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Relatório ONU Eles Por Elas Pesquisa Qualitativa2016

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Precisamos
falar com 
os homens?
Uma jornada pela igualdade de gênero.
Um projeto: Pesquisa Quantitativa: Viabilizador:
REPORT DE PESQUISA QUALITATIVA
Novembro de 2016
22
A ONU Mulheres e o portal PapodeHomem, com viabilização do Grupo 
Boticário, realizaram uma pesquisa nacional - desenvolvida pela Questto|Nó 
Research em parceria com a Zomma e a consultoria de gênero de Gustavo 
Venturi – cujo objetivo é entender como os homens podem participar do 
diálogo pela igualdade de gênero.
Este trabalho faz parte da campanha mundial ElesPorElas, lançada pela ONU 
Mulheres em 2014 por meio de um vídeo de grande popularidade protagonizado 
pela atriz Emma Watson.
A ONU Mulheres é a nova liderança global em prol de mulheres e meninas. A 
sua criação, em 2010, foi aplaudida no mundo todo e proporciona a oportunidade 
histórica de um rápido progresso para as mulheres e as sociedades. Na visão 
da ONU Mulheres, as mulheres e meninas de todos os países têm o direito a 
uma vida livre de discriminação, violência e pobreza e a igualdade de gênero 
é um requisito central para se alcançar o desenvolvimento.
A ElesPorElas é uma campanha para a igualdade de gênero e o empoderamento 
das mulheres, cujo objetivo é engajar homens e meninos para novas relações 
de gênero, sem atitudes e comportamentos machistas.
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Este estudo tem o objetivo de criar um material que aproxime homens e 
mulheres da discussão sobre equidade de gêneros.
Para tal, foi adotada uma linguagem mais acessível na forma de dissertação 
sobre os principais conceitos do tema, conceitos que, em sua maioria, envolvem 
um vocabulário acadêmico e intricado para o público geral.
Na etapa inicial, uma pesquisa bibliográfica foi realizada com o intuito de 
alcançar uma visão holística e abrangente sobre o universo estudado, além 
disso uma pesquisa qualitativa ouviu por meio de entrevistas em profundidade 
estudiosos e a outros profissionais relacionados ao tema, bem como mais de 
150 pessoas abordadas nas ruas de três capitais brasileiras (São Paulo, Rio de 
Janeiro e Recife).
Em um segundo momento, foi realizada entre os meses de fevereiro e 
abril de 2016 uma extensa pesquisa quantitativa online, com mais de 20.800 
respondentes de todos os estados do país. Tal estudo contou com a participação 
proporcional de mulheres e homens, considerando-se tanto o sexo biológico 
como o gênero. 
Ainda em relação à pesquisa quantitativa, aqueles e aquelas que 
responderam ao questionário têm idade média de 28 anos (foram ouvidas 
pessoas com idade entre 16 e 60 anos). Além disso, pouco mais da metade 
é solteira, enquanto um em cada quatro é casado/casada ou mora com sua 
parceira ou parceiro. Já a escolaridade mostrou-se acima da média nacional: 
cerca de uma em cada duas pessoas possuem curso superior completo ou em 
andamento, e quase três a cada dez, algum tipo de pós-graduação. 
Ao longo do trabalho, a equipe de realização da pesquisa e do relatório 
contou com a consultoria e o suporte de Gustavo Venturi, professor de 
sociologia da Universidade de São Paulo, pesquisador da questão de gênero 
e outros marcadores sociais da diferença, coordenador da pesquisa e 
organizador do livro "Mulheres e Gênero nos Espaços Público e Privado" (Ed. 
Sesc/FPA, 2013). Fica aqui um profundo agradecimento por sua dedicação e 
ensinamentos.
3
4
Vivemos em uma cultura e sociedade com valores que seguem construindo 
contextos de desigualdades, sejam elas econômicas, raciais e de gênero, entre 
outras.
Este material parte dos argumentos de que a cultura brasileira 
contemporânea é uma cultura machista. Nosso objetivo é mostrar como 
o machismo surge, quais as suas consequências para homens e mulheres e 
possíveis caminhos para a construção de outras narrativas sobre os papéis de 
gênero em nossa sociedade.
4
1
Desigualdade de gênero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
O patriarcado e suas construções simbólicas.
2
Os estereótipos de gênero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
Homem e mulher em suas piores faces: 
a armadura do herói e o vestido de princesa
3
Desconstrução de papéis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
A caminhada das mulheres e a 
desvalorização do capital viril
4
Caminhos de desconstrução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Conscientização e outras narrativas
ÍNDICE
66
INTRODUÇÃO
1.Os estereótipos de gênero masculinos 
e femininos
A experiência de masculinidade ou feminilidade varia para cada pessoa ao 
longo de sua vida, no entanto existem crenças fundamentais do sobre o que 
é ser homem e mulher que atingem a sociedade como um todo e formatam a 
narrativa da nossa cultura.
Este conteúdo pretende abordar a construção e desconstrução dessas 
crenças assumidas como verdade, sobretudo o masculino em sua rede de 
dominação e privilégio em relação a outros homens e às mulheres.
Não está proposto aqui um aprofundamento referente às diferentes 
orientações sexuais de homens e mulheres nem à questão da população 
transgênera, suas lutas e desafios específicos na sociedade. O estudo se 
concentra na premissa da percepção de que as características atribuídas ao 
masculino são vistas como superiores àquelas associadas ao feminino e busca 
apontar caminhos inspiradores para possíveis desconstruções.
7
2.Diferenças biológicas e o viés da 
cultura
Homens e mulheres são diferentes. Têm hormônios, órgãos sexuais e 
atributos biológicos distintos – as mulheres podem gestar filhos, os homens 
não. Os homens produzem mais testosterona e, em geral, são fisicamente mais 
fortes que as mulheres. 
A composição biológica é relevante. Contudo, a biologia é atravessada pela 
cultura. A narrativa cultural vigente se utiliza, muitas vezes, de diferenças 
biológicas para justificar expectativas de comportamentos e atribuir uma 
aparente naturalidade a eles, visando estabelecer ou manter a ordem desejada.
Existem diversas visões quem apontam o que é instinto, o que é uma 
construção histórica, onde termina um e começa o outro, mas os limites ainda 
não estão estabelecidos nem constituem uma unanimidade. Este trabalho 
reconhece tal questão e por isso busca se concentrar nos aspectos mais 
contundentes da cultura em suas consequências para mulheres e homens.
capítulo 01
Desigualdade 
de gênero
O patriarcado e suas 
construções simbólicas
8
99
A sociedade vive sob um sistema de 
regras de comportamento e valores. 
Pode parecer natural, pois estamos 
acostumados a ele, mas esse conjunto 
de condutas é construído e reforçado 
ao longo do tempo pelas diversas 
instituições sociais - Estado, 
religião, mídia, família, empresas, 
entre outros.
9
1010
O sistema vigente há aproximadamente cinco mil anos é o chamado:
Homens desempenham os papéis de liderança, são a autoridade moral 
e possuem uma série de privilégios sociais: todas as relações refletem o 
poder e o domínio masculinos.
A origem do patriarcado remonta à época da passagem do nomadismo para 
o sedentarismo, possível a partir do domínio da domesticação de animais 
e da agricultura. Destas, surge a noção de propriedade da terra, primeiro, 
coletiva, depois privada. 
Com essas mudanças, começa a surgir uma geração excedente de recursos, 
que geralmente fica de posse dos homens. Isso teria levado à passagem de 
sociedades matrilineares – em que prevalecia o direito e a descendência 
maternos – para sociedades em que passa a prevalecer a descendência paterna 
e o direito dos pais sobre os filhos (patrilineares). Institui-se a famíliapatriarcal, centrada no homem mais velho, cujo poder lhe dá direito de vida 
e morte sobre a esposa, filhos e escravos. E, da necessidade de assegurar a 
paternidade dos filhos para a transmissão de herança, impõe-se a família 
monogâmica, selando a dominação dos homens sobre as mulheres também no 
campo da sexualidade. 
Assim, os valores do patriarcado chegam a nossos dias, trazendo consigo 
o machismo e a misoginia, que defendem a ideia da supremacia masculina 
e heterossexual diante do feminino da homossexualidade, bem como 
reproduzindo desigualdades e discriminações de gênero em todas as esferas 
sociais. 
PATRIARCADO
1111
Esta é a estrutura cultural sobre a qual a sociedade contemporânea está 
apoiada. Não é um destino inevitável, mas sim uma rede de acontecimentos e 
escolhas que formou, estabeleceu e reproduz esse cenário. Uma história que 
se tornou verdade e que pode ser resumida em uma palavra:
MACHISMO.
O machismo é a ideia de que existe um sistema hierárquico de gênero no 
qual o que é masculino ocupa sempre uma posição superior ao que é feminino.
Ou seja, o machismo é a concepção errônea de que os homens são “superiores” 
às mulheres.
O machismo está presente no nosso cotidiano, nas ruas, no trabalho, na mídia, 
na publicidade e em casa. Basta observar o contexto social e os acontecimentos 
para perceber suas manifestações, que acarretam desigualdades e atraso 
no desenvolvimento sócioeconômico. No entanto, muitas vezes o machismo 
não é identificado enquanto tal ou é classificado como exagero. Aprendemos 
a conviver com ele, naturalizando-o, e dificilmente questionamos suas 
expressões.
PATRIARCADO
Homens buscando exercer 
poder sobre outros homens: 
competindo e controlando em 
um esforço por supremacia.
Homens buscando exercer poder 
sobre as mulheres: estabelecendo 
o feminino como inferior. 
1212
“Você diria que 
o machismo é:” homens mulheres
87% 86%
Além de reconhecer que existe machismo, a grande maioria das pessoas 
acredita que ele é ruim para homens e mulheres.
