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Pró-reitoria de EaD e CCDD 1 Sociologia Organizacional Aula 5 Prof. Luciano Stodulny Pró-reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa Inicial O trabalho para Marx é uma atividade exclusivamente humana, pois leva em consideração a consciência na atividade realizada. Vamos compreender como Marx responde à questão: os animais trabalham? Contextualizando Marx é um dos autores existentes mais polêmicos e controversos, sua grande contribuição consiste em analisar a sociedade, utilizando como pano de fundo a organização em torno do trabalho. Tema 1: A Contribuição de Karl Marx Marx é considerado um grande nome para a sociologia, filosofia e economia política. Os seus estudos são fundamentais para a compreensão de vários campos do conhecimento. Para a economia, os seus textos têm importância reconhecida e se fazem presentes mesmo que seus estudos de análise sobre o capitalismo possam ser julgados ultrapassados. A explicação continua nos estudos sobre o capitalismo, as visões das transformações humanas e das diversas atividades, como as comerciais que se mantêm atuais, mesmo decorrido muito tempo após a análise de Marx. Dentre os principais tópicos dos seus estudos, podemos destacar as classes sociais, o relacionamento entre economia e Estado e os princípios que formam a base de um sistema político e econômico. Pró-reitoria de EaD e CCDD 3 As ideias de Marx ainda servem para explicar inúmeros conflitos de ordem social, econômica e política que afligem o mundo atual. Essas ideias foram imprescindíveis no que diz respeito às teorias da produção capitalista, assim como da alienação social e da exploração proletária. MARX, K.; ENGELS, F. O manifesto comunista e cartas filosóficas. São Paulo: Centauro, 2009. Uma das principais obras de Marx, O manifesto comunista e cartas filosóficas, completa 150 anos, mas está mais atual do que nunca. O texto escrito por dois jovens, Marx com então 29 anos e Engels com 28 anos, para uma organização clandestina e minúscula chamada Liga dos Comunistas, tem um tom provocativo e traz frases incendiárias e desafiadoras, sendo um dos mais belos textos escritos por Marx. O autor nos permite compreender que os fatos humanos e as instituições sociais não são produzidos de forma livre e espontânea, mas frutos de um processo, desenvolvidos não pelo entendimento humano, mas sim pelas relações estabelecidas com o meio. Marx nos leva a compreender que os fatos humanos mais ordinários e primários são as lutas dos homens com a natureza pela busca da sobrevivência e as relações estabelecidas pelos estes são as de trabalho, dando origem dessa Pró-reitoria de EaD e CCDD 4 forma às instituições, como a família, a partir das divisões do trabalho, levando em conta o gênero sexual, o pastoreio, a agricultura e o comércio. O autor nos leva a compreender a partir das relações sociais que as primeiras instituições são de ordem econômica, logo o grupo se esforça para mantê-las, criando ideias, sentimentos, símbolos e valores, além das instituições para conservar e sustentar, seja pela força, seja pela lei, as relações sociais, as ideias, os valores e os símbolos produzidos. Assim, Marx permite uma articulação entre o conhecimento necessário e as instituições criadas pela sociedade, tais como a política, a economia e as outras desenvolvidas por elas. Graças a Marx, podemos compreender que as mudanças históricas não são resultado de transformações súbitas e espetaculares de alguns indivíduos ou mesmo de grupos, elas têm como referência as transformações lentas da própria história e como pano de fundo a economia, a política, os meios de produção e as relações de trabalho. Assim, a materialidade da vida histórica comanda as esferas da vida social, em um processo histórico que abrange todas as dimensões humanas. Marx traz como grande contribuição a sociologia e a interpretação dos fenômenos decorrentes de nossa vida em sociedade, permitindo a compreensão das leis de fato, sem que seja necessária a apropriação de metodologias pertencentes às outras ciências para a compreensão da sociedade e o entendimento da sua dinâmica própria. Marx permite compreendermos que os fatos humanos são históricos e determinados por estes, longe de impedir que sejam conhecidos, garantem a interpretação racional deles e o conhecimento das suas leis. Pró-reitoria de EaD e CCDD 5 Com essas contribuições, identificamos maneiras diferentes de pensar a estrutura social, podendo demonstrar que os fenômenos sociais são dotados de sentidos humanos e significação própria, tendo sua construção histórica e diferenciada, possuindo leis próprias e sendo assim tratadas de forma científica. Marx compartilha com os seus contemporâneos a ideia