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PORTUGUÊS APOSTILA 6

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Curso Auxiliar Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
Leitura: efeitos de sentido II 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
2 
Leitura: efeitos de sentido II 
Oração do Internauta 
Satélite nosso que estais no céu, acelerado seja o vosso link, venha a nós o vosso host, seja feita vossa conexão, assim 
em casa como no trabalho. 
O download nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai nosso tempo perdido no Chat, assim como nós perdoamos os 
banners de nossos provedores. 
Não nos deixeis cair a conexão e levrai-nos do Spam, 
Amém! 
Você, certamente, percebeu que o texto “Oração do Internauta”, que circulou pela Internet, dialoga com a oração do Pai 
Nosso. De maneira geral, podemos afirmar que sempre recorremos a outros textos quando produzimos um texto. Por 
isso, nossos textos estão sempre dialogando explicita ou implicitamente com outros textos. O conceito de 
intertextualidade foi criado, justamente, para dar visibilidade à relação que se estabelece entre dois ou mais textos. 
Normalmente, um deles faz referência a elementos existentes no outro com objetivo de causar determinados efeitos de 
sentido: 
Oração do Internauta Pai Nosso 
Satélite nosso que estais no céu Pai Nosso que estais no Céu 
O download nosso de cada dia nos daí hoje O pão nosso de cada dia nos daí hoje 
Não nos deixeis cair a conexão e levrai-nos do 
Spam 
Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do 
Mal 
O texto “Oração do Internauta” é um intertexto, uma vez que retoma e modifica uma das mais frequentes orações 
cristãs. Segundo o Envagelho segundo Mateus e Lucas, o “Pai Nosso” seria uma oração ensinada por Jesus Cristo a 
seus discípulos, com o objetivo de eles terem um modelo de como orar corretamente a Deus. A “Oração do Internauta” 
apóia-se na forma da oração e no conteúdo, substituindo algumas palavras que simbolizam discursos específicos no 
campo religioso (pai, pão, tentação, mal) por outras comuns na era digital: satélite, download, conexão, spam, etc. 
O trabalho do leitor consiste em perceber a presença de outros textos, identificando o texto “fundador” para compreender 
o “intertexto”. Essa percepção dependerá essencialmente do conhecimento textual, enciclopédico e de mundo do 
leitor, telespectador e ouvinte. Segundo Koch e Elias (2008, p.78), “é importante destacar que a inserção de “velhos” 
enunciados em novos textos promoverá a constituição de novos sentidos”. Ao ler a “Oração do Internauta”, percebemos 
claramente que o jogo intertextual provoca várias alterações de sentido. Ao mesmo tempo, há um trabalho do autor para 
relacionar elementos, como os aspectos negativos: cair a conexão  cair em tentação; Mal  spam. 
No mundo virtual, circulam também outras orações, como a Oração dos Programadores: “Sistema operacional que 
estais na memória/ Compilado seja o vosso programa/ Venham à tela os vossos comandos/ Seja executada a nossa 
rotina/ Assim na memória como na impressora (...)i. 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
3 
Intertextualidade 
As autoras Koch e Elias (2006) afirmam que podemos dizer que ocorre intertextualidade “quando, em um texto, está 
inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade” (p.86). 
Nos exemplos do quadro abaixo, podemos perceber que há intertextualidade justamente porque vários artistas procuram 
parodiar o famoso quadro “Mona Lisa”, do pintor italiano Leonardo da Vinci, utilizando muitas vezes outros textos que 
fazem parte de nossa memória social. O leitor precisa, então, relacionar seu conhecimento da obra de arte com outros 
conhecimentos (personagens de histórias em quadrinhos e desenhos animados, personagens de contos de fadas, etc. 
Neste caso, o quadro da Mona Lisa é retomado por outros artistas. 
 
