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Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
Leitura: quem fala no texto? 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
2 
Leitura: quem fala no texto? 
O discurso citado 
Ao ler textos de diferentes gêneros, você pode perceber que, geralmente, o autor traz diferentes vozes para o 
texto, ou seja, ele cita explícita ou implicitamente outros textos, as falas de personagens, de pessoas ouvidas 
etc. Um exemplo simples para você saber do que estamos falando é pensar em um romance. Geralmente, 
temos um narrador, que conta fatos da história, e personagens, as quais têm suas falas e pensamentos 
introduzidos no texto pelo narrador na forma de discurso citado. Outro exemplo pode vim de textos 
jornalísticos. Um jornalista, na construção de uma reportagem, ouve várias pessoas, entrevista autoridades 
no assunto, consulta fontes de referência para depois dar-lhes voz em seu texto. Na construção deste, há 
diferentes maneira de trazer as vozes dos outros, diferentes formas de citar a palavra do outro, o que vamos 
discutir neste módulo. 
Assim, nossos objetivos neste módulo são: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando temos um texto com diferentes vozes, a maneira de lidar com elas, de trazê-las para o texto, ou seja, 
o gerenciamento dessas vozes em um texto constrói diferentes sentidos. Quando temos mais de uma voz 
em um texto, podemos levantar algumas questões, como: quem é o responsável pelo dito? Qual a relação do 
autor com o dito pelo outro? O autor concorda ou discorda com o fragmento que cita ou menciona? 
A escolha de uma ou de outra forma de citar as palavras do outro demonstra o grau de responsabilidade que 
o autor deseja assumir para com o que foi dito. A forma de citar também revela a opinião do autor sobre o dito 
pelo outro. Isso porque há uma inter-relação direta entre o texto como um todo e as palavras escolhidas para 
serem citadas como também as diversas maneiras de citar. Vejamos, inicialmente, as diferentes maneiras de 
citar. 
 
 
 
1. Estudar as formas de 
citação que podem ocorrer 
em textos diversos: 
discurso direto, discurso 
indireto e outras formas de 
utilizar as vozes de outros. 
 
2. Reconhecer as vozes nos 
textos através do processo 
de interpretação dos textos. 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
3 
Maneiras mais comuns de citar... 
Para trazermos as vozes dos outros para nosso texto, podemos nos utilizar de três principais 
estratégias: 
 
 
 
 
 
- Discurso Direto 
O discurso direto é uma forma de expressão em que o outro (personagem ou entrevistado, por exemplo) é 
chamado a apresentar as suas próprias palavras. Isso quer dizer que no discurso direto temos a idéia de que 
as palavras do outro são reproduzidas fiel e literalmente. Um bom exemplo de discurso direto são as citações 
ou transcrições exatas da declaração de alguém em notícias e reportagens jornalísticas. 
O discurso direto se propõe a reproduzir a fala de outrem exatamente como ela foi proferida. Em uma 
reportagem, é como se o jornalista dissesse ao leitor: isso foi o entrevistado quem disse, não são minhas 
palavras, por isso não tenho responsabilidade sobre o que ele afirma. Vejamos um exemplo: 
 
 
Logo na manchete desta notícia, temos um exemplo de discurso direto. Em “Teixeira libera ‘cervejinha’”, ao 
usar aspas, o jornalista dá a entender que a palavra “cervejinha” foi dita pelo presidente da Confederação 
Brasileira de Futebol, e não empregada por ele mesmo. Em outros momentos, o jornalista também recorre ao 
discurso direto, como em: “‘Na seleção brasileira, principalmente, se você estiver se preparando para a Copa 
do Mundo e durante a Copa, você tem que ter os cuidados físicos’, afirmou o dirigente a jornalistas após 
participar de um evento da FIFA no Rio de Janeiro”. 
10/03/2010 - 17h24 
Teixeira libera "cervejinha", mas pede cuidados a Adriano 
Da Reuters 
No Rio de Janeiro 
 
Atento às polêmicas envolvendo o atacante Adriano, o presidente da 
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, sugeriu ao jogador que 
tenha moderação e se prepare adequadamente caso deseje disputar a Copa do Mundo 
da África do Sul. 
"Na seleção brasileira, principalmente, se você estiver se preparando para a 
Copa do Mundo e durante a Copa, você tem que ter os cuidados físicos", afirmou o 
dirigente a jornalistas após participar de um evento da FIFA no Rio de Janeiro. 
Adriano, de 28 anos não se reapresentou para treinar no Flamengo após o 
amistoso do Brasil contra a Irlanda, em Londres, há uma semana, e vieram à tona alguns 
problemas pessoais do jogador. Ele e a namorada, Joana Machado, teriam brigado em 
um baile funk no Morro da Chatuba, na zona norte da cidade. 
O procurador do atleta, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi, admitiu em entrevista à 
Reuters que o atacante tem problemas com álcool e que já buscou vários tratamentos 
para tentar se livrar da dependência. 
"Beber um cervejinha não tem problema algum, não pode é beber um 
engradado", disse o presidente da CBF. 
 
