caixa de voz criam ondas de pressão de ar que enviamos ricocheteando contra os tímpanos alheios. Como observa Pinker (1998), às vezes ficamos horas “ouvindo as pessoas fazer barulho ao exalar, pois esses chiados e guinchos contêm informa ções". E, graças a todos esses barulhos engraçados criados em nossas cabeças pelas ondas de pressão do ar que enviamos, completa Bernard Guerin (2003), obtemos a atenção das pessoas, conseguimos que façam coisas e mantemos as relações. Dependendo de como fazemos o ar vibrar ao abrirmos a boca, podemos levar um tapa ou ganhar um beijo. Mas a linguagem é mais do que fazer o ar vibrar. Enquanto crio este parágrafo, meus dedos sobre um teclado geram números binários eletrônicos que são traduzidos em gotas de carbono seco pressionadas sobre a polpa de madeira esticada na página diante de você. Quando transmitidas por raios de luz refletidos na sua retina, as gotas impressas disparam impulsos nervosos sem forma que se projetam para diversas áreas do cérebro, onde a informação é integrada, comparada a outras informações armazenadas e decodificadas em significados. Graças à linguagem, transferimos significados de uma mente para outra. Quer seja falada, escrita ou sinalizada, a linguagem nos possibilita não só nos comunicarmos, como transmitir o conhecimento acumulado da civilização ao longo das gerações. A maioria dos macacos sabe o que veem. Graças à linguagem, sabemos muito do que jamais vimos.
Estrutura da Linguagem 6 : Quais são os componentes estruturais de uma linguagem? Considere como poderíamos inventar uma linguagem. Para uma linguagem falada, precisaríamos de três blocos de construção
Fonemas Primeiro precisaríamos de um conjunto básico de sons, que os linguistas denominam fonemas. Para dizer bat (morcego), pronunciamos os fonemas b,aet. Chat (bate-papo) também tem três fonemas — ch, a e t. Após um levantamento com quase quinhentas linguagens, os linguistas identificaram 869 fonemas diferentes nas falas humanas (Holt, 2002; Maddieson, 1984). Nenhum idioma usa todos eles. O inglês usa cerca de 40; outras línguas, algo em torno da metade ou algo mais do que duas vezes esse número. Em uma linguagem, modificações nos fonemas produzem modificações no significado. Em inglês, as variações nos sons das vogais entre b e t criam 12 significados diferentes: bait (isca), bat (morcego), beat/beet (bater/beterraba), bet (apostar), bit (pedaço), bite (morder), boat (barco), boot (bota), bought (comprou), bout (ataque) e but (mas) (Fromkin e Rodman, 1983). Em geral, porém, os fonemas de consoantes carregam mais informação do que os fonemas de vogais. E verdede desse declaração deve fecerevedente cem este breve demonstração. Pessoas que crescem aprendendo um conjunto de fonemas normalmente têm dificuldades para pronunciar os fonemas de outra linguagem. Os falantes nativos da língua inglesa podem achar graça das dificuldades encontradas por um falante nativo de alemão em pronunciar o som do th, que pode fazer this soar como dis. Mas os falantes nativos de alemão sorriem de volta para os problemas que os falantes do inglês encontram para enrolar o r alemão ou para pronunciar o ch aspirado em ich, a palavra alemã para I (eu). A linguagem de sinais também tem blocos de construção parecidos com fonemas definidos pelos movimentos e formas das mãos. Assim como os falantes, os usuários nativos de uma das mais de duzentas linguagens^ de sinais podem ter dificuldades com os fonemas da outra. É o caso dos chineses usuários nativos de sinais que vão para os Estados Unidos e aprendem a linguagem de sinais americana sinal por sinal, com sotaque, como observa a pesquisadora Ursula Bellugi (1994).
fonema na linguagem, a menor unidade de som diferenciada
Morfemas Mas apenas os sons não formam uma língua. O segundo bloco de construção são os m orfem as, a menor unidade de uma língua com significado. Em inglês, poucos morfemas são também fonemas - o pronome pessoal I (eu) e o artigo a (um/ uma), por exemplo. Mas a maioria dos morfemas são combinações de dois ou mais fonemas. Alguns, como bat (morcego), são palavras, mas outros são apenas partes de palavras. Os morfemas incluem os prefixos e sufixos, tais como pre- em prever, ou -iu, em previu, para indicar o passado.
Gramática Finalmente, nossa nova linguagem precisa de uma gram á tica, um sistema de regras (semântica e sintaxe) em uma dada linguagem que permite que nos comuniquemos e compreendamos uns aos outros. A sem ântica é o conjunto de regras que usamos para derivar o significado a partir dos morfemas, palavras e até mesmo frases. Em inglês, a regra semântica determina a colocação do sufixo -ed depois de laugh (rir) para formar laughed (riu) e indicar que a risada aconteceu no passado. A sintaxe refere-se às regras que usamos para organizar as palavras nas frases. Uma regra sintática do inglês determina que os adjetivos normalmente vêm antes dos substantivos, então falamos white house (branca casa). Mas em espanhol, e também em português, essa ordem é invertida, como em casa blanca, ou casa branca. A regra inglesa permite a frase: They are hunting dogs. Dependendo do contexto, a semântica nos diz se são cães de caça ou pessoas que estão caçando cães. Em todas as 6.000 línguas humanas, a gramática é muito intrincada. “Existem sociedades da “Idade da Pedra”, mas elas não tem línguas da “Idade da Pedra” (Pinker, 1995). Ao contrário da ilusão de que pessoas de menor nível educacional não seguem a gramática ao falar, elas simplesmente falam um dialeto diferente. Para um linguista, “num tem pobrema” é gramaticalmente o mesmo que “não tem problema”. (Têm a mesma sintaxe.)
