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Processos de Conformação Mecânica – Aula 03 Forjamento Prof. Leandro Entringer Falqueto E-mail: leandro.falqueto@hotmail.com 1 – Introdução • O forjamento é o processo de conformação plástica de metais e ligas mais antigo. • Foram encontrados artefatos produzidos por martelamento datados de épocas pré-históricas (8000 A.C.). • A partir do séc. XIII surgiram os primeiros martelos mecânicos movidos à tração animal ou por roda d’água. Vídeo • A demanda de produtos metálicos durante a revolução industrial, no final do séc. XVIII, gerou um grande desenvolvimento da forjaria. – Os martelos mecânicos foram desenvolvidos e surgiu o martelo a vapor. – Essas concepções serviram de base para os equipamentos de hoje, o martelo de forjar (eletromecânico) e a prensa de forjar (hidráulica). 2. Conceito • Forjamento é um processo de conformação no qual modifica- se a geometria e as propriedades mecânicas de um corpo metálico pela ação de tensões compressivas diretas. • A ação das matrizes se dá mediante a aplicação de golpes rápidos e repetidos (martelos de queda livre ou acionados) ou pela aplicação lenta de intenso esforço compressivo (prensas hidráulicas e de parafuso). 3. Modos de forjamento • Dependendo da geometria e do nível de pressão requerida pela peça, o forjamento pode ser realizado de duas formas: – Em matriz aberta (forjamento livre): – Em matriz fechada: • Podem existir projetos nos quais é necessário realizar o forjamento nas duas formas, sendo que a etapa em matriz aberta serve como processo preliminar para o forjamento em matriz fechada. • Em ambos os casos, o trabalho tende a ser a quente, para garantir a manutenção da tensão de escoamento abaixo de valores críticos. – Após cada etapa, o material deve ser aquecido novamente para atingir a temperatura acima da temperatura de recristalização (TR). • A deformação abaixo da TR deve ser evitada para não causar danos às ferramentas e trincas na peça forjada. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce • Independente do modo de forjamento, o uso de lubrificante ou desmoldante se faz necessário a cada passo do processo. • Tradicionalmente utiliza-se uma solução aquosa de grafite em suspensão. – Sua pulverização sobre a matriz e o punção, além de refrigerar, impede o caldeamento (soldagem) do material com as superfícies internas das ferramentas. Lucas Realce Lucas Realce 3.1. Forjamento em matriz aberta • Nesse modo se realiza o forjamento por esforços compressivos entre as superfícies, não necessariamente planas nem paralelas, da matriz e do martelo sem restrições laterais. • A ausência de restrição lateral que caracteriza esse modo faz com que o material escoe livremente entre as superfícies compressivas. • Um dos objetivos desse processo é a redução gradativa da seção de uma peça, que pode servir, também, como pré- forma, a qual sofrerá operações complementares para obter o produto final. Vídeo Lucas Realce Lucas Realce • No forjamento em matriz aberta, apenas o atrito na interface material/ferramenta opõe-se ao escoamento lateral, limitando o fluxo de deformação à região central da peça. – Em função disso, é gerado um abarrilamento lateral no forjado. • As regiões próximas à interface são denominadas regiões de fluxos restringido ou batentes. • Essas áreas de fluxo restringido limitam a redução de altura. – Quando elas se tocam, atuam como falsas matrizes (batentes). Ou seja, a carga pode ser elevada sem que nenhuma deformação adicional ocorra. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce • Do ponto de vista microestrutural, o forjamento livre serve para adequação da granulometria do material (refino termodinâmico) para etapas posteriores. – Pode, ainda, servir para transformar estruturas grosseiras em estruturas mais finas, de grãos equiaxiais. Lucas Realce 3.2. Forjamento em matriz fechada • No forjamento em matriz fechada, as ferramentas, matriz e punção, são fabricadas a partir de um bloco bipartido que, quando fechado, forma um bloco único no qual o material fica confiando em sua cavidade. – Essa cavidade deve ser cuidadosamente projetada e usinada para garantir as tolerâncias geométricas da peça forjada. • O forjamento de peças com geometria complexas é realizado em matriz fechada. Vídeo Lucas Realce • A deformação em matriz fechada depende de estudos reológicos (sobre o escoamento do material) para garantir total preenchimento do molde, sem desperdícios de material e com menor esforço possível. • Pode-se, ainda, dividir o processo em várias etapas até a forma final, sendo que as etapas intermediárias podem ocorrer em matriz aberta. Lucas Realce Lucas Realce • Quando o processo é realizado por inteiro em matriz fechada, as etapas iniciais podem ser mais complexas do que as etapas finais. • Isso se deve ao fato de haver risco de dobramento do metal sobre si mesmo, sem que as superfícies em contato se fundam por caldeamento, gerando gota fria. – Isso pode ocorrer em matrizes com arestas muito agudas, atrito elevado ou ainda resfriamento excessivo na região onde a gota fria foi produzida. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce • A dificuldade em prever o volume necessário para preenchimento da matriz faz com que se recorra ao uso de canais de rebarba, para o escoamento do material extra. – Para garantir o preenchimento total da matriz, faz-se um superdimensionamento do material e o excesso é forçado para o canal localizado estrategicamente. Desse modo, evita-se a quebra do ferramental. Lucas Realce 4. Equipamentos de forjamento • Os equipamentos podem ser subdivididos em dois grupos principais: Martelo de forjar Prensa de forjar 4.1. Martelos de forjar • Basicamente é um prensa mecânica que aplica golpes rápidos sobre a superfície de um metal, promovendo seu escoamento. • A variação na taxa de deformação está condicionada às variações de velocidade do motor de acionamento e a deformação se dá nas camadas superficiais. • Alguns exemplos de martelos são: – Martelo em queda livre; – Martelo de dupla-ação; – Martelo de contragolpe. Vídeo 4.1.1. Martelo em queda livre • Consiste de uma base que suporta colunas, nas quais são inseridas as guias do suporte da ferramenta, e um sistema para elevação da massa até a altura desejada. • O mecanismo de elevação é, geralmente, acionado por um pedal, de maneira a deixar as mãos do operador livres para manipulação da peça. 4.1.2. Martelo de dupla-ação • Diferenciam-se do modelo anterior pelo sistema de levantamento e queda da massa cadente. • Estes são preferidos com relação ao modelo de queda livre quando se trata do forjamento em matriz. • Neste equipamento, a massa cadente é conectada a um pistão contido em cilindro no topo do martelo, que é acionado por vapor ou ar comprimido. • Válvulas no cilindro fazem o controle da massa cadente. 4.1.3. Martelo de contragolpe • Caracteriza-se por duas massas que se chocam no meio do percurso com a mesma velocidade. • A massa superior é acionada por um sistema de pistão e a massa inferior é acoplada à superior, geralmente, por meio de cabos. • Apresenta a vantagem de maior rendimento e maior velocidade de acionamento. • Como desvantagem, apresenta um maior desalinhamento entre as partes inferior e superior da matriz, não permite a manipulação da peça durante o movimento. 4.2. Prensa de forjar • A prensa hidráulica aplica esforços compressivosgradativamente sobre a superfície do material, promovendo seu escoamento. • A pressão máxima é atingida pouco antes da carga ser retirada. • Ao contrário do martelo, a deformação atinge as regiões centrais da peça e a variação da taxa de deformação pode ser feita de forma contínua. • Como exemplos de prensas de forjar, temos: – Prensas hidráulicas verticais; – Prensas mecânicas excêntricas; – Prensas de parafuso. Lucas Realce Exemplo de prensa hidráulica para forjamento. (a) Circuito hidráulico; (b) Exemplo de prensa. À esquerda, esquema da prensa mecânica excêntrica. À direita, um modelo real deste tipo de prensa. Esquema de funcionamento da prensa mecânica excêntrica. À esquerda, o esquema da prensa de parafuso. À direita, exemplo de um parafuso utilizado neste tipo de prensa. 