Acreditam que “o machismo é 
ruim para os homens e para as 
mulheres”.
“Quão machista 
você se considera, 
pensando em suas 
atitudes do 
dia a dia?”
consideram 
“bastante 
machistas”
consideram 
“nada 
machistas”
3% 23%
Mesmo reconhecendo a existência do machismo e seu caráter negativo, na 
prática, poucos homens se assumem machistas:
“Existe machismo 
no Brasil?”
homens mulheres
81% 95%
Sobre a percepção da existência do machismo:
Concordam que “existe 
muito machismo”.
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
1313
Falta repertório
Falta reconhecimento
Falta acolhimento
Tem gente que não vê o machismo porque o naturaliza e não tem repertório 
para reconhecê-lo. Para esses, machista, é aquele cara ultra violento e 
extremamente conservador.
Tem gente que concorda com a teoria mas não enxerga suas atitudes, não aceita 
quando comete um deslize. Dois pesos, duas medidas: machistas são os outros.
Tem gente que sabe que existe o machismo mas acredita que é assim mesmo, 
“que essa onda do politicamente correto está deixando tudo muito chato…”.
“Eu não sou. Machista é o tiozão 
bêbado que bate na mulher.”
“Consigo reconhecer um cara 
machista, mas eu não sou.”
“Machista, eu? Imagina… Foi só uma 
piadinha, deixa de ser chata…”
E por que 
isso acontece?
14
“Há uma grande dificuldade de a pessoa se reconhecer como 
machista. A primeira reação é: ‘Eu não sou machista, você está 
falando com a pessoa errada’... As pessoas tem grande dificuldade 
de reconhecer em si atitudes que elas recriminam. Quem é a 
pessoa que vai se dizer racista? Homofóbico? Machista? Mas as 
nossas instituições, a nossa cultura, se reproduzem a partir do 
modelo machista, homofóbico, sexista e orientados por classes. 
Portanto, não tem como você, de dentro do buraco, tentar sair. 
Qual é o grande movimento? Passe a reconhecer, a ter 
dúvidas, e comece a repensar suas práticas. Você vai perceber, 
direta ou indiretamente, que em algum momento você assumiu 
uma prática – até mesmo por defesa, por afirmação de si – que 
estava baseada em um modelo que você não gostaria.”
“Desconfie sim de alguém que diz que tudo mudou, desconfie 
sim de alguém que acha que os homens e as mulheres já estão 
em posições de igualdade. (…) Essa ideia de diferenciação 
do masculino e do feminino não nos ajuda de forma alguma. 
Ela contribui para a manutenção de determinado modelo de 
opressão e não garante felicidade a ninguém.”
Homem, especialista, Recife
“Uma das formas mais perversas 
de impedir que a igualdade 
realmente aconteça é dizer que 
ela já existe.”
Daniela Lima, escritora, em artigo sobre a obra de Simone de Beauvoir
1515
física
simbólica
VIOLÊNCIA
emocional
A maior expressão do machismo é a: 
Violência de homens contra mulheres, de homens contra outros homens.
A pesquisa quantitativa mostrou, que existe uma enorme discrepância 
entre homens que afirmam ter cometido violência e mulheres que afirmam ter 
sofrido violência. Ou seja, embora amplamente percebida pelas mulheres, a 
violência é pouco reconhecida pelos homens.
Pergunta
“Insistir muito para que o sexo 
aconteça, mesmo quando o parceiro não 
está nada a fim.” 
Gênero* 
masculino
Gênero 
feminino
Já sofri e cometi 
esse ato 11%
63,3%
15%
10,7%
6,1%
46,2%
13,7%
34%
Nem sofri nem cometi 
esse ato
Já cometi esse ato
Já sofri esse ato
*Gênero é um conceito social e se refere aos aspectos culturais e sociais associados ao fato de se pertencer ao sexo 
masculino ou feminino. As características de gênero podem variar de acordo com a sociedade.
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
16
Às vezes não se nota a violência. É 
difícil enxergá-la no cotidiano, mas 
ela está presente nas mais diversas 
modalidades de agressão: uma palavra, 
um preconceito, uma piada, uma ameaça, 
um apertão, um tapa.
O primeiro passo é reconhecer que o 
machismo existe e que ele NATURALIZA 
a violência e a desigualdade entre 
homens e mulheres.
“O machismo é nocivo para os homens enquanto efeito, 
porque as práticas do machismo são violências sobre o outro. 
Então elas aparentemente resolvem o problema. Qualquer ação 
machista está sustentada na ideia da ausência de diálogo. 
Então, em um primeiro momento ela cria certa sensação de 
vitória, de conquista, de poder, ma s ela é esvaziada porque ela 
anula o outro.” 
Homem, especialista, Recife.
16
17
capítulo 02
Os estereótipos 
de gênero
Homem e mulher em suas piores 
faces: a armadura do herói e o 
vestido de princesa
17
1818
MULHERESHOMENS
A cultura patriarcal é constituída 
de estereótipos de gênero que 
determinam a forma como homens 
e mulheres devem se comportar 
na sociedade.
A masculinidade hegemônica 
Todo menino atravessa um período de aprendizagem sobre o que se espera 
dele como representante do sexo masculino. A família, a comunidade, a escola, 
a religião e a mídia ensinam a ele quais comportamentos são masculinos, e 
ele percorre um longo caminho até tornar-se “homem”.
Os homens também são levados a seguir um modelo ocidental, 
heteronormativo, branco. Neste sentido, homens negros, homossexuais e 
índígenas são vistos como “de segunda categoria” na nossa sociedade.
A obtenção das atribuições consideradas masculinas costuma se 
caracterizar por um processo violento (físico, emocional e simbólico), sendo 
a violência umadas raízes que constituem a masculinidade.
PATRIARCADO
A construção da identidade masculina 
estereotípica pode ser expressa em 9 
ensinamentos básicos.
HOMENS
1.
Cultura 
do Herói
2.
Expressão: 
violência
9.
Provedor
8.
Trabalho
7.
Sexo
6.
Pertencimento
ao grupo
3.
Heterossexualidade
4.
Restrição 
emocional
5.
Capital 
Viril
19
2020
1.Cultura do Herói
Por meio de histórias, vivências e ensinamentos , o menino aprende que o 
mundo é violento, que existem o bem e o mal, heróis e vilões, ganhadores e 
perdedores, e que é preciso saber lutar e ser valente para conquistar o que 
se deseja.
A mídia e os meios de comunicação de massa têm um papel estrutural na 
reprodução e reforço dessas concepções de ideal masculino. A imagem do 
homem corajoso, forte e viril de um lado e da mulher sexy, delicada e doce, 
de outro, é comunicada de forma constante e por meio dos estereótipos do 
“Herói” e da “Princesa”.
 A identificação com a figura do Herói acontece por dois motivos:
1) O homem vê no Herói a manifestação do ideal masculino: junto com a 
“perfeição moral” que se deve atingir, o Herói também alcança a “perfeição 
física”.
2) O herói dos filmes se apresenta como alguém real, que vive conflitos 
existenciais similares aos que um homem comum pode enfrentar. 
2.Expressão: violência
Meninos aprendem que homens são fortes e que mulheres são frágeis; que 
homens não levam desaforo para casa; que não devem apanhar; que devem 
saber se defender e reagir quando provocados ou ameaçados. A violência 
masculina é um dever ensinado.
A violência pode ser entendida como uma expressão de insegurança 
masculina ou como uma forma de manutenção e perpetuação do ideal 
masculino hegemônico.
“Os meninos são ensinados. Eles não nascem violentos. 
Os jogos infantis os colocam na rua, e as meninas ficam com 
o ‘cuidar’. São formas institucionalizadas de conduta que se 
reproduzem tanto que viram verdade. E, para você ser homem, 
tem de ter um posto de poder e exercer violência.”
Homem, especialista, Recife
2121
3.Heterossexualidade
Meninos são ensinados que devem sentir atração apenas pelo sexo oposto. 
Desse modo, a heterossexualidade passa a ser um referencial “obrigatório” 
para o homem. Qualquer indivíduo que fuja da regra heterossexual pode ser 
tratado com descaso, desprezo, humilhação e até violência física. A violência 
também pode se manifestar como um sentimento negativo contra si mesmo 
em razão de sua orientação fora da “norma sexual”.
“É difícil ser um homem hetero que tem amigos gays e que 
não se preocupa em ferir a sua masculinidade por isso...”
Homem, 26 anos, São Paulo
“Na escola tem isso. Se o cara sabe desenhar, as pessoas 
falam: ‘Vai ser arquiteto, arquiteto é gay… Se fosse homem 
mesmo, fazia engenharia’. Um bagulho escroto que vem do 
professor, do mestre, como se fosse brincadeira. Quando tem a 
ver com gênero, com raça, nunca é brincadeira.”
Homem, 26 anos, São Paulo
4.Restrição emocional
Expressões populares como “para de chorar e fala que nem homem, rapaz!”, 
“medo é coisa de mulherzinha” e outras criam um temor nos homens de serem 
percebidos como fracos e afeminados. Com isso, o menino aprende a desprezar 
as emoções e a controlar sentimentos que o tornem vulnerável ou o associem 
ao feminino.
A proibição social da expressão das emoções por parte dos meninos cria 
uma inabilidade em compreender a si ao outro. Consequentemente, essa 
falta de sustentação emocional e de empatia leva muitos homens a assumir 
comportamentos violentos.
“Se um menino cai da bicicleta, você diz logo: ‘Menino, 
levanta daí, aguenta o choro’. Se uma menina cai da bicicleta, 
você faz carinho, vê se ela está bem, arruma o vestidinho, 
porque ela é um ser frágil.”