• Pouco mais da metade das 6 .0 0 0 línguas do mundo são faladas por pouco mais de 10.000 pessoas. E pouco mais da metade da população mundial fala uma das 20 principais línguas (Gibbs, 2 0 0 2). •
Observe, no entanto, que a língua se torna cada vez mais complexa à medida que passamos de um nível para outro. No inglês, por exemplo, o número relativamente pequeno de cerca de 40 fonemas pode ser combinado para formar mais de 100.000 morfemas, que, sozinhos ou combinados entre si, produzem as 616.500 palavras registradas no Oxford English Dictionary (incluindo 290.500 entradas principais, tais como meat (carne) e 326.000 subentradas, tais como meat eater (comedor de carne, ou carnívoro). Podemos usar essas palavras para criar um número infinito de frases, a maioria das quais (como esta) é original. Como a própria vida construída a partir do alfabeto simples do código genético, a complexidade da linguagem nasceu da simplicidade. Sei que você pode saber por que eu temo que você ache queesta frase está come çando a ficar muito complexa, mas essa complexidade - e nossa capacidade de transmiti-la e compreendê-la - é o que distingue a capacidade humana de uso da linguagem (Hauser et al., 2002).
Desenvolvimento da Linguagem Adivinhe rapidamente: quantas palavras você aprendeu nos anos entre seu aniversário de um ano e sua formatura no ensino médio? A resposta é cerca de 60.000 (Bloom, 2000; McMurray, 2007). Isso representa uma média (após 1 ano de idade) de cerca de 3.500 palavras por ano, ou quase 10 por dia! Como você conseguiu isso - como as 3.500 palavras por ano que você aprendeu podem ter sido tantas mais além das cerca de 200 que seus professores lhe ensinaram conscientemente - é uma das grandes maravilhas da humanidade.
• Ainda que você provavelmente saiba entre 6 0 .0 0 0 e 8 0 .0 0 0 palavras, usa apenas 150 para a maioria das coisas que diz. »
Antes de ser capaz de somar 2 + 2, você já criava suas pró prias frases originais gramaticalmente adequadas. A maioria de nós teria problemas para descrever as regras que organizam as palavras para formar as frases. Mas antes de entrar para a escola, você já compreendia e falava com uma facilidade que deixaria envergonhados seus colegas que agora se esforçam para aprender uma língua estrangeira. Nós, humanos, temos uma incrível facilidade para a linguagem. Com uma eficiência notável, seletivamente coletamos dezenas de milhares de palavras de nossa memória e quase sem esforço as estruturamos com sintaxe quase perfeita, e as expelimos em um ritmo de três palavras (com mais ou menos uma dúzia de fonemas) por segundo (Vigliocco e Hartsuiker, 2002). Raramente formamos frases em nossas mentes antes de as enunciarmos. Em vez disso, elas próprias se organizam na hora mesma em que falamos. E, ao fazermos isso tudo, também adequamos nossos proferimentos ao contexto sociocultural, seguindo as regras para falar (A que distância devemos ficar das pessoas?) e ouvir (Tem problema interromper?). Diante de tantas possibilidades de estragar tudo, é incrível que possamos dominar essa dança social. Assim, quando e como isso acontece?
morfema em uma linguagem , a menor unidade que carrega sentido; pode ser uma palavra ou parte de uma palavra (com o um prefixo).
gramática em uma linguagem , um sistema de regras que permite que nos comuniquem os e compreendamos uns aos outros.
semântica o conjunto de regras a partir das quais extraímos os significados dos morfemas, palavras e frases em uma dada linguagem ; também é o estudo do significado.
sintaxe as regras para a combinação das palavras em frases gramaticalmente corretas em uma dada linguagem .
estágio de balbucio a partir dos 4 meses, aproximadamente, o estágio de desenvolvimento da fala em que os bebês em item diversos sons espontâneos inicialmente sem relação com a linguagem doméstica.
estágio de uma palavra o estágio de desenvolvimento da fala, de 1 aos 2 anos de idade, durante o qual a criança fala principalmente em palavras isoladas.
Quando Aprendemos a Linguagem? 7 : Quais são os marcos do desenvolvimento da linguagem?
 Linguagem Receptiva O desenvolvimento da linguagem das crianças parte da simplicidade para a complexidade. Os bebês começam sem linguagem (infantis significa “sem fala”). Porém, em torno de 4 meses, os bebês conseguem discriminar sons da fala (Stager e Werker, 1997). Também são capazes de ler lábios: preferem olhar para um rosto que corresponda a um som, e, desse modo, sabemos que eles conseguem reconhecer um ah que vem de lábios bem abertos e um ih de uma boca com os cantos repuxados (Kuhl e Meltzoff, 1982). Esse período marca o início do desenvolvimento da linguagem receptiva dos bebês, a habilidade de compreender a fala. A partir dos 7 meses, cresce o poder dos bebês de fazer aquilo que nós temos dificuldades diante de uma língua desconhecida: segmentar os sons falados em palavras individuais. Além disso, sua adaptação a essa tarefa, conforme a avaliação de seus padrões auditivos, prediz suas habilidades lingüísticas aos 2 e 5 anos (Newman et al., 2006).
