Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
En sin o oa Ps ic ol og ia o r g a n i z a d o r e s Hebe Signorini Gonçalves Eduardo ponte Brandão Co le çã o En si no da Ps ic ol og ia Organização Hebe Signorini Gonçalves Eduardo Ponte Brandão 22 Edição 23 Reimpressão Rio de Janeiro 2009 E D I T O R A Apresentação 7 Pensando a Psicologia aplicada à Justiça 15 Esther Maria de Magalhães Âranles A ínterlocução com o Direito à luz das práticas psicológicas em Varas de Família 51 Eduardo Ponte Brandão O psicólogo e as práticas de adoção 99 Lidia Nafalia Dobriarukyj Weber O papel da perícia psicológica na execução penal 141 Saio de Carvalho A atuação dos psicólogos no sistema penal 157 Tania Kolker (Des)construindo a ‘menoridade’: uma análise crítica sobre o papel da Psicologia na produção da categoria “menor” 205 Érika Piedade da Silva Santos Em instituições para adolescentes em conflito com a lei, o que pode a nossa vã psicologia? 249 Marlene Guirado Violência contra a criança e o adolescente 277 Hebe Signorini Gonçalves Mulheres em situação de violência doméstica: limites e possibilidades de enfrentamento 309 Rosana Morgado Sobre os autores 340 Esse livro é resultado de vários desafios. O primeiro deles, sem dúvida central, consistiu em apre- sentar didaticam ente um ram o da psicologia que está em fran ca expansão e desenvolvimento: a Psicologiajurídica. Levando em conta os objetivos de um público.alvo formado basicamen te por estudantes e interessados erri conhecer esse domínio, propusem o-nos a com por um livro-texto que se mostrasse ca paz de apresentar a área, em toda sua amplitude. O livro que chega agora ao leitor foge portanto do formato clássico de uma coletânea, visto que a proposta didática exige mais que a apre sentação dos trabalhos de cada um dos autores; ela torna im perativa a necessidade de desenvolver uma linha de raciocínio capaz de apresentar a área aos interessados de modo esclarece dor, sem no entanto deixar de lado' os inúmeros problemas e dificuldades que coloca, seja do ponto de vista teórico seja no cam po de um a prática que já nasce intèrdisciplinar. Com efeito, a Psicologiajurídica surgiu de um cham a m ento ao ingresso do Psicólogo em áreas originariamente des tinadas às práticas jurídicas. Essa dem anda coloca exigências específicas, ditadas pelo Direito, mas é mister admidr que o ingresso da Psicologia no m undo jurídico precisa encontrar seu m otor próprio, já que sua impulsão advém de um compromis so com o sujeito que é, por excelência, de outra ordem. Não há conflitos insuperáveis aqui, mas há sem dúvida interseções de peso que merecem exame. A tarefa didática exige ainda que sejam abordados os muitos e diversos setores e questões de que trata o m undo J u rídico, mesmo porque essas especificidades constroem a demanda que o Direito remete à Psicologia. Parece haver um denom ina dor comum entre os vários setores aos quais a Psicologia se aplica, visão que o leitor certamente deverá com partilhar após a leitura dos diversos textos que compõem este livro. No en tanto, sobre esse denominador comum ressaltam questões par ticulares, afeitas a cada área aqui abordada. Dividimos então os capítulos de acordo com as práticas que envolvem as instituições jurídicas - Varas de Justiça, Con selhos Tutelares, prisões, abrigos, unidades de internação, en tre outras - nas quais os psicólogos são chamados a atuar. Tais práticas se inscrevem nas tutelas jurídicas sobre o adolescente no cometimento, do ato infracional, nas disputas judiciais entre famílias, nas adoções, na violência sexual, na violência contra a mulher, nas instituições de internamento e, por fim, nas pri sões. ' Cadá autor'foi solicitado á traçar lim panoram a históri co da área, a lançar luz sobre as diversas tendências, a apontar os pontos de interlocução entre Direito e Psicologia e, acima de tudo, a oferecer uina visão crítica capaz de problem atizar a atuação do psicólogo, discutindo as implicações de sua prática e as alternativas que se colocam ém termos técnicos, éticos e políticos. Eles enfrentaram, finalmente, o desafio de produzir um texto em que o didaüsmo não sacrifica o rigor crítico, ne cessário para retirar 0 leitor de qualquer pretensão de neutra lidade científica da Psicologia Jurídica. O êxito dessa empreitada é agora submetido ao crivo do leitor. É com o texto de Esther M aria de Magalhães Arantes que inauguramos essa discussão. Ela busca a resposta na inves tigação do objeto, dos. instrumentos e, sobretudo, dos desdo bramentos ético-políticos das ciências humanas e sociais e, mais especialmente, da Psicologia Jurídica. A partir da indagação de 8 Canguilhem acerca cia unidade da Psicologia, a autora traça um cam inho genealógico, debruçando-se sobre as perícias, os laudos, as questões da loucura e da sanidade, a criminalidade, as relações familiares, a cham ada justiça terapêutica e o difícil tem a da infanda e da adolescência. Ela dem onstra como esses percursos podem ser lidos como técnicas de subjetivação. Em outras palavras, Esther Arantes vem nos m ostrar o jogo estra tégico das instituições jurídicas, jogo que impõe sérios dilemas à prática do psicólogo. . Existe neutralidade nas práticas do psicólogo relaciona das às Varas de Família? Com essa indagação de fundo, Eduardo Ponte Brandão aponta inicialmente para a colonização recí proca entre as leis e as práticas de disciplina e normalização que teria havido no Brasil desde o Código Civil de 1916 até as legislações atuais que regulam as famílias. Corri objetivo de analisar essas complexas relações, o autor adota como eixo de investigação os critérios definidores da guarda e suas modali dades nos processos de separação e divórcio. Feito esse pano ram a, o autor põe em xeque a prática pericial relacionada aos litígios familiares. Os argumentos são suficientes para estimu lar o psicólogo a atuar de forma a não causar mais prejuízos do que os processos judiciais por si só já acarretam , devendo o profissional lançar m ão de importantes contribuições da psica nálise, da abordagem sistêmica e das práticas de mediação. Erika Piedade enfoca as diferenças valorativas entre os conceitos de "m enor” e de “criança” que foram forjadas ao longo de nossa história, sobretudo a partir de dispositivos ori entados para o controle das parcelas mais desfavorecidas da população. O hiato entre os bem-nascidos e os potencialmente perigosos para a sociedade é perpetuam ente estimulado desde o Brasil colonial até os últimos anos, apesar dos avanços teóri cos e sociais propostos pelo Estatuto da Criança e do Adoles cente. Investigar a complexa teia de determinações que assevera a desigualdade entre as infâncias no Brasil, e com isso proble- 9 m atizar o lugaV que o psicólogo ocupa frente às demandas so7 ciojurídicas, é a .tarefa a que a autora se'lança corajosamente. A contribuição de M arlene Guirado, psicanalista e ana lista institucional, vem m ostrar um a nova form a de pensar a -Psicologia-Jurídica-para-além -dos-cam pos-e-leituras-nas-quais- ela já firm ou sua produção. A autora questiona um 'saber pu ra m ente acadêm ico, restrito a formas protegidas de proceder, assim como um a concepção de sujeito apartada das trocas sociais. G uirado dem onstra que a Psicologia não só se transforma como ganha potcncia quando se dispõe a enfrentar os desafios do cam po, expor sua prática e enfrentar efetivamente os dilemas éticos dos sujeitos. A autora apresenta certos preceitos m etodo lógicos e se propõe a avaliar sua aplicabilidade em instituições destinadas a jovens em conflito com a lei e submetidos a medi das de privação de liberdade. No! difícil contexto da FEBEM de São Paulo, o Projeto Fique Vivo — por ela supervisionado- é alvo de um a análise fecuncla e original, que perm ite depreender que o exercício daPsicologia deve definir-se no cam po das ci ências hum anas, assessorar-se delas e buscar a conexão entre o sujeito e as relações sociais que o cercam e fundam. A violência contra a criança e o adolescente é discutida em capítulo de autoria de Hebe Signorini Gonçalves. Com base cm literatura nacional e internacional, a autora faz um apa nhado dos tipos de violência, dos sinais e indícios a serem ob servados e das conseqüências que o ato violento produz na criança ou no adolescente, assim como na dinâm ica familiar. Sobre esse panoram a, a autora faz um a análise crítica do cam po, avalia os alcances dos instrumentos legais e alerta para os limites da aplicação desses dados aos casos, levando em conta que eles tendem a ocultar certas singularidades do sujeito. Seus argum entos invocam os questionamentos mais recentes, sobre tudo aqueles derivados de pesquisas desenvolvidas no Brasil, e conclam am os profissionais a um a ação onde a ética de prote ção à criança leve em conta também as necessidades dos de 10 mais m embros da família, assim como o contexto social em que'se inserem. Rosana M orgado fala sobre a violência contra a mulher. A autora mostra que a larga incidência dessa forma de violên- -cia,_na_sociedade. contem porânea, contribui para sua naturali zação. A leitura crítica de Rosana alèHi7^:íõ ~ ^ tãn tõ ^p ara '“o~ fato de que certos modelos de análise do problema terminam acatando a naturalização da violência. Em contrapartida, ela busca tratar o gênero como construção social, e mostra como a partir daí a m ulher pode ser vista de modo muito mais com plexo que o estrito lugar de vítima que lhe é atribuído. Sem negar o lugar de vítima, e sem negar a dependência econômica tão comum nas ■ relações de. casal permeadas pela violência, a autora vem nos m ostrar que essas .concepções são insuficientes, quando