 
 
 
Existem várias formas de dialogar com os textos. Em alguns momentos, como estudamos no módulo 5, a citação da 
fonte é direta ou indireta. Ao encontrar uma citação de um romance em um artigo de opinião, podemos dizer que houve 
uma intertextualidade explícita (Koch & Elias, 2006). Em outros textos, temos uma intertextualidade implícita. 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
4 
Nos casos de intertextualidade implícita, não há uma citação direta ou expressa. Neste caso, o leitor precisará recuperar 
informações de sua memória para (re)construir o texto e sua relação com o intertexto, produzindo assim diversos efeitos 
de sentido. Como destacam Koch e Elias (2006), o leitor precisa também perceber quais os objetivos do produtor do 
texto para inserir implicitamente um texto em outro. Vejamos um exemploii: 
 
 
O texto produzido por Ziraldo, publicado em O Pasquim (1969-1971), retoma de forma intertextual a campanha 
publicitária do governo Emílio Garrastazu Médici. O slogan “Ame-o ou deixo-o” fez parte da campanha como forte 
sentimento nacionalista, com intuito de ampliar o apoio ao governo ditatorial. As pessoas não podiam protestar, mas 
deveriam amar o seu país. A tirinha mostra um discurso contrário à ditadura imposta pelos militares. O leitor precisa 
perceber o intertexto e a ironia. A tirinha dividida em duas partes mostra um homem beijando o chão, numa posição 
submissa, e depois sendo chutado, violentamente. Tais informações informam de forma irônica a falta de opções 
oferecida pela ditadura, ou seja, quem não se submete é expulso (ame-o...deixe-o). 
No outdoor abaixo, o leitor tem outro exemplo de como ele precisa ativar outros conhecimentos para a construção do 
sentido. Além de perceber que se trata de uma propaganda, veiculada no Carnaval, torna-se importante perceber o 
intertexto com a letra da música “Mamãe eu quero”, feita pelo compositor Jararaca em 1937. A música teve uma 
repercussão internacional na voz de Carmem Miranda, tornando-se um clássico da música popular brasileira. 
 
Mamãe eu quero, mamãe eu quero 
Mamãe eu quero mamar 
Dá a chupeta, dá a chupeta 
Dá a chupeta pro bebê não chorar 
Mamãe, mamãe, mamãe eu quero 
Mamãe eu quero 
Mamãe eu quero mamar 
Dá a chupeta, dá a chupeta 
Dá a chupeta pro bebê não chorar 
O leitor precisa ativar conhecimento intertextual para perceber o efeito de sentido provocado por esse jogo com os 
textos. Muitas vezes, o leitor precisa também ativar seus conhecimentos sobre os gêneros. No exemplo a seguir, vemos 
como um cartaz de propaganda institucional “brinca” com as informações e estilo presentes nas caixas de remédio. Os 
enunciados “Turbeculose® tem remédio” e “Procure um posto de saúde. É grátis”, estampados na camisa do artista, 
fazem referência ao formato, ao estilo de letras, a cores e organização espacial de caixas de remédio. O reconhecimento 
do gênero e de algumas de suas características pode auxiliar o leitor na construção dos sentidos, pois fornecem “uma 
chave para a interpretação do texto” (Kleiman e Moraes, 1999, p. 63). 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
5 
Nas 
propagandas, é bastante comum o recurso da intertextualidade. Em uma publicidade que trata de seguro de vida, 
observamos o seguinte enunciado “Pela estrada afora eu não vou bem sozinha. I. Seguros. Nossa especialidade é 
cuidar de você”. O leitor percebe aqui que a agência publicitária apostou na intertextualidade estabelecida entre o 
enunciado e a música cantada por Chapeuzinho Vermelho: “Pela estrada afora, eu vou bem sozinha”. Ao introduzir o 
advérbio “não” no enunciado da propaganda, o texto faz com que os leitores acreditem que eles não ficarão sozinhos 
na estrada como a Chapeuzinho Vermelho, uma vez que estão seguros com oproduto que lhes garantirá segurança. 
Observe a propaganda e procure perceber qual é o intertexto que provoca efeitos de sentido: 
 
Conforme Discini (2005), a intertextualidade é a “imitação de um texto por outro, para captá-lo ou para subvertê-lo”. 
Na propaganda anterior, você teve ter percebido como o texto publicitário de uma marca de papel retoma outra 
publicidade de uma esponja de aço. O enunciado “só não dá brilho em panela, ou seja, tem mil utilidades” retoma 
implicitamente outro texto da esponja de aço que dá brilho em panela: “tem mil e uma utilidades”. Desta forma, vemos 
como as relações textuais são complexas, exigindo do leitor um trabalho de recuperação dos implícitos. 
Os textos conversam entre si 
 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
6 
Para construção de sentido de alguns textos, o leitor precisará, como já comentamos, mobilizar um conjunto de 
conhecimentos prévios, especialmente de outras leituras e experiências. Leia a letra da música a seguir, procurando 
encontrar os intertextos: 
Bom Conselho 
 