http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2010/03/10/teixeira-diz-que-adriano-precisa-se-cuidar-para-jogar-
copa.jhtm 
 
 
1. Discurso Direto 
2. Discurso Indireto 
3. Discurso Indireto Livre 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
4 
Como vimos no exemplo, ao citar de maneira direta o discurso de 
Ricardo Teixeira, o jornalista não se coloca como responsável por essa 
fala (Maingueneau, 2000). As palavras do outro podem ser 
incorporadas indicando uma concordância com o dito ou uma 
discordância ou polêmica. Assim, os textos incorporam diferentes 
responsáveis pelo dito. Como a questão do consumo de bebidas 
alcoólicas por esportistas já é um assunto polêmico, o jornalista decide 
por se eximir de liberar a cervejinha, deixando claro que outro, no caso, 
Ricardo Teixeira, é o responsável pelo dito. 
 
Para marcar o discurso citado de maneira direta, o jornalista se utiliza 
de alguns recursos: coloca os trechos entre aspas (“cervejinha”), 
nomeia o responsável pelo dito (“o presidente (...) sugeriu...”) e se 
utiliza de verbos de dizer (ou verbos dicendi), como em “afirmou o 
dirigente”. 
O discurso direto não só exime o jornalista da responsabilidade 
sobre o que está sendo dito, mas ainda simula reproduzir as falas 
citadas e se caracteriza por dissociar claramente quem diz o quê, 
ou seja, há uma delimitação clara e marcada entre o discurso 
citante, que é o texto como um todo, e a do discurso citado, que 
são os trechos reportados como palavras alheias. 
No entanto, na interpretação de textos, devemos lembrar de que a 
não responsabilização do autor do texto ao trazer as palavras do 
outro como discurso direto é relativa. No caso de nosso exemplo 
da notícia, é o jornalista que seleciona, recorta, insere e costura 
sua voz no texto com as falas de Ricardo Teixeira. 
Vamos, então, ver algumas características formais do discurso 
direto: 
1. No plano formal, geralmente um enunciado em discurso 
direto é antecedido por verbos do dizer, tais como: afirmar, 
ponderar, sugerir, perguntar, indagar ou expressões que sirvam 
para marcar a introdução das palavras do outro. 
 
2. Utilização de recursos gráficos, tais como: dois pontos, as 
aspas, o travessão e a mudança de linha. A mudança de linha e 
uso do travessão são mais comuns nos gêneros literários para 
introduzir a fala de uma personagem, como no exemplo a seguir: 
 
Ele disse que preferiria trabalhar sozinho. Ele cozinharia e eu 
serviria. Eu disse “Tudo bem”. Disse que queria pagar pelosingredientes que ele estava comprando. Ele: “Depois a gente 
acerta”. E depois: 
- Você já falou com os outros? 
- Ainda não. 
- Comece pelo Abel 
 (O Clube dos Anjos, Luís Fernando Veríssimo, 1998, p. 32) 
 
 
No trecho do romance de Luís Fernando Veríssimo, podemos 
notar diferentes recursos gráficos utilizados para marcar o 
discurso citado de maneira direta. Primeiro, o uso do verbo dicendi 
dizer (eu disse...) antes do trecho entre aspas em “Tudo bem”. 
Depois, encontramos as aspas antes de outro trecho (“Depois a 
gente acerta”), além do uso de dois pontos, mudança de linha e 
travessão no diálogo que se seguiu. Nos trechos, com a utilização 
dos recursos gráficos, fica marcado claramente o que o “eu” do 
texto disse e o que o “ele” do texto disse. 
No discurso direto, os verbos dicendi têm 
a função, assim como as marcas gráficas 
(aspas, travessão), de indicar que está 
sendo introduzida a fala do outro. 
1. São exemplos de verbos dicendi: 
afirmar, dizer, responder, 
declarar, argumentar, rebater 
etc. 
2. Os verbos dicendi também 
informam o leitor sobre o 
envolvimento de quem escreve 
para com a declaração citada. 
Através deles, o autor pode 
mostrar a sua avaliação a 
respeito do que disse o outro.
 
3. Mas esses verbos não são 
somente verbos de fala, como 
afirmar ou dizer. Assim, podem 
servir de introdutores de 
discurso direto verbos ou 
locuções verbais como acusar, 
esbravejar, enlouquecer-se, 
defender-se, criticar, condenar, 
espantar-se, indignar-se, perder 
o sangue frio, extrapolar, 
enfurecer-se. 
Nas palavras de Fiorin (2002, p. 79): 
“podemos dizer que duas classes de 
informações são veiculadas por um 
verbum dicendi (excetuando o verbo 
dizer, que é neutro em relação a 
elas): há os que têm um valor 
descritivo (por exemplo, responder, 
concluir) e há os que são 
avaliativos”. 
1. 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
5 
As características de como o discurso citado é apresentado dependem do gênero do discurso. Por exemplo, 
no texto literário de Luís Fernando Veríssimo, foram utilizados os recursos de mudança de linha e travessão. 
Na notícia, esses recursos não são utilizados, o discurso direto é marcado pelo uso de aspas e verbos do dizer. 
Em histórias em quadrinhos, o discurso direto encontra-se nos balões de fala. Dessa forma, os recursos para 
introduzir e marcar o discurso direto encontram-se relacionados com o gênero. Não citamos da mesma forma 
em uma letra de música e em uma ata, por exemplo. Vejamos como o discurso citado pode aparecer em letras 
de música: 
E lá chegando foi tomar um cafezinho 
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar 
E o boiadeiro tinha uma passagem 
Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar: 
Dizia ele estou indo pra Brasília 
Nesse país lugar melhor não há 
Tô precisando visitar a minha filha 
Eu fico aqui e você vai no meu lugar 
O João aceitou sua proposta 
E num ônibus entrou no Planalto central 
Ele ficou bestificado com a cidade 
Saindo da rodoviária viu as luzes de natal 
Meu Deus mas que cidade linda! 
No Ano Novo eu começo a trabalhar 
Cortar madeira aprendiz de carpinteiro 
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga 
 