não falaciosas, para dar conta de uma temática que implica o sujeito em dimensões mais profundas e complexas. Escapando do imediatismo que perm eia certos modelos sociais e jurídicos, a autora propõe um novo olhar sobre a mulher que sofre a violência, olhar que permite desvendar suas ambivalências e conflitos, emprestando nova dimensão às relações de casal. Dessa análise, a autora retira implicações importantes para as políticas públicas e as formas jurídicas que tratam das relações de gênero perm eadas pela violência. A quem; serve a adoção: aos pais ou à criança adotada? A resposta a essa questão é buscada na história do instituto da adoção, história, que antecede os modelos jurídicos tal como hoje os ^conhecemos. D a Antigüidade ao Brasil contem porâ neo, Lidia W eber indica que a Lei e as práticas sociais se inter penetram , e que nem sempre a proposta jurídica encontra eco; no tecido social. Essa análise histórica das formas de adoção é ricamente ilustrada pela mais extensa pesquisa já desenvolvida no Brasil sobre o tem a, cujos resultados permitem examinar não só as motivações para ' adotar como também os critérios das equipes encarregadas de avaliar - e avalizar — os propo- 11 nentes à adoção. A autora sustenta que, para efetivar a propos ta legal de privilegiar o interesse da criança, será necessário que o trabalho do psicólogo busque afastar-se de um modelo pericial, que visa apenas classificar e descobrir atributos desejá veis. em candidatos a pais adotivos, para levar também em conta o desejo, a motivação, o medo e a ansiedade, entre os candida tos, e privilegiar sua preparação para as funções de paternida de e os vínculos de filiação dos quais o instrumento jurídico é apenas um recurso. Para entender o fenômeno da criminalidade, é funda mental entender o papel da criminalização da pobreza, da demonização das drogas, da espetacularização da violência, da criação da figura do inimigo interno e da funcionalidade do fracasso da prisão, especialmente no contexto atual das socie dades neoliberais globalizadas. A expressão de Tania Kolker anuncia a complexidade do tema e a amplitude de sua análise. Ela no entanto não se restringe a essas determinações sociais; demonstra ao mesmo tempo como se consolidou a prática de individualizar as penas, o cálculo de reincidência no delito e, a mais grave herança positivista, a percepção m aniqueísta da delinqüência e do delinqüente. Como mostra a autora, essa história de exclusão está até hoje presente na cena prisional, a despeito de instrumentos de proteção internacional dos direitos humanos. Em sua análise, Kolker se vale de uma literatura ampla que contempla Foucault, Castel, Zafaroni, W acquant, assim como autores nacionais - Correa, Rauter, Batista - o que lhe permite olhar para nossas prisões e analisar critica- mente a função do psicólogo nesse espaço. Alinhado também à criminologia crítica, escola inspira da em Foucault, Saio de Carvalho enfoca a avaliação crimino- lógica que permeia, a Lei de Execução Penal (LEP). Num a exposição rigorosa que articula os aspectos jurídicos às práticas de poder, o autor opõe-se à perspectiva de colocar-na cena penal a personalidade do apenado, invocando para tanto as 12 garantias constitucionais. Seguindo esse raciocínio, Carvalho desvenda a prática autoritária presente no exame criminológi- co. Ele interroga a função dos técnicos do sistema penitenciá rio, entre os quais o psicólogo, para além da tarefa' de realizar avaliações e perícias criminológicas. Carvalho' faz assim algu mas indicações preciosas, mas que só serão possíveis de se rea lizarem mediante um a perspectiva dita “hum anista” . Hebe Signorini Gonçalves Eduardo Ponte Brandão 13 P e n sa n d o a fs ic o lo g ia ap licada à-JusIiça Esther Maria de Magalhães Arantes Talvez a crítica mais contundente dirigida à Psicologia tenha sido a formulada por G e o r g e s C a n g u i l h e m , em confe rência realizada no Collège Pkilosophique, em dezembro de 1956.' À pergunta inicial “O que é Psi- _ coloria?” segue-se “Q uem desig-° , . ^dorrâasjdé^ na os psicó logoscom o ínstru- mentos do mstrumentalismo? ,, . fttoritémporâricÒkv.S^ num a apreciação cntica tanto da fyyyamós^ enc^ _________ ? _ J _ _!_i-_! -Cl _ J J _ J . J ^ Psicologia como do próprio zer do psicólogo. Este buscaria,r O VI 1ÍT) ■' -/i“' r":'h WÍI i’nT'-i cia t saber i£io rflc Janeiro: Gra*n u m a . eíicacia discutível, a sua i -..í '^ 1 im portância de especialista. N o entanto, e aí está o que de fato deve nos preocupar na argum entação de Canguilhem, esta efi cácia, ainda que mal fundada, não é ilusória. Ao dizer da eficácia do psicólogo que ela é discutível, não se q u e rd ize r que ela é ilusória; quer-se simplesmente ob servar que esta eficácia está 'sem dúvida mal fundada, en quanto não se fizer prova de que ela é devida à aplicação de um a ciência, isto é, enquanto o estatuto da psicologia não estiver fixado de tal m aneira que se deve considerá-la 1 U m a tradução de Qu’est-ce que la psychologie?, de G eorges Canguilhem , foi publicada no Brasil com o título “O que é a psicologia?” . In Epistemologia, 2. R io de Janeiro: T em po Brasileiro, n. 3 0 /3 1 , jú l./d ez ., 1972. 15 BIBUOTECA UNIVERSITÁRIA j ! PROF ROGER PATT1 j como mais e melhor do que um empirismo composto, lite rariam ente codificado para fins de ensinamento. D e fato, de muitos trabalhos de psicologia, se tem a impressão de que misturam a um a filosofia sem rigor um a ética sem exi gência e uma medicina sem controle (Canguilhem, 1972: 104-105). ■ O objetivo de Canguilhem nesta conferência foi o de criticar o program a universitário de seu colega de Ecole Normal Supérieure, Daniel Lagache, que postulava a unificação dos dife rentes ramos da Psicologia, afirmando haver convergênciaen tre a Psicologia experimental, dita “naturalista” e a Psicologia clínica, dita “humanista” .2 A questão “Que é psicologia?”, pode-se'responder fazendo aparecer a unidade de seu domínio, apesar da multiplici dade dos projetos metodológicos. É a este tipo que perten ce a resposta brilhantemente dada pelo Professor Daniel Lagache, em 1947, a um a questão colocada, em 1936, por Edouard Claparède. A unidade da psicologia é aqui p ro curada na sua definição possível como teoria geral da con duta“ síntese da psicologia experim ental, da psicologia clínica, da psicanálise, da psicologia social e da etnologia. Observando bem, no entanto, se diz que talvez esta unida de se parece mais a um pacto de coexistência pacífica con cluído entre profissionais do que a um a essência lógica, obtida pela revelação de 'um a 'constância núm a variedade de casos (Canguilhem, 1972: 105-106). Continuando suas crídcas à Psicologia, Canguilhem, que aceitara ser o relator de Historie de la folie, tese de doutorado defendida por Michel Foucault em 196T, não poupou Lagache, mostrando que a pesquisa desenvolvida por Foucault fazia des moronar o grande projeto de unidade da Psicologia (Roudinesco, 2 VUnilê de la Psychologie, Aula Inaugural ministrada por D aniel Lagache na Sorbonne em 1947 e publicada pela PUF, Paris. 16 1994: 15-16). Apesar das críticas de Canguilhem e de outros àutóres, entre os quais Jacques Lacan, a proposta de Lagache teve am pla repercussão ria França do pós-guerra. Em dezembro de 1980, num a conferência intitulada Le ceroeau et la pensêe, Canguilhem voltou a criticar a. Psicologia, desta vez por reduzir o pensam ento ao funcionamento cere bral. Afirmando que a Filosofia nada tem a esperar dos servi ços da Psicologia, conclamou os filósofos das novas gerações a resistirem à “calamidade” psicológica. D iante de críticas tão duras, Roudinesco observou que, nesta conferência, Cangui lhem não havia se preocupado em distinguir as querelas e discor- dâncias internas à própria Psicologia, fazendo um a crítica em bloco a saberes muito diferenciados (Roudinesco, 1993). Como o próprio Canguilhem havia dito na conferência de 1956, não há unidade na Psicologia.3 U. Mesmo assim, e ainda se perguntando se não haveria-: um a certa obstinação por parte de Canguilhem em demolir os c: alicerces nos quais se fundam entam a Psicologia, Roudinesco-^ presta um a homenagem “a um dos maiores filósofos do nosso tem po”, reconhecendo a pertinência e a atualidade de suas crí ticas, principalmente porque, segundo a autora, um a a liança ' vitoriosa entre o organicismo biológico e genético, a ciência da m ente e a tecnologia estaria ganhando terreno, em tódos os campos do saber. (...) até o ponto de fazer emergir um a nova ilusão cientifi- cista segundo a qual a intervenção cada vez mais ativa da ciência no cérebro hum ano perm itirá conduzir o homem à im ortalidade, ou seja, à cura da condição hum ana (Roudinesco, 1993: 144). N ão advindo, desta forma, a cientificidade da Psicologia de sua m era rotulação como ciência, seja natural, social ou 3 M ais adequado seria falar de Psicologias? hum ana, ou ciência pura ou aplicada; nem de sua adjetivação como Psicologia Jurídica, Social ou Escolar; ou ainda de sua definição como estudo da alma, do psiquismo, da conduta ou da subjetividade; sequer do uso de medidas, restaria à Psicolo gia, em geral, e à Psicologia Juríd ica, çm _pafticular,-sèrem — pensadas apénas como técnicas ou ideologias? Em prefácio ao livro de, Lei Ia M aria T. de Brito, que versa sobre a atuação do psicólogo em Varas de Família, escre vera o que ainda considero central em se tratando de pensar a Psicologia Jurídica, e que aqui relembro em parte (Arantes, 1993). A indagação form ulada pela autora: “Varas de família: um a questão para psicólogos?”,, questão que deve ser entendi da tanto como lugar