Homem, especialista, Recife
22
5.Capital viril
Nossa sociedade incentiva os meninos a manifestarem a sua virilidade e 
a provarem que são “machos”. Para se afirmarem, eles precisam competir, 
vencer, derrotar, rebaixar e feminilizar outros meninos.
A imagem do homem viril se faz justamente em oposição aos valores 
femininos: o homem macho, forte e inflexível é construído socialmente em 
detrimento da mulher frágil, doce e flexível. 
A aproximação a valores e comportamentos femininos representa um 
afrontamento à condição de macho do homem viril. Qualquer homem que se 
afaste desse ideal é atacado em algum momento com palavras de violência.
“O homem é criado para ser forte, dominante. O pai passa 
para o filho que se ele apanhou, deve bater também. Eu escutava 
muito do meu pai: ‘Se chegar em casa apanhado, apanha de novo’.”
Homem, 40 anos, Recife
23
6.Pertencimento ao grupo
A entrada em um grupo é um acontecimento inevitável na passagem da 
infância para o mundo adulto e um referencial significativo na construção 
da identidade do homem. Para se afirmar e ser aceito nesse coletivo o jovem 
desempenha papéis sociais e passa por uma série de situações cotidianas nas 
quais precisará testar a sua coragem, competência sexual e lealdade. 
Os grupos formados por homens jovens costumam reforçar os 
estereótipos masculinos nocivos que podem ser identificados, por exemplo, 
em comportamentos agressivos na rua, no uso exacerbado de drogas/bebidas 
alcoólicas e na direção imprudente. Ou seja, a necessidade de demonstrar 
força para a afirmação da masculinidade dentro do grupo faz com que homens 
jovens se exponham deliberadamente a situações de risco. 
“Quando eu tinha meus 17 anos, a gente fazia muita loucura por 
aí. Tinha uma turma, vários amigos de fé, e a gente brigava na 
rua, roubava o carro do pai dava carona para as meninas, bebia 
até cair e achava graça.”
Homem, 35 anos, São Paulo
7.Sexo
O desempenho sexual é apresentado como uma das principais referências e 
preocupações para a construção da masculinidade. Ele passa a ser percebido 
como uma espécie de “novo esporte” em que se disputa a dominação da mulher; 
espera-se do homem um comportamento ativo, e da mulher, um comportamento 
passivo, receptivo e de objeto de desejo.
Além de pressupor que o homem sente desejo sexual constantemente, esse 
ideal sugere a subjugação da mulher a partir da violência: o homem entende 
que a mulher deve estar a seu dispor e que ele pode controlar a sua sexualidade. 
Em sua forma mais cruel, essa hostilidade sexual compreende, entre outros, 
o estupro, o incesto e o assédio, violências que expressam a dominação de 
gênero.
“Meu pai dizia que eu tinha de transar com todas as mulheres 
até os 30 anos e depois escolher uma para casar. E para 
conseguir isso, valia tudo: dar bebidinhas, passear de carro, 
pagar jantares, comprar presentes...”
Homem, 28 anos, São Paulo
23
2424
8.Trabalho
O trabalho é um fator fundamental na constituição da identidade tradicional 
masculina, pois comporta valores morais que qualificam os homens que 
trabalham como honestos, responsáveis e dignos, e os que não trabalham, 
como vagabundos, desonestos e sem valor. 
O desempenho profissional é uma das principais referências para o 
ideal de comportamento masculino e, quando ele é pouco satisfatório, pode 
desencadear o sentimento de fracasso no indivíduo enquanto “homem”.
Em alguns casos, essa sensação de frustração e baixa autoestima pode 
levá-lo a fazer uso da violência como uma alternativa de defesa contra essa 
condição.
Ao mesmo tempo, a representação social dos homens no mercado de 
trabalho carrega benefícios significativos quando comparados às mulheres. 
Eles são maioria nos cargos de direção, são culturalmente mais aceitos na 
esfera pública e política e recebem maiores salários. 
“Meu marido não está trabalhando nesse momento… Ele é músico 
e hoje passa o dia em casa. O novo apelido dele é Zé Bostinha 
(risos).”
Mulher, 41 anos, Recife
9.Provedor
A posse de determinados bens materiaise a aquisição de poder econômico 
são alguns dos atributos do ideal masculino contemporâneo. Se ser homem 
está atrelado a ter poder, não ser poderoso significa simbolicamente não ser 
homem. Ou seja, para ser considerado um “homem de verdade” é necessário 
trabalhar, acumular bens e sustentar a família. 
Quando esse padrão não se concretiza, a violência se torna um meio de 
comprovar para si mesmo e para os outros a sua condição viril e, portanto, 
masculina.
“Eu falo para o meu filho que ser o provedor da casa faz parte 
de ser homem… Acho que o homem tem esse dever bíblico… O 
homem tem de ser o provedor, ser forte, proteger… O homem que 
protege é um homem bom…”
Homem, 36 anos, Rio de Janeiro
25
Estereótipo masculino: o Herói Durão
Seguir essa receita significa preencher boa parte dos requisitos de uma 
lista de expectativas de como os homens devem ser, agir, sentir e falar. 
Ao longo do tempo, esses padrões de crenças e comportamentos são 
absorvidos enquanto verdade e, como que instintivamente o homem atinge a 
vida adulta vestindo uma armadura: a Armadura do Herói.
A chamada Caixa do Homem é uma linha traçada em torno das expectativas 
de um ideal masculino, com formas e limites rígidos, que oferece privilégios 
e ao mesmo tempo “aprisiona” os homens. Uma lista tão extensa que demanda 
deles um heroísmo artificial e inatingível.
Muitos homens carregam desde a infância o estigma de fracassados ou 
inferiores por apresentarem características físicas, psicológicas, sexuais ou 
sociais que não correspondem às expectativas da masculinidade hegemônica.
Não alcançar esse modelo cultural significa ter a masculinidade 
ameaçada, e a forma mais primária de reafirmá-la é por meio da violência.
Heterossexual
Fisicamente apto
Corajoso
Forte
No controle
Ativo
Sexualmente experiente
Prontidão sexual
Fala firme
Não demonstra emoções
Sabe se defender 
Não chora
Sexualmente impositivo
Trabalhador
Provedor
Não comete erros
Não desiste
Aguenta o tranco
Competitivo
Bem-sucedido
Bully
Dominante em 
relação à mulher
A Caixa do Homem
2626
A Caixa do Homem
Maricas
A Caixa representa e reforça os parâmetros do que é socialmente esperado, 
ao mesmo tempo que salienta e pune os comportamentos e atitudes indesejados.
Quando meninos e homens se portam de forma que remetem ao universo 
feminino, frágil ou infantil, eles escapam para “fora da caixa” e chamam 
atenção pela quebra do “código de conduta” . Logo serão empurrados de volta 
por meio de expressões ofensivas, que funcionam como lembretes de que 
não estão se comportando conforme o esperado, ou seja, como “homens de 
verdade”.
Menininha
Gay
Bebezão
Bicha
Covarde
Filho da 
mamãe
Criado 
pela vó
Frouxo
FracoteEsquis
ito
Nerd
2727
MULHERES
Assim como os homens, as mulheres são fruto de uma sequência de 
aprendizados sobre como devem se comportar.
Há uma rigidez no conjunto de características associadas ao feminino 
e, em geral, os atributos mais valorizados são aqueles adotados, direta ou 
indiretamente, com o intuito de beneficiar e agradar os homens.
A expressão da feminilidade é marcada pela constante validação 
masculina. E reflete uma submissão: aos seus desejos, seu julgamento, seu 
domínio.
A construção da identidade feminina
Profundamente apoiado sobre as bases do amor romântico, o ideal cultural 
do ser mulher é formado e reforçado visando um objetivo primordial: agradar 
ao homem. Essa receita é avaliada pela capacidade da mulher de atrair o 
“melhor partido”.
A identidade feminina se divide em 4 ensinamentos complementares:
1. 
PUREZA
2.
CUIDADO
3.
FRAGILIDADE
4.
BELEZA
Construção 
da Identidade 
Feminina
2828
1.Pureza
Desde criança, a menina é ensinada a desenvolver hábitos e comportamentos 
que a associem à pureza e à castidade. 
O recato sexual é uma aura construída junto a outros códigos de conduta, 
como a suavidade em suas maneiras e o resguardo de seus hábitos (não beber, 
não se exaltar, não usar roupas ou linguagem extravagantes).
É alimentada a concepção de que essa mulher sensível e casta é “para casar” 
e naturalmente se comportará melhor diante das obrigações e vontades de 
seu marido.
2.Cuidado
De geração para geração, a responsabilidade do cuidado com crianças e 
idosos, além das tarefas domésticas, é atribuída à mulher. Esse ensinamento 
é transmitido, como uma aptidão e recebido como um dom.
A mulher se mantém confinada ao ambiente doméstico e realiza tarefas 
que não são valorizadas: todo o trabalho ordinário (invisível, sem destaque 
social), em contraponto ao homem, detentor do trabalho extraordinário 
(visível e com potencial de destaque social).
Tal restrição e orientação constante em direção ao outro exigem da mulher 
uma postura ideal de respeito e devoção, limitando assim sua autoestima, 
autonomia e independência.
2929
3.Fragilidade
Ao mesmo tempo que cuida, a mulher, para reafirmar sua pureza, deve 
precisar ser cuidada. A fragilidade se torna um componente da sua identidade 
e se expressa na aproximação da mulher à imagem de uma criança, alguém 
dependente de outro ser.
Tal dualidade – no ambiente doméstico ela é cuidadora, mas no espaço 
público tem de ser frágil – é constituída por meio de comportamentos e 
atitudes: a mulher deve ser calada, pouco expressiva, passiva e emotiva.