Ouça um bom conselho 
Que eu lhe dou de graça 
Inútil dormir que a dor não passa 
Espere sentado 
Ou você se cansa 
Está provado, quem espera nunca alcança 
Venha, meu amigo 
Deixe esse regaço 
Brinque com meu fogo 
Venha se queimar 
Faça como eu digo 
Faça como eu faço 
Aja duas vezes antes de pensar 
Corro atrás do tempo 
Vim de não sei onde 
Devagar é que não se vai longe 
Eu semeio o vento 
Na minha cidade 
Vou pra rua e bebo a tempestade 
BUARQUE, Chico (1972) 
Você deve ter percebido que o compositor modifica vários provérbios para produzir determinados efeitos de sentido na 
letra da música. O intertexto, neste caso, são os provérbios que representam a voz do povo, de uma memória popular 
transmitida de boca em boca e de geração em geração. O que seria, de fato, um “bom conselho?” O leitor perceberá 
uma “subversão” dos conselhos, pois Chico Buarque ironiza justamente pelo fato de retomar os provérbios e ditos 
populares com outros sentidos. Vejamos alguns exemplos no quadro: 
Letra da música: Bom Conselho (1972) Provérbios: tradição oral popular 
Espere sentado 
Ou você se cansa 
Tudo alcança quem não espera sentado 
Está provado, quem espera nunca alcança Quem espera, sempre alcança 
Devagar é que não se vai longe Devagar se vai ao longe 
Ao negar os provérbios, o compositor estabelece outra relação com os provérbios, levando o leitor a fazer uma reflexão 
sobre os discursos que estão ao nosso redor. De forma também bem humorada, encontramos os “improvérbios”, escritos 
por Jô Soares: Devagar se vai a pé; A cavalo comprado se olha tudo; Quem madruga dorme cedo; Quem semeia vento 
não colhe coisa nenhuma; Quem conta um conto contou o cruzeiro, o cruzado e o real. Os provérbios são, assim, 
imitados, captados, subvertidos com objetivos específicos. Como aponta Discini (2005, p.152), “subvertem-se figuras, 
temas e modo de dizer”, instaurando a ludicidade de um outro modo de dizer. Na revista Veja, Jô Soares faz outra 
subversão, agora do poema Canção do Exílio de Gonçalves Dias (1847). Compare os dois textos: 
Canção do Exílio (1847) 
Minha terra tem palmeiras 
Onde canta o sábia 
As aves que aqui gorjeiam 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas 
Canção do Exílio às avessas (2006) 
Minha Dinda tem cascatas 
Onde canta o curió, 
Não permita Deus que eu tenha 
De voltar pra Maceió... 
Minha Dinda tem coqueiros 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
7 
Nossas várzeas têm mais flores 
Nossos bosques têm mais vida 
Nossa vida mais amores. 
Não permita Deus que eu morra 
Sem que eu volte para lá, 
Sem que desfrute os primores 
Que tais não encontro eu cá, 
Sem que’inda aviste as palmeiras 
Onde canta o sabiá 
Da ilha de Marajó 
As aves, aqui, gorjeiam 
Não fazem cocoricó... 
 
Observa-se assim um jogo de enunciados, uma intensa conversa entre os textos. Na letra da música, o enunciado 1 
“Pense duas vezes antes de agir” é negado, em parte, pelo enunciado implícito 2 “Aja duas vezes antes de pensar”. O 
poema de Jô Soares traz já um trabalho intertextual no próprio título: “Canção do Exílio às avessas”, ou seja, o poema 
será retomado em sentido inverso ou oposto. A intertextualidade aqui é visível pela retomada de alguns versos: 
Minha terra tem palmeiras 
 
(Enunciado 1) 
Minha Dinda tem cascatas 
 
(Enunciado 2) 
 
No enunciado 1, Gonçalves Dias 
encontra-se fora do Brasil e retoma 
seu ufanismo pela expressão 
“minha terra”. Jô Soares retoma o 
poema, alterando as palavras e os 
sentidos. “Dinda” faz referência a 
“Casa da Dinda”, nome da mansão 
da família Collor de Mello em 
Brasília, escolhida como moradia 
oficial na sua passagem pela 
Presidência da República. O termo 
“cascatas” reforça o sentido de 
mansão, expresso pela ironia do 
verso. 
 