 
Neste trecho da letra da música “Faroeste Caboclo”, da banda Legião Urbana, há dois trechos de discurso 
direto, mas que não são marcados por uso de aspas ou mudança de linha e travessão. Percebemos o discurso 
citado pela mudança da terceira pessoa (“e encontrou um boiadeiro com que foi falar”) para a primeira pessoa, 
como nos trechos “estou indo pra Brasília Nesse país lugar melhor não há Tô precisando visitar a minha filha 
Eu fico aqui e você vai no meu lugar” e no trecho “Meu Deus mas que cidade linda! No Ano Novo eu começo 
a trabalhar”. Apesar de não marcar graficamente o discurso citado, conseguimos identificar os trechos de 
discurso direto. 
 
Uma outra maneira de usar o discurso citado é indicando o responsável pelo dito com expressões como 
“Segundo X...”, “De acordo com X...”, “Como aponta X...”, “A partir de X...”, que podem ser utilizadas tanto para 
introduzir o discurso direto ou indireto. Essas estratégias são comuns em textos jornalísticos, científicos ou de 
divulgação científica, como os trechos destacados nos textos abaixo: 
 
Consideremos, por exemplo, a prática de lermos as bulas antes de ingerir um remédio. Como Gee (1990) bem 
aponta, para que alguém possa compreender um texto como esse, será primeiro necessário desvendar 
questões relativas ao discurso em que esse texto faz sentido (...). 
(Os significados do letramento. Angela Kleiman, 1995, p. 54) 
 
 
Além de marcar a introdução do discurso citado, que neste caso é feito de maneira indireta, a expressão 
destacada mostra concordância da autora com o dito pelo outro (Gee). Observe que a autora afirma que ele 
“bem aponta”: o advérbio “bem” revela uma avaliação positiva pela autora das palavras de Gee. 
 
Vejamos mais dois exemplos, retirados da revista Mundo Estranho (12/2008): 
 
I. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 10% das crianças em idade escolar no 
mundo estão com excesso de peso. 
II. Segundo estimativas do Ministério da Saúde, nada menos que 60% dos recursos do Sistema 
Único de Saúde (SUS) são gastos com o tratamento de enfermidades que têm as gordurinhas a 
mais como um fator de risco. 
- Discurso Indireto 
O discurso indireto é a estratégia de reportar as palavras dos outros com suas próprias palavras. Ocorre 
quando o autor ou narrador do texto conta o que foi dito por outra pessoa. Temos então uma mistura de 
vozes, pois as falas de outros passam por uma elaboração do narrador/autor. Ao contrário do que observamos 
nos enunciados em discurso direto, o narrador incorpora aqui, ao seu próprio dizer, uma informação do 
personagem. 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
6 
Ao usar o discurso indireto, quem cita as palavras do outro não se 
propõe a reproduzir as palavras exatamente como elas foram ditas, 
mas somente a passar o conteúdo do dito, escrevendo-o com suas 
próprias palavras. Enquanto o discurso direto supostamente repete 
fielmente as palavras de outrem e marca claramente a diferença 
entre o que é dito pelo autor/narrador e o que é dito pelo outro, o 
discurso indireto só se configura como discurso citado por seu 
sentido, constituindo uma tradução das palavras do outro. O discurso 
indireto não reproduz outra fala, mas dá um equivalente de sentido 
ao que foi dito de maneira integrada ao texto. 
Voltando à notícia sobre as declarações de Ricardo Teixeira sobre o 
jogador de futebol Adriano, o jornalista se utiliza do discurso indireto 
nos seguintes trechos destacados: 
 
I) “Atento às polêmicas envolvendo o atacante Adriano, o 
presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo 
Teixeira, sugeriu ao jogador que tenha moderação e se prepare 
adequadamente caso deseje disputar a Copa do Mundo da África 
do Sul”. 
 