4.Beleza
O potencial de atração da mulher é condicionado à sua aparência física. 
Os atestados de beleza são características que representam visualmente a 
pureza, a fragilidade e a aura de alguém que sabe cuidar tanto dos outros 
quanto de si.
O ideal de beleza feminino é muito restrito, evocando traços infantis e 
específicos – corpo magro, pele perfeita, cabelos lisos, higiene excessiva, 
feições angelicais. Forma-se um ciclo no qual as características físicas 
representam e, ao mesmo tempo, produzem a fragilidade idealizada para a 
figura feminina. 
30
Estereótipo feminino: 
O Vestido de Princesa
Adequar-se ao modelo de feminilidade da sociedade significa dedicar-
se à adaptação e lapidação constantes com o objetivo de ser atraente para 
os desejos e julgamentos do homem. Para corresponder a esse conjunto de 
expectativas, só há um caminho: trajar o Vestido de Princesa.
O homem está no centro da construção da identidade da mulher. Se ele 
é o herói, ela é sua conquista. O feminino em sua plenitude é visto como a 
mãe, uma mulher servil e polida, aquela que nutre e obedece ao homem. Sua 
atuação é sempre circunscrita e limitada. Ela deve ser sexy, mas não tão 
sexy. Inteligente, mas não tão inteligente. Qualquer desvio desse padrão ou 
exacerbação de uma característica configuram inadequação e são punidos 
com violência por parte da sociedade como um todo e, principalmente, do homem. 
30
1. 
PUREZA
2.
CUIDADO
3.
FRAGILIDADE
4.
BELEZA
Construção 
da Identidade 
Feminina
31
Estereótipo 
feminino: 
Vestido de 
Princesa
Estereótipo 
masculino: 
Armadura 
do Herói
A cultura patriarcal 
é constituída de 
estereótipos de gênero 
que determinam a forma 
como homens e mulheres 
devem se portar na 
sociedade.
O machismo é o conjunto 
de crenças que perpetua os 
estereótipos de gêneros.
Além de afirmar erroneamente uma suposta superioridade dos homens 
sobre as mulheres, o machismo ajuda a perpetuar as expectativas de gênero da 
cultura patriarcal. Ou seja, determina que certas atitudes e comportamentos 
só podem pertencer a um dos dois gêneros.
MACHISMO
1. Privilégios masculinos
2. Controle sobre quem 
a mulher deve ser
3. Tensões do homem
O machismo tem três implicações claras 
em nossa sociedade:
31
32
1.Privilégios masculinos
Atitudes, potencialidades e liberdades muitas vezes vistas como 
cotidianas, comuns ou naturais deixam claras adiferença e desigualdade 
entre os gêneros.
“O masculino é menos 
perceptível que o feminino na 
medida em que o primeiro pode 
mais facilmente disfarçar-se de 
interesse geral: os conteúdos 
culturais completamente 
neutros em aparência mascaram 
a essência masculina.” 
Georg Simmel
1a. Desigualdade naturalizada
HOMENS:
• Estão na maioria das posições de poder no mundo;
• Ocupam o espaço público com segurança e sem medo;
• Não se preocupam com assédio sexual;
• Podem andar sozinhos pela rua sem serem considerados “objetos”;
• São os protagonistas da maioria dos filmes e livros da nossa cultura de 
massa;
• Podem andar pela rua sem ter o corpo avaliado pelos outros;
• Podem ter uma vida sexual ativa e intensa sem serem julgados por isso;
• Têm mais liberdade para envelhecer, mantendo-se sexualmente desejáveis;
• Não precisam ter filhos para serem considerados completos.
“Eu não aprendi a arrumar a cama, a lavar a louça, a comprar 
coisas para a casa. Eu usufruía da casa. Quando eu era criança, 
quem fazia era minha mãe, minhas irmãs. Aí, quando a gente 
fica mais velho, quem faz é a mulher ou alguém que a gente 
contrata para isso, que é outra mulher.” 
Homem, 55 anos, São Paulo 
“Deus falou isso na bíblia, que a mulher tem de ser submissa 
ao marido.”
Homem, 40 anos , Recife 
“O nosso corpo não é pensado como um corpo a ser violado 
do ponto de vista da sexualidade. É um corpo que violenta, não 
que é violentado.”
Homem, especialista, São Paulo
“Nós, homens, sempre tivemos todos os espaços da sociedade. 
O espaço público é nosso, o espaço da fala é nosso, o espaço de 
se colocar é nosso.”
Homem, especialista, Recife
“Onde eu morava, as meninas eram criadas para ter muita 
cautela por onde iam. Apesar de ser uma cidade pequena, 
sempre se dizia: ‘Cuidado com tarado’. Pairava no imaginário 
coletivo e na educação das meninas que, em determinadas horas 
e locais da cidade, elas não podiam sair porque corriam o risco 
de serem atacadas por um tarado.”
 Mulher, 33 anos, Recife
“Essa ideia de ‘eu sou o homem’ tem benefícios. Muitas 
vezes nós fazemos uso deles, e não é por mal, porque não é algo 
consciente. Quando eu coloco meu corpo para defender o de uma 
mulher no carnaval, eu estou usando um privilégio, porque eu 
sou o corpo que protege, e ela, o que é protegido.” 
Homem, especialista, Recife
33
34
2.Controle sobre quem a mulher deve 
ser
Diferentes manifestações do machismo visam controlar o comportamento 
da mulher. Essa forma violenta de domínio vai muito além do abuso físico e 
do estupro. Trata-se de uma maneira de diminuir a liberdade e o campo de 
ação da mulher dentro dos ambientes doméstico e público.
“Continuo acreditando que essa questão dos privilégios 
precisa vir mais à tona. Uma mulher que sofre cantadas, 
que nunca está tranquila ao andar na rua – ainda existe uma 
confusão sobre isso, mas mesmo que questionem: ‘Sozinha? 
A essa hora? Com essa roupa?’, os homens e as mulheres já 
conseguem entender. No entanto existem aspectos mais 
sutis. Por exemplo, meu companheiro sempre me interrompe, 
atrapalha minha linha de raciocínio. Eu falo: ‘Ainda não acabei 
de falar! Me deixa falar!’.” 
Mulher, especialista, Rio de Janeiro
35
2a.Expectativas e sugestões de comportamento
Espera-se que a mulher cumpra com expectativas relacionadas à vaidade, 
beleza e feminilidade por meio de ações como cuidar do corpo, depilar-se, 
fazer as unhas, alisar os cabelos e usar salto alto.
Quando vestem roupas consideradas curtas ou justas, as mulheres são 
julgadas como “sexualmente disponíveis” e correm o risco de sofrer abusos 
verbais e físicos.
Espera-se que a mulher case para que alcance respeito e reconhecimento. 
Depois de certa idade, estar solteira ganha o status de “encalhada” ou infeliz.
Nossa cultura sugere que as mulheres possuem “instinto materno” e 
precisam exercer a maternidade para que se tornem “mulheres de verdade”. 
O conjunto dessas crenças e padrões faz com que ser mãe seja praticamente 
uma obrigação. 
Entende-se que a mulher tem mais aptidão para o trabalho doméstico do 
que o homem e, por isso, deve ser a responsável por essas tarefas. Caso não se 
interesse ou não tenha habilidade, é julgada como inapta.
O corpo da mulher é visto como público, um objeto passível de desejo 
do homem, algo aberto à avaliação nas ruas. Dessa forma, ensina-se que as 
mulheres devem se proteger e evitar certos lugares e situações para que não 
corram o risco de sofrer abusos verbais e físicos. 
No caso da mulher negra, a hipersexualização é ainda mais presente (maior 
objetificação sexual), bem como a expectativa da agressividade (estereótipo 
de “barraqueira”). 
O corpo e a liberdade sexual da mulher são controlados e reprimidos por 
homens e mulheres em uma sociedade que ainda conserva a defesa de uma 
honra puritana e julga aquelas que buscam viver plenamente a sua sexualidade. 
Caso assumam um comportamento sexual avaliado como “livre”, são julgadas: 
“piranhas”, “vagabundas”, “vadias”.
3636
Grau de concordância em relação às frases abaixo:
RESULTADOS DA PESQUISA QUANTITATIVA 
Homens e mulheres 
deveriam dividir 
por igual o trabalho 
doméstico.
Mulher que anda com 
camisinha é safada.
Discordo 
totalmente
87,38%
3,31%
71,61%
55,44%
58,26%
26,65%
5,14%
4,53%
14,22%
11,02%
16,48%
27,28%
3,83%
7,48%
4,07%
9,53%
6,49%
25,45%
2,01%
12,14%
7,69%
7,69%
13,51%
10,9%
1,65%
72,55%
2,41%
16,32%
5,27%
9,72%
Discordo 
em parte
Não concordo 
nem discordo
Concordo 
em parte
Concordo 
totalmente
A responsabilidade 
de evitar a gravidez 
é principalmente da 
mulher.
Mulheres devem 
tomar cuidado com 
a roupa que vestem 
para não serem muito 
provocativas.
Mulheres deveriam 
decidir se a prioridade 
na vida delas é a 
carreira ou os filhos.
A política seria melhor 
se NÃO existissem mais 
mulheres em postos 
importantes.
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
37
2b.Micromachismos*
1. Micromachismo coercitivo
Configura-se quando o homem usa sua força moral, psicológica ou econômica 
para tentar subjugar a mulher e convencê-la de que ela não tem razão. Inclui 
exemplos como:
Intimidação: dar a entender por meio de um comportamento assustador 
(olhar, tom de voz) que, se a mulher não obedecer, algo negativo ocorrerá.