Onde canta o sábia 
 
 
 
Enunciado 1 
Onde canta o curió 
 
Enunciado 2 
No enunciado 1, o poeta faz 
referência ao pássaro “sábia”, 
representando a fauna brasileira. 
O “sábia” é um pássaro popular, 
pois tornou-se símbolo por sua 
imensa notoriedade no Brasil. A 
paródia de Jô Soares traz um outro 
pássaro: curió, animal famoso por 
seu canto. 
As aves que aqui gorjeiam 
Não gorjeiam como lá. 
Enunciado 1 
 
As aves, aqui, gorjeiam 
Não fazem cocoricó... 
Enunciado 2 
Se no enunciado 1, percebemos 
uma voz social mais ufanista que 
compara as aves da Europa (aqui) 
com as brasileiras (lá), no 
enunciado 2 a ironia aponta para 
outros referentes. O advérbio 
“aqui” retoma o termo “Dinda”, ou 
seja, as aves são tão “ricas” que 
não fazem cocoricó, mas soltam 
sons agradáveis, cantam, 
gorjeiam. 
O poeta José Paulo Paes também retomou o poema “Canção do Exílio” para fazer um trabalho intertextual. Assim como 
a paródia de Jô Soares, o texto de José Paulo Paes retoma o texto original desde o título: “Canção de Exílio Facilitada”. 
Vejamos o diálogo intertextual: 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
8 
Canção do Exílio (1847) 
Minha terra tem palmeiras 
Onde canta o sábia 
As aves que aqui gorjeiam 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas 
Nossas várzeas têm mais flores 
Nossos bosques têm mais vida 
Nossa vida mais amores. 
Não permita Deus que eu morra 
Sem que eu volte para lá, 
Sem que desfrute os primores 
Que tais não encontro eu cá, 
Sem que’inda aviste as palmeiras 
Onde canta o sabiá 
Canção do Exílio Facilitada 
 
lá? 
ah! 
sabiá... 
papá... 
maná... 
sofá... 
sinhá... 
cá? 
bah! 
Veja no quadro a seguir, outros exemplos que demonstram a riqueza das formas de diálogo entre os textos, envolvendo 
a reconstrução de modelos de estruturas textuais e discursos preexistentes para a produção de novos textos, além do 
trabalho de citação e alusão a outros. 
Verde que te quero verde 
Com 90 mil metros quadrados, o 
Jardim Botânico Municipal Chico 
Mendes é considerado a segunda 
maior área verde de Santos, 
perdendo apenas para os jardins 
da orla da praia, cuja extensão é 
de sete quilômetros (...) 
Gênero: Notícia 
 
 
 
Verde que te quero verde. 
Verde vento. Verdes ramas. 
O barco via sobre o mar 
E o cavalo na montanha. 
Com a sombra pela cintura 
Ela sonha na varanda, 
Verde carne, tranças verdes, 
Com olhos de fria prata. 
Verde que te quero verde. 
Por sob a lua gitana, 
As coisas estão mirando-a 
E ela não pode mirá-las. 
 
Autor: Frederico García Lorca 
(1898-1936), poeta e escritor 
espanhol. 
Gênero: poema 
 
Verde que te quero rosa 
 
Verde como o céu azul, a esperança 
Branco como a cor da paz a se encontrar 
Rubro como o rosto fica 
Juntoà rosa mais querida 
É negra toda tristeza 
Se há despedida na avenida 
É negra toda tristeza desta vida 
(...) 
Verde que te quero rosa, é a Mangueira 
Rosa que te quero verde, é a Mangueira 
 
Autor: Cartola (1977) 
Gênero: Letra de música 
 
Enunciado 1: As Meninas 
Cahen d’Anvers – Rosa e Azul 
(1881) de Renoir . 
 