II) “O procurador do atleta, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi, admitiu em 
entrevista à Reuters que o atacante tem problemas com álcool e 
que já buscou vários tratamentos para tentar se livrar da dependência” 
 
Em I, o jornalista reporta as palavras de Ricardo Teixeira de maneira indireta, com suas próprias palavras, 
quando diz que o presidente da CBF “sugeriu ao jogador que tenha moderação e se prepare adequadamente 
caso deseje disputar a Copa do Mundo da África do Sul”. Ao mesmo tempo em que deixa marcado em seu 
enunciado que quem sugeriu algo a Adriano foi Ricardo Teixeira e não ele próprio, o jornalista não transcreve 
as palavras ditas pelo entrevistado de maneira literal. Observe, inclusive, que ele utiliza o verbo “sugerir” para 
marcar a proposta feita ao jogador pelopresidente da CBF. 
Em II, também se utilizando do discurso indireto, o jornalista reporta palavras do procurador do jogador Adriano, 
Gilmar Rinaldi, afirmando que este “admitiu em entrevista à Reuters que o atacante tem problemas com álcool 
e que já buscou vários tratamentos para tentar se livrar da dependência”. É interessante perceber como a 
escolha do verbo que introduz o discurso indireto, admitir, constrói sentidos diferentes se, no mesmo caso, 
fossem usados os verbos “dizer”, “falar” ou “afirmar”. Diferentemente destes verbos dicendi, “admitir” não 
reporta somente que Gilmar Rinaldi disse isso ou aquilo, mas que admitiu algo. O verbo admitir, segundo o 
dicionário Houaiss da língua portuguesa, pode ter o sentido de reconhecer (algo) que se faz evidente, 
incontestável; aceitar. O trecho vem no parágrafo seguinte à narração de fatos que poderiam revelar que o 
jogador Adriano estaria passando por problemas pessoais. Dessa forma, ao usar “admitir”, o jornalista mostra 
que a afirmação de Gilbar Rinaldi reconhece algo incontestável: o jogador enfrenta problemas pessoais que 
envolvem a dependência a álcool. 
A partir desses exemplos, vejamos algumas características do discurso indireto: 
1. Verifica-se que, introduzidas também por um verbo discendi (dizer, afirmar, ponderar, confessar, 
responder etc), as falas de outros são incorporadas ao texto como uma oração subordinada, 
dependente das palavras do autor: ele admitiu que... ela sugeriu que... 
 
2. Apesar de não ser citado literalmente e marcado com aspas, travessão e mudança de linha (nos 
textos narrativos em prosa), o discurso indireto é facilmente identificável, ou seja, conserva sua 
autonomia em relação ao texto como um todo. 
 
3. O discurso indireto é definido como o registro da fala da personagem sob influência por parte do 
narrador. Nesse tipo de discurso, os tempos verbais são modificados para que haja entendimento 
quanto à pessoa que fala. Além disso, costuma-se citar o nome de quem proferiu a fala ou fazer 
algum tipo de referência. 
 
Narrador ou autor!? 
Quando pensamos no termo “narrador” 
estamos nos referindo a textos literários. 
Isso ocorre porque o texto literário tem 
autor – uma pessoa real, física, que 
escreve livros, contos, crônicas - e 
narrador, que é quem conta uma 
determinada história. O autor é a pessoa 
que produz a obra literária, o escritor. Um 
autor pode escrever diferentes histórias 
com diferentes narradores. Por exemplo, o 
autor Machado de Assis escreveu vários 
romances. Em “Memórias Póstumas de 
Brás Cubas”, Brás Cubas, que também é 
personagem do romance, é o narrador de 
suas memórias, não Machado de Assis. 
Nas notícias, reportagens, artigos de jornal 
não temos narradores. 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
7 
- Discurso indireto livre 
O discurso indireto livre é um discurso misto. Há uma maior liberdade neste tipo de discurso 
relatado, pois o narrador insere a fala do personagem sem fazer uso das marcas do discurso direto ou 
de verbos discendi, também usados no discurso indireto. Neste tipo, a fala do narrador e a fala da personagem 
se confundem, pois esta surge de repente em meio a fala do narrador. 
O discurso indireto livre é constituído por uma associação de características do discurso direto com do discurso 
indireto: fundem-se a terceira pessoa, usada pelo narrador, e a primeira pessoa, com que o personagem 
exprime suas falas e pensamentos, sem, no entanto, usar as marcas gráficas do discurso direto ou verbos 
discendi. Devido a essa não marcação da fala do outro, dizemos que o discurso indireto livre é uma forma mais 
sutil de inserção das palavras do outro na trama do texto. 
Na moderna literatura narrativa, o chamado discurso indireto livre, é a forma de expressão que, ao invés de 
apresentar o personagem em sua voz própria (discurso direto), ou de informar objetivamente o leitor sobre o 
que ele teria dito (discurso indireto), aproxima narrador e personagem, dando-nos a impressão de que passam 
a falar em uníssono, como no exemplo a seguir: 
Na cozinha, Lucídio me informou que sobrara “bouef bourguignon” para mais um prato, apenas mais um prato. Transmiti a 
informação à mesa. Quem queria repetir? Alguns nem responderam, só gemeram, para dizer que não podiam mais. 
(O Clube dos Anjos, Luís Fernando Veríssimo, 1998, p. 40) 
A partir deste trecho, notamos que as palavras “Quem queria repetir?”, ao mesmo tempo, faz parte da narração 
em terceira pessoa de fatos passados e reproduz a fala do narrador-personagem à mesa de convidados. É, 
por conseguinte, um processo de reprodução de enunciados que combina as características dos dois 
anteriormente descritos. 
Relação entre o discurso citante e o discurso citado 
O estudo do discurso citado deve considerar a relação entre o discurso citante e discurso citado, ou seja, a 
relação entre o texto como um todo e as palavras de outrem trazidas para a trama do texto. É por meio dessa 
análise que podemos na interpretação de textos, perceber como o autor orienta seu leitor na direção de certas 
conclusões. Dessa forma, há um aspecto argumentativo no uso do discurso citado (PIRIS, 2007). Através da 
interpretação dessa relação, podemos reconhecer os pontos de vista expressos no texto. Em outras palavras: 
por que escolhemos determinadas citações para compor nossos textos? Quais são os objetivos dos autores 
ao reportar um discurso alheio? 
 