Insistência abusiva: obter o que se deseja por meio do esgotamento da 
mulher, que acaba por ceder em troca da paz.
Tomada súbita de comando: cancelar ou ignorar as decisões da mulher, tomar 
decisões sem consultá-la, dar opiniões sem ter sido solicitado, monopolizar as 
conversas.
Gaslighting: distorcer fatos e omitir situações para deixar a mulher em 
dúvida sobre sua memória e sanidade mental.
Bropriating: apropriar-se da ideia de uma mulher e levar o crédito por ela.
*Conceito popularizado pelo psicoterapeuta Luis Bonino em referência às “violências leves”, “pequenas tiranias”, 
“violência cotidiana”. Fontes: Luis Bonino, Think Olga, Lugar de Mulher.
38
2. Micromachismo dissimulado
O homem esconde seu objetivo de domínio por meio de atos tão sutis que 
muitas vezes passam despercebidos.
Inclui exemplos como:
Maternalização: induzir que a mulher dê prioridade ao cuidado de terceiros 
(filhos, familiares), tornando-se incapaz de cuidar de si tanto pessoal quanto 
profissionalmente.
Paternalismo: fazer com que a mulher se sinta como uma criança que 
necessita de cuidados.
Mansplaining: explicar algo óbvio para uma mulher como se ela não tivesse 
capacidade intelectual para entender.
Manterrupting: interromper a falade uma mulher e impedi-la de concluir 
sua frase.
Justificativas para o próprio comportamento prejudicial: esquivar-se da 
responsabilidade por suas ações, negar ou não dar importância às reclamações 
da mulher. “Eu não percebi”, “eu quero mudar, mas é difícil”, “eu não tenho tempo 
para cuidar de crianças” são alguns exemplos.
“Homens que têm poder dentro do mercado de trabalho 
falam de emocionalidade, que mulheres não têm cabeça 
fria. ‘Mulheres brigam com mulheres’ é outro argumento 
muito utilizado. Fala-se também sobre a maternidade, que o 
comprometimento profissional da mulher será menor porque 
ela terá de sair no meio do expediente para levar o filho ao 
médico. Mas, claro, [isso se dá] porque os papéis sociais fazem 
com que a obrigação de fazer isso seja da mãe.”
Homem, 30 anos, São Paulo
“Dependendo do contexto, é difícil para a mulher se colocar, 
porque os homens têm mais domínio da fala pública.” 
Homem, especialista, Recife
39
3. Micromachismo de crise
Configura-se quando o homem realiza atos para restabelecer o domínio da 
relação, mantendo a desigualdade de poder. Inclui exemplos como:
Pseudoapoio nas tarefas: anunciar a participação nas tarefas realizadas 
pela mulher, sem fazê-lo de fato. Evita-se um confronto direto, mas sem a 
efetiva colaboração nas atividades domésticas.
Promessas superficiais: praticar atos como dar presentes, prometer e 
ajudar nas tarefas, apenas com a intenção de produzir mudanças superficiais 
que evitem questionamentos sobre as causas da crise (especialmente em 
casos de ameaça de separação). 
“Para mim não houve aprendizado sobre a condição 
feminina. Eu resistia a fazer as tarefas de casa. Achava que elas 
estavam muito abaixo de mim. (...) Mesmo em uma situação em 
que estava tudo pronto para eu assumir esse lado doméstico, 
era difícil. Eu fazia de maneira relutante, e isso era motivo de 
conflito em casa.” 
Homem, 26 anos, São Paulo
4. Micromachismo utilitário
Configura-se quando o homem não divide a responsabilidade dos afazeres 
domésticos, deixando implícito que é a mulher quem deve cuidar da casa.
“[A aversão do homem aos trabalhos domésticos] 
Manifesta-se claramente como preguiça. Em segundo lugar, 
como direito à preguiça. Poxa, eu trabalhei o dia inteiro, 
e você ainda quer que eu trabalhe em casa? A gente tem um 
milhão de justificativas para não realizar essas tarefas. Por 
quê? Isso é cultural. Eu nunca fiz na minha casa. Minha mãe 
trabalhava fora e cozinhava; eu ficava em casa e não fazia 
nada. Quando, poucas vezes, eu levantei para fazer, minha mãe 
morreu de orgulho. Ela achava que estava me corrigindo. Não, 
nem assim.” 
Homem
40
2c. A Lei Maria da Penha define cinco formas de 
violência doméstica e familiar contra as mulheres:
Violência emocional ou psicológica:
Xingar e humilhar a mulher; ameaçá-la, intimidá-la e amedrontá-la; criticá-
la continuamente, desvalorizar seus atos e desconsiderar sua opinião ou 
decisão, debochar publicamente dela, diminuir sua autoestima; tirar sua 
liberdade de ação, crença e decisão; tentar confundí-la ou fazê-la achar que 
está ficando louca; atormentá-la, não deixá-la dormir ou fazê-la se sentir 
culpada; controlar o que ela faz, quando sai, na companhia de quem e para 
onde; impedir que ela trabalhe, estude, saia de casa, vá à igreja ou viaje; 
procurar mensagens em seu celular ou e-mail; usar as/os filhas/os para 
chantageá-la; isolá-la de amigos e parentes.
Violência sexual:
Forçar relações sexuais quando a mulher não quer, quando está dormindo 
ou doente; forçar a prática de atos sexuais que causam desconforto ou 
nojo; obrigá-la a olhar imagens pornográficas; obrigá-la a fazer sexo com 
outra(s) pessoa(s); impedí-la de prevenir a gravidez, forçá-la a engravidar 
ou forçar a realização do aborto.
Violência patrimonial:
Controlar, reter ou tirar dinheiro da mulher; causar danos propositais a 
objetos que ela gosta; destruir ou reter objetos, instrumentos de trabalho, 
documentos pessoais e outros bens e direitos.
Violência moral:
Fazer comentários ofensivos sobre a mulher diante de estranhos e/
ou conhecidos; humilhá-la publicamente; expor a vida íntima do casal, 
inclusive nas redes sociais; acusá-la publicamente de cometer crimes; 
inventar histórias e/ou criticá-la para terceiros com o intuito de 
diminuí-la perante amigos e parentes;
Violência física:
Bater ou espancar a mulher, empurrá-la, atirar objetos contra ela, 
sacudí-la, mordê-la ou puxar seus cabelos; estrangulá-la, chutá-la, torcer ou 
apertar seus braços; queimá-la, cortá-la, furá-la, mutilá-la e torturá-la; usar 
arma branca (faca, ferramentas de trabalho etc.) ou arma de fogo contra 
ela.
4141
3.Tensões do homem
 O machismo é muito prejudicial às mulheres, mas também interfere 
negativamente na vida dos homens. A necessidade de provar que são “homens 
de verdade” ou a falta de identificação com esse modelo geram tensões 
cotidianas que limitam a satisfação de desejos autênticos, restringindo a 
maneira como os homens constroem a identidade e interagem socialmente.
“As vozes masculinas antigas estão dentro de você dizendo 
como você deve ser, como você deve agir. E elas te limitam 
muito, limitam quem você quer ser, limitam o desenvolvimento 
pessoal do homem. Te limitam a um papel, um papel antigo, que 
te deixa num lugar do passado.”
Homem, especialista, São Paulo
41
42
Gostaria de ser mais carinhoso 
com meus amigos, mas não quero 
ser chamado de gay ou imaturo.
“Quando um amigo me abraça forte fico sentindo aquela 
sensação estranha e vergonha de que alguém que eu conheça 
esteja vendo… Abraçar é bom, mas abraçar homem é meio 
proibido.” 
Homem, 22 anos, São Paulo
“Já abracei os meus amigos algumas vezes, mas isso só 
acontece quando a gente já tá bêbado… Se abraçar em outros 
momentos o cara vai ficar pensando coisa errada de você.” 
Homem, 29 anos, Recife
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
20,5% 13,5% 11,5%
42
Tensão 1
Provar que é heterossexual 
- Carinho com amigos
Cerca de 45,5% dos homens gostariam de se expressar de modo menos rígido 
ou agressivo, mas não sabem como.
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
43
Quero cuidar melhor de mim, 
ficar mais bonito, mas não 
quero que meus amigos pensem 
ou falem que eu sou gay.
“Só consegui radicalizar no corte de cabelo quando vim 
morar em São Paulo… aqui ninguém conhece você… Ninguém vai 
ficar zoando você, chamando de veado…” 
Homem, 25 anos, São Paulo
“Não consigo me olhar no espelho e ficar ajeitando o cabelo 
quando tem alguém olhando… Parece que é proibido pra homem 
querer ficar bonito.” 
Homem, 28 anos, São Paulo
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
18,5%
33%
13%
26%
12%
18%
43,5% dos homens gostariam de ter mais cuidado com a aparência sem se 
sentirem julgados por isso.
77% dos homens se preocupam com a aparência, mas não falam sobre isso. 
43
Tensão 1
Provar que é heterossexual 
- Vaidade 
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
44
Às vezes, me sinto ansioso, 
estressado ou deprimido, mas 
tenho dificuldade em falar 
sobre isso com alguém e admitir 
que não estou bem.
“Confesso que não consigo conversar com os meus amigos 
sobre problemas mais íntimos…Dasvezes que isso aconteceu 
acabei falando com meus pais. 
Homem, 26 anos, São Paulo
“Esses dias discuti feio com com a minha esposa e depois ela 
veio perguntar o que tava acontecendo comigo…não falei nada…a 
verdade é que tava nervoso porque achava que ia ser demitido…”
Homem, 45 anos, Recife
56,5% dos homens gostariam de ter uma relação mais próxima com amigos, 
expressando mais afeto e podendo falar sobre sentimentos e dúvidas. 