Linguagem Produtiva A linguagem produtiva dos bebês, sua habilidade de produzir palavras, amadurece após a linguagem receptiva. Em torno dos 4 meses, os bebês entram no estágio de balbucio, no qual emitem espontaneamente uma variedade de sons, tais como a-guu. O balbucio não é uma imitação da fala dos adultos, pois inclui sons de várias línguas, mesmo daquelas não faladas em casa. A partir desse balbucio inicial, não é possível identificar se um bebê é francês, coreano ou etíope. Crianças surdas que observam seus pais surdos sinalizando começam a balbuciar mais com as mãos (Petitto e Marentette, 1991). Antes que a criação modele a fala, a natureza possibilita uma grande variedade de sons possíveis. Muitos desses sons balbuciados naturalmente são pares formados por consoantes e vogais pela simples colocação da língua na frente da boca (da-da, na-na, ta-ta) ou pelo abrir e fechar dos lábios (ma-ma), ambos emitidos naturalmente pelos bebês para se alimentar (MacNeilage e Davis, 2000). Em torno dos 10 meses, o balbucio já se modificou, e um ouvido treinado é capaz de identificar a língua materna (de Boysoon-Bardies et al., 1989). Os sons e as entonações que não fazem parte dessa língua começam a desaparecer. Sem exposição a outras línguas, os bebês começam a se tornar funcionalmente surdos a sons falados fora de sua língua nativa (Pallier et al., 2001). Isso explica por que os adultos que falam apenas inglês não são capazes de distinguir certos sons da fala japonesa, e por que adultos japoneses que não aprenderam inglês não conseguem distinguir oreol falados em inglês. Assim, la-la-ra-ra, para um adulto falante do japonês, soa como a mesma sílaba repetida. Falar para um japonês para “brindar o carro novo”, poderia ser entendido por ele que estão querendo blindar o carro. Em torno do primeiro aniversário (a idade exata varia de criança para criança), a maioria entra no estágio de uma palavra. Elas já aprenderam que os sons possuem significados e se, repetidamente treinadas para associar, digamos, peixe com uma figura de um peixe, uma criança de um ano olhará para um peixe quando um pesquisador falar: “Peixe, peixe! Olhe para o peixe!” (Schafer, 2005). Não por acaso, eles agora começam a usar sons - normalmente apenas uma sílaba que mal se pode reconhecer, como ma ou da - para comunicar um significado. Mas os membros da família rapidamente aprendem a compreender, e gradualmente a linguagem das crianças se aproxima da da família. Nesse estágio de uma só palavra, a inflexão de uma palavra pode eqüivaler a uma frase inteira. “Totó!” pode significar: “Olha lá um cachorro!” Em tomo dos 18 meses, o aprendizado de palavras das crianças dispara de cerca de uma palavra por semana para uma por dia. Perto do segundo aniversário, a maioria já entrou no está gio de duas palavras. Começam a proferir frases de duas palavras em uma fala telegráfica. Como nos telegramas de antigamente (“CONDIÇÕES ACEITAS. ENVIAR DINHEIRO”), essa forma inicial de discurso contém principalmente verbos e substantivos (Quero suco). Também como os telegramas, segue as regras da sintaxe; as palavras estão em uma ordem correta. As crianças falantes do inglês normalmente colocam os adjetivos antes dos substantivos - bigdoggy (grande cachorrinho) e não doggy big (cachorrinho grande). Ao sair do estágio de duas palavras, as crianças rapidamente começam a proferir frases mais longas (Fromkin e Rodman, 1983). Se porventura começam a aprender tardiamente uma língua específica, por exemplo, após um implante coclear ou por terem passado por uma adoção internacional, seu desenvolvimento lingüístico ainda prossegue conforme a mesma seqüência, apesar de normalmente em um ritmo mais rápido (Ertmer et al., 2007; Snedeker et al., 2007). No início do ensino fundamental, as crianças entendem sentenças complexas e começam a desfrutar do humor transmitido por palavras de duplo sentido: “A vizinha morreu de panela: veio um ônibus e pá-nela.”
Explicando o Desenvolvimento da Linguagem8 : Como aprendemos a linguagem? As tentativas de explicar como adquirimos a linguagem despertaram uma acirrada controvérsia intelectual. O debate sobre o que é inato e o que é adquirido volta à tona, e aqui, como em outras áreas, as avaliações sobre as predisposições inatas e as interações natureza-cultura também têm crescido.
Skinner: A prendizagem O perante O behaviorista B. F. Skinner (1957) acreditava que podemos explicar o desenvolvimento da linguagem segundo princípios familiares de aprendizagem, tais como associação (de coisas vistas com os sons das palavras), imitação (das palavras e sintaxes modeladas pelos outros), e reforçamento (com sorrisos e abraços quando a criança diz algo certo). Assim, Skinner argumentava (1985) que os bebês aprendem a falar em grande parte pelos mesmos caminhos por meio dos quais os animais aprendem a bicar uma tecla ou a pressionar uma alavanca: “O comportamento verbal evidentemente surge quando, através de uma etapa crítica na evolução da espécie humana, a musculatura vocal torna-se suscetível ao condicionamento operante.” E não são apenas em humanos. Os pássaros que cantam também adquirem sua “linguagem” auxiliados pela imitação (Haesler, 2007).
Chomsky: Gramática Universal Inata O linguista Noam Chomsky (1959, 1987) comparou as ideias de Skinner a encher uma garrafa com água. Mas o desenvolvimento da linguagem não é ser apenas “preenchido” com os tipos certos de experiências, enfatizou Chomsky. As crianças adquirem palavras e gramáticas não ensinadas em uma velocidade por demais extraordinária para ser explicada apenas por princípios de aprendizagem. Elas criam diversos tipos de frases que nunca ouviram e às vezes com novos erros. (Nenhum pai ou mãe ensina a frase: “Eu odeio você, papai”.) Além disso, muitos dos erros que as crianças pequenas cometem resultam da supergeneralização das regras gramaticais lógicas, tais como adicionar -eu a todas as formas verbais do passado (o -ed do inglês) (Cuevas, 1990): 
Criança: Minha professora fazeu um desenho bonito. 
Mãe: Você disse que sua professora fez um desenho bonito? 
Criança: É. 
Mãe: Ela fez um desenho no quadro? 
Criança: Não, ela fazeu no caderno.