As palavras de outrem trazidas para o texto podem ser citadas de maneira positiva ou negativa. Para perceber 
como o autor do texto valoriza, avalia, julga as palavras do outro é importante levar em conta a maneira como 
esse discurso aí integrado e com que objetivo. Ou seja, não basta estudar quais as vozes são simuladas pelo 
recurso do discurso citado, é preciso relacioná-las com a voz de quem faz as citações. 
 
Para compreender melhor como as vozes trazidas para um texto servem aos objetivos de que as cita, vamos 
analisar um artigo assinado de jornal, que é um gênero de discurso caracterizado pela argumentação, ou seja, 
sua finalidade primeira é convencer o leitor a aceitar o ponto de vista do articulista, que, para tanto, utiliza 
argumentos que são ou parecem ser verdadeiros. No artigo intitulado “Bomba relógio”, publicado pelo jornal 
Folha de São Paulo em 12 de março de 2010, a articulista Eliane Catanhêde discute a polêmica sobre a escolha 
dos aviões tipo caças militares pelo Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vejamos, a partir deste artigo, de que maneira o discurso citado se apresenta como um recurso para a 
construção da argumentação da articulista. Por exemplo, no trecho “o vice-ministro da Defesa da Suécia, Hakan 
Jevrell, me disse ontem, aqui em Estocolmo, que há muita ansiedade, mas pouca informação, sobre o anúncio, 
que seria em setembro de 2009, passou para outubro, para dezembro e acabou varando o ano. Até agora, 
nada”, a articulista mistura as palavras do ministro sueco, por meio do discurso indireto (me disse que...), com 
suas próprias palavras, dando a impressão que ele próprio salientou que o anúncio é esperado desde setembro 
de 2009 e que, até agora, nada foi dito. A voz do vice-ministro da Defesa da Suécia se constitui como uma 
autoridade que confirma as vantagens do caça sueco, como também a suposta ansiedade em relação ao 
anúncio sobre a escolha do governo brasileiro entre os caças de diferentes nacionalidades. Além disso, ao usar 
a expressão “me disse”, a articulista passa a impressão de uma certa informalidade de sua conversa com 
Hakan Jevrell, e não a de uma entrevistaformal. 
 
Entre outras passagens em que a articulista se utiliza de discurso indireto, o trecho seguinte se faz interessante 
pela impressão de ser um discurso direto: 
 
Jobim vai ter que se esmerar para produzir e redigir argumentos minimamente convincentes. Falar apenas em 
"questões políticas" é muito vago, podendo até resvalar para o suspeito. 
 
O uso das aspas em “questões políticas” dá a entender que essas palavras foram ditas pelo ministro da defesa 
brasileiro Jobim. O uso do discurso direto, neste caso, reforça o argumento da articulista de que não há razões 
suficientes para escolher outro caça que não o sueco. E para reafirmar a ineficiência dessa justificativa, ela 
traz, novamente, a voz de Hakan Jevrel, juntamente com a sua própria voz: “Como disse Jevrell, o fator político 
é importante, mas não o único. Se tudo não ficar em pratos limpos, países e empresas vão pensar uma, duas, 
dez vezes antes de gastar milhões em seleções que, na verdade, eram só para sueco ver”. 
 
De um modo geral, toda essa estrutura de citações serve para passar ao leitor a impressão de que a articulista 
é neutra e que está somente olhando para os fatos e consultando autoridades no assunto. Contudo, devemos 
observar como a articulista negocia com as vozes do discurso citado inscritas em seu próprio texto. A citação 
de determinados trechos e não de outros se dá em função do objetivo do artigo de opinião, qual seja: convencer 
o leitor sobre uma questão polêmica. 
 