de prática, como prática a ser pensada, ponderei que se podia responder de diversos modos: sim, se considerarmos um m ercado de trabalho potencial ou em ex pansão para o qual existe, inclusive, justificativa legal; não, se a um Direito autoritário e burguês contrapomos um a Psicologia libertária, exterior ao próprio Direito; outra possibilidade é considerar a Psicologia como parte do problem a e, deste modo, redesenhar a questão. N a realidade, a pergunta form ulada por Brito, como no texto de Canguilhem , desdobra-se em várias outras, sendo que um prim eiro grupo diz respeito a um a problem atização que podem os cham ar de epistemológica: o que é a Psicologia apli cada à ju s d ç a ou Psicologia Jurídica, quais são os seus concei tos, em que se fundam enta sua pretensão de prádca científica? Em artigo dedicado a pensar as Ciências Sociais e a Psi cologia Socialj Thom as H erbert ;(1972) pondera que colocar a um a ciência as questões “quem és tu”?, “por que estás aqui?” e “quais suas intenções?” pode parecer im pertinência à qual ela tenderia a responder que “está aqui porque existe” e quan to às suas intenções “ela não as tem ” mas apenas “problem as a resolver”. No entanto, considera im portante a distinção feita 18 por Louis Althusser entre ciência desenvolvida e ciência em constituição. N a ciência desenvolvida o objeto e o método são homogêneos e se engendram reciprocamente, o que não acon tece com as ciências em desenvolvimento, como a Psicologia. -Uma-coisa-é-a-tr-a-nsformaçâ© -pr-odutor-a-do-obj eto-cientifico, outra, a reprodução metódica deste objeto, que só pode acon tecer, rigorosamente falando, se uma. transformação produtora deste objeto já foi realizada. Quanto, à função dos instrumen tos, ela não é a mesma em cada um destes tempos da ciência. Exemplificando esta diferença, lembra-nos H erbert a transfor m ação que a balança sofreu após o advento da Física moderna. Fora de seu papel técnico-comercial, ela servia para inter rogar toda a superfície do real empírico', pesava-se o san gue, a urina, a lã, o a r atmosférico etc... e os resultados forneciam a “realização do real” sob diversas formas bio lógicas, metereológicas etc... Esta vagabundagem do instrumento foi detida pelo m o m ento galileano, que lhe designou, no interior da ciência nascente, um a função nova, definida pela teoria científica mesma. ' , Isto nos designa o duplo desprezo que não deve ser come tido: declarar científico todo uso dos instrumentos, esque cer o papel dos instrumentos na prática científica (Herbert, 1972: 31). Postas estas colocações iniciais, resta dizer que este é um prim eiro conjunto de questões e que se apresenta como perti nente apenas a partir da reivindicação de cientificidade da Psi cologia, e à qual Canguilhem e H erbert, nos textos acima mencionados, se.dedicam. Na realidade; mais do que copiar o modelo de cientificidade da Física, da Química ou da Biologia, espera-se que as Ciências Hum anas desenvolvam algum tipo de rigor próprio, adequado ao seu campo de investigação. U m segundo conjunto diz respeito a uma Arqueologia e a um a Genealogia dos saberes sobre o homem, seguindo as indicações de Michel Foucault. Isto porque, mesmo do ponto 19 de vista de um a certa leitura epistemológicaj no caso aqui as de Canguilhem e Thom as Herbert, não se trata de negar à Psicologia, Jurídica ou não, um a existência de fato c um a qual quer eficácia. Trata-se, então, de. saber como e porque este campo se constituiu, quais os seus procedimentos e de que natureza é a sua eficácia. Não devemos nos esquecer que as análises Genealógicas perm itiram a Foucault identificar as p rá ticas jurídicas, ou judiciárias/com o das mais importantes na emergência das formas modernas de subjetividade, e que a partir do século XIX, mais do que punir, buscar-se-á a reforma psi cológica e a correção moral dos indivíduos (Foucault,1979). Este segundo conjunto de questões diz respeito, então, a tudo aquilo que faz com que a Psicologia Jurídica exista como prá tica em um a sociedade como a nossa, independentem ente de seu estatuto epistemológico. Corno nos ensinou Roberto M a chado, as análises arqueológicas e genealógicas não se norteiam pelos mesmos princípios que a história epistemológica (M acha do, 1982). - No cáso específico da atuação dos psicólogos em Varas de Família, de acordo com a pesquisa de Brito já m encionada, e para continuar utilizando o mesmo fio condutor, constatou- se o predomínio das atividades de perícia nos casos de separa ções litigiosas, onde havia disputa .pela .guarda dos filhos. Sabemos que a perícia tem sido um dos procedimentos mais utilizados na área jurídica, tendo por objetivo fornecer subsídios para a tomada de uma decisão, dentro do que impõe a'lei. Em.algumas áreas da justiça a perícia pode ser solicitada para averiguação de periculosidade, das condições de discerni mento ou sanida.de mental das partes em litígio ou em julgamento. Em bora não possamos rigorosamente dizer de que se trata quando nos referimos, como psicólogos, a categorias como estas, pelo rrienos do ponto de vista de uma. ideologia jurídica, algo da ordem do objeto está apontado. No caso de Varas de Família, não se trata, pelo menos em princípio, de examinar 20 alguma periculosidadc, alguma ausência ou prejuízo da capa cidade cie discernimento ou sanidade mental. Como pano de fundo temos o casal em dissolução e em disputa pela guarda dos filhos, cada um instruído no processo por seus respectivos advogados. Sabemos que muitas das alegações para a guarda dos filhos tem sido imputações de infidelidade, desvios de con duta, uso dc drogas, doenças ou mesmo a de possuir o outro cônjuge m enor renda, trabalhar fora de casa ou não trabalhar, ou ainda possuir m enor escolaridade. É sobre tais alegações, motivo da disputa, que trabalha« rá o juiz, formulando quesitos a serem investigados pelo perito, que de certa forma comprovará ou não as alegações, formu lando um a verdade sobre os sujeitos. Com o resultado da perícia um a das partes tenderá a ser apontada como aquela que reúne as melhores condições para-^ a guarda dos filhos, já que tanto o pedido do juiz como a lógi- ca do processo se dirige e mesmo impõe esta direção. Enganamo- nos todos ao acreditar que a verdade vem à luz e que se faz . justiça nesse processo. O resultado parece ser, inevitavelmente, a fabricação dc um dos cônjuges como não-idôneo, moralmente condenável ou, pelo menos, temporariamente menos habilitado. - N ão se trata, evidentemente, de lançar aqui um a dúvida ' generalizada sobre os diversos tipos de perícia e seus usos pe la ' Justiça; tam bém não se trata de negar o sofrimento ou levantar suspeitas sobre a sinceridade com que os genitores formulam suas queixas, embora, aqui e aü, os advogados orientem a dire ção e a formulação das alegações, conhecedores que são dos juizes e das regras, e em bora, vez ou outra, as partes estejam igualmente preocupadas com os filhos e o patrimônio. Podemos não saber como resolver problem as tão difícil como este,4 podemos mesmo admitir que em certos casos e em 4 “C om o os pais se colocam frente aos filhos? e C om o os filhos de colocam ccrtas circunstâncias um dos progenitores encontra-se em me lhores condições para o exercício responsável da guarda dos filhos, mas que não se reduza um a questão tão delicada como esta aos seus m eros aspectos gerenciais. Pelo menos, não em nom e das crianças.5 ~ : ' ~ Seria sábio, neste m om ento, dar mais ouvidos ao filósofo, que ao adm inistrador: "O nde, querem chegar os psicólogos, fazendo o que fazem?” (Cangúilhem, 1972: 122). A prática dos laudos, pareceres e relatórios técnicos Constata-se, no exercício profissional dos psicólogos no âm bito judiciário, a predom inância das atividades de confec ções cle laudos, pareceres e relatórios, no pressuposto de que cabe à Psicologia, neste contexto, um a atividade predom inan tem ente avaliativa e de subsídio aos magistrados. Este pi'essuposto, em bora defendido em textos clássicos de Psicologia (Jacó-Vilela, 2000) e 1'egulamentado pela legisla ção brasileira, tem causado mal-estar entre a nova geração de psicólogos, que preferiria ter de si um a imagem menos com prom etida com a m anutenção da ordem social vigente, consi derada injusta e excludente. Este mal-estar tem sido crescente, possibilitado, dentre outras razões, pelo advento1 de um a litera tura crítica, dem onstrando que a questão da interseção da Psi frente aos pais?” é a questão m ais difícil e central, segundo Pierre Legendre (1992), que todos os sistemas institucionais do planeta devem resolver histó rica, política e juridicam ente, pois é ai que o princípio da vida está ancora do. O u seja: com o ordenar o poder genealógico? Q u a l a relação entre o D ireito e a vida? 5 A C onvenção internacional dos D ireitos da Criança, dc 1989, dispõe sobre o direito da criança ser educada por pai e mãe. A este respeito ver: Brito, 1999. 