Chomsky, por sua vez, acha que o desenvolvimento da linguagem é muito parecido com “auxiliar uma flor a crescer à sua própria maneira”. Mediante os estímulos adequados, a linguagem ocorre naturalmente. Simplesmente, “acontece à criança”. E o motivo disso é que nascemos com uma espécie de pré-ligação - um dispositivo de aquisição da linguagem. É como se as chaves fossem ligadas ou desligadas para que pudéssemos compreender e produzir a linguagem. Ao ouvirmos uma língua, as chaves são ajustadas para que aquela língua seja aprendida.
estágio de duas palavras iniciando-se em torno dos dois anos, o estágio de desenvolvimento da fala em que a criança fala predominantemente frases de duas palavras.
fala telegráfica estágio inicial da fala em que a criança fala como em um telegrama - “ir carro” - usando principalmente verbos e substantivos
Para Chomsky, subjacente à linguagem humana há uma gramática universal: todas as línguas humanas, portanto, têm os mesmos blocos de construção gramatical, tais como substantivos, verbos, sujeitos e objetos, negações e interrogações. Assim, aprendemos prontamente a gramática específica de qualquer língua a que sejamos expostos, seja falada ou de sinais (Bavelier et al., 2003). E não importa que língua seja, começamos a falar principalmente usando substantivos (mamã, dodói), e não verbos e adjetivos (Bornstein et al., 2004). E isso ocorre tão naturalmente - da mesma maneira que os pássaros aprendem a voar - que dificilmente algum treinamento pode ajudar
• Sob a influência de Chomsky, alguns pesquisadores também inferem uma “gramática moral universal” - um senso inato de certo e errado - que vem preestabelecido pela evolução e é refinado pela cultura (Hauser, 2006; Mikhail, 2007). •
Muitos psicólogos acreditam que somos beneficiados igualmente pelas visões de Skinner e de Chomsky. Os genes das crianças criam complexas ligações cerebrais que as preparam para a linguagem em sua interação com seus cuidadores. A ênfase de Skinner no aprendizado ajuda a explicar como as crianças adquirem a linguagem pela interação com outras pessoas. A ênfase de Chomsky na predisposição inata para aprender as regras gramaticais explica por que as crianças em idade pré-escolar adquirem a linguagem tão prontamente e usam tão bem a gramática. Uma vez mais, vemos a biologia e a experiência trabalhando juntas.
Criação da linguagem Reunidas como se numa ilha deserta (na escola, na verdade), crianças surdas da Nicarágua desenvolveram uma língua de sinais surgida em casa ao longo do tempo e que resultou na língua nicaraguense de sinais, completa, com palavras e gramática complexa. Nossa predisposição biológica para a linguagem não cria a língua do vácuo. Mas, estimulados pelo contexto social, traços inatos e adquiridos interagem criativamente (Osborne, 1999; Sandler et al., 2005; Senghas e Coppola, 2001).
Aprendizado Estatístico e Períodos Críticos Os bebês humanos exibem uma notável habilidade para aprender aspectos estatísticos da fala humana. Quando você ou eu ouvimos uma língua estranha, as sílabas soam todas juntas. Alguém que não seja familiarizado com o inglês pode ouvir, por exemplo, United Nations como “IunaiTed Neichions”. Muito antes de nosso primeiro aniversário, nossos cérebros não estão apenas distinguindo as separações entre as palavras, mas também estão analisando estatisticamente quais sílabas, como em “bebe-bo-ni-to”, com mais frequência aparecem juntas. Jenny Saffran e seus colegas (1996; no prelo) demonstrou isso expondo bebês de 8 meses a uma voz de computador falando, ininterrupta e monocordicamente, uma série de sílabas sem sentido (bidakupadotigolabubidaku....). Depois de apenas dois minutos de exposição, os bebês conseguiram reconhecer (conforme indicado por seu nível de atenção) três sílabas em seqüência que apareceram repetidamente. Pesquisas de acompanhamento (follow-up) oferecem testemunhos adicionais para a surpreendente aptidão dos bebês para absorver a língua. Por exemplo, bebês de 7 meses podem aprender frases com estruturas simples. Depois de ouvirem repetidamente seqüências de sílabas que seguem determinada regra, tais como ga-ti-ga e li-na-li (um padrão ABA), eles ouvem por mais tempo sílabas numa seqüência diferente, tais como vo-fe-fe (um padrão ABB), em vez de vo-fe-vo. O fato de detectarem a diferença entre os dois padrões apoia a ideia de que os bebês nascem com uma disposição interna para aprender regras gramaticais (Marcus et al., 1999).
Mas será que somos capazes de realizar esse mesmo feito de análise estatística ao longo de nosso ciclo de vida? Muitos pesquisadores acreditam que não. A infância parece representar um período crítico (ou “sensível”) para o domínio de determinados aspectos da linguagem (Hernandez e Li, 2007). Crianças surdas que passam a ouvir após um implante coclear por volta dos 2 anos de idade desenvolvem a fala melhor do que as que recebem o implante após os 4 anos de idade (Greers, 2004). E quer ouçam ou sejam surdas, a exposição tardia à língua (aos 2 ou 3 anos) desencadeia a capacidade linguística ociosa do cérebro, produzindo uma aceleração da linguagem. Mas as crianças que não foram expostas a uma língua falada ou de sinais nos primeiros anos (até cerca dos 7 anos) gradualmente perdem a habilidade de dominar qualquer língua. Crianças nascidas surdas que aprendem a língua de sinais após os 9 anos jamais a dominam tão bem quanto as que se tornam surdas na mesma idade, após terem aprendido inglês. Também jamais aprendem inglês tão bem quanto outras crianças nascidas surdas que aprenderam os sinais na infância (Mayberry et al., 2002). A incrível conclusão é que, se um cérebro jovem não aprende língua nenhuma, sua capacidade de aprendizagem lingüística jamais se desenvolve plenamente. Após a janela de aprendizagem lingüística se fechar, mesmo a aprendizagem de uma segunda língua parecemais difícil. As pessoas que aprendem uma segunda língua quando adultas normalmente falam com o sotaque da primeira. O aprendizado da gramática é igualmente mais difícil. Jacqueline Johnson e Elissa Newport (1991) pediram a imigrantes chineses e coreanos que identificassem quais das 276 frases em inglês apresentadas ( “Yesterday the hunter shoots a deer’’) [Ontem o caçador atira em um veado] estavam gramaticalmente corretas ou incorretas. Alguns que fizeram o teste haviam chegado aos EUA quando crianças; outros, já adultos, mas todos já estava lá há cerca de 10 anos. No entanto, como revela a FIGURA 9 .7 , aqueles que aprenderam a segunda língua mais cedo a aprenderam melhor. Quanto mais velha for a pessoa ao imigrar para um novo país, mais difícil será aprender a nova língua (Hakuta et al., 2003).