Enunciado 2: Versão criada por 
Maurício de Souza (1989). 
 
Enunciado 1: As meninas, de 
Diego Velázquez (1656). 
Enunciado 2: As meninas 
(segundo Velázquez), de 
Pablo Picasso (1957). 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
9 
“Os autores se apropriam, por meio de colagens, paródias, citações, reestruturações, etc, de textos construídos em 
outras épocas ou em outros lugares. E assim constroem outros textos, e muitas vezes, outras significações... Identificar 
esses diálogos entre os textos e compreender como se estabelecem essas relações é fundamental para a (re)construção 
dos sentidos do texto” (Takasaki, 2007, p.89). Nas questões de concurso, procure perceber as relações entre os textos... 
Atividades 
1. (ENEM) Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos 
conversam entre si em diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos: 
Texto 1 
Quando nasci, um anjo torto 
Desses que vivem na sombra 
Disse “Vai Carlos! Ser “gauche” na vida 
 
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. 
 
Texto 2 
 
Quando nasci veio um anjo safado 
O chato dum querubim 
E decretou que eu tava predestinado 
A ser errado assim 
Já de saída a minha estrada entortou 
Mas vou até o fim. 
 
BUARQUE, Chico. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 
 
Texto 3 
 
Quando nasci um anjo esbelto 
Desses que tocam trombeta, anunciou: 
Vai carregar bandeira. 
Carga muito pesada pra mulher 
Esta espécie ainda envergonhada. 
 
PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro, Guanabara, 1986. 
 
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação à Carlos Drummond de Andrade, por: 
a) reiteração de imagens. 
b) oposição de ideias. 
c) falta de criatividade. 
d) negação dos versos. 
e) ausência de recursos. 
 
 
 
2. Leia o fragmento: 
Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada felicidade que era 
inexplicável: no cais do porto viu um arco-íris. Experimentando o leve êxtase, ambicionou logo outro: queria ver, como uma vez 
em Maceió, espocarem mudos fogos de artifício. Ela quis mais porque é mesmo uma verdade que quando se dá a mão, essa 
gentinha quer todo o resto, o zé-povinho sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito algum, pois não é? 
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 
Considerando no contexto da obra o trecho sublinhado, é correto afirmar que, nele, o narrador: 
a) assume momentaneamente as convicções elitistas que, no entanto, procura ocultar no restante da narrativa. 
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da própria Macabéa diante dos fogos de artifício. 
c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a reação de Macabéa frente ao espetáculo. 
d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente as injustiças sociais e cobrando sua superação. 
e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito antipopular, desenvolvendo-a na direção da ironia. 
 
Com licença poética 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
10 
Quando nasci um anjo esbelto, 
desses que tocam trombeta, anunciou: 
vai carregar bandeira. 
Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada. 
Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir. 
Não sou tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza e 
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. 
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. 
Inauguro linhagens, fundo reinos 
- dor não é amargura. 
Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. 
Mulher é desdobrável. Eu sou. 
PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1995, p.11. 
3. 
Questão 03 
Adélia Prado é considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras contemporâneas. Sua poesia trata de temas que vão 
do mistério da criação poética à vida cotidiana, passando pela condição feminina. Leitora contumaz, ela estabelece uma série de 
diálogos com obras e autores de nossa literatura. Como podemos explicar o título do poema?iii 
 
4. A tela de Tarsila do Amaral apresenta um tema que também se encontra nos versos transcritos em 
 
 
 
a) “Pensem nas meninas / Cegas inexatas / Pensem nas mulheres Rotas alteradas.” (Vinícius de Moraes) 
b) “Somos muitos severinos / iguais em tudo e na sina: / a de abrandar estas pedras/ suando-se muito em cima.” (João Cabral de Melo 
Neto) 
c) “O funcionário público não cabe no poema / com seu salário de fome / sua vida fechada em arquivos.” (Ferreira Gullar) 
d) “Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer ser nada. /À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando 
Pessoa) 
e) “Os inocentes do Leblon / Não viram o navio entrar (...) / Os inocentes, definitivamente inocentes / tudo ignoravam, / mas a areia é 
quente, e há um óleo suave que eles passam pelas costas, e aquecem.” (Carlos Drummond de Andrade) 
 