22 cologia com o Direito não diz respeito apenas ao bo.m ou mau uso da técnica, à habilidade ou não do perito. (...) deve-se reconhecer que o psicólogo contem porâneo é, n a m aioria das vezes, um prático profissional cuja “ciên- ------- ;------- eia—é-totalm ente-inspirada nas “leis” da adaptação a um meio sociotécnico - e não a um meio natural - o que con fere sempre a estas operações de "m edida” um a significa ção de apreciação e um alcance de perícia. (Canguilhem, 1972: 121) ■ P ara Canguilhem , ao buscar objetividade, a Psicologia transformou-se em instrumentalista, esquecendo-se de se situar em relação às circunstâncias nas quais se constituiu. Em bora esta observação de Canguilhem se refira apenas à Psicologia, ela pode ser estendida a outras áreas. Ao discor rer sobre a m odernidade, José Américo Pessanha afirma ser um a de suas características a opção por um certo tipo de ra zão, ou conhecim ento científico, de natureza operante ou ins trum ental, capaz de dom inar e modificar o meio físico. Menos mal, talvez, se este tipo de racionalidade tivesse se limitado apenas a certos usos e a certos propósitos, e não tivesse a pre tensão de se constituir como único m odo legítimo e verdadeiro de leitura do m undo. (...) quando o Ocidente, através de Descartes e de Bacon, fez a escolha po r um a form a de cientificidade e deixou de lado tudo que fosse dotado de alguma ambivalência, dei xou de lado tam bém as cham adas idéias obscuras. Com isso tam bém deixou de lado tudo o que na condição h u m ana é ligada ao corpo, ao tempo, à história e à concretude (Pessanha, 1993: 26). ■ ‘ N ão se tra ta de negar validade ao modelo das Ciências da N atureza ou à M atem ática, mas apenas de reconhecer que as Ciências H um anas e Sociais não podem se reduzir ao dis curso coagente da razão abstrata, pretendendo a produção de verdades a-históricas e universais. O fechamento da razão a 23 dem aos vários setores da vida pessoal e social, levando Gastei a fazer à Psiquiatria pergunta similar à feita por Canguilhem à . Psicologia: “Sem dúvida nâo é possível estabelecer limite para essé progresso. M as seria o mínimo ousar perguntar ‘quem te fez re i? a quem te faz sujeito-submisso” (Gastei, 1978: 20). Assim como para o louco ie para o prisioneiro, será ne cessário encontrar uma nova forma de adm inistrar os conflitos familiares e tám bém um a nova form a de assistência. No Anti go Regime, em troca de seu grande poder, o chefe de família devia zelar para que nenhum de seus membros perturbasse a ordem pública. Este mecanismo de controle se tornará insufici ente e inadequado em função do aum ento crescente do núm e ro de pessoas “desgarradas”ou que “escapavam” ao controle das famílias como os pobres, os vagabundos, os viciosos e a infancia abandonada, levando os novos filantropos a um a crí tica feroz do arbítrio familiar e dos procedimentos da antiga caridade. Estes filantropos lutavam por um a nova racionalidade na assistência e principalmente para que a ajuda dada à famí lia favorecesse sua prom oção e não sua dependência. Neste contexto, multiplicaram-se as leis sobre o abandono, maus tra tos, trabalho e mortalidade infantil, surgindo novos profissio nais dedicadas ao campo social: os chamados “técnicos” ou “trabalhadores sociais”. A partir;de então, para com preender mos o que Jacques Donzelot cham a de “complexo tutelar”, torna-se necessário entender as formas de agenciamento entre as suas principais instâncias: o judiciário, o psiquiátrico e o educacional (Don2elot, 1980). Mas todas estas práticas riao incidem, como nos ensina M ichel Foucault, sobre universal como “doente m ental”, “de linqüente”, “carente” que lhes seriam exteriores, senão que esses “universais” ou “essências”, são iaquilo mesmo que se produz vida social, ao postular as degenerescências como desvios em relação ao tipo normal da humanidade, transmitidos por hereditariedade. 26 nestas práticas. Recusar estas categorias como sendo “natureza hum ana” significa, ao mesmo tempo, reconhecer, nas práticas sociais concretas, a formação de um campo de experiência onde processos de subjetivação/objetivação têm lugar. Significa tam bém reconhecer o papel que trabalhadores sociais, técnicos e peritos desempenham neste campo de poder-saber. Dos conflitos e do Até aqui a discussão serviu apenas para estabelecer que as questões de definição, de sentido e de eficácia de um a ciên cia não são questões menores, como também não dizem res peito apenas à Psicologia. No entanto, mencionamos também um certo mal-estar entre os psicólogos brasileiros, insatisfeitos com certas demandas e constrangimentos a que, muitas vezes, são submetidos. Neste sentido, o campo denominado de Psico- logia Jurídica é particularmente tenso e contraditório. Deveria fazer parte do ensino levar os alunos, a compreen derem a qualidáde do poder que a ‘especialização5 lhes confere: encerrar no inferno da Febem um jovem, negar um a adoção ou facilitar a guarda de crianças, afastar filhos de pais, lançar um a criança na carreira, sem esperança, das classes especiais, contribuir para a morte civil da crian ça ou jovem contraventor (Leser de Mello, 1999: 149). Recentemente no Brasil, na transição da ditadura mili tar para o regime democrático, grupos organizados da socieda de, descontentes com situações como as descritas acima, se organizaram para introduzir na Constituição de 1988 disposi tivos que assegurassem o respeito aos direitos humanos e de cidadania dos grupos que tradicionalmente se encontravam sob tutela, como as crianças e os loucos, por exemplo (Arantes e M otta, 1990). Em que pesem modificações pontuais aqui e ali, ou mesmo experiências mais ousadas em alguns estados ou um modelo pretensam ente único e absoluto não traz, como conseqüência , o e n riq u ec im en to do pen sam en to m as o irracionalismo e a intolerância à diferença. Nas palavras dc Pessanha (1993: 31): Trata-se é de negar a matematização daquilo que ríao é matematizável, de negar a desumanização daquilo que precisa se manter humanizado, negar a extração da di mensão temporal daquilo que só pode ser compreendido temporalmente. Tra.ta-se, portanto, de preservar a tempo ralidade do tempo, a humanidade do homem, a concretude do concreto. Como se vê, não é apenas da Psicologia que se trata, mas dc um a problem ática que envolve as chamadas Ciências Hum anas e Sociais. R obert Castcl, ao analisar a questão m o derna da loucura, m ostra que o sucesso da M edicina M ental na França se deu por prover um novo tipo de gestão técnica dos antagonismos sociais, podendo a Psiquiatria, neste sentido, ser considerada um a Ciência Política, porque respondeu a um problem a de governo. Ao fazê-lo, no entanto, reduziu a loucu ra às condições de sua administração. E portanto essa constituição de um administrável (poderí amos dizer com mais ousadia de um ‘administrativável’) que se trata de revelar: administrar a loucura no sentido de reduzir ativamente toda a sua realidade às condições de sua gestão em um quadro técnico (Castel, 1978: 19). No Antigo Regime, a responsabilidade pela internação dos indivíduos considerados insanos era com partilhada pelo poder judiciário e executivo. As portas da Revolução Francesa, qualificado o poder real como arbitrário e abolidas as lettres de cachet; ou ordenações do rei, como justificar o grande nú mero de pessoas seqüestradas que, apesar de tudo, não se que ria libertar? E ra im portante para a nova ordem solucionar este impasse, já que não se podia ignorar o ordenam ento jurídico que disciplinava a m ed idade privaçãp_dc_ liberdade. -Ao-p os tu-- 24 larem a minoridade do louco e o seu isolamento corno m edida terapêutica necessária ao con trole de sua pcriculosidade, os alienistas ofereceram um a jus tificativa médica à sua repres são. M as não eram os loucos os únicos que colocavam pro blemas de governo, após a abo lição das lettres de cachety um a ve2 que estas serviam tarito para sancionar as condutas considera das imorais como as consideradas perigosas. No entanto, antes de se colocar como fator indispensável ao funcionamento do aparelho judiciário e de estender-se em direção a outros gru pos, a Medicina necessitou primeiro legitimar-se como um poder face à Justiça. Em relação ao prisioneiro, por exemplo, a atu ação m édica se dará inicialmente visando à execução da pena, e só mais tarde se dedicará à avaliação da responsabilidade do criminoso (Castel, 1978: 38). Neste momento posterior, ao desfazer-se a rígida sepa ração entre o normal e o patológico sobre a qual repousavam as in ternações dos alienados, desfazim ento in iciado pelas teorizações dè Esquirol sobre as m onom anias6 e as de M orei sobre as degenerescências,7 as atividades de perícia se esten- A Lettue-de-Cachet “não era uma lei ou um de creto, mas uma ordem do rei que concernia a uma pessoa, individualmente, obrigaudo-a a fa zer alguma coisa. Podia-se até mesmo obrigar alguém a sc casar peia leltre-de-cacheí. Na maioria das vezes, porém, cia era um instrumento de pu nição. Podia-se exilar alguém pela lellre-de-cachet, privá-lo de alguma função, prendê-lo etc. Ela cra um dos grandes instrumentos dc poder da mo narquia absoluta” francesa (Foucault, 1979: 76). Por outro lado, ainda segundo Fouçault, as Uures- de-cachet eram solicitações diversas dos próprios súditos: maridos ultrajados, pais de família des contentes com o comportamento de um de seus membros, seja por vadiagem, bebedeira, prosti-' ü D e acordo com a m áxim a dos primeiros alienistas de que “não existe lou cura sem delírio” , surge a dificuldade de se caracterizar a alienação m ental, para efeitos de dcsresponsabílização jurídica,, nos casos em que nao se ob servam a presença de delírios nos indivíduos que com eteram crim c ou infra ção penal. Em contraposição às m anias, Esquirol postulou ás m onom anias, ou loucura sem delírio, am pliando a noção de alienação m ental. A m ono m ania é com o um delírio parcial, que não subverte inteiram ente a faculda de da razão o.u do entendim ento (Ver Gastei, 1978:_164^165).._____________ - 7 Com M orei am pliam -se as possibilidades de intervenção da m edicina na 25 municípios, a promessa de um a vida melhor para todos ainda não se concretizou. Continua a prática de atribuir a determi nados grupos, particularmente os jovens pobres das periferias urbanas, características