O impacto das primeiras experiências também é evidente no aprendizado lingüístico de mais de 90% das crianças surdas filhas de pais ouvintes que não usam sinais. Essas crian ças normalmente não são expostas à linguagem em seus primeiros anos. Comparadas a crianças expostas à língua de sinais desde o nascimento, as que aprendem essa língua na adolescência ou já adultas são como os imigrantes que aprendem inglês depois da infância. Podem dominar as palavras básicas e aprender a ordená-las, mas jamais se tornam tão fluentes quantos os usuários nativos da língua de sinais na produção e compreensão de diferenças gramaticais sutis (Newport, 1990). Além disso, os aprendizes tardios apresentam menor atividade cerebral nas regiões do hemisfério direito, ativas nos usuários de sinais ao se comunicarem (Newman et al., 2002). Assim como o crescimento de uma flor será prejudicado sem nutrientes, as crianças também são linguisticamente afetadas se ficarem isoladas da língua durante o período crítico para sua aquisição. A atividade cerebral alterada nos que são privados da língua na infância levanta uma questão: como o cérebro em desenvolvimento normalmente processa a linguagem?
O Cérebro e a Linguagem 9 : Que áreas do cérebro são envolvidas no processamento da linguagem? Costumamos achar que falar e ler, ou escrever e ler, ou cantar e falar são simples exemplos da mesma habilidade geral - a linguagem. Mas considere esta curiosa descoberta: a afasia, um comprometimento do uso da linguagem, pode resultar de lesões em qualquer uma das áreas corticais. Ainda mais curioso, algumas pessoas com afasia podem falar com fluência, mas não conseguem ler (mesmo enxergando bem), enquanto outras compreendem o que leem, mas não conseguem falar. Há ainda os que escrevem, mas não leem, leem, mas não escrevem, leem números, mas não letras, ou cantam, mas não falam. O que isso nos diz sobre o mistério de nosso uso da linguagem, e como os pesquisadores solucionam esse mistério?
afasia comprometimento da linguagem, normalmente causado por lesões no hemisfério esquerdo, à área de Broca (comprometimento da fala) ou à de Wernicke (comprometimento da compreensão).
área de Broca controla a expressão da linguagem - uma área no lobo frontal, normalmente no hemisfério esquerdo, que dirige os movimentos musculares envolvidos na fala.
área de Wernicke controla a recepção da linguagem - uma área do cérebro envolvida na compreensão e expressão da linguagem; normalmente no lobo temporal esquerdo
Um século após as descobertas de Broca e Wernicke, Norman Gershwind reuniu essas e outras pistas em uma explicação sobre como usamos a linguagem (FIGURAS 9 .8 e 9 .9 ). Quando lemos em voz alta, as palavras (1) são registradas na área visual, (2) transmitidas para uma segunda área do cérebro, o giro angular, que transforma as palavras em um código auditivo que (3) é recebido e compreendido na vizinha área de Wernicke e (4) enviada para a área de Broca, que (5) controla o córtex motor na criação da palavra pronunciada. Dependendo do elo dessa cadeia que é lesionado, tipos diferentes de afasia podem ocorrer. A neurociência atual continua a enriquecer nossa compreensão do processamento da linguagem. Agora sabemos que mais áreas estão envolvidas do que aquelas descritas na Figura 9.9, e que o “mapa” pode variar de uma pessoa para outra. Além disso, as imagens por ressonância magnética funcional mostram que diferentes redes neurais são ativadas por substantivos e verbos, pela língua nativa ou por uma segunda língua aprendida tardiamente (Perani e Abutalebi, 2005; Shapiro et al., 2006). Por exemplo, adultos que aprenderam uma segunda língua quando jovens usam a mesma parte do tecido do lobo frontal ao recordar um evento na língua materna ou na segunda língua. Os que aprenderam a segunda língua depois da infância apresentam atividades em uma área do cérebro adjacente quando usam sua segunda língua (Kim et al., 1997). Ainda assim, o grande ponto a ser lembrado é que: Ao processar a linguagem, assim como em outras formas de processamento de informações, 0 cérebro opera dividindo suas funções mentais - falar, perceber, pensar, lembrar - em subfunções. A sua experiência consciente de ler esta página aparenta ser indivisível, mas seu cérebro está computando a forma de cada palavra, som e significado usando diferentes redes neurais (Posner e Carr, 1992). Vimos isso também no Capítulo 6, no tópico sobre a visão. Neste exato momento, pressupondo que você possa enxergar, você está experimentando toda uma cena visual como se os seus olhos fossem câmeras de vídeo projetando a cena no seu cérebro. Na verdade, o cérebro está decompondo essa cena em subtarefas especializadas, tais como distinguir as cores, profundidade, movimento e forma. E tanto na visão quanto na linguagem, um trauma localizado que destrua umas dessas equipes de trabalho neural pode fazer com que a pessoa perca apenas um aspecto do processamento, como no caso de um AVC, que destrói a capacidade de perceber 0 movimento. Em ambos os sistemas, cada rede neural especializada, tendo simultaneamente desempenhado suas próprias funções, alimenta com suas informações as redes de nível superior, que combinam os átomos da experiência e os transmitem progressivamente para áreas de associação de nível superior, permitindo que reconheçamos um rosto como o de “vovó”. Isso ajuda a explicar uma outra descoberta curiosa. A ressonância magnética funcional mostra que os jogos com os significados ( “Por que os tubarões não mordem os advogados? ... Cortesia profissional”) são processados em áreas diferentes dos jogos de palavras ("O que Noé disse quando parou de chover?... Eba! Arcabou o dilúvio!”) (Goel e Dolan, 2001). Os cientistas foram até mesmo capazes de prever, a partir da resposta do cérebro a diversos substantivos concretos (coisas que experimentamos com nossos sentidos), a resposta do cérebro para outros substantivos concretos (Mitchell et al., 2008). Pense só nisto: O que vivemos como um fluxo contínuo e indivisível de experiência é, na verdade, apenas a ponta visível de um iceberg de processamento subdividido de informações, cuja maior parte está abaixo da superfície de nossa consciência. Em resumo, os subsistemas da mente estão localizados em regiões específicas do cérebro, ainda que o cérebro atue como um todo unificado. Mover a mão, reconhecer faces, perceber cenas, compreender a linguagem - tudo depende de redes neurais específicas. Ainda assim, funções complexas como ouvir, aprender e amar envolvem a coordenação de diversas áreas do cérebro. Juntos, esses dois princípios - especialização e integração - descrevem o funcionamento do cérebro.