Bomba relógio 
ESTOCOLMO - Quanto mais o tempo passa, mais os suecos, franceses e americanos 
ficam nervosos diante da decisão de Lula sobre o melhor pacote para entronizar o Brasil 
na fantástica era da produção de aviões supersônicos. 
O vice-ministro da Defesa da Suécia, Hakan Jevrell, me disse ontem, aqui em Estocolmo, 
que há muita ansiedade, mas pouca informação, sobre o anúncio, que seria em setembro 
de 2009, passou para outubro, para dezembro e acabou varando o ano. Até agora, nada. 
Jevrell aproveita para rebater duas críticas restantes ao caça Gripen NG: a diversidade 
de fornecedores estrangeiros e o risco de mudanças no preço final e nos prazos, já que é 
um produto pronto. 
Segundo ele, não há um só avião de caça integralmente produzido e equipado num único 
país. O francês Rafale -preferido pela área política do governo- tem, inclusive, sistemas 
dos EUA e da própria Suécia. O motor do Gripen é dos EUA, mas o ministro menosprezou: 
o avião será adaptável a qualquer motor, de qualquer país. Algum problema de 
autorização? Basta trocar. 
Quanto a prazo e preços, ele repete o que a Saab, do Gripen, sempre diz: a empresa tem 
um velho histórico de cumprimento de contratos. Não seria agora que iria falhar. 
Se Lula anunciar a vitória dos suecos, estará bem ancorado no relatório técnico da FAB 
e na preferência da Embraer. Mas, se optar pelo F-18, que ficou em segundo lugar, ou 
pelo Rafale, que ficou em último, Jobim vai ter que se esmerar para produzir e redigir 
argumentos minimamente convincentes. Falar apenas em "questões políticas" é muito 
vago, podendo até resvalar para o suspeito. 
 
Como disse Jevrell, o fator político é importante, mas não o único. Se tudo não ficar em 
pratos limpos, países e empresas vão pensar uma, duas, dez vezes antes de gastar 
milhões em seleções que, na verdade, eram só para sueco ver. 
A bomba está no colo de Jobim. 
 
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Efeitos de sentido: as aspas 
 
O uso das aspas é um recurso que, além de marcar o discurso citado, marca a relação com o discurso de 
outrem. Muitas vezes, seu uso não marca a fala literal de outra pessoa, e sim indica uma distância entre o texto 
todo e algumas palavras utilizadas no texto, como que suspendendo sua responsabilidade por essas palavras, 
assumindo, ao mesmo tempo, as não aspeadas “normalmente”. É como se o autor do texto dissesse: assumo 
todas essas palavras como minhas, mas as aspeadas não. Dessa forma, o uso de aspas em certas palavras e 
não em outras cria efeitos de sentido, ou seja: por que o autor aspeia essa palavra e não outras? Por que não 
assume essa palavra como sua? 
Por isso, as aspas podem indicar uma polêmica, um local de tensão entre o texto como um todo e as palavras 
aspeadas. Uma palavra aspeada pode ser uma palavra questionada pelo autor que traz essa palavra para seu 
texto, pode ser um questionamento da adequação da palavra do outro. Vamos analisar alguns exemplos. 
A reportagem da revista semanal Veja, de 20 de agosto de 2008, edição 2074, “Você sabe o que estão 
ensinando a ele?”, gerou uma grande polêmica ao tratar os professores brasileiros como atrasados e ao criticar 
o pedagogo Paulo Freire. A seção da reportagem que gerou mais polêmica é intitulada “Prontos para o século 
XIX”. O subtítulo dessa seção já apresenta um caso de uso de aspas: 
Muitos professores e seus compêndios enxergam o mundo de hoje como ele era no tempo dos tílburis. Com a 
justificativa de “incentivar a cidadania”, incutem ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos. 
O uso de aspas em “incentivar a cidadania” questiona sua adequação como justificativa para o ensino. Não 
conseguimos recuperar uma determinada pessoa que as disse, mas ao lermos o trecho todo, notamos que as 
jornalistas que assinam a reportagem responsabilizam “muitos professores e seus compêndios” pelas palavras 
aspeadas. Esse uso mostra que as autoras do texto não assumem a expressão normalmente. Todas as outras 
palavras do subtítulo são tidas como delas, enquanto que a expressão entre aspas (“incentivar a cidadania”) 
seria de um outro, no caso, os professores. 
Nessa mesma seção da reportagem, está presente o trecho de maior debate em outros textos, em que as 
jornalistas criticam a admiração dos professores brasileiros por Paulo Freire, que seria “autor de um método de 
doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização”. A partir dessa reportagem, Ana Freire, viúva do 
pedagogo, escreve uma carta em resposta. Nesta, algumas palavras são aspeadas, apontando para a polêmica 
em curso: 
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano 
que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. (...) 
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem 
parceiras do “filósofo” e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual 
(...) Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja 
como seu “Norte” e “Bíblia”, esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, 
que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. 
A palavra “filósofo”, utilizada entre aspas, possui o sentido de questionamento sobre Roberto Romano – este 
não seria um verdadeiro filósofo. As aspas funcionam como um questionamento do caráter apropriado da 
palavra “filósofo” para se referir a Romano. Já ao aspear as palavras “Norte” e “Bíblia”, é como se a autora 
dissesse: a revista Veja é considerada por alguns (no caso, pela elite inescrupulosa e pela classe média 
brasileira medíocre) como Norte e Bíblia, mas não por mim. Assim, o posicionamento é marcadamente contra 
a revista Veja e aqueles que a vêem como portadora da verdade. 
A partir desses exemplos, podemos notar como o uso de aspas cria efeitos de sentido importantes de 
serem compreendidos para a interpretação do texto como um todo e do posicionamento do autor do 
texto. 
 