negativas como perigoso, marginal, infrator, deficiente, preguiçoso, como se tais atributos constituís sem a sua própria natureza. A Reforma Psiquiátrica, por outro lado, embora avance, se vê, às voltas com a difícil questão da inclusão social dos ex-pacientes, álém de divergências internas ao próprio movimento. Como profissionais que atuam no campo social, os psi cólogos têm sido chamados, cada vez mais, a refletirem sobre o papel estratégico que desem penham nestes processos de objetivação/subjetivação, a próblematizarem as demandas que lhes são feitas e a colocarem em análise a sua condição de especialista. Do tratamento que é pena . Estudando as; internações psiquiátricas de crianças e ado lescentes do sexo masculino, realizadas atrayés de M andado Judicial, no período 1994-1997 e comparando-as com os de mais pacientes do mesmo sexo, encaminhados por familiares oü pélòpróprio serviço de saúde, Ana L. S. Bentes constatou estarem aquelas internações em crescimento, passando de 7% em 1994 para 33% em 1997 na unidade hospitalar na qual trabalha, no Rio de Janeiro. Um a vez verificado que os diag nósticos das crianças e adolescentes internados por M andado Judicial não correspondiam aos critérios psiquiátricos adotados pela unidade, pergunta porque, mesmo após a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Movimento Nacio nal da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica, conti nuam acontecendo as internações compulsórias de crianças e adolescentes? 28 Algumas das características destas internações tem sido: 1) a compulsoriedade;' não se podendo recusar a internação sob pena de desacato à autoridade; 2) o predomínio dc qua dros não psicóticos; 3) a estipulação de prazos para a internação, a despeito do que pensa a equipe médica que recebeu a crian ça ou o adolescente; 4) a caracterização do tratam ento como pena, no caso de adolescentes em conflito com a lei; 5) as cri anças e adolescentes apresentando-se fortemente medicados com psicofármacos, no ato da internação; .6) presença de escolta durante o período da internação; 7) tempo médio- de internação superior aos dos demais internos admitidos por outros procedi mentos; 8) desconhecimento, pela equipe técnica, dos proces sos judiciais referentes aos adolescentes em conflito com a lei. Dadas estas especificidades, o adolescente internado por esta via judicial tende a não ser considerado paciente “legíti m o” pela equipe médica, pois esta não pode opinar sobre a indicação de internação nem sobre a alta, sentindo-se acuada entre o Código de Ética M édica e o Penal. Estabelece-se então um a distinção entre “nossos” adolescentes (da equipe) e adoles centes do “ju iz” , sendo estes considerados desobedientes, sem limites e agressivos. Além do mais, éxiste o medo de que as crianças e adolescentes do “ju iz” possam trazer “riscos” para as outras. A alternativa de separar essas duas clientelas em pátios ou alas distintas do hospital equivaleria a instituir, na prática, um a espécie dc manicômio judiciário para crianças e adoles centes. Procedendo a um detalhamento maior da clientela, Bentes constatou que do total de crianças e adolescentes encam inha dos jud ic ia lm en te , 60% não foram diagnosticados com o “psicóticos”; 42, 9% dos que receberam diagnóstico de “dis túrbios do com portam ento” eram adolescentes em conflito com a lei, encam inhados por juizes da Com arca da Capital; e que a m aior média de tempo de internação (55, 6 dias) foi em decor rência dc encam inham entos feitos por juizes do interior do Estado. O utros diagnósticos neste grupo foram dependência de drogas, epilepsia, distúrbios de emoções na infancia e ado lescência, transtorno da personalidade.- D a entrevista realizada por Bentes com um dos juizes, — onde-buscou-esolareeim entossobre-osencam inham entos-judi--------- ciais, destaco alguns trechos, indicativos do conflito aqui anali- . , sado: As M edidas Socioeducativas são impositivas não só para o . menino com o tam bém p ara o local cm que ele vai cumpri- la. (...) Esta é um a questão essencial (..,) se a M edida médica for um a Pena, que nós chamamos de M edida Socioeduca- tiva, ela se torna imposiriva para todo mundo: para o Juiz, para a família, para o M inistério Público, para a Defesa, ' p a ra o médico, para o próprio garoto, para a equipe técni ca do Hospital, enfim ... A gente sabe, por exemplo, que p a ra tra ta r de drogas a OM S, o C onselho '(...) dizem que tem de ter a adesão voluntária da parte, mas no caso de adolescente em conflito, com a Lei, é um a M edida, é contra a vontade de todo , m undo, contra esta- P o rta ria ," contra a Convenção, contra a recomendação, contra a fa mília, contra o técnico. A medida não é, vamos dizer as sim, um a coisa voltada para 'a Proteção; é um a Pena (Bentes, 1999: 1 2 8 -1 3 8 ). Não se trata aqui apenas de conflito entre Judiciário e M edicina mas tam bém de interpretações conflitantes da pró pria legislação, um a vez que outros operadores do Direito, como veremos mais adiante, não concordam em considerar o trata m ento como pena; nem creio estariam dispostos a ignorar re comendações da O M S, ou considerar que no Brasil a idade da responsabilidade penal foi reduzida para 12 anos a partir da vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente, como no exemplo abaixo. D e qualquer modo, se estas interpretações puderam ser apresentadas à pesquisadora é porque represen tam um a das correntes de pensam ento existentes no m undo jurídico. 30 De 1990 para cá, a imputabilidade está em 12 anos. Quando as pessoas dizem assim: - “Eu sou a favor de reduzir (a imputabilidade) para 16 anos” - na verdade, não estão reduzindo e sim aum entando de. 12 para 16 (Bentes, 1999: 136-137). Assim como encontramos interpretação de que a im pu tabilidade está em 12 anos, encontramos também aqueles que consideram que a “medida socioeducativa” é apenas um eufe mismo para “pena” e a “m edida de internação” um eufemis-' mo p a ra “prisão” , sendo a diferença entre o adulto e o adolescente apenas-o local onde cum prirá a “pena”: prisão de “m aior” para adultos e prisão de “m enor” para adolescentes. Com o agravante que, muitas vezes, a “medida sócio-educativa” aplicada ao adolescente é um a “pena” maior do que a que receberia se fosse adulto. Devemos nos lembrar que esta foi um a das críticas mais contundentes feitas ao Código de M eno res: a de que infligia à criança e ao adolescente “carente”, pela imposição de sua internação, em instituição total, um a “pena” de privação de liberdade freqüentem ente maior do que rece beria um adulto que cometesse um crime. Contradição do Direito, portanto, e ao que parece, insiste em se perpetuar. Acredito que alguns destes conflitos e divergências pode riam ser resolvidos, ou pelo menos minimizados, caso fosse dada m aior atenção à política de atendimento. Freqüentemente o executivo municipal e o estadual são objetos de críticas por não assegurarem condições para o : cumprimento de direitos constitucionais básicos. Muitas vezes, feito um diagnóstico ou detectado um problema, não há como dar encaminhamento ao caso. Alguns juizes reclamam que enviam os adolescentes para a internação apenas por falta de alternativas para a exe cução das medidas sócio-educativas. Esta insuficiências das políticas tem sido um dos motivos para constantes desentendi mentos entre escolas, serviços de saúde, famílias, Conselhos Tutelares e Justiça da Infância e Juventude. Detectado que a 31 criança encón tra-se fora da escola, por exemplo, o C T a enca m inha a uma das escolas da região què, muitas vezes, alega não poder receber a criança por falta de vaga, o mesmo po dendo acontecer com o sistema de saúde ou com os abrigos. Mas nem sempre os conflitos se devem à precariedadedas condições do atendimento. A escola pode não querer m a tricular a criança, não por falta áe vaga, mas porque ela é vista como “da rua”, “infratora” ou :‘deficiente”, fugindo do padrão de normalidade desejado. Neste caso, a escola alega que não é sua função óu que não tem os meios para lidar com aquela criança. Ou seja, não crê que o “problema’5 da criança pode ou deve ser enfrentado pedagogicamente, preferindo encaminhá- la ao juiz, ao Conselho Tutelar ou ao sistema de saúde, resul tando muitas vezes no que M aria Aparecida Affonso Moysés chamou de “medicalização da aprendizagem”, ao estudar cri anças que só não aprendiam na escola. (Moysés, 2001) Configura-se assim, no campo social, um a situação mui tas. vezes complexa e confusa, onde pobreza, abandono e vio lência’ se misturam à ausência ou precariedade dás políticas públicas, às desconfianças, medos, omissões e acusações m útu as. Não é, certamente, o melhor dos mundos. Da justiça que é terapêutica Segundo estatísticas oficiais, o número de atos infracionais praticados por adolescentes.no Rio de Janeiro cresceu de 2.675 em 1991 para 6.0Ò4 em 1998. Grande parte desses adolescen tes foram acusados de infrações análogas aos crimes previstos na Lei de Entorpecentes (6.368//76): de 204 infrações em 1991 . para 3.211 em 1998 (Arantes, 2000). Os adolescentes apreendidos pela polícia e levados à presença do Juiz da Infância e Juventude têm recebido m edi das judiciais, de natureza socioeducativa, consideradas severas: 32 no a n o de 1999, do total dc 11.256 adolescentes que cum pri ram medidas no D epartam ento de Açõés Socioeducativas da Secretaria de Estado e Justiça do Rio de Janeiro (DEGASE), ■ 40, 6% eram internações provisórias; 26, 07% medidas de semi- liberdade; 14, 8% internáções com sentença judicial e 9, 71% liberdade assistida, totalizando 91, 18% dos casos — o que sig nifica que