Voltando ao nosso debate sobre se merecemos o nome de Homo sapiens, façamos uma pausa para um rápido relatório de avaliação. No quesito tomada de decisões e julgamentos, nossa espécie propensa ao erro merece um C+. Na resolução de problemas, os humanos somos inventivos, mas vulneráveis à fixação, e podemos ficar com uma nota melhor, um B talvez. Na eficiência cognitiva, nossa heurística falha, embora rápida, nos garante um A. E quando se trata de aprendizagem e do uso da linguagem, os especialistas entusiastas certamente atribuem um A+ aos humanos.
Pensamento e Linguagem10 : Qual é a relação entre a linguagem e o pensamento? O PENSAMENTO E A LINGUAGEM são intricadamente entrelaçadas. Perguntar o que vem primeiro é uma das questões do ovo ou da galinha da psicologia. Será que nossas ideias vêm primeiro e ficamos à espera das palavras para as nomearmos? Ou os pensamentos são concebidos em palavras e, sendo assim, impensáveis sem elas?
A Linguagem Influencia o Pensamento O linguista Benjamin Lee Whorf defendeu que a língua determina o modo como pensamos. Segundo a hipótese do determ inism o lingüístico de Whorf (1956), línguas diferentes impõem concepções diferentes de realidade: “A língua, em si, molda as ideias básicas de um homem.” Os hopis, notou Whorf, não têm para os seus verbos o tempo do pretérito. Portanto, ele defendeu, um hopi não pode pensar tão prontamente no passado.
determinismo lingüístico a hipótese de Whorf de que a linguagem determina a maneira como pensamos.
Afirmar que a língua determina a maneira como pensamos é muito forte. Mas, para aqueles que falam duas línguas bastante diferentes, como o inglês e o japonês, parece óbvio que uma pessoa possa pensar diferentemente em línguas diferentes (Brown, 1986). Diversamente do inglês, que possui rico vocabulário para expressar emoções focadas em si próprio como raiva, o idioma japonês tem muitas palavras para emo ções interpessoais como simpatia (Markus e Kitayama, 1991). Muitas pessoas bilíngües relatam que elas inclusive têm um sentido diferente de si mesmas (self), dependendo da língua que estão usando (Matsumoto, 1994). Podem até mesmo revelar diferentes perfis quando fazem o mesmo teste de personalidade nas duas línguas (Dinges e Hull, 1992). “Aprenda uma nova língua e ganhe uma nova alma”, diz um provérbio tcheco.
• Antes de continuar a ler, pegue um lápis ou uma caneta e desenhe a seguinte ideia: “A menina empurra o menino.” Depois, veja a anotação invertida na margem a segi'ir. •
Michael Ross, Elaine Xun e Anne Wilson (2002) demonstraram isso convidando estudantes chineses nativos e bilíngües da University of Waterloo para descreverem a si próprios em inglês ou em chinês. As autodescrições em inglês encaixavam-se em perfis tipicamente canadenses: em sua maioria, os estudantes expressaram ânimos e autoavaliações positivos. Quando responderam em chinês, as autodescrições foram tipicamente chinesas: relataram mais concordância com os valores chineses e apresentaram aproximadamente o mesmo número de autoavaliações e ânimos positivos e negativos. O uso de uma língua pareceu moldar a maneira como pensam sobre si mesmos. Uma alteração de personalidade semelhante ocorre quando as pessoas mudam entre os enquadramentos culturais associados ao inglês e ao espanhol. Os falantes de inglês obtêm escores mais elevados do que os de espanhol em medidas de extroversão, afabilidade e conscienciosidade. Mas será isso é um efeito da língua, como queriam saber Nairán RamírezEsparza e seus colegas (2006)? Para saber a resposta, eles reuniram amostras de americanos e mexicanos biculturais e bilíngües para que fizessem testes em cada idioma. Claramente, ao usar o inglês, eles expressaram a si mesmos como mais extrovertidos, afáveis e conscienciosos (e as diferenças não se deram pela maneira como os questionários foram traduzidos). Assim, nossas palavras podem não determinar o que pensamos, mas influenciam nosso pensamento (Hardin e Banaji, 1993; Õzgen, 2004). Usamos a linguagem para formar categorias. No Brasil, os isolados índios Pirahã têm palavras para os números 1 e 2, mas acima disso são apenas “muitos”. Assim, diante de sete castanhas enfileiradas, eles acham difí cil colocar a mesma quantidade em seu próprio agrupamento (Gordon, 2004). As palavras também influenciam como pensamos as cores. Quer sejamos do Novo México, de Nova Gales do Sul ou da Nova Guiné, vemos as cores da mesma maneira, mas usamos nossa língua nativa para classificar e lembrar das cores (Davidoff, 2004; Robertson et al., 2004, 2005). Se sua língua for o inglês, você pode ver três cores e chamar duas delas de “amarelo" e uma de “azul”. Mais tarde, provavelmente verá e se lembrará dos amarelos como mais semelhantes. Mas se você fosse um membro da tribo Berinmo, de Papua-Nova Guiné, que tem palavras para dois tons de amarelo, provavelmente se lembraria melhor das diferenças entre os dois amarelos.