Leia os textosiv: 
Texto I 
Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar 
a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastava a sua mocidade nisso, a 
sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? 
Matando-o . E o que não deixava de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara _ todo esse 
lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara. (...) 
E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado a sua vida norteado por uma ilusão, por uma 
idéia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía? 
(Triste Fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto) 
Texto II 
Quando o português chegou 
Debaixo duma bruta chuva 
Vestiu o índio 
Que pena! 
Fosse uma manhã de sol 
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Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
11 
O índio tinha despido 
O português. (Poesias 
Reunidas - Oswald de 
Andrade) 
Texto III A cada canto 
um grande conselheiro, 
Que nos quer governar 
cabana e vinha; 
Não sabem governar sua 
cozinha, E podem 
governar o mundo inteiro. 
Em cada porta um bem 
freqüente olheiro, 
Que a vida do vizinho e da 
vizinha Pesquisa, 
escuta, espreita e 
esquadrinha, Para o levar à 
praça e ao terreiro. 
Muitos mulatos 
desavergonhados, 
Trazidos sob os pés os homens nobres, 
Posta nas palmas toda picardia, 
Estupendas usuras nos mercados, 
Todos os que não furtam muitos pobres: 
E eis aqui a cidade da Bahia. 
(Satírica, vol 1 - Gregório de Matos) 
5. Considerando os textos lidos anteriormente, marque a análise errada: 
(A) Os textos II e III são próximos entre si, no que diz respeito à dominação estrangeira sobre a cultura local. 
(B) Também no texto I é possível entrever a presença de um dominador, mas diferenciado comparativamente aos outros dois textos 
(C) No texto II percebe-se uma expectativa quanto a uma forte reação indígena contra o invasor 
(D) Em que pese a atitude nacionalista nos três textos, apenas o autor do III faz alusão a um dos males do Brasil:a corrupção. 
(E) Tendo em vista a ordem cronológica dos aspectos históricos implícitos, a ordem dos textos é II, III e I. 
6. Ainda sobre os textos lidos, aponte o erro: 
(A) O foco narrativo de 3ª pessoa e o fato de não ter o componente satírico são diferenciadores do texto I, relativamente aos outros 
dois 
(B) No texto II não se faz presente o artificialismo típico da linguagem poética 
(C) Dois quartetos e dois tercetos, em versos decassílabos, são componentes do soneto, como no texto III 
(D) A intertextualidade que aproxima e equaliza os três textos origina-se da abordagem cultural 
(E) Quanto aos períodos literários a que pertencem, os textos são, respectivamente, pré-moderno, moderno e barroco 
 
 
 
 
Confira o gabarito das questões: 
1. A 
2. E 
3. “Duas expressões cristalizadas são evocadas no título, a saber, "com 
licença" e "licença poética". O jogo de palavras permite condensar 
uma série de aspectos presentes no poema. A expressão "com 
licença" evoca a idéia de pedido de permissão, associável no poema, 
entre outras coisas, à apropriação do texto de um outro poeta e à 
caracterização da condição ainda submissa da mulher. Já a 
expressão licença poética remete às liberdades especiais 
franqueadas pela linguagem poética, ao espaço aberto pela poesia 
para a transgressão e para o inusitado”. 
4. B 
5. C 
6. D 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas 
DISCINI, Norma. Comunicação nos textos. São Paulo: Contexto, 2005. 
KOCH, Ingedore; ELIAS, Vanda. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. 
KOCH, Ingedore; BENTES, Anna; CAVALCANTE, Mônica. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo, Cortez. 
KLEIMAN, A. MORAES, S. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. São Paulo: Mercado 
de Letras, 1999. 
TAKASAKI, Heloísa. Língua Portuguesa. São Paulo: IBEP, 2005. 
 
 
i Exemplos retirados de Koch, Bentes e Cavalcante (2007). 
ii O segundo texto encontra-se em Fortuna, O Pasquim: Antologia, Vol. 1 (1969-1971). Rio de Janeiro: Desiderata, 2006, 
p. 211. 
iii O comentário da questão foi retirado de: http://www.puc-rio.br/vestibular/repositorio/provas/2003-2/portugues-
todos.html 
 
iv Questão retirada do site: http://www.enem.coc.com.br/simulado.asp

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