menos dc 10% receberam medidas mais brandas, tam bém previstas na Legislação e consideradas mais adequa das ao adolescente, como a medida1: de prestação dc serviço à comunidade, por exemplo. Além do DEGASE, muitos adoles centes cum prem medidas em Programas oferecidos pela pró pria Justiça da Infância e Juventude. Em bora o Rio dc Janeiro respondesse por 12, 98% do total de adolescentes privados de liberdade cm todo o país em 30 /06 /1997 , vindo logo abaixo de São Paulo com 44, 87%£* respondia, no ehtanto, pelo m aior percentual de adolescentes internados por infrações relacionadas à Lei de Entorpecentes:- 42, 07% (Volpi, 1998: 68-83). Para termos um a idéia do que* estes núm eros significam, o Relatório do Juiz de M enores Saul de Gusm ão, de 1941, m ostra um crescimento de 127 atos infracionais em 1924 para 248 em 1941 no Rio de Janeiro'/ sendo que nenhum a criança ou adolescente foi acusado dc envolvimento com drogas. As infrações apontadas são delitos de sangue, de furto, roubo e sexuais (Cruz Neto et al., 2001: 58). No livro Delinqüência juvenil na Guanabara são apresentadas estatísticas do Juizado de M enores/R J do período 1960 a 1971 (Cavalieri et al., 1973). Nestes registros, verifica-se o início das apreensões por drogas, em bora os números sejam de m agnitu de múito. inferior aos atuais: 14 em 1960, do total de 666 atos infracionais e 192 em 1971, do total de 1.253 atos infracionais. Esclarece o Juiz de M enores Alyrio Cavallieri, em seu livro Direito do M enor, que estes núm eros se referem ao uso e não à venda de drogas, pois, em suas palavras “raram ente o m enor 33 é tra f ic a n te ” (C ava llie ri, 1976: 137). N este p e río d o a té o an o d e 1995, os m a io re s p e rc e n tu a is de a to s in frac io n a is são re la ti vos ao p a tr im ô n io : 2 .0 1 6 casos em 2 .624 no a n o de 1991, sen d o d ro g as a p e n a s 2 0 4 deste total. _______ Esta_situação_diferenciada-para-o-Rio-de Janeiro-foi-ob— jeto de estudos e de intensos, debates realizados nas universida des, n a C om issão de D ireitos H um anos da A ssem bléia Legislativa e no Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente, ocasiões em que se indagavam sobre os motivos que estariam propiciando esta situação: M udou a realidade e aum entou a criminalidade ou a m u dança é apenas o resultado de um a filosofia mais repressora e policialesca? O u seria fruto de aum ento de operosidade da Justiça, do M inistério Público e da Polícia? (Relatório: s/d). M uitos destes adolescentes, quando apreendidos pela prim eira vez, dem onstram esperança de que a passagem pelo sistema socioeducativo possa ajudá-los, constituindo-se em opor tunidade pa ra o reingresso na escola e preparo para o trabalho - esperança que acaba quase sempre em frustração, tomando- se por base o percentual significativo de reincidências. M uitas vezes sem possibilidade de voltar para casa ou para a comuni dade de origem, após a apreensão, evadido ou expulso da esco la, sem trabalho e sem perspectivas de um fúturo melhor, este adolescente peram bula peias ruas, furtando para viver ou per m anecendo com a venda da droga, até ser novamente apreen dido ou m orto em algum cgnfronto com a polícia ou grupo rival. São estes jovens as maiores vítimas da cham ada violência urbana. , Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE/2000, relativa aos anos de 1992 e 1999, observa-se, a partir dos anos 80, o peso crescente das causas externas sobre a estrutura da m ortalidade p o r idade, afetando principalmente os adolescen tes e jovens brasileiros do sexo masculino na faixa etária entre 15 c 19 anos. Estes índices chegam a quase 70% em muitos dos Estados brasileiros. • Em vários fóruns de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, onde estas questões são debatidas, pergunta- -gp-ppln. “acerto” e pela “justiça” destas apreensões e encami- nhamentos. Questiona-se se não estaria havendo rigor excessivo ná aplicação das medidas socioeducativas e a própria adequa ção do rótulo de traficante dado a alguns destes adolescentes, que m uitas vezes vendem pequenas quantidades de drogas apenas para sustentar seu próprio consumo ou como forma de subsistência. Questiona-se tam bém a adesão do Brasil a um política antidrogas norte-am ericana, favorável à chamada “to lerância zero”, e o papel que os .psicólogos são chamados a exercerem nesta nova m odalidade de “pena-tratam ento”, pro cedimento polêmico denominado Justiça Terapêutica e impor tado das Dmg Courts dos Estados Unidos da Amcrica.’1 O próprio Conselho Federal de Psicologia tem se manifestado neste sen tido, conclam ando os psicólogos a discutirem melhor o assun to, preocupados em que não exerçam atividades que contrariem o Código de Ética dos Psicólogos. Em artigo dedicado a pensar a Justiça Terapêutica, D am iana de Oliveira faz importantes considerações a respeito do papel que o psicólogo é cham ado a desempenhar nesta m o dalidade de Justiça, a partir de um dos programas existentes para adolescentes no Rio de Janeiro (Oliveira, s/d). Como foi dito, a J T se baseia no modelo norte-americano dos Tribunais para D ependentes Químicos (Cortes de Drogas), e oferece ao adolescente que for apreendido portando drogas para uso pes soal, depois de avaliado e considerado elegível, a opção de tra tam ento, ao invés de receber um a M edida Socioeducativa e / ou M edida Protetiva prevista no Estatuto da Criança e do Ado- B Para um a apresentação favorável à Justiça Terapêutica, ver: Fernandes, s/d . lescentc. A inclusão neste Program a deve ser voluntária e im plica, dentre outras coisas, o adolescente concordar em ser sub metido a testagem de urina periódicas e aleatórias, um a vez que o Program a prega abstinência total de drogas ilícitas e de bebidas- alcoólicas. Oliveira aponta aí um primeiro conjunto de dificuldades para o psicólogo:a de concordar com o c a rá te r compulsório do tratam ento e com a testagem de urina, além de que "usar ou não drogas” passa a ser o centro do acompa nhamento psicológico, podendo o adolescente receber sanções por descumprir. as regras do Programa. Este tipo de questão leva freqüentemente os psicólogos a terem dilemas éticos e a se perguntarem “Quem são os clientes da Psicologia?” e “Quais são os limites da atuação do psicólogo?”. Falando a futuros juizes e defensores em “A Psicanálise c a determinação dos fatos nos processos jurídicos”, Freud aponta um a diferença fundam ental entre' o paciente da Psicanálise e a pessoa acusada pela Justiça: esta, no caso do cometimento de um delito, tem a intenção de ocultar o segredo da Justiça; já o neurótico não conhece o segredo; que está oculto para ele mesmo. No caso do neurótico, ele ajuda a com bater a sua pró pria resistência, porque espera curar-se com o tratam ento en quanto que o réu não tem porque cooperar com a justiça revelando o seu, delito; se o fizer, estará.trabalhando contra ele mesmo. Além do mais, para os procedimentos da Justiça, basta que os seus operadores obtenham uma convicção objetiva dos fatos, independentemente do que pensa o acusado; o mesmo não se dá com o tratamento psicanalítico, onde o paciente tam bém necessita adquirir esta mesma convicção. Lembra-os, fi nalmente, da existência de normas que impedem que o réu se submeta a intervenções psicológicas sem ter sido alertado de que poderá denunciar-se através desta intervenção. Além, destas, outras perguntas têm sido feitas em rela ção aos Programas da J T para adolescentes, entre as quais: uma vez que os tratamentos médico e psicológico já são previs 36 •V:. :vT tos no Estatuto da Criança e do Adolescente como M edidas Protetivas, p o rq u ê 'à existência da Justiça Terapêutica no âm bito da Justiça da Infância e Juventude? No caso de um adoles cente que nunca praticou qualquer outro ato infradonal a não ser o usó eventual de drogas, por quanto tempo será m antido em tratam ento? E o critério “tolerância;zero” condição de alta m édica ou psicológica? Neste caso, a Justiça Terapêudca teria como um de seus pressupostos a “criminalização” do atendi mento médico e psicológico? (Batista, mimeo, s/d) D entre os pontos polêmicos de um dos Programas exis tentes9 destaco os artigos 6 e 7, que trazem dificuldades especí ficas para a atuação do psicólogo, como, por exemplo, o aumento na freqüência de sessões de tratam ento individual ou familiar c as entrevistas compulsórias, definidas como medidas punitivas por ter o adolescente descumprido alguma regra do Programa. Artigo 6o - Dos participantes do Program a, exige-se: I - Não usar ou possuir drogas ilícitas e bebidas alcoólicas e, se for exigido pela unidade de tratam ento conveniada, não fu m ar tabaco nas sessões ou conforme a orientação desta uni dade. II — C om parecer a todas as sessões dc tratam ento determ inadas III - Ser pontual. IV ,- ' .N ão fazer ameaças aos participantes, à equipe do program a ou da unidade de tratam ento, bem como não comportar-se de modo violento. V - Vestir-se apropriadam ente para as sessões dc tratam ento e audiências no Juizado. VI — C ooperar com a. realização dos testes de drogas. ® Pela O rdem de Serviço N° 0 2 /0 1 , datada de 27 de junho de 2001, foi criado o Programa Especial para Usuários de Drogas (P R O U D ), no âm bito de com petcncia da 2 a VIJ, Com arca da C apital/R J, de acordo com as nor mas gerais previstas no Provim ento N° 2 0 /2 0 0 1 , da Corregedoria-G eral de Justiça. 