• As diferenças percebidas entre as cidades também aum entam quando duas cidades estão em países diferentes e não no mesmo país (Burris e Branscombe, 2 0 0 5 ) . •
As distâncias percebidas aumentam quando atribuímos nomes diferentes para as cores. No espectro das cores, o azul se mistura com o verde - até traçarmos uma linha divisória entre as porções que chamamos de “azul” e de “verde”. Ainda que igualmente diferentes no espectro de cores (FIGURA 9 .1 0 ), dois “azuis” diferentes (ou dois “verdes”) que compartilham o mesmo nome são mais difíceis de distinguir do que dois itens com os nomes diferentes de “azul” e “verde” (Õzgen, 2004). Diante da influência sutil da linguagem sobre o pensamento, é melhor escolhermos nossas palavras com cuidado. Será que faz diferença se escrevo: “Uma criança aprende a língua quando ela interage com seus cuidadores”, ou “As crianças aprendem a língua quando elas interagem com seus cuidadores”? Muitos estudos descobriram que faz. Quando ouvimos o ele neutro (como em “o artista e seu trabalho”), a maioria de nós imagina alguém do sexo masculino (Henley, 1989, Ng, 1990). Se esse ele fosse de fato livre de gênero, não deveríamos achar curiosa uma frase como “o homem, como os demais mamíferos, amamenta os filhotes”.
Expandir a linguagem é expandir a habilidade de pensar. Como mostrado no Capítulo 5, o pensamento de crianças pequenas se desenvolve de mãos dadas com sua linguagem (Gopnik e Meltzoff, 1986). De fato, é muito difícil pensar ou conceitualizar certas ideias abstratas (compromisso, liberdade ou rimar) sem a linguagem! E o que é verdade para crianças em idade pré-escolar vale para todos: vale a pena ampliar o poder verbal. É por isso que os livros didáticos, inclusive este, introduzem palavras novas: para ensinar novas ideias e novas maneiras de pensar. E é por isso que o psicólogo Steven Pinker (2007) batizou seu livro sobre linguagem como The StuffofThought (Do que é feito o pensamento).
Um maior poder lingüístico ajuda a explicar o que o pesquisador Wallace Lambert, da McGill University (1992, Lambert et al., 1993) chama de vantagem bilíngüe. Crianças bilíngües, que aprendem a inibir uma língua enquanto usam outra, também têm maior facilidade para inibir a atenção para informações irrelevantes. Se solicitadas a dizer se uma frase ( “Por que o gato está latindo tão alto?") é gramaticalmente correta, têm maior facilidade para se concentrar apenas no aspecto gramatical (Bialystock, 2001; Carlson e Meltzoff, 2008). Lambert ajudou a conceber um programa canadense para imersão no idioma francês de crianças falantes de inglês. (De 1981 a 2001, o número de crianças canadenses não nascidas em Quebec que imergiram no francês subiu de 65.000 para 297.000 [Statistics Canada, 2007].) Na maior parte dos três primeiros anos na escola, as crianças falantes de inglês são ensinadas integralmente em francês, e a partir de então, gradualmente, passam para aulas predominantemente em inglês até o final do curso. Não é de surpreender que essas crianças obtenham uma fluência em francês sem igual a qualquer outro método de ensino de idiomas. Além disso, comparadas a crianças de capacidade equivalente em grupos de controle, elas chegam a esses resultados sem prejudicar a fluência em inglês, e com resultados crescentes de aptidão, criatividade e apreço pela cultura franco-canadense (Genesee e Gándara, 1999; Lazaruk, 2007).
• Muitos falantes nativos de inglês, incluindo a maioria dos norte-americanos, são monolíngues. A maioria da humanidade é bilíngüe, ou multilíngue. Será que o monolinguismo limita a habilidade das pessoas de compreender a maneira de pensar de outras culturas? «
Quer sejamos surdos ou ouvintes, façamos parte deuma minoria ou de uma maioria, é a linguagem que nos interliga. A linguagem também nos conecta ao passado e ao futuro. “Para destruir um povo, destrua sua língua”, observou o poeta Joy Harjo.
Pensamento em Imagens Quando está sozinho, você fala consigo mesmo? Será que "pensar” é simplesmente conversar consigo mesmo? Sem dúvida, as palavras transmitem ideias. Mas não há vezes em que as ideias precedem as palavras? Para usar água fria em seu banheiro, para que lado você abre a torneira? Para responder a essa pergunta você provavelmente não pensou em palavras mas com a memória não declarativa (procedural) - uma imagem mental de como você faz isso (veja o Capítulo 8). De fato, nós com frequência pensamos em imagens. Os artistas pensam em imagens. Assim também os compositores, poetas, matemáticos, atletas e cientistas. Albert Einstein relatou que obteve alguns de seus maiores insights por meio de imagens visuais que, posteriormente, converteu em palavras. O pianista Liu Chi Kung mostrou o valor do pensamento em imagens. Um ano depois de ficar em segundo lugar na competição Tchaikovsky de piano, em 1958, Liu foi preso durante a revolução cultural chinesa. Logo após sua liberta ção, após sete anos sem tocar piano, voltou a excursionar, e os críticos julgaram sua habilidade musical melhor do que nunca. Como ele continuou a se desenvolver sem prática? “Mas eu pratiquei”, disse Liu, “todos os dias. Eu ensaiei cada peça musical que já havia tocado, nota por nota, em minha mente” (Garfield, 1986). Para alguém que aprendeu uma habilidade, como dançar balé, por exemplo, até mesmo assistir à atividade ativará uma simulação interna do cérebro, como reportou uma equipe de pesquisadores britânicos após coletarem dados de ressonâncias magnéticas funcionais enquanto as pessoas assistiam vídeos (Calvo-Merino et al., 2004). O mesmo ocorre quando se imagina uma atividade. A FIGURA 9 .11 mostra a ressonância magnética funcional de alguém imaginando a experiência de sentir dor, ativando as redes neurais que ficam ativas em situações de dor real (Grèzes e Decety, 2001). Não é de se admirar, portanto, que a “prática mental se tornou uma parte padrão do treinamento” de atletas olímpicos (Suinn, 1997). Um experimento com a prática mental para os arremessos em lances livres no basquete foi realizado através do acompanhamento do time feminino da University of Tennessee ao longo de 35 jogos (Savoy e Beitel, 1996). Durante esse período, os arremessos livres melhoraram de aproximadamente 52% em jogos que se seguiram à prática física padrão para cerca de 65% após a prática mental. As jogadoras, repetidamente, imaginaram estar fazendo arremessos por falta em várias condições, inclusive sob ofensas verbais das oponentes. Em uma final dramática, a equipe do Tennessee venceu o campeonato nacional na prorrogação, graças, em parte, a seus arremessos por falta. O ensaio mental também pode ajudar a alcançar um objetivo acadêmico, como demonstraram Shelley Taylor e seus colegas da UCLA (1998) através de dois grupos de estudantes de introdução à psicologia que estavam a uma semana das provas. (Os resultados dos outros estudantes que não se envolveram em nenhum estímulo mental formaram o grupo de controle.) O primeiro grupo foi orientado a passar cinco minutos por dia se imaginando examinando a lista de resultados, vendo seus conceitos A, radiantes de alegria e cheios de orgulho. Repetir esse resultado simulado teve pouco efeito, acrescentando apenas 2 pontos às suas notas, em comparação com as notas dos estudantes não engajados na simulação mental. Os membros do outro grupo passaram cinco minutos de seus dias se visualizando estudando efetivamente - lendo os capítulos, revendo as anotações, eliminando as distrações, recusando convites para sair. Esse processo de simulação diário gerou resultados - esse segundo grupo começou a estudar mais cedo, passou mais tempo estudando e superou a média do grupo de controle por 8 pontos. Lembre-se: É melhor gastar seu tempo de devaneio planejando como chegar a algum lugar do que ficar fantasiando o destino imaginado. Os experimentos do pensamento sem a linguagem nos levam de volta a um princípio que vimos em capítulos anteriores: boa parte do nosso processamento das informações ocorre fora da consciência e além da linguagem. Dentro de nosso cérebro sempre ativo, muitos fluxos de atividade fluem paralelamente, funcionando de maneira automática, e são lembrados de maneira implícita, apenas ocasionalmente vindo à superfície na forma de palavras conscientes. O que dizer então sobre a relação entre o pensamento e a linguagem? Como vimos, a linguagem de fato influencia nosso pensamento. Mas se o pensamento não afeta a linguagem, as novas palavras jamais poderiam existir. E novas palavras e novas combinações com antigas palavras expressam novas ideias. O termo slam dunk ( “enterrada”) usado no basquete foi criado depois que o próprio ato ficou bastante comum. Então, digamos que o pensamento afeta nossa linguagem, que, por sua vez, afeta nosso pensamento. A pesquisa psicológica sobre o pensamento e a linguagem reflete as visões mistas de nossa espécie presentes em campos tais como a literatura e a religião. A mente humana é simultaneamente capaz de incríveis fracassos e de realizações intelectuais igualmente notáveis. Erros de julgamento são comuns e podem acarretar conseqüências desastrosas. Então fazemos bem em avaliar nossa capacidade de cometer erros. Todavia, nossa heurística eficiente muitas vezes nos atende bem. Além disso, nossa engenhosidade para a resolução de problemas e nossa incrível capacidade para a linguagem permitem que a humanidade tenha “faculdades quase infinitas”.
Pensamento e Linguagem dos Animais 11:0 que sabemos sobre o pensamento dos animais? Os outros animais compartilham a nossa capacidade para a linguagem? SE, NO NOSSO USO DA LINGUAGEM nós, humanos, somos “pouco menos do que Deus”, como dizem os salmos, em que lugar os animais se encaixam na ordem das coisas? Serão “pouco menos do que humanos”? Vejamos o que a pesquisa sobre o pensamento e a linguagem dos animais nos diz sobre isso.
0 que Pensam os Animais? Os animais são mais inteligentes do que em geral percebemos. Um babuíno reconhece a voz de todos os 80 membros de seu bando (Jolly, 2007). As ovelhas reconhecem e lembram faces individuais (Morell, 2008). Um sagui aprende e é capaz de imitar outros. Os grandes macacos e mesmo os de pequeno porte são capazes de form ar conceitos. Quando os macacos aprendem a classificar cães e gatos, determinados neurônios de seus lobos frontais são ativados diante de imagens felinas e outros diante de imagens caninas (Freedman et al., 2001). Mesmo os pombos - com simples cérebros de aves - podem classificar objetos (imagens de carros, gatos, cadeiras, flores). Diante de uma imagem de uma cadeira nunca vista antes, os pombos consistentemente bicam uma chave que representa a categoria “cadeiras” (Wasserman, 1995). Também não somos as únicas criaturas capazes de demonstrar insight, como demonstrou o psicólogo Wolfgang Kõhler (1925) em um experimento com Sultão, um chimpanzé. Kõhler pôs um pedaço de fruta e uma vara longa bem além do alcance e uma vara pequena dentro da jaula. Vendo a vara pequena, o chimpanzé a pegou e tentou alcançar a fruta com ela. Depois de várias tentativas frustradas, Sultan desistiu e parou como se examinasse a situação. Então, de repente, como se tivesse pensado “Ahá!”, ele deu um salto, pegou a vara curta novamente e a usou para puxar a vara longa, com a qual alcançou a fruta. Essa prova de cognição animal, segundo Kõhler, demonstra que há mais fatores envolvidos na aprendizagem do que o condicionamento. Além disso, os grandes macacos demonstram visão de futuro ao guardarem uma ferramenta que poderão usar para obter comida no dia seguinte (Mulcahy e Call, 2006). Os chimpanzés, como os humanos, são modelados por reforçamento quando resolvem problemas. Chimpanzés que vivem na floresta tornaram-se usuários naturais de ferramentas (Boesch-Achermann e Boesch, 1993). São capazes

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