 
 
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Atividades 
Responda as questões de concursos públicos, vestibulares e do ENEM:1) FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – UFT - Concurso Público para Provimento de 
Cargos de Administrador, Ano de 2006 
 
Liberalismo 
O liberalismo promoveu uma idéia curiosa: para fazer a felicidade de todos (ou, ao menos, da maioria), não 
seria necessário decidir qual é o bem comum e, logo, impor aos cidadãos que se esforçassem para realizá-lo. 
Seria suficiente que cada um se preocupasse com seus interesses e seu bem-estar. Essa atitude espontânea 
garantiria o melhor mundo possível para todos. Afinal, nenhum seria burro a ponto de perseguir seu interesse 
particular de maneira excessiva, pois isso comprometeria o bem-estar dos outros e produziria conflitos que 
reverteriam contra o suposto malandro. 
Ora, o liberalismo, aparentemente, pegou feio. Não paro de encontrar pessoas convencidas de que, cuidando 
só de seus interesses, elas, no mínimo, não fazem mal a ninguém. 
Converso com M., que dirige o táxi que me leva a Guarulhos. Falamos das perspectivas políticas. Ele está 
indignado com a corrupção das altas e das baixas esferas da política, convencido de que, sem ladrões, o país 
avançaria e resolveríamos nossos problemas. Concordo, mas aponto que, mesmo calculando generosamente, 
o dinheiro que some na corrupção não seria suficiente para mudar a cara do Brasil. Sem dúvida, deve ser bem 
inferior ao dinheiro que o governo deixa de arrecadar por causa da sonegação banal: rendas não declaradas, 
notas fiscais que só aparecem sob pedido e por aí vai. 
M. aceita essa idéia com gosto e lança uma diatribe contra os sonegadores, inimigos do povo brasileiro tanto 
quanto os corruptos. Pergunto a M. quanto ele paga de imposto de renda. Ganho a famosa resposta: “Não 
adianta pagar, porque nada volta para a gente”. Alego que não adianta esperar que algo volte, se a gente não 
paga. 
Essa história tem três morais: a democracia formal está forte; a concreta, nem tanto. Segunda: os espíritos são 
nobres, a carne segue fraca. Terceira: o nacionalismo brasileiro pode ser férvido, mas a experiência de uma 
comunidade de destino ainda está longe. 
(Contardo Calligaris, Terra de ninguém) 
 
Na conversa entre o autor e o motorista de táxi, fica claro que 
(A) ambos concordam quanto ao que seria suficiente para mudar a cara do Brasil. 
(B) ambos concordam quanto ao destino que vem sendo dado aos impostos arrecadados. 
(C) ambos sonegam impostos, embora defendam o sistema de arrecadação. 
(D) o autor se surpreende com a coerência das posições políticas do motorista. 
(E))o autor reconhece uma contradição entre as palavras e as práticas do motorista. 
 
 
2) Concurso Público para Provimento do Cargo de Agente de Apoio I Apoio Administrativo, FUNDAÇÃO 
CARLOS CHAGAS, Maio/2008 
 
Estratégias para aliviar o congestionamento de trânsito nas cidades esbarram no mesmo problema: por mais 
eficiente que venha a ser o transporte público, muita gente simplesmente não está disposta a abandonar o 
conforto de seu carro. Por essa razão, mesmo cidades com vasta malha de metrô, como Nova York, convivem 
com engarrafamentos eternos. 
Uma solução contra o excesso de veículos e a poluição baseia-se no conceito, nem sempre bem recebido, de 
que é preciso cobrar pelo uso do espaço público – no caso, as ruas e avenidas. Por essa lógica, em vez de 
incentivar o cidadão a ir de ônibus ou de metrô para o trabalho, deve-se agarrar tão fundo em seu bolso que 
ele se sentirá desestimulado de usar o carro. Essa estratégia, obviamente, só funciona se houver um transporte 
público de qualidade ao qual seja possível recorrer. Segundo um especialista em planejamento urbano, “o 
espaço nas vias públicas é um bem valioso, e as pessoas que querem usá-lo têm de pagar por isso”. Para ele, 
esse é o preço que se paga para ter as vantagens de morar nas cidades, onde há maior concentração de 
opções de lazer, serviços e empregos. 
A previsão de pedágio urbano consta do Plano Diretor de São Paulo, mas a prefeitura acha difícil colocá-lo em 
prática devido às deficiências do transporte público. 
(Adaptado de Thomaz Favaro. Veja. 13 de fevereiro de 2008, p. 104) 
“o espaço nas vias públicas é um bem valioso, e as pessoas que querem usá-lo têm de pagar por isso”. (2o 
parágrafo). 
 
 
 
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O emprego das aspas na frase acima assinala: 
 
(A) enumeração dos problemas de trânsito nas grandes cidades. 
(B) insistência numa informação desnecessária no texto. 
(C) afirmativa que contradiz todo o sentido do parágrafo. 
(D) reprodução exata das palavras de um especialista no assunto. 
(E) retificação da afirmativa anterior, sobre o transporte público. 
 