37 VII — C ooperar p ára a obtenção de informações necessárias à ava liação inicial e seqüencial de seu caso. V III — Os pais ou responsáveis deverão com parecer às audiências no Juizado e às sessões de tratam ento recomendadas. IX - C om parecer e dem onstrar desempenho satisfatório na esco la, estágios profissionalizantes e laborativos. ' X - Agir de acordo com as normas específicas da unidade de tratam ento p a ra a qual foi feito o encam inham ento” . Artigo 7° — As sanções previstas para a falha injustificada no cum prim ento das normas ;do Program a são as seguin tes: I - . A dvertência verbal. II — R etirada de privilégios (válida para os casos de algum ado lescente que esteja, por exemplo, em program a de recebi m ento de cesta básica, lazer, etc.) III - A um ento na freqüência de sessões de tratam ento individual ou familiar. IV — Regressão na fase de tratam ento e conseqüente m aior tempo de perm anência no Programa. V — : C om parecim ento a palestras e. sessões educativas sobre uso indevido de drogas ou outros temas considerados úteis pela equipe de acom panham ento. VI — M aior freqüência na realização de testes de drogas. V II — Internação tem porária. V III - Entrevistas compulsórias com 'médicos, psicólogos ou inte grantes de grupos de auto-ajuda. IX — Restrições às atividades de íazer,’inclusive nos finais de se m ana. ’ X — Prestação de serviços na comunidade ou na sua própria casa, de acordo com o entendim ento do Juiz. X I — Limitação de horário de saída cia residência. X II — Exclusão do Program a e re to m ad ad o processo inicial. D iante de tais regras podemos nos perguntar o que fez o adolescente pa ra m erecer tam anha penalidade? E esta um a resposta adequada à experimentação do adolescente? Por que o envolvimento com drogas está se tornando, atualmente, o 38 responsável por grande parte do contingente dos hospitais psi quiátricos, manicômios judiciários, internatos^e prisões? Nao se tra ta aqui de negar o sofrimento de pessoas e de famílias destruídas pela dependência química -e pelo uso abusivo de drogas. No entanto, trata-se de perguntar, como faz Luiz Eduar do Soares: Por.que circunscrever o uso,de drogas ao campo da ilegalidade? Baseado em quais critérios certas drogas são con sideradas lícitas e outras ilícitas? Por que difundir a idéia de que ingerir substâncias psicoativas significa consumí-las em excesso? (Soares, 1993). Perguntado se achava possível ou mesmo desejável a existência de um a .-cultura sem limites e repressões, Foucault respondeu que o im portante não era a existência de restrições e sim a possibilidade oferecida, às pessoas a quem afeta, de modificá-las (Foucault, 2000b: 26). A juiza M aria Lúcia K aram , contrária aos procedimen tos da Justiça Terapêutica, advoga a s.ua inconstitucionalidade. D ada a im portância da argum entação para o tema tratado, perm ita o leitor um a longa citação. Em bora reconhecendo a ausência de culpabilidade e, as sim, a inexistência de crime nas condutas daqueles que sc revelam inimputáveis, o ordenam ento jurídico-penal b ra sileiro, paradoxalm ente, insiste em alcançá-los, ao impor, como conseqüência da realização da conduta penalmente ilícita, as cham adas medidas de segurança, com base em - um a alegada “periculosidade” atribuída a seus inculpáveis autores. Aqui, indevidamente, se abre: o espaço para manifestação da aliança entre o direito penal e a psiquiatria, responsável ' ■ por trágicas páginas da história do sistema penal.(...) N a realidade, as medidas de segurança para inimputáveis, consistindo, como prevêem as mencionadas regras dos ar tigos 96 a 99 do Código Penal e do artigo 29 da Lei 6.368/ 76, na sujeição obrigatória e por tempo indeterminado a tratam ento médico (ambulatorial oú mediante internação), não passam de formas mal disfarçadas de pena, sua in 39 compatibilidade com a Constituição Federal, por manifes ta vulncraçâo do princípio da culpabilidade é,. conseqüen tem ente, por manifesta vulneração da p ró p ria norm a constitucional, que aponta a dignidade da pessoa hum ana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, decerto, havendode ser afirmada. Mas, este inconstitucional tratam ento obrigatório já vem sendo aplicado até mesmò para aqueles que têm íntegra sua capacidade psíquica, nas tentativas,' diretam ente veicu ladas pelos Estados Unidos da América,- de transportar, para o Brasil, as chamadas drug court, que, aqui, se preten de sejam adotadas, com a tradução literal de “ tribunais de drogas” , ou sob a denominação de “justiça terapêutica” , esta última explicitando a retom ada daquela' nefasta alian ça entre o direito penal e a psiquiatria. (...) Assim, estende-sc o tratam ento médico a imputáveis, o que já contraria as próprias leis penais ordinárias vigentes. As sim, amplia-se o alcance do sistema penal, com a imposi ção de verdadeiras penas, negociadas ao preço da quebra de diversas garantias do réu, derivadas da cláusula funda mental do devido processo legal, constitucionalmente con sagrado. (...) Esta importação das drug court chega, ainda, ao âmbito dos juizados da infancia e juventude. Ali também, pretende-se violar a liberdade individual, a intimidade e a vida privada de adolescentes, através da imposição de um tratam ento médico obrigatório, sem que sequer seja externado trans torno mental que, teoricamente, o pudesse aconselhar. (...). (Karam, 2002: 210-224). Não foram por outros motivos que o Grupo de T raba lho “Justiça Terapêutica”, coordenado pelo Conselho Regio nal de Psicologia 03 e que contou com a participação de representantes de diversos outros CRPs, recomendou um a dis- • cussão nacional sobre o problema das drogas. Em bora a ju s ti- ça Terapêutica não aconteça em todo o país, diversos outros . serviços, mesmo sem utilizar esta. denominação, estão operan- 40 do sob a m esm a lógica, o q u e ju s tifica a discussão n ac io n a l, seg u n d o o R e la tó rio -d es te G T. A JT faz parte de um a política nacional de com bate às drogas, adotada pela SENAD - Secretaria Nacional Anti- drogas, cm parceria com a Em baixada Am ericana, país que exporta este modelo. A SENAD, ao mesmo tempo que apó ia iniciàtivas de redução de danos (ao p rem ia r a REDUC), incentiva iniciativas do .tipo daJT (Relatório, CRP: s/d). O G T in d ica u m a p o sição “ c o n trá r ia ao m o d e lo d a J T e a in se rção d o psicólogo b asead o nos seguintes e lem en tos in ic i ais” , e n tre os quais: a q u e b ra do sigilo profissional, j á q u e deve o psicó logo p ro d u z ir p ro v a q u e d ep õ e c o n tra o p ró p r io su jeito ; q u e b ra dos d ireitos in d iv idua is m ín im os, p osto q u e o su je ito q u e o p ta p e la J T tem de a b r ir m ã o do d ire ito dè defesa , te n d o de se con fessar cu lp ad o , m esm o q u e u su ário even tual; p o r e n te n d e r q u e h á u m a d ife ren ça e n tre u su ário ev en tu a l e d e p e n d e n te e p o r re a f irm a r o c a r á te r v o lu n tá rio do t r a ta m e n to , co n d ição fu n d a m e n ta l p a ra sua eficácia; ta m b é m p o r e n te n d e r, co m o j á foi d ito , ser necessá ria u m a am p la discussão sobre a q u es tão das d rogas n o Brasil. Em 2002, pelas Portarias 336 e 189 do M inistério da Saúde, foram criados, dentro dos parâm etros da Reform a Psi quiátrica, os Centros de Atenção Psicossocial para atendim en to de crianças e adolescentes (CAPSi) e para portadores de transtornos em decorrência do uso e dependência de substân cias psicoativas (CAPSad), trazendo esperança de que novas modalidades de assistência em saúde mental possam ter lugar. Criticando a prática dos psicólogos Segundo Michel Foucault, em Vigiar e punir, conhecemos já todos os inconvenientes e perigos que a prisão oferece e tam- 41 bém a sua inutilidade em relação a um a suposta regeneração dos prisioneiros, e, no entanto, as nossas sociedades não que rem dela ab rir m ão. Sabemos também, pelo menos enquanto a prisão não se propunha a regenerar ou tratar, que a prisão nào-deveria-sérnadaalém -do^que"a'sim ples'privação_deiiber- dade, m as não é o que acontece. É a este excesso, ao que ex cede a pena, que Foucault cham ou o penitenciário. O aparelho penitenciário, local de cumprim ento da pena, é também lugar de um a “curiosa substituição”: (...) das mãos da justiça ele recebe um condenado; mas aquilo sobre que ele deve ser aplicado, não é a infração, é claro, nem mesmo exatam ente o infrator, mas um objeto um pouco diferente e definido por variáveis que pelo m e nos no início não foram ■ levadas em conta na sentença, pois só eram pertinentes ’para um a tecnologia corretiva. Esse outro personagem que o aparelho penitenciário colo- « ca no lugar do infrator condenado, é o delinqüente. O delinqüente se distingue do infrator pelo fato de não ser tanto seu ato quanto sua vida o que mais o caracteriza (...) O castigo legal se refere a um ato; a técnica punitiva a um a vida (..,) Por trás do.infrator a quem o inquérito dos fatos pode atribuir a responsabilidade de um delito, reve la-se o caráter delinqüente cuja lenta formação transparece na investigação biográfica: A introdução do “biográfico” é im portante na história da penàlidade (Foucault, 1977.: 223- 224). A partir de sua atuação como psicólogo no sistema só- cio-educativo do R io de Janeiro , Adilson Dias Bastos dedicou- se a pensar como se dá a construção deste “biográfico” na prática técnica dos psicólogos. N a reconstrução da história de vida dos sentenciados, incluindo adolescentes, este biográfico visa mos trar como o indivíduo “já se parecia com seu delito antes mes m o de o ter praticado”: o pai é ausente... diz que a mãe morreu no p a r to ... estudou apenas até a 2a série... acha que como está nesta vida não tem mais je ito ... foi expulso da escola.'