66,5% dos homens não falam com amigos sobre medos e sentimentos.
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
21%
22,5%
19,5%
23%
16%
21%
44
Tensão 2
Provar que é forte
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
4545
Quero que meus amigos me 
admirem por quem eu realmente 
sou, mas muitas vezes invento 
histórias para me sentir aceito 
e respeitado.
“Muitos homens tentam enganar as mulheres querendo 
mostrar que são mais ricos, inteligentes ou mais famosos do 
que realmente são.”
Mulher, 29 anos, Recife 
“Todo homem conta alguma história pra se promover rs, mas 
o problema é quando isso passa dos limites e você fica vivendo 
uma mentira pra mostrar para alguém algo que você não é.”
Homem, 35 anos, São Paulo 
Tensão 3
Provar que é poderoso
45
46
Quero aprender novas 
atividades, ir em busca da 
minha verdadeira vocação, 
mas não quero que os outros 
pensem que eu sou infantil, 
irresponsável ou sem ambição.
“Ja tive vontade de jogar tudo pro alto várias vezes, mas 
nunca consegui… minha família não ia me perdoar por correr 
esse tipo de risco… precisam muito da segurança que eu consigo 
dar pra eles”
Homem, 41 anos, Recife
“A coisa que eu mais gosto de fazer é escalar montanhas…
sou bom nisso e já viajei pra muitos lugares…sonho em fazer só 
isso na vida, ajudar os outros a fazer… Minha família diz que 
isso é coisa de adolescente e que levar isso a serio é bobagem”
Homem, 28 anos, São Paulo
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
17,5% 17,5% 19%
54% dos homens gostariam de ter mais liberdade para explorar hobbies, 
talentos ou opções de carreira pouco usuais, sem serem julgados como 
frouxos ou pouco ambiciosos. 
46
Tensão 4
Provar que é responsável
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
47
Mesmo quando trabalha e recebe 
um salário justo, o homem se 
sente diminuído quando sua 
esposa ganha mais do que ele.
“Eu sinto que preciso ganhar um salário maior porque minha 
esposa ganha mais do que eu… é como se eu estivesse falhando…”
Homem, 41 anos, São Paulo
“É difícil, como homem, ter uma mulher que ganha bem mais 
que você…Prefiro que as pessoas não saibam.”
Homem, 34 anos, São Paulo
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem 
moderadamente 
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem muito
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
vivem 
totalmente 
essa situação
22%
20%
13%
10%
10%
14%
45% dos homens gostariam de não se sentir obrigatoriamente responsáveis 
pelo sustento financeiro da casa.
44% dos homens sentem pressão por serem responsáveis pelo sustento da 
casa, mas não falam sobre isso. 
47
Tensão 5
Provar que é provedor
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
48
Essa masculinidade baseada no medo, 
que precisa ser provada a todo momento, 
estimula a violência, a homofobia, a 
inabilidade emocional e a obsessão por 
poder, dinheiro e sexo.
É uma masculinidade tóxica que acompanha e marca a vida de homens 
heterossexuais, homossexuais, transexuais, negros, pardos e brancos.
48
49
Nossa sociedade ainda espera e exige a reprodução das identidades de 
gênero tradicionais. E isso por si é uma forma de violência. 
A partir das nossas características biológicas, somos condicionados a nos 
identificar e nos comportar de acordo com um determinado estereótipo. Um 
processo cultural que nos molda inconscientemente desde os primeiros anos 
de vida.
Entender que os ideais de masculinidade e feminilidade são construções 
sociais que afetam diretamente a maneira como nos relacionamos e 
convivemos em sociedade é o primeiro passo para compreender as diversas 
manifestações de violência e desigualdade.
Ter atitudes machistas não é um comportamento exclusivo do homem. 
Todos e todas são ensinados a agir de modo machista, e pouco vai mudar se 
continuarmos a reproduzir os discursos e ações que mantém o status quo.
“Eu vejo em muitos momentos minha mãe e minhas irmãs 
estranhando um pouco esse meu papel tão efetivo de pai. Como 
se dissessem: ‘ele está fazendo mais do que devia’. Eu noto que 
ainda tem um incômodo nisso, não é bem resolvido para pessoas 
que foram pais e mães antes. A mãe parece não ter o direito de 
estar sentada se o pai está dando banho.” 
Homem, 41 anos, Recife
“Não dá pra poder devolver mais uma vez para as mulheres 
essa responsabilidade. A responsabilidade é de todos e de todas. 
E poder fazer de forma diferente, poder discutir, transformar, 
fazer essa crítica. A gente precisa colocar para a gente também 
esse movimento de nos afetar sobre isso e fazer sobre isso. E 
de não ficar alheio, isento, não ficar cúmplice desse silêncio.”
Homem, especialista, São Paulo
50
“A ideia de que o feminismo liberta os homens é muito 
simples e muito bonita, muito iluminosa. Ao adotar uma 
postura de igualdade, os homens podem ser mais felizes.” 
Homem, 32 anos, São Paulo
As brincadeiras que fazemos, às vezes, 
criam uma realidade.A linguagem que 
usamos reforça a cultura.
É preciso, de um lado, incentivar os homens a ser mais conscientes de 
suas limitações e de seus exercícios diários de poder e, de outro, ajudar as 
mulheres a ampliar sua percepção sobre possibilidades de resistência diante 
das prováveis tentativas de abuso.
Se não transformarmos a história que contamos para nós mesmos e a 
maneira como ensinamos as crianças, pouco vai mudar. Nossa sociedade 
continuará perpetuando um ciclo de violência e de desigualdade de gênero 
que afeta a todos e todas desde a infância
“Eu tinha e tenho um sentimento pela minha mãe muito forte 
e é um sentimento que eu queria que meus filhos tivessem por 
mim também, um sentimento de carinho. Eu tinha com meu 
pai também, mas minha mãe conseguiu, por uma relação mais 
afetiva, provocar muito mais em mim. Eu queria que meus filhos 
tivessem esse sentimento em relação a mim. Então terminou 
que foi uma coisa que me instigou a querer ter essa presença. A 
querer que esse sentimento de carinho.”
Homem, 28 anos, Recife
51
“A partir do momento em que o homem 
se depara com a pluralidade de papeis 
e que é plenamente possível ele se 
reconhecer e se afirmar em um papel 
que é mais associado ao feminino, 
é possível a ressignificação. Os 
homens também podem se identificar 
com papeis muito maiores do que até 
hoje foi colocado pra eles como o 
melhor a ser seguido.” 
 Mulher, especialista, Recife
51
capítulo 03
Desconstrução
de papéis
A caminhada das mulheres 
e a desvalorização do capital viril
52
53
Muito ainda se tem pela frente, 
mas muito já se caminhou em direção 
auma sociedade igualitária.
Essa evolução se deve, em primeiro 
lugar, à luta das mulheres, do 
movimento negro e LGBT, oprimidos 
pelo patriarcado hegemônico.
53
5454
A luta das 
mulheres
A emergência do movimento feminista promoveu críticas e questionamentos 
ao sistema patriarcal, gerando transformações significativas no modelo 
de organização tradicional familiar e no processo de emancipação sexual e 
social das mulheres.
Em consequência, elas assumiram novas tarefas e responsabilidades, 
repensando o lugar exclusivo do homem como provedor da família. Além disso, a 
mulher deixou de ser um objeto de satisfação do marido para exigir a realização 
de seus próprios desejos pessoais e profissionais.
O feminismo é a luta pelo fim da dominação do gênero masculino sobre 
o feminino e pela consequente igualdade de gênero. Diante da comum falta 
de entendimento, é essencial frisar que feminismo não é o contrário de 
machismo. 
Segundo a história, a luta feminista tem origem organizada no início 
do século XX. Atualmente vive sua quarta onda, muito influenciada e 
potencializada pela internet.
Feminismo: outra palavra 
para igualdade
5555
1ª ONDA: IGUALITARISTA 
2ª ONDA: DIFERENCIALISTA
3ª ONDA: INTERSECCIONAL
4ª ONDA: ANTIESSENCIALISTA
‘homens e mulheres são iguais’
‘homens e mulheres são diferentes’
‘as mulheres não são iguais entre si’
‘cada indivíduo é único’
Focada na luta por poder político – especialmente o direito ao voto – 
como instrumento para a conquista de outros direitos civis. 
Crítica à opressão no espaço privado (busca de autonomia e denúncia 
da violência de gênero) e ao universalismo abstrato – diferenças não 
justificam desigualdades.
Ser mulher negra, lésbica ou trabalhadora não é o mesmo que ser mulher 
branca ou heterossexual: a desigualdade de gênero se constrói em 
conexão com outras formas de opressão (de classe, raça, etc.).
Mesmo com avanços que possibilitam expressões identitárias interseccionais 
(trabalhadora, negra, lésbica), concepções essencialistas de gênero ainda 
são reproduzidas: homens e mulheres são como são por força de uma 
natureza pré-cultural e imutável. A luta da quarta onda é desnaturalizar os 
papéis de gênero.
1900
2020
5656
Qual das frases abaixo mais se aproxima do que você pensa ser feminismo?
Necessário para 
defesa por direitos e 
oportunidades iguais
45,8%
16% 5,7%
16,3% 10,2%
28,1% 27,8%
23,5% 44,1%
16,1% 12,2%
71,6%
40,4% 22,3%
7,3% 2,9%
6,6% 3,1%
Justa por direitos iguais, 
mas às vezes agressiva e 
radical demais
Defende a superioridade 
das mulheres em relação 
aos homens
É o oposto 
do machismo
Nada favorável
Um pouco favorável
Razoavelmente favorável
Extremamente favorável
Bastante favorável
Quão favorável ao feminismo você se considera?