3) (UTFPR/PR) Universidade Tecnológica Federal do Paraná 
 
“A classe trabalhadora e a maioria dos dirigentes sindicais acompanharam o governo [governo de Getúlio 
Vargas], que a eles dedicou especial atenção. No 1o de maio de 1951, retomando os comícios no estádio do 
Vasco, Getúlio não poderia ser mais incisivo: 
 Preciso de vós, trabalhadores do Brasil. (...) Chegou a hora de o governo apelar para os trabalhadores e 
dizer-lhes: Uni-vos todos em vossos sindicatos como força livres e organizadas. O sindicato é a vossa arma de 
luta, a vossa fortaleza, o vosso instrumento de ação política. 
 O presidente não ficou nas palavras, e decretou a elevação do salário mínimo em dezembro daquele ano. 
No nível mais alto, fixado para o Rio de Janeiro e São Paulo, correspondeu a um aumento de aproximadamente 
300% do índice que ele mesmo estabelecera mais de oito anos antes.” 
 
(FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas: o poder e o sorriso. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.179) 
 
 
Marque a alternativa correta. 
 
(A) O texto mostra claramente que Getúlio Vargas era demagogo e autoritário. 
(B) O autor Boris Fausto demonstra, sem dúvida, que é contrário à figura política de Getúlio Vargas uma 
vez que o critica. 
(C) O discurso de Getúlio Vargas, citado por Boris Fausto, mostra que o trabalhador é manipulado e 
tratado como um simplório por Getúlio Vargas. 
(D) O texto destaca a dificuldade de Getúlio Vargas atrair o trabalhador visto que esse apresentava uma 
atitude bastante hostil a Vargas. 
(E) Boris Fausto destaca que o discurso de Vargas seguia o mesmo plano de sua ação, especialmente 
na oração “O presidente não ficou nas palavras”. 
 
4) Questão ENEM 2009 
 
A partida 
Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente 
dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restava-me, portanto, 
menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma 
hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor. 
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu 
quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. 
Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus? 
(LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003). 
 
No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó. 
Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho: 
 
A) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir” (ℓ. 1-3). 
B) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco” (ℓ. 4-6). 
C) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama” (ℓ. 12-13). 
D) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor” (ℓ. 7-9). 
E) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...” (ℓ. 14-15). 
 
5) Serafim da Silva Neto defendia a tese da unidade da língua portuguesano Brasil, entrevendo que no Brasil 
as delimitações dialetais espaciais não eram tão marcadas como as isoglossas1 da România Antiga. Mas 
Paul Teyssier, na sua História da Língua Portuguesa, reconhece que na diversidade socioletal essa 
pretensa unidade se desfaz. Diz Teyssier: 
“A realidade, porém, é que as divisões ‘dialetais’ no Brasil são menos geográficas que socioculturais. As 
diferenças na maneira de falar são maiores, num determinado lugar, entre um homem culto e o vizinho 
analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo nível cultural originários de duas regiões distantes uma da 
outra.” 
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SILVA, R. V. M. O português brasileiro e o português europeu contemporâneo: alguns aspectos da 
diferença. Disponível em: www.uniroma.it. Acesso em: 23 jun. 2008. 
 
1) isoglossa – linha imaginária que, em um mapa, une os pontos de ocorrência de traços e fenômenos 
lingüísticos idênticos. 
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 
 
De acordo com as informações presentes no texto, os pontos de vista de Serafim da Silva Neto e de Paul 
Teyssier convergem em relação 
 
A) à influência dos aspectos socioculturais nas diferenças dos falares entre indivíduos, pois ambos 
consideram que pessoas de mesmo nível sociocultural falam de forma semelhante. 
B) à existência de delimitações dialetais geográficas pouco marcadas no Brasil, embora cada um 
enfatize aspectos diferentes da questão. 
C) à variação sociocultural entre brasileiros de diferentes regiões, pois ambos consideram o fator 
sociocultural de bastante peso na constituição das variedades linguísticas no Brasil. 
D) à diversidade da língua portuguesa na România Antiga, que até hoje continua a existir, 
manifestandose nas variantes linguísticas do português atual no Brasil. 
E) à delimitação dialetal no Brasil assemelhar-se ao que ocorria na România Antiga, pois ambos 
consideram a variação linguística no Brasil como decorrente de aspectos geográficos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências bibliográficas utilizadas no módulo: 
FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação. São Paulo: Ática, 2002 
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2000 
MAINGUENEAU, Dominique. Elementos de lingüística para o texto literário. São Paulo: Martins Fontes, 2001 
PIRIS, E. L. . O ensino do discurso citado como recurso argumentativo. In: ERNST, Aracy; FUNCK, Susana 
Bornéo; LEFFA, Wilson J. (Org.). Seminário Nacional sobre Ensino de Línguas: Teorias Lingüísticas e ensino: 
Possibilidades e Limites. Pelotas: EDUCAT, 2007. 
 
Confira o gabarito das questões: 
1. E 
2. D 
3. E 
4. E 
5. B 
 
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