de que a vida é uma luta constante, em que o homem deve arrancar da sua natureza tudo o que for necessário à sua existência, acrescentando que esse último impulso é realizado por meio do seu trabalho, encarado como um sistema técnico e modelo organizacional, ultrapassando assim a vida puramente natural. Assim, os homens conseguem ultrapassar a sua condição de origem, respeitando os limites impostos pelos estados das forças produtivas, com ressalto do nível de recursos naturais e das técnicas utilizadas para a divisão social do trabalho. Marx nos faz refletir sobre o desenvolvimento progressivo da sociedade a partir da dinâmica adotada pelas forças produtivas, em que a divisão estrutural do trabalho permite a compreensão da sociedade dividida em classes e as mudanças em torno dos modos de produção ao longo da história, passando por um processo de transformação, sendo patriarcal, feudal e capitalista. Dessa forma, Marx nos leva a compreender que as formas de produção não desaparecem em nossa sociedade antes de serem desenvolvidas em toda a sua potencialidade, substituindo assim as características adotadas pela chamada agora de velha sociedade. Tema 2: O Conceito de Trabalho A palavra trabalho adquiriu ao longo do tempo vários significados diferentes. Embora pareça simples, compreender o seu conceito é entender a mais elementar ação humana. O trabalho sofre variações de acordo com a época Pró-reitoria de EaD e CCDD 6 e as circunstâncias sociais. No decorrer do tempo, ele foi entendido como uma atividade pouco enobrecedora e muitas vezes se assemelhando à tortura, à fadiga e ao fardo. Para Marx, o sistema de produção capitalista organiza o trabalho e divide a sociedade em duas classes distintas: a dos proprietários e a dos não proprietários das ferramentas de trabalho ou dos meios de produção. O trabalho também já foi considerado integrador dos homens. É bem verdade que a identificação do trabalho como operação humana de transformação da matéria em objeto de cultura é o homem se reorganizando e criando instrumentos e um novo universo social. Segundo conceitos de dicionários, o trabalho é a aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim, sendo essa atividade tanto de caráter físico como mental, necessária a qualquer empreendimento ou tarefa, em linhas gerais é aplicada à produção de utilidade. Para Marx, o trabalho é acima de tudo um processo em que participam o homem e a natureza, e o ser humano por vontade própria impulsiona, regula e controla sua interação material com a natureza. O homem coloca as formas do seu corpo de maneira tal que pela intervenção humana se modifica a própria natureza. O processo de interação com a natureza, realizado pelo ser humano, também é realizadopelos animais, porém o que os diferencia é a capacidade cognitiva do homem de agir de forma intencional, previamente programada e seguindo um planejamento para atingir determinada finalidade. É a capacidade de observar o meio em que vive, transformando seus elementos que diferencia a atividade humana da dos animais, pois o homem Pró-reitoria de EaD e CCDD 7 planeja em sua mente todas as etapas do trabalho a ser realizado antes mesmo da sua execução. Marx interpreta o trabalho como um processo no qual temos a participação do homem e da natureza, em que o primeiro é responsável por regular e controlar o intercâmbio com o segundo. Esse processo, segundo Marx, é exclusivo da natureza humana, pois o homem estabelece um planejamento mental antes de executar as ações, dessa forma tem o conhecimento das etapas e pode propor alterações no processo para melhorar a atividade realizada e o produto final. O que diferencia o pior arquiteto da melhor abelha, segundo Marx? A capacidade do arquiteto de construir antes na sua mente e depois na realidade. No fim do trabalho, aparece o resultado que já existia antes na mente do trabalhador. Em diferentes épocas históricas, o trabalho tem assumido importâncias distintas do que lhe conferimos hoje. Nas sociedades antigas, ele era uma atividade realizada por seres inferiores ou animais, sofrendo mudanças com a sociedade capitalista. Hoje, os indivíduos encontram-se aprisionados a uma vida privada, e o capitalismo é o elemento que o patrocina numa nova vida social. Historicamente, o período feudal foi o momento em que a terra bastava para a produção de praticamente todas as mercadorias que o homem necessitava. O camponês arrendava-a dos senhores feudais e contraía uma série de obrigações como forma de pagamento dos arrendamentos. O avanço das atividades ligadas ao comércio permitiu um grande desenvolvimento das cidades, e aqueles que viviam nos feudos passaram a questionar as suas regras e migraram rapidamente para as cidades. Pró-reitoria de EaD e CCDD 8 O camponês que foi para a cidade e se tornou artesão percebeu que o trabalho agora não tem uma finalidade servil, mas passa a ser responsável pela produção do lucro, passando a trabalhar para suprir as próprias necessidades. TRABALHO, alienação e consumo. Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/5615425/>. Acesso em: 5 ago. 2016. À medida que o trabalho artesanal ia se desenvolvendo, ganhava um ar lúdico. O artesanato constitui uma grande evolução por parte do criador e do processo criativo. Ele passa a significar em si mesmo o fruto do trabalho artesanal. Com o advento da industrialização, o mestre garantia o ensinamento da técnica ao aprendiz em troca de pagamento, compromisso e promessa. A pequena oficina era percebida como uma unidade industrial para a época. Os profissionais trabalhadores dessas pequenas fabriquetas ficavam com o lucro do produto acabado, sendo o trabalho realizado pelo mestre e pelo aprendiz. As mercadorias passaram a ser vendidas em mercado externo, ultrapassando a finalidade ligada à necessidade. Dessa forma, os trabalhadores de uma mesma atividade participavam de associações artesanais, em que Pró-reitoria de EaD e CCDD 9 relatos demonstram que essas irmandades têm como fundamento a ajuda mútua e cooperativa. Uma vez desenvolvidas novas técnicas, passaram a contribuir para a formação de novas estruturas econômicas, fazendo com que o trabalho deixe de ser pensado como atividade comercial e volte a ser idealizo como atividade intelectual. Tema 3: A Alienação A alienação, segundo Marx, é um processo de distanciamento da realidade, gerando desconhecimento acerca das atividades realizadas, de forma que produz uma falsa realidade. Ele afirma que a consciência humana é sempre social e histórica, determinada pela nossa consciência histórica. A representação que fazemos da realidade, segundo Marx, não é fiel à realidade tal como fazemos, pois essa representação seria incompatível com os seres humanos, sendo um processo incompreensível, uma vez que sabendo de todo o processo de exploração pelo qual o homem passa é inadmissível nada fazermos a esse respeito. De acordo com Marx, a experiência social é marcada pela explicação da aparência, sendo ela comparada ao produto final. São aparências esses conhecimentos, pois nos apresentam um mundo de cabeça para baixo, confundindo a causa e o efeito, processo esse que não ocorre pela construção da consciência individual, mas pelo desenvolvimento social de uma inteligência coletiva. Marx se interessa pelo conjunto de explicações que uma coisa produz sobre si mesma, entendendo nesse processo a construção da alienação. Ele percebe que esse fenômeno se repete em esferas da sociedade, como o campo Pró-reitoria de EaD e CCDD 10 político, levando os sujeitos a aceitarem o processo de dominação, pois não reconhecem quem é o verdadeiro criador da sociedade e mesmo do Estado. O fenômeno da alienação também é percebido na economia, pois no sistema capitalista os trabalhadores produzem inúmeros objetos para o mercado e depois os entregam aos donos da fábrica em troca do salário. Porém, ao encontrarem o produto que eles produziram no comércio local, não conseguem adquiri-lo. Olham o que produziram, mas ao contarem o dinheiro voltam para casa de mãos abanando, como se a mercadoria surgisse do nada e seu preço fosse definido apenas por quem quer vendê-la. Os trabalhadores nesse processo não se reconhecem como autores e produtores da mercadoria, e o pior, eles acreditam que ela vale o preço cobrado. Dessa forma, eles alienaram no objeto o seu próprio trabalho e não se percebem como os produtores da riqueza. No desenvolvimento histórico do trabalho, o homem chegou a produzir um estranhamento entre o trabalho e o trabalhador. Isso ocorre devido às condições criadas pela divisão do trabalho, pois, na medida em que o trabalhador realiza seu trabalho, percebe que o objeto produzido pertence a outra pessoa, não se reconhecendo na própria produção. Segundo Marx, a alienação ocorre devido ao trabalhador não se reconhecer no trabalho realizado, isto é, ao invés de o trabalhador libertar-se pelo trabalho, ele acaba se sujeitando às pressões do próprio trabalho. O trabalho pode ser visto como a única manifestação da liberdade humana, permitindo ao homem criar autonomamente a sua própria existência. É uma liberdade que não é infinita, uma vez que a produção está sempre ligada às condições materiais e às necessidades já criadas, mas estas atuam como fatores imperativos em todas as épocas da história. Pró-reitoria de EaD e CCDD 11 Para Marx, é somente pelo trabalho que o homem tem condições de se tornar criador de si próprio. Essa criação não se restringe à mera existência material, mas se vincula profundamente ao seu