*Gênero 
masculino
Gênero 
masculino
Gênero 
feminino
Gênero 
feminino
Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril 
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
*Gênero é um conceito social e se refere aos aspectos culturais e sociais associados ao fato de se pertencer ao sexo 
masculino ou feminino. As características de gênero podem variar de acordo com a sociedade.
5757
O ativismo LGBT
O movimento LGBT também contribui significativamente para a quebra de 
estereótipos de gênero. Em sua luta por direitos, reconhecimento e respeito à 
sua identidade de gênero e orientação sexual, o ativismo LGBT enfrenta o ideal da 
heteronormatividade e coloca em xeque expectativas e papéis de gênero baseados 
em uma lógica dualista de pensamento (o que é masculino e o que é feminino).
“A autoria dessa reflexão toda vem a partir do que as 
mulheres propuseram, dos que os gays propuseram, do que as 
lésbicas propuseram. E aí, pouco a pouco, sim, há espaço pra que 
a gente chegue junto e faça espaços de transformação. Desde 
que a gente queira de verdade transformar esses processos de 
privilégios.” 
Mulher, especialista, Recife
57
A partir desses movimentos críticos que questionam o modelo 
de masculinidade hegemônica e sua universalidade, “ser homem” 
passa por conflitos nunca antes vivenciados.
“Hoje eu só 
vejo o quão 
bonito é tudo 
isso de ser 
quem eu sou.” 
Rico Dalasam, rapper, São Paulo
58
5959
O masculino viril e provedor já não 
tem lugar como dominante na sociedade.
A modernidade chega impactando os valores de um mundo que tinha o modelo 
de masculinidade hegemônica como centro: força física, vigor, coragem e 
aptidão para a guerra são valores que resistem com menos intensidade, e 
a habilidade de sustentar a casa deixa de ser exclusividade masculina. Ao 
mesmo tempo, a emancipação feminina e os movimentos pela não dualidade 
de gênero transformam a sociedade e abalam as posições de poder do homem.
“Vejo meus amigos falando: não tem espaço pra quem eu 
fui criado pra ser, mas eu também não me encaixo em nenhum 
estereótipo de homem. E a gente não precisa encaixar também, 
isso é uma coisa que perpassa o feminismo: você pode ser só 
o que você quer ser, sem padrões pré estabelecidos. É uma 
liberdade de trânsito mesmo.” 
Homem, especialista, São Paulo
A Armadura do Herói está em decadência, 
e o homem passa a ser prisioneiro do 
ideal de virilidade.
Características que antes garantiam o poder do homem sobre o mundo e 
sobre a mulher já não são suficientes para assegurar uma posição hegemônica. O 
lugar de provedor passou a ser compartilhado com as mulheres. A emancipação 
sexual feminina abre espaço para que elas busquem o próprio prazer. Os 
dois principais pilares de expressão e sustentação da masculinidade foram 
atingidos: os desempenhos profissional e sexual.
“Quando você não pensa na construção da masculinidade 
como um problema, você tende a criar uma guerra entre homens 
e mulheres e isso não é o foco. Você tem que desconstruir os 
dois. E a desconstrução tem que ser ampla, pra você conseguir 
lidar com avanço nisso.”
Homem, especialista, Rio de Janeiro
6060
O homem ainda não sabe lidar 
com essa mudança de posição na 
hierarquia social.
Para não perder seu espaço, 
precisa provar constantemente 
a sua masculinidade e, quanto 
mais inseguro ele se sente, 
mais violento fica.
A dificuldade em lidar com tais inseguranças e frustrações levou e ainda 
leva, muitos homens a resolver esses conflitos da forma como foram educados 
quando criança: por meio da violência.
“Os homens precisam conversar entre si sobre o que é isso 
do outro precisar comer um monte de mulher, sobre o outro 
precisar dominar a relação, porque a gente vê muito isso: ‘ah 
a mulher ta mandando’. E tudo em forma de piadinha para ferir 
uma masculinidade que é tão frágil. Tão frágil que precisa de 
creme especial pra homem, pra não dizer que eles estão usando 
os nossos cremes.” 
Mulher, especialista, São Paulo
6161
A luta pela ressignificação do feminino 
e pela desconstrução do estereótipo 
do Vestido de Princesa se mostra mais 
avançada e publicizada.
“Tem que assumir que é machista. Se não assumir, nunca vai 
mudar. E não é assim “eu sou machista para sempre e ponto.” 
Ok, eu sou machista, então como eu mudo? Quem eu escuto? 
Quem eu leio? (...) O processo de se libertar do machismo é uma 
desconstrução eterna, porque sempre nos empurram formas do 
que você precisa fazer para ser a mulher mais desejada.” 
Mulher, especialista, São Paulo
Tal ressignificação é inevitável. 
Resta ao homem escolher entre 
acompanhar essas mudanças culturais 
ou ser atropelado por elas.
“Os homens e as mulheres são vítimas e produtores e 
reprodutores do machismo. Se a gente quer mudar a situação 
de violência dos homens, tem que perceber que elessão parte 
do problema e parte da solução.”
Homem, especialista, Recife
61
capítulo 04
Caminhos de 
desconstrução
Conscientização 
e outras narrativas
62
63
Como a transformação dos homens 
acontece? Gatilhos e caminhos 
práticos de mudança
Ao longo desta pesquisa, procuramos entender também a transformação em 
relação a atitudes e crenças sobre gênero.
Quais abordagens acessam os homens e conseguem sua escuta? Quais 
os afastam? No caso dos homens que passaram por mudanças, como elas 
aconteceram? 
Com essas perguntas em mente e baseados nas entrevistas e questionários 
aplicados, mapeamos grandes gatilhos do processo de transformação. 
Se é farto o material disponível sobre o problema do machismo na nossa 
sociedade e a gravidade de suas consequências, não é tão comum a produção 
de mapeamentos dedicados a compreender de que maneira os homens podem 
mudar seu comportamento.
Sabemos que uma mudança de comportamento e mentalidade não acontece da 
noite para o dia. Não é razoável exigir que alguém ensinado e estimulado a agir 
de determinada maneira durante décadas se transforme de forma imediata. Tal 
percurso leva tempo e exige paciência. Além disso, é preciso considerar que 
cada indivíduo possui um sistema próprio de crenças, valores e referências, e 
cada pessoa se encontra em um estágio diferente em sua vida. 
Ressaltarmos ainda que esses gatilhos não são os únicos possíveis e nenhum 
deles se caracteriza como o mais eficaz. Trata-se de abordagens distintas que 
podem e devem ser combinadas de acordo com o contexto.
Desejamos que esse esforço estimule mais indivíduos e organizações a 
buscar caminhos para que a transformação aconteça.
1. 
Afeto
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento 
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
64
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento 
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
1. 
Afeto
1.
Afeto
Em uma perspectiva ampla, o ativismo compassivo e afetuoso foi observado 
como uma maneira bastante eficaz de acelerar as mudanças. 
É comum que homens jamais tenham tido espaço para discutir suas noções 
de masculinidade e gênero. Considerando ainda o quanto são pressionados 
para se mostrarem fortes e viris a todo momento, é compreensível sua 
dificuldade em se abrirem e abaixar a guarda.
O afeto genuíno pode quebrar essa casca, como mostram os exemplos do 
Instituto Papai, em Recife, e da organização não governamental Promundo, no 
Rio de Janeiro. Cabe apontar que ter uma abordagem inicial acolhedora não 
significa necessariamente apoiar as visões que o indivíduo possa ter.
6565
2. 
Exposição ao sofrimento das mulheres
Ao colocar o homem diante do sofrimento vivenciado por pessoas 
prejudicadas pelo machismo, a mudança pode ser disparada. 
Muitos homens são tocados por relatos de mulheres agredidas, estupradas, 
mortas ou injustiçadas de algum modo por outros homens, apenas por 
serem mulheres.
Isso se dá especialmente quando se trata de uma mulher próxima a eles. 
Seria excelente se qualquer relato tivesse esse efeito de sensibilização, 
mas, infelizmente, nem sempre é assim. De forma inconsciente, depoimentos 
legítimos podem ser interpretados como mentira ou distorção da realidade. 
Além disso, é importante lembrar que mesmo em tempos de hiperconexão 
digital, há sempre pessoas silenciadas. A mudança pode acontecer mesmo 
quando não a vemos.
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento 
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
1. 
Afeto
6666
3.
Paternidade
Torna-se pai, em especial de meninas, tende a fazer com que os homens 
revejam as crenças e atitudes que vão transmitir a seus filhos e filhas.
Ao se verem na posição de educar e cuidar, naturalmente refletem mais 
sobre o futuro de suas crianças e qual mundo vão oferecer a elas.
Homens que cuidam mais de seus filhos tendem a ser mais felizes. Esse é um 
momento da vida excelente para rever antigas crenças e atitudes de gênero.
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento 
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
1. 
Afeto
6767
4.
Espiritualidade
A bússola ética, altruísta e compassiva oferecida por alguns caminhos de 
busca espiritual, sem entrar no mérito aqui de quais religiões se associam 
a esses valores, também foi identificada como um possível gatilho de 
transformações para os homens. 
Ambientes masculinos tradicionais costumam passar longe de noções como 
empatia e compaixão. Ao nos colocarmos no lugar do outro - exercício que 
costuma ser estimulado pela espiritualidade - é natural nos tornarmos mais 
sensíveis aos problemas enfrentados por outras pessoas e mais engajados em 
contribuir para a mitigação de seu sofrimento. 
Além disso, a compreensão ampliada sobre o próprio mundo emocional, 
consequência comum da busca espiritual, também tende a facilitar processos 
de mudança.
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
1. 
Afeto
6868
5.