4.3. Matrizes de forjamento • Podem ser fabricadas em aços ligados ou metal duro. • São submetidas à altas tensões de compressão (podendo chegar até 2000 MPa), à altas temperaturas e, ainda, ao choque térmico. • Com isso, necessitam de algumas características: – Resistência à alta temperatura; – Elevada tenacidade; – Alto limite de escoamento; – Alta resistência ao desgaste. Lucas Realce 5. Taxa de deformação • A taxa de deformação é um dos parâmetros mais importantes dos processos de conformação plástica. • A velocidade com que o material se deforma, implica diretamente no estado metalúrgico do mesmo, ou seja, quanto mais rápido ocorre a deformação, mais restringimos o escoamento devido ao maior encruamento produzido. • No forjamento, a velocidade de deformação é dada em função da velocidade vertical com que o bloco se deforma. Lucas Realce Lucas Realce • Desse modo, a taxa de deformação, segundo a figura acima, será dada por: 6. Estimativa de esforços no forjamento • A estimativa de esforços no forjamento é um cálculo complexo que depende de propriedades reológicas do material. • Desse modo, a indústria costuma determinar a carga de forjamento a partir de informações relativas a outras peças já forjadas com o mesmo material, numa geometria semelhante. • Outra forma de determinar essa carga é conhecendo o esforço necessário para forjar uma pré-forma. – O valor da carga de forjamento para uma das outras peças derivadas pode ser estimado empiricamente, considerando-se o grau de dificuldade para produzi-la. • Separando os forjados de acordo com o grau de dificuldade para fabricação, a carga de forjamento pode ser estipulada com a seguinte equação: – AT = Área transversal na linha divisória da peça, considerando a direção de escoamento. – σ = Tensão de escoamento média do material na temperatura de trabalho. – K = Fator restrição que depende da complexidade reológica do processo. • No valor de K estão embutidos os efeitos do atrito e do trabalho redundante, por isso ele aumenta com a complexidade. • O produto σAT representa o trabalho útil. 7. Tensões induzidas no forjamento • As tensões cisalhantes provocadas pelo atrito da interface ferramenta/material dificultam a deformação. • Essa restrição, como já mencionado, gera regiões de fluxo restringido, que tem um papel importante no forjamento livre: elas confinam o fluxo de material na região central da peça. Lucas Realce • Com isso, fica fácil observar que o forjamento de um bloco cilíndrico depende da sua geometria, particularmente da relação D/h. • Deve-se evitar situações extremas dessa relação, pois: – Se D>>h, as regiões de fluxo restringido podem se tocar rapidamente, após pouca deformação (Δh), aumentando a carga de forjamento. – Caso, se h>>D, pode ocorrer flambagem do cilindro. • A condição recomendável é utilizar a relação D/h próxima de 0,5 e reduzir ao máximo os efeitos do atrito na interface matriz/material. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce • Quando D>h, as regiões de fluxo restringido terão uma profundidade relativa e com grande influência na deformação. • A deformação será intensa na região central da peça. Lucas Realce • Quando D<h, as regiões de fluxo restringido terão uma profundidade relativa pequena e sem influência na deformação da região central da peça. • Outra influência da geometria está na % de redução apresentada pela peça. • Imaginando uma situação em que o valor de D seja fixo, quanto menor o valor de h, maior será o valor da relação D/h. Consequentemente, menor será a deformação até que as regiões de fluxo restringido se toquem. • Por outro lado, quanto maior h, maior será a deformação possível até que essas mesmas zonas se encontrem. • Contudo, deve-se tomar cuidado para não elevar muito o valor de h e provocar a flambagem do cilindro. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Quanto menor h, para um mesmo D, menor o Δh. Para uma mesmo D, quanto maior h, maior o Δh. • Quando D>h, durante o forjamento as tensões de compressão se propagam até o centro do bloco, promovendo o escoamento. • Ao final, surgem tensões residuais como resposta do material à não homogeneidade da deformação. – Nas regiões próximas às interfaces, que não se deformaram, tendem a se estender por ação de forças trativas. – A região central, que muito se deformou, tende a contrair com tensões compressivas, diminuindo o abarrilamento. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Durante o forjamento Tensões residuais após o forjamento e a retirada da carga compressiva. • Quando D<h, as tensões compressivas não atingem o centro do cilindro, pois h é relativamente grande. • Com isso, do ponto de vista dinâmico, as regiões adjacentes à região central funcionam como dois cilindros sobrepostos, como no caso anterior. • Entretanto, devido à não homogeneidade da deformação, após a retirada das cargas compressivas, surgem tensões trativas na região central que, quando intensas, podem nuclear trincas internas e levar à falha do material. Lucas Realce Durante o forjamento Tensões residuais após o forjamento e a retirada da carga compressiva. • Outro efeito a se considerar é com relação ao acabamento superficial da peça a ser forjada. • Quanto melhor o acabamento superficial, melhor será a lubrificação e, consequentemente, menor o atrito entre a peça e a ferramenta. • Desse modo, as zonas de fluxo restringidos, que surgem devido às tensões de atrito, também serão menores, permitindo maior redução da altura do cilindro a ser forjado. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Melhor acabamento Melhor lubrificação Menor zona de fluxo restringido Maior Δh 8. Tensões residuais de origem térmica • As tensões residuais dos forjados geralmente são muito pequenas, visto que o processo é realizado quase sempre a quente. – Nesse caso, o efeito do encruamento é eliminado pela recristalização que ocorre após cada etapa de deformação. • Contudo, cuidados especiais dever ser tomados durante o resfriamento de peças grandes e complexas. – Nesses casos, podem surgir tensões de origem térmica que podem causar empenos ou até mesmo trincas devido a assimetria do resfriamento. – Uma zona que se resfria rapidamente pode ser freada por uma outra zona adjacente que ainda permanece quente por mais tempo. Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce 8. Defeitos no forjamento • Os principais defeitos observados são ocasionados por parâmetros mal ajustados. • No forjamento de matriz fechada, por exemplo, o pouco conhecimento das propriedades reológicas no interior da matriz podemcausar defeitos graves. • Além da má formação do forjado, pode ocorrer gota fria, que são descontinuidades (vazios) formadas pela dobra de uma superfície sobre a outra sem que haja a união (soldagem) das mesmas. Lucas Realce • Deve-se tomar cuidado, também, com a temperatura de trabalho. • Quando se trabalha com temperaturas muito próximas da temperatura de recristalização (TR), pode-se atingir valores de temperatura superficial abaixo desta, devido a perda de calor natural da peça. • Desse modo, durante um forjamento livre, por exemplo, as tensões trativas circunferenciais podem atingir valores superiores ao limite de ruptura, produzindo trincas longitudinais. Trincas longitudinais Lucas Realce Lucas Realce • Outro problema está ligado ao atrito elevado causado pela falha da lubrificação. • Nesse caso, as regiões de fluxo restringidos serão maiores, restringindo ainda mais o escoamento. • Após o forjamento em temperaturas próximas da TR, essas áreas que não estiraram tendem a fazê-lo radialmente, como já citado. • Caso essas tensões induzidas superem a tensão de ruptura do material, trincas circunferenciais podem surgir. Trincas circunferenciais Lucas Realce Lucas Realce Lucas Realce Trincas circunferenciais • As mesmas trincas podem surgir se as ferramentas (matriz e martelo) não forem pré-aquecidas no caso do forjamento livre. • As superfícies em contato com o martelo e a matriz terão uma tensão de escoamento com valores superiores ao valor da região central da peça (devido ao fluxo de calor e consequente resfriamento) e, devido à isto, deformarão menos radialmente. • Após o forjamento, essas superfícies de contato do tarugo apresentarão as mesmas trincas do caso anterior. Vídeo Lucas Realce
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