modo de ser, bem como a sua vida no plano moral e intelectual. A economia política, segundo Marx, tem sua organização com bases na propriedade privada, explicando fenômenos, como concorrência e trabalho, a partir de elementos, como a avareza, a guerra entre os avarentos e a competição. Então o espírito de inquisição, a separação do trabalho, a troca e a concorrência constituem um sistema de alienação e desvalorização do homem. Dessa forma, aumenta a valorização do mundo das coisas e diminui a do homem. O trabalhador no mundo contemporâneo torna-se cada vez mais pobre na proporção de riqueza que produz. Em outros momentos históricos, o produto produzido estava submetido à atividade do trabalhador, como um processo artesanal, hoje o própriotrabalhador se transforma em mero produto do próprio trabalho. Segundo Marx, o trabalho é exterior ao trabalhador, não pertence a sua existência. O trabalhador por sua vez tem a sensação de estar fora do seu trabalho, não se sente voluntário, mas sim seu escravo, ocorrendo assim sua submissão e exploração, tornando o homem alienado e distante do processo de libertação pela atividade do trabalho. Como resultado do processo de alienação do trabalho, Marx percebe que o homem aliena a si mesmo e o seu papel que deveria ser ativo. A atividade fundamental o aliena da mesma forma que torna sua vida genérica ao invés de individual. Pró-reitoria de EaD e CCDD 12 Tema 4: Mais-valia As relações sociais de produção constituem a base de toda a estrutura social, segundo Marx. Elas definem a sociedade capitalista em dois grandes grupos, de um lado os trabalhadores, aqueles que possuem apenas o corpo e a sua capacidade produtiva como mão de obra de transformação por meio do trabalho; e os burgueses, detentores dos modos de produção e maquinários necessários à transformação da natureza em produto para a produção de mercadorias. Para Marx, essa sociedade só produz porque existe um comum acordo entre os trabalhadores operários e os burgueses. Ele consiste no pagamento de salário pela burguesia ao trabalhador por uma jornada de trabalho previamente estabelecida, dessa forma o burguês fica com o lucro gerado ao fim de uma jornada de trabalho e o valor da força de trabalho, ou seja, o salário, é entendido como coisa. Outra questão levantada é: quanto o trabalho rende ao capitalista? É esse valor gerado a mais pelo operário que Marx chama de “mais-valia” ou, como vamos estudar, o lucro excedente pelo trabalho não pago. O trabalhador de forma simplificada se aluga, vendendo sua força de trabalho, não apenas pelo tempo que leva para a produção de determinada mercadoria para o pagamento do próprio salário, mas pela extensão de todo um dia de trabalho. Esse processo entre o burguês e o trabalhador leva à exploração, gerando conflito entre as classes sociais que representam cada grupo. O conflito ocorre cada vez que os grupos encontram uma oposição de interesses, sendo impossível uma conciliação de classes sociais. Pró-reitoria de EaD e CCDD 13 O burguês deseja manter seu direito à propriedade dos meios de produção e do lucro dos produtos produzidos pela comercialização e exploração dos trabalhadores assalariados. Ele pode inclusive aumentar a jornada de trabalho e reduzir os salários como forma de gerar lucro. O trabalhador procura diminuir os efeitos da exploração ao lutar pela redução da jornada de trabalho, reivindicando melhores salários e participação nos lucros. Para Marx, a burguesia e o proletariado são conflituosos e ao mesmo tempo se complementam, pois a relação existe na busca do equilíbrio entre os interesses dos grupos opostos. A história para Marx é a da luta constante de classes, envolvendo interesses opostos, embora sendo conflituosos de forma declarada. Antagonismos subjacentes a toda relação social. A mais-valia pode ainda ser dividida em duas formas de exploração com objetivos distintos: mais-valia absoluta, quando o capitalista procura aumentar constantemente a jornada de trabalho; e mais-valia relativa, quando a mecanização faz com que a qualidade dos produtos dependa menos da habilidade e do conhecimento técnico do trabalhador individual. A força de trabalho vale cada vez menos e, graças à maquinaria desenvolvida, produz cada vez mais. A mais-valia, mesmo se apresentando de várias formas, passa a ser compreendida como o resultado final de um processo exploratório, fruto do conflito de grupos com interesses e objetivos distintos. Para o proletariado, a mais-valia só tem um significado: mais trabalho, mas para a burguesia ela é o lucro excedente pelo trabalho, não para o resultado Pró-reitoria de EaD e CCDD 14 de um processo exploratório, porém altamente lucrativo, servindo como estímulo à continuidade do processo exploratório. Tema 