Acesso a espaços seguros e 
de acolhimento para homens
Tratamos aqui de qualquer espaço no qual o homem se sinta seguro para 
expor seus pensamentos e sentimentos sem ser julgado por isso, recebendo 
estímulos, ao mesmo tempo, para a busca de novas masculinidades, menos 
tóxicas, inseguras e violentas, mais lúcidas, conscientes e seguras. Nesse 
sentido, podemos pensar em círculos e comunidades formados por homens; 
espaços e vivências em organizações, institutos e coletivos; consultórios de 
psicologia; encontros construtivos entre amigos, entre outros.
Nesses locais, os homens se sentem confortáveis para expressar suas 
maiores dúvidas, medos e anseios. Não podemos subestimar o valor de 
transformação desse processo.
Diante de um contexto favorável para que essa abertura aconteça, os homens 
relaxam e naturalmente exercitam a escuta e a confiança. É uma excelente 
oportunidade para diálogos e vivências mais construtivos e benéficos. Além 
disso, a rede de apoio constantemente abastece os homens com os exemplos e 
referenciais de outros homens, encorajando e facilitando a mudança.
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento 
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
1. 
Afeto
6969
6.
Exaustão e infelicidade profissional 
Uma vez que o desempenho profissional é um dos centros da identidade de muitos 
homens, esse aspecto está ligado a boa parte de suas crenças, ações e escolhas.
Na exaustão com a carreira e nos tensos ambientes corporativos, muitas 
vezes pautados por uma cultura de extrema inflexibilidade e pressão que 
possui traços machistas, é comum observarmos homens que chegam ao limite 
e decidem alterar radicalmente a maneira como vivem. Nesse momento de 
ressignificação de suas escolhas e valores, há espaço para reflexões sobre 
expectativas associadasà masculinidade e seu papel como homem.
Quando questionamos a necessidade de ser um homem "vencedor" na vida 
profissional e quais parâmetros são usados para definir essa ideia de "sucesso", 
estamos colocando em xeque todo um discurso sobre masculinidade, o que 
pode levar a mudanças mais profundas nas crenças e atitudes relacionadas a 
questões mais amplas de gênero. 
Será que nunca posso falhar na cama? Será que devo ser o provedor do lar, 
um sujeito sempre pronto para a luta? Se eu dividisse a pressão com minha 
parceira, de que maneira nossas vidas seriam diferentes? O que será que ela 
espera de mim como homem?
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
1. 
Afeto
69
7070
7.
Choque: sofrimento profundo, rupturas 
e crises
Momentos de ruptura e de sofrimento profundo - término de relacionamento, 
casos de doença, falecimento de pessoa próxima, entre outros - tendem a 
facilitar e estimular a abertura do indivíduo para mudanças significativas.
No caso de um homem que agride uma mulher, por exemplo, ele pode se ver 
punido social, emocional e juridicamente, o que envia a mensagem de que essa 
atitude não será aceita nem por sua parceira, nem por amigos(as), nem pela 
sociedade. Ao longo desse caminho de ruptura, a mudança pode acontecer, 
em especial quando auxiliada por medidas como os grupos reflexivos para 
autores de violência (uma determinação da Lei Maria da Penha), a orientação 
de psicólogos e o diálogo com pessoas próximas.
7.
Choque: 
sofrimento 
profundo, 
rupturas e 
crises
2. 
Exposição ao 
sofrimento 
das mulheres
3. 
Paternidade
4. 
Espiritualidade
5. 
Acesso a 
espaços 
seguros e de 
acolhimento
para homens
6. 
Exaustão e 
infelicidade 
profissional
1. 
Afeto
71
Vivemos transformações significativas nos últimos anos, mas o modelo do 
herói ainda prevalece em nossa sociedade. 
Esse modelo, ao mesmo tempo que permite privilégios aos homens, limita 
as suas relações íntimas e sociais.
O estereótipo da Armadura do Herói determina diferentes maneiras de 
relacionamento do homem consigo e com o entorno.
Conscientizar-se sobre essas diversas formas de ser é o primeiro passo 
para sua desconstrução.
Eu comigo Eu com 
o outro
Eu com a 
sociedade
Eu com 
o mundo
71
Quatro níveis de 
desconstrução
72
Eu comigo Eu com 
o outro
Eu com a 
sociedade
Eu com 
o mundo
A receita cultural do que significa ser homem é restrita e limitada. Meninos 
crescem aprendendo a negar o feminino dentro de si e a transitar dentro dos 
limites da caixa masculina. Essa doutrinação cria uma rigidez de identidade, 
o que impede uma liberdade de expressão mais ampla da individualidade.
O homem precisa reconhecer que muito dos seus comportamentos e 
valores estão pautados em um modelo antigo de crenças e atitudes. Ser forte 
e sensível ao mesmo tempo, por exemplo, não é algo contraditório. É apenas 
mais uma maneira de ser.
Ao entender que, por um lado, a pressão de outros é uma consequência 
da prisão da masculinidade e que, por outro lado, atributos femininos e 
masculinos estão presentes em todos nós, qualquer homem ganha permissão 
para criar a própria receita do que é ser homem no mundo de hoje.
1.RÍGIDO
72
73
Eu comigo Eu com 
o outro
Eu com a 
sociedade
Eu com 
o mundo
Provas de coragem, força e desempenho sexual, além do bullying com 
outros para que estes se mantenham dentro da Caixa do Homem, são as 
principais maneiras de o homem elevar sua estima identitária e demonstrar 
dominicação sobre seus pares masculinos.
Já com a mulher, desde o princípio o homem adota uma postura de 
dominador. Preso ao estereótipo da Armadura do Herói, ele precisa e exige 
que a mulher cumpra com as expectativas representadas pelo Vestido de 
Princesa - e essa é a raiz do machismo.
Assumir que suas relações íntimas e sociais sofrem pressão para que 
se ajustem aos estereótipos de gênero é um passo significativo para que o 
homem pare de julgar o outro de acordo com as lentes do machismo e passe a 
construir interações sociais mais completas e duradouras.
2.DOMINADOR
73
74
Eu comigo Eu com 
o outro
Eu com a 
sociedade
Eu com 
o mundo
O homem aprende que encontrará sua dignidade masculina na rua e no 
trabalho e que, para isso, deve ser melhor do que os outros, até atingir o 
posto mais alto dentro de qualquer hierarquia que acredite estar inserido.
Cabe a ele questionar sua atuação em sua comunidade. Uma sociedade 
que ainda precisa lutar por igualdade de gênero e raça carece de lideranças 
e de representação. Como, em um contexto social tão rico e diverso, alguns 
privilégios se mantêm e perpetuam um modelo hegemônico antiquado que 
premia o mais competitivo?
3.COMPETITIVO
74
75
Eu comigo Eu com 
o outro
Eu com a 
sociedade
Eu com 
o mundo
Na relação com o mundo, o homem se vê como um conquistador que 
comprova sua masculinidade por meio de posses e posições. Dentro dessa 
lógica, a vitória é o único resultado possível. Essa crença individualista leva 
a uma relação pouco equilibrada com a vida em sociedade.
Uma nova ordem está emergindo, na qual a hegemonia sobre os outros e 
sobre a natureza não tem lugar. Devemos aspirar a uma sociedade não violenta, 
com liberdades e relações mais justas entre todos e todas. Essa é a busca 
que qualquer indivíduo motivado a ser um agente de mudança deve assumir 
para si.
Não perpetuar uma narrativa cultural de desigualdades tem de ir além do 
discurso. Se não tomarmos atitudes concretas que realmente rompam com o 
status quo, nada mudará.
4.VENCEDOR
75
Reconhecer, assumir, questionar e não 
perpetuar: o caminho de desconstrução 
da Armadura do Herói.
As novas crenças sobre o que é ser homem serão construídas ao longo das 
próximas décadas, em resposta aos desafios que o modelo de masculinidade 
dominante enfrenta e seguirá enfrentando. 
Outra narrativa deve nascer de forma orgânica, resultado das lutas por 
liberdades individuais, igualdade de gênero e justiça social.
Conscientizar os indivíduos para a desconstrução dos estereótipos de 
gênero nocivos começa por meio de questionamentos e atitudes que ajudem 
todos e todas a se libertarem de um modelo opressor e obsoleto para as 
necessidades da atualidade.
Na luta por um mundo de equilíbrio, desenvolvimento e igualdade para 
todos e todas, é fundamental uma nova atitude masculina na relação 
consigo e com os outros. 
“Não tem que formatar o homem 
de outra maneira. Tem que 
aceitar a diminuição [das 
regras] e transitar nela.” 
Mulher, especialista, São Paulo
76
77
10 atitudes que os homens podem 
assumir para se tornarem agentes
de mudança
1 
2 
3 
4 
5 
Questione e confronte amigos que contam piadas preconceituosas 
(sexistas, racistas, homofóbicas, etc.).
Não interrompa uma mulher enquanto ela fala e colabore para 
que outras pessoas demonstrem o mesmo respeito. 
Nunca subestime ou desconfie da capacidade de uma mulher de 
expressar suas ideias ou de compreender o que está sendo dito.
Reconheça que você é machista em algum nível e fique atento a 
comportamentos automáticos que ajudam a perpetuar o machismo. 
Reflita sobre eles e tente mudar suas atitudes. 
Nunca use termos agressivos para atacar ou confrontar mulheres 
que fogem dos estereótipos de gênero femininos seja em seu 
comportamento, seja em sua expressão de identidade. 
6 
7 
8 
9 
10 
Nunca exponha, publique ou compartilhe fotos e vídeos íntimos 
de uma mulher nas redes sociais. 
Demonstre afeto a um amigo, por meio de palavras ou gestos

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