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Processos de Conformação Mecânica – Aula 08 Metalurgia do pó Prof. Leandro E. Falqueto E-mail: leandro.falqueto@hotmail.com • Literatura indicada: – CHIAVERINI, V. Metalurgia do pó – Técnica e produtos. 3 ª edição. São Paulo, 1992. 1. Conceito • Metalurgia do pó é a técnica que consiste em transformar pós de metais, ligas metálicas e, as vezes, substâncias não metálicas, em peças resistentes, sem recorrer-se à fusão, apenas pelo emprego de pressão e calor. • O processo envolve as seguintes etapas fundamentais: – Mistura de pós – Compactação • Compressão da mistura resultante utilizando matrizes e prensas. – Sinterização • Aquecimento, realizado em condições controladas de temperatura, tempo e atmosfera, do compactado resultante do processo anterior. 2. Histórico • 6000 A.C.: produção de armas, lanças e ferramentas a partir de aglomerados de ferro (pesquisas arqueológicas). • Primeiro relato no ano de 1829 (Wollaston): – Produção de platina compacta a partir do pó esponjoso de platina. • Maior desenvolvimento no século XIX e XX: – Estudos sobre a possibilidade de fabricar-se peças de materiais com ponto de fusão muito elevados como o Mo (2610 °C) e W (3410 °C) a partir do processo de sinterização. – Ano de 1909 (Coolidge): fabricação de fios de tungstênio dúcteis para emprego em lâmpadas incandescentes. • Após a 2ª Guerra Mundial: – Grande desenvolvimento em função do crescimento da indústria automobilística. • Atualmente: – Usado em diversas aplicações, pois tornou-se competitiva, tanto por razões tecnológicas, quanto por razões econômicas. 3. Aplicações • Mancais porosos autolubrificantes de bronze ou ferro – A porosidade existente pode ser preenchida com óleo, garantindo uma lubrificação permanente entre o eixo e o mancal. • Próteses – Implantes cirúrgicos são recobertos com liga porosa (à base de Co-Ti), permitindo que o tecido ósseo penetre nos poros e assegure uma boa ligação com o implante. • Contatos elétricos – Produzidos a partir de ligas Ag-W, Ag-WC, Ag-Ni e W puro. • Ligas magnéticas – Pequenos imãs e ímãs permanentes de Co5Sm, ímãs cerâmicos de ferrita de bário, peças polares e núcleos magnéticos de ampla utilização em motores e autofalantes de carros, rádios e TV. • Baterias – Utilizam níquel poroso nos acumuladores cádmio-níquel e nas pilhas. • Filtros sinterizados de bronze, Ni, Ti e aço inoxidável – São utilizados em várias aplicações industriais que requerem resistência em altas temperaturas e resistência mecânica e química (ex.: filtragem de gases, óleos combustíveis e minerais). • Discos de freio e embreagem – Fabricados à base de liga de cobre ou ferro-cobre, aos quais se adiciona agente de atrito (SiC, SiO2, Al2O3) e agente lubrificante (Pb, C, MoS2). • Metal duro – O carboneto metálico, também conhecido como metal duro, tem importância fundamental no campo de ferramentas de corte, peças de desgaste e brocas para perfuração de rochas. 4. Vantagens do processo • Rapidez na fabricação. • Maior economia na fabricação. • Controle rigoroso da composição do material. • Redução das impurezas em relação ao processo metalúrgico convencional. • Operação em atmosferas rigorosamente controladas ou em vácuo. • Redução ou eliminação das perdas de material ou produção de sucata. • Combinação de substâncias metálicas com materiais não metálicos. • Razoável tolerância dimensional e acabamento superficial. 5. Desvantagens e limitações • As prensas de compressão têm uma capacidade limitada, tornando o processo inviável para peças muito grandes. • Custo elevado para pequenos lotes de produção devido ao custo das matrizes de compressão e recompressão. 6. Matéria-prima • No processo da metalurgia do pó, mais que em outros processos, a matéria-prima constitui um fator básico para as características do produto final. • Em princípio, os vários métodos para obtenção de pós podem ser agrupados nas seguintes classes: – Reações químicas e decomposição; – Atomização de metais fundidos; – Deposição eletrolítica; – Processamento mecânico de materiais sólidos. • Os métodos incluídos nas duas primeiras classes são os que apresentam maior importância prática, pois produzem pós de baixo custo e com características que atendem às exigências da maioria dos produtos sinterizados. • Um mesmo material pode ser transformado em pó por processos diferentes. 6.1. Reações químicas • O método mais comum nessa classe é a redução de óxidos metálicos pelo emprego de um agente redutor gasoso ou líquido, como o carbono, por exemplo. • Exemplo: Produção de pó de ferro – A magnetita pura é misturada com agentes redutores. – Posteriormente, essa mistura passa por um forno, no qual ocorrem reações químicas que produzem ferro praticamente puro na forma de blocos esponjosos. – Esses blocos são moídos e passam por recozimento para eliminar o encruamento. • Os metais mais comuns de serem obtidos são: – Ferro; – Tungstênio; – Molibdênio. 