5: Ideologia Social Marx, ao tratar da temática do trabalho, faz uma crítica a ele, pois entende que o trabalhador é um ser estranho ao produtor, pois o produto não lhe pertence, tratando esse processo como alienação. Isso significa que, para Marx, o trabalho não é condição de liberdade, mas o contrário disso, o homem para ser livre deve trabalhar para si, pois o trabalho alienado desumaniza. Ha vários conceitos para o termo alienação, por exemplo, dizemos que alguém é alienado mental, isto é, que a pessoa é louca. No sentido religioso, está relacionado ao fenômeno da idolatria. No dia a dia, chamamos alguém de alienado quando percebemos seu desinteresse por questões políticas e sociais. O significado da palavra alienação vem do latim alienare, o que pertence a outro. Sobre determinado aspecto, alienar é transferir para outro o que é seu, tornando-se alheio. Para Marx, que elaborou os conceitos básicos, a alienação não é puramente teórica, pois se manifesta na vida do homem pela maneira como ele se organiza na divisão do trabalho, já que o produto final deixa de lhe pertencer. O trabalho passa a ser comandado por forças estranhas na busca pelo lucro que deixa de lhe pertencer. Marx chama esse processo de alienação de fetichismo da mercadoria, pelo qual os valores de troca se tornam maiores que os de uso, determinando as relações entre os homens pelo consumo de produtos. Por exemplo, as relações não são entre alfaiate e carpinteiro, mas entre casaco e mesa. Pró-reitoria de EaD e CCDD 15 A alienação é o processo pelo qual a mercadoria adquire um valor superior ao do homem, privilegiando as relações entre as coisas, definindo assim as relações materiais entre pessoas. A mercadoria passa a assumir formas abstratas, como o dinheiro que, em vez de intermediar as relações entre os homens, converte-se em relação final, ou seja, o dinheiro pelo dinheiro. Dessa forma, Marx nos apresenta que a humanização da mercadoria está diretamente ligada à desumanização do homem, pois este passa a ser coisificado, transformando-se em mercadoria, já que sua força de trabalho tem preço no mercado. O trabalho para Marx configura o caráter de exploração do sistema capitalista, porém o trabalhador não é capaz de reverter esse quadro porque se encontra alienado. Em seu conceito de alienação, Marx rejeita as explicações comuns que aparecem na filosofia, pois elas estão permeadas pela religião, metafísica e moral. Ele busca uma análise nas condições de trabalho e percebe que a origem da alienação está na vida econômica, pois o produto, que surge do esforço humano, ganha vida própria, não pertencendo mais ao trabalhador e tendo uma existência independente da dele. A perda da relação com o produto tem outros significados mais profundos para o trabalhador, pois ele não consegue mais planejar as suas ações e vai criando uma separação entre pensar e agir, fruto da aceleração no processo de produção, provocada pela mecanização do trabalho. Assim, o trabalhador executa apenas parte do produto em um ritmo de trabalho ditado pela máquina e está alheio ao ritmo natural do seu próprio corpo. O produto criado pelo trabalhador subtrai a sua vontade, a sua consciência e o seu controle pelas atividades realizadas, não permitindo que ele se reconheça naquilo que produz. Pró-reitoria de EaD e CCDD 16 Esse é o fetichismo da mercadoria, pois esta não é apenas o resultado de uma produção, mas vale por si mesma, como realidade autônoma e determinantena vida dos homens. Para Marx, o fetiche da mercadoria e o seu efeito sobre o homem os obriga a sucumbir às leis do mercado, desumanizando-o e coisificando-o. Os homens não percebem esse processo e não conseguem reagir à exploração graças à ideologia dominante que se encarrega de disseminar ideias para a manutenção de um sistema que muitas vezes é desigual e injusto, mas permite a sua continuidade exploratória à qual o homem se encontra mergulhado. As ideias, condutas e concepções de mundo de uma dada sociedade representam os interesses da classe dominante, e esta ao ser generalizada e disseminada ajuda a manter a dominação. A ideologia impede que o trabalhador tenha consciência da própria submissão, porque esconde a luta de classes quando faz a representação ilusória da sociedade, apresentando uma harmonia que não existe. A ideologia esconde ainda um Estado que não representa o bem comum, mas expressa os interesses dos grupos dominantes. Referências COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3ª ed. ampliada e revista. São Paulo: Moderna, 2005. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 1999. Marx, K.; Engels, F. O manifesto comunista. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
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