., pouco sociável... disperso... im pacien te... baixo grau de tolerância à frustração... vive nas ruas e diz que é mendigo... diz que nas ceu para ser ladrão... disse que conhece mais gente que está presa do que gente em liberdade...'tem um irmão- mais velho que-j á-foi-preso. ..-(Bastos,_20.02115-119).______ _______ ____ Segundo Bastos, esta produção técnica, que além de ser um discurso de “verdade” e um discurso que no limite “faz v iver e deixa m orrer”, é tam bém ,um discurso que “faz rir” . Exemplificando, cita laudos periciais colhidos por Isabelle N o gueira nos arquivos do M anicôm io Judiciário Heitor Carrilho, situado no município do Rio de Janeiro. Nogueira se dedicou a pesquisar os laudos de pessoas que haviam sido apreendidas por motivos banais como brigas, xingameritos, vadiagem, pe quenos furtos e desacato a autoridade (Nogueira, 2002). Veja mos um pequeno trecho, de um dos exemplos, do ano de 1924. É elle portador de estygmas phisicos de degeneração bem pronunciados (...) Nem mesmo lhe faltam as tatuagens, estygma physico adquirido .que, com freqüência aparecem nos degenerados e nos delinqüentes. Vê-se, assim, no seu . ante-braço direito, um pássaro com um a carta no bico; um vaso de planta e o nom e de Idalina; no braço direito várias estrellas, um com eta e algumas lettras; no braço es querdo as iniciais AP; no peito, iniciais, um pássaro e a expressão ‘Amo-te1 (Bastos, 2002: 120; Nogueira, 2002: 99). D entre os discursos que “faz chorar” destaco o de um grupo de médicos, membros da Escola Nina Rodrigues, estu dado por M arisa Corrêa. Este grupo foi importante na consti tuição da M edicina Legal no Brasil, sendo um dos mais atuantes Leonídio Ribeiro, fundador do Instituto de Idendficação do Rio de Janeiro e ganhador do Prêmio Lombroso de 1933. É dele a citação abaixo: N a criança de um ano é, às vezes, possível já reconhecer o futuro criminoso. É na prim eira infanda, ou na puberda de, que se revelam as prim eiras tendências para as atitudes 43an ti-sociais, que se concretizam e agravam progressivamente, sob a influência geral do ambiente. Existem, na criança, os chamados ‘sinais de alarm e’ de tais predisposições e ten dências ao crim e, sinais que podem ser .de na tu reza morfológica, funcional ou psíquica. Especialmente sobre estes últimos é que devem estar vigilantes todas as mães, sabiclo que as crianças perversas, rebeldes, violentas, im pulsivas, indiferentes e desatentas são principalmente as que precisam recebcr cuidados especiais para não se. tornarem , afinal, elementos perigosos para a sociedade (Corrêa, 1982: 60-61). Em pesquisa sobre juventude e drogas, Vera M alaguti Batista estudou a evolução, do problem a no Rio de Janeiro, no período 1968-1988, a 'partir de processos encontrados no ar quivo do então Juizado de Menores (Batista, 1998). Além de análise quantitativa, Batista analisou os conteúdos dos laudos e pareceres das equipes técnicas formadas por assistentes sociais, psiquiatras e médicos das Delegacias de Menores, da FUNABEM e do Juizado de Menores, encontrados nos processos. Pela análise de Batista é flagrante a construção de este reótipos, a partir de olhares cientificistas e preconceituosos, erigidos na virada do século XIX, e que ainda persistem na prática de muitas equipes técnicas: o preconceito em relação às favelas e bairros pobres (“o .local onde reside propicia seu en volvimento com pessoas perniciosas à sua formação”); a atitu de suspeita (“estava desempregado, perambulando em estado de vadiagem pela Zona Sul quando sua residência se encontra va na Zona Nòrte”); a criminalização do uso de drogas (“foi detido cheirando benzina”); a desqualificação familiar (“proce de de família desagregada”); serviços que não são considerados trabalho (“está trabalhando em biscates, pois diz não ter paci ência para aturar patrão; não está estudando nem trabalhan do”); a hereditariedade (“o pai já fez tratamento nervoso”); os distúrbios de conduta (“autuado por práticas anti-sociais”). T al caracterização leva sempre às.mesmas recomendações: resso- cializar, reeducar,’recuperar, tratar, profissionalizar, rem eten do as faltas e as dificuldades dos adolescentes a eles mesmos ou às suas famílias. No entanto, conclui Batista, mais do que “doen ça m ental”, os processos revelam histórias de miséria c exclu são social. . ;;r Aline Pereira Diniz, estudando uma amostra de 46 pa receres psicológicos, no período de 1995 a. 1998, encontrados nos processos de adolescentes evadidos do sistema socioeducadvo do Rio de Janeiro enquanto cum priam M edida Socioeducati- va de Internação, e com M andato de Busca e Apreensão, cons tatou que a grande m aioria pertencia ao sexo masculino, com idades entre 15 e 17 anos e poucos anos de escolaridade. Em sua m aioria estes adolescentes foram acusados dc infrações análogas aos crimes contra o patrimônio e análogas à Lei de Entorpecentes. Dentre os motivos alegados pelos adolescentes para as fugas, destaco a existência, na mesma unidade dc aten dimento, de adolescentes pertencentes a grupos ou facções ri vais: “fugiu por lá ter encontrado o gerente da boca, que disse que ele deveria pegar a carga”; “porque lá encontrou m em bros do comando rival, que estão em guerra, então teve que fugir de novo” . Outros motivos foram ameaças de estupro, por sofrer agressões, por ter a roupa furtada; por medo de ser pu nido ou encaminhado à Delegacia de Polícia por ter sido pego fumando m aconha (Diniz, 2001: 50). Diniz identifica dois “tipos” de adolescentes, a partir dos pareceres psicológicos: aquele que foi “levado” ao ato infracional pelas circunstâncias ou pelas amizades e aquele que teria o “perfil” de infrator, facilitado pela ausência paterna, desestru- turação familiar e por determinados traços ou caracterísdcas de personalidade como agressividade, impulsividade, malícia, dificuldades em lidar com limites, sentimentos de inferioridade etc. Com o conclusão dos pareceres, a adequação à rotina ins titucional e a participação nas atividades propostas aparecem 45 quase sempre como critério de que o adolescente está recupe rado ou ressocializado. Para concluir, gostaria de dizer que um fator comum que une os estudos acima é a busca de alternativas para a atu- açâo_profissional3_na-esperança~de-quc-a-Psieoiogia-possa-ser— exercida de um a outra forma, além de trazer à luz o enorme sofrimento causado pelo encarceram ento de adolescentes. ^ Retom em os então, de um Outro modo, a pergunta “Que é a Psicologia?”, possibilitada aqui pelas lembranças de Bastos (2002): : : í N um a de suas belíssimas aülas ele se dirigiu a alguns alu nos do curso de psicologia e perguntou: O que vem a ser a psicologia?” “P ara que ela serve?” Ante a nossa con fusão, perplexidade e dem ora, Cláudio U lpiano nos disse: D epende das forças que se apoderam 'dela!; Coloquem- ■ suas forças em batalha para produzirem um a psicologia afirm ativa.” 10 Referências bibliográficas i Arantes, E. M . M. (1993) Prefácio. In Brito, L .M .T . Se-pa-ran-do: um estudo sobre a atuação do psicólogo nas Varas de, Família. Rio de Janeiro: R elum e D u m ará/U E R J. ______________ (3 995) “R ostos de crianças no Brasil” . In Pilotti, F. c Rizzini, I. A arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à irt/ancia no Brasil. R io de Janeiro: Editora Universitária Santa Ursula, Am ais Livraria e Editora e Instituto ínteram ericano dei N ino. 10 N ota de esclarecim ento feita por Bastos (2002: 58): “Cláudio U lpiano, filósofo, ex-professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da U niversidade Federal F lum inense (UFF), já falecido. Responsável por introduzir nestes estabelecim entos o pensam ento de D eleuze, Bergson, Guattari, N ietzsche etc., através de suas aulas e gvupos de estudo que, inclusive, atraiam pessoas de fora do m undo acadêm ico.” 46 ______________ (2000) "Entre o educativo e o carcerário: análise do sistema socioeducativo do R io de Janeiro” . In Cadernos PRODEM AN de Pesquisa nü 1. R io de Janeiro; UERJ, Arantes, E. M . M . e M otta, M . E. S. (1990) A criança e seus direitos: Estatuto da Criança e do Adolescente e Código de Menores em-debale. R io de Janeiro: PU C - R io e FU N A B E M . Batista, V . M . (1998) Dißceis ganhos fáceis; drogas (juventude pobre itõ Riõ~ãijãnêifõ~~ R io de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia: Freitas Bastos. Batista, V. M . (s/d ) O tribunal de drogas t o tigre'.de papel. M im eo. Bastos, A. D . (2002) D e infrator a delinqüente: o biográfico em ação. Niterói: D issertação de M estrado, D epartam ento de Psicologia, Universidade Federal Flum inense. Bentcs, A. L. S. (1999) Tudo como dantes no Quartel d’Âbranles: estudo das internações psiquiátricas de crianças e adolescentes através de encaminhamento judicial. R io de Janeiro: D issertação de M estrado, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação O swaldo Cruz, M inistério da Saúde. Brito, L. M . T . (org.) (1993) Psicologia e instituições de direilo: a prática em questão. R io dc Janeiro: C om unicartc M arketing .Cultural e Social,. C onselho R egional de Psicologia. . ______________ ( 1999) Ser educado por pai e mãe: utopia ou direilo de filhos de pais separados. R io de Janeiro: T ese de Doutorado, Departam ento de Psicologia, P U C -R io . Brito, L .M .T . (org.) (2000) Temas de Psicologia Jurídica. R io dejaneiro: Relum e D um ará. ______________ (2001) “Psicologia Jurídica..D esafios do cotidiano”.. In Anais, das Taças transdisciplinares. Experimentando, a fronteira entre a Psicologia e outras práticas teóricas. R io d ejaneiro: UER J/D E PE X T /N A PE . C anguilhem , G. (1973) “O que é a psicologia?” . In Episíemologia, 2. R io de Janeiro; T em po Brasileiro 3 0 /3 1 , jul.-dez.,
Compartilhar