6.2. Decomposição • Essa técnica é baseada no processo de decomposição térmica de um composto a temperatura elevadas. – Parte-se, geralmente, de compostos gasosos, resultando em partículas sólidas muito finas. – Esses compostos gasosos são denominados carbonilas. • Exemplo: Produção do pó de ferro. – O carbonila, Fe(CO)5, é condensado e armazenado sob alta pressão. – Posteriormente ele é aquecido logo acima do seu ponto de ebulição, de modo que o vapor se decomponha, produzindo pó de ferro. – O pó possui pureza acima de 99,5% e a forma esférica. • Exemplos de pós fabricados por esse processo são: – Pó de ferro; – Pó de níquel. 6.3. Atomização • É um dos métodos mais importantes. • Permite a fabricação de, praticamente, qualquer metal ou liga metálica. • O processo consiste em pulverizar um líquido metálico em partículas finas. • Essa pulverização é realizada forçando-se a passagem de uma corrente de metal líquido por um orifício, na saída do qual essa corrente é desintegrada por um jato de água ou gás. • Desse modo, o metal solidifica-se imediatamente pela ação combinada do jato e do resfriamento natural causado pela expansão do metal ao deixar o orifício. • Mediante a um sistema de sucção, o pó é recolhido. • Tanto no processo à água quanto no processo à gás, o equipamento utilizado consiste em: – Forno de fusão; – Panela para conter o metal líquido; – Bocal ou válvula de vazamento; – Câmara de atomização; – Secador do pó. Metal líquido Bocal de atomização Câmara de atomização Vídeo 6.4. Deposição eletrolítica • Esse processo permite obter grande variedades de pós metálicos. – Os mais comuns são: ferro, cobre e os metais preciosos. • São utilizadas células eletrolíticas, dentro das quais existem anodos consumíveis, catodos e a solução aquosa dos metais a serem produzidos. – Ao passar uma corrente elétrica contínua, ocorre a deposição de metal no catodo. – O catodo e o metal depositado são lavados, de forma a remover a solução eletrolítica. – Posteriormente os depósitos são removidos, quebrados e moídos em atmosfera inerte. – Após esse processo, realiza-se um recozimento do pó em atmosfera redutora. 6.5. Processos mecânicos • A pulverização mecânica é aplicada em metais duros e quebradiços. • Esses processos são aplicados como complementos aos apresentados anteriormente. • Pode-se resumir os objetivos do processo de moagem como: – Redução do tamanho da partícula; – Modificação da forma da partícula; – Modificaçãode propriedades como densidade, velocidade de escoamento, etc. • O equipamento utilizado pode ser: moinho de bolas, moinho de martelos, moinho de rolos. Moinho de bolas Moinho de rolos Moinho de martelos Vídeo 7. Propriedades dos pós metálicos • Por meio das características dos pós metálicos procura-se compreender o comportamento desse material em serviço, determinar as tolerâncias nas especificações relacionadas com as propriedades e assegurar a reprodução de comportamento do pó durante o seu processamento. • As principais características são: – Pureza e composição química; – Microestrutura da partícula; – Tamanho da partícula e composição granulométrica; – Porosidade da partícula; – Densidade aparente; – Velocidade de escoamento; – Superfície específica; – Compressibilidade. 7.1. Pureza e composição química • Parte-se do pressuposto de que o pó metálico apresenta uma pureza maior que 99 %. • O principal objetivo dessa propriedade é determinar quais as impurezas presentes, visto que estas podem afetar condições de compactação e condições de sinterização. • As impurezas podem estar presentes na forma elementar ou combinadas. – Por exemplo, o silício no pó de ferro pode estar presente como solução sólida ou na forma de sílica (SiO2). 7.2. Microestrutura da partícula • A estrutura dos pós pode influenciar bastante no seu comportamento durante a compactação e sinterização e, também, nas propriedades do produto final. • Em princípio pode-se distinguir dois tipos de estruturas: – Monocristalina: o tamanho da partícula e do grão coincidem; – Policristalina: cada partícula possui muitos grãos. • Apesar das partículas policristalinas apresentaram uma resistência na compactação (devido à maior resistência à deformação dessas estruturas), elas apresentam maior ductilidade (devido ao maior número de planos de escorregamentos que elas apresentam). 7.3. Tamanho e forma da partícula • A forma depende do processo de fabricação do pó. • A melhor maneira de determinar a forma é por observação em microscópios. • Apesar da forma esférica ser, aparentemente, mais favorável sob o ponto de vista da compactação, as formas irregulares tendem a produzir compactos com melhores características de sinterização, pois possuem uma maior interação de contornos entre as partículas. • Quanto ao tamanho, o melhor método de se determinar é o peneiramento. • Porém, há o método de dispersão de luz, baseado em fenômenos de difração, e o método de sedimentação. • Além desses, pode-se realizar, ainda, a observação em microscópios, o que permite observar e medir partículas individuais. 7.4. Porosidade • Quando presentes, os poros afetam as características dos pós, como a densidade aparente e a compressibilidade, e as características do produto final, como a porosidade. • Pode-se distinguir dois tipos de porosidades: – Aquela caracterizada pela presença de poros que não são interligados entre si; – Aquela em que os poros estão interligados entre si. • Nesse último caso, e quando os poros estiverem ligados com a superfície, verifica-se um aumento da superfície específica das partículas, além de facilitar a adsorção de gases durante seu processamento. 7.5. Densidade aparente e batida • Densidade aparente é a massa de uma unidade de volume do pó solto ou a relação da massa para o volume, em g/cm³. • Essa característica determina: – O verdadeiro volume ocupado por uma massa solta de pó – E, em consequência, determina a profundidade da cavidade da matriz de compactação e o comprimento do curso da prensa necessários para compactar o pó solto. • A densidade aparente depende da densidade do material, da forma e do tamanho da partícula, da área superficial da partícula e da composição granulométrica. • A massa de pó solto sofre vibração ou é socada durante o enchimento da cavidade, o que tende a aumentar a densidade. • A densidade batida seria o valor da densidade do pó metálico após esses processos. 7.6. Velocidade de escoamento • A velocidade de escoamento está relacionada com o tempo necessário para uma amostra do pó de massa determinada escoar, nas condições atmosféricas, através de um funil, no interior da cavidade de um recipiente. • Essa característica é importante para produção em grandes quantidades, a qual depende da rapidez, uniformidade e consistência de enchimento da cavidade da matriz. • A velocidade de escoamento pode ser aumentada por meio de vibração ou modificação do desenho do dispositivo, mas isso não é levado em conta ao determinar essa característica. • Dentre as variáveis que afetam essa característica, tem-se: – Atrito entre partículas; – Forma e tamanho da partícula; – Tipo de material; – Fatores ambientais; – Massa do pó. 7.7. Superfície específica • Define-se como a área superficial da partícula (cm³/g). • Sua importância está no fato de que qualquer interação da partícula com o meio circunvizinho se inicia pela superfície. • Ou seja, afeta, de forma direta, a sinterização. • Essa característica aumenta com a diminuição do tamanho da partícula. • E, a medida que a forma da partícula se afasta da esfericidade e que a rugosidade aumenta, esse valor também aumenta. 7.8. Compressibilidade • É a razão entre a “densidade verde” (densidade do compacto apenas comprimido) e a densidade aparente do pó. • Ou seja, é a capacidade de compactação do pó. • Essa característica depende diretamente da pressão de compressão. • Ela pode ser afetada por diversos fatores: – Dureza do metal ou liga; – Forma da partícula; – Porosidade da partícula; – Composição granulométrica; – Presença de óxidos; – Presença de lubrificantes sólidos; – Presença de elementos de ligas e impurezas. 8. Mistura de pós • Mistura – Operação em que dois ou mais pós são intimamente misturados. • Homogeneização – Operação de misturar pós de composição nominal idêntica, buscando a homogeneização da mistura final. • Essas operações aumentam o contato entre as partículas. • O resultado depende do tamanho e forma da partícula. Algumas geometrias comuns usadas para misturadores de pó. (a) Cilíndrica; (b) Cubo rotativo; (c) Duplo cone; (d) Misturador em V. Exemplo de misturador duplo cone. Outros exemplos de misturadores: à esquerda, “misturador parafuso”, à direita, misturador de pás. Vídeo 8.1. Lubrificação • A lubrificação tem por objetivo reduzir o atrito entre o compactado e os componentes da matriz de compactação. • Alguns dos lubrificantes mais utilizados são: – Ácido estearato; – Estearato de zinco; – Estearato de lítio; – Bissulfeto de molibdênio; – Ceras sintéticas. • A escolha varia com a capacidade do lubrificante de aderir às partes metálicas. • O uso de lubrificante é sempre necessário, porém deve-se conhecer seu efeito na mistura, principalmente na fase da sinterização. • Lubrificantes podem causar: – Segregação na mistura; – Redução da velocidade de escoamento; – Redução da densidade aparente; – Redução da pressão de retirada da peça da matriz após a compactação; – Alterações das propriedades após a sinterização; – Alteração do